REBUS VITAE
São José dos Campos, estado de São Paulo
Machado vestia seu camuflado e dedicava-se obstinadamente a uma missão de guerra. “Não haverá meios para fugir!” – pensou espremendo os olhinhos – “Esta batalha concluir-se-á agora!” – preparou-se para atacar – AHAHAHAH! – gritou ao pular por sobre o sofá e rolar pelo chão – Morra, blattaria! – golpeou fortemente com uma faca
A barata escapou do ataque e correu para debaixo do outro sofá.
--Ora, blattaria! – virou-se para se deitar de bruços -- Pensai-vos que poder-se-ia fugir da morte apenas porque subtraí-vos da luta? – começou a rastejar no chão – Encarai-me, aparecei-vos, enfrentai-me, oh, ortóptero covarde! – jogou-se contra o sofá, que virou de pernas para o ar – Ahá! – viu a barata – Chorai diante da morte, blattaria! – novamente não conseguiu golpear o inseto que voou em direção às cortinas
“Mas o que diabos tá acontecendo aqui?” – Elza pensou intrigada ao ouvir o pai falando sozinho
--Alçando voo, covarde? – levantou-se de um pulo – Maldita! – fez uma pose de Rambo – Matar-te-ei agora, ahahah! – correu em direção ao inseto
Sem que esperasse, Elza surge na sala com uma lata de pesticida e dá uma borrifada certeira na barata, que imediatamente caiu agonizando.
--Oh! – Machado interrompeu sua marcha – Elzinha! – sorriu – Vosso bote foi certeiro! – olhou orgulhoso para a filha – Esta blattaria não contava com vossa astúcia!
--Ao invés de vestir o camuflado, calçar coturno e tentar matar uma barata com faca, podia ter feito logo algo muito mais rápido e fácil! – a jovem foi para a área de serviço levando o pesticida e voltou com vassoura e pá – É cada coisa! – acabou rindo – Blattaria, eu hein? – recolheu o inseto com a pá
--É vero, meu rebentinho! – guardou a faca no cinto – Eu não lancei mão do expediente do gás mortífero! – balançou a cabeça pensativo – Cada inimigo requer uma tática de guerra diferenciada! – concluiu
--Humpf! – voltou para a área de serviço e jogou a barata morta na lixeira – Suas táticas de guerra precisam se modernizar, pai. – guardou a vassoura e a pá – Agora, por favor, -- foi para o banheiro para lavar as mãos – arrume essa bagunça que ficou na sala! – pediu
--Sim! – começou a arrumar os sofás – Imperioso desmanchar este cenário de guerra! – endireitava tudo – Arrumai-vos!
--Ai, ai... – Elza suspirou – Imagine se fosse um rato! – falava consigo mesma – Só meu pai mesmo! – riu novamente
Machado terminou de arrumar a sala e aguardou a filha em posição de sentido.
--Pai, agora que a missão acabou acho que pode descansar, não? – sentou-se no sofá – Além do mais tive uma ideia e queria lhe falar. – olhava para ele
--Tendes razão, Elzinha! – assumiu brevemente a posição de descansar – A missão está conclusa! – sentou-se no sofá ao lado da filha – Qual ideia desejai-vos compartilhar com vosso pai? – perguntou interessado
--Então pai... -- cruzou as pernas – Meu aniversário vem aí e somos só nós pra comemorar, então pensei que seria legal se a gente fosse pra Campos do Jordão e pegasse uma pousadinha pra passar uma semana, cinco dias, só o final de semana... – gesticulava -- O que der! – sugeriu – A não ser que a grana teja muito curta e o senhor não consiga. – considerou
O sargento ficou em choque ao ouvir. – Oh! – exclamou abobalhado – Meu rebentinho deseja... – não acreditava – Desejai-vos viajar com vosso pai? – sorriu todo prosa – De certo que o recurso financeiro será provisionado! – respondeu de pronto – Elza Machado, -- levantou-se de um pulo – arrumai-vos vossas bagagens, pois a serra paulista espera-nos com suas benfazejas brumas! – mirou um ponto no infinito e sorriu
“Eu espero sinceramente não me arrepender por isso!” – pensou enquanto observava o pai
Campos do Jordão, estado de São Paulo
Elza e o pai corriam pela via de pedestres da Januário Miraglia. A jovem usava roupas de ginástica e o homem vestia o uniforme do treinamento físico militar.
--Vamos sentar ali? – indicou com o queixo – Cansei! – confessou
--Sentar-nos-emos naquele banquinho! – o sargento concordou – Retemperemo-nos com os ares da manhã!
Em poucos minutos chegaram ao local desejado e se sentaram.
--Uff! – a negra suspirou aliviada – Nossa, cansei mesmo! – respirou fundo e expirou com força – Mas também, a gente correu pra caramba! – olhou rapidamente para o relógio
--Tendes razão, Elzinha. – controlava a respiração – Vosso pai está orgulhoso do vosso preparo físico! – afirmou enfático – Continuai-vos neste ritmo, pois uma valorosa militar necessita de um corpore sano, de mens sana e nervos de aço!
Achou graça. – A parte do corpore até vai, a mens sana e os nervos de aço é que não garanto! – brincou
Duas mulheres passeavam com seus cães em sentido oposto à corrida que pai e filha fizeram. Quando se aproximaram Machado levantou-se de um pulo e fez um gesto cavalheiresco.
--Senhoras! – prestou uma reverência – Bom dia.
--Bom dia! – as duas responderam empolgadas e continuaram a caminhar
Machado novamente se sentou.
--Menina, viu que tipão? – uma delas comentou assanhada – Que bonitão, galante... será da cidade? – perguntou interessada
--Duvido! Nunca vi esse homem aqui. – respondeu antes de olhar rapidamente para trás – É um negão daqueles!
Elza ouviu os comentários e deu um leve esbarrão no ombro do homem. – Aí, pai! Ganhou pra hoje! – sorria – Deixou logo duas apaixonadas! – olhou na direção das mulheres – E elas não são de se jogar fora, viu? – reparou
--Ora pois, menina? – perguntou envergonhado – Ocorre que as senhoras contemporâneas se ressentem por quase não haver cavalheiros em sociedade! – olhava para a filha – Desafortunadamente há muitos tipos grosseiros e fanfarrões. Falta fidalguia aérea no ar, -- estufou o peito -- mas isto vosso pai tem de sobra! – afirmou orgulhoso
Observou o pai por uns segundos até que resolveu perguntar: -- E com tanta fidalguia aérea pra oferecer, por que o senhor não busca arrumar uma namorada? – percebeu que o homem abaixou a cabeça envergonhado – Acho que lhe faria bem se o senhor conhecesse uma mulher da sua faixa etária, disposta a um relacionamento sério com um homem respeitável.
O sargento permaneceu de cabeça baixa olhando para as próprias mãos. – Eu... nunca fui um homem que apetecesse o ser feminino... – confessou envergonhado – Vossa mãe fora a segunda namorada em minha senda terrena e a primeira nas lides do Amor. – suspirou – Por muitos anos guardei-me em luto conjugal... e dele não consegui ou sequer busquei sair. – pausou brevemente – Dediquei-me, como até hoje ocorre, a vós, meu rebentinho, à família e a nossa Pátria Amada, salve, salve, Brasil!
Elza sentiu-se arrependida por nunca ter dado valor àquela dedicação, assim como por dela se envergonhar por tantas vezes. – O problema é que agora o senhor tá sozinho em São José. Eu passo a maior parte do ano em São Carlos, tia Gracinha se foi e tio Goulart e cabo Fernandão foram transferidos pra bem longe de nós. – segurou uma das mãos dele – O senhor precisa de alguém pra lhe fazer companhia. – aconselhou – Novos amigos, uma namorada... – falava com carinho – A solidão pode lhe maltratar muito e isso me preocupa. De verdade!
Machado ficou feliz em saber que a filha se preocupava com ele e prestou bastante atenção a tudo que ela falou. – Não vos inquieteis a alma, oh, rebento meu. – olhou para a filha – Deus e a Aeronáutica dar-me-ão tudo que preciso e que ambos façam o que melhor se aprouver de mim. – beijou a mão da filha e levantou-se de um pulo – Por ora, temos que voltar a correr sobre este solo camposjordense e preparar-nos para ascender ao cume do monte via teleférico a cabo! – voltou a correr – Apressai-vos, Elza Machado! – falava enquanto corria – Avante!
--Ô, meu Deus! – levantou-se também – A gente quer dialogar com a criatura mas não consegue! – começou a correr – Peraí, pai! – pediu tentando alcança-lo
São Carlos, estado de São Paulo
Elza e Ana Maria curtiam um gostoso amasso dentro do carro da loura.
--Diz se... essa novidade... de vidro filmado... não é um... arraso... – falava entre beijos
--É... mas eu... gostei mesmo... desse estofado... – a negra também respondeu entre beijos
As duas jovens estavam deitadas no banco do carona, que fora reclinado ao máximo. Elza estava por cima da parceira.
--A gente podia... curtir... ainda mais... – sentia os lábios da outra percorrendo uma trilha de beijos ao longo de seu pescoço – Ai... – gem*u – Vamos fazer amor... – propôs – Meu carro vai ser nosso motelzinho daqui por diante! – inverteu as posições e ficou por cima – Vem... – beijou-a com paixão enquanto buscava despi-la
Interrompeu o beijo. -- Espera, Ana... – segurou o rosto da loura com as duas mãos – Essa rua aqui nem é tão deserta. Pode chegar alguém. – deslizou as mãos para os ombros da outra e empurrou-a gentilmente para que se sentasse – Vamos sair daqui? – pediu – Não quero passar pela mesma coisa que ouvi contarem um dia desses. – sentou-se também. A loura permaneceu em seu colo
--E o que contaram, posso saber? – envolveu o pescoço da negra com os braços
--Foi uma história que ouvi o André, que é da minha turma, contando pros colegas por agora mesmo, no reinício das aulas. – lembrava – Ele tava com uma garota no carro, numa rua dessas por aqui, -- gesticulou -- quando um policial chegou do nada e mandou os dois saírem do carro. E eles tavam nus! – olhava para a loura
--Putz, que merd*! – exclamou surpreendida – E aí?
--E aí que o cara sacaneou os dois e ainda ficou zombando. – repetia o que ouviu – Além de ter tascado-lhe uma multa!
--Sendo assim, -- beijou a parceira rapidamente e se mexeu para sair do colo dela – já me convenceu! – ajeitou-se no banco do motorista – Não quero pagar vexame nem multa pra meganha nenhum! – olhou para Elza e sorriu – Mas eu queria muito curtir mais de você hoje! – afirmou melosa antes de ligar o carro – Pra onde acha que a gente pode ir sem correr risco de se dar mal? – olhou para a frente e começou a guiar
--Não fica chateada, mas... – ajeitou a inclinação do assento do carona – Eu não tô muito a fim de sex* hoje. – afivelou o cinto e passou a mão nos cabelos – O dia foi puxado e eu tô cansada. Queria ir pro alojamento e dormir. – olhou rapidamente para a loura – Coloca o cinto também, tá? – pediu
Suspirou decepcionada. – Esqueci do cinto. – afivelou rapidamente – Tá bom, se você quer ir... – prestava atenção no caminho – Mas a gente podia se encontrar mais... – pausou brevemente – Já ficamos tantas vezes... – olhou rapidamente para Elza – A gente podia... sei lá... – passou a mão nos cabelos – De repente... namorar... – arriscou
Achou graça. – Namorar? – cruzou os braços – Sinto muito, meu bem, mas eu não quero te namorar! – afirmou enfática
Ficou chateada com o que ouviu. – Você falou de um jeito que parece até que me namorar seria um absurdo! – protestou – Posso saber qual é o problema? – perguntou de cara feia
--Primeiro que eu não tô a fim de namorar ninguém -- olhava para fora do carro – e segundo que você é muito ciumentinha e grudenta demais pro meu gosto. – olhou rapidamente para a loura -- Não quero ninguém pegando no meu pé! -- gesticulou enfática
--Até parece que eu vivo te marcando! – respondeu desaforada
--Ah, tá! – achou graça novamente – Você vive correndo atrás de mim, queridinha! – respondeu enfática – Ou vai negar? – percebeu que estavam chegando – Olha só, eu vou descer logo aqui. – decidiu -- Pode parar, por favor? -- pediu
Parou o carro imediatamente. – Desce logo, vai! – respondeu revoltada – Some do meu carro! – virou o rosto para não encarar a negra
--Sem ressentimentos, tá? – abriu a porta e saiu
--Cachorra! – acompanhou a outra com o olhar – Desgraçada! – os olhos marejaram – Droga! – deu um soco no volante e ligou o carro – Mas você não perde por esperar, Elza Machado! – partiu – Sei muito bem como colocar uma fama em alguém. Preta xexelenta! – secou os olhos com uma das mãos – Você não perde por esperar... – olhava para a rua diante de si
***
--Cara, se arrependimento matasse eu tava morto! – Alexandre reclamava de cara feia – Maldita hora que cismei com isso de engenharia! Esse tal de ciclo básico é uma merd*!
--Calma que só falta mais um período pro ciclo básico acabar! – Elza comentou bem humorada
--Só falta mais um? A gente mal começou esse! – Marcio respondeu de pronto – Pra mim ainda tão faltando dois! – revirou os olhos
--Chega de tanta reclamação e voltemos a estudar! – a negra voltou sua atenção ao livro – O professor de Física III já deu matéria pra caramba e a gente não pode ficar aqui dando mole! -- observou
Os rapazes nada responderam e voltaram a estudar, até que Alexandre novamente rompe o silêncio. – Tão sabendo? Disseram que umas psicólogas do último período começaram um estágio no HU e vão focar de atender os estudantes. – contava para ter assunto – Pra ser atendido é só ir lá e se inscrever!
--E você tá interessado nisso por que, maluco? – Marcio provocou o colega – Pra ver se deixa de ser doido ou se desencalha com uma psicóloga? – zombou
--Ah tá, falou o garanhão bem resolvido! – reclamou de cara feia
--Ô quarta série, vamos concentrar aqui, por favor? – Elza ralhou com os colegas – Poxa, nem na metade do conteúdo a gente chegou!
--Porr*, toda hora Alexandre abre essa matraca pra falar uma merd* qualquer! – Marcio deu queixa do outro
--Vem me perguntar qualquer coisa pra tu ver? – pegou o caderno e voltou a estudar – Babaca! – resmungou
--Crianças... – Elza balançou a cabeça e olhou para o livro – “Será que não seria uma boa procurar uma psicóloga dessas pra conversar?” – questionou-se – “Desde que Alê voltou pro Rio nunca mais tive alguém pra desabafar das coisas íntimas...” -- pensava
***
--Em primeiro lugar eu gostaria de te parabenizar por vir nos procurar. – a jovem psicóloga falava com simpatia – Ainda existe muito preconceito em torno do nosso trabalho e muitos acreditam que psicólogos e psiquiatras são profissionais voltados a atender os “loucos”. – fez aspas com os dedos
--Nunca pensei isso. – afirmou com sinceridade – Embora na infância minha tia Gracinha tenha me estimulado a me consultar com psicólogo e eu não tenha gostado da ideia. – lembrava do ocorrido – Mas não por achar que era coisa pra loucos.
--E o que lhe traz aqui agora? – perguntou interessada – O mesmo motivo que estimulou sua tia a sugerir que aceitasse ajuda profissional no passado? – olhava para Elza
--Sim e não... – sorriu meio encabulada – Acho que... um misto de coisas. – pausou brevemente – E também por fazer algum tempo sem haver alguém com quem eu pudesse desabafar de verdade. – decidiu fazer uma pergunta – Por quanto tempo vai durar esse programa? – queria saber – Por quanto tempo a gente vai poder contar com vocês, Scheila?
--Ficaremos aqui ao longo desse ano de 96. – respondeu mansamente – E cada aluno será acompanhado sempre pelo mesmo profissional, ou seja, você fica comigo até o fim do programa. – esclareceu – Depois que encerrarmos, você e todos os demais podem ser atendidos pelos profissionais que trabalham no HU sem quaisquer problemas. – cruzou as pernas – Mas, vamos começar do princípio: o que deseja desabafar? – perguntou interessada – Pode conversar comigo sem reservas e ciente de que sua intimidade será preservada. – garantiu
--Ah, eu... – ajeitou-se na poltrona – Aconteceu um lance logo que o período começou e depois eu refleti e acho que fui um tanto desrespeitosa com os sentimentos de uma pessoa. – pensava em Ana Maria – Vez por outra eu ficava com essa pessoa... – gesticulou – Ficar, assim, sem compromisso, sabe? Às vezes a gente até fazia... – desviou o olhar – Tinha intimidade, sabe? – passou a mão nos cabelos – E aí fui pedida em namoro de um jeito super humilde e recusei de uma forma meio escrota. – riu brevemente – Acho que não tem adjetivo melhor praquela atitude. – reconheceu – E com isso acho que magoei uma pessoa sem razão de ser. Podia ter recusado mas de um jeito decente, né? – olhou para a psicóloga – “Ainda não vou dizer a ela que sou lésbica. Tenho que sacar como é o pensamento dela nesse sentido primeiro.” – decidiu
--E por que você recusou? – perguntou sem cobranças – Se vocês tinham alguma intimidade e ficavam de vez em quando, por que não arriscar um namoro? Namorar pode ser uma coisa muito boa.
--E pode não ser também... – considerou
--Concordo, mas a vida é assim: um mar de possibilidades e probabilidades. – respondeu com mansidão – E não há outra forma de viver, senão vivendo. – prestava atenção na negra – Do que você tem medo, Elza? De se envolver e se machucar? – reclinou-se sobre a mesa – Você tem medo de não saber lidar com sentimentos como rejeição, perda, esse tipo de coisa?
--Eu absolutamente não sei lidar com nada disso! – assumiu de imediato – Desde criança rejeição e perda fazem parte da minha vida e eu nunca soube lidar com isso! – abaixou a cabeça brevemente – Eu não quero mais me sentir rejeitada ou perdendo aquilo que amo! E cortei com tudo que me levasse a cair nessa armadilha desde a minha formatura de 2º grau.
--Qual armadilha, meu bem?
--A de amar, me apegar e perder! – olhou para a mulher com os olhos marejados – Eu não sei lidar com isso! – confessou mais uma vez
--Acho que a imensa maioria dos seres humanos também não sabemos. – respondeu carinhosa – Não se sinta menor por conta de um medo que é muito natural. – pausou brevemente – Será que... você diria o que amou e perdeu e tanto a magoou?
Elza gastou uns segundos calada até que decidiu responder: -- Primeiro foi a minha mãe. – vislumbrava o rosto da mulher em sua mente – Eu amava a companhia dela, me sentia segura com ela e nem me deixava abalar pelo que fosse desde que ela estivesse por perto. – derramou uma lágrima – Aí ela morreu em um acidente de carro... eu só tinha seis anos... – pausou por uns instantes – Às vezes até acho que inconscientemente culpo meu pai por isso.
--E por que você o culpa? – perguntou com jeito – Porque era ele quem dirigia?
Instantaneamente sentiu as emoções turbilhonarem. –Sim, mas não só por isso! – agitou-se na poltroninha – Meu pai nunca foi grosseiro, nunca sequer elevou o tom de voz, mas quando ele e mamãe discordavam de alguma coisa era sempre o que ele pensava que prevalecia! – gesticulava -- Porque mamãe não tinha estudo mas ele tinha, além de ser homem e militar e portanto saber tudo! – falava com certa mágoa – Naquela noite ela não queria pegar a Dutra, porque além de ser de noite tava chovendo muito, -- visitava lembranças que buscava apagar da mente -- mas ele insistiu e nós viemos! – começou a chorar -- Eu tava morrendo de sono, dormi e quando acordei... -- balançou a cabeça negativamente – Não, eu não quero falar sobre essa parte! – levantou-se de imediato – Tem lenço? – perguntou sem olhar para a outra
Abriu uma gaveta e pegou uma caixa de lenços de papel. -- Tudo bem, querida. – estendeu a caixa para a outra -- Pode pegar quantos lenços desejar. – a negra pegou dois lenços e agradeceu com um gesto de cabeça -- Não falemos dessa parte. – não pressionou – E depois do acidente e tudo mais... – colocou a caixa sobre a mesa – O que aconteceu? Como ficou seu relacionamento com seu pai?
Andou um pouco pelo consultório antes de recomeçar a falar. Secava os olhos com os lenços. – Tio Goulart e tia Gracinha eram muito ligados a nós e eu sempre gostei muito deles. – pensava no casal – Passei a me sentir filha deles, cada vez mais. – sentou-se novamente – E desejava ardentemente que isso fosse verdade. – abaixou a cabeça – Meu pai descompensou de vez, passou a viver num mundo paralelo e agir como um louco, o que me matava de vergonha. – pausou brevemente – Ainda sinto vergonha, não posso negar. – suspirou profundamente
--Antes do acidente seu pai não era assim? – queria saber – O comportamento dele mudou radicalmente?
Forçava a memória para visitar o passado que não a agradava. – Meu pai sempre foi meio estranho e com um jeito de falar diferente de todo mundo, mas... depois que a mamãe morreu ficou muito pior! – reconheceu – E ele mais dedicado à Aeronáutica ficou, de uma forma que... – balançou a cabeça – Acredita que meu pai não tem outras roupas que não sejam fardas ou uniformes de treinamento físico militar? – olhava para a psicóloga – Nem lembro da última vez que o vi à paisano.
--Nossa! – surpreendeu-se – A morte da sua mãe deve ter sido um golpe duríssimo pra ele! – pausou brevemente – Claro que você era uma criança e sentiu muitíssimo, mas talvez... já pensou que ele tenha escolhido esse tal mundo paralelo para fugir de um sentimento de culpa que carregue dentro de si?
Analisou o que ouvia. – Pode ser... nunca havia pensado nisso... – passou a mão nos cabelos e se ajeitou – Talvez nós três tenhamos morrido naquele acidente... – considerou – De uma forma ou de outra.
--Talvez... – balançou a cabeça pensativa – Mas você e seu pai estão vivos e podem recomeçar. – respondeu com brandura – Talvez ambos desejem ardentemente por esse recomeço.
--É, talvez... – considerou – Meu tio Goulart me pediu pra dar uma chance ao meu pai, pra tentar vê-lo além do que eu tenho visto por todos esses anos... – suspirou – Nesse mês de janeiro eu dei a ideia da gente fazer uma programa tipo pai e filha, sabe? – comentou – Fizemos uma viajem rápida pra Campos do Jordão, tentei dialogar com ele... – riu brevemente – Mas não é assim, né? Não se resolvem problemas de anos em um estalar de dedos.
--Verdade, mas o importante é dar o primeiro passo e continuar na caminhada. – balançou a cabeça – Ainda que devagar. – sorriu – A direção, o sentido, é muito mais importante que a velocidade.
Elza ficou pensando enquanto tentava acalmar a tempestade que atormentava seu coração.
***
Elza e Patrícia curtiam um gostoso amasso debaixo dos lençóis. Estavam em seu quarto no alojamento.
--Tem certeza que... Ju e Gi... vão dormir... fora hoje? – perguntou entre beijos
--Elas disseram que... iam pra festa... da Mecânica... – Elza respondeu entre beijos – Não voltam... hoje...
--Então... – mudou as posições e deitou-se por cima da negra – Vamos aproveitar... essa noite fria... de junho... – beijava e mordia o pescoço da parceira -- Pra incendiar! – beijou-a com paixão
Elza deslizou as mãos até as nádegas da outra e apertou com força. – Tira... essa... roupa... – falava entre beijos enquanto buscava despi-la
--Puta merd*, que decepção! – Gisela caminhava em direção ao quarto – Festa cu! – reclamava sozinha – E pra completar nem maconha tinha! – pegou as chaves para abrir a porta – Merda! – derrubou no chão
Interrompeu o beijo bruscamente. -- Ouviu isso? – Patrícia perguntou preocupada – Barulho de chave! – olhou para a porta -- Tem alguém tentando entrar aqui! – alarmou-se
--Juliane? – Elza perguntou em voz alta – Gisela?
--Sou eu! – Gisela respondeu do outro lado – Tentando abrir a porta, mas vocês passaram trinco, porr*! -- reclamou
--Puta que pariu! – Patrícia levantou-se de um pulo e correu para o banheiro
--Calma, mulher! – Elza se levantou da cama e ajeitou-se rapidamente – Já vou abrir! – olhou-se pelo espelho e daí foi abrir a porta – Vocês disseram que não voltavam hoje, né? – falou assim que deu de cara com a colega
--O plano era esse mas a festa foi um cu! – entrou no quarto – Só deu homem cu! – tirou os sapatos
--Eu hein? – achou graça – Homem cu, nunca vi isso! – tentava mostrar-se natural – É cada coisa! – fechou a porta novamente – E a Ju, tá aonde? Ficou lá na festa cu? – voltou para a cama e se sentou
--Sumiu! Sei lá pra onde foi e com quem! – fez um gesto despreocupado – Pat tá no banheiro? – perguntou olhando para o cômodo – Tô querendo usar também.
--Calma que daqui a pouco ela sai de lá. – passou a mão nos cabelos – “Bendita a hora que meti o trinco na porta!” – pensou aliviada
“Essa foi por pouco!” – Patrícia pensava enquanto lavava o rosto – “A gente tem abusado muito!” – considerou – “Acho melhor ir parando com isso de ficar com Elza, porque se alguém descobrir...” – olhava-se pelo espelho – “Não quero ficar com fama de bi nem de sapatão!” -- decidiu
Goiânia, estado de Goiás
Yara acabava de sair da rodoviária. Com o início das férias de julho, voltava para casa ao final de mais um período.
--Oi, gata! Quer uma carona? – perguntou brincalhona
O coração disparou ao reconhecer a voz. – Gil! – olhou surpreendida e se aproximou da outra – Nossa, eu não sabia que agora você já andava motorizada! – sorriu – Virou motoqueira desde quando? – perguntou curiosa
--Motoqueira não, motociclista! – corrigiu divertida – Quer dar uma voltinha comigo? – ofereceu – Faz tanto tempo que a gente não se vê. Bora colocar o papo em dia? – convidou sorridente
“Ô, tentação da vida!” – suspirou – "E tem como dizer não a tanta glória ao céu com aleluia?” – pensou abestalhada – Vambora! – concordou
***
--Mãe? – chamou assim que entraram em casa – Mãe? – fechou a porta – Uai? – viu um bilhetinho sobre a mesa da sala e pegou para ler – Ah, ela vai dormir na casa de tia Greice. – deixou o bilhete no lugar onde o encontrou – Até sei porque. – colocou capacete e bolsa sobre a poltrona – Tia Greice tá se separando e tem procurado por mamãe direto pra chorar no colo dela. – olhou para a indígena – Senta, por favor? – indicou o sofá – Vou passar um café pra gente. – decidiu – O que você quer comer: pão com queijo ou omelete ou bolo de cenoura? – ofereceu sorridente – Aproveita que hoje tem fartura! – brincou
--Eu tô sem fome, agradeço. – sentou-se – Se puder ser só um café com leite fico mais que satisfeita. – sorriu
--Tá bom, te acompanho nessa. – foi pra cozinha – Também tô sem fome. – dizia a verdade – Acho que comi muita besteira hoje mais cedo. – preparava as coisas para fazer o café
--Sinto muito pela sua tia. – comentou em voz mais alta – Lembro que ela dizia com muito orgulho que tinha mais de 20 anos de casada. – lembrava-se da mulher – Deve ter sido um baque muito grande pra ela.
--Tá sendo! – colocava pó de café no coador – E só Deus sabe quando vai passar!
Yara ficou calada enquanto esperava pela ex. Reparando na sala, pensava com saudades na época na qual ainda namoravam. “Se um término de namoro já machuca, imagine um casamento de tantos anos...” – pensou – “Coitada de dona Greice!”
Após algum tempo, Gil retornava à sala trazendo uma bandeja com duas xícaras e dois pequenos bules. – Prontinho! – colocou a bandeja sobre a mesinha de centro – E dessa vez nem vou entornar café nos pires! – prometeu bem humorada
--Tô vendo! – observava a outra servindo o café – Melhorou bastante! – brincou – Agora vamos ver se vai derramar o leite! – sorriu
--Nem um nem outro! – terminava de servir – Tá aqui. – pegou uma xícara e entregou à outra – Agora eu tô chique! – sentou-se e se serviu
--Tá mesmo! – concordou ao beber um gole – Já vi seu rosto algumas vezes em outdoors ou lambe lambes pela cidade. – olhou timidamente para a ex – Anúncios de shows.
--O que é lambe lambe, menina? – perguntou achando graça – Nunca vi meu rosto nisso aí! – brincou
--Lambe lambe é aquela propaganda que se cola nos postes. – esclareceu achando graça também – Aprendi isso com o pessoal do Partido, porque a gente usa muito desse recurso.
Achou graça novamente. – Morria sem saber! – bebeu um gole de café – E como vão as coisas no Comuna? E na faculdade? Deduzo que o período terminou. Passou em tudo? – perguntou interessada
--Como sempre, no sufoco, mas passei em tudo sim. – balançou a cabeça – E no Comuna é aquela coisa: muita luta pra tocar e poucos braços pra levar a missão adiante. – bebeu mais um gole – Sabia que agora tenho amigos indígenas? – comentou que nem criança – Dia desses conheci também o Movimento dos Povos Originários do Brasil! A gente bem vai fazer parte! – falou com empolgação
Sorriu com simpatia. – O tempo passa e você nunca perde esse jeitinho de criança grande, Yara Saraíba. – bebeu um gole sem desviar o olhar – Dá vontade de te dar um colo...
“Ô, glória!” – pensou ao baixar a cabeça – “E eu querendo que ela me desse um colo e outras coisinhas mais!” – bebeu mais um gole – “Ave Maria!”
Riu brevemente. “Ela não perde essa timidez em certos momentos.” – pensou – E hoje em dia, Yara? – pausou brevemente – Tá namorando alguém? – perguntou interessada
--Não... – levantou a cabeça e finalizou o café – De vez em quando, e muito de vez em quando, saio com uma pessoa, mas... – pensava em Natália – Não temos um namoro. – colocou a xícara de volta na bandeja – E você?
--Andei saindo com umas garotas, mas... – finalizou o café também – Sem namoro à vista. – devolveu a xícara da mesma forma – Agora também eu tô indo pra ficar numa dobradinha entre Rio e São Paulo. – anunciou repentinamente – Vou com um pessoal fazer uns shows e voltaremos lá pro mês que vem... – gesticulou brevemente – Não dá pra pensar em namoro desse jeito, né?
--Pois é... – levantou-se e caminhou até a janela – Desejo que seus shows sejam muito massa e façam sucesso! – olhava para o exterior – E que você encontre aquilo que deseja!
--E você, Yara? – levantou-se também e se aproximou da outra – O que deseja? Quais são seus planos? – cruzou os braços – Eu tô correndo atrás pra construir uma carreira sólida como cantora, como rapper.
--E eu vivo um dia de cada vez. – olhou para a outra – Não tenho planos. No máximo, algumas metas.
--E não deseja nada além de cumprir as metas? – perguntou interessada – O que você gostaria de conquistar na sua vida? – olhava nos olhos
Aproximou-se um pouco mais e respondeu olhando nos olhos: -- Você! – puxou-a pela cintura e a beijou com desejo
Gil retribuiu o beijo com a mesma paixão e envolveu o pescoço da indígena com os braços. Yara segurou-a pelas coxas e rapidamente a rapper envolveu-lhe a cintura com as pernas.
--Me leva... pro quarto... – pediu entre beijos
Sem responder, Yara seguiu lentamente para o quarto da rapper beijando e mordendo os lábios dela. Ao entrar no cômodo, deixou que ambas caíssem sobre a cama e riram brevemente da situação.
--Eu não garanto que... – acariciava o rosto da indígena -- As coisas vão mudar quando eu voltar... – olhava nos olhos – Não quero criar expectativas que... – foi interrompida por um beijo
--Não pensa nisso! – pediu humildemente – Vive comigo esse hoje, esse agora! – olhava nos olhos – E só! – beijou-a novamente
As duas jovens beijavam-se carinhosamente enquanto buscavam despir uma a outra. Passaram a noite se amando sem pressa e sem pensar em nada mais.
***
Maria, João, Jurema, Paulo e Yara entravam na sala do abrigo. Acabavam de voltar de uma atividade na qual passaram o dia ajudando moradores de rua.
--Chegaram na hora certa! – Kedima os recebeu sorridente – A mesa tá posta lá na cozinha! Hoje tem chá com bolo! – anunciou
--Oba! – todos responderam
--A senhora é um amor, dona Kedima! – Yara beijou a testa da idosa – Pessoal, vamos lavar as mãos e correr pra cozinha! – ordenou bem humorada
--Também gosto muito da senhora! – Paulo falou para a idosa – Sortudo o rapaz que casar com Yara e tiver a senhora como sogra. – sorriu timidamente – Será um homem duplamente sortudo!
Sorriu gentilmente. – Você também é um rapaz de ouro! – fez um carinho na cabeça dele – Agora vá lavar as mãos e vá comer porque vocês trabalharam muito nesse sábado! – aconselhou -- “Bem que eu notei que esse menino arrasta um bonde por Yara!” – pensou enquanto o observava se afastar – “Pena que ela não está interessada...”
***
--Dona Kedima? – Yara bateu na porta do quarto da idosa – A senhora mandou me chamar? – perguntou ainda do lado de fora
--Pode entrar, menina! – ordenou e a outra obedeceu – Passei no mercadão hoje cedo e depois naquele ervateiro que lhe falei. – olhava para a jovem – Comprei uns trem bom que você vai levar pra Brasília e fazer exatamente como vou lhe ensinar. – bateu na cama a seu lado – Senta aqui.
Sentou-se. – Que trem que a senhora comprou? – perguntou curiosa – “Acho tão engraçado essa história de trem!” -- pensou
–Além dos remédios que aquela ginecologista passou, você também vai usar isso aqui! – pegou uma sacola de papel e entregou nas mãos da jovem – Vai fuçando aí que explico tudo!
Achou graça. – Tá bom. – abriu a sacola e tirou dois sabonetes além de um vidrinho de tintura – Barbatimão. – leu o nome no adesivo dos produtos
--Barbatimão é ótimo pra curar doença nas partes! – explicava – Você vai tomar banho com o sabonete normal mas vai passar o de barbatimão somente nas curnicha! – gesticulava – E a tintura também vai usar pra banho de asseio. E só nas curnicha, tá ouvindo?
--Sim senhora. – concordou balançando a cabeça
--Aí dentro também tem um saquinho com casca de barbatimão. – observou que Yara havia acabado de pegar o saquinho – Você vai tomar chá disso aí uma vez por dia. O jeito de fazer tá escrito no saquinho.
--Tô vendo aqui. – começou a ler
--Também tem araticum e velame branco. – continuava explicando – Tá tudo escrito nos saquinhos, mas você só vai começar a tomar depois que a casca do barbatimão acabar, entendeu?
--Sim senhora. – sorriu para a idosa – Obrigada, dona Kedima! – guardou tudo de volta na sacola de papel – Fico muito grata!
--Humpf! – fez um gesto e se levantou – Agora veja se te cuida, viu, fi? – advertiu – Você foi me inventar de ficar de resfulengo com Gil e deu nisso! – gesticulou – Taí cheia das gastura na curnicha enquanto sua ex roda pelos cantos fazendo show! – fez cara feia – Nunca pensei que aquela moça fosse aproveitar da pouca fama que tem pra virar uma franco atiradora de curnichas!
Achou graça. – Eu não sei se ela virou uma franco atiradora... – abaixou a cabeça sorridente – Mas não posso culpá-la... Quem tomou a iniciativa fui eu. – admitiu – Só não imaginava que fosse dar nisso de ficar com doença...
--É porque vocês acham que os vírus e as bactérias batem na porta antes de entrar! – gesticulou – Aí se olha na cara de uma pessoa e os bicho fala: Oi! Tô aqui! – dava tchauzinho – Vem pra cima que eu te pego, tá?
A indígena achou graça novamente e nada respondeu.
--E vocês também acham que o resfulengo de mulher com mulher não dá em nada! Mas é claro que dá! – andava pelo quarto – Uma curnicha bichada pode fazer muito estrago por aí! – foi até o armário e ficou mexendo em uma gaveta
Balançou a cabeça concordando. – É verdade... – prestava atenção na idosa -- A essa altura Gil já deve estar de volta na cidade. Ela me disse que voltaria nesse mês de agosto...
--E você vai lá atrás dela pra se danar de novo? – retirou uma pequena bolsinha da gaveta e voltou para se sentar na cama
--Não... – abaixou a cabeça – Ela me disse que nada mudaria entre nós...
--Tome aqui. – segurou uma das mãos da moça – Era de minha filha e quero que seja seu agora. – afirmou emocionada
--Nossa! – levantou a cabeça surpreendida – Da sua filha, que honra! – abriu a bolsinha – Ave Maria, que terço lindo! – emocionou-se – Ô, glória Deus! – admirava o objeto
--Pra lhe proteger! – segurou o rosto da jovem – Ela havia perdido e eu o encontrei só uns anos após a morte dela. – derramou uma lágrima – Talvez se não tivesse perdido... ela não teria tido tino pra... – não conseguiu completar a frase e se calou
Yara abraçou a idosa com força. – Amo a senhora, dona Kedima! – declarou-se com muito carinho – A senhora foi o melhor presente que Deus me deu desde que minha mãe se foi!
A mulher nada respondeu e apenas fechou os olhos sentindo-se querida naquele abraço.
Brasília, Distrito Federal
Yara e Paulo examinavam o que haviam colecionado até então relacionado ao genocídio de 1979.
--É muito pouco! Não dá pra fazer uma denúncia contundente apenas com isso! – o jovem lamentou – E o pior é que a gente ainda vive tão longe do Amazonas...
--Calma, Paulo! – fez um breve carinho na mão dele – Isso é um grande quebra cabeças e pra montar as peças precisamos de concentração e tempo! – olhava para o amigo – E eu tenho fé! Algo me diz que vamos conseguir!
Os dois amigos conversavam sentados no gramado em frente a saída do campus onde estudavam.
--Quando você fala, é sempre com uma convicção tão grande que... inspira a gente! – sorriu admirado – Se você acredita, também acredito! – segurou uma das mãos dela – A gente vai conseguir!
--Vai sim. – removeu a mão com gentileza – Agora vamos guardar tudo aqui porque já está escurecendo! – levantou-se – Cadê Jurema, João e Maria, hein? – perguntou enquanto juntava os papéis – Eles tinham que já ter chegado. Hoje é dia da tribo! – comentou brincalhona referindo-se às reuniões mensais do pequeno grupo
O rapaz se levantou também. – Eles devem estar chegando. Você sabe que Jurema sempre se atrasa. – ajudava a recolher o material – E João e Maria... os dois tão meio que quase namorando... – comentou timidamente – Aí, sabe como é... casal apaixonado esquece do tempo.
--Quase namorando? – surpreendeu-se – Não sabia disso! – terminou de arrumar sua parte das coisas
--Pois é... – terminava de arrumar também – Com o contato, a amizade foi virando amor. – pegou a mochila e colocou nas costas – Às vezes pode acontecer, não acha? – olhou para a jovem
--É verdade. – colocou sua mochila nas costas igualmente – Vamos indo pro ponto de encontro?
--Vamos. – começaram a caminhar – Mas e você, Yara? – colocou a mão nos bolsos – O que uma pessoa precisa pra conseguir chegar no seu coração? – perguntou sem encará-la
“Dona Kedima me disse mais de uma vez que notava que Paulo estava interessado em mim.” – pensou – “Mas eu não esperava por essa conversa agora...” – sentia-se um tanto constrangida – Há várias formas de se tocar um coração... – pensava em como falar – Há aquelas pessoas que nos tocam mas o Amor fica sendo amor fraterno... – também evitava encará-lo – E disso não passa.
--Eu... – pensava em como falar – Já sei que você é... – buscava não ser desrespeitoso – Sei que você é lésbica, mas... a gente se apaixona pelo espírito e não pelo corpo... Não é?
Yara gastou uns segundos calada até que parou de caminhar e olhou para o indígena. – Olha, Paulo... – falava com carinho – Você tem razão, mas a gente não escolhe por quem o coração se apaixona. – pausou brevemente – Eu juro que se pudesse controlar isso, me apaixonaria por você! – dizia a verdade – Mas eu não consigo te ver com outros olhos senão como um irmão. – o rapaz abaixou a cabeça – Você tocou meu coração, e eu te amo, mas não do jeito como você deseja.
Respirou fundo e levantou a cabeça. – Eu só queria que você soubesse... – afirmou com certa tristeza – Não é uma cobrança... – viu que Maria e João se aproximavam do ponto de encontro – Nossos amigos tão chegando. – informou – Vamos? – voltou a andar
--Vamos. – voltou a andar também – “Triste, mas necessário.” – pensou – “Ele precisava saber que não tem chances comigo.”
***
O ano caminhava para o fim quando Yara ficou sabendo que um pequeno grupo da Comissão Nacional dos Religiosos Católicos do Brasil seguiria para Brasília com o objetivo de se reunir com o presidente. A Igreja mostrava-se preocupada com o aumento do desemprego no país.
Movida pela mais pura intuição, a jovem decidiu procurar encontrar os religiosos de alguma forma para conversar. Talvez fosse possível organizar uma articulação do movimento deles com o trabalho que o Partido Comuna vinha fazendo para se contrapor aos desmandos do governo.
Sendo bem sucedida em seus objetivos, qual não foi sua surpresa ao reconhecer padre Camilo no meio do grupo católico.
--Yara, que maravilha revê-la! – o homem abraçou-a com força – Não sabe o quanto orei a Deus para conseguir reencontrá-la! – falava com sinceridade
--E eu nunca imaginei de encontrá-lo nessa missão religiosa! – respondeu ao romperem o abraço – Na verdade busquei me aproximar pra tentar alguma articulação entre a Comissão e o Comuna.
--Será que...? Bem, estes dias serão corridos mas ao final da missão terei mais tempo para conversar. – olhava para a jovem – Vamos marcar um encontro na próxima sexta? – propôs – Convido nosso Dom Eurico para ouvir sua proposta e ao final de tudo conversamos só nós dois. – pausou brevemente – E nós temos muito o que conversar!
--Vamos fazer assim. – concordou
***
Camilo e Yara conversavam em um quiosque no Parque da Cidade.
--Lamento que Dom Eurico não tenha se mostrado muito favorável a sua proposta. – Camilo dizia – Mas não desanime. A semente foi lançada. – gesticulou brevemente – Pode não germinar agora, mas no futuro quem sabe?
--O importante é que o canal ficou aberto pra dialogarmos. – a indígena respondeu ao beber um gole de suco – Isso é o que vale. – olhou para o homem e gastou uns instantes calada – Ano passado li que professora Clea foi presa por pedofilia. – comentou sobre a notícia – Imagino o tumulto que deve ter acontecido na Escola.
Abaixou a cabeça envergonhado. – Foi um episódio terrível... E ela continua presa até agora. – pausou brevemente – Você sabia de tudo, não é? – olhou para a jovem – Digo, da pedofilia que ela praticava!
--Sim, mas não tinha como provar. – respondeu de imediato – E se eu contasse, ninguém acreditaria em mim. Naquela época, quem estava sob julgamento e sendo pregada na cruz era eu...
Novamente se envergonhou. – Esta é uma das razões pelas quais desejava tanto lhe falar... – confessou – Errei com você e falhei com sua mãe, pois te deixei sozinha quando mais precisou. – mexia em um guardanapo – Tampouco segui a verdadeira conduta cristã... Mesmo que tudo que foi dito contra você fosse estritamente verdade, não era o certo agir com tamanha dureza como fizemos... – virou o rosto para o lado e olhou ao redor – Padre Louzada sente o mesmo remorso... – pensou no homem – Mas soube que ele sofre ainda há mais tempo que eu. – contava -- Uma das irmãs da Casa confessou coisas inimagináveis e ele até passou mal ao saber!
--Qual delas confessou o que? – perguntou curiosa
--Não sei bem o nome, acho que seria irmã Leda... – voltou a olhar para Yara – Ela fez uma confissão pública diante de todos na Casa, afirmando que era lésbica, amante de outra irmã da Ordem e que ambas armaram contra você. – contou resumidamente – Parece que decidiu revelar a verdade depois de se recuperar de um câncer.
A indígena ficou pasma. – Irmã Leila... – identificou quem seria – Ela era amante de irmã Clotilde.
--E você também sabia disso? – estava pasmo
--Sim. – respondeu simplesmente -- E o que aconteceu depois dessa tal confissão?
--Ela se desligou da Ordem espontaneamente e não sei o que fez da própria vida. A outra, a amante, foi expulsa. – esclareceu – Hoje em dia parece que trabalha num candomblé no Recife.
Acabou achando graça. – Quem poderia imaginar? – comentou pensativa – E padre Ignácio? – perguntou interessada – Perdoe a franqueza, mas dentre todos é a quem mais tenho gratidão e respeito. Nunca me condenou e sempre foi um excelente líder religioso.
Pensou um pouco antes de responder. – Acho que não há melhor forma de responder do que sendo direto. – mordeu o lábio inferior – Infelizmente padre Ignácio não está mais entre nós. – informou com pesar – Partiu em maio deste ano.
--Ah... – lamentou com tristeza – Que pena! Como eu gostaria de revê-lo... – visualizou o rosto do homem em sua mente – Ele foi um verdadeiro pai pra mim... – emocionou-se
--Saiba que ele nunca deixou de orar por você. – comentou o que ouvira de Louzada – Era um grande homem!
--Do que ele morreu? – secou os olhos com as mãos
--Padre Ignácio vinha trabalhando arduamente contra a exploração sexual de crianças e adolescentes. – informou – A prostituição infantil aumentou muito naquela região. Na verdade, acho que em todo lugar. – contava a história – Então ele se aborreceu demais com uma situação que aconteceu com duas meninas na praia dos Milagres e teve um infarto naquela noite. – abriu os braços brevemente – Padre Louzada disse que foi fulminante!
--Pobre padre Ignácio! – lamentou mais uma vez – E pobre Olinda que perdeu um grande defensor das populações vulneráveis...
--Que Deus o tenha! – benzeram-se – Mas... – pensava em como falar – Eu não busquei esta conversa em vão. – olhava para a jovem – Preciso lhe pedir perdão por tudo que fiz e pelo que deixei de fazer quando poderia! – falava com sinceridade – Sei que o tempo não volta, sei que sua vida agora é aqui no coração do país, mas eu queria poder lhe compensar de alguma forma! – segurou as duas mãos da indígena – Diga, Yara, por favor! Diga que me perdoa e diga como posso me redimir por todo mal que lhe causei e que permiti que te causassem! – aguardava uma resposta
Sorriu ao balançar a cabeça. – Já perdoei há muito tempo, padre! Eu não queria ficar guardando mágoas dentro de mim! – estava sendo sincera – Minha vida foi sempre muito dura e eu não quero ficar endurecendo ainda mais! – soltou as mãos do homem devagar – E se quer realmente fazer algo por mim, sei muito bem o que lhe pedir!
--E o que seria? – estava ansioso
--Continue o trabalho de padre Ignácio! – respondeu de imediato – Que não seja em Olinda, porque o senhor não mora lá, mas que seja em Salvador. – olhava para o homem – Em todo lugar existem crianças e jovens precisando de quem lhes defenda de tanta exploração e oportunismo! Então seja alguém que abre portas quando outras se fecharem!
Camilo ficou ainda mais envergonhado ao ouvir aquele pedido. – Admiro sua grandeza! – respondeu com sinceridade – Eu farei como me pede, pelo menos vou tentar! – garantiu – E também vou tentar aproximar as atividades mais políticas da Comissão com os movimentos de vocês, nesse Comuna. – complementou – Nós não teremos partido, seja do espectro político que for, mas não vejo mal em nos encontrarmos na luta se for por um Bem Maior!
Yara sorriu satisfeita com o que ouviu.
***
Uma das professoras de Sociologia do Departamento viu que Yara cruzava o corredor e a chamou: -- Yara! – falou mais alto
Virou-se em direção à voz e viu a professora. – Oi, dona Mary! – sorriu para a mulher e caminhou em direção a ela – Pois não? – perguntou ao parar diante dela
--Depois passe na minha sala pra pegar um artigo que consegui pra você. – foi direto ao assunto – Informações sobre o Tribunal Bertrand Russell, na Holanda, as quais podem lhe ser úteis.
Não entendeu. – Não conheço esse Tribunal, professora. – respondeu com humildade – Por que a senhora acha que saber sobre ele poderia me ser útil?
--Você e seu amigo Paulo não pretendem denunciar um genocídio? – sorriu – Qual a melhor forma de fazer isso senão recorrendo a um Tribunal Internacional de Crimes de Guerra? – sugeriu – Afinal de contas, aquele genocídio foi uma guerra, não? Absurdamente covarde e desigual, mas ainda assim, uma guerra!
Yara sorriu e ficou pensando em possibilidades.
Fim do capítulo
Gentem nossa caipira preferida está às voltas com trabalho de campo mas no final de semana que vem ela vai aparecer pra responder todos os coments! Enquanto isso comentem, favoritem, mandem beijos e deem uma moral pra bichinha! huahuahuahuahua Se não notaram aqui é Samira tá? bjuss
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Minh@linda!
Em: 23/01/2025
Que cenário de guerra pra matar uma barata Kkkkkk kkkkkk
Tive que me controlar, pro povo não perceber, momentaneamente, meu total desapego às formalidades no ambiente de trabalho.
Seria bom aparecer uma namorada, mesmo, pra Machado. Na torcida pra ele encontrar a sua Machadinha! Tô curtindo muito a interação deles. A simplicidade de Elza exterminando a barata, comparado a todo o esquema criado por Machado foi, verdadeiramente, engraçado. Sem falar na viagem, só os dois.
Já era de se esperar que havia dores profundas em Machado. As dores da alma interferem, bastante, nas nossas vidas e a gente nem se dá conta. É um ciclo que passa por gerações! Muitas vezes, pra você se entender, é necessário entender os seus. Pessoas menos esclarecidas ou com mais idade, não veem com bons olhos buscar um profissional que possa ajudar a cuidar dos seus traumas. Outras, só não se sentem à vontade ou não estão preparadas pra falar, se abrir com um psicólogo.
Elza buscando esse tipo de ajuda, é muito bom!!! Pode ser o que ela precisará, pra enfrentar o que Ana Maria irá aprontar. O chumbo trocado! A dor reversa!
Já, Yara, vive o hoje e o amanhã a Deus pertence, né? Talvez seja reflexo da vida andarilha que ela teve, sem criar vínculos por muito tempo, sempre estando em lugares diferentes... Mas, no fundo, a gente sempre quer ter um lugar pra voltar. Esperando pra ver esse coração nômade fixar, verdadeiramente, sua barraca.
Gostei da atitude dela com Paulo, do cuidado que ela teve com os sentimentos dele. E tudo indica que haverá um julgamento, em breve.
Eu acredito que você possa se apaixonar pela alma de alguém, Indo além do que os olhos veem. Acho que são poucas às pessoas que se permitem amar dessa forma.
O Padre Camilo apareceu cheio das notícias! Padre Ignácio morreu fazendo o bem. E a casa caiu pra Cléa e companhia limitada.
E Dona Kedima, sempre com bons conselhos! ISTs existem e nem todas tem cura.
Solitudine
Em: 24/01/2025
Autora da história
PS: Quem vive com Machado não sabe o que é monotonia! kkkk
Sem cadastro
Em: 25/01/2025
Esperando esse reencontro!
Espero não está te chateando..
Eu quando começo, não paro.
Machado é diversão pura kkkkk
Solitudine
Em: 25/01/2025
Autora da história
Você jamais me chateia. É sempre um grande prazer esse proseado. Some não!
Beijos,
Sol
Minh@linda!
Em: 27/01/2025
Sempre que puder, estarei por aqui.
Sumirei, não
Já virou vício
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PaudaFome
Em: 29/06/2024
Seus contos deixam a gente viciada!
Solitudine
Em: 10/07/2024
Autora da história
E eu fico lisonjeada em saber!!!
Beijos,
Sol
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Ontracksea
Em: 16/01/2024
Como matar uma barata, com sargento Machado! jaja
Surgiu a psicologia explicitamente, olha só! Pistas!
Cada capítulo é tão rico, tem tanta coisa pra se comentar que a gente se perde mas tô achando o máximo essa busca dos indígenas pra denunciar o genocídio!
Solitudine
Em: 16/01/2024
Autora da história
kkkkkkkk
Psicólogas aparecem em quase todos os meus contos! Se é pista, não sei. Também vai depender da interpretação! rs
Obrigada por ver tanta riqueza! Fico imensamente feliz com este tipo de retorno!
Beijos,
Sol
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Femines666
Em: 31/03/2023
Esqueci de comentar que a história da barata me matou! kkkkk
Solitudine
Em: 31/03/2023
Autora da história
kkkkkkkkk Gostou da missão de guerra do Machado?
Beijos,
Sol
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Femines666
Em: 31/03/2023
Vida seguindo e as histórias das meninas agora seguiram no mesmo capítulo ao que tudo indica. Adorando!!! Vício! Kkk
Solitudine
Em: 31/03/2023
Autora da história
Fico feliz com isso!
Beijos,
Sol
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Joabreu
Em: 20/12/2022
Boa tarde,
Viciadaça!!! Lol A gente ri, chora, se estressa, se alegra...
Você lacra até em latim. Hitou mais lida!
BBS
Jo Abreu {}
Resposta do autor:
kkkk
Obrigada. Pelo menos é um bom vício, não? rs
Mais lida? Como você soube? Depois me conta. Foi no Instagram?
Beijos,
Sol
Resposta do autor:
kkkk
Obrigada. Pelo menos é um bom vício, não? rs
Mais lida? Como você soube? Depois me conta. Foi no Instagram?
Beijos,
Sol
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 23/11/2022
Olá, tudo bem?
Voltamos ao latim, mas algumas coisas continuam ''na mesma'', principalmente Elza sendo Elza. Até quando? Apesar da aparente ''mudança'' dela provavelmente Elza aprontara mais ainda. Prevejo que logo nossa Elzinha será atingida, não sei ainda se ''fisicamente'', ''moralmente'', ''sentimentalmente''... Fiquemos de olho em Ana e em outras perdidas por aí.
Agora, Yara. Ela continua a mesma, também, não é? Mas, agora, vamos ver se ela sossega a ''periquita''. A ''bichinha'' está precisando de calmaria. Falando em calmaria, Gil é a melhor parceira que Yara precisa, para a vida toda. As duas deveriam ficar juntas ‘’para sempre’’. Quanto ao ''genocídio'' ele ainda vai dar o que falar, não é Autora?
Frui vita!
É isso!
Post Scriptum:
''A vida é curta, viva.
O amor é raro, aproveite.
O medo é terrível, enfrente.
As lembranças são doces, aprecie. ''
Caio Fernando Loureiro De Abreu,
Escritor
Resposta do autor:
Minha queridíssima! E poetisa preferida também!
E desta vez você percebeu porque voltamos ao latim?
Sim, as coisas continuariam na mesma. Elza e Yara são como a maioria de nós, seres humanos; demoramos a aprender, demoramos a mudar. Elas estão vivendo as coisas nos seus respectivos ritmos e entendendo de acordo com suas respectivas crenças.
Ana Maria prometeu que atingiria Elza por vingança. Vamos ver até onde ela conseguirá e por quanto tempo isso vai durar. Às vezes a gente esquece mas...
Esta que vos escreve é a pessoa menos indicada para falar do "para sempre", mas vamos ver, caríssima Kasvattaja. Tenha paciência com esta reles caipi! rs
O genocídio vai dar o que falar? Vamos ver. Ele mudou tudo. Por quantas vezes?
Beijos!
E volte sempre, chukran, ya habibi!
Sol
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Vanderly
Em: 22/11/2022
Bom dia!
Sol, essa estória me fez ri e chorar desde o início, mas esse capítulo aqui superou. Kkkkkkkk
Já ouvi falar em muitos nomes, mas cornichas bichadas é novo. Mas falando sério, é muito importante abordar o assunto, pois os riscos das DSTS são igualmente existentes numa relação entre mulheres.
Ansiosa esperando um novo capítulo, doida para que a Elza e a Yara se encontrem novamente e o cupido faça um bom trabalho dessa vez. Chega de desencontros amorosos com as bichinhas. Elas já sofreram demais e merecem ser felizes.
Volta logo!
Ahh menina, eu realmente troquei o nome da moça comentarista lá no grupo Lettera. E é a Laila e não a Leila como comentei anteriormente. Risos
Abraços fraternos pro cês!
Vanderly
Resposta do autor:
Olá querida!
Mais uma vez ter a honra de um comentário seu! Vai criando o hábito aí! rs
Não é abuso, é brincadeira. Não se zangue.
Que bom que a história mexe com suas emoções e que este capítulo tenha sido uma superação! kkk
Essa coisa da curnicha é um caipirês que apresentei em Em Busca do Tao. Com dona Kedima presente, não resisti e trouxe o termo de volta! rs
Elza e Yara ainda têm muito chão, encontros e desencontros. Vamos vendo. Desiste não! rs
Abordei as DSTs mas não vou me aprofundar, embora o tema faça jus. Foi só para não passar em branco.
Voltei, viu? rs
Obrigada e tudo de bom! Beijos,
Sol
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Endless
Em: 21/11/2022
Eita, caipira! Como é bom te ler novamente, ainda mais com temas tão importantes como preconceito e povos originários. É relevante se informar sobre o passado e presente dos indígenas e desconstruir o preconceito de forma insistente e persistente. Ainda mais com a ajuda de sua escrita que nos informa e nos diverte, e nos inspira. E dá-lhe curnicha! Boa sorte e até!
Resposta do autor:
Olha quem voltou!!!! Nossa grande Endless! Saudades de você, menina!
Obrigada por estar lendo e por ter vindo aqui comentar. Não suma, adoro o que você escreve. Volte mais!
Dá-lhe curnicha! kkkk
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 21/11/2022
Olá, Sol!! Espero que estejas bem!!
Bem, Machado é um tipo nobre, gosto caqda dia mais dele e Elza tem sorte de ter um pai assim.
Ao princípio do capítulo vi Elza ser fria, grossa com uma pessoa que nao tem nada a ver. é impressionante como o humano ao deecepcionar-se, entrar numa escurido e levar a outros que nao tem nada a ver...o que digo nao é por falta de compreensao sobre o que lhe passou e sua vida, é pq nao devemos descontar no outro nossos traumas. Nada justifica e caso nao possamos controlar, pedir desculpas por ferir os sentimentos e ego dos demais, seria bom! Nao podemos controlar o comportamento dos demais, mas os nosso, podemos trabalhar para diminuir nossos ataques e quem sabe, um dia enfrentá-los, nao atacar mais. O que acho interessante, é que normalmente quando machucamos alguém, aq gente sente culpa e remorso, ela tá tao ,machucada, que ficou indiferente aos que outros sentem,entao nao pode ser conscientee logo n se arrependeu(sou foda, pq escrevi isso antes dela ter ido a psicóloga kkkkkkkkkkkkkkkkk. Sabe que escrevo por partes pq n lembro dps...).
Chegou tarde o arrepedimento, mas chegou...melhor!! Bem , nada que n soubessemos..ou prévia dela.Rejeicao, culpa, amor. Basicamente isso nos leva a terapia... é o que sentimos em muitos momentos da vida, quem disse que sabemos lidar? A gente sempre encontra um escape, uns melhores que outros...a gente volta tudo pra algo que nos de um falso prazer, pra gente n sentir aquilo por mt tempo...ou muitos, ficam doentes e tem que lidar em carne viva todos os dias.Vive no rermorso e culpa a outros.. as pessoas erram, é assim.Os educadores eram, aprendemos com o outro. N existe manual. O amor por qualquer coisa, pode nos machucar. Uma morte, é um abadono, epode ficar, incosciente, por mt tempo, sentimos abandonados, esse sensacao, mesmo que n tenhamos passado por mais como Elza por racismo. Ela tb escapou, o pai, cada um a sua maneira, mas devemos continuar, pois passará, se enfrentarmos, dói pra caralho, demora, mas passa ou aprendemos a conviver e ver as coisas boas... Vamos sofrer nos afastando ou enfrentando, apenas que ao n saber lidar, preferimos sofrer sem enfrentar pq sabemos conviver com aquilo, mas um dia, a vida nos leva a enfrentar e será muito pior.... ela devia ter conversado com o pai, mas ela tem medo, ele parecde n saber lidar com a conversa tb .... mas, ela devia ver o lado bom, o pai tá ali, com suas pecularidades, sim, mas esta, ela só precisa ver o que dentro, nao fora...
E só pra aclarar...quando vc fala" uma pessoa me fez mal, romanticamente falando, pode n ser tb, mas se nota que pode ser outro sexo tb....senao vc chama pelo nome ou diz o genero e isso eu vejo diariamente..fato comprovado...a n ser q seja uma pessoa bastante fechado e séria.. Por aqui mesmo tem pessoas casadas c homens, mas tem medo de dizer e diz " pessoa"pq tem medo do q vamos pensar sobre ela, porque ela ta lendo aqui, mas super normal, mts n se aceitam ou tem medo e é uma forma de canalizar e ir se aceitando aos poucos...nao devemos julgar por estar escondida, sempre estamos de alguma forma(ah, se lembra, do irrelevante? É isso...eraq só uma nota kkkk)
Yara é mt bonitinha, sempre nessa humildade e sempre com mt fogo kkkk. Mas bem, eu n sou fa de sexo sem compromisso/casual, além super arriscado( eu mesmo, antes de namorar com minha ex e com minha esposa, pedi exame de sangue e ginecológico..os dentes tb sao importantes, mas n liguei mt c Nina, sobre os dentes...rs aloucaaaa). Tenho pavor as doencas e sexualmente, nem se fala...por isso sempre bom abrir as curnichas dos outros antes...disfarcadamente!!! hahahahahha.
Falando mais sério, as vágina é mais fácil de transmitir doenca que o penis, está mais exposta e as relacoes entre mulheres, por faltaq de conhecimento, terminam gerando mts doencas ...HPV,gonorréia, herpes, sífilis..por aí vai! Disse as mais conhecidas. Mas tipo, eu acho q seria bom que ela falsse pra Gal, assim n saíria passando pra galera..rs.
Dona Kedima é um show!! Lin relacao se formou!!!
Eita que ainda leva a vida nessa enrolacao, né?! Entre o partido e a vida universitária, n é fácil ser ativista...vc já leu:" Enterrem meu coracao naq curva do Rio"? é sobrea história dos índios américanos. Comecei a ler...eita, que to só add livros..kkkk
Yara foi sensível com Paulo, assim deve ser qndo um gosta e outro nao e sempre falar,né?! E continuar amigos..:)
Gostei muito que o padre Camilo tenha pedido perdao, gesto humilde e assimilou o que realmente Jesús quis mostrar... e que tudo se aclarou entre eles e os demais!! E mais ainda o que Yara pediu, em Salvador o tráfico ded mulheres é grande, prostituicao infantil...tinh um lugar mt conhecido que era o centro de onde acontecia mt...esxtrangeiros principalmente que vinham....tem mt pelo que se lutar nesse mundo!!!
Parece que com esse artigo, Yara e Paulo podero progressar na sua busca....
Bem, chegamos ao fim do capítulo! AMEI!!! Como gosto...mt do que falar das personagens...Yara, com seu jeito de ver a vida..realmente pra que guardar mágoas, a igreja deu isso de bom pra ela e mt fé!!! Yara seria uma boa companhia para Elza....as relacoes nos adoence, mas elas tb nos curam....talvez Yara a ajuda a superar e seguir adiante e se abrir pro amor e bela grande garota que ela guardou dentro dela!!!!!
Beijos e que seu trabalho esteja sendo prazeroso!!!
PS:Sei que pego duro com Elza, mas, vai melhorar, n é por falta de empatia. Meu objetivo é que nao vitimizemos as pessos sempre ou tenham pena delas, que vejamos osw dois lados, mas que saíbamos que nada justifica um mal trato...e o perdao e a comunicacao sempre serao a respota...o amor é a resposta, mesmo qndo n gostamos das condutas ou pecularidades de quem amamos, mas ficamos ali, exatamente pq amamos!!!!
Resposta do autor:
Olá minha psicóloga preferida Lailikii Doré Mon Cher!
Eu concordo muito com sua leitura sobre o caso de Elza (e de Yara também). Nossa jovem negra também foge da dor, só que com uma racionalidade dura, por vezes fria, meticulosa. Machado faz isso com leveza, uma certa dose de "loucura". Isso causa uma certa incompatibilidade entre eles e leva tempo para resolver. Mas como te comentei antes, teremos tempo.
Eu sei dos seus cuidados, você me contou. Nunca havia abordado o problema nos contos, porém achei por bem jogar um pouquinho disso. Mas não pretendo me aprofundar. Antes eu havia colocado apenas o caso do mecânico Silvio, que morreu de Aids em Sob o Encanto de Maya, mas não cheguei a falar de DSTs entre mulheres.
Yara é meio afogueada mas ela se segura! kkk
Ah, este eu li!!! E já citei várias vezes. E sim, ser ativista é difícil, tem consequências, a gente é punida, se lasca... vivi isso. Talvez ainda viva. rs
Padre Camilo se arrependeu. Assim como outras pessoas. A vida mostra e eles souberam ver.
Hum, vejo que você torce, não torce e torce por Elza e Yara. Ainda há tempo de se decidir. rs
Eu sei que você não carece de empatia com Elza. Entendo seu ponto, fique tranquila.
Beijos, querida!
Sol
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Seyyed
Em: 21/11/2022
Guria tu sumiu! Vou acionar o Comuna e entrar de greve! hehe Esses capítulos tão muito foda! Divertidos emocionantes e politizados agora acho que tô entendendo mais a Elza. Yara eu adoro e morri com as curnicha bichada!!!! hahaha Machado com as baratas também lacrou com Elza resolvendo a coisa hahaha Elza e Yara tem tudo a ver e nada a ver. Torcendo pelo improvável possível Vê se tu volta!!
Resposta do autor:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk Você me diverte com estas sacadas!
Sumi por uma boa causa: trabalho de campo e mil demandas. Mas voltei! Ói a capira aqui, sô!
Obrigada por continuar lendo e comentando.
Vocês riem com o sofrimento das curnichas alheias! Ai, ai, ai, que coisa feia! kkk
Escrevi isso em resposta à Lailinha: Elza e Yara são do tipo tão diferentes e tão iguais. Você não acha?
Beijos,
Sol
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Marta Andrade dos Santos
Em: 20/11/2022
Perdoa e recomeçar.
Resposta do autor:
É a melhor escolha, não?
Beijos e obrigada por estar lendo e comentando!
Sol
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Mille
Em: 20/11/2022
Oi Sol
Kadima é uma ótima pessoa, fico emocionada o amor dela pela Yara e vemos que é recíproco.
Elza foi dura com Ana Maria e tô achando que a loira vai se vingar.
Seu Machado e a super missão de exterminar a barata kkkkk
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá querida!
Nossa ya Kedima é um amorzinho e ela e Yara encontraram uma na outra aquilo do qual mais sentem falta: uma filha e uma maama!
E a loura vai se vingar. Ela prometeu manchar a reputação da outra. Vamos ver se dará certo.
No final, Elza ganhou a parada com uso de "gás mortífero"! kkk
Beijos,
Sol
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Dandara091
Em: 20/11/2022
Alô autora!
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é" já cantava Caetano. E ele resumiu o capítulo. Muito bom!
#tempusagendiehfoda
#solitudineehfoda
#caipirasnopoder
Resposta do autor:
Olá querida!
Adorei seu resumo do capítulo! Excelente citação!
Caipiras no poder????? kkkkkkk
Dá poder para ver? kkk
Obrigada! Foi divertido!
Beijos,
Sol
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Irina
Em: 20/11/2022
Kotinha querida!!
Capítulo mui importante pois estiveste a esclarecer-nos mais sobre Elza e seus dramas, mostrando-nos outra face da verdade. Também necessário foi vermos que Yara cada vez mais encontra-se dentro da luta. E os que estiveram à feri-la no passado receberam dor ou arrependimento, na justa medida em acordo com os males impostos.
Diverti-me com Machado e Kedima! Só tu, Kotinha! risos
Este conto fala muito a mim. Representa-me! Tempus Agendi é um relato necessário! Olvidemos ser ficcional.
Será?
Com estima,
Irina
Resposta do autor:
Olá querida!
Estou feliz com sua presença constante nesse conto! Obrigada por isso!
Eu fico igualmente feliz com sua sensação de identidade com a história. Espero que eu saiba honrar isso!
Com toda estima!
Sol
PS: Se é ficcional? Sim. Mas qual ficção não se espelha numa "realidade"? rs
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Samirao
Em: 20/11/2022
Amore tô adorando esses CAPS e aos poucos ir descobrindo mais sobre Elza e Yara. Comecei me divertindo com Machado e a blattaria e depois me surpreendi com o que Elza falou pra psicóloga. A gente fica julgando mas cada um tem uma história um ponto de vista... o Direito cansa de ensinar...Gostei também de ter mais um pouquinho de Yara deu pena do Paulo e ri das curnichas bichadas mas tá certo tem que falar. Eu lembrava dessa coisa com barbatimao huahuahua Tó doida pra ler mais CAPS bjuss e volta logo pra responder viu?
Resposta do autor:
Quando escrevi a parte da blattaria lembrava só de você. Do jeito que você fica quando elas aparecem! kkkkk
Você ainda não conhecia o lado Elza do acidente. Isso é bom para a gente sempre lembrar: toda verdade tem várias faces.
Yara teve sensibilidade com os sentimentos de Paulo, no que está certa. Devemos ter este respeito sempre.
Lembrou do barbatimão! Tem poder, fi! kkkkk
Estou respondendo. O jogo do Brasil ajudou a eu chegar mais cedo. Povo fica doido, né? kkkk
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 24/01/2025 Autora da história
Olá querida,
Tenho achado seus comentários cada vez mais maravilhosos. Eu fico sem saber o que responder. rs
Nossas meninas estão seguindo seus respectivos caminhos com muita luta e cabeça erguida. Eles se cruzaram uma vez e gerou faísca. Será que se reencontram? Como vai ser isso?
Continue aqui! rs
Beijos,
Sol