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Depois eu te conto... por Nadine Helgenberger

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Palavras: 4615
Acessos: 827   |  Postado em: 31/08/2025

Capitulo 7

 

Entrei em casa e logo percebi a ausência de Glória. O plano inicial eram passarmos o dia todo juntas antes da minha viagem. Confesso que precisava organizar a minha mente e meus sentimentos baralhados antes de imergir na intensidade da minha amiga. Às vezes era difícil encadear assuntos tamanha era a correria com que ela pulava de um tema a outro.

Salma estava atarefada limpando a varanda e com auscultadores no ouvido, nem percebeu a minha entrada. Precisava de um banho da cabeça aos pés e foi isso que fiz.

Sentei-me no escritório de Glória sem saber ao certo o que fazia. Tinha uma música tocando, provavelmente do computador dela que estava ligado e me deixei embalar. Flashes do meu dia insólito me vinham à mente, ora sorria, ora franzia a testa. A única certeza que tinha era que apesar de não entender muito bem aquele enredo todo, ele me deixara feliz. Gosto quando as coisas me surpreendem...dei-me conta que tudo é tão cronometrado na minha vida. Tenho alguns medos que prefiro sempre saber exatamente onde estou a pisar. Mas a vida pode ser tão maravilhosa quando vemos apenas um degrau da vasta escada...voltar a estar tão próxima da Fedra, fez-me rever conceitos, revisitar uma Sabrina que eu julgava esquecida num canto escuro da minha alma. É claro que não posso querer ser a mesma mulher dos anos em que estivemos mais próximas. Os compromissos eram outros, as responsabilidades também, mas será que precisava enjaular uma parte minha tão instigante? Ah, não encontraria resposta alguma porque tudo me parecia confuso demais...confuso e atraente. Ri da minha própria inconstância.

            -Dona Sabrina? A senhora chegou e eu nem percebi. Meu Deus, se fosse um ladrão...-Benzeu-se.

Girei a cadeira lentamente e sorri para Salma. Não queria sair daquele meu momento de devaneio, mas a realidade gritava.

            -Estavas com fones nos ouvidos e não quis incomodar-te...

            -Se fosse a dona Glória eu teria ouvido poucas e boas, mas quando eu fico sozinha nessa casa, a música é minha única companhia.

            -Fazes bem. Eu também não vivo sem música. Musica para tudo na minha vida! - Sorri.

            -Dona Glória deixou um recado para a senhora. Ela disse que o seu telefone não funcionava.

Dei-me conta que tinha o aparelho desligado há muitas horas. Se bem me lembro, desliguei-o mal entrei no carro da Fedra...

            -Ela mandou avisar que infelizmente por conta de imprevistos no trabalho, não vão poder passar o dia todo juntas. Aconteceu alguma coisa lá que não entendi muito bem, mas o recado é esse, ah, mas que ela virá para casa a tempo de levá-la ao aeroporto.

            -Ok! - Que minha amiga não me ouvisse, mas era exatamente o que eu precisava, silêncio e ficar com meus pensamentos.

            -Vamos tomar café? Eu ainda não tomei e faço-lhe companhia.

            -Hmmm? - Não ouvi uma única palavra.

            -Dona Sabrina, a senhora passou a noite acordada? Parece que está meio adormecida, ou será que encontrou algum tesouro no Tarrafal? Sei lá, está estranha...

            -É fome, Salma, e nem fui ao Tarrafal. Houve uma mudança de planos e fui com uma amiga a São Miguel.

            -Ah, terra muito boa. O pai do meu segundo filho é de lá. A senhora gostou? Já conhecia?

            -Conhecia Calheta, mas fomos lá mais para dentro e adorei.

            -A senhora foi bem tratada? A sua amiga é de lá?

            -Eu fui muito bem tratada. Por mim, ficaria mais algumas horas por ali...minha amiga é de cá, mas ficamos em casa de uns parentes...

            -Não me chame de atrevida, nem sei se deveria dizer isso...

            -Salma, diga! - Sorri para não a intimidar, mas eu sabia ser persuasiva.

            -A senhora poderia passar mais alguns dias por aqui. Noto que voltou mais feliz desse passeio, a dona Glória está muito contente. Porque não fica?

Não disse nada. Queria ouvir mais dos argumentos de Salma para solidificar ainda mais a minha decisão.

            -A senhora tem filho pequeno? Marido? Pais idosos que dependem da senhora?

            -Não! - Ri das indagações sensatas de Salma. - Só tem o meu trabalho...

            - Ah, mas ouvi da dona Glória que a senhora só recomeça na próxima semana.

            -A Glória fala demais...

            -Não foi fofoca com o seu nome, ela apenas estava a falar sozinha como sempre faz...

Sorri porque sabia que aquela era uma mania de Glória. Fazia as perguntas e ela mesma respondia.

            -Ela quer tanto que a senhora prolongue essa curta estadia. Quando está cá, ela fica mais calma, quase não grita comigo e com a Malú.

            -Vou pensar, mas depois de comer.

 

***

No silêncio do meu quarto, minha cabeça dava voltas sem fim e eu não chegava a nenhuma conclusão plausível. Essa minha mania de problematizar tudo muitas vezes me angustiava. Menos mal que o estômago estava acalentado, sim porque problematizar com fome seria trágico.

Fedra era muito diferente das mulheres às quais estava acostumada, pelo menos dessa minha última safra. Todas sempre muito objetivas e sem tempo a perder. Ou será que era eu que agia assim e, consequentemente, atraía as companhias perfeitas? Eu não queria saber de nada que demandasse muito do meu emocional, mas não abria mão do prazer. Tentei lembrar o que lá atrás me atraiu nela, mas só conseguia lembrar do óbvio, a beleza física. Ela é bonita e o charme maior reside num equilíbrio maravilhoso entre seriedade e loucura. À primeira vista, ela é um poço de seriedade, beirando a arrogância, mas se o gelo é quebrado...

Nos demos bem desde sempre. Fantasiei tanto antes de termos intimidade, que depois passei a conter meus ímpetos mais carnais e realmente nos tornamos boas amigas. Ela não era a amiga a quem eu ligaria na madrugada caso estivesse na merd*, nosso elo era outro, mas não sei explicar qual era...

De olhos fechados fui parar no beijo que dei nela num momento em que me deixei contagiar por sua alegria. Mais uma vez tive a sensação que meu coração esquentava e que ondas de calor invadiam meu corpo todo. E quando ela me beijou...respirei fundo, e determinada abri o site da companhia aérea.

***

Um pouco mais tarde, e sem que tivesse conseguido descansar, resolvi tomar um café na cafeteria da livraria da esquina. Na verdade, eu queria era abstrair de alguns áudios exagerados de Lúcia. Ela que tinha como uma característica peculiar, um controlo subtil da vida dos mais próximos, exagerou no teor dos áudios, "será que preciso chamar a policia? Sabrina, não brinques com coisas sérias! Espero que não tenhas cometido nenhuma loucura."

Que loucura? Desde quando eu era pessoa de cometer loucuras? Pelo menos não esse tipo de loucura, ah sim, porque Lúcia imaginava sempre o pior. Chamar a policia? Tive vontade de rir. Eu ria dos exageros dela, ainda que vez ou outra eu me questionava se ela teria razão...quase derrubei a xícara de café sobre o meu livro com a vibração do telefone. Lúcia, respirei fundo e atendi.

Criatura, eu já nem sabia mais o que pensar...estás bem?

Boa tarde, estou ótima! Curtindo minhas férias...

Não te sabia assim tão ansiosa por férias...

Pois é, nem eu sabia que precisava tanto descansar.

Muita gente nova ou os amigos de sempre?

Ah, tu sabes da minha pouca habilidade para conhecer gente nova...estou mais focada em descansar. Tudo bem por lá?

Tudo, mas ficará melhor quando voltares. Tenho a impressão que o pessoal anda um bocado perdido...

Achei muito engraçada a colocação dela, uma vez que eu não liderava ninguém.

Hmm, daqui a pouco eu volto...

Sem muita paciência para mais reclamação, omiti que tinha alterado a passagem. Mais 3 dias na Praia não causaria nenhuma catástrofe na empresa e eu estava de férias.

Não sei se meu tom de voz a dissuadiu de continuar naquela ladainha, mas o fato é que mudou de assunto. Eu gosto muito da Lúcia e sou eternamente grata por tudo que ela fez por mim, mas às vezes lidar com ela demanda muita paciência, ou como diria Guima, só fingindo demência. Rindo das minhas conjeturas, enviei uma mensagem à Glória informando da minha decisão de ficar mais alguns dias.

 

***

            -Sá, acorda mulher. Sabrina, ah meu Deus, essa mulher está capotada. Sabrina, acorda.

Levei algum tempo a entender onde estava, mas a figura de Glória puxando o lençol da cama fez-me rir.

            -Onde é o incêndio? - Virei para o lado oposto e abracei uma almofada.

            -Criatura, não alteraste o voo para ficar enfiada nessa cama. Ah, eu adorei a noticia, só não dei pulos de alegria porque estava rodeada de gente chata e poderosa.

Já sentada na cama, ri com vontade.

            -O Guillaume fez anos e temos uma festinha num spot maravilhoso e que ainda não te apresentei. Vais adorar e além do Gui que é maravilhoso, vai ter muita mulher bonita e descomplicada. Estarás no céu, desde que não inventes defeitos.

Soltei minha melhor gargalhada.

            -É a tua chance de não voltar para casa sem uma história tórrida para contar. Ah Sabrina, pelo amor das Deusas, mude de ares, mude daquelas mulheres de quem até eu já estou cansada.

Claro que eu não parava de rir.

            -Quais mulheres? Criatura, eu só trabalho e disso também reclamas o tempo todo.

            -Os contatos esporádicos que a senhora tem no telefone, aquela, cujo nome não lembro agora, mas que é mais recorrente...ah, Sabrina, não és a maluca que poderias ser, mas estás longe de ser santa. Eu só acho que estás enferrujada, sei lá, parece feitiço.

            -Ah não...- Ri até saírem lágrimas dos meus olhos.

            -Vamos para a festa, ou vais ficar enfiada nesse quarto escuro?

            -O Guillaume me convidou? Ele nem deve lembrar de mim...

            -Se não lembrasse, com certeza a culpa não seria dele. Sim, senhora, foste convidada e não é nada formal. Vamos lá tomar uns drinks e comer bolo...ah e circular.

Gargalhadas.

            -Preciso aproveitar que a Malú está com o pai. Quando essa menina está comigo, eu giro como uma montanha russa, mas é tudo em função dela.

            -É para já?

            -Tens meia hora para desamassar essa cara de sono e entregar muita beleza. Ai que empolgação.

E saiu pulando pelo corredor e eu agradeci por ela ser esse ser intempestivo. Nem se lembrou de me perguntar como eu tinha passado no Tarrafal e não precisei mentir, ou inventar histórias. Eu não entendia o que se tinha passado com a Fedra e não queria ouvir palpite de ninguém. Precisava organizar as ideias. Precisava...o que precisava mesmo era controlar a vontade doida de saber dela. Meus dedos coçavam para enviar uma mensagem, o que caracterizava alguma incoerência com quem eu era...

 

***

Acho engraçado como as coisas que não me parecem muito atraentes num primeiro momento, logo se revelam excitantes. Demorei a embarcar na efusividade de Glória para essa tal festa, mas não é que estava boa. Além do Guillaume que conhecia bem, encontrei outras pessoas interessantes e sim, a Glória estava certa, o que não faltava era mulher e de todos os tipos. Tinha uma em particular bastante objetiva e eu fingindo interesse para não parecer indelicada ou arrogante, sei lá. De tanto a Glória martelar na minha cabeça que eu precisava ser mais flexível, já nem sabia mais como agir nesse ambiente repleto de mulheres. Sem contar que minha cabeça me pregava cada peça. E meus olhos que teimavam em confundir silhuetas...Sabrina, honre teus anos de estrada e não te esqueças das canoas furadas...mantra, eu e meus mantras.

            -Amiga, fofoca: sabe a Mia?

            -Hmmm - Mia era uma mulher lindíssima que estava sempre me rondando e com um sorriso capaz de derreter qualquer coração gelado. - O que tem ela?

            -Ela trabalha com a Fedra. Nossa amiga lidera um monte de estrangeiro, isso não é para qualquer um.

            -Hmmm, que bom...- Só de ouvir o nome Fedra eu já fiquei agitada. Que coisa doida.

            -Essa aí tu só não pegas se insistires nesse teu drama.

            -Qual drama? - Ri da cara dela.

            -Ah, traumas da hétero casada...supera, Sabrina, supera e siga em frente. A Mia é gata, desprendida, belga, ou seja, podes ir morar na Bélgica...

Ri-me às gargalhadas.

            -Podias escrever ficção...que talento!

Rimos.

            -Já que não pegas a Fedra, eu me contento com a subordinada linda dela. Só quero que te divirtas, mulher, e sei que gostas bastante da coisa. Achas a Mia atraente?

            -Respira, Goinha! A Mia é bonita, mas não quero confusão para a minha vida a 2 dias me de ir embora...

            -Confusão? Desde quando uma boa noite de sex* é confusão? Tu que insistes em me confundir quanto a ser lésbica. Qualquer pessoa com tesão, ficaria com essa menina e tu vens falar em confusão. Ah se fosse comigo...

Mais uma gargalhada.

            -Olha só quem chegou, a atrasada e claro que está com Christopher.

Nem desviei o olhar para saber que era a Fedra. Já não precisaria imaginá-la em todas as mulheres daquele evento...

            -Vem, vamos cumprimentá-la. Hoje não soube nada dessa doida.

Fui puxada pela mão e tentei camuflar meu corpo no meio daquele povo.

            -Calma, quase tropecei. - Freei os passos de Glória, precisava ganhar tempo, e se o Christopher fosse o namorado dela? - Quem é Christopher?

            -Ele é o chefe do Projeto que ela trabalha, mas na sede em Bruxelas. Assim como ela, um viciado em trabalho. Quando se juntam, meu Deus, a Fedra desaparece mesmo da face terra.

O discurso de Glória se esvaiu no ar e não retive nada.

            -Olha só quem tomou vergonha nessa cara e decidiu ficar mais dias connosco.

Ela me apresentou como um trofeu, ou fui eu que me senti assim. Pisquei os olhos para clareá-los e entender as nuances dela. O sorriso dessa mulher...meu fraco desde sempre, ah e os olhos que maquiados ainda eram mais irresistíveis. Eram grandes e expressivos e pareciam esconder alguma tristeza. Eram olhos que nos convidavam a um mergulho profundo na alma dela.

            -Que decisão mais sensata, Sabrina! - E sorria me olhando diretamente nos olhos.

            -Não é? Não sei o que ela viu lá no Tarrafal, mas sou grata mesmo sem saber. Tenho minha amiga por mais alguns dias.

Olhei-a de forma mais incisiva e desviei o olhar para a Glória. Tomara que ainda nos entendêssemos no olhar.

            -O Tarrafal muda vidas...ficas até quando? - Eu me sentia devorada pelo olhar dela e minha pele parecia ganhar mais vida.

            -Mais dois dias...é tudo que o trabalho me permite.

            -Faremos desses dois dias os melhores das tuas curtas férias. - Sorriu me olhando como quem queria me decifrar.

            -Uiiiii, adoro. Eu vou estar imersa em trabalho, mas com certeza, teremos nossas horas de meninas loucas. Nem ouses fugir, Fedra. - Decretou Glória.

            -Eu? Quem adora fugir ou aparecer de cara fechada não sou eu.

Riram de mim e eu me senti feliz com aquelas mulheres.

Glória foi cercada por conhecidos, o acompanhante de Fedra engatou uma conversa com outro homem e de repente estávamos sozinhas. No meio de dezenas de pessoas, mas sozinhas. Eu não via mais ninguém e ela me olhava com uma ansia no olhar que me fazia vibrar em todos os recantos do meu corpo.

            -O que estás a beber?

            -Até agora não bebi nada. Fiquei às voltas pelo ambiente sendo apresentada a muita gente...já sabes como a Glória funciona.

Rimos.

            -Eu estou com calor. Preciso de alguma coisa gelada. Ao bar decidir o que vamos beber.

Ela me deu as mãos e fomos circulando entre o povo em direção ao bar. Eu só pensava na excelente decisão de mudar a data do regresso.

Eu me deliciava com um mojito muito bem feito, ela parecia muito satisfeita com uma bebida colorida e sem álcool, quando Glória nos alcançou com seu exagero habitual.

            -Meninas, a festa está cheia de gente interessante. Eu já lancei meu charme por aí, vamos ver se resulta em alguma coisa.

Claro que rimos.

            -A Sá já está na pista e tu, Fedra? Ah, eu sempre me esqueço que a senhora é comprometida. Namoro à distância só por tortura, Deus me livre. Eu quero beijar na boca todos os dias.

Mais uma sonora gargalhada.

            -Ainda bem que és chefe da Mia...

            -Não entendi... -Fedra arqueou a sobrancelha.

            -Ela está doida para descobrir os encantos da nossa amiga. Antes de chegares, esteve bem objetiva e essa aí se fazendo de sonsa. Sabias que esse é o maior truque dela para fazer essas coitadas caírem de amores?

            -Ohhhh, meu Deus que eu sou irresistível! - Ironizei e elas caíram na risada.

            -A Mia realmente não para de olhar para cá - Observou Fedra. - Mas a noite ainda é uma criança e ela tem tempo para correr atrás do objetivo.

Senti-me meio inebriada com o tom de voz e o olhar dela. Pareceu-me provocação, e eu gostei. A loucura em que me instalara ganhava novos contornos...

Pelo frenesi da festa, e por Fedra ser muito solicitada, me vi distante dela. Aproveitei para tentar reorganizar o meu sentir. Que confusão. Ela me confundia...já era assim numa outra vida. Nenhuma alusão à nossa estada em São Miguel. Provavelmente ela não queria se lembrar da tensão...ou, como nas minhas fantasias mais malucas, ela queria que aquelas horas fossem nosso segredo. Tínhamos alguns nos tempos de rainhas da noite e ainda nos entediamos no olhar. Essa era nossa arma de guerra, sempre uma era tirada de uma situação tensa com meras trocas de olhar. Não acreditava que ainda fosse possível...

            -Ei...estás entediada? - Fedra perguntou arrancando-me do meu devaneio.

            -Não! Eu não sou tão animada como a Glória e o Guillaume, mas estou a me divertir. Uma festinha em plena terça feira...tão fora da minha realidade...- Sorri.

            -Estás a arrasar corações. - Sorriu olhando dentro dos meus olhos. - A Mia confessou-me estar encantada com o teu sorriso. Ainda bem que mantenho algum distanciamento profissional com essa mulher, porque eu já estava a ver a hora de ela pedir que eu intercedesse...

Soltei uma gargalhada.

            -Fedra, cupido...que interessante.

Rimos nos tocando.

            -Pior é que nem posso julgá-la...

            -Gostas? - Provoquei.

            -Se vivesse perto de ti, provocaria um sorriso por minuto...- Ela sabia responder à altura às minhas provocações.

Estava mais perdida do que nunca, e paradoxalmente atraída.

            -Estou com fome! - precisava mudar o rumo daquela conversa ou sabe-se lá onde pararia.

            -Eu mal comi hoje. Cheguei atrasada no trabalho e meu chefe está cá e não sobra muito tempo para trivialidades do quotidiano...

            -Comer é trivialidade?

Rimos muito.

            -Estás com muita fome?

            -Desesperada por alguma coisa bem calórica.

Ela riu e apertou um dos meus braços.

            -Eu também...o que achas de sairmos à francesa? A Mia vai odiar, a Glória nem vai perceber e o resto do mundo nem se lembra que estamos aqui.

            -Alinho...na saída à francesa.

Gargalhadas.

Ela foi na frente conversando tranquilamente com uma pessoa ou outra pelo caminho, de modo a que ninguém viesse com abordagens inconvenientes que nos atrasariam. Eu me perdi na atmosfera que a envolvia. Fedra tinha uma coisa...sei lá o que era, mas ela tinha algo que mexia comigo. Olhei para os lados e Glória conversava e ria com duas pessoas e na mão tinha uma cerveja. Agradeci pela saída ser no sentido oposto.

Dentro do carro dela, quase nos enfartamos de tanto rir.

            -Esteja preparada para o interrogatório da Glória. - Arrancou o carro.

            -Ela sabe que não aguento a fome e se eu soubesse que seria uma festa sem comida, teria me prevenido.

Gargalhadas altas.

            -O que queres comer? - E seguia concentrada na direção e eu com o coração aos pulos. Atribui à adrenalina da quase fuga.

            -Pizza! - Sem titubear.

            -Hmmm, a melhor que eu conheço a essa hora já não serve comida...

            -Meu bem, quem está exigindo a melhor pizza? Eu só quero queijo derretendo na minha boca. - Delirei. - Mas que horas são?

            -Tarde o suficiente para alguns lugares estarem fechados. Ai, essa gente de férias que perde a noção de tudo...

Eu ri tanto e por instantes ela me olhou de uma forma diferente. Ah, provavelmente era coisa da minha cabeça. Estava com fome, carro escuro e eu vendo unicórnios.

            -Pode ser qualquer pizzaria?

            -Eu confio no teu bom gosto, jamais nos levarias a um lugar duvidoso...pelo menos não para comer.

Rimos às gargalhadas. Eu me lembrando dos mil becos que já nos enfiamos para esticar a noite e ela provavelmente pelo mesmo motivo.

            -Vamos devorar uma bela pizza! - Sentenciou Fedra.

            -Gigante! - Decretei.

Em pouco tempo descobrimos que a pizzaria estava fechada e sugeri que comêssemos shawarma. Mais uma experiência que nos levava ao passado.

            -Que evolução! - Olhei admirada todos os cantos da lanchonete. - Lembras que comíamos shawarma num quiosque bem duvidoso?

            -Ah, o quiosque nem era a pior opção. Lembras do senegalês que vendia shawarma e fataya num cubículo escuro e cujos vidros de malagueta continham...

            -Ai, para! Meu Deus, quanta loucura. Mas nunca passei mal, e tu?

            -Nunca!

            -Estamos preparadas para qualquer intempérie.

Gargalhadas.

            -Ainda bem que ficam abertos até mais tarde. Salvaram duas mulheres de morrerem à fome.

Risos.

            -Ah, vais ver, daqui a pouco enche de gente. Bom, hoje não é fim de semana, mas o povo adora saracotear pela madrugada. E há famintos como nós.

Gargalhadas.

Eu me lambuzava no segundo shawarma quando ela pousou o seu lanche no prato e me encarou.

            -O que foi? Estou lambuzada?

            -Não...- sorriu. - Por que decidiste ficar?

            -Ah, pensei melhor e vi que não tinha nada muito importante para fazer até sexta...- Precisava do meu melhor tom blasé ou me trairia.

            - Ah, Sabrina, por favor, afaga o meu ego, nem que seja um pouquinho...

Rimos tanto.

Todos os meus alertas apitaram. Sabia lidar quando ela me deixava confusa, ou pelo menos era o que parecia, mas quando se desnudava eu me perdia num emaranhado de fantasias que seguramente me levariam a lugares inóspitos.

            -Preciso confessar uma coisa...andei descrente do meu elo com Deus que a meu ver sempre foi muito forte, ainda que de vez em quando dê uma chacoalhada... Pedi ao meu anjo da guarda que o teu voo fosse cancelado. - O olhar dela, fixo no meu, pareceu-me coisa de sonho. Ri para não enlouquecer. Ela me acompanhou na gargalhada e pareceu-me levemente enrubescida. Mas eu já via unicórnios, então...

            - Não seria nada tão extraordinário com esses nossos voos sempre tão caóticos. -Precisava me manter no controlo.

            -Pois...- Ela mordeu o lábio inferior enquanto prendia o cabelo atrás da orelha

            -Acho que teu anjo tem um contato direto com o Senhor dos ares.

Rimos juntas e eu tive a sensação que a lanchonete estava suspensa no ar.

            -E por que querias que eu ficasse? - Ah, Sabrina, se ajude. Mas como, se eu estava enfeitiçada por aquela versão dela?

            - Mas tu ainda não me respondeste porque ficaste. - Retrucou com aquele sorriso que para mim era pura provocação.

            - Claro que sim...nada de especial para fazer até sexta...-Passeei meus olhos pela face dela como se a acariciasse. Desviei da boca porque ainda me restava alguma noção...      -Ok...me convenceste. Ainda te devo um jantar como deve ser...

            -Que fique claro que adorei pipoca, chocolate e vinho...

            -E gargalhadas e danças e choros e mais gargalhadas. Tens compromisso para amanhã à noite?

Eu corria um risco tão grande de me apaixonar pela assertividade dessa mulher...

            -Férias...totalmente sem planos, ou melhor, meu plano amanhã é jantar com a Fedra.

            -Alguma sugestão de cardápio?

            -Me surpreenda...embora já tenha dado pistas do que eu gosto...- Não sei porquê aquilo soou-me tão outra coisa. Ah essa minha mente prodigiosa quando o assunto é sex*...Sabrina, Sabrina...

            -Tens uma capacidade de me fazer rir...sabes há quanto tempo eu não ria assim? Com essa espontaneidade? - Soltou o ar com força.

 A mesa que nos separava foi meu escudo para não cometer uma insanidade. Meus braços tremeram tamanha era a vontade de abraçá-la até arrancar qualquer resquício de fragilidade. Desviei o olhar para aplacar meu ímpeto e foi nesse momento que percebi uma balburdia na entrada da lanchonete. Fedra estava de costas para a porta e parecia não notar qualquer alteração apesar da agitação.

            -Acho que o horário da ação começou. - Tentei brincar, mais ainda para que ela parasse de me olhar como se eu...não me permiti continuar aquele raciocínio ou seria um caminho sem volta. E eu tinha tanto a perder...

            -Não me diga que é briga? - A voz dela soava como quando acordamos de um sono profundo. - Olhou por cima do ombro e sua expressão corporal se alterou. - Eu não acredito! Porr* Djaiss, porr*!

            -O que foi? - Pulei na cadeira, assustada com a alteração de humor. - Djaiss...eu lembro vagamente desse nome. - Puxei pela minha memória, mas ela não cooperou.

            -Eu preciso agir depressa e de forma discreta. - Ela já estava de pé e ainda de costas.

            -Fedra...        

            -O Djaiss é meu primo, dos mais queridos e que mais me dá trabalho. Ele não pode brigar na rua. Ele não pode brigar sob hipótese alguma. Consegues me dizer se ele está bêbado?

            -Não...estão todos alterados, mas não sei discernir se beberam. Já me lembrei dele...vá lá, antes que a coisa fique pior.

            -Se ele matar uma mosca, a vida dele acaba.

            -Como assim?

            -Divórcio conturbado...a doida da mulher dele acusa-o de agressão e ele jura que não aconteceu nada disso...duas crianças que ele ama e que está temporariamente impedido de ver. Ele é incapaz de bater em alguém...pelo menos é o que eu acho...se a policia chega aqui ele está perdido.

            -Corra então, antes que os ânimos se exaltem mais ainda.

            -Ele perdeu o chão...preciso fazer alguma coisa. - Respirou fundo e uma veia saltou-lhe no meio da testa.

            -Vá! - Conhecia poucas pessoas tão apegadas à família quanto a Fedra. Nada tinha mudado naqueles anos todos.

            -Me perdoa por não te levar em casa. - Com olhos nervosos, pareceu procurar alguma coisa no telefone. - Vou chamar meu táxi de confiança para te levar. - As mãos dela tremiam.

            -Ei, eu posso pegar um táxi. Vá ajudar o teu primo. - Atravessei a mesa aos tropeços.

Mais rápida, ela chamou o táxi de confiança.

            -Desculpa, mas preciso tirá-lo daqui e levar para longe de qualquer confusão.

Ela caminhou com passos firmes para a entrada do espaço onde os ânimos estavam exaltados. Aguardei o meu táxi enquanto ela convencia o seu primo a sair dali. A cena misturava autoridade com amor, paciência com habilidade. Minha mente me transportou para um passado de dor e que eu acreditava ter superado...

Meu táxi chegou no momento em que abraçada ao primo, caminhavam em direção ao carro dela. Respirei aliviada.

A caminho de casa, o motorista perguntou se podia ligar a radio.  

            -A música é sempre bem-vinda! - disse convicta.

 Encostei a cabeça na janela enquanto o vento me acariciava a face. Embalada pela melodia de We could be (Maro) fechei os olhos e sorri.

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Bom domingo.


N Helgenberger


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Comentários para 7 - Capitulo 7:
jake
jake

Em: 23/10/2025

Eita Sabrina e devagar quase parando AFFF

Só falta a Fedra dizer em letras gigantesca 

Eu Tô Aqui...

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brunafinzicontini
brunafinzicontini

Em: 07/09/2025

Não entendo! Por que Sabrina não disse logo que ficou por causa dela? Poderia até falar usando alguma metáfora, mas deveria falar... Só para me deixar aflita, né?

Também não gostei de Fedra despedir Sabrina para pajear o sobrinho... Eu até iria impedir que ele se metesse em briga, mas levaria Sabrina comigo e procuraria resolver o problema do sobrinho com ela.

Bem... resta-nos esperar pelo jantar das duas.

Beijos,

Bruna


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 11/09/2025 Autora da história
KKkkkkk que estás furiosa com a Sabrina...ela é peculiar ;)
Não era sobrinho, era primo. Nuances das personalidades delas...
Bjsss


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mtereza
mtereza

Em: 07/09/2025

Que maravilha ela resolveu ficar e irão jantar ansiosa para esse momento 


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 07/09/2025 Autora da história
Pois é, resolveu ficar. Parece que a Fedra tem algo especial rsrsrs


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NovaAqui
NovaAqui

Em: 31/08/2025

Eu acho que a Fedra está a fim da Sabrina 

Vamos ver como será esse jantar delas

 

Bom domingo para você nessa sua Terra Linda!


Nadine Helgenberger

Nadine Helgenberger Em: 01/09/2025 Autora da história
Olá :)

Leia o capítulo 8 e quem sabe as coisas não fiquem mais claras rsrsrs
Muito obrigada por comentar. Tive um surto de inspiração e escrevi o capítulo 8 em duas horas ( às vezes sou obsessiva kkkk) e só vou postá-lo porque tu comentaste no capítulo 7. Pelo menos eu sei que existe uma pessoa que vai adorar ler o capítulo 8 e isso para mim já é motivo suficiente para me perder nas letras rsrsrs
Abraço e boa semana.


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