Dark Room por Nay Rosario
Gatilho: Violência extrema, menção a assédio, tortura e multilação.
Parte I
Ylia acordou um pouco antes das 17 horas da tarde daquela quarta-feira. Em breve, o despertador tocaria sua trilha preferida; Tema da Lista de Schindler. Desativou o som e com seu jeito mal-ajambrado costumeiro, saiu da cama confeccionada em titânio sob medida. Pulou os degraus pares da escada que dava acesso à cozinha do lugar. Ully, seu gato preto, sempre reclamava da barulheira que sua humana de estimação fazia ao brincar de amarelinha na escada.
O tom alaranjado que cobria o céu da cidade resvalava por uma fresta na janela incomodando os olhos negros da jovem senhora. Aos poucos, a organização do salão no térreo começava a ganhar contornos e Ully escapava por sua portinha de fuga para passear por entre as pernas dos funcionários do bar.
Gorete, a gerente, distribuía as coordenadas aos rapazes que trabalhavam com cenografia e iluminação enquanto organizava as garçonetes e bartenders da noite. Poucos funcionários eram contratados de forma fixa, a grande maioria era paga por diárias. Era o caso de Carla Almodena. Uma mulher negra de pele retinta, 44 anos, olhos castanhos escondidos sob um óculos de grau cujas armação era desproporcional ao seu rosto, cabelos pretos em grande parte e uma mecha branca na fronte. Era um sinal de nascença.
A moça fazia alguns bicos do que achasse, o que incluía bartender em algumas noites. Originalmente, era a noite de Talita, sua colega de ‘apertamento’ como elas brincavam, mas a jovem de 24 anos foi selecionada para um encontro com Suggar Daddy. Poderia render bons frutos para ambas já que elas mantinham um caso secreto e quase nenhum dos seus conhecidos sequer desconfiava.
A música e as luzes irritantes alteravam o humor de Ylia que tentava se misturar à multidão. Outro ponto que também a irritava profundamente. As pessoas se utilizavam de uma variedade extensa de cosméticos enquanto esquecem a importância de seu próprio cheiro natural. Exceto Ully e sua dona.
O gato, desde que escapou de sua suíte, havia rodopiado por todo o salão até parar nos pés de Carla. A moça se assustou com aquela pequena presença e perguntou se era normal. As mais antigas responderam que ele pertencia a dona do prédio. Uma mulher misteriosa que nunca aparecia embora soubesse tudo que ali acontecia.
-Olá, pequeno... Perdido? – inquiriu enquanto acariciava atrás de suas orelhas. O ronronar do bicho lhe soou como uma resposta divertida.
-Deixa esse pulguento e me ajuda com as bebidas. – Marco, um dos mais antigos, ordenou e chutou o gato.
-Você não deveria ter feito isso. – Carla apontou para uma câmera bem acima de suas cabeças.
-Merda! Não tinha esse negócio. Aquela vadia...
-Já pensou se tivesse som na câmera?!
O modelo em específico que mapeava toda a casa noturna era o Positivo Smart Câmera 360º Wi-Fi e, sim, possuía áudio. Ylia assistiu e entendeu toda a interação. Havia escolhido os alvos da noite. Soprou um apito cuja frequência sonora era tão baixa que apenas Ully escutava. Ele foi à busca do chamado. Ao chegar pert de sua dona deitou no banco de madeira costurado em couro negro que estava ao seu lado e ronronou olhando na direção do bar, especificamente de Carla.
Gritos apavorados assustaram Carla que havia retornado do depósito. Ficou um tempo imóvel tentando escutar de onde vinham e se reconhecia a voz. Conforme o som recomeçava, seguiu por uma escada estreita e escura que parecia ir para um tipo de lugar subterrâneo cheio de portas trancadas. Apenas uma estava entreaberta e ela chegou bem próxima.
Da fresta podia ver um homem pelado e completamente amarrado pelos membros inferiores e superiores em astes de ferro. No pescoço, algo que se assemelhava a uma coleira. Nos olhos, uma venda. Na boca, uma mordaça. Seu tronco e pernas estavam ensanguentados e talhados com pequenos cortes. No chão, recipientes coletavam parte daquele sangue. Um calafrio subiu pela espinha da moça quando escutou uma voz preencher o ambiente.
- Cadê o homem que iria me pegar de jeito?! Ah! Está impossibilitado.
Ylia alisou o rosto do rapaz com um pano possibilitando o reconhecimento de quem era o jovem naquela situação. Enquanto pegava um alicate de pressão, continuava o seu monólogo.
- Marco... Marco... Você foi desrespeitoso com algumas moças essa noite, em minha casa. Você tentou me agarrar no banheiro e enfiar em mim essa coisinha que tens entre as pernas. – com uma luva posicionou o p*nis do homem entre as lâminas do alicate – Mas agora acabou.
Apertou as lâminas cortando o motivo do maior orgulho daquele homem enquanto o mesmo tentava gritar de dor tão desesperadamente que quase provocava um sentimento de compaixão. Com a ação inesperada de Ylia, Carla soltou um pequeno grito de susto e espanto, o que denunciou sua presença. Tanto a dona quanto o gato reconheceram a moça e, antes que conseguisse escapar, Ylia apertou um botão que liberou um gás cujo efeito colateral era a sonolência e paralisia, no corredor. Após a dissipação do poluente, Ylia se abaixou e admirou o rosto da mulher caída.
- Não posso te deixar fugir. Você viu o que não deveria, criança.
Enquanto a casa noturna enchia de pessoas dispostas a se divertirem no andar térreo, Ylia carregava a mulher entre seus braços e seguia em direção a um lugar seguro. Ully as acompanhava de perto.
Fim do capítulo
"Vocês não sabem o prazer que é estar de volta."
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Cristiane Schwinden
Em: 16/03/2025
Cadê a finalização, senhorita?
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Cristiane Schwinden
Em: 17/02/2025
Uhuuuuuuuuuuuuuuu já começou torturando macho! Gostei, quero mais! Texto ousado, adorei <3
Nay Rosario
Em: 22/02/2025
Autora da história
KKkkkkkkk saí da zona de conforto.
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May Poetisa
Em: 15/02/2025
Nay, voltou causando, arretada hein Amiga. Eu adoro que você nunca tem medo de ousar e é muito criativa, mas, eu sou suspeita né meu bem, anos que sou fã da sua escrita, gosto muito dos seus romances e poesias.
Nay Rosario
Em: 22/02/2025
Autora da história
"Não imagina o prazer que é estar de volta”
Ousar é da minha natureza.
A senhora também é muito boa na escrita.
Nay Rosario
Em: 22/02/2025
Autora da história
"Não imagina o prazer que é estar de volta”
Ousar é da minha natureza.
A senhora também é muito boa na escrita.
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Solitudine
Em: 14/02/2025
Boa tarde!
Lembra de mim? Faz anos que não conversamos. Espero que esteja bem.
Estou visitando todos os contos e conhecendo as colegas neste Desafio.
Você escolheu uma temática difícil. Mas com certeza vai dar conta com maestria do início ao fim.
Bom retorno. Parabéns!
Beijos,
Sol
Nay Rosario
Em: 14/02/2025
Autora da história
Pois é!
Anos que não nos esbarramos.
A ideia de Desafio me motivou a desenferrujar os dedos.
É um tema complexo mesmo,mas vamosver como se desenrola?¹
Gratidão!
Solitudine
Em: 15/02/2025
Você desenrola!
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Dandara091
Em: 13/02/2025
Alô autora!
Negritude no comando! Representatividade é tudo! Bem vinda de volta dama da noite!
negritudeehmais damadanoitetadevolta literaturanegra
Nay Rosario
Em: 14/02/2025
Autora da história
Ola!
Agradeço as boas voltas.
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Zaha
Em: 13/02/2025
Amiga,
Você não sabe o prazer que eu ler-te!!!
Caramba, que conto fantástico, arrasou!! Não rola uma estória com esse enredo....
O enredo tá fantástico, a sinopse me pegou de jeito, já imaginando muitas coisas e não me despontou.
Marcos, Marcos.... você deveria ter sido mais gentil....
Quero falar que sou contra qualquer violência, mas adoro cenas criminais, que contradição..... Ylia já tem uma fã....coitada de Carla...querida, vc n deveria ter ficado muito tempo, nem sequer ido a9mouvir os gritos..era só chamar os seguranças....enfim!!
Bem que esse gás poderia gerar perda de memória hahahahaha
Vejo que essa gosta de torturar...que será da criança Carla???? Veremos nos próximos capítulos....
Puts, fiquei curiosa pra dedeu. Que texto foda, vei!!!!
Amei o conto!!!! Brocadora geral!!! Sim, eu bajulo pq vc fez por merecer!! Hahahahahaha
Beijos, Nay!!!!
Nay Rosario
Em: 13/02/2025
Autora da história
Kkkkkkkkkkkkkkk
Eu gargalhei com esse comentário.
Pois é, diz o ditado que a curiosidade matou a ...
Já estou providenciando o segundo.
Não é bajulaçãoe sim reconhecimento do meu potencial.
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