Abigail e Sayruci conversavam na casa que a potiguar alugou enquanto não comprava uma residência própria.

 

--Essa sua contadora é ótima! – a morena exclamava ao ler o relatório de Carmem – E ela tá sendo de uma ajuda imensa, daí!

 

--E não é? – concordava – Trabalha mais aquela minha advogada Érica lá em São Paulo, mas consegui confiscar a mulher pra nós, não sabe? – deu um tapa na perna da outra – Fica aqui até a gente arrumar outra pra botar no lugar dela!

 

--E vai ser difícil achar alguém à altura, porque ela é maravilhosa! – concluía a leitura – Mas enfim, bom saber que as coisas estão bem. – olhou para a outra – Ontem fiquei o dia inteiro em reunião com alguns possíveis fornecedores regionais e acho que vai dar certo. – informou

 

--E eu passei o dia todinho rodando de cartório em cartório pra acertar a ruma de documento que tem que tá liberado até a inauguração, não sabe? Embora Érica tenha me ajudado muito, ainda tem umas bagaça pra deslindar!

 

--Deixa eu te falar! – lembro-se de um detalhe importante – Hoje estive naquela cooperativa de costureiras que sua amiga Rita indicou e gostei muito. Dá jogo, viu?

 

--Hoje tive mais ela e Jailson e vimo foi muita coisa! – comentou também – Mas inda falta um bocado, não sabe?

 

--Que trabalheira, Senhor!! – Sayruci desabafou – Ah, mas eu tô super empolgada! – sorriu – Tava faltando um desafio assim na minha vida! – mexia nas contas do terço em seu pulso

 

--E tua caipira, vou te contar! A bicha fica de segunda a sábado naquelas obra! Arreda o pé pra nada! – afirmou enfática – É se alternando entre uma e outra e lá vai ela!

 

Visualizou o rosto da amada em sua mente. – Vera se ressente porque não tem dinheiro pra somar com nossos projetos, então ela entra com o que tem, que é o trabalho. – explicava o raciocínio da outra – Já conversei com ela que não precisa ser assim, mas não tem jeito. – fez um gesto despreocupado – Então, se ela se sente melhor trabalhando tanto, deixemos que faça como achar melhor. – pausou brevemente – E quando ela chega em casa, eu tô lá pra cuidar da minha caipira safadinha! – sorriu

 

Reparava na amiga. – Sabe... eu acho bonito por demais esse amor de vocês! – apoiou o queixo em uma das mãos – Queria um dia viver isso também... Mas um amor forte, louco, espalhafatoso! – suspirou – Te invejo mais não, fique certa! Mas eu queria o meu xodó... – dizia a verdade

 

“Ela e essa história de amor espalhafatoso...” – pensou achando graça – Mas... -- Sayruci reparou na potiguar também. – Responda uma coisa... E a Paty? – pausou brevemente – Senti o maior clima entre vocês no Congresso... E acho que ela seria a companheira espalhafatosa ideal pra você, não?

 

--Ah, que nada! – balançou a cabeça discordando – Eu ainda penso nela, até sonho com ela, mas Paty não me quer não... – abaixou a cabeça – É uma ruma de mulher em cima, não sabe? E ela é carioca, toda moderninha... não ia querer uma sapatão brocoió feio eu! – desabafava – De vez em quando a gente troca uns e-mail, fico ali curiando o canal dela e não passa disso.

 

--E desde quando você é brocoió, criatura? – discordou – Além do mais achei a Paty muito da interessadinha em você, se quer saber! – sorria

 

--Eu não sou mais a iludida de antes! Sei quando uma mulher me quer ou não, e aquela ali não é o caso! – levantou-se – Ói, hoje é sábado, que tal a gente ir jantar naquele restaurante massa de frente pro mar em Praia do Meio? – propôs ao mudar de assunto – Diz que eles têm um prato de meio quilo de camarão à milanesa que ó! – lambeu-se toda

 

Achou graça. – Eu sou vegana, mas acompanho vocês na parte que me toca. – pegou o celular – Deixa eu ligar pra minha caipira pra gente combinar!

 

Vera acompanhava o trabalho dos pedreiros em uma das obras. – Assim não, pessoal, tem que aplicar a emulsão asfáltica pra impermeabilizar a base! – orientava – É isso que vai impedir que as paredes tenha infiltração no futuro, uai! – falava como quem diz o óbvio

 

--Ói, dona Vera, é sábado e já são de cinco da tarde... – o chefe dos pedreiros ponderou – Deixe pra continuar na segunda?

 

Pensou melhor e concordou. – Então tá então, mas a primeira providência da segunda vai ser usar o trem da emulsão!

 

--Trem? – não entendeu – Que trem?

 

Achou graça. -- Dispensa teus colega que segunda a gente proseia de novo! – deu um tapinha no braço do homem – Bom descanso!

 

--Pra senhora também! – deu um aceno e se dirigiu aos demais – Cambada, por hoje é só! – falou mais alto

 

A caipira sentiu o celular vibrando no bolso da calça. – Uai? – atendeu empolgada – Oi, Sayzinha! Desculpe, tava aqui empolgada na obra! – sorriu – O que você quer, minha linda? – perguntou melosa

 

--Jantar com você e Abigail num restaurante bem massa em Praia do Meio! – respondeu carinhosa – E depois... – reparou se a amiga prestava atenção – Ter uma sobremesa maravilhosa: VOCÊ! – sussurrou para a amada

 

--Não atiça a caipira! – respondeu brincalhona

 

--Sai daí e vai pra casa, amor. – pediu melosa – Encontro você lá, a gente toma um banho, se prepara e daí a gente segue pro restaurante.

 

--Tô indo! – concordou de pronto – Daqui a pouco chego. – beijou o ar – Beijo, minha musa!

 

--Beijo, amor! – desligou o telefone – Tô indo pra casa. -- levantou-se – Pode ser de se encontrar no restaurante às oito?

 

--Pode! – concordou – Mas não vá me inventar de acasalar antes de ir, que eu não quero ficar esperando, visse, dona Sayruci? – advertiu

 

Ficou sem graça. – Ora, e quando que te deixamos esperando?

 

Riu brevemente. – Oxe, que se contar só aqui em Natal foi bem umas dez vez! – respondeu de pronto – Quando tu aparece toda vermelha e a outra com os braço arranhado eu bem sei! – gesticulava – Fora os ch*pão nos pescoço de cada uma!

 

“Nossa!” – pensou envergonhada – “E eu que nunca reparei nisso!” – cobriu o rosto com uma das mãos e acabou rindo

 

***

 

Patrícia e Diana caminhavam na beira da praia conversando. A influencer aproveitava que a amiga passava uns dias na cidade.

 

--Você tá bombando, viu, amiga? – Diana comentou animada – Nesses tempos em que o país se polariza e que os lobos disfarçados de ovelha misturam uma interpretação bíblica distorcida com política, tô boba de ver como que os militantes LGBT e outros livre pensadores tão se conectando a você! – falava com admiração – O efeito colateral positivo é que você não vai ter mais problema com dinheiro! -- brincou

 

--Não posso reclamar da verba que o SeuTubo tem pingado no meu bolsinho virtual. – respondeu bem humorada – E tenho investido em alguns projetos que protegem pessoas em situação de vulnerabilidade. O país parece que segue uma rota desgovernada ladeira abaixo e pior vai ficar se aquele troço ganhar as eleições desse ano!

 

--Ai, nem me fala nisso! – Diana fez um gesto – Não quero pensar que 2018 poderá vir a ser o ano em que o Brasil decidiu democraticamente eleger um ditador ignorante e louco!

 

--Também não gosto de pensar nisso, mas a militância não pode parar. Se a gente deixa lacunas, outros ocupam e não necessariamente com alguma coisa boa! – pausou brevemente – Por essas e outras que tenho trabalhado como uma égua! Pra não deixar meu coração e a cabeça desocupados... – suspirou

 

Diana estranhou o comentário e ficou observando a amiga. – E tudo isso por que? – queria entender – Ainda sofrendo em seu amor por Abigail?

 

--Não era pra ser... – mirou um ponto no infinito – E pra completar, ela já voltou pra Natal. Ficou ainda mais longe de mim... – suspirou

 

--Amiga, eu não entendo o que deu errado, sinceramente! – gesticulou – Lembro muito bem dos olhares que ela te dava durante o Congresso! Na minha cabeça tava claro que ela tá super a fim de você! Pelo menos naquela época, ela tava!

 

--Nada! – fez um gesto de desdém – Aquilo ali era charme de autora que cai nas graças da mulherada! – considerou – Eu pensei que Abigail seria aquela com quem eu poderia viver um amor cinematográfico, mas não... – passou a mão nos cabelos – Ela quer é curtir. Tipo uma Frog da vida!

 

--Amor cinematográfico... – achou graça – Olha, não me parece que ela esteja nessa onda de pegação e banditismo! – discordou – E a própria Frog mudou, né? Colou com Ales e já tão até escrevendo juntas!

 

--Abigail e eu não era pra ser... – desconsiderou – E vida que segue, meu bem!

 

***

 

Latifah e Khadija caminhavam de mãos dadas pelo Parque Nacional do Iguaçu. Contemplavam as cataratas e faziam mil poses para selfies apaixonadas.

 

--Essa ficou fodástica! – Latifah apreciava a foto – Vai bombar no Fuçagram! – sorriu para a amada

 

--Amore, eu tô achando um sonho dividir tudo com você, até as contas nas redes sociais... mas ao mesmo tempo tenho pensado... – debruçou-se na mureta da passarela – Será que não fica parecendo um oportunismo meu? – olhou para a outra – I mean, você já era uma influencer conhecida, milhares de seguidores e tals, aí de repente aparece uma Khadija pra ficar surfando na tua onda?

 

Achou graça. – A menos que a madame só esteja se aproveitando desse meu sucesso e do corpitho que aqui se encontra, -- deslizou uma das mãos pelo próprio corpo – não vejo oportunismo at all! E se alguém vê, caguei! – deu de ombros

 

Riu brevemente e envolveu os braços no pescoço dela. – Claro que não! – sorria – Sabe que te amo! – beijou-a

 

--Então esquece, tira essas neuras do pensamento! – abraçou-a pela cintura – Uma diva não se estressa com qualquer coisa. Até porque dá rugas! – beijou-a

 

--Rugas? Deus nos livre! – beijou-a novamente

 

Um pequeno grupo de turistas passou pelas duas e ficou criticando aos cochichos. Alguns riram.

 

--Olha essa gente reparando! – Khadija desvencilhou-se lentamente da namorada – É uma bosta, né, amore? – gesticulou afetada – No meio hétero, olham pra gente de banda porque somos duas mulheres e no meio LGBT ficam as perguntinhas: -- alterou a voz para imitar os outros – “Como pode namorar uma mulher se você é mulher trans?”, “Latifah já era bi ou só simpatizante?”, “Mulher trans e lésbica? Existe isso? Pode isso?” – revirou os olhos

 

--Sabe o que eu acho, habibem? – aproximou-se novamente da namorada – Você se preocupa demais com o que os outros pensam! – guardou o celular na bolsa – Responde uma coisa, -- gesticulou – você tá feliz com o que a gente tá vivendo?

 

--Absurdamente feliz! – respondeu de imediato

 

--So... – acariciava o rosto da mulher – Esquece do resto! – afirmou enfática – E foca em mim que é o melhor que cê faz! – ordenou brincalhona

 

“E dá pra contrariar uma diva de olhos verdes ensandecedores?” – pensou embevecida – A gente falava do que mesmo, delícia do meu coração? – abraçou-a pela cintura

 

--Bem melhor assim! – segurou-a pelos cabelos da nuca e a beijou – “E quem não gostar, que se morra!” -- pensou

 

***

 

Julho contava seus primeiros dias quando Abigail inaugurava o Hotel Dos Sonhos. Recebiam a primeira leva de turistas: dois ônibus cheios vindos de São Paulo.

 

--É com muito orgulho que recebemos as senhoras e senhores em nosso humilde hotel, não sabe? – Abigail sorria satisfeita ao ver as pessoas descendo dos ônibus – Nosso estabelecimento foi todo reformado e está pronto pra recebe-los da melhor forma possível! – indicou a entrada para os hóspedes – Não se preocupem com as bagagens que todas serão entregues em seus respectivos quartos!

 

--Nossa, mas ficou irreconhecível! – a guia de turismo surpreendia-se com o que viu – Estive aqui em 2016, quando ainda era o Morada e agora, vendo isso... – abriu os braços brevemente – Ficou lindo! –sorria

 

--Que maravilha que a senhora gostou! – Abigail entrou no estabelecimento – Gerente Rita! – chamou pela amiga – Por favor, nossos novos hóspedes estão nas suas mãos! – olhou para as pessoas – E os senhores não poderiam estar em melhores mãos!

 

“Ave Maria, minha primeira vez como gerenta!” – pensou empolgada – Por gentileza, senhoras e senhores, vamos fazer o check in! – convidou – Nossos recepcionistas Jailson, Adriano, Maciel e Amanda lhes darão toda atenção! – sorriu para os colegas

 

“Minha primeira vez como recepcionista!” – Jailson sorriu orgulhoso – Boa tarde, senhora! – saudou uma hóspede

 

“Graças a Deus! Empregado e no turno da manhã!” – Adriano pensava – Boa tarde, senhor! – cumprimentou um hóspede

 

--Mensageiro Duarte! – Rita chamou – As bagagens!

 

--Cheguei, dona Rita! – Duarte veio correndo com um carrinho – Pode confiar que vamo entregar tudo direitinho! – acenou para um colega – Simbora, homi! – os dois foram cuidar das bagagens

 

Abigail reparava na alegria e satisfação de seus colegas e sentia-se feliz com isso.

 

Enquanto isso, no restaurante...

 

--Ai, dona Sayruci, eu tô num aperreio! – Maria José ajeitava o uniforme – Inauguração de hotel, de restaurante e mais o sarau que vai ter... – olhava para a patroa – Será que a gente dá conta?

 

--Eu prestei muita atenção no que a senhora ensinou, mas sou nova nisso de cozinha vegana, esses troço chique... – Lourdes comentou excitada

 

--Fiquem tranquilas que vai dar tudo certo! – Sayruci respondeu confiante – Nós vamos receber nossos clientes muito bem e vocês vão dar um show!

 

--Daqui a pouco o povo chega aí, dona Vera! – Laerte ajeitava a gola do uniforme – Dá até uma gastura na gente! – sorriu nervosamente

 

--As mesa tão tudo arrumada! – Misael se aproximou dos outros dois – Tô doidinho pra começar! – esfregou as mãos uma na outra – “Depois de tanto tempo sem um emprego decente...” – pensou

 

--Não só vai dar, como já deu tudo certo, uai! – Vera respondeu empolgada – Esse hotel e esse restaurante vieram pra ficar! Se Deus quiser!

 

--Amém! – os funcionários responderam ao se benzer

 

***

 

Abigail e Sayruci recebiam suas convidadas para o Sarau Literário de Inverno na sala de convenções do hotel da potiguar.

 

--Ano passado aconteceu aquele Congresso maravilhoso no Rio de Janeiro, -- olhava para as mulheres -- mas minha amiga Say e eu ficamo achando que faltou a gente se aprofundar na discussão sobre a obra de Cassandra, não sabe? – esclarecia às convidadas – Eu mesma não conhecia o trabalho dela, só de ouvir falar, e foi com gosto que pude ter acesso a tudo que ela deixou pra nós.

 

--E uma vez que nossa amiga Natasha, -- Sayruci apontou para a mulher – conseguiu um feito e tanto, ou seja, resgatar todas as obras desta grande autora em seus títulos originais compreendidos entre 1948 e 1997, o mínimo que poderíamos fazer seria investir nosso tempo no estudo e debate sobre tais textos. – sorriu

 

--Mulher, pode mostrar! – Abigail fez sinal para Natasha

 

--Tcharam! – Natasha descobriu uma mesa onde os volumes se encontravam

 

--E eu achei a ideia maravilhosa! – Black Velveteen exclamou de pronto – Vai ser a primeira vez que consigo ter acesso a tamanho tesouro! – olhava para os livros

 

--Bah, mas tem até esses publicados no auge da ditadura, daí! – Amaralina admirava os títulos

 

--Como que você conseguiu isso, Natasha? – LesGeek perguntou a outra

 

--Ah, eu trabalho numa ONG lá em Sampa e dia desses conheci um bofe de cabelinho branco e super influente que foi lá na sede fazer uma visitinha pra gente, sabe...? – enroscava uma mecha de cabelo nos dedos – Conversa vai, conversa vem... parece que o bofe era fã! – gesticulou e riu

 

--E como que vai ser a dinâmica? – Crisálida perguntou animada – Não vejo a hora de poder começar a ler!

 

--Sem aperreio que tá tudo sob controle, não sabe? – Abigail respondeu brincalhona – Nós vamo explicar o que a gente bolou e vocês vê se dá pra ser assim!

 

--Primeiro sarau, né, gente? – Sayruci comentou – Estamos aprendendo como fazer!

 

--Só de pensar em ler Cassandra vai me subindo um fogo! – Ales exclamou excitada

 

--Eu já tô toda molhadinha! – Frog respondeu fazendo caras e bocas

 

--Jura?? – Ales segurou o rosto da namorada com as duas mãos e a beijou

 

E as duas caíram no chão rolando enquanto se agarravam.

 

--Eu hein, toda vida é esse trem doido! – Vera comentou com Patrícia

 

--É o amor, amiga! – Patrícia suspirou – “Quisera eu...” – pensou

 

--Deixa eu te contar que tô até te estranhando! – a caipira olhava para a outra – Por que não tá lá na frente com Sayzinha e Abigail falando desses trem de Cassandra? -- perguntou intrigada

 

--O evento foi uma organização delas, sou apenas convidada. – passou a mão nos cabelos – E conheço muito pouco de Cassandra pra dizer alguma coisa útil...

 

Abigail deu uma olhada para Patrícia e suspirou. “Ela não chega nem perto de mim...” – pensou – “Aff!”

 

***

 

--Gentem, eu tô doida pra fazer esse tal passeio de bugue! – Patrícia exclamou empolgada – Dizem que é o must! – falava para as outras mulheres

 

--Ai, eu também! – Zu Clética bateu palminhas – E quero o meu com muita emoção!

 

--Passeio com emoção quer dizer o que, hein? – Crisálida perguntou intrigada

 

“Vais descobrir do pior jeito!” – Vera pensou divertida – “Ave Maria, quando fiz o passeio com emoção quase morri!” -- lembrou

 

--Atenção, meninas! – Rita se aproximava com uma lista – Os bugueiro tão tudo aí fora esperando e eu trouxe a listinha pra vocês saber com quem cada uma vai, não sabe? – preparava-se para ler – Ales Bysex, Frog Kruger, Black Velveteen e LesGeek no bugue verde. – lia os nomes – Amaralina Luz, Crisálida Manhães, Camarada Sapa e Malu Capital no bugue vermelho. – interrompeu brevemente – “Mas é cada nome de mulher!” – pensou intrigada

 

--Tinha que ser vermelho! – Malu reclamou -- Só vou nesse bugue contigo porque a gente se uniu pra combater o mal! – esclareceu para Camarada Sapa – Mas não se atreva a vir me falar da esquerda! – olhava para ela de cara feia

 

--E você nem ouse vir querer me convencer sobre as maravilhas do capitalismo! – Camarada retrucou

 

--Ih, meu Deus, vão indo, gentem! – Patrícia animava as mulheres batendo palmas – Todo mundo correndo pro bugue! E sem brigas! – olhou para Rita – E o resto, como ficou?

 

--Zu Clética, Soul Sapa, Veruska e Natasha, bugue azul. – Rita continuou lendo – Patrícia, Vera e Sayruci no bugue amarelo. – encerrou a leitura – Pronto, ficou assim. -- esclareceu

 

--Vamos, Vera! – Paty segurou o pulso da outra – Cadê tua mulher, hein? – perguntou estranhando – Além do mais você nem tá vestida como quem vai pra praia, né? – reparou – “Não me diga que essa caipira toma banho de mar usando calça jeans?” – pensou

 

--Então... – a caipira sorriu disfarçando – Sayzinha não vai poder ir no passeio porque vem aí um grupo de veganos pra almoçar no restaurante e ela faz questão de receber o povo. – abriu os braços brevemente – E eu vou dar uma força também, uai! Tem que participar, né?

 

--Ah! – ficou decepcionada – E só eu fiquei na pista e vou no passeio de bugue sozinha? – perguntou entristecida

 

--Você vai mais eu! – Abigail se apresentou trajando sua moda praia – Say me disse que ela e Vera não ia poder e me pediu pra te fazer companhia... – parou próxima às mulheres – A menos que você não me queira, não sabe? – perguntou insegura

 

--É claro que eu quero! – respondeu de imediato e disfarçou – Sozinha é que não dava, né? – sorriu timidamente

 

Vera e Rita se entreolharam e sorriram.

 

***

 

--AHAHAHAHAH, MEU DEUS, MINHA NOSSA SENHORAAA!!! – Abigail gritava histérica – SOCORRO, VALEI-ME, VALEI-ME!!!

 

--AHAHAHAHAHAH, MEU PAI, MINHA MÃE, TODO MUNDO, AHAHAHAHAH!!!!!!! – Patrícia berrava desesperada

 

--Com emoçãoooo!!! – Sebastião fazia altas manobras nas dunas douradas

 

“Não importa quantas vezes eu ande nessa bixiga de bugue, esse passeio sempre me deixa doidaaaa!” – a potiguar pensava – AIAIAIAIAIAI!!!!!!!! – gritava

 

--É só alegria!! – o bugueiro descia uma duna em alta velocidade

 

--AHAHAHAHAHAH!!!! – Paty gritava como uma condenada – DEUS, EU NÃO QUERO MORRER, NÃO QUERO, NÃO QUERO!! – fazia um escândalo

 

--Não grita que eu tenho medo e fecho os olhos!!! – Sebastião brincou ao subir em outra duna novamente – Olha o quebra bunda! – o veículo começou a subir e descer em pequenos montes de areia e quicando

 

--Homi, pelas caridade! – Abigail se segurava com força – Deixe de tanta doidiça! – pediu

 

--Olha, ele vai descer o desfiladeiro de areia! – Patrícia apontou – SOCORROOOO!!! – jogou-se do bugue com medo de morrer

 

--Eita!! – Sebastião levou um susto – Ela se jogou??

 

--NÃOOO, MULHER!! – Abigail pulou atrás para salvá-la

 

--Ave Maria, as duas pulou?? – o bugueiro desviou da borda da duna e parou o veículo

 

--AHAHAHAHAH!!! – Patrícia rolava duna abaixo

 

--Tô indo, mulher! – Abigail rolava atrás

 

Ao final da duna, a influencer parou de rolar e tentou recobrar as forças para se sentar. Não conseguindo, deitou-se de barriga para cima. – Será que eu morri? – cuspiu areia da boca

 

--Mulher! – Abigail deixou de rolar e parou próxima a outra – Tu se machucasse? – rastejou até ela – Fale comigo! – parou ao lado da outra – Mulher? – estava deitada de bruços apoiando-se pelos cotovelos

 

--Machuquei? Nem sei! – olhou abestalhada para a potiguar – Só sei que me sinto como um bife à milanesa!

 

--E é? – aproximou o rosto – E eu que gosto tanto de um bifinho desse, não sabe? – seu olhar se alternava entre olhos e lábios da outra mulher – “Sapeca um beijo nela, Bigail!” – pensou

 

--Jura? – aproximou o rosto também – “É agora!” – pensou antes de segurá-la pela nuca e beijá-la com fé

 

“Ô, bicha fogosa!” – deitou-se por cima da outra

 

--Eita, lasqueira! – Sebastião observou a cena do topo da duna – E agora pra resgatar essas mulher? – acabou achando graça

 

Abigail e Patrícia rolavam ensandecidas pelas dunas do Rio Grande do Norte.

 

***

 

--Durante todo esse tempo eu acreditei que você não me queria... – Patrícia olhava nos olhos da amada – Imaginei que, com tanto assédio em cima, você nunca perderia um minuto pensando em mim... – dizia a verdade

 

--E eu pensei a mesma coisa em relação a você, não sabe? – confessou também – Uma mulher cheia de seguidor, famosa, não ia querer nada com uma baixinha, gordinha e sem graça igual a mim...

 

As duas mulheres estavam nuas e ajoelhadas sobre a cama do quarto de Patrícia no hotel.

 

--Eu demorei a te ver realmente... – a carioca confessou – Ficava irritada com aquela coisa toda de Gail Nasser que você inventou... – as duas riram brevemente – E te julgava como uma kaozeira... – acariciavam-se as mãos – Mas depois que li seu conto, onde você se apresentou tão pura, tão humilde, tão você... – pausou brevemente – E eu me encantei, me identifiquei e... me apaixonei! – declarou-se

 

--Eu sofri na pele o preconceito por não atender ao padrão de beleza e por muitas vezes chorei por causa disso. Mas demorei a aprender o peso disso tudo porque eu mesma só valorizava uma mulher pela aparência, não sabe? – confessou envergonhada – Foi só depois de sofrer a pior das decepção com minha ex noiva e quase me matar que me atinei de ver as pessoas com os olhos da alma! – segurou o rosto de Patrícia com as duas mãos – E aí eu pude te ver, além da Paty Golezzo, e me apaixonei!

 

--Ai... – suspirou – Eu te quero tanto! – puxou-a pela cintura e a beijou com paixão

 

As duas mulheres se abraçaram e deitaram de lado sem interromper o beijo. Entrelaçaram-se as pernas e perderam-se em um gostoso amasso, enquanto as mãos se exploravam com desejo.

 

--Rita, me diz uma coisa aqui. – aproximou-se da amiga -- Bigail tá namorando aquela moça do Rio? – Jailson perguntou curioso – Aquela influ... comé? – não sabia a palavra correta – Influ... Ah, aquela que fala na internet e os outro fica ouvindo, não sabe?

 

--É Paty. – respondeu em voz mais baixa – Eu acho que agora tão, não sabe? – fofocou – As duas chegaram do passeio de bugue toda arranhada mas com um sorriso de orelha a orelha.

 

--Toda arranhada? – o homem levou um susto

 

--Pior do que quando aquele gato de dona Martina pegou Bigail! – lembrava do fato

 

--Oxe! – levou um susto – “É atração fatal!” – pensou

 

--E o pior é que eu tinha que ver um assunto sério com Bigail e agora nem sei. – Rita comentou – Elas subiram pro quarto de Paty e até agora não saíram de lá!

 

Abigail beijava o corpo da parceira com paixão, carinho e respeito. Seguia lentamente em direção ao sex* da outra.

 

--Ah!! – gem*u alto ao sentir a parceira invadindo sua intimidade com lábios, língua e nariz – Ai, mas o que...? – não conseguia completar a frase – “Gentem, que oral é esse que ela faz?” – pensou se deleitando

 

“Pelo menos aquela fase bandida me serviu de alguma coisa!” – a potiguar pensava – “Vou deixar essa mulher até besta!” – roçava as pontas dos dedos suavemente pelo abdômen da outra até a borda dos seios

 

--AH, AH, AH! – gemia alto – AI! – fechou os olhos – AH!!

 

Rita se aproximava da porta do quarto receosa. “Se não fosse um troço tão importante...” – preparou-se para bater

 

--AHAHAHAHAHAH!!!!!!! – um berro se fez ouvir

 

CRASH, BOOM, BANG, BUFF! – barulhos indecifráveis vinham de dentro do quarto

 

“Ave Maria!” – Rita arregalou os olhos

 

Ao perceber que a amante atingira o clímax, Abigail seguiu um trilha de beijos e mordidinhas em direção aos seios da outra. – Gostasse, galega? – mordiscou-lhe o bico de um seio

 

--Ai, você é um arraso... – afirmou embevecida – Mas agora, -- segurou-a pelos cabelos da nuca – é hora de cuidar de ti! – beijou-a e inverteu as posições

 

--Venha, galega! – pediu extasiada com os beijos da outra ao longo de seu corpo

 

--Eu te quero! – Patrícia deslizou o nariz pelo sex* da parceira e começou a saboreá-la – Muito... – provocava-a com língua e dedos

 

--AH! – a potiguar gem*u alto – Ai, galega... – fechou os olhos e se entregou às sensações

 

“Depois desse fuzuê as duas já deve de tá satisfeita, não sabe?” – Rita pensou enquanto aguardava – “Vou esperar só mais um pouco. Se não ouvir nada, bato na porta!” – decidiu

 

--AH, AH, AH, misericórdia! – Abigail gemia excitada

 

“Ler os trocentos de contos que já li me serviram de alguma coisa!” – Paty pensava enquanto excitava a parceira freneticamente

 

“Pronto. Vamo ver se agora vai!” – Rita se preparou para bater na porta

 

--AIAIAIAIAIAI!!!!! – mais um berro ecoou no começo da noite

 

BUFF, NHEC, POW, BAM, BOOM! – mais sons indecifráveis se fizeram ouvir

 

--Desisto! – Rita foi embora achando graça – “Até na hora H, Bigail faz fuzuê, Ave Maria!” -- pensou

 

Abigail e Patrícia se amavam sem pressa para acabar.

 

***

 

Vera voltava do Forte dos Reis Magos caminhando pelas areias da praia, aproveitando a maré baixa daquela linda manhã. Contemplava a beleza do lugar e sorriu ao ver crianças brincando em uma piscininha natural imprensada entre a barreira de recifes e os bancos de areia.

 

“Eu nunca imaginei que um dia fosse viver o que vivo hoje!” – pensou satisfeita – “Vivo um relacionamento com uma mulher maravilhosa e que sempre me aceitou do jeito que eu sou!” – sorriu – “Temos saúde, não passamos aperto, moramos em uma casa grande, bonita e com uma vista maravilhosa! Temos boas amizades, bons vizinhos... tenho até perspectivas de montar meu próprio negócio!” – olhou para o céu – “Sayzinha me deu tudo: um amor, uma vida nova e oportunidades!” – emocionou-se – “E me ajudou a renovar a minha fé!” – molhou os pés e seguiu caminhando com a água na altura das canelas – “Mesmo com todas dores que ainda ferem meu coração, hoje me sinto bem melhor!” – olhou para o mar – “Graças a Deus!” – benzeu-se

 

Eu navegarei,

No oceano do Espírito...

 

A caipira mergulhou e nadou até os recifes.

 

E ali adorarei,

Ao Deus do meu amor...

 

Subiu sobre as pedras e se ajoelhou em um trecho plano.

 

Eu adorarei,

Ao Deus da minha vida...

 

Fechou os olhos e começou a orar.

 

Que me compreendeu,

Sem nenhuma explicação...

 

Sentia-se bem, sentia-se em paz.

 

Espírito, Espírito,

Que desce como fogo,

Vem como em pentecostes,

E enche-me de novo...

 

Vera começava a acreditar que era tão digna quanto qualquer filha de Deus.

 

Espírito, Espírito,

Que desce como fogo...

 

Não podia ver que do Além sua mãe derramava bênçãos de luz sobre sua cabeça, mas chorou de emoção ao perceber que não estava só.

 

Vem como em pentecostes,

E enche-me de novo...

Gabriela Rocha – Eu Navegarei [1]

(https://www.youtube.com/watch?v=nSvxVCdj_gU)

 

E pela primeira vez na vida, compreendeu de corpo e alma que tudo tinha razão de ser, inclusive ela mesma.

 

***

 

--Mamys, eu achei essa casa de vocês um escândalo! – Latifah reparava em tudo – Amei a decoração, o visual, tudo! – gesticulou afetada – E que bairrozinho gostoso esse tal de Petrópolis!

 

--Say, que vista espetaculosa! – Khadija comentou afetada ao olhar pela janela – Parece até que vocês moram no topo da montanha tendo o mar como background! – colocou as mãos na cintura – Amei!

 

--Que bom que vocês gostaram! – a morena olhava para o mar também – Sinto essa casa exatamente como você falou, Khadija. – sorriu – Minha caipira preferida fez um ótimo trabalho encontrando o lugar e cuidando da obra. – cruzou os braços – De todas as obras, aliás! – pensava no hotel, no restaurante e no projeto social

 

--Cê parou bem com aquela maluca! – abraçou a mãe pelos ombros e admirou a vista da janela – E fico feliz que as coisas estejam tão bem! – beijou-lhe o rosto – Sabe que parece até que você ficou mais nova? – reparou – Tá usando que cremithos, hein? – perguntou curiosa

 

Achou graça. – Eu diria que demos sorte com nossas mulheres! – beijou o rosto da filha também – “E adorei que depois de Khadija você entrou nos eixos de vez!” – pensou satisfeita

 

Khadija ficou toda prosa. – Assim eu fico envergonhada! – cobriu o rosto com uma das mãos

 

--Concordo contigo, mamys! E tá tudo lindo! – soltou a outra e andou pela casa – A vida tá boa, paz dentro de todas as casas, -- gesticulava afetada – e um glamourzinho básico que ninguém é de ferro, né? – jogou os cabelinhos – Vai dizendo aí, mamys, quando sai o livro? E a tarde de autógrafos? – sentou-se na poltrona – A gente quer ir pra abrilhantar, né, habibem? – olhou para a amada

 

--Ai, a gente quer! – sentou-se ao lado de Latifah – E tem que divulgar pra geral! Seja here, there ou em everywhere! – riu brevemente

 

--Sei. – riu também e sentou-se no sofá em frente às mulheres – O lançamento está previsto pra novembro. – cruzou as pernas – Abigail vai lançar o dela exatamente no mesmo dia que eu. – olhava para as outras – Vamos fazer um evento no Hotel Dos Sonhos e outro em São Paulo, junto à ONG de Natasha e Veruska. – explicava -- Mas falando em assuntos mais imediatos, vocês chegaram de viagem e mal pararam pra descansar. – preocupava-se com as duas – O que preferem: jantar aqui ou no restaurante? – ofereceu – O que decidirem, tá bom pra mim. – sorriu

 

--E a gente vai perder fofoca fresca, mamys? Claro que a gente vai jantar no teu restaurante! – olhou para a amada – Concorda, habibem? – sorriu

 

--Lógico, amore! – beijou-a nos lábios – Tamos loucas pra conhecer teu espaço vegano, Say! – olhou para a sogra

 

--Tá ótimo. – concordou – Quando Vera chegar, depois que ela tomar banho e tal, a gente vai.

 

--Sabe que eu acho que não vou aguentar esperar ela chegar pra...? – Khadija novamente olhou para Latifah

 

--Ai, eu também não! – concordou de pronto

 

--Vocês tão com fome, daí! – deduziu de imediato ao se levantar – Tudo bem, a gente vai quando vocês quiserem. – pensava no que fazer – É... agora?

 

As duas riram. – A gente não tá falando de comida, mamys! – levantou-se também e segurou-a por um braço

 

--Não mesmo, Say! – Khadija fez o mesmo e segurou o outro braço – É uma notícia que a gente vai te dar! – fez suspense – E por mais que a gente goste da Caipi, não dá pra esperar ela chegar do trampo!

 

--E a notícia seria...? – olhava alternadamente para uma e outra

 

--Senta, mamys! – as três sentaram – A notícia é que a gente, Khadija e eu, eu e Khadija...

 

--Vamos dizer sim e nos casar! – complementou a fala da outra

 

--Casar?? – levou um susto – Nossa, eu não imaginava! – achou graça -- Fiquei feliz com a notícia! – estava sendo sincera – Own, deixa eu dar um abraço nas minhas filhas! – abraçou as duas ao mesmo tempo e beijou a bochecha de cada uma – Que Deus abençoe, dê sabedoria, paciência e forças pra vencer qualquer desafio que apareça! – desejou

 

--Amém! – as duas responderam juntas

 

--Como conseguiu isso, Khadija? – olhou para ela – Pensei que se um dia Latifah casasse, seria daqui a mais uns 20 anos!

 

Achou graça. -- Say, é muito simples! – gesticulava – A diva que reside em mim se completa com a diva que reside nela! No way to be apart!

 

--E divas se entendem, né, mamys! Esperar mais o que? – deu um tapinha na coxa da mãe – Nós ainda não anunciamos lá em Foz, deixamos pra fazer o barulho aqui, -- gesticulava afetadamente -- mas papys, Rachid e Salma tão com um sorriso de orelha a orelha! Já sacaram qual é a do nosso riscado, né? – piscou para a mãe – E há tempos eles queriam ver os Ajami Hafeez colando com os Nahim, by the way!

 

--Tenho certeza que até a sua mamys vai fazer gosto! – Khadija falava de Zorayde

 

--Aliás, olha! – Latifah exclamou afetada – Vóvys, hein? Digo nada! – fofocou – Ela simplesmente mudou o astral lá de casa por completo! – contava – Mas apesar de tudo isso, quem disse que quer ir morar com papys? É cada um na sua mansão, coisa super moderna! – gesticulava -- Antes eu olhava pra ela e só via Margareth Tatcher. Agora quando a vejo, só me vem Lady Dy? – olhava para a mãe – Às vezes me lembro até da Lady Gaga!

 

A morena riu. – Eu hein! – balançou a cabeça divertida – E... eu sou a primeira pessoa a saber da notícia, é isso?

 

–A gente decidiu te contar primeiro e depois fazer um vídeo no nosso canal pra deixar o planeta saber! – Khadija gesticulou com raça fazendo a morena rir novamente

 

--Também temos uma proposta decente pra te fazer! – Latifah destacou – Mas isso eu só conto at night! – lembrou-se de um detalhe -- A gente pode gravar do seu terraço, mamys? – pediu empolgada – Quero aquele marzão bem no fundo assim!

 

--Pode! – não deixava de achar graça das duas – Por que não gravam no restaurante também? – sugeriu – Ligo pra lá agora e já peço pra irem preparando algo bem especial pra ocasião!

 

--Amei! – Khadija bateu palminhas – Nós quatro comemorando juntas no restaurante da Say!

 

--Podemos ser até mais que quatro! – sugeriu novamente – Podemos convidar Abigail e Patrícia também.

 

--As duas tão juntas? – Latifah perguntou surpreendida

 

--Digamos que o sarau que mal terminou deu bons frutos! – sorria

 

--E Paty Golezzo tem um monte de seguidores, habibem! – Latifah comentou empolgada – Nosso vídeo vai bombar! No nosso canal e no dela!

 

--Ai, que tudo! Ui! – deu um gritinho

 

“Minha filha encontrou a companheira ideal!” – Sayruci pensava divertida – E quando vai ser esse casamento? – perguntou curiosa

 

--Dezembro, mamys! – Latifah respondeu empolgada – Aí eu bem vou estar de férias e com todas as disciplinas da facul muito da dominadas!

 

--Eu que sugeri a data, Say! – Khadija comentou – Pra dar tempo dessa diva de olhos verdes arrepiar nos estudos e casar despreocupada! No stress! – gesticulou

 

“Latifah casando e escolhendo a data pra não atrapalhar o desempenho universitário?” – Sayruci pensou admirada – “Ai, Khadija, você veio do céu!” – sorriu satisfeita

 

***

 

Abigail e Patrícia caminhavam pelas ruas de mãos dadas.

 

--Achei tão lindo que você tenha comprado o lugar que um dia foi o Grande Cabaré de Praia do Meio e A Casa de Tonha e transformado o espaço num centro de apoio às meninas e mulheres prostituídas! – falava empolgada – Achei tão emocionante conhecer aquelas pessoas e ver que existe um jeito de empoderá-las, de fazê-las se sentindo valiosas, importantes! – gesticulou – Não sabe o quanto me fez bem! – sorriu

 

Sorria também. -- A Casa da Paz foi inaugurada em maio e nós tamo ainda muito no começo. Nesses dois meses conseguimo ajuntar os voluntário, abrigar quatro menina e cinco mulher e contratar aquelas três funcionária que você viu. – contava – Tem muita coisa pra fazer ainda, mas o importante é que eu não tô sonhando sozinha! – gesticulou – Say e Vera são minhas grandes parceira e tem também Rita, Jailson e Adriano que vêm dar uma mãozinha sempre que podem. – lembrou-se de um detalhe – Até o firuleiro do Duarte também disse que quer ajudar!

 

--De gerente à carregador de mala! – achou graça ao lembrar do homem – Nunca vi um mensageiro com tanto causo pra contar! – lembrava do que o ouviu dizendo

 

Ao chegarem diante da porta do cemitério, Abigail parou de andar e virou-se de frente para a amada. – Então... – não sabia por onde começar -- Você deve de tá achando estranho depois de tudo a gente tá agora aqui na porta do cemitério, mas... – estava nervosa – É que eu queria fazer uma coisa muito importante, não sabe? – pausou brevemente – Eu queria... eu queria te apresentar a mãínha! Te apresentar a minha família... – olhou para a amada – Não que eu ache que elas teje aqui, mas... – não conseguia se explicar

 

Entendeu o que a outra não conseguia verbalizar. -- Olha, eu não acho nada estranho, muito pelo contrário! – respondeu com brandura – Acho emocionante e me sinto honrada! – dizia a verdade – Eu quero conhecer sua mãínha e sua família como um todo! – afirmou resoluta

 

Ficou feliz com o que ouviu. – Então vamo! – segurou a mão da outra e entraram

 

***

 

--Mãínha, eu queria apresentar à senhora uma pessoa muito especial. – Abigail falava olhando para a sepultura – Ela é a mulher mais linda que conheci na vida e alguém que me tocou bem fundo no coração, apesar de todos os meus medos, preconceitos e outras bestagem. – sorriu -- Ela é a mulher com quem eu vou aprender no dia a dia o que é o amor! – falava com sinceridade

 

Patrícia ficou emocionada. – Dona Celinha, eu... – controlava-se para não chorar – Queria dizer que me sinto muito honrada em poder viver esse momento aqui e... – pigarreou – E queria lhe garantir que eu vou ser sempre muito honesta com a sua filha e – olhou para a amada – pretendo cuidar muito bem dela! – derramou uma lágrima – Abigail é alguém de quem se orgulhar!

 

--Aqui também foram enterradas minha voínha Francelina, que não cheguei a conhecer, e minha tia Quitéria, que mudou minha vida sob todos os aspectos. – Abigail explicava – Também te... apresento a elas e tenho certeza que adorariam te conhecer! -- sorriu

 

As duas mulheres deram-se as mãos e oraram com muita pureza.

 

--Só Deus sabe o quanto me orgulho de minha filha! – Celinha exclamou emocionada – Ela finalmente quebrou o ciclo de misérias de nossa família! -- olhou para as outras mulheres desencarnadas que a acompanhavam – E vai transformar muitas vidas! -- sorriu

 

--Bigail se transformou em tudo que eu senti que ela poderia ser! – Quitéria afirmou orgulhosa – E nós estaremos sempre orando pra que nunca mais se perca na vida!

 

--Ela não vai mais se perder, minha irmã! – Francelina respondeu convicta – Vai errar porque é humana, vai cair e se levantar, mas se perder... – balançou a cabeça negativamente – Isso não mais! – sorriu – Minha neta finalmente se encontrou e a moça que ela escolheu pra si tem ideais tão puros quanto os dela!

 

--Amor, eu queria te dizer uma coisa! – Patrícia secava os olhos com as mãos – Eu senti como se sua mãínha e as grandes mulheres da sua vida tivessem me aceitado!

 

--Eu também senti! – derramou uma lágrima -- Tem outra pessoa muito especial que foi enterrada aqui. – pensava em Moema – De onde ela estiver, também há de saber que nós tamo aqui em respeito... – derramou mais lágrimas

 

--Oxe, muiézinha, chore não... – Moema soprou um beijinho de luz – Seu destino é como seu coração: cheio de belezuras!

 

--Eu... eu... – Abigail não conseguia falar de tanta emoção – Me abraça? – pediu como criança

 

--Own, vem cá! -- as duas mulheres se abraçaram com força

 

Abigail chorou como não se lembrava de um dia ter feito. Sentia-se como alguém que acabara de vencer uma grande batalha, mas aquele tipo de luta que se trava dentro do peito, contra as próprias limitações. Sabia que ainda teria muitas lutas pela frente, mas também sabia que não estava só, fosse nesta Terra ou Além. Suas lágrimas, longe de expressar tristeza, traduziam a mais bela emoção que um dia sonhou sentir.

 

***

 

--Ai, gentem, tá sendo tudo tão lindo, tão emocionante, tão romântico, tão cênico! – Patrícia contemplava o horizonte – Tô morrendo de pena de voltar pro Rio! – confessou ao olhar para a potiguar – Fiquei pelo máximo de tempo que eu podia! – fez beicinho

 

--Vá mais volte! – Abigail pediu melosa -- Demore não? Senão eu vou morrer de saudade! – beijou o rosto dela

 

--Paty, por que você não se une a nós e vem morar aqui em Natal? – Sayruci deu a ideia – Você é uma influencer, trabalha com internet! Pode viver em qualquer lugar!

 

--Você não vai se arrepender! – Vera deu força – Natal é bom demais da conta, sô! – olhava para Paty – E voce vai poder morar bem melhor que no Rio! Sob todos os aspectos!

 

As quatro mulheres passeavam pelo litoral sul de Natal. Atravessam a lagoa das Guaraíras de balsa em sua cênica viagem de volta à capital.

 

--Gostasse de minha casa em Praia do Meio, não foi? – a potiguar sorriu – Ela é tão espaçosa... – fazia um charme -- E tão vazia sem alguém pra viver nela mais eu...

 

A carioca sentiu o coração acelerar. “Será que ela tá me convidando pra morar junto mesmo?” – pensou – Ai, eu adoraria mas... ainda tenho uns contratos a cumprir e eles me obrigam a ficar no Rio, de certa forma. – falou a verdade

 

--Entendo... – Abigail respondeu meio constrangida – “Calma, mulher, ela deve tá se sentindo sufocada, não sabe?” – pensou – “Muita coisa em pouco tempo...”

 

“Será que ela me levou a mal?” – Patrícia pensou preocupada – Mas... eles não duram pra sempre, né? – tentou consertar a situação

 

--Quando terminarem, por que não? – Sayruci continuou dando força – Tenho certeza de que Abigail e a cidade continuarão de braços abertos pra você. – olhou para a potiguar

 

--Ô, se vão! – garantiu empolgada – “Os braço, as pernas e otras cositas más!” – a potiguar pensou maliciosa

 

--Chegamos! – Vera observou que a balsa completou sua viagem – Simbora pro bugue, meninas! – bateu uma palma animadamente

 

As mulheres viajavam em um bugue que a caipira havia alugado. Ao ocuparem seus lugares no veículo, desembarcaram da balsa com Vera dirigindo. Ao percorrer cerca de cem metros, a caipira parou e desceu do bugue.

 

--Agora Sayzinha dirige enquanto eu vou filmar a gente com meu drone. – pegou a mochila onde guardava a aeronave – Vou fazer um vídeo massa de nós quatro pelo litoral sul! – começou a preparar o drone

 

--Eu dirigir, amor? – ficou tensa – Mas, eu não sou muito boa de direção, ainda mais considerando o caminho que a gente faz pra voltar pra cidade e... nem trouxe a carta...

 

--Sayzinha! – interrompeu-a com brandura – Você já superou um bocado de trem complicado nessa vida. – olhava nos olhos – Quero muito te ver dirigindo. – pediu com carinho – E sua carta eu trouxe sem você saber. Tá na minha carteira. – piscou para a amada

 

--Ai, eu também quero te ver no comando, Say! – Patrícia concordou – E se você não dirigir, Vera não vai poder fazer o vídeo. – argumentou – Já tô contando com ele postado no meu canal! – gesticulou – Não me ofereço pra dirigir porque nem conheço o caminho!

 

--E eu não posso dirigir porque prefiro ficar sentadinha aqui atrás com minha galega! – beijou a outra nos lábios

 

--Eu tô entendendo esse jogo de vocês! – Sayruci respondeu achando graça – Mas eu tenho medo...

 

--E o tempo dos medos acabou. – mexeu no rádio do bugue -- Agora só falta a trilha sonora. O CD tava em ponto de bala. – apertou o play – Vamos? – beijou-a nos lábios

 

--Simbora, mulher! – Abigail pediu

 

--Say, lembra do título do seu livro! – Patrícia deu força – Vamos? Voa!

 

Sayruci respirou fundo e passou para o banco do motorista. – E seja lá o que Deus quiser! – olhou para cima

 

A caipira sentou-se ao lado dela e colocou o drone para voar. – Manda ver, amor! – pediu

 

A morena ligou o bugue e partiu.

 

Quero ver o Sol nascer,

De novo aqui pra despertar,

Tudo aquilo que senti,

Guardei por nós nesse lugar...

 

Sayrici dirigia pelas dunas de Malembá. De repente parecia que a insegurança se despedia.

 

Você é um pedaço em mim,

Eu quero viver em teus braços pra sempre,

Pra sempre...

 

--Lembra aquele tempo, amor? – Vera começou a cantar para a amada -- Onde a gente se encontrou, foi ali que começou, minha felicidade... – soprou um beijinho

 

--Lembra aquele beijo, amor? Quando a gente se encontrou... – Patrícia cantava para sua namorada -- Foi assim que começou, minha felicidade...

 

Abigail suspirou. “E além de tudo canta bem!” – pensou embevecida

 

Quero ver o Sol nascer,

De novo aqui pra despertar,

Tudo aquilo que senti,

Guardei por nós nesse lugar...

 

A morena dirigia pela praia do Barreta e constatava com alegria que tinha condições de faze-lo.

 

Você é um pedaço em mim,

Eu quero viver em teus braços pra sempre,

Pra sempre...

 

Vera pilotava o drone que seguia o bugue filmando tudo.

 

--Lembra aquele tempo, amor? Onde a gente se encontrou, foi ali que começou, minha felicidade... – as quatro começaram a cantar juntas -- Lembra aquele beijo, amor? Quando a gente se encontrou, foi assim que começou, minha felicidade... – sentiam-se felizes

 

Eu, você, o Sol e o mar,

E mais de mil paisagens pra testemunhar,

Que eu seguiria muito bem a vida inteira,

Sem me preocupar com a felicidade...

 

As quatro compartilhavam um gostoso momento de felicidade simples. Sayruci ganhava o asfalto dirigindo com satisfação.

 

Toda paisagem fica cinza sem você,

Qualquer declaração de amor tão sem por quê,

Hoje é por isso que agradeço ao céu,

Estar com você, estar com você...

Roberta Campos – Minha Felicidade [2]

 

--Você pode fazer tudo que quiser, minha linda! – Vera afirmou gentilmente para a morena

 

Sayruci sorria feliz.

 

***

 

Samir e Zorayde conversavam no jardim da mansão dos Ajami Hafeez.

 

--Esse casamento será o evento do ano! – o homem exclamou empolgado – Terão muito que falar sobre ele por um bom tempo! – bebeu um gole de chá

 

--E o mais importante: Latifah e Khadija estão felizes! – a mulher comentou antes de beber um gole de chá – Não consigo mais imaginar uma sem a outra!

 

--É tudo tão curioso, não? – parou para pensar – Ihab nasceu homem e detestava Latifah, que também não o suportava. – lembrou do passado recente – Aí ele virou Khadija, tornou-se a melhor amiga de Latifah e as duas se apaixonaram! – balançou a cabeça pensativo – Difícil de entender! – olhou para a amada – Se tivesse acontecido algum tempo antes eu seria terminantemente contra! – terminou o chá e colocou xícara e pires sobre a mesa

 

--Eu também. – fez a mesma coisa após encerrar o chá  – Mas não precisamos entender coisa alguma! – fez um gesto despreocupado – Antes nós não estávamos preparados pra esse tipo de coisa mas agora que começamos a abrir a cabeça, tudo fica mais fácil! – sorriu – Se alguém lhe dissesse há uns anos atrás que terminaríamos juntos, você acreditaria?

 

--Não. – respondeu depois de pensar – Mas... confesso que há muitos anos eu desejava que Sazii fosse mais parecida com você.

 

--Assim como eu desejava que Amin se parecesse com você. – segurou uma das mãos dele – Até nossos erros, de uma forma ou de outra, foram parecidos.

 

--E os acertos também! – entrelaçaram-se os dedos – Sabe no que pensei um dia desses? – lembrou -- Quando Latifah e Khadija tiverem uma criança, o que vamos dizer? – sorriu – Que o avô materno é casado com a bisavó?

 

--Nós vamos dizer... – aproximou-se mais do homem – Que viver ultrapassa qualquer entendimento! O importante é amar!

 

--Fiquei até arrepiado! – beijou-a com paixão – “Essa mulher é tudo que eu queria!” -- pensou

 

 

 

Fim do capítulo