Dark Room por Nay Rosario
Os elos sanguíneos são intransferíveis e inquestionáveis. Mas a personalidade de uma pessoa pode ser moldada a partir de ensinamentos e transferências de conhecimento?
Nunca foi sobre amor.
Gatilho: Violência extrema, menção a assédio, tortura e multilação.
Parte III
Ylia tamborilava os dedos sobre a mesa de jacarandá envelhecido. Ully dormia displicentemente sobre o móvel e sua humana de estimação preferiu deixar que assim permanecesse. Sua convidada,aos poucos, despertava e se percebia impossibilitada de qualquer ação seja ela andar, se mexer ou verbalizar questionamentos.
Observando ao redor, entendeu que estava em um quarto amplo. As janelas laterais eram de vidro e tomavam toda a parede, cuja vista dava para a baía de todos os santos. As outras paredes eram pintadas de preto com alguns símbolos de metal acobreado. tudo estava em silêncio. Escutava-se apenas o tic-tac do relógio pendurado em um canto qualquer do ambiente.
Carla tentava recordar se aquela mulher misteriosa havia sido uma das tantas vítimas que fizera ao longo dos anos. Sua memória começava a lhe trair. Pensou se a mulher não seria alguém ligada a uma máfia ou milícia, mas este último descartou pensando como era complexa a movimentação dos gangsters de Salvador para aportar mais um grupo,sobretudo um que busca o extermínio de todos os outros. Poderia ser uma agente de um alto escalão das forças armadas, mas caso o fosse, ela estaria em alguma sala de interrogatório e não um prédio de luxo.
-Seu problema foi estar no lugar e hora errados.
A voz quase inaudível anunciou como se pudesse ler os pensamentos e interrogações da prisioneira. Carla então fixou os olhos em sua raptora. Era uma linda mulher e, se estivesse em outra circunstância, seria capaz de lançar mão dos muitos artifícios de conquista e sedução.
Assim que a gata,enfim acordou, Ylia sentou-se numa cadeira ficando frente a frente com sua convidada.
-Irei retirar a mordaça. Não adianta gritar, pois aqui é a cobertura e ninguém tem acesso ao elevador. Não irei responder nenhuma pergunta e, francamente, nem tente fazer a linha inocente, pois tenho sua extensa ficha criminal em minha mesa. Caso concorde com meus termos, balance a cabeça em sentido afirmativo. Caso não concorde, eu a mato e me livro de seu corpo. Vai cooperar?
Após acenar positivamente, Carla teve a permissão para falar. Ylia a inquiriu sobre a origem de suas falcatruas.
- Meu pai era um apostador de jogos de azar profissional e vigarista nas horas vagas. Só tinha um porém, minha mãe não sabia dessas virtudes desviantes. Ela havia se apaixonado perdidamente e decidiu casar com ele. Cerimônia simples, meus avós a contragosto, minhas tias dividindo-se entre falar mal do noivo e tentar fazer mamãe desistir. Nasci em um dia, mês e ano ímpar. Meu pai jogou a data no jogo do bicho e ganhou uma bolada. Depois desse dia, ele passou a me ver como seu amuleto de sorte e foi ensinando os macetes dos esquemas.
-E por que escolhia mulheres mais velhas?
-Algumas mulheres procuravam uma companhia para conversar através dos quase nulos chats de bate papo. Me apresentava como alguém neutro e ia me adaptando ao que a pessoa esperava de mim e quando elas percebiam, eu já havia fisgado das bobas. Tirava o que eu queria e depois as descartava com o discurso do: “eu sou muito pra você. Não tenho nada a oferecer” e etc.
Ylia andou pelo ambiente e, olhando a noite na capital baiana,perguntou.
-Se arrepende de algo?
-Não. - respondeu após pensar um pouco.
Carla ainda não tinha ciência, mas havia acabado de assinar sua sentença. A Mordaça foi colocada sobre seus lábios. Ylia afastou-se e deixou a outra contemplativa.
Próximo dali, Dara encerrava mais um dia exaustivo de trabalho. Começava a considerar pedir um afastamento de três meses da função. Achava que não tinha mais a destreza de quando era mais jovem para perceber as peças que faltavam no quebra-cabeça da vida.
Se olhou no espelho, hábito que havia deixado de fazer por não ver sentido no culto e veneração da beleza estabelecida como padrão social. Nem sabia se pertencia aquele lugar. Sua profissão exigia discrição e sua personalidade não era feminina, logo, um jeans e uma blusa básica da corporação lhe bastava.
Enquanto a banda Queen tocava nas caixas de som instaladas em seu espaçoso banheiro, Dara se despia da mulher forte,da delegada implacável cuja mira é certeira para dar lugar à sensação reconfortante da solitude. Havia pouco mais de quinze minutos que entrou nas águas mornas da banheira e sentiu seu corpo ser abraçado aquele calor. Desejou ter alguém ao seu lado para trocar palavras e silêncios. Seu devaneio foi encerrado com a mensagem de seu braço direito via aplicativo de comunicação no celular.
-Conseguimos rastrear o aparelho e a senhora não vai acreditar.
Fim do capítulo
Até breve!
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Zaha
Em: 09/03/2025
O Donaaa Nay!!
Mas que diacho é isso!! WTF!! kkkkkkkkkkk
Sério que vc fez isso producao!!
Ao menos sabemos mais de Carla e a outra psicopata torturadora, vai matá-la de qq jeito kkkkkkkkk. Pelo relato de Carla, ela era apenas uma enganadorazinha de mereca, nada demais...nem se pode dizer criminal.... parte III. Eu já tava aqui endoidando pensando q fosse o fim...Deus é mais...
pArte IV chegue logo .....
Bjs
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Nay Rosario Em: 17/03/2025 Autora da história
O gato interceder?!
É ruim, hein?!