Capitulo 6
-Vou pegar emprestado algumas coisas do acervo da tia Ana para a nossa celebração. - Anunciou como quem comunica algo ilícito e caímos na risada.
-Vinho, por favor. Pelas caixas dá para ver que a tua tia tem bom gosto.
-Ah, podes ter certeza. Ela é cheia de mania, mas aguenta-se bem nas canelas. Sabrina, o que achas de uma celebração com vinho, chocolates finos e...pipoca?
Mais uma gargalhada com a pose dela. Como era bom vê-la aliviada e de sorriso aberto.
-Então? Parece-te bem? Sabrina, por onde andas?
-Aqui! Bem aqui e sinceramente, que bom que é estar aqui. - Ah segurar-me para quê? O momento merecia todas as minhas extravagâncias.
Ela ergueu-se do meio das caixas e caminhou até onde eu estava. A distância era mínima e meu coração agitou-se o que me deixou nervosa. Só podia ser efeito da boa notícia.
-Vamos ser felizes? - Nas mãos tinha uma garrafa de vinho muito bom e duas tabletes de chocolates maravilhosos e eu fiquei presa no olhar brilhante e que quase entrava em mim. O sorriso dessa mulher é um pecado...escancarado, de lado, de leve...pecado...
-Vamos! O que achas de ficarmos no deck? A lua reina majestosa, um presente dos céus...
-Claro! -Ela correu para fora da casa e eu me senti inebriada. Respirei fundo.
O vinho era uma explosão de aromas bons na boca, que até eu que não era uma apreciadora nata, me rendi. Abrimos a segunda garrafa e com certeza mais da metade da primeira foi apreciada por mim. Vinho com chocolate, pareceu-me coisa de filme romântico...ah, claramente eu já não estava no meu juízo perfeito.
-Ei, não é justo, só eu bebo...- sorri e ela me olhou de uma forma diferente. - Se não me falha a memória, tu eras apreciadora de bons vinhos...
- Ainda sou, mas é que durante um bom tempo eu perdi o paladar. Não discernia gosto de nada...nem do meu bom vinho...perdemos tanta coisa pelo caminho...
-Que vão ser recuperadas com o tempo, não é?
-Sim...aos poucos sim...o vinho é bom. - A expressão dela suscitou-me algumas dúvidas se realmente tinha sentido o gosto do vinho. - E as pipocas? - Sorriu.
-Ah, a casa é da tua tia...vá lá. Eu amo pipocas!
Ela riu alto e me olhou como quem esconde uma travessura.
-O que foi agora, Fedra?
-Eu não sei fazer pipocas!
-Hã? Como assim? Todo mundo sabe fazer pipocas!
-Todo mundo menos eu...ficam sempre queimadas ou eu me queimo. Trauma de infância da minha filha porque a mãe dela nunca acertava a mão na pipoca.
Foi minha vez de rir. Ainda achava que era brincadeira dela, até porque eu nunca sabia quando ela estava a falar a sério ou a goz*r com a minha cara.
-Fedra, é sério?
-Juro por Deus! Só não ligo à Malia para te confirmar porque é muito tarde na Hungria.
Fiz as benditas pipocas e o aroma que inundou a casa me acalmou. Comemos o balde todo em minutos. O paladar dela para pipoca com certeza estava intacto.
-Comi quase tudo...desculpa, mas é que não resisto e tu és perfeita nessa arte. Ah, para mim é arte sim.
Rimos.
-Ainda que não sinta completamente o gosto, mas o ato de comer pipoca e as memórias ajudam bastante.
-Vou fazer mais...estou com fome.
-Meu Deus, como é que eu te arrasto para uma loucura dessa e ainda não te alimento bem? Vamos ter de marcar um jantar por minha conta e recheado de delícias.
-Vamos! - Concordei animada. - Mas eu adorei o vinho, o chocolate...meu Deus, e a pipoca que quase não comi. - Gargalhadas.
-Vai ter de ficar para a próxima vez que vieres à Praia e se eu tiver o privilégio de te ver.
- Para, não te deixes corromper pelos exageros da Glória...
Gargalhadas.
- Tu nem precisaste me convencer a vir passar o dia no interior.
- E a noite também, não sei se já notaste.
Mais uma sonora gargalhada.
- Pois é...não estava nos meus planos, mas de vez em quando agir por impulso pode ser muito bom.
- As metódicas e centradas quebrando regras. Lembras que eu sempre questionava como é que perdíamos a linha nas saídas à noite e no dia-a-dia eramos o oposto.
-Perder a linha também é um bocado de exagero da tua parte...dançávamos...
-Até cair...até ao amanhecer...e sempre queríamos mais...eu, principalmente.
Gargalhadas.
-No auge da nossa dupla, eu estava na merd*, vivendo um relacionamento com um imbecil casado e eu mais imbecil ainda, acreditando nas mentiras dele e fazendo planos...
-Hum-hum...lembro-me dessa fase...- O amante dela na altura foi minha salvação para não correr o risco de perder a amizade...
-Vou confessar-te uma coisa e nem vou pedir que não rias...
Desatei a rir.
-Estás a ver...tu sempre ris das minhas maluquices...
-São tão poucas...Mas dizias...
-Naquela época, eu fantasiava que eras a fim de mim...era uma espécie de afago ao meu ego ferido. Quando o idiota não podia se encontrar comigo, quase sempre, eu me consolava com a ideia de que ia sair contigo e que eras muito mais interessante e tinhas desejos por mim...vês o tamanho da minha loucura?
-Meu Deus, eu fui usada. - Levei as mãos à boca, fingindo-me ofendida e rimos muito.
-Minha vida sentimental sempre foi muito louca...desde o pai da minha filha...eu não me lembro de ter tido um relacionamento saudável. Demorei a entender isso, mas hoje eu sei...eu me culpo, mas a terapia me leva a ver outras nuances...
Quase perguntei pelo relacionamento atual dela, mas ainda restava algum resquício de quem eu era, uma boa ouvinte e concentrei-me no que ela relatava...
-Tu apareceste na minha vida num momento tão oportuno...eras tão leve, livre, espirituosa, tinhas o dom de me fazer sentir especial e alinhavas em todas as minhas loucuras.
-E a senhora fantasiava que eu queria algo a mais do que dançar até cair de cansada. - Brinquei, mas a verdade era que queria saber mais.
-Eu me sentia desejada, coisa da minha cabeça, mas quando ficávamos juntas até de manhã e foram tantas vezes, eu dizia a mim mesma, quem perde é o idiota...eu pensava que era péssima companhia, que não tinha nada de interessante e quando amanhecíamos juntas e parecias estar sempre tão feliz eu...
-Eu sempre estava...até quando a senhora insistia em comer catxupa guisada às 6 da manhã em lugares bem duvidosos.
Rimos tanto.
-Ok, já entendi que estou duplamente em dívida com a senhora, pelo jantar de pipocas e pelas inúmeras catxupas e tantas outras coisas duvidosas. Estás convidada a um jantar lá em casa ou onde quiseres. Ah, não sei fazer pipocas, mas tenho fama de lidar bem com panelas e ingredientes...dos simples aos mais sofisticados.
-Ah para...fiquei com água na boca...imagina um filé com molho gorgonzola e batatas assadas no alecrim com este vinho. Eu quero, Fedra. Quero muito!
-Fiquei com vontade também...vais ter...fica a promessa...
Comemos mais pipoca e eu segui no vinho. Ela bebia pouco, mas tentava me acompanhar. Além do vinho ser muito bom, eu bebia para aumentar aquela sensação de torpor. Minha mente flutuava...há muito tempo não me sentia assim.
-E se eu estivesse a fim de ti há 10 anos? - Claramente o vinho já tinha desinibido mais da metade da minha fala.
-Mas não estavas! Era coisa da minha cabeça... Tu nunca demonstraste nada e sempre foste muito clara sobre ser lésbica, ou seja, se não davas em cima de mim era porque eu não te atraia...
Eu precisava controlar a minha boca ou parar de beber vinho. E ainda tinha o olhar dela sobre mim...
-Se por ventura estivesse...- Porr* Sabrina, cala a boca.
-Eu nunca teria coragem, ainda mais que tinha aquele relacionamento torto e eu não sei viver duplamente. Mantendo-me fiel a um imbecil que era casado, como eu não me orgulho disso.
-Fases, meu bem. Eu sempre digo que ganhamos experiência e se for tudo muito horrível, aprendemos sobre o que não queremos.
-Preciso aprender a ter esse olhar sobre alguns episódios da minha vida. Ainda me martirizo sobre algumas escolhas, mas confesso que melhorei muito depois de passar por situações que realmente poderiam ser irreversíveis.
Houve um breve silêncio e eu fiquei tentada a deslizar meu braço até ela, fazer um carinho, tirar qualquer dor que pudesse afligir aquele coração...
-Mas estavas a fim de mim?
Assim, num rompante. Mas ainda me restava algum resquício de habilidade em sair ilesa...
-Como vou saber? Foi há tanto tempo...
Ela riu muito e eu me controlei para me manter neutra. Queria dizer tanta coisa...
-Bela saída pela tangente. Ela é inteligente e eu sei e adoro essa faceta.
Rimos.
-Vamos dançar? - Mais um rompante e ela era cheia deles.
-Agora?
-Claro! - E já me arrancava do chão. - Já viste alguma celebração à vida sem dança?
-Meu Deus, Fedra...não danço há tanto tempo...já nem sei como se dança...
-Impossível! Fomos rainhas das pistas, amor, rainhas nunca perdem a majestade. Só temos esse momento e porque não aproveitá-lo da melhor forma?
-Vamos...fazer o quê? Tu me convences de cada uma...
Com o telefone na mão, o ambiente foi envolvido por uma música que eu não me lembrava de já ter escutado.
-Vem! - Ela me agarrou e deslizamos pelo deck. Que delícia!
-Não conheço essa música...- Precisava falar para desviar a atenção do cheiro do cabelo dela. Eu e o meu fraco por cheiros bons...
-Dodu, Dieg...eu só fico a par dessas modernices pelos meus primos mais jovens e pela minha filha. Adoro!
-Muito boa mesmo!
Ela me rodopiou e voltou a prender-me nos seus braços. Nossos quadris se encaixavam na perfeição. Tudo se encaixava num ritmo delicioso. Dançamos Dodu no repeat por sei lá quantas vezes e eu fui bebendo vinho e ela bebericando da minha taça. Eu já flutuava por outras galáxias...
-Eu não posso beber mais...- Levou a mão ao peito arfante ficando ainda mais atraente se tal fosse possível.
-Pode deixar que eu bebo por nós duas. - Respondi sem medir qualquer consequência das minhas palavras.
-E que mais podes fazer por nós duas?
Além de ofegante e muito atraente ela ainda tinha a ousadia de me engolir com um olhar carregado de coisas que talvez fossem fruto da minha cabeça embriagada de vinho. Respirei fundo tentando recuperar algum senso.
-Juízo, podes ter por nós duas? - O tom baixo, quente, quase sussurrado...
Meus olhos presos na taça de vinho ergueram-se e encontraram os dela. Com uma força que nem eu sabia que tinha, fui impedida de voar nela. Sim, queria voar nela como uma predadora e devorá-la. Que loucura! O discurso de Glória atingiu meu cérebro como uma flecha...ela nunca cairá na tua lábia...ela é hétero...não a faças sofrer...
Rodopiamos de forma frenética pelo deck até que ela caiu sentada no parapeito de uma das janelas da casa. Experimentei um vazio quando nossos corpos se desgrudaram, mas foi por segundos porque corri logo para junto dela. Fiquei com receio que ela pudesse ter sentido alguma coisa...
-Estás bem? - Ajoelhei-me junto dela.
-Hum-hum...
Vi lágrimas nos seus olhos e mais uma vez experimentei aquela sensação de redemoinho por dentro.
-Acho que fiquei tonta de felicidade...meu dia hoje foi uma montanha russa de emoções. Fui do desespero ao mais completo deleite...a espada saiu de cima da minha cabeça e dancei...revivi momentos tão bons...eu estou tão feliz, Sabrina...feliz...
Ela chorava e sorria ao mesmo tempo e eu não resisti. Colei meus lábios aos dela. Não foi um beijo intenso. Foi um toque de lábios. Precisava senti-la na minha carne. Ela respirou mais fundo e me afastei, mas ainda estávamos muito próximas. Ela olhou fixamente para a minha boca que estava entreaberta e com certeza clamava por um beijo. O toque suave da língua dela na minha causou-me um torpor que não sei como não desfaleci. A boca dela, a forma como tocava a minha, ah, nem nos meus devaneios de anos atrás eu imaginei tamanha perfeição. E a respiração dessa mulher? Com certeza era um convite para arrancar toda a roupa dela e...eu respirei fundo e me controlei para não a agarrar com a fúria que me vinha das entranhas. Nossas bocas dançaram sincronizadas e nossas línguas pareciam se reconhecer. Quem estava tonta agora era eu, tonta de um desejo insano de sorver até a última gota daquela mulher. Um alvoroço com um mero encontro das nossas bocas, nenhum toque a mais. Que loucura! Despertei, precisava despertar. Nada daquilo estava nos meus planos e muito menos sentir tanta coisa...desejo louco, vontade de passar horas me deliciando naquele corpo...fiz menção de sair dali, mas não devo ter sido tão convincente. Ela me olhou, o olhar tinha doçura, curiosidade e desejo escancarado e...calma. Tive uma vontade tão doida de abraçá-la, mas não tive tempo para tal. Ela beijou uma das minhas mãos com uma ternura à qual não estava acostumada há sei lá quanto tempo. Com uma naturalidade que me deixou desconcertada, ela desceu do parapeito da janela e entrou em casa.
-Sabrina, precisamos dormir. Viste as horas? A senhora está de férias, mas eu trabalho amanhã cedo...daqui a pouco para ser mais exata. Passa das duas da manhã...
Assim, numa tranquilidade, como se não tivéssemos nos devorado num beijo maravilhoso há segundos atrás. Dormir? Com ela? Claro, Sabrina, onde mais? Eu sou controlada! Eu sou controlada! Eu sou muito controlada!
-E vamos deixar a casa da tua tia nessa bagunça? - Precisava ganhar tempo.
-O que sugeres? Que arrumemos a pouca bagunça a essa hora? A fama de exagerada com a perfeição é minha. - Ela riu com as mãos na cintura e eu quase perguntei se ela não queria continuar o que estávamos a fazer no parapeito da janela. Que mulher sexy é essa Fedra e que doida que eu sou.
Atordoada, mas tentando disfarçar muito bem, comecei a arrumar copos, taças, e tudo mais que estava por ali fora do lugar.
-Sugiro que utilizemos o sofá-cama para dormir para não desarrumar o único quarto funcional da casa. A senhora arrumou tão bem e eu não estou com vontade e nem tempo de tentar fazer algo parecido...o que te parece?
A naturalidade dela ainda me enlouqueceria. Mas, graças aos céus, meus mais de quarenta anos serviam para muita coisa e uma delas era disfarçar meus reais estados de alma. No caso nem era a alma, era o corpo mesmo que latej*v* por toques profundos...
-Claro, faz mais sentindo. - Segui arrumando as coisas e não olhei para ela. Meus olhos me trairiam e minha respiração entrecortada também.
-Sabrina, eu já me deitei. Daqui a pouco preciso estar de pé. Deixa essas coisas para lá...- Ela resmungou do sofá-cama e eu continuei inventando o que fazer.
-Ah, mas eu não deixo nada para amanhã que possa fazer hoje. - Juro que não foi duplo sentido, mas o olhar dela me deixou levemente envergonhada.
-Ok...a cama cabe nós duas, quando quiseres...
Respirei fundo e fingi que não ouvi nada. Ela tinha a mania de me confundir e não era de hoje. Provavelmente eu estava a ver desejo sexual onde existia uma bela amizade. Mas uma coisa não excluía a outra. Arrumei tudo e saí para o deck. Não havia a menor condição de me deitar ao lado dela com aquele fogo todo me consumindo...
Sentada ali com o silêncio quebrado apenas pelo barulho das folhas das árvores e tendo a lua como testemunha, eu me senti num universo paralelo. Tive a impressão que tinha uma versão minha vivendo a minha vida comum em algum lugar e havia essa versão que tinha uma capacidade de sentir coisas tão intensas e confusas e ao mesmo tempo instigantes. Cheguei a pensar se não estaria a sonhar. Tudo parecia tão fora de contexto...desde o primeiro encontro em que quase não fui. A sensação era que nos tínhamos visto no dia anterior ao reencontro e não que tinham se passado tantos anos. Mas isso tudo não me dava o direito de fantasiar, aliás, desde quando eu voltara a fantasiar? Não me dou a devaneios há muito tempo, ainda mais depois do solavanco que levei da vida por me envolver com aquela filha da...
O ranger dos meus dentes me obrigou a entrar em casa. Com certeza, ela já dormia há muito tempo. Olhei para o cenário e mais uma vez pareceu-me um sonho. A casa em ordem, ela dormindo no sofá-cama e beijada pelo luar. Tive vontade de agradecer aos meus anjos. E eu que achava que andavam esquecidos de mim...sorri e na ponta dos pés caminhei até ao sofá-cama. Meus pelos eriçados pela baixa temperatura não foram motivo suficiente para eu me mexer à procura de coberta. Se ela acordasse...
-Sabrina...
-Hmmm...- Fiquei alerta, afinal ela ainda estava acordada.
-Acreditas que minha cabeça está às voltas. Ai...- gem*u e eu virei para o lado dela.
-Nem bebeste tanto assim...- Minha voz soava mais terna do que eu queria, ou zelosa, sei lá.
-Não, mas não bebo quase nada há bastante tempo, acho que perdi a mão...
-Tu sempre foste uma grande apreciadora de bons vinhos...
-E tu nem por isso...a doida dos gins e mojitos e caipiblacks e água com gás. Mas já bebemos alguns bons vinhos juntas...
-Sim, porque tu me convences sempre a fazer o que tu queres, já eu nem tento porque já sei que vou perder.
Rimos tanto que nos aproximamos além do que seria prudente para mim.
-Tive um dia com tantas emoções...acho que agora o cansaço bateu forte...- A voz dela cansada, soando quase como um sussurro e eu perdendo a luta.
- O cansaço em ti e frio em mim, não me lembrava que o interior é tão frio...- tentava arduamente manter um tom neutro.
- Ah, as madrugadas por aqui podem ser tensas...- Riu da minha careta. - Tem coberta.
-Tu não tens frio?
-Estou tão anestesiada, feliz...acho que não consigo sentir frio...- A voz continuava um sussurro e eu tentava me concentrar no frio.
-Mas estás toda arrepiada...
-Sim, estou arrepiada...
-Vem cá! - Puxei-a para mim e ela se aconchegou no meu peito. Eu devo ter parado de respirar por algum tempo. Surreal! Com a ponta do pé, puxei a coberta e cobri a nós duas. Que sensação boa.
-Não é melhor assim? - Eu estava em êxtase.
-Não...
-Não? - Não controlei minha frustração.
-É tão bom que eu tenho medo de me viciar.
Rimos baixinho e meu coração pareceu soltar um calor que atingiu meu corpo inteiro. Beijei a cabeça dela vezes sem conta e ela se aninhou ainda mais no meu colo.
-Precisamos dormir, nem que seja por uma hora...eu tenho trabalho...a senhora está de férias, eu, nem perto disso...
Ri-me e apertei-a ainda mais contra o meu corpo. Que loucura maravilhosa aquela mulher tinha-me proporcionado. Ainda não sabia ao certo se era verdade ou delírio, mas era bom...
***
A viagem de regresso à Praia seguia num silêncio que mais uma vez não era constrangedor. Eu ia perdida nos meus pensamentos e o que mais martelava a minha mente era o porquê de ela me ter escolhido para estar junto num dia tão importante. Por que eu? Não fazia parte da vida dela há tanto tempo...e ela tinha amigas boas, família muito próxima...
Ela dirigia tão concentrada e absurdamente linda. Por instinto coloquei uma mão na perna dela. No mesmo instante ela colocou sua mão sobre a minha e assim seguimos até que precisou fazer uma manobra e soltou-se.
-Foi muito bom ter estado contigo. - Expressei o que ia no meu coração e foda-se os filtros todos.
-E quase perdes essa oportunidade maravilhosa com a tua antipatia inicial.
Rimos tanto.
-Eu não acreditava que pudéssemos nos conectar tão bem...foram tantos anos...somos outras pessoas...- Eu devaneava.
-Mais maduras, quem sabe um pouco melhores, mais experientes, então por que não nos conectaríamos?
- É, tens razão, é que sou um bocado descrente...- A verdade é que venho me blindando para não me frustrar...
-Acho que vives muito na defensiva e não eras assim...
E ela me lia. Sim, experimentei um leve desconforto. Odeio me sentir vulnerável.
-Meu charme! - Pisquei o olho e ela sorriu de um jeito que me deixou sem entender e completamente rendida.
Num lampejo de discernimento, me vi no bairro da Glória e à frente do prédio dela.
-Chegamos!
-E tu ainda vais a tempo de tomar um banho e ficar apresentável para encarar o trabalho...
-Estou fedida? - E começou a se cheirar arrancando risadas minhas.
-Nossa, nem sei como fiquei grudada em ti a noite toda. - As coisas que eu dizia. Ah se eu pudesse ficar mais algumas horas grudada naquela pele deliciosa...
Rimos muito e tive a impressão que ela ficou levemente ruborizada. Mas eu já não sabia o que era real do que era loucura da minha cabeça, então...
-Muito obrigada por ter embarcado na minha doideira. Foi muito mais leve contigo ao meu lado. - Respirou fundo e me encarou com intensidade. - Vê lá se não somes!
-Mais 10 anos sem saber de mim...e ela morre...
Rimos às gargalhadas.
-Viajas a que horas?
-Às 17hs no aeroporto...
- E tens planos para voltar para cá em breve?
-Ainda nem fui e já estás morta de saudade. - Brinquei.
-Estou bem viva e a culpa é tua.
O tom de voz, a intensidade do olhar...eu precisava correr dali antes de cometer uma loucura.
-Vê lá se não despareces e atende o telefone...
-Pronto, lá vem a Glória fazendo escola. Tu nunca me ligaste...
-Segundo a Glória, tu nunca atendes e estás sempre cheia de pressa...assim fica difícil manter uma amizade à distancia...
-Tenta, quem sabe não me pegas num dia bom.
-Abusada!
Rimos muito e notei que o telefone dela tocava mais uma vez.
- Se fores a São Vicente...
-Ah, mas nem imagines nada diferente do que uma chata colada no teu calcanhar.
-Eu vou saber retribuir...
O telefone voltou a tocar e era a dica para eu descer daquele carro.
-O trabalho não para...boa viagem. - Ela apertou uma das minhas mãos entre as suas e depois beijou. Fiquei sem respirar. Estava virando mania.
-Obrigada...bom trabalho.
-Não desapareça...ah, mas eu te acho. Tchau e boa viagem.
Desci do carro e ela acelerou para longe.
Fim do capítulo
Bom fim de semana.
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mtereza
Em: 07/09/2025
Ja totalmente envolvida e encantada com a história de Sabrina e Fedra
Nadine Helgenberger
Em: 07/09/2025
Autora da história
Que bom! Bjs e muito obrigada.
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Dandara091
Em: 30/08/2025
Alô autora!
Negritude na área, bonde das preta dominando a parada! Demorou mas empretou! Nadine no comando e as invejosas vão pra vala pra não ver!
Maratonei pra te acompanhar mas tô aqui. A musa chegou na hora certa.
Tô chifruda! Tratava minha preta na moral, dava condição e só beiçada de responsa! Mas a maluca partiu com o pastor da igreja. Mandou um fui e me deu um pontapé no rabo.
Tô pra baixo com a negritude amarelada. Nadine me socorre com esse conto!
#Tomeichifrenasparada
#Amusavoltou
#Ressuscitanegritude
Nadine Helgenberger
Em: 31/08/2025
Autora da história
Eita que ela voltou! kkkkkkk
Hoje nao estou em condições de reagir à altura. Estou com cólicas horrorosas, calor dos infernos e vontade de fugir para o Alaska...enfim.
Muito feliz que tenhas aparecido por cá. Adoro os teus comentários e força aí no chifre (nem sei se é verdade ou tuas loucuras) kkkkkkkkk
Bjs e e muito obrigada.
Dandara091
Em: 31/08/2025
Alô Autora!
Cólica menstrual ninguém merece! Que tanto calor é esse minha musa? Nem aqui no Rio que é o diabo passa férias não tá quente assim! Nunca fui no Alaska e nem quero. Como ia fazer meu churrasco na laje naquela porra gelada? Negritude é tropical tá ligada?
Tô chifruda sem caô! A preta chafurdou no brejo por tanto tempo mas foi pra igreja e descobriu que era pecado. Aí sentou no colo do pastor e me jogou na vala!
Me arruma uma gata nesse conto? Hoje em dia só as sapinhas de conto é que sapateiam na categoria tá ligada?
#Táfaltandosapaseria
#Éacrisenobrejo
#Musamesocorre
Nadine Helgenberger
Em: 07/09/2025
Autora da história
Kkkkkkkkkkkk nem tinha visto esse comentário. O fim do verão por aqui está on fire, literalmente.
Com exceção da Fedra e da Sabrina, as outras personagens estão soltas na pista kkkkkkkk, joga o teu charme, quem sabe...
É, não está muito fácil sapatear kkkkkk
Bj e apareça sempre por aqui
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HelOliveira
Em: 23/08/2025
Amei mais esse capítulo, leve, gostoso e uma interação linda delas ...
Nadine Helgenberger
Em: 31/08/2025
Autora da história
Olá,
Muito obrigada.
Bjs
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NovaAqui
Em: 23/08/2025
Que capitulo delicioso
Elas interagindo nessa harmonia toda foi gostoso demais
Como é bom ler suas histórias
Obrigada por compartilhar com suas leitoras do Brasil
Beijão procês aí nessa sua Terra Linda
Nadine Helgenberger
Em: 31/08/2025
Autora da história
Olá,
Muito obrigada.
Bjs para ti tb
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MalluBlues
Em: 23/08/2025
Capítulo maravilhoso! Quero maaaaais! ?
Nadine Helgenberger
Em: 31/08/2025
Autora da história
Olá,
Mais a caminho rsrs
Muito obrigada.
Bjs
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brunafinzicontini
Em: 23/08/2025
Uau!!! Que noite! Inesquecível! Fedra - simplesmente encantadora - quase deixa Sabrina maluca, em luta para se conter! Uma atração arrasadora! Isso não pode simplesmente acabar assim...
Meu Deus! Os próximos capítulos prometem...
Bom fim de semana, querida! Grande abraço,
Bruna
Nadine Helgenberger
Em: 31/08/2025
Autora da história
Olá Bruna,
Muito obrigada. Acho que prometem sim rsrs
Bjs
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