Dark Room por Nay Rosario
Tal qual uma cebola, cada vez que se retira uma camada do mistério envolvendo a Dark Room, descobre-se outros fatores que, aparentam ser desconexos entre si, mas aqui nada é o que aparenta ser. Assim como em um quebra-cabeça, cada peça necessita se encaixar em seu devido lugar para alcançar êxito.
Nunca foi sobre amor.
Gatilho: Violência extrema, menção a assédio, tortura e multilação.
Trilha: Jeniffer Nascimento - Survivor
Parte II
Dara corria o mais rápido que podia enquanto a chuva torrencial dificultava sua movimentação por entre os carros, no engarrafamento costumeiro da capital baiana. Não era nem 14 horas e o céu, carregado de nuvens escuras, anunciavam que o resto do dia seria aquele imenso temporal.
Através do rádio, escutava as coordenadas dadas por seus subordinados em relação aos suspeitos que perseguiam. Próximo do viaduto que dava acesso a Avenida Luís Eduardo Magalhães, Dara viu a oportunidade perfeita e, com máxima precisão, parou a corrida, mirou um pouco mais adiante e com dois segundos atirou.
O jovem caiu e gritou de dor. O projétil havia se alojado na parte posterior da coxa direita. Caminhando graciosamente, Dara chegou até onde o rapaz permanecia caído.
- Eu avisei para não correr, mas você quis pagar pra ver.
- Sua ordinária, vadia da ‘disgraça’…
- Oi?! Eu não escutei. Está doendo? - a mulher pisou na perna ferida e deu leves chutes na lateral arrancando gritos de dor.
- PARAAAAA!
- Oi? Não entendi. - enfiou a ponta do sapato no lugar de onde o sangue jorrava.
- POR FAVOR… POR FAVOR…
- Ah! Sim. - o segundo disparo foi no ombro ocasionando o desmaio do rapaz.
Seu homem de confiança chegou esbaforido minutos depois. Encontrou Dara retirando uma doleira da calça jeans encharcada e conferindo algumas mensagens. Aguardou que a chefe encerrasse a ligação que fazia para questionar os passos seguintes.
- Então…
- Leva o corpo pro HGE.
- Já foi de arrasta pra cima?!
- Ainda não. Voltarei pra DPP, pois parece que duas pessoas sumiram em um mesmo lugar; uma casa noturna na Pinto de Aguiar.
- A Dark Room?!
- Conhece?
- Já peguei a gerente.
- Ótimo! Vou adorar esse contato seu. - o celular vibrou - Espera! Fala, Munhoz.
- .....
- O QUÊ?! Onde?
- .....
- Estou a caminho. - encerrou a ligação.
- Qual foi, delega?
- Um dos desaparecidos foi encontrado em uma cova aberta na Quinta dos Lázaros, pelado e com perfurações em todo corpo.
- Putz! Pouparam trabalho a família.
- Ainda tem um detalhe: cortaram o p*nis dele.
- Caralh*!
O camburão recolheu o jovem e seguiu para o Hospital Geral do Estado da Bahia. Dara entrou em outra viatura, subindo o viaduto Luís Eduardo Magalhães sentido Boca do Rio. Seu destino final era a 12° Delegacia de Polícia, no bairro de Itapuã.
Ao entrar na central, foi interpelada por uma mulher negra retinta, estatura aparentava entre 1,60 e 1,65 metros, vestida em calça jeans e regata preta. Explicou brevemente sobre o que a levou até ali.
Com a visão periférica, observou o saguão lotado de pessoas prestando queixa de diversas situações. Policiais chegando com presos custodiados para registro de ocorrências, civis impacientes com a morosidade dos escrivães e a enorme fila de queixosos. Conduziu a jovem até sua sala e, assim que se acomodaram, a jovem iniciou sua explanação.
- Doutora, já tem dias que minha companheira está desaparecida e não há resposta.
- Compreendo. Nesse intervalo, houve algum tipo de contato exigindo resgate ou algo assim?
- Mesmo se houvesse, não teria como bancar. Faço uns jobs para conseguir grana e uns bicos quando aparece.
- Jobs?!
- Sou acompanhante… é uma gíria.
- Ah! Entendi. Algum cliente insatisfeito pode ter descoberto a ligação entre vocês?
- Creio que não. Nem era pra ela estar lá. Esse corre era meu, mas como recebi um chamado de cliente importante não recusaria essa grana.
- Sabe se sua companheira tinha inimigos?
- Declarados não.
Antes que a delegada fizesse mais alguma pergunta, Munhoz bateu a porta trazendo notícias interessantes sobre o caso. Assim que olhou a fotografia anexada na ficha, sentiu uma pontada na cabeça. Continuou analisando informações: antecedentes por agressões e ameaças a ex-mulheres, furtos, falsidade ideológica e estelionato.
Por cima do óculos de grau que utilizava para leitura, Dara estudou a postura adotada pela mulher sentada à sua frente. Talita estava de braços e pernas cruzados. As pernas balançavam levemente e, vez ou outra, olhava as horas e consertava a postura corporal.
- Chegou a ficha corrida de sua companheira e as passagens pela polícia.
- Eu sei que Carlão nunca foi flor que se cheirasse, mas merece ser encontrada.
- Justo! Assim que houver alguma novidade a comunicamos.
Sozinha e trancada em sua sala, abriu novamente a ficha e passou a ler com mais afinco. Cada linha escrita a fazia rememorar tudo o que pensou ter enterrado no âmago de seu ser. Os momentos bons e principalmente os ruins, incluindo o roubo das joias que sua falecida mãe havia deixado para ela.
- Onde você se enfiou, Carla? Com quem você se meteu agora?!
Uma batida na porta fez com que Dara saísse do seu estado de contemplação. Munhoz entrou na sala fechando a porta e sentou em frente à chefa. Se olharam um tempo em silêncio até que, não aguentando mais de curiosidade, o rapaz inquiriu.
- Então… É ela mesma? - apontou para a ficha sobre a mesa.
- É sim. Mundinho pequeno esse no qual vivemos.
- Vai enquadrar ela?
- Primeiro precisamos achá-la. Quero o número do seu contato na casa noturna.
- Claro! - pegou o celular anotando o telefone de uma das gerentes do local - Posso fazer outra pergunta?
-Vá!
- Bateu um remember quando viu a foto da sujeita?
- Se fosse uns quatro anos atrás, talvez sim. Mas hoje só consigo pensar na sacanagem que ela aprontou e fui uma das muitas vítimas dela. Quando eu a conheci, estava em um namorico mais ou menos e ela chegou me mostrando um mundo que eu não pensei ser possível existir. Aliado a minha pouca idade, presa fácil. Quando percebi, já estava encantada. Minhas amigas da época, incluindo sua esposa, me alertaram que ela era muito mais esperta do que demonstrava, mas a paixão cega. Resultado: levei pra minha casa e não faço ideia de como ela descobriu a senha do meu cofre, me deu um “boa noite, Cinderela” e roubou tudo que podia carregar. Pior foi a vergonha contando as meninas. - arriou a cabeça na mesa.
- Fica assim não, chefa. A vida tem dessas. Quando não é bênção, é lição.
Fim do capítulo
Até Breve!
Comentar este capítulo:
Cristiane Schwinden
Em: 17/03/2025
Se até a delegada fodona caiu no conto da sapatão sedutora, que dirá de nós pobres mortais né? Adorei o ritmo policial desse capítulo.
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Lerika
Em: 25/02/2025
Sensacional!!! Adorei. Estou muito ansiosa pela sequência. Tão maravilhoso ler uma história coerente com o vocabulário, com as pontuações, com o ritmo. Estou muito feliz em ter lido e agora quero saber qual o plot que foi preparado. Orando por uma bandida bem fda!!! Detona, autora! Já virei fã
A mulher estava em postura suspeita, olhava as horas, não deu informações sobre o cliente do job. Tomara que o alerta da delegada seja bom hein.
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Zaha
Em: 22/02/2025
Olá, Nay!!!
Ótimo capítulo, ainda que o outro tinha mais ação, mas gostei igualmente!!
Carlão parece que é conhecida e roubar policial? Sério, é me arriscado e cara de pau ..esperando o próximo Capítulo...vc postou no último minuto, tava ansiosa!!
Nos vemos no 3 capítulo!!!!
Beijão
Nay Rosario
Em: 22/02/2025
Autora da história
Olá,moça.
Pois é!
Roubar delegada é meio perigoso.
Até lá!
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Nay Rosario Em: 17/03/2025 Autora da história
Pois é, né?!
Sedução é fatal.