Abigail estava em casa orando ajoelhada em frente a uma imagem de Nossa Senhora que se encontrava em um pequeno oratório na sala. Havia conversado com Rita e Jailson por telefone e ficou penalizada em saber do destino do Morada e da difícil condição de seus amigos. Pediu orientação a Deus quanto ao que fazer. Também se preocupava com os outros ex colegas de trabalho.

 

Mais uma vez, lembrou-se das palavras de sua tia avó.

 

“--Você é filha de puta! É neta de puta! Sobrinha neta de puta! – afirmou enfática – Não esconda isso, por favor! – pediu – Porque tem uma monte de Abigail por aí, mas elas ainda não têm a sua força, nem a sua coragem! Elas precisam do seu exemplo! – continuava falando – Porque se tivesse uma Abigail quando eu era moça, tenho certeza que eu teria o que nunca tive: uma voz! – pausou brevemente – Você não é escritora? Então seja nossa voz! O Egito que você nem conhece, não precisa de você, mas as mulher daqui, sim! As puta, sim! – acreditava que era sua última chance de dizer aquelas palavras – Você vai poder fazer muita coisa daqui pra frente! – pensava na herança da sobrinha – Então faça, minha filha, mude vidas! E assim você vai sentir tudo que achou que aquela fantasia de Gail fosse lhe dar.”

 

Benzeu-se ao encerrar sua reza. – Eu lhe prometo agora o que não tive coragem de lhe prometer antes, tia Quitéria! – olhava para cima – Eu não vou ter mais vergonha de ser quem eu sou! – afirmou com firmeza -- E quero ser essa voz que a senhora me pediu pra ser! Quero sim! – levantou-se – Pode acreditar que vou trabalhar de diversas formas. Inclusive escrevendo! -- foi até o notebook – Vou escrever um conto e dessa vez não vai ter perfil de leitora fake, dedeiras e bixiga nenhuma que seje falsa! – puxou a cadeira e se sentou – Dessa vez é pra valer! – abriu uma página no Word e começou a escrever

 

Em outro bairro, Sayruci mirava a tela do seu notebook pensativamente.

 

--Que foi, amor? – Vera beijou a cabeça dela – Buscando inspiração prum conto novo? – ajoelhou-se ao lado da amada – Desde Sob o Pranto de Zayah você nunca mais escreveu. – olhava para a morena

 

--Eu vou começar um conto novo, querida. – sorriu para a caipira – E dessa vez não vai ter mais fake nem disfarces. – decidiu – Vou escrever sobre mim. – acariciou o rosto da outra – Sobre nós!

 

--Eita, que deu até um trem doido aqui no peito! – respondeu apaixonada

 

No Rio, Patrícia começava a escrever um artigo sobre LGBTfobia, intolerância e suas consequências na vida das pessoas. Seu objetivo era alertar quanto aos males que o recrudescimento do discurso de ódio na sociedade brasileira poderia trazer.

 

--Posso morrer tentando e conseguir nada, mas essa luta agora, mais que nunca, é meu objetivo de vida! – decidiu resoluta

 

***

 

Abigail acabava de chegar em uma festa organizada por uma das socialites de seu grupinho. Desta vez, porém, não havia ido no mesmo espírito que a embalou nas ocasiões anteriores. Aquele seria o último evento do tipo que pretendia atender. Vestia-se bem mas sem opulência ou extravagâncias.

 

--Boa noite, amiga, que bom que veio! – Quiqui a cumprimentou animada – Cheguei a pensar que novamente não apareceria. – reparava na outra – “Ela tá diferente! Nem parece mais a mesma...” – pensou desconfiada – “Deve tá na fossa ainda por causa daquela vadia loura!”

 

--Boa noite, tudo bem? – cumprimentou educada – Eu até não pensava em aparecer mas como tu insistisse muito... – sorriu para a outra – Aí acabei achando que seria uma oportunidade pra me despedir de vocês. – dizia a verdade – Tô com novos planos e vou deixar de viver nesse tanto de evento e de noitada, não sabe? Foi uma fase que já passou.

 

--Ai, não, por favor, que fase que nada! – tentava convencer a outra a mudar de ideia – Eu não sei ao certo o que aconteceu, você não quis dizer, mas... – aproximou-se e falou mais baixo -- Aquela vadia não está aqui! – referia-se a Moema – Pode confiar que em minha casa ela nunca mais pisa! -- garantiu

 

A potiguar sorriu sem nada responder.

 

–Mas, não posso deixar de salientar. – olhou discretamente para um grupo de jovens mulheres conversando perto do bar – Temos garotas maravilhosas que adorariam te conhecer. E os garçons estão preparando drinques deliciosos. – deu um sorriso cúmplice – Fique à vontade para se servir. – afirmou com duplo sentido -- Chega de pensar em coisas tristes! Você já sofreu o suficiente e é hora de recomeçar! – fez um gesto de cabeça e se afastou

 

Abigail serviu-se de um drinque pouco alcoólico e logo foi abordada por Mimi e Sissi, que a cumprimentaram sorridentemente.

 

Mimi segurava uma taça de espumante. – Soubemos por alto do que aconteceu e viemos te dizer pra não se deixar abater. – sorria – Eu mesma fui casada por cinco vezes e ainda assim não desisto de apostar nos homens! – riu brevemente – Especialmente nos jovens e atléticos!

 

--É isso mesmo, meu bem, não se deixe abater! – Sissi concordava com a outra – Aquela talzinha foi quem perdeu! – bebeu um gole de vinho – Minha filha me disse que seu erro foi ter dado valor àquela loura. Sabe como é, -- olhava para a potiguar – existem pessoas que são do tipo que só serve pra... – gesticulou brevemente – Você sabe! – riu

 

--Isso é passado, gente. – bebeu um gole do drinque – E eu nunca fui de viver rememorando, não sabe? – ajeitou os cabelos

 

--Tá certíssima! – Mimi concordou – E numa festa como essa, cheia de beldades, não há porque perder tempo encanada com ex! – reparava nos rapazes – Aliás, licencinha, queridas! – decidiu abordar um jovem que a interessou

 

--Bem, eu não vou ficar aqui pra te atrapalhar, já que tem tanta solteira disponível! – Sissi comentou maliciosa – Meu marido deve estar chegando e eu vou ligar pra ver onde ele está. – soprou um beijinho – Até loguinho! – acenou

 

--Até. – ergueu o copo brevemente -- “Vou ficar só mais uns 10 minutos, me despedir e ir mimbora.” – pensou ao finalizar seu drinque – “Não vejo mais sentido nessas festa!” – devolveu o copo ao garçom que passava e o agradeceu

 

--Já provou esse? – uma bela morena chegava com dois copos de bebida – Lagoa Azul é sem dúvida meu drinque preferido! – sorriu

 

“Ave Maria, que o Diacho sempre me manda uma tentação!” – pensou ao reparar na jovem – Ah, obrigada. – aceitou a bebida

 

--Qual o seu nome? – olhava nos olhos – O meu é Laura. – apresentou-se

 

--Abigail, prazer. – provou a bebida – Gostei! – sorriu

 

--De mim ou do drinque? – perguntou insinuante ao beber um gole

 

“Ô, meu Pai, olha como a bicha atiça!” – pensou excitada – Das duas. – desviou o olhar constrangida

 

--Eu não imaginava que você fosse do tipo tímida. – aproximou-se mais – Pode se soltar, -- segurou um cacho do cabelo da outra – eu nem mordo. – brincou – Só se você quiser, é claro. – bebeu mais um gole

 

--É, Laura, me diga. – afastou-se um pouco – O que você faz da vida, querida? – bebeu um gole

 

--No momento, tenho tentado avançar na carreira de modelo, manequim e atriz, mas é difícil. – dizia a verdade – Muita gente no páreo, sabe? – continuava jogando um charme

 

--E você é convidada de quem? É amiga da Quiqui? – queria saber

 

--Da Quiqui? Não... – fez um gesto despreocupado – Na verdade, a dona da agência onde eu trabalho é que trabalha com ela. – explicou – Cê sabe, né? A Quiqui é uma das donas da night nessa cidade. – sorriu – E ela tem muitos contatos e tals... – passou a mão nos cabelos – Pode abrir portas e abreviar o caminho. Sabe como é.

 

Abigail ficou pensando no que ouviu e lembrou-se de fatos recentes.

 

“--Bibi, tudo bem, linda? – Quiqui Mendonça cumprimentava afetada – Gostando da festa? – sorria

 

--Amando, mulher! – respondeu de pronto – E reparando aqui... gente bonita, né? – olhava ao redor

 

--Escolhidos a dedo, meu bem. – piscou para a outra”

 

--E... essas outra moça e rapaz que tão aqui são tudo dessa agência sua? – a potiguar continuava perguntando

 

Estranhou a pergunta. – Mas que diferença isso faz? – respondeu com jeito – O importante é que estamos aqui nessa festa e até agora você não me convidou nem pra ver as estrelas no terraço. – caprichava nos olhares – E eu tava contando que você quisesse me fazer ver estrelas! – bebeu mais um gole

 

De repente a potiguar se deu conta de que aquela festa, assim como várias outras que atendeu naquele mesmo endereço, não passava de um evento com os mesmos objetivos que as noites da Casa de Tonha, onde fora criada. A diferença era apenas o luxo do ambiente e a apresentação bem cuidada daqueles que se prostituíam de forma velada. Com essa constatação, sentiu muita vergonha do papel que havia feito até bem pouco tempo atrás.

 

“Meu Deus, como pude?” – pensou transtornada – “Logo eu que criticava tanto esse comportamento!”

 

--O que foi, querida? – Laura percebeu a mudança de expressão no rosto da potiguar – Foi alguma coisa que eu disse? – ficou preocupada

 

--Laura, ói. – segurou uma das mãos da jovem – Perdoa o que eu vou te dizer, mas é com todo respeito, visse? – olhava para a outra -- Você é uma moça linda e não deveria desperdiçar sua belezura e juventude com pessoas que vão te ver apenas como um corpo pra se deleitar. – falava com sinceridade – Ou com gente que vai querer acreditar que você não tá nessa pensando apenas em conseguir uma oportunidade. – a moça ficou sem graça – Você não precisa disso! – aconselhou – Que só passe pela tua vida quem te diga algo ao coração ou que te atraia de verdade, mas não por causa de dinheiro, de benefício ou qualquer coisa assim! – aconselhou – Não vale a pena!

 

--Você tá querendo insinuar o que? -- soltou a mão da potiguar – Não quer ficar comigo, não fica, mas não vem com essa merd* pra cima de mim! -- respondeu de cara feia

 

--Oxe, mulher, calma! – pediu em tom brando – Nós duas sabemo que você não perderia um segundo comigo se não soubesse que tenho situação. – falou a verdade – E você não precisa se aproximar de alguém só por isso. É muito pouco!

 

--Desse jeito você tá me ofendendo! – continuava revoltada

 

“O que é que tá acontecendo ali?” – Quiqui pensou intrigada

 

--Não tô te ofendendo. – Abigail respondeu simplesmente – Mas enfim, a vida é sua. – bebeu um gole do drinque

 

--Com licença, senhora! – Laura olhou para a outra de cima a baixo com desdém – Vou procurar alguém que valha mais a pena! -- afastou-se

 

--Algum problema? – Quiqui perguntou desconfiada ao se aproximar – Essa moça por acaso falou ou fez alguma coisa que não deveria? – olhava para a potiguar

 

--Pelo contrário, mulher, ela me abriu os olhos. – respondeu de imediato – Nasci e fui criada dentro de um puteiro e jurei pra mim mesma que nunca iria me vender e que também nunca teria uma atitude como a daqueles homi que ia lá. – olhava nos olhos  – Só que demorei a me atinar que esse teu puteiro de luxo me fez pagar com a língua!

 

--O que?? – ofendeu-se -- Mas como ousa? – perguntou revoltada

 

--Espero que um dia você tome vergonha na cara e deixe de ser essa cafetina pilantra que deixa as pessoa acreditando que vão ter oportunidades que não terão! – respondeu com firmeza – Não sei quanto que essas moça e rapaz te paga depois de uma noite com alguém de situação, não sei quanto lucrasse com Moema às minhas custa, mas saiba que esse dinheiro é maldito e a vida vai te cobrar por ele! – olhava nos olhos -- Passar bem, Quiqui. -- entregou o copo do drinque na mão dela e foi embora

 

--Mas é uma, uma... – a socialite espumava de ódio

 

“Isso acabou na minha vida!” – Abigail entrava no elevador e se preparava para partir – “Nunca mais!” – prometia para si mesma

 

***

 

Patrícia trabalhava em seu computador quando Joelma entra no escritório cuspindo marimbondo.

 

--DONA PATRÍCIA! – berrou – EM MINHA SALA EM 3 MINUTOS! – abriu a porta da sala com raiva e entrou

 

“Ai, meus sais!” – pensou nervosa – “Calma, Paty!” – aconselhava-se – “Respira, fica segura e se empodera! Isso acaba hoje!” – decidiu

 

--DONA PATRÍCIA!! – berrou mais uma vez – TEM QUE CHAMAR EM BRAILE, É?

 

Levantou-se da cadeira, respirou fundo e foi. Ao entrar na sala da chefia, puxou uma cadeira e se sentou.

 

--MAS O QUE? – a outra mulher se revoltou – E EU POR ACASO TE MANDEI SE SENTAR? – cruzou os braços

 

--Não mandou, mas hoje a gente vai ter uma conversa definitiva! – respondeu com firmeza – E pra começar, fala baixo que eu tô aqui e não sou surda! – pediu energicamente

 

Joelma se surpreendeu e ficou sem fala.

 

--Olha só, eu vou ser bem sincera e te falar o que acontece aqui nessa firma! – olhava para a patroa – A senhora paga mal, atrasa o pagamento muitas vezes, sobrecarrega todo mundo, especialmente a mim, e nos trata pior que cachorro! Todo dia tem assédio moral nessa merd*, com seus gritos constantes como se vivesse com ódio. – desabafava – Eu não sei o que acontece na tua vida, mas a gente não tem culpa! E ser educada com os funcionários era o mínimo que a senhora deveria fazer!

 

--Ah... – abriu a boca e não conseguiu ter o que responder

 

--Eu fico puta, fico nervosa, fico desestimulada, aí confesso que muitas vezes corro pro mundo virtual, pra minha vida de Paty Golezzo, contos lésbicos e tals e perco a noção das coisas, do tipo: um telefonema que não atendo, um e-mail que esqueço de enviar... – gesticulava – Mas nunca deixo de fazer o que tenho que fazer, só que não interessa, porque nunca tem um reconhecimento, um elogio e nem nada de bom! – balançou a cabeça contrariada – Trabalhar assim é foda, cara! Eu não tenho o menor tesão nisso aqui e sou doida pra pular fora! – confessou – Se quiser me demitir depois disso, fique à vontade, mas eu não aguentava mais e falei mesmo!

 

Joelma respirou fundo e gastou uns segundos calada antes de responder. – Ok, dona Patrícia. – olhava para a outra – Me desculpe. – debruçou-se sobre a mesa – O que eu queria saber era se a remessa da FATI foi enviada ontem, como pedi.

 

Patrícia surpreendeu-se com a reação. “Gentem, ela não vai gritar, xingar, nem nada?” – pensou boquiaberta – Foi sim. Precisamente às 16h35. – respondeu desconfiada

 

--Era isso. – Joelma deu o assunto por encerrado – Pode ir, por gentileza.

 

“Por gentileza??” – chocou ao ouvir – Então tá. – levantou-se e se preparou para sair

 

--Dona Patrícia? – chamou

 

--Pois não? – virou-se para a outra desconfiada – “É agora. Vai me demitir!” – esperava pelo pior

 

--Nunca ninguém teve... – pensava em como dizer – Coragem pra falar assim comigo aqui dentro. – olhava para a outra – Gosto de pessoas corajosas.

 

--Ah, tá. – não sabia o que responder

 

--Agora pode ir. – voltou sua atenção para o notebook

 

Voltou para sua mesa sentindo-se vitoriosa. “Não acredito que enquadrei a Joelma e ela ficou mansinha!” – pensou excitada – “Gentem, que máximo!” – sentia vontade de gritar

 

--Paty? – um colega chamou e ela olhou -- Mandou bem! – falou em voz mais baixa e bateu palmas silenciosas

 

Patrícia sorriu e se sentiu orgulhosa de si mesma. “De hoje em diante, nunca mais ninguém vai me tratar como capacho!” -- decidiu

 

***

 

Abigail havia lido o texto de Patrícia sobre LGBTfobia e sentiu-se extremamente tocada por ele. Decidiu pesquisar as publicações no canal da influencer e se impressionou com o que viu.

 

--E não é que a bicha faz uns trabalho bem massa? – considerou enquanto navegava na internet – À despeito de tudo que escreveu a meu respeito, ela parece boa pessoa, não sabe? Pensa nos outro, é militante... – refletiu um pouco – Se bem que ela não tava de todo errada no que escreveu sobre meus conto... – viu uma foto da mulher em um protesto de rua – Eu nunca tinha reparado na pessoa da Patrícia além de Paty Golezzo. – reconheceu

 

Em outra cidade, Patrícia acabava de ler o último capítulo do novo conto de Gail Nasser, decidindo ligar para Diana logo em sequência.

 

--Oi, Paty, tudo bem? – saudou animada – O que manda? Curtindo esse resto de domingo fazendo o que?

 

--Ai, amiga, te liguei porque eu precisava extravasar com alguém! – foi logo dizendo

 

--Nossa, e o que é que foi dessa vez? – perguntou curiosa

 

--Você deve saber que Khaalii e Gail postaram cada uma, um conto inteiro de uma vez só na semana passada. – explicava-se – Claro que comecei pelo da Khaalii e fiquei louca! Ela se mostrou toda ali, se revelou, eu me encantei, me emocionei, chorei, achei tudo maravilhoso! – gesticulava – Devorei a história, sabe? E lá pelas tantas, ela cita Gail no conto. Achei estranho, relutei, mas no final me interessei de ler o que a maluca escreveu e terminei agora!

 

--E aí? – estava curiosa

 

--E aí que eu fui arrebatada, amiga! – respondeu de pronto – Li o conto dela e dessa vez não tinha kaô, mentira, coisa sem noção, nada disso! Parecia outra pessoa escrevendo! – levantou-se da mesa – Eu me envolvi, ri, chorei, me danei, me identifiquei, gritei, aplaudi... E tô completamente apaixonada! – confessou

 

--Oi?? – ficou pasma

 

--O que ela escreveu me tocou profundamente! – andava de um lado a outro – Eu não sei te explicar, mas a pessoa que eu vi ali... – suspirou – Apaixonei!

 

--Você tá apaixonada pela Gail?? – não acreditava

 

--Pela Gail não, porque aquilo ali é um fake, mas pela Abigail que se mostrou toda nesse conto e eu achei uma pessoa incrível!

 

--Ah... – não sabia o que dizer – E... Será que ela vai no Congresso?

 

--É aí que você entra! – passou a mão nos cabelos – Eu quero propor uma mudança na programação do terceiro dia de evento e isso passa por envolver Khaalii e Gail mais intensamente no que será apresentado.

 

--Paty, cê tá louca? Novembro já tá aí, filha! Daqui a pouco o evento vai acontecer! – protestou

 

--Por favor, me ouve primeiro e confia em mim! – pediu – Daqui a pouco vou escrever uma coluna sobre as duas, mas isso é só o princípio de tudo!

 

***

 

Sayruci e Abigail conversavam no Ibirapuera enquanto caminhavam devagar.

 

--Eu já falei com Vera, aproveitando que ela me fez um favor de consertar as instalação elétrica do imóvel da Sé, e agora queria prosear contigo, não sabe? – falava com certo constrangimento – Devo desculpas às duas porque fui uma besta quando não quis ouvir sobre Moema e nem os alerta sobre o que eu vinha fazendo de minha vida e da herança... – não encarava a amiga – E tu ainda me salvasse do pior...

 

--Ei, tá tudo bem! – abraçou-a brevemente – O importante é recomeçar e tocar a vida pra frente! – sorriu – Vera e eu estamos muito felizes que você abriu os olhos. No mais, não nos deve coisa alguma.

 

Sorriu também. – Eu agradeço muito que aceitasse essa prosa comigo no teu único dia de folga na semana, mas eu precisava desabafar... – pausou brevemente – Gosto muito de Vera, mas me identifico mais contigo, visse? – comentou envergonhada

 

--Talvez porque dividimos o mesmo métier de autora. – brincou – Aliás, li seu conto inteiro e comentei ontem. Adorei, me emocionou, me fez rir... – dizia a verdade – Até recomendei pra minha filha e tenho certeza que ela vai mandar os followers correrem pra ler. – achou graça

 

Achou graça também. - Você sempre me dando força... – reconheceu – E pensar que por tanto tempo tive inveja de seu sucesso. – admitiu envergonhada – Também li teu conto, adorei por demais e deixei o comentário pronto pra postar. Faço isso hoje.

 

--Mas enfim, você quer desabafar. Vamos sentar ali na Padaria Artesanal e conversar? – propôs -- Quero te ouvir.

 

Após se acomodarem e serem servidas as duas continuaram sua conversa.

 

--E foi ali que eu percebi o papel ridículo que vinha fazendo, não sabe? – Abigail admitia – Eu praticamente comprava mulheres que se trocavam por dinheiro. – gesticulou -- Escolhia as mais bonita, as mais gostosa, esbanjava dinheiro, muitos agrados e queria acreditar que elas vinha pra mim porque conquistei! – riu de si mesma – Que abestada! – bebeu um gole de café

 

--E como você se sentia depois? – Sayruci perguntou sem julgar

 

--Uma parte de mim se sentia bem, porque eu podia jogar na cama o tipo de mulher que sempre me interessou: bonitas, altas, gostosas... Outra parte sentia um vazio muito grande porque era só isso. Um grande negócio; embora eu não quisesse admitir. – desabafava – A verdade é que... no fundo eu procurava um amor, não sabe? E quando pensei ter encontrado, me estrepei de verde e amarelo! – bebeu mais um gole de café

 

--A pobreza traz duras provas, mas a riqueza também tem suas artimanhas. – Sayruci dizia calmamente – Você tende a se sentir superior, a acreditar que suas vontades nunca podem ser contrariadas e a pensar que tudo tem um preço. – cruzou as pernas – Mas não é assim que a vida funciona. – bebeu um gole de café – Só que não há porque ficar se lamentando pelos erros do passado. Você tem muito valor, Abigail, e pode fazer muitas coisas boas! Coisas que sei que sempre sonhou em fazer! – aconselhou -- E já tá mais que na hora de deixar de se impressionar somente pelo que seus olhos veem, porque não é assim que vai encontrar um amor. Amor é algo que se constrói com pureza e coração aberto. – segurou as duas mãos da outra – Você caiu, se levantou e agora precisa fazer como eu: sair da gaiola e voar!

 

--O que você quer dizer com isso? – queria entender – Qual é a minha gaiola?

 

--A gaiola da auto rejeição! – respondeu com carinho – Você é grande, mulher! Veja isso sem arrogância, sem orgulho exagerado e vai ver que é capaz de muita coisa! Você pode ir muito longe!

 

Ficou feliz com o que ouviu. – Eu sempre sonhei em fazer certas coisa, sim. Eu queria tanto... – não completou a frase -- Mas... será que tenho força? Será que tenho como? – questionava-se – Meti os pé pelas mão, decepcionei as pessoa mais importante de minha vida e em um ano torrei dinheiro a ponto de inspirar cuidado, não sabe? – confessou – Como alguém assim pode fazer algo de realmente bom?

 

Sayruci sorriu antes de responder. – Talvez você não saiba, mas seu nome é bíblico e tem origem hebraica. – explicava – Abigail quer dizer orgulho do Pai. – olhava nos olhos – Não foi à toa que sua mãe escolheu esse nome, mesmo sem provavelmente saber de suas raízes. – tinha muita confiança na outra – Você foi forjada pelas dores da pobreza, teve uma tia sábia que lhe deu conselhos valiosos e recebeu uma riqueza que pode se multiplicar se você se concentrar em fazer tudo que sempre sonhou! – pausou brevemente – E quando eu digo multiplicar, quero dizer, riqueza material servindo de instrumento pra mudar vidas e, portanto, proporcionar toda uma riqueza espiritual! – segurou o rosto da amiga – Não conheço ninguém melhor pra fazer isso do que você, Abigail Trindade!

 

Ouvindo aquelas palavras, de repente Abigail sentiu que poderia concretizar tudo que sempre sonhou e se encheu de vontade para recomeçar sob todos os aspectos.

 

--Sim, minha filha, você pode! – Quitéria inspirava-lhe no Plano Astral – Não chegasse aonde chegasse à toa! Teu destino é brilhante e nós tamos aqui pra lhe amparar em tudo que precisar! – despejou bênçãos de Luz sobre as duas mulheres

 

***

 

--Ai, habibem, eu terminei de ler a história daquela amiga da tua mamys e fiquei assim, como dizer? – Khadija gesticulava – Arrebatada?

 

--Eu também achei muito foda! – concordava com a amiga – E mais uma vez caiu a ficha de como parecia que eu tava na vida à passeio! – admitiu – Quanta pobreza tem nesse país! Quanta miséria, gentem! – reconheceu – Hoje entendo porque mamys sempre foi tão trabalhada na vibe da caridade. Quando a gente pára pra pensar, dá até uma certa culpa! – pausou brevemente – Imagina isso, esse lance de ter que se prostituir pra não morrer de fome? Muito punk!

 

As duas amigas estavam deitadas de barriga para cima na cama de Latifah, na casa da jovem.

 

--Então foi por isso que a senhora vendeu uma joia recentemente? – olhou para a outra – Pra tentar evitar que mulheres ou crianças caiam nesse destino ingrato?

 

Surpreendeu-se com o que ouviu. – E quem te disse isso? – sentou-se rapidamente

 

--Não é só você a bem informada aqui, amore! – sentou-se também – Você vendeu pro Abdoul e eu conheço aquele bofe desde gurizinho.

 

--Humpf! – fez um bico e se levantou da cama – Ah, eu... – passou a mão nos cabelos – Fiquei sabendo aí de um lance com umas crianças paraguaias e tals... Então vendi um colar e tô vendo como usar o dinheiro pra dar um help. – confessou

 

--E você tem vergonha disso, habibem? – levantou-se da cama e se aproximou da amiga – Eu achei lindo e fiquei super orgulhosa de você! – sorriu

 

Fez um gesto despreocupado. – Sem isso, honey! Ainda nem decidi como vou fazer a coisa e de repente eu cismo e torro essa grana com homens e festas. – afirmou divertida

 

--Hum, duvido! – abraçou-a pela cintura – Você se faz de durona mas tem um coração maravilhoso! – afirmou apaixonada

 

Latifah sentiu-se desconfortável com aquela proximidade. – Agora vamos mudar de assunto? – desvencilhou-se com jeito – E aí? Até agora cê não me respondeu se encara aquela sessão de fotos comigo! – gesticulou afetada – Vai ou racha?

 

--Vou, claro! – respondeu meio constrangida – “Ai, Khadija, disfarça!” – pensou – “Latifah não está a fim de você, pára com isso!”

 

***

 

Sayruci e Vera haviam chegado no Rio de Janeiro às 10h e aguardavam o início do evento no apartamento que haviam reservado para se hospedar no período. A morena estava deitada na cama enquanto Vera permanecia sentada massageando seus pés.

 

--Eu adoro esse seu toque firme, vigoroso e ao mesmo tempo delicado... – a autora comentou com os olhos fechados – Me excita quando você quer me excitar e me relaxa quando você quer me relaxar... – sorriu

 

Gostou do que ouviu. – Tratamento de rainha pra uma diva! – beijou um dos pés da outra

 

--Você e Latifah com essa história de diva... – achava engraçado – E Khadija, claro!

 

--Falando nelas, as duas vão aparecer no Congresso? – continuava massageando

 

--Você conhece minha filha. – abriu os olhos – Só no encerramento e pra abrilhantar! – achou graça novamente – Aliás, fico impressionada como Latifah vem amadurecendo ao longo do tempo. Sem perder aquele jeitinho dela, progrediu a olhos vistos! – exclamou orgulhosa – Fiquei super feliz que ela tivesse nos dado a chance de vir nesse Congresso como um presente! Achei muito fofo da parte dela! Nem precisamos da ajuda da Paty.

 

--Foi sim! – concordava – E até que ela tá perdendo a birra comigo, né? – comentou satisfeita – Já não me olha de banda!

 

--Ela já perdeu a birra faz tempo, amor. Apenas se faz de durona pra você não abusar! – olhou para a amada e sorriu

 

--Mas eu não abuso, não, uai! – continuava massageando – Você acha que abuso, Sayzinha? – perguntou preocupada

 

--Hum... deixa eu pensar... – respondeu brincalhona – Acho que... você usa e abusa desse meu corpinho! – deslizava um pé no braço da outra – É uma caipira bem safadinha! – olhava para ela

 

--Mas aí pode, não pode? – beijou-lhe o pé novamente – Ou você quer que a caipira pare com esses abuso? – brincou também

 

--Nem pensar! – respondeu enfática ao se sentar – Nem pensar! – segurou a outra pela camisa e envolveu-lhe a cintura com as pernas – Esses abusos eu não quero que parem! – beijou-a – Nunca! – beijou-a novamente

 

Abraçou-a pela cintura com força. – Você manda... minha... musa... – respondeu entre beijos

 

--Ainda bem que esse apartamento fica em frente ao Centro de Convenções! – exclamou sorridente – Nem precisamos ter pressa pra chegar na abertura do evento! – beijou-a

 

--Sabe que eu tô ansiosa que chega dói pra ver esse trem começar? – acariciava as costas da parceira – A mulherada vai ficar feito doida quando te ver! – sorriu – Imagina quando elas derem de cara com esses olhos verdes... – parou para pensar – Eita! – franziu o cenho – Vai ter um tanto delas só morcegando pra te pegar! Ah, mas se alguma vier de graça, eu... – foi interrompida por um beijo

 

--Se alguma vier de graça... – mordeu-lhe o lábio inferior – Eu vou deixar saber que... – beijou-a – Tenho dona! – beijou-a

 

--Então tá então! – sorriu satisfeita – Mas eu também tenho dona, uai! – respondeu convicta

 

--E... – olhou enciumada para a mulher – Aquela tal de Carol com quem você esteve no primeiro Congresso... -- pensava em Frog – Ela vai participar do evento de novo... – mexia no cordão da caipira

 

--E eu não dou nem tchum! – beijou-a com carinho – A caipira tá amarrada direitinho! – beijou-a novamente

 

--Hum... – beijou-a – Tá, é? – sorriu e envolveu o pescoço da namorada com os braços

 

--Totalmente! Tanto que chega dói! – acariciava as costas da morena – Nenhuma mulher me interessa um tantinho que seja! – falava a verdade

 

Ficou feliz ao ouvir. – Também não há outra que me interesse além de você. – beijou-a lenta e sensualmente

 

Recuperou o fôlego quando o beijo terminou. – Eu vou longe e volto nesses beijos com você... – recebia um carinho gostoso na cabeça – Bom demais da conta... – fechou os olhos e sorriu

 

Contemplava o rosto da amante com carinho. – A gente deu tão certo, daí. – comentou satisfeita – Confesso que cheguei a morrer de medo, mas... – sorriu – Deu tudo muito certo, mesmo com todas as dificuldades iniciais... Inclusive as financeiras!

 

--Você agoniada com a bagunça da caipira, com a minha rotina de trabalho, com as taxa de prima Socorro, com o pessoal do prédio me chamando toda hora... – sorria

 

--Você preocupada com a minha mania de limpeza... – Sayruci lembrou – Com o fato de que fui rica e tava acostumada com luxo, preocupada com a cisma da Latifah pra cima de você...

 

--E deu certo! – exclamou satisfeita – Igual pequi com galinhada!

 

--Não diz isso que eu sou vegana! – mordeu o lábio da outra e riram

 

--Tofu com goiabada, pronto! – brincou e riram novamente

 

--Falando nisso, nesses amores que nascem no mundo virtual... – deslizava um dedo pelo rosto da amada – Reparou na empolgação da Abigail com a Paty? – comentou – Veio a viagem inteira falando nela, no trabalho dela, no canal dela, nas colunas que escreve... – lembrava

 

--Abigail muda de opinião muito rápido. – respondeu – Quando eu a conheci, ela era fã da Paty, depois pegou nojo e agora, quando é fé, tornou a se empolgar! Deve ser por causa dessa última coluna que falou bem de vocês!– concluiu achando graça -- É uma bicha doida mesmo!

 

--Não é isso, amor. É que no primeiro momento, ela tietava a outra pensando nos benefícios que teria se caísse nas graças da Paty, depois se magoou com o que ela andou escrevendo sobre Gail e agora, finalmente, ela consegue ver a mulher além da influencer e acabou, talvez, se apaixonando. – dava sua interpretação – Mas claro que essa última coluna da Paty colocou Abigail nas nuvens! – achou graça também

 

--E será que as duas vão se acertar? – perguntou curiosa -- Sabe que eu acho que elas até combinam? Duas bicha doida!

 

--E nós, somos duas bichas o que? – Sayruci perguntou bem humorada

 

Inverteu as posições rapidamente e se deitou sobre a outra. – Duas bicha que pega fogo! – beijou-a com paixão

 

--Ai... – gem*u – “Essa caipira me pira...” – segurou-a pelos cabelos enquanto se beijavam

 

Enquanto isso, no quarto ao lado...

 

--O bom de minha fase perua foi que agora tenho cada roupa chique, visse? – reparava no que trouxe na mala – Qual dessas que posso vestir modos de impressionar aquela Paty Golezzo? – pensava em voz alta – Devia de ter chamado Sayruci aqui pra me ajudar logo que nós chegamos, porque agora a bicha deve tá acasalando e não convém interromper! – andava de um lado a outro no quarto – E eu que acasalei tanto pra que? Pra encher o rabo das mulher de dinheiro e terminar largada e com prejuízo! – reclamou consigo mesma – Bom, pelo menos aumentei minhas hora de cama! Dá experiência nas sedução, não sabe? – parou para refletir – Mas e agora que eu não sei seduzir mulher que não seje interesseira? Oxe, que bixiga isso! – olhou para as roupas – Ô, mulher, hoje é o dia do coquetel, tem que escolher o que vestir logo! – mexia nas roupas – Já sei, vou investir nos estampado! – decidiu – E os sapato vai ser aquele de salto bem alto!

 

E em outro bairro...

 

--Ai, Paty, pensa, qual roupitha cê vai escolher, hein? – mexia no guarda roupa – Tem que escolher uma que chame a atenção dela! – falava sozinha – Um terninho? – pensou – Não, muito formal! – desistiu – Macaquinho? – analisava a roupa – Não, básico demais! – continuava examinando – Hum, vestido tubinho! – segurou a roupa – Não, fica um tipo muito atirada! – estava na dúvida – Gentem, que dificuldade pra encontrar um modelito! – reclamou – Roupa de couro! – pensou – Não, nesse calor, não rola... – suspirou – Se eu não encontrar uma roupa em cinco minutos vou fechar os olhos e o que a mão pegar, vai ser! – decidiu

 

***

 

--Gente, olha só que olhos maravilhosos que ela tem!! – uma leitora exclamou empolgada

 

--São de verdade? – uma jovem perguntou – Né fake não, né?

 

--São de verdade. – Sayruci respondeu achando graça

 

--E que cabelo lindo! – uma mulher segurou uma mecha – Nossa, você é toda linda, viu? – reparou de cima a baixo – Autora boa! – afirmou com duplo sentido

 

--Olha, eu sou comprometida! – a morena afastou-se um pouco da outra

 

--Cadê a caipira? Ela é quem? – outra leitora queria saber

 

--É verdade que você era rica e na sua casa tinha até heliponto? – uma idosa perguntou

 

--E seu ex marido? Foi preso? – uma outra mulher queria saber – Por que não pagou pra darem uma surra nele?

 

--Sua mãe ficou maneira depois que quase foi pra vala? – uma jovem fofocou

 

--E sua filha é linda também! – uma mulher trans exclamou – Sou fã dela, acompanho tudo que ela publica! – gesticulou – E afinal, cadê ela? Vai chegar quando?

 

--Eu achei o must aquela história das joias! Você teve coragem, hein? – uma mulher gesticulou – Vendeu tudo?

 

--Você saiu de casa daquele jeito mesmo? – uma jovem dava pulinhos – Eu gritei quando li! AMEI!

 

--Calma, gente, uma de cada vez senão eu não consigo responder... – Sayruci pediu envergonhada – “Nossa, nunca pensei que ia ser assim!” – pensou surpreendida – “E não é que elas se envolveram com o conto e ainda me acharam bonita?”

 

--Eu sabia que isso ia acontecer! – Vera observava de braços cruzados – Olha só a mulherada só morcegando minha Sayzinha! – fazia cara feia – Tem uma até futicando os cabelos dela! -- reparou

 

--Oxe, mulher, deixe de ser frouxa! – Abigail exclamou revoltada – Vá lá e mostre que Sayruci tem dona! – olhava para a caipira – Vai ficar esperando as outra pular em cima dela, é? – colocou as mãos na cintura – Duvido que eu visse uma bixiga dessa e não fosse fazer nada no caso de ser minha mulher! – gesticulou

 

--Hum! – ajeitou-se toda – Eu vou! – decidiu -- Mostrar pra essas mulher que minha Sayzinha não tá disponível! – seguiu em direção a amada

 

--Vá la, bicha, se avie! – aconselhou gesticulando – O tempo passa e não deixa de ser pomba lesa, Ave Maria! – reparava na outra

 

--Quem é a pomba lesa? – uma mulher perguntou timidamente ao se aproximar

 

--É a... – virou-se na direção da voz – Vera. – engoliu em seco – “Eita, que é Paty Golezzo!” – reparou na outra – “Ave Maria, tá linda!” – pensou encantada

 

Patrícia usava uma blusa preta de alcinhas, justa no corpo, combinando com uma saia estampada de comprimento até a altura dos joelhos. Seus sapatos de salto médio deixavam-na ainda mais elegante.

 

--Pomba lesa por que? – sorriu timidamente – Porque as mulheres caíram de amores pela Khaalii e Vera não tinha ido lá marcar presença? – reparava na potiguar – “Nossa, ela tá tão chique!” – pensou admirada

 

Abigail trajava um vestido estampado, com um belo decote no busto. Sapatos de salto vermelhos e altíssimos completavam o visual.

 

--Aqueles olhos têm poder, não sabe? – sorriu titubeante – Se Khaalii fosse minha mulher, eu tava ali junto e de olho desde que a mulherada se ajuntou! – explicava-se – Não ia assistir esse assédio todo de braço cruzado!

 

--É, eu acho que também não... – não sabia o que fazer com as mãos – Se bem que você também tava rodeada por várias até alguns minutos atrás. – comentou brincalhona

 

--Olha quem fala! – respondeu sorridente – Sempre que te vejo é só arrodeada! – comentou – Nem sei como tá só comigo aqui agora. – olhava para a jovem – “Essa aí sempre teve poder, não sabe? Deve ter namorada que nem banana: em dúzia numa penca!” -- pensou

 

--Que é isso? – fez um gesto – Não tô com essa bola toda! – passou a mão nos cabelos – Aliás, não fomos devidamente apresentadas. – estendeu a mão – Paty Golezzo ou Patrícia Gomide, como preferir! – sorria

 

--É um prazer! – segurou a mão da outra – Gail Nasser ou Abigail Trindade, conforme for de seu gosto! – piscou

 

Soltaram-se as mãos relutantemente.

 

--E... – pensava em como perguntar – Você veio pra cá sozinha?

 

--Vim com as duas! – apontou para Sayruci e Vera

 

“Hum, será que ela tá sozinha?” – pensou curiosa – “Acostumada com uma beldade por semana, essa aí deve ser cheia de mulher!” – deduziu -- E a namorada? – desviou o olhar rapidamente – Não veio por que?

 

“Eita, que essa é minha deixa pra investir numa sedução!” – pensou -- Ah, mas eu tô solteira, não sabe? – jogou os cabelinhos – Sozinha e largada no vento nesse mundo de meu Deus! – fez um tipo

 

--É mesmo? – perguntou tentando disfarçar a empolgação – Difícil acreditar!

 

--Pois bote fé que é verdade! – espremeu os olhinhos – E você? Cadê tua cabrocha? – perguntou interessada – “Tem que curiar, não sabe?” – pensou

 

--Cabrocha? – achou graça – Quisera! – revirou os olhos – Ando tão sozinha, tão solitária nesse mundo de meu Deus... – passou a mão nos cabelos

 

--Você?? – perguntou incrédula – Com mais de um milhão de seguidores? – balançou a cabeça – Olhe, me desculpe, mas ou você é muito exigente ou as mulher que lhe arrodeia são um bocado de pomba sem fé, não sabe?

 

--Pomba sem fé? – achou graça novamente – Eu não sei... – fez um charme – Vai ver é isso mesmo e eu esteja esperando por alguém mais... – caprichou nos olhares – Arretada!

 

“Ave Maria, será que ela tá me querendo?” – pensou desconfiada – “Se bem que antes eu achava que as mulher me queria e a coisa era bem outra! Tem que analisar com cuidado!” – considerou – Pois olhe, -- fazia caras e bocas – se é uma coisa que eu sou é arretada, visse? – afirmou com fé

 

“Gentem, será que ela me deseja?” – pensou empolgada – “Não, deve estar simplesmente sendo gentil...” – considerou – Disso não duvido! Especialmente depois de ler seu conto! – gesticulou – E que conto maravilhoso!

 

--Gostasse mesmo? – sorriu empolgada – Pois foi escrito com muita verdade, muita intensidade e uma paixão que abunda, visse?

 

--Ai, mas eu senti essa coisa toda abundando! – afirmou de pronto – E me apaixonei! – confessou

 

--Pelo conto? – concluiu – Confesso que andei te curiando na internet e também me apaixonei! – declarou

 

--Pelo meu trabalho? – deduziu – Creia que também são coisas que faço com muito peito!

 

“Vamos, mulher, se prepare pra dar um bote certeiro!” – Abigail pensou – Eu tive pensando... – olhava nos olhos – Que você e eu somos uma dupla arretada!

 

--Você acha? – perguntou sedutoramente – “Vai Paty, tasca-lhe um beijo no susto!” – pensou

 

--Acho! – aproximou-se – Será que...? – pensava em como dizer

 

--Será o que? – espremeu os olhinhos

 

--Eu queria te dizer que... – não conseguia completar a frase

 

--Que...? – aproximou-se também – “Ai, Paty, o que será que ela quer falar?” – pensava – “E eu que pareço que me entalei com as palavras!”

 

--Paty!!! – Bruna chamou de repente – Vem aqui ver um negócio, por favor?

 

Abigail e Patrícia afastaram-se uma da outra meio desnorteadas.

 

--Ah, eu... – não sabia o que fazer – “Eu não acredito! Vou matar Bruna!” – pensou revoltada

 

“Será que essa empata é peguete dela?” – Abigail pensou desconfiada

 

--Paty!!! – Bruna insistiu acenando

 

--Eu tenho que ir. – deu um tchauzinho – A gente se vê! – seguiu na direção da amiga

 

--É... – Abigail suspirou – Será que ela combinou com a outra que se alguma baranga arrodeasse por muito tempo, a empata tinha que inventar alguma coisa modos de livrar ela? – imaginou – Uma mulher dessa não me quer não... – concluiu por fim

 

Minutos depois Patrícia reparava em Abigail animadamente conversando com algumas leitoras. “Não, uma mulher dessas não me quer...” – concluiu – “Deve ter dado graças a Deus que Bruna me chamou...”

 

***

 

Após a mesa redonda do segundo dia, muitas autoras e leitoras confraternizavam.

 

--Nossa, eu nem acredito que tô aqui conversando com você, daí! – Sayruci abraçava Crisálida – Você é minha autora preferida! –olhou para a mulher após romper o abraço

 

--Fico feliz em saber! – sorria segurando as mãos da outra – Embora não comente, e sei que é uma falha minha, sempre li o que você escreve! – confessou – E esse último conto, nu! – revirou os olhos – Amei!

 

--Jura?? – Sayruci arregalou os olhos empolgada

 

--Guria, teu conto foi um show! – Amaralina complementou – Ontem deixei um comentário pra dizer que achei tri legal e emocionante. – sorria

 

Sayruci mexeu os lábios sem produzir som.

 

--Eu adorei o seu conto, mulher! – Black Velveteen segurava uma das mãos de Abigail – Terminei de ler ontem e fiquei emocionada! Tua vida e teu relato me lembraram o que acontece com muitas das nossas na Bahia!

 

--Vixe, tu lesse? – a potiguar arregalou os olhos

 

--Eu li também! – Zu Clética comentou – Achei maravilhoso desde o título até o desfecho da história!

 

--Ave Maria! – o coração acelerou

 

--Você não gostaria de escrever um conto comigo, Abigail? – Solange perguntou – Depois do fim da dupla Soul Sapa&Tão procuro por outra parceira pra somar. – sorria

 

--Eita... – Abigail sentia-se tonta – “Ô, meu Pai, isso é pra matar, não sabe?” – pensava abestalhada

 

--Sayzinha e Abigail tão a ponto de desmaiar! – Vera observava as mulheres – Até as Dez Mais elogiando os conto delas tá sendo um trem forte por demais da conta pro coração de cada uma! – sorria

 

--Vera, você ainda não sacou! Aliás, nenhuma de vocês! – Patrícia respondeu olhando para as autoras – Sua Sayzinha e Abigail farão parte desse seleto grupo não demora muito! – bebeu um gole de suco – “E Frog e Ales vão cair de posição!” – pensou – “Bem feito!” – torcia contra Carol

 

--Na minha opinião, minha Sayzinha tinha que ser das Dez Mais há muito tempo, uai! – bebeu um gole de água – Sem desmerecer as outras, é claro! -- reparou que Carol se aproximava

 

--Boa tarde. – cumprimentou sorridente – Tudo bem? – olhou para as duas mulheres

 

--Tudo e você? – Vera respondeu normalmente

 

--Tudo! – Patrícia respondeu de má vontade

 

--Tudo bem. – passou a mão nos cabelos – Será que... – olhou para Paty – Eu poderia conversar rapidamente contigo? – pediu receosa

 

A caipira imaginou sobre o que seria, pois já havia sido abordada por Carol algumas horas antes. – Eu vou me unir à Sayzinha, porque se ela desmaiar de emoção tem quem segure. – sorriu – Dá licença. – afastou-se

 

--Temos algum assunto a tratar, filha? – a influencer perguntou ironicamente

 

Carol respirou fundo antes de responder. – Entendo sua antipatia comigo e não te culpo. – pausou brevemente – Eu não vou te incomodar por muito tempo, só queria me desculpar com você por ter sido tão idiota e te magoado. – pediu humildemente – Eu tava numas de aproveitar meu sucesso literário pra sair zoando com a mulherada, até que encontrei uma que me fez quebrar a cara. – pensava em Teodora

 

“Bem feito!” – Patrícia pensou

 

--Aí eu tive um papo com a Cris, refleti muito e vi que tava na hora de crescer. – olhava para a outra – Já conversei com outras pessoas... faltava você. – sorriu timidamente – Seria te pedir muito se eu... te pedisse perdão?

 

Supreendeu-se com o que ouviu e decidiu reconsiderar. – De fato... – refletia na situação – Você não me prometeu nada e eu que criei um monte de expectativas... – olhava para a autora – Embora você tenha sido uma vaca!

 

Achou graça. – Não posso nem negar isso. – admitiu

 

--Ah... – passou a mão nos cabelos – Tá bem, não vale a pena ficar guardando mágoas. – sorriu – Te pedoo!

 

--Ai, obrigada! – abraçou-a com carinho

 

Supreendeu-se com a atitude mas retribuiu o abraço. – Sem problemas. – sorriu

 

“Pia só aquela Frog tarada já nos chamego com Paty!” – Abigail observou incomodada – “Queria saber o que essa mulherada tanto vê naquela bicha?” – pensou despeitada – “Só por causa daquelas máscara?”

 

--Ora, ora, quem tenho a grata surpresa de rever? – uma mulher cumprimentou insinuante

 

--Ô, mulher! – Abigail cumprimentou animada – Tudo bem? – sorriu

 

--Melhor agora! – piscou – Queria te dizer que amei o seu conto e você verá um comentário de Ales Bysex te parabenizando tão logo entre no site. – informou – Escrevi na hora do almoço! – sorria

 

--Ave Maria! – surpreendeu-se – Chega deu um troço no coração, não sabe? – afirmou emocionada

 

--Tudo que você precisava era ser você mesma, meu bem! – Letícia afirmou – Uma vez que se permitiu e esqueceu daquela loucura de autora egípcia, a coisa fluiu. – comentou bem humorada – Agora é só sucesso!

 

--E eu que nunca pensei... – ajeitou os cabelos – Corri tanto e fiz tanta loucura pra ter sucesso e quando finalmente desapeguei disso... o sucesso veio!

 

--Sucesso é se sentir bem e em paz. – Letícia afirmou convicta -- Você mereceu e merece a repercussão que rapidamente conseguiu com o conto que revelou sua história de vida, meu bem! – abraçou-a – Desejo tudo de bom pra você! – falava com sinceridade

 

“Eita, que essa aí é uma atração fatal por minha pessoa!” – pensou desconfiada ao abraçá-la – Obrigada!

 

“Hum... Ales só no agarramento com Abigail!” – Patrícia pensou contrariada – “Não tem jeito, é muita concorrência!”

 

***

 

Patrícia havia conseguido mudar parte da programação no terceiro dia de evento, arrumando espaço para uma palestra de Khaalii e Gail sobre seus respectivos contos. Como ambos acabavam se interligando em algum momento, as duas autoras palestravam juntas.

 

--O Dia em Que Aprendi a Voar não foi escrito para ser uma auto exaltação e sim objetivando mostrar que qualquer pessoa pode romper suas barreiras, com maior ou menor dificuldade. – Sayruci olhava para o público – Foi escrito para salientar que todas temos uma voz que não pode ser calada ou sufocada pelo medo ou pela violência! – caminhava sobre o púlpito – E para salientar que precisamos nos ajudar, exercer nosso companheirismo e praticar o exercício da empatia para que caminhemos juntas, mesmo diante dos maiores percalços. – pausou brevemente – Eu tive ajuda, tive apoio e muitas vezes basta um simples abraço, um sorriso de amizade ou simpatia para que as portas se abram!

 

--Eu sabia que ela conseguiria se libertar! – Valéria apertou a mão de Cláudia – E o tempo todo era só o que eu queria. Não havia intenção maldosa da minha parte e nem da parte dela. – olhou para a esposa

 

--Hoje eu entendo, meu bem. – a mulher respondeu – E apoio! – sorriu – Você fez bem em apoiar sua ex.

 

“Essa é a minha Sayzinha!” – Vera pensava orgulhosa – “Além de tudo, sabe fazer palestra melhor que ninguém!”

 

--E eu posso dizer muito bem que essas pequenas coisas mudam tudo! – Abigail complementou – Porque quando pensei em me matar e cheguei perto disso, -- olhou para Sayruci – foram palavras de amizade e um simples abraço que me trouxeram de volta pra vida!

 

“Até nisso a gente é igual!” – Patrícia pensou – “Que pena que me aproximei dela tão tarde...” – lamentou – “Não tô dando conta dessa concorrência de tanta mulher em cima!”

 

--Passei a vida toda na base da negação, não sabe? – Abigail olhava para o público – Negando pra mim mesma que era gorda, baixinha, -- achou graça – negando pros outro que era filha de puta... – lembrou-se de Quitéria – Mas um dia uma mulher muito sábia me falou que eu não tava onde estava à toa! Que tinha que ter um motivo e que eu deveria usar minha vontade de escrever pra dar voz a quem não tem! – emocionou-se – Há alguns anos atrás, decidi procurar pelas menina que trabalhava no puteiro onde me criei e qual não foi o meu desgosto ao descubrir que a morte levou todas elas! Fosse por doença venérea, fosse por violêcia de macho que pensa que é dono do corpo das mulher! – revelou – Até a dona de lá já morreu; diz que foi do coração e por desgosto... Então, ao lembrar de tudo isso, quando escrevi o conto Abigail Trindade, Muito Prazer: Uma Filha de Puta!, fiz pra me assumir de vez e pra ter força modos de começar o que prentendo, que é mudar vidas! As vidas de uma série de meninas e mulheres que são forçadas a se prostituir por pobreza e pelos oportunismo de um bando de filho de uma égua! – gesticulou

 

--Eu nunca pensei que uma palestra me emocionaria tanto! – Ales comentou com a mulher ao lado – Ouvir os relatos dessas duas, especialmente depois de ter lido os dois contos, me deixou tão assim... – suspirou – Sensível... – olhou para a outra

 

--Também nunca fui de muito sentimentalismo e ainda nem li os contos, mas depois do que ouvi aqui, desejo ardentemente ler! – Frog respondeu melosa

 

--Então leia, que você vai se entregar, se indetificar, se apaixonar e enlouquecer! – Ales falava com voz sexy

 

--Ah, mas eu queria tanto tudo isso! – Frog afirmou com voz sedutora – Não mais aquela coisa superficial que eu vinha vivendo, mas algo assim... profundo!

 

--E quão profundo você quer ir, baby? – Ales aproximou-se mais

 

--How deep is love? – Frog aproximou-se mais também

 

--Love? Já estamos nessa? – o olhar de Ales se alternava entre olhos e lábios de Carol – Eu tô de olho em você faz tempo! – confessou

 

--E eu cheguei a fugir mas não fujo mais! Vem! – segurou o rosto da outra com as duas mãos e a beijou

 

--Ai! – puxou a jovem pela cintura e caíram as duas no chão se agarrando

 

--Gente! – Sayruci olhou para Abigail – Tudo isso foi inspiração da nossa palestra? – perguntou surpreendida

 

--Ave Maria! – a potiguar reparava nas autoras rolando pelo chão aos beijos – “Eu não entendo o sucesso dessa Frog!” – pensou espantada

 

“Gentem!” – Patrícia pensou estarrecida – “Ales tava no maior fogo com Abigail há tão pouco tempo e agora já passou pra próxima?” – chocou – “Essas autoras são tão volúveis! Por isso que eu não consigo me dar bem!”

 

Vera olhava a cena em estado de choque.

 

***

 

Patrícia mediava a cerimônia de encerramento do evento. Após apresentar as estatísticas e de todas as falações das convidadas com suas considerações finais, preparou-se para declarar oficialmente que o Congresso chegava ao fim.

 

--Mamys, por que você não me disse que ia dar palestra? – Latifah cobrou – Se eu soubesse tinha vindo assistir! – gesticulava – Não pode fazer isso! What a betrayal! Pura traición!– reclamou afetada

 

--Também queria ter visto você falar, Say! Como pude ter perdido isso, gentem? – Khadija perguntou afetada -- Quelle trahison!

 

A morena achou graça. – Nem eu e nem Abigail sabíamos disso, meninas! Paty mudou a programação e nos pegou de surpresa! – dizia a verdade

 

--Então, minhas queridíssimas, a menos que alguém tenha algo muito relevante a acrescentar, gostaria de concluir mais esta oportunidade maravilhosa de aprendizado, cultura e entrosamento que este Congresso pôde nos proporcionar! – Patrícia falava ao microfone

 

--Eu tenho o que falar! – Vera se levantou erguendo a mão – E é importante!

 

Sayruci não entendeu.

 

--Oxe! – Abigail estranhou – Falar o que? – cruzou os braços intrigada

 

Patrícia também estranhou mas decidiu ceder a palavra. – Tudo bem amiga, mas seja breve, viu? – advertiu bem humorada – A palavra é sua! – acenou para que subisse no palco

 

A caipira se ajeitou e fez conforme solicitado. Ao pegar o microfone e olhar para todas aquelas mulheres que a observavam sentiu as pernas tremerem. “Ave Maria, é agora ou nunca!” – pensou nervosamente – Eu não vou demorar. – respirou fundo

 

--Mamys, o que tua bofa tá tramando? – perguntou curiosa

 

--Não sei, querida. – Sayruci prestava atenção na mulher – Mas se ela teve essa coragem, deve ser algo muito especial.

 

--Eu passei quase a vida toda me sentindo uma peça quebrada, um trem sem base e sem razão de ser. – Vera confessava – Então lá pelas tantas mergulhei na literatura lésbica pra poder sonhar, me ver no lugar daquelas personagens que, às vezes eram até parecidas comigo, mas ainda assim aceitas e valorizadas pelos outros. – pausou brevemente – E aí um dia uma autora pareceu traduzir o que havia dentro da minha alma, mesmo sem me conhecer, e eu me apaixonei por ela desde a primeira linha do conto que li! – mirou o rosto da amada

 

--Ui, mamys, declaração em público! – Latifah brincou

 

--Amei! – Khadija bateu palminhas

 

--Ai... – suspirou emocionada

 

--E estranhamente essa autora pareceu corresponder meu sentimento, a gente começou a se entrosar de tantinho em tantinho, até que no Primeiro Congresso foi possível a gente se conhecer e foi um trem lindo por demais da conta!

 

“E eu já tô Segundo Congresso sem desencalhar...” – Patrícia suspirou

 

--Desde pequena aprendi que o verde é a cor da esperança e qual não foi minha surpresa quando a vida me apresentou a uma mulher que carrega a esperança nos olhos, a beleza na alma e o amor mais puro no coração! – a caipira se emocionava

 

--Ai... – Sayruci sorria com os olhos marejados

 

--Ai, amiga, que coisa linda! Tô tão emocionada! – Khadija segurou a mão de Latifah –Olha, eu queria te dizer que... – juntava coragem -- Você também carrega a esperança nos olhos! – pausou brevemente – Eu... – não teve coragem de continuar a falar

 

Latifah apenas sorriu disfarçando a emoção.

 

--Então agora que o divórcio finalmente saiu: -- Vera se ajoelhou e abriu uma caixinha – casa comigo, Sayzinha? – pediu humildemente – Não podia te pedir isso em outro lugar e em outro momento que não fosse esse!

 

--Ai, eu quero, meu amor! – levantou-se empolgada e correu para o palco – Minha caipira safadinha!

 

--Ave Maria! – Abigail secou os olhos marejados – Até que essa caipira tá ficando esperta, não sabe?

 

--AMEI, AMEI, AMEI, GENTEM! – Patrícia delirava

 

--Levanta, me abraça e me beija! – Sayruci vinha pulando no palco

 

--Eu te amo! – levantou-se, puxou a amada pela cintura e beijou-a apaixonadamente

 

--AEÊEÊÊÊÊ!!!!! – a mulherada aplaudia emocionada – Uhu!!!

 

--Lindo!! – Valéria se levantou aplaudindo. Sua esposa fez o mesmo

 

--Ai, mas que coisa linda! – Ales se levantou rasgando a blusa e revelando o sutiã

 

--É muita emoção, gente! – Frog fez o mesmo

 

--Vem cá! – Ales puxou a outra para um beijo apaixonado – Eu tô abundando de amor pra dar! -- novamente deitaram no chão rolando como duas doninhas

 

--Gentem! – Khadija se surpreendeu com a cena – “Quisera eu ter essa coragem!” -- pensou

 

--Sisters, -- Latifah se levantou -- vamos botar fogo nesse encerramentooo! – gritou agitada -- Música, eu quero música! – gesticulou afetada – Solta o som DJ e todo mundo soltando a frangaaa!!

 

--UHUU!! – a mulherada gritou

 

Patrícia fez sinal para Bruna e a música começou. – Declaro oficialmente encerrado o Segundo Congresso Nacional de Literatura Lésbica!! – jogou papéis para o alto

 

Do you ever feel, (Você já se sentiu),

Like a plastic bag, (Como uma sacola plástica),

Drifting through the wind, (Voando com o vento),

Wanting to start again... (Querendo começar de novo...)

 

Vera e Sayruci desciam do palco de mãos dadas sob as salvas de palmas de várias pessoas.

 

Do you ever feel, (Você já se sentiu),

Feel so paper-thin, (Tão fina quanto papel),

Like a house of cards, (Como um castelo de cartas),

One blow from caving in... (A um sopro de desabar...)

 

Latifah e Khadija dançavam com outras mulheres fazendo passinhos.

 

Do you ever feel, (Você já se sentiu),

Already buried deep, (Como se já tivesse sido enterrada),

Six feet under, (Seis pés abaixo),

Screams but no one seems to hear a thing... (Grita, mas ninguém parece ouvir nada...)

 

Abigail dançava olhando discretamente para Patrícia, que também dançava lançando-lhe olhares discretos.

 

Do you know that there's, (Você sabe que existe),

Still a chance for you, (Ainda uma chance para você),

'Cause there's a spark in you, (Porque há uma faísca em você),

You just gotta... (Você só tem que...)

 

Vera e Sayruci dançavam agarradinhas, testa colada com testa. As outras autoras soltavam as frangas.

 

Ignite the light, (Acender a luz,)

And let it shine, (E deixá-la brilhar),

Just own the night, (Apenas mande na noite),

Like the Fourth of July... (Como o quatro de julho...)

 

Abigail dançava em direção a Patrícia, que também dançava em direção a ela.

 

--'Cause baby, you're a firework (Pois, amor, você é como fogos de artifício), -- uma leitora agarrou a potiguar enquanto cantava -- come on show 'em what you're worth (vamos lá, mostre a eles o seu valor)... – pulava afastando Abigail de seu alvo

 

--Make 'em go: "Oh, oh, oh" (Faça com que gritem "oh, oh, oh"), -- Bruna agarrou Patrícia cantando -- as you shoot across the sky (enquanto você cruza o céu)... – desviou a influencer de sua autora predileta

 

--Baby, you're a firework (Baby, você é como fogos de artifício)! – Latifah cantava apontando para Khadija

 

--Come on let your colors burst (Deixe suas cores explodirem)! – Khadija cantava apontando para sua melhor amiga

 

Make 'em go: "Oh, oh, oh”... (Faça com que gritem "oh, oh, oh"...)

 

Sayruci e Vera beijavam-se em abandono.

 

You're gonna leave them all in awe, awe, awe... (Você deixará todos admirados...)

Katy Perry – Firework [1]

 

Ales e Frog continuavam se amassando e rolando pelo chão.

 

--Olha, congresso lésbico é um arraso! – Claúdia comentou impressionada

 

--A gente não pode perder o próximo por nada! – Valéria exclamou empolgada – E disseram que vai ser em Salvador! Imagina isso, que maravilha!

 

Fim do capítulo