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Depois eu te conto... por Nadine Helgenberger

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Palavras: 3525
Acessos: 260   |  Postado em: 15/11/2025

Capitulo 20

 

A conversa por telefone seguia num ritmo que soava diferente, mas Sabrina não conseguia identificar o que era. A voz de Fedra era doce, mas distante, como se houvesse um vidro duplo separando-as.

            -Pensei em ti o dia todo...- Disse Fedra.

            -Eu também! - Sabrina respondeu mais aliviada. - Estás bem?

            -Estou, ainda que muito cansada. Já sabes, a tal semana que vai me consumir até à alma. -Suspirou.

            -Vais conseguir! E a tua mãe? - Sabrina desviou para um assunto mais leve.

            -Está bem! - Ela não via a mãe há dois dias. - Vamos jantar juntas um dia desses.

Fez-se silêncio. Um momento de leve desconforto, mas ainda assim não hostil. Apenas... vazio.

            -Estás diferente - Sabrina procurou ter cuidado com as palavras. - Aconteceu alguma coisa?

            -Não, meu bem. Apenas trabalho demais que muitas vezes quase nem respiro. - Fedra forçou uma leveza que estava longe de sentir. - Prometo compensar-te assim que essa loucura terminar.

Sabrina queria acreditar que tudo estava bem, mas sentia um peso nas entrelinhas.

            -Eu só quero que estejas bem.

            -Eu estou! - Fedra respirou fundo. - E tu?

            -Desde que voltei...não paro de pensar em nós e isso às vezes me assusta. - Assustada estava com sua naturalidade em abordar um tema sensível e com tamanha naturalidade.

Do outro lado, Fedra apertou os olhos. Queria dizer que ela também se assustava com a intensidade do que sentia. Queria confessar que vivia há dias num turbilhão de medo e vergonha, com a voz da tia a ecoar-lhe nos ouvidos, que o simples som da palavra "nós" agora a feria de culpa, mas não conseguiu.

            -Vai correr tudo bem, meu bem. - Foi tudo o que conseguiu dizer.

Houve mais um momento de silêncio e dessa vez ainda mais desconfortável, até que Sabrina entendeu que Fedra precisava desligar. Despediu-se num tom leve, como quem tenta não deixar transparecer o nó na garganta.

Quando a chamada terminou, Sabrina ficou a olhar para o ecrã apagado. A casa pareceu-lhe enorme e fria. O silêncio que antes era cúmplice, dessa vez, pareceu-lhe ausência.

***

Início de madrugada e Fedra ainda estava às voltas com as planilhas do evento, analisando orçamentos, documentos, discursos, contudo, a sua atenção teimava em fugir para outro lugar. Pegou no telefone várias vezes com uma vontade visceral de ouvir a voz de Sabrina que tinha o poder de acalmá-la e atiçá-la na mesma intensidade. Desistiu. O eco da voz da tia Adélia grudava na cabeça como um feitiço: "O câncer não te matou, mas comeu-te o juízo e a decência."

Não tinha coragem de conversar com a mãe e corria o risco de a tia adiantar-se e envenenar tudo. Precisava resolver tudo, o evento, o namoro e a própria consciência, antes que tudo colapsasse.

Fechou os olhos com força, na tentativa de banir aqueles pensamentos, entretanto, tudo o que conseguiu foi ser invadida pelo riso feliz de Sabrina no hotel, a rede a balançar ao vento e a sensação de ter encontrado a paz.

***

Fedra se deixava inebriar pelo cheiro de flores frescas da casa da mãe, como forma de substituir o vazio que lhe ia na alma. Pensava que a semana do trabalho, não obstante todo o stress, viera na melhor altura. Tinha mais o que pensar além do desconforto de imaginar a cabeça da mãe envenenada com o preconceito da tia, ou o que fazer em relação ao que sentia por Sabrina.

A mãe apareceu na porta da cozinha com um pano de prato sobre o ombro, e o mesmo sorriso doce de sempre.

            -Fiz o empadão que adoras e legumes salteados. Tudo fresco que comprei hoje cedo no mercado. - Frisou enquanto arrumava a mesa.

            -Obrigada, mãe. - Fedra forçou um sorriso.

            -Estás a comer direito? Essas clavículas estão muito acentuadas, minha filha.

Fedra riu e olhou sua figura no espelho da sala de jantar.

            -Estou a comer sim senhora, só ando mais cansada...

A mãe virou-se devagar apoiando-se numa cadeira.

            -Cansada...ou preocupada?

Fedra gelou. Será que a tia Adélia já tinha plantado o veneno?

            -É o evento. Tenho tanta coisa para lidar e decidir. - Fingiu procurar uma colher para esconder o nervosismo.

            -Tu sempre foste muito forte, minha filha. - Disse num tom mais baixo. - Mas eu te conheço e sinto que há qualquer coisa que anda a perturbar-te...

Fedra ficou estática.

            -Se for o trabalho, tudo bem. Mas se for outra coisa...- Aproximou-se com seu jeito terno que desarmava. - Se tiveres feito algum exame, se alguma coisa voltou a aparecer...

Fedra buscou o ar com força num misto de alívio e culpa.

            -Mãe, não é isso. - A voz saiu trémula.

            -Seja o que for, vamos lutar juntas. - Passou-lhe a mão no rosto. - Se venceste uma vez, vences outra.

Fedra fez um esforço sobre-humano para não desabar ali mesmo. Não havia câncer, mas uma culpa que lhe roía por dentro.

Pensou em dizer que estava a gostar de uma mulher e não sabia o que fazer. Pensou ainda em dizer que não era câncer e sim amor. Mas o medo silenciou-a.

            -Estou bem, mãe. Preciso apenas que o evento corra bem.

            -Vai correr. Tu és boa no que fazes. - Assentiu Gracelina, alheia à dimensão do abismo.

***

Nos dias seguintes, mergulhou no trabalho, planilhas, telefonemas, reuniões intermináveis, ensaios do discurso. Fazia tudo com uma precisão mecânica, a mesma que sempre a salvara de sentir demais.

Mas a sensação era que nada adiantava, bastava o som de uma notificação no telefone para o coração disparar. Sabrina escrevia mensagens breves, doces, mas ela raramente conseguia responder de imediato. Tinha medo de dar qualquer passo em falso e isso significava deixar-se vencer pela emoção...

E assim seguia, a naufragar no seu silêncio.

Dois dias antes do evento, o peso da coordenação do evento e Fedra teve de apagar incêndios antes que se alastrassem, dormia pouco, comia mal e quando se via ao espelho, mal reconhecia o reflexo exausto que a fitava.

O telefone às vezes vibrava com mensagens de Sabrina.

"Como estás?"

"Queria ouvir a tua voz."

"Está tudo bem contigo?"

Ela lia, parava um pouco e bloqueava tela. Não sabia o que dizer sem parecer fria e não tinha forças para ser doce. Respirava as palavras da tia, tinha pesadelos com a expressão de nojo dela e paralisava com a possibilidade de ser a causa de qualquer desconforto da mãe ou da filha. Todo o sentimento bom que tinha por Sabrina, de repente, parecia uma doença incurável.

Mas o silêncio não era apenas provocado pela intolerância da tia Adélia, havia José Carlos. A relação começara de forma leve, quase distraída. Ele era divertido, culto e charmoso, o que à época pareceu-lhe suficiente. Ninguém queria nada muito intenso e muito menos viver um grande amor. Mas, com o tempo, percebeu que o encanto terminava na superfície. José Carlos era um homem preso a si mesmo, às aparências, aos filhos já adultos e imaturos e tinha uma ganância de poder absurda. Tinha um sentido de humor questionável e durante muito tempo, fingira achar piada.

Quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama, eles já estavam juntos há mais de um ano. Foi nessa época que percebeu, ainda sem admitir, que não podia contar com ele. Ele aparecia com bouquets de flores caras, mandava mensagens ensaiadas, mas não sabia ficar. Ele não suportava o desconforto, a vulnerabilidade, o silêncio do medo. Foi a mãe que lhe segurou os alicerces para não afundar...a filha que mesmo com toda a sua imaturidade juvenil, lhe fazia carinho, massagens nos pés, escolhia lenços bonitos para sua cabeça raspada, lhe ajudava a beber água quando os lábios secos e com rachadura não queriam absorver nada. De José Carlos restou a ausência elegante.

Agora, diante da decisão de terminar, sentia-se exausta. Já imaginava a conversa, as lembranças de momentos maravilhosos, desafios vencidos, tudo fruto da imaginação dele, e por fim, a indignação. Ele jamais entenderia porque nunca parou para prestar atenção em quem ela realmente era.

Tudo se tornou ainda mais insuportável, quando começou a comparar o que tinham, ou não tinham, com o que vivia com Sabrina. O toque, o riso, corpos em sintonia, a entrega. Com ela sim, tinha uma relação. Mesmo estando em ilhas diferentes, sabia que podia contar com ela. Com Sabrina nada era protocolar, ensaiado, para os outros verem. Era desejo, sim, mas também ternura, cuidado, um silêncio que não assustava. Era presença.

Sentia-se perdida, entre o medo e a esperança, entre o que devia e o que queria.

***

Sabrina tentava não sucumbir diante da mudança repentina de comportamento de Fedra. Ela tentava não entrar na paranoia, afinal, Fedra avisara da semana desafiadora no trabalho. Mas, seu coração não entendia aquele distanciamento, as respostas vagas, o silêncio ensurdecedor. As horas sem respostas, transformaram-se em dias e tudo começou a parecer abandono.

Estava distraída com seus devaneios quando sentiu a presença de Lúcia:

            -Continuas com a mesma cara de quem anda a sonhar acordada. Mas, preste atenção porque às vezes o sonho pode virar pesadelo.

Sabrina não respondeu. Engoliu em seco com a certeza de que Lúcia sabia de alguma coisa. Ela sempre sabia.

Lúcia por sua vez, sorriu, saboreando o silêncio constrangedor que provocara.

***

O dia do evento finalmente chegou e tudo correu muito bem. Trabalho de excelência como Fedra ouviu de membros do governo. Finalmente pôde respirar aliviada, um problema a menos. Na receção, pós cimeira, o salão do hotel fervilhava. Fedra mantinha uma conversa de circunstância com uma mulher, quando viu José Carlos chegar. Em nome do lobby, ele demorou mais de quinze minutos até chegar nela.

            -Finalmente, como estás linda. - Beijou-a na bochecha com cerimónia. - Quase que não chego para a receção. Perdi o voo de conexão em Lisboa. Não me perdoaria se não estivesse nesse evento. Ainda bem que todo mundo que interessa veio à receção.

Ele rapidamente meteu conversa com alvos escolhidos a dedo e Fedra, passou a analisá-lo. A mesma segurança estudada de sempre, a voz grave, sorriso perfeito, ar de quem pertence àquele cenário. Quando ela foi abordada pelo Ministro de Negócios Estrangeiros, rapidamente ele se posicionou como o acompanhante dela, mão na sua cintura, sorrisos apaixonados, interesse exagerado. Aos olhos do mundo, com certeza, eram o casal perfeito.

Por instantes, Fedra deixou-se conduzir por aquela ilusão confortável: a mulher de sucesso, ao lado do homem que todos aprovavam. Era tão fácil...

Cumprimentou ministros, secretários, o corpo diplomático, sorriu para fotógrafos, brindou. José Carlos, não se descurou do papel de companheiro exemplar.

Contudo, há medida que o tempo ia passando, sua vontade de desaparecer aumentava. O desconforto era tal, que nem teve disposição para se aproximar de Glória que estava linda no evento. Não conseguiria fingir naturalidade diante da amiga. Graças aos céus e como sempre, ela esteve sempre rodeada de gente e nem teve tempo de se aproximar.

O evento terminou tarde da noite e agradeceu no seu íntimo quando José Carlos não a acompanhou e nem pediu que ficassem juntos no seu hotel. Alegou reunião muito importante logo nas primeiras horas do dia e precisava estar descansado. Marcaram um almoço, que ele fez questão que acontecesse no restaurante mais caro da cidade. Despediram-se com cordialidade e Fedra sentiu-se numa peça de teatro.

 

***

Sabrina estacionou em frente ao trabalho e demorou algum tempo dentro do carro a tentar se organizar emocionalmente. Passara a noite toda agitada e sem conseguir conciliar o sono e com certeza, seu aspeto não era dos melhores. Já não conseguia inventar desculpas pelo silêncio de Fedra. Tudo começava a pesar demais, a infiltrar nos seus pensamentos, e velhos traumas ressuscitavam. Se não fosse a terapia...

Por mais que soubesse da semana intensa de Fedra, sentia que havia algo diferente, uma distância que não se explicava apenas pelo cansaço. As mensagens tinham se tornado curtas, neutras, educadas demais para duas pessoas que há pouco dormiam enlaçadas depois de experimentarem muito prazer e entrega.

            -Vá trabalhar, Sabrina. Afinal, é a única coisa que não te trai...

Foi com essa certeza que encarou o dia, ou pelo menos, tentou.

Tentava concentrar-se no trabalho, mas o olhar voltava sempre para o telefone ao lado do computador, sempre na esperança de ver o nome de Fedra no ecrã. Nada.

Foi nesse estado de fragilidade que Lúcia apareceu à sua frente segurando duas chávenas de café, como quem oferece um gesto inofensivo.

            -Trouxe-te um. - disse com um sorriso acolhedor. - Tens andado tão calada...nada como um café forte para animar.

Sabrina agradeceu com um aceno vago. Não demorou nada e Lúcia já estava sentada na beira da secretaria com o olhar perscrutador e aparentemente casual.

            -Estás bem? Tens andado ausente...

            -Alguma coisa errada com o meu trabalho?

            -Não...isso nunca. Falo de ti...

            -É só trabalho...- respondeu evitando encará-la.

            -Pois...ainda bem que por cá não falta trabalho. - Murmurou com uma falsa empatia. - E depois, há certas coisas que nos tiram o foco, não é?

Sabrina não esboçou qualquer reação.

            -Ah, Sabrina, para. Vamos animar esse dia. Já viste as fotos da Cimeira Anual de desenvolvimento do governo em parceria com as agências de cooperação internacional? Um luxo! - contornou a mesa e acedeu à pagina no computador de Sabrina com uma leveza quase pueril.

Sem sequer olhar para a tela, Sabrina sentiu um alvoroço no estomago. Eram as fotos do evento que Fedra estava a coordenar...

            -Olha que foi um sucesso. - E rolava a tela. - A tua amiga Glória estava lindíssima, aqui, olha.

Na tela, o salão iluminado, figuras conhecidas, sorrisos de ocasião. Glória de vestido champanhe, sorrindo cercada de gente. Sabrina sorriu ao ver a amiga deslumbrante e claramente no seu habitat.

            -Olha aqui. - Lúcia passou para a foto seguinte. - A Fedra!

Sabrina engoliu em seco. Olhou para a imagem, Fedra linda, num conjunto de calça e blazer azul royal, cabelo preso num coque baixo e elegante e o mesmo sorriso que tantas vezes lhe roubara o fôlego. Ao lado, o namorado, o braço pousado de leve nas costas dela, o corpo inclinado na sua direção. Tinham um ar de muita intimidade, como se o fotografo os tivesse apanhado num momento espontâneo.

            -Vês? - o tom de Lúcia era quase distraído. - Que casal elegante! - Fez uma pausa curta para o veneno assentar. - Olha os comentários, é unanime como estavam bem, o casal mais elegante. Claramente, foram feitos um para o outro.

 O estomago de Sabrina embrulhou-se.

            -Essas fotos...foram de ontem? - A pergunta era estupida, mas precisava certificar-se que ainda conseguia abrir a boca.

            -Sim, do evento do ano. Sabias disso? Claro... -Fez uma expressão que mesclava inocência e constrangimento. - Não sabias?

Sabrina tinha os olhos vidrados na tela.

            -Ah, desculpa...pensei que sim. Ela e o namorado são presença habitual nesse tipo de evento.

O silêncio tornou-se denso, desconfortável.  Lúcia fingiu não notar e continuou a percorrer as fotos, uma a uma, com calma e prazer.

            -Olha esta, a imprensa adorou. Repara como ele a olha...há tempos que não vejo uma mulher ser olhada assim. Olhar de admiração, desejo...

Sabrina queria correr, mas ficou presa, hipnotizada pelo golpe. As imagens passavam e a sensação era de punhaladas suaves, e Lúcia mantinha a voz serena, num tom casual...

            -Mas olha, não te sintas mal. A Fedra é livre, sempre foi. - Levantou o olhar estudando a expressão de Sabrina. - É uma mulher complexa, difícil de acompanhar...imagino.

Sabrina não emitiu qualquer som. Engoliu em seco e levantou-se pegando a bolsa, com a desculpa de uma reunião.

            -Tenho uma reunião agora, Lúcia. Fora do escritório.

            -Claro...só quis te alegrar um pouco com as fotos das celebridades...

Sozinha, Lúcia fechou o portátil devagar. O café intocado, ainda fumegava sobre a mesa. Encostou-se na cadeira e sorriu, um sorriso leve e satisfeito. Sabia que a ferida estava aberta, agora era só esperar que sangrasse.

***

Aos tropeços, Sabrina entrou em casa e cambaleando, desabou no sofá. Não sabia precisar por quanto tempo vagara pelas ruas completamente sem rumo. A sensação era que o sangue lhe fugira do corpo e no seu lugar, algo gelado e cortante trucidava as suas veias. A noite lá fora já era uma realidade, quando conseguiu reagir e abrir o telefone à procura de algo que pudesse contrariar tudo o que vira mais cedo. Abriu o site, hesitou um pouco deixando o telefone de lado, mas a curiosidade foi mais forte. As fotos estavam todas lá. Nada tinha mudado de lugar ou de contexto, Fedra e José Carlos continuavam com a mesma pose e sorrisos de casal feliz. Em cada foto, muitos likes, partilhas e comentários carregados de elogios. O corpo todo tremeu e Sabrina que não era de muitas lágrimas, quase se afogou num choro convulsivo. A sensação de que era descartável, tantas vezes vivida na adolescência e juventude, assentou-lhe como uma luva. Pela primeira vez, em muito tempo, duvidou do que tinham vivido.

***

Após dois dias do mais absoluto silêncio, Fedra finalmente já conseguia reorganizar a sua mente. José Carlos tinha saído da sua vida com a mesma elegância superficial com que entrara. O almoço, que ela fizera questão que fosse em sua casa, longe dos holofotes, servira para pôr fim a uma história que se calhar nem deveria ter começado. Apesar da tensão e de algumas palavras duras, sentira mais alívio do que dor. Tinha sido uma relação confortável, mas sem alma. Depois de tudo o que vivera com Sabrina, já não tinha mais paciência para o morno.

Nesse período de casulo, rasgou papéis, mudou móveis de lugar, arrumou gavetas, como quem exorciza memórias. Dormiu mal, pensou muito e quando finalmente sentiu que respirava de novo, quis apenas uma coisa: Sabrina.

A ausência dela doía, no corpo e na alma. Tentou escrever-lhe no auge da sua confusão, mas sempre desistia antes de enviar qualquer mensagem. Precisava estar inteira para ela.

Da varanda, acompanhava o pôr do sol lindo que sempre remetia a dias felizes com ela, e foi a confirmação que chegara a hora de retomar a sua vida cheia de cores. Cheia de certezas e com o coração leve, pegou o telefone.

***

Apesar de o coração estar em alvoroço, Fedra logo percebeu uma neutralidade na voz nada usual em se tratando de Sabrina.

            -Estás bem? - Perguntou num sussurro.

            -Estou...

            -Sei lá, tem alguma coisa estranha na tua voz...

            -É o trabalho...estafa, tanta que ontem passei o dia todo em casa. - Sabrina respirou fundo.

            -Só isso? - Fedra já conhecia as nuances de Sabrina. Era necessário investigar fundo até ela se abrir.

Houve um silêncio.

            -Não sei, Fedra. Tu desapareceste...

            - Eu precisava de tempo...para me organizar...

            -Hum-hum...e eu precisava de clareza - A voz endureceu. - E foi tudo o que não tive.

Fedra iniciou uma tentativa de explicação, mas rapidamente foi interrompida por Sabrina. As palavras saltaram-lhe pela boca, feridas, acumuladas, sem travão.

            -Sabes o que é sentir-se uma substituta barata? Um intervalo entre uma vida e outra? - Gritou.

            -Sabrina...- Fedra estremeceu.

            -Não! Eu vou falar! - Cortou Sabrina inundada de um sentimento que já não era apenas raiva. - Eu já estou cansada de ouvir o que as pessoas dizem, que tens outra pessoa, que estás muito bem acompanhada. E eu aqui, a inventar desculpas para o teu silêncio, a tentar me convencer que é trabalho, stress...

Fedra levou a mão à testa, já com os olhos marejados. Já conseguia antever o que vinha a seguir.

            -Por favor, não acredites em tudo o que...

            -O quê? Eu sou o quê, afinal? - Interrompeu Sabrina com a voz a tremer. -Um brinquedo? Um capricho? - Deixou escapar uma gargalhada seca. -Alento para as mulheres cansadas dos seus homens? Um escape?

            -Não digas isso...sabes que não é nada disso. - Fedra exasperou-se.

            -Mas é o que parece. - Gritou Sabrina já sem filtro. - Vocês voltam sempre para eles. Para a vossa vida direita, normal, a que se pode mostrar para o mundo nos jantares e nas fotografias. E as idiotas como eu, ficam com o resto, as migalhas e acabam sempre por ouvir a frase clichê...foi bom enquanto durou.

Fedra tentou mais uma vez dizer alguma coisa, mas era impossível. Sabrina destilava as mágoas, inseguranças, medos de uma vida inteira. Era como se o abandono, o sentimento de não ser suficiente, tivesse encontrado voz.

            -Tu não entendes, Fedra, mas a verdade é que eu não sei o que somos, ou fomos...eu nunca soube. - A voz começava a falhar. - Eu só sei que isto tudo me consome. Cada vez que desapareces eu desapareço contigo. Fico à espera de uma mensagem tua como quem espera o ar e eu odeio sentir isso, ODEIO.

Fedra ficou em silêncio. Do outro lado só se ouvia a respiração de Sabrina, rápida, descompassada. Ouviu um clique seco. Fim da ligação.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 20 - Capitulo 20:
mtereza
mtereza

Em: 17/11/2025

Esse momento tinha que acontecer não tinha como fugir.  Impressionante como essa Lúcia consegue ser maldosa aff. Tomara que Fedra e Sabrina se acertem logo 

Responder

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HelOliveira
HelOliveira

Em: 16/11/2025

Eita que Sabrina colocou todas as dores pra fora....o veneno de Lúcia entrou pelas veias....

Fedra agora vai ter que aparecer de surpresa para a Sabrina...precisam de uma conversa bem aberta

 

Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 15/11/2025

Ai ai

Desandou! 

A cabeça dura da Sabrina nem para ouvir Fedra!

Lucia conseguiu! Que mulherzinha duzinferno!

Na boa, NH! Lúcia gosta da Sabrina ou é só é uma mulher invejosa?

Espero que Fedra bata na porta de Sabrina para esclarecer tudo

 

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