Boa Vista, estado de Roraima

 

Elza e Yara haviam acabado de jantar em um famoso restaurante da cidade. Conversavam enquanto saboreavam suas bebidas.

 

--Esse restaurante é muito bom! – a indígena comentava satisfeita – Que peixe gostoso! – sorriu – E o ambiente deixa a gente tão à vontade! – bebeu um gole de suco

 

--Também adorei! – a negra concordava – Essa caipirinha da casa tá uma delícia! – bebeu mais um gole

 

--Por via das dúvidas, é mais seguro que eu beba meu suquinho! – piscou para a outra

 

--Mais seguro? – perguntou insinuante – E você tem medo do que, Yara Saraíba? – flertava com a professora – De mim?

 

--Medo nenhum, Elza Machado! – flertava também – Sabe perfeitamente o que desejo fazer com você, mas você sim, tem me evitado. – olhava nos olhos – Não sou bem eu que pareço estar com medo! – provocou

 

Sorriu. – Você sabe que eu gosto de espaço, de privacidade... e durante a excursão do Monte Roraima não seria possível. – bebeu mais um gole sem desviar o olhar – Mas chegamos hoje na cidade... Temos tempo, não? – respondeu sedutora – Ou você tá com soninho? – brincou

 

Riu brevemente. – Sabe que eu aguento uma noite em claro, Elza Machado. – debruçou-se sobre a mesa – E sabe que nunca sou eu quem pede pra parar! – sorriu maliciosamente

 

--Ô, glória! – Elza se abanou com o guardanapo e elas riram – Eu adoro o seu lado selvagem, Yara Saraíba! – debruçou-se sobre a mesa também – Mas enquanto não ficamos a sós... – tocou uma das mãos da outra -- Tem algumas coisas que eu queria conversar com você.

 

--Sou toda ouvidos. – acariciavam-se as mãos

 

--Então vamos começar pelo mais fácil. – continuavam acariciando-se as mãos – Não é recomendável que eu vá na festinha de aniversário da dona Kedima, porque afinal de contas o clã Montanauro continua no poder. Mas eu quero e preciso dar um beijinho nela! – olhava para a indígena – Será que você alugaria aquela casa que já nos abrigou tantas vezes? – perguntou dengosa – Aí eu iria pra lá uma semana antes da festinha, você levava dona Kedima pra me encontrar na casa e faríamos nossa comemoração com ela. Só nós três!

 

--Fechado! – concordou de pronto

 

--E no que diz respeito a nós... – pausou brevemente – Eu acho que Montanauro perde as eleições. Mesmo que seja apertado, mas perde. – considerou – E aqui no norte do país ele e o clã quase não têm força... – brincava com o anel no dedo da indígena – Por que você não pede transferência pra Federal do Amazonas e vai morar comigo lá? – propôs – Eu saio da vila igual Fernandão fez quando casou com Alana...

 

“Ô minha lança romana maldita! Fura o bucho dessa pecadora!” – pensou quando o coração disparou – Você tá me pedindo em casamento? – perguntou em choque – Linda, traduz isso aí porque eu não captei direito!

 

Achou graça. – Eu tenho que contextualizar algumas coisas pra responder essa pergunta. – abaixou a cabeça brevemente – Há anos que me debato entre o desejo de arriscar tudo, sair do armário e viver com você e o comodismo de deixar tudo como tá. Você sabe e muito discutimos por causa disso... – olhou para a indígena – Aí eu fui transferida pro Amazonas e achei que era tudo contra: mais longe de você, que eu amo, e mais longe do trabalho que eu adoro. – continuava brincando com o anel no dedo da outra – Então Luiza me diz que saiu do armário, que tava namorando uma militar do Exército... isso mais que nunca me fez refletir sobre nós... – soltou gentilmente a mão da professora – Aí eu pensei... já que Renata, e quem diria, tá se empenhando tanto no abrigo e com dona Kedima, e que você conhece tanta gente na Federal do Amazonas... por que não? – gesticulou – E depois, quando chegou junho, veio a notícia do assassinato daquele indigenista e do repórter russo num território indígena. Aquilo me revoltou, sabe? Fiquei pensando nas dimensões superlativas da região amazônica, que é tão carente de proteção, de poder de dissuasão pra impedir invasões, abusos, chacinas... Isso me empolgou em querer trabalhar na base! – explicava-se – Lá eles são super vibradores e querem fazer muito, mas faltam recursos, falta vontade do governo! Então eu quero ajudar a proteger nossa Amazônia e nosso povo! – sorriu – E com você do meu lado! Sempre! – gastou uns segundos calada – Você perguntou se era um pedido de casamento... – gesticulou timidamente – Super mal feito, mas... é sim!

 

Yara parecia não acreditar. Pensou por uns instantes antes de responder: -- Sonhei ouvir isso por anos a fio... – passou a mão nos cabelos e se desencostou da mesa – Mas agora que finalmente ouvi, caiu a ficha que as coisas não são tão simples. – considerou – É claro que eu te quero, é evidente que você é o amor da minha vida, mas se já esperamos tanto... eu não quero fazer nada no susto. E uma transferência entre universidades não é um processo rápido. Depende de uma série de coisas.

 

--Entendi... – respondeu decepcionada – Vamos pedir a conta e ir embora? – perguntou meio desconcertada – “Ela não quer mais casar comigo. Cansou de esperar...” – pensou lamentando

 

--Vamos. – concordou

 

***

 

Yara abraçou a militar por trás e beijou-lhe o pescoço com desejo enquanto deixava as mãos percorrerem o corpo dela livremente.

 

--Amor, espera? – Elza pediu dengosa – Não sei se foi a caipirinha mas fiquei com uma dorzinha de cabeça... – virou o rosto para o lado e olhou para a indígena – Queria dormir...

 

Deu um suspiro profundo. – Tudo bem. – beijou-a – Vamos dormir então.

 

--Vou no banheiro rapidinho. – desvencilhou-se da outra e se dirigiu ao cômodo

 

“Ela ficou assim porque eu não dei a resposta que desejava ouvir.” – Yara pensou – “Mas eu preciso ver o que ela realmente quer.” – concluiu – “Vamos ver o que fará se tiver oportunidade de voltar pro Instituto.” – suspirou – “E novamente, é dormir na saudade...” – constatou – Ô, minhas sete chagas... -- lamentou

 

 

Goiânia, estado de Goiás

 

Jurema presidia um Colegiado na sede do Comuna.

 

--Essa Carta à Democracia que as Universidades fizeram foi muito oportuna! – a indígena dizia enquanto projetava o documento no telão – Vamos aproveitar que as Faculdades de Direito de todo país escreveram um documento impecável exigindo respeito ao processo eleitoral, à separação entre os três poderes e ao Estado Democrático de Direito pra encampar uma passeata! – propôs aos demais – O feriado de sete de setembro vem aí e não podemos deixar que Montanauro faça dele um palanque pra sua campanha eleitoral!

 

--Apoiada!!! – todos gritaram

 

--Essa é a minha gata... – Renata suspirou enquanto digitava a ata

 

--Camarada Celeste, me esclareça uma coisinha, por favor. – Omar cochichou para a outra – Dona Kedima ficou doente, camarada Yara teve que faltar e então camarada Jurema aproveitou e colocou Renata na mesa pra nos secretariar, é isso mesmo? – queria entender – Tudo bem que eu quebrei a mão, mas eu tô entendendo certo ou temos uma traíra, que nem é mais filiada ao Partido, fazendo um trabalho que deveria ser de algum de nós?

 

Achou graça. – Sem julgamentos precipitados, camarada Omar! – Celeste respondeu igualmente baixo – Ninguém se voluntariou pra lhe substituir na relatoria, somente Renata, e ela tem se mostrado uma militante ativa como nunca foi. Camarada Jurema confia nela e acho que até mesmo camarada Yara tem se mostrado mais tolerante. – considerou – Convém observar e por enquanto ela ainda não deu rata desde que voltou de Sorocaba. – pausou brevemente – Além disso, me parece que o envolvimento com camarada Jurema amoleceu o coração dela.

 

--Humpf! – fez um bico – O coração de camarada Jurema com certeza amoleceu, o de Renata já não sei! – pontuou - Vocês mulheres, sempre romantizando tudo... – resmungou

 

 

Manaus, estado do Amazonas

 

--Minha Nossa! – Elza exclamou enquanto lia o relatório que o major lhe apresentara – Esse mês de setembro está representando a pior situação de queimadas na Amazônia em mais de 20 anos? – perguntou abismada

 

--Exatamente, senhora. – o major respondeu consternado—Tenho um primo que é delegado da Polícia Federal e ele afirma tacitamente que as regras que têm imperado na região da floresta amazônica são as do crime organizado, com aval de certos políticos em todas as esferas.

 

--Concordo integralmente com ele. – terminou de ler o documento – Lembro bem que quando em 2020 uma operação da PF apreendeu o maior carregamento ilegal de madeira da história, o então ministro do Meio Ambiente ficou do lado dos madeireiros. – lembrava do fato – E o delegado responsável pela operação foi exonerado e mandado pra bem longe do Amazonas!

 

O major surpreendeu-se com o que ouviu. – Então a senhora acha que o governo não tem intenção real de combater o crime na região? – questionou sem entender – “Mas ela não era do Gabinete do Ministério da Defesa?” – perguntou-se

 

Elza percebeu a estranheza do subordinado e respondeu calmamente olhando para ele. – Pode-se fazer parte de uma equipe de governo sem que se concorde com tudo que o governo faça. Da mesma forma que pode-se integrar uma Organização Militar sem que se concorde com tudo que o Comando decida. – cruzou os braços – Infelizmente, nosso governo desautorizou publicamente muitas ações de combate ao crime ambiental por aqui. – reconheceu – Então os infratores ficaram muito à vontade e os reflexos disso estão no relatório que o senhor acabou de me apresentar!

 

Balançou a cabeça concordando. – Desde 2019 o desmatamento não parou de aumentar vertiginosamente! Aliado a isso, os órgãos de fiscalização ambiental sofrem com um baixo efetivo há muitos anos e depois do corte de verba que o atual governo promoveu, o desmonte da fiscalização ambiental ficou ainda mais gritante. – afirmou com certo receio – Temos informações de que a reserva indígena onde o indigenista e o repórter estrangeiro foram assassinados está sob o domínio de cartéis brasileiros e colombianos. Eles disputam o controle do escoamento da cocaína produzida na região pelo rio Amazonas e o destino dessa droga é a Europa. – gesticulou – A coisa assumiu proporções sem precedentes!

 

--Sou de opinião que as Forças Armadas precisam receber recursos e destinação pra atuar fortemente nessa região, fazendo uso de todos os recursos tecnológicos que dispomos e que podemos vir a dispor! – Elza afirmou com veemência – E precisamos que o governo faça um trabalho muito forte junto à comunidade internacional pra que toda madeira que o hemisfério norte consume tenha sua origem certificada! – olhava para o homem – É inaceitável que países ditos desenvolvidos aceitem comprar madeira traficada, que contribui para o desmatamento da Amazônia e que é produzida sob trabalho escravo! – sentia revolta

 

--A senhora não pode usar de suas influências junto ao governo pra nos fortalecer nesse combate? – o homem perguntou esperançoso – Tudo que eu mais desejo é limpar a Amazônia desses oportunistas criminosos e dar aos povos originários e locais condições dignas de vida e subsistência!

 

Deu um suspiro profundo. – Infelizmente não gozo de tais influências. – assumiu – Mas eu lhe garanto que defender essa região tornou-se o meu objetivo de vida! – prometeu – “Assim como faz parte desse objetivo convencer Yara que tudo o que eu mais quero é que ela esteja comigo, em definitivo, como minha mulher!” -- pensou

 

(NOTA DA AUTORA: Baseado em Amazônia se tornou uma terra sem lei, apontam especialistas – DW – 16/06/2022 – reportagem de João Pedro Soares pela DW Brasil)

 

 

Goiânia, estado de Goiás

 

--Eu fiquei muito feliz que você tivesse armado esse esquema secreto com Yara só pra poder me ver! – a idosa sorria para a negra – Mostrou que tem muita consideração por essa velha aqui!

 

Sorriu também. – Claro que tenho, dona Kedima! – Elza segurou a mão dela com carinho – Tô muito feliz que a senhora tenha melhorado de saúde, viu? E espero que tenha gostado da comidinha que lhe preparei com todo carinho!

 

--Eu gostei foi demais da conta! – dizia a verdade – Enchi meu bucho de pirarucu fazendo muito gosto! – exclamou animada -- Só não gostei mesmo é do nome do peixe; coisa indecente!

 

Yara e Elza riram.

 

--Não é indecente, dona Kedima. O nome vem da língua Tupi e quer dizer peixe vermelho da cor do urucum. – a professora explicou – Pelo menos assim aprendi. – sorria

 

--Se você tá falando... – fez um gesto – Agora me digam vocês aí: -- olhava para as duas – vão juntar os trapinhos quando? – cruzou os braços – Vocês vivem de resfulengo há mais de 20 anos! Tá na hora de tomar tenência!

 

As mulheres ficaram um pouco sem graça.

 

--Fui eu quem adiei nossa união por anos a fio, dona Kedima. – a militar confessou – Fosse pelo impacto que achei que ela pudesse nos trazer, fosse pelos impeditivos que tínhamos... e pelo fato de não ser assumida, né? – abaixou a cabeça brevemente – Mas agora é a Yara que não quer...

 

--Oxe, e por que? – olhou para a indígena

 

--Não é que eu não queira. – justificou-se de pronto – Preciso estar certa de que ela tem certeza. Além do mais, creio que muita coisa vá mudar politicamente, então... como será quando ela tiver a chance de voltar pro Instituto? – gesticulou – Eu quero que ela tenha a liberdade de tomar a decisão que seu coração realmente mandar!

 

“Então é isso! Ela acha que eu jogaria tudo pro alto se pudesse voltar pra São José!” – finalmente entendeu o raciocínio da outra – Se é por isso, pode parar de pensar bobagens! – olhou para a indígena – Eu quero você comigo em Manaus e fim! – afirmou convicta

 

“Vamos ver essa convicção quando o Instituto te chamar de volta!” – pensou ainda descrente – Seja como for, minha linda, uma transferência entre universidades demora. Já te expliquei isso.

 

--Mas você pediu, menina? – Kedima perguntou desconfiada

 

“Ainda não.” – não teve coragem de verbalizar – Tô negociando, dona Kedima. – mentiu

 

A idosa não acreditou e gastou uns segundos calada antes de voltar a falar: -- Olhe, eu entendo que mesmo nos dias de hoje, o dilema de Romeu e Julieta ainda existe. – gesticulou brevemente – Entendo que vocês viviam, e ainda vivem, em mundos muito diferentes e esse tipo de coisa afasta as pessoas. Mas percebam que são separações que nós mesmos criamos, então nós podemos desfazer!

 

--A senhora sempre me disse isso. – Yara recordou

 

--O tempo é o recurso mais precioso que nós temos e ele nunca volta! Nunca se repõe! – Kedima continuava falando – Não é permitido fazer ensaio nessa vida! A gente tem que entrar na vida querendo acertar e se errar, tem que insistir até fazer o certo! – aconselhou – A pior coisa do mundo é desejar voltar atrás por um minuto que seja e constatar todos os dias que isso é impossível! – pensava em si mesma – Vocês viveram muitas coisas, passaram por muitas dificuldades e amadureceram. Não são mais jovenzinhas de vinte anos; são mulheres de quarenta e tantos. Então não esperem mais! – segurou a mão da indígena – Se sentem que a hora chegou, vão em frente! – segurou a mão da militar – Sei que eu não sou santa, longe disso, mas duvido que vocês conheçam outra velha prestes a fazer 100 anos! – colocou a mão de Yara sobre a de Elza – Eu abençoo essa união e não ousem me fazer passar vergonha!

 

As duas mulheres riram e se entreolharam emocionadas sem nada dizer.

 

***

 

--Elza? Linda? – Yara voltava para a casa que alugou – Deixei dona Kedima no abrigo e Renata e Jurema ficaram lá com ela. – fechou a porta da sala – Ela realmente ficou feliz com a nossa surpresa e adorou te rever! – seguiu em direção ao quarto – Sabia que ela...? – paralisou com o que viu – Ô, glória! – abriu a boca sem produzir som – “Ô, minha maçã do pecado... deixa eu te morder pra fugir da santidade...” – pensou abestalhada – “Sapeca meu lombinho, capeta da perdição!”

 

A negra usava um vestido curto, decotado e justo no corpo. Sapatos de salto alto deixavam suas pernas ainda mais em evidência, enquanto uma delicada máscara de renda preta cobria-lhe parcialmente o rosto.

 

“Incrível como os anos passam e ela ainda reage assim!” – pensou satisfeita – O que foi? Não gostou da surpresa que eu preparei? – perguntou fingindo inocência – Que pena, porque eu tava pensando em dançar um pouquinho pra você. – mostrou uma cadeira – Até separei aqui pra você assistir de camarote! – sorriu insinuante

 

--Não gostei? – reparava de cima a baixo – Aqui não se tem aleluia no varejo, é no atacado! – afirmou sem saber o que dizia – Ave Maria, saravá minha Mãe!

 

Elza achou graça mas não riu. – Senta aqui, vem? – saiu de perto da cadeira – A música já vai começar. – encaminhou-se para perto do móvel e mexeu no celular – Presta atenção! – pediu cheia de dengo – E fica quietinha aí! – virou-se de frente para a indígena e aguardou a música começar a tocar

 

--Já sentei! – quase se jogou na cadeira – Tô prestando atenção até demais... – babava

 

Ao som de uma música inteiramente instrumental, Elza se aproximava lenta e sensualmente de sua namorada, a qual acompanhava seus movimentos como se estivesse enfeitiçada.

 

--Nesse jogo, meu bem, você não faz nada! – a militar afirmou enquanto dançava – Só observa!

 

--Observa... – repetiu mecanicamente – “Ô, meu cajado de profeta! Vira cobra e rasteja nessa terra quente que abunda no pecado!” – pensou aparvalhada

 

--Você nem pediu transferência, não foi, amor? – virou-se de costas para a indígena e rebolou sensualmente enquanto mexia na costura lateral do vestido – Não levou fé em mim, não é? – virou-se de frente novamente

 

--Nem pediu... – repetiu sem pensar

 

--Não fica esperando... – parou de pé bem próxima a namorada – Pede logo! – puxou o vestido pelos lados e o abriu bruscamente

 

--Misericórdia! – surpreendeu-se – “Ô, glória! É muita aleluia por milímetro quadrado...” -- pensou

 

Elza vestia uma lingerie preta de renda que Yara considerou sensualíssima.

 

--Você vai pedir transferência logo na segunda, não vai? – dobrou a perna direita e pisou com o salto sobre a coxa da indígena sem machucar – Não vai? – levantou o queixo dela com dois dedos

 

--Vai... – respondeu sem pensar

 

Virou-se de costas rapidamente e ameaçou sentar-se no colo da professora, sem, no entanto, fazer isso. – Promete? – pediu sensualmente

 

--Promete... – sentia-se extremamente excitada – Até quando eu só posso ver? – desejava imensamente possuí-la

 

--Não quer mais jogar? – virou-se de frente novamente e desabotoou o sutiã enquanto dançava – E eu achando que você tava gostando... – jogou a peça no colo da outra

 

--Gostando... – não se aguentava

 

--Você já sabe o que eu quero... – debruçou-se sobre a cadeira e parou com o rosto bem próximo ao da amante – E você? – lambeu sensualmente os lábios dela – O que quer? – perguntou insinuante

 

--Você! – respondeu de imediato antes de se levantar e empurrar a negra até imprensá-la contra a parede – Você! – segurou-a pelas coxas e fez com que envolvesse sua cintura com elas – Você! – beijou-a com paixão e ansiosamente introduziu dois dedos por dentro da calcinha da amante

 

--AH! – gem*u alto ao final do beijo – Adoro você assim! – sorriu – Tira essa roupa... – tentava tirar a blusa da indígena enquanto lábios famintos devoravam-lhe o pescoço – Ah, ah, ah! – gemia no ritmo das penetrações

 

Yara e Elza amaram-se com paixão durante a noite inteira.

 

***

 

Cem convidados animadamente ocupavam a casa de festa que fora alugada para o aniversário da centenária Kedima. Após muita interação com os demais, de provar quitutes variados e de se emocionar com o parabéns cantado por todos, a idosa foi convidada a fazer um discurso. Um funcionário da casa aguardava para liberar os fogos indoor ao final de sua fala.

 

Kedima estava sentada em um banquinho em frente à mesa do bolo. Olhava para todos os presentes, que estavam de pé, de frente para ela.

 

--E vocês me pede pra fazer discurso... – Kedima usava um microfone – Eu já nem seguro uma gata pelo rabo e vou discursar? – sorriu timidamente – Ainda mais usando esse trem que pia nos meus ouvido! – referia-se ao microfone. Muitos acharam graça

 

--A senhora tem sabedoria, dona Kedima! – Yara falou – Discurse pra gente! Nós precisamos ouvir!

 

--É isso aí, dona Kedima! – Renata concordou – Manda ver!

 

--Manda ver! – vários apoiaram

 

--Uai? – coçou a cabeça pensando no que dizer – Eu... eu não esperava que a minha vida tomasse o rumo que tomou... – pausou brevemente – Há muitos anos atrás, eu era uma mulher muito exigente com as pessoas, julgava demais e talvez por isso, não tivesse tempo de amar como deveria. – desabafou – Sim, porque pra amar há que se ver as pessoas como são e quem julga muito fica sem tempo pra isso... – considerou – Perdi uma filha, minha única filha, perdi meu marido e me vi sozinha no mundo. – lembrava – Aí um dia decidi dar a mão aos desprezados, aos marginalizados e foi daí que a sementinha do abrigo Ibtisaama foi lançada. – sorriu emocionada – E ela deu frutos! Muito mais do que eu imaginava! – ajeitou-se no banquinho – Teve gente que conseguiu estudar, arrumar um emprego e foi cuidar da vida. – olhou na direção de alguns ex moradores do abrigo – Teve gente que conseguiu um amor e se juntou. – olhou para Ítala e Damiana – Teve gente que sumiu e nunca mais eu soube notícia. Teve gente que chegou e ficou! – olhou para Yara – E teve gente que chegou pra ficar! – olhou para Renata – Cada uma dessas pessoas deixou um pouquinho de si e levou um pouquinho de mim, acabando por me ensinar muito. Inclusive a ser uma pessoa melhor!

 

--Dona Kedima é do caralh*! – Renata cochichou com Jurema – Puta que pariu!

 

--Não xinga no aniversário! – Jurema ralhou falando baixo

 

--Então se eu pudesse deixar uma lição pra vocês, eu diria uma coisa só: -- a idosa continuava discursando – aprendam a importância do perdão, a importância de perdoar! – olhava para os demais – As pessoas erram, todos nós, e sempre vamos errar! Somos humanos, é inevitável! – gesticulou brevemente – Quando alguém errar com vocês e for por mal, for na maldade, perdoem ainda assim. Porque quem guarda rancor, coleciona lixo moral e guardar lixo nunca fez bem a ninguém! – considerou – Não é pra ser trouxa e deixar os outros se aproveitarem. Perdoar, é simplesmente abrir mão de guardar podriça no coração! E o errado que viva com as consequências de seus erros! – pausou brevemente – Mas quando alguém errar com vocês e se arrepender disso, aí, mais que nunca, perdoem! Porque o perdão é muito importante pra quem compreende que errou e deseja se consertar! – suspirou – Há pessoas que passam a vida simplesmente desejando um perdão daquele com quem sabe que muito errou! – falava de si mesma – Se o que uma velha de 100 anos diz vale a pena, pensem nisso! E vivam muito mais leves sem o peso do rancor!

 

Todos aplaudiram e os fogos foram disparados no segundo andar da casa, iluminando todo o salão. Yara admirava emocionada e pensava nas mágoas que ainda trazia dentro de si.

 

“Eu perdoo o senhor por tudo que fez, brigadeiro Goulart.” – a indígena dizia mentalmente – “Perdoo você, Hilton Viejo, por ter matado padre Camilo. Perdoo aqueles que mataram meu camarada Paulo!” – derramou uma lágrima

 

“Perdoo o senhor, meu pai, por ter me jogado fora da sua vida!” – Renata dizia mentalmente – “Perdoo vocês, Alda Maria e Tuyago Lama, pelo atentado que sofri. Perdoo os que me traíram e abandonaram quando fui presa!” – emocionou-se também -- "Que um dia Elza, Yara e todos aqueles que eu machuquei possam me perdoar!" -- desejou humildemente 

 

--Renata? – Yara se aproximou da loura

 

A ex deputada sorriu com os olhos marejados e as duas se abraçaram sem dizer uma palavra.

 

--Tô adorando ver isso! – Jurema bateu palminhas – Chega de brigas e peiticas, viu? – falou para Renata e Yara – De hoje em diante isso acabou!

 

--Agora sim... – Kedima disse para si mesma apreciando a cena – Agora sim... – sorriu – Só me falta a peste do Montanauro perder no segundo turno amanhã que tá tudo certo!

 

 

São José dos Campos, estado de São Paulo

 

Fernandão e Machado estavam dando serviço. Os dois acompanhavam com nervosismo o resultado da apuração dos votos no segundo turno.

 

--Ai, meu Deus, Montanauro tá na frente! – a sargento reclamava olhando para o celular – Por favor, meu Pai amado, não deixa esse homem ganhar! – postou as mãos para o alto

 

--Garbosa, reavivai-vos em vossa fé! – Machado pediu nervosamente – Cruzai vossos dedos, orai ao Pai Santo, à Mãe Sacratíssima e ao Brigadeiro-do-Ar Celestial para que tal besta fera saia derrotada pelo voto do varonil povo brasileiro!

 

--Rezar eu rezo, mas lembra que foi o povo varonil que elegeu ele, né? – respondeu de pronto – Eu vou deixar o celular quieto e fazer uma oração de joelhos! – ajoelhou-se no chão – Não é possível que a gente tenha que aturar mais quatro anos de fascismo na veia!

 

--Unamo-nos neste propósito! – ajoelhou-se também – Luiz Horácio não é lá o que se possa querer, mas contra Montanauro, eu votaria até no brinquedo assassino!

 

--Ave Maria! – benzeu-se

 

Os militares concentraram-se rezando a ponto de perder a noção do tempo. Pouco mais tarde, foram surpreendidos com a chegada do oficial de dia.

 

--Mas o que significa isso? – o tenente perguntou sem entender ao vê-los de joelhos

 

Machado levantou-se de um pulo e deu uma voz de comando: -- Sargento Fernandão, sentido! – a mulher levantou-se igualmente rápido – Estávamos aqui, oh, atencioso tenente, discutindo sobre... – não sabia o que dizer

 

--Como vamos nos preparar pro advento da computação quântica! – Fernandão complementou com o que primeiro lhe veio à mente – Certamente essa tecnologia revolucionará nossos processos!

 

--Hum... – respondeu descrente – E por que de joelhos?

 

--Porque, empolgados com as dimensões nanométricas, picométricas envolvidas na tecnologia em tela, fomos nos abaixando, abaixando até que... postamo-nos de joelhos! – Machado justificou

 

--Sei. – desacreditava por completo – Bem, seja lá o que for, tivemos um problema na portaria porque várias pessoas estão soltando fogos em plena Dutra pra comemorar a vitória do Luiz Horácio. – contava as novidades – E um destes fogos quebrou a vidraça da guarita principal. – olhava para os praças – Sub, sargento, tomem providências pra resolver isso.

 

--Certo, senhor! – Machado e Fernandão prestaram continência ao mesmo tempo

 

O tenente prestou uma continência rápida e se retirou. Ao perceber que estavam sozinhos, os militares sorriram um para o outro e se abraçaram gritando: -- AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 

“Fora, Montanauroooo!!!” – Fernandão gritava mentalmente

 

“Vá de reto, clã desditoso!” – Machado pensou – “Perdeu, mané!”

 

 

São José dos Campos, estado de São Paulo / Manaus, estado do Amazonas

 

--Alô? – Elza atendeu ao telefonema de Luiza – Tudo bem?

 

--Tudo! E tenho uma notícia maravilhosa pra você! – foi logo dizendo – O Paz foi empossado ontem como diretor do Instituto e ele me disse que um dos colegas da turma dele vai estar no Gabinete do Ministério da Defesa! – falava empolgada – Então ele só quer o seu de acordo pra começar a tratar da sua transferência!

 

A negra parou de andar. Estava prestes a entrar na base aérea. – O que?? – o coração disparou

 

--Isso mesmo que você ouviu! Ele só quer o seu de acordo! – repetiu o que falou – Não precisa de nada formal. Basta me enviar um e-mail dizendo que deseja a transferência e o resto corre conosco por aqui.

 

Elza respirou fundo e fechou os olhos. Gastou uns segundos calada antes de responder: -- Você não sabe o quanto fico feliz em ouvir isso, mas eu gentilmente vou recusar. – abriu os olhos

 

--Hã?! – não entendeu a resposta – Desculpa, mas... você tá bem? O que aconteceu? – não entendia

 

--Aconteceu que eu amo o Instituto e sou muito honrada por ter feito parte dessa equipe por tanto tempo, mas hoje, meu lugar é aqui. – afirmou com convicção – Manaus é onde quero viver e nessa base é onde desejo servir!

 

Luiza ficou pasma.

 

--A vida mostra a cada momento a direção pra onde devemos guinar o voo, Luiza. – voltou a caminhar – E agora os ares por onde navego são estes, no norte do país!

 

Balançou a cabeça concordando. – Grande perda pro Instituto, mas se a base e o Amazonas conquistaram você, renda-se a esse amor! – respondeu com brandura

 

--Já me rendi! – sorriu – E aqui pretendo passar o resto dos meus dias com o amor da minha vida!

 

Entendeu que a negra se referia a Yara. – Desejo tudo de bom! De verdade!

 

--Eu sei! O mesmo te desejo e obrigada por tudo! – Elza agradeceu

 

--Da mesma forma te agradeço, Elza! – sorriu também – Que possamos sentir o doce gostinho da liberdade até o fim da vida e que o amor e o desejo de servir ao país nunca nos falte!

 

--Amém!

 

 

Goiânia, estado de Goiás

 

--Eu não entendo esse trem de ato golpista! – Kedima resmungava diante da TV – O coisa ruim perdeu e esse povo quer o que? Trazer ele de volta na marra?

 

--E na base da porr*da! – Renata respondeu de pronto – A televisão mostrou pouco da baderna e do vandalismo que aconteceu na Esplanada dos Despautérios! – olhava para a idosa – Na parte norte de Brasília fizeram miséria!

 

--Não só lá! – Yara complementou – Aconteceram atos de vandalismo em várias outras cidades! Além do fato de que tem gente acampada em frente ao QG do Exército, no Rio, querendo que os militares façam um repeteco versão 4.0 do golpe de 64!

 

--Não precisa ir tão longe! – Marcio se meteu na conversa – Tem gente acampada até em frente ao mercadinho da esquina! – gesticulou – Fui lá fazer umas compras pro abrigo e agarraram nas minhas pernas! Tive que dar muita sapatada e rabo de arraia pra poder entrar!

 

--Eu hein! – a idosa fez um gesto – Mas deixe perguntar o que interessa: -- olhou para Yara – e a transferência? Sai ou não sai? – queria saber

 

--Não sei, dona Kedima. – respondeu com a verdade – O pessoal da Federal do Amazonas se empolgou, o pessoal daqui não gostou e independente disso, não canso de dizer que essas transferências são um trem complicado. – passou a mão nos cabelos – Pedi na semana anterior ao seu aniversário, então temos só dois meses. Vamos ver.

 

--E por que você cismou de ir, hein? – Marcio perguntou curioso

 

--Por que? – Renata fofocou também

 

--Porque o amor da minha vida mora lá e vocês não precisam saber mais que isso! – respondeu sorridente

 

“E quem será essa?” – a loura pensou intrigada – Falando em amor da vida, -- olhou para Kedima – agora que a senhora deu sua bênção pra Jurema e eu, vou pedir ela oficialmente em casamento! – sorriu – Já falei com a minha mãe e a parentada vem na festa!

 

--Eita, que o trem ficou sério! – Yara brincou

 

--E vai ter festa? – Marcio perguntou interessado – Tá com dinheiro, viu, fi? – brincou

 

--Sou contadora do Comuna e da imobiliária perto da Tamadaré. – a loura respondeu – Também faço a conferência dos balancetes dos negócios da família. Não é grana pra enricar, mas dá pra fazer umas gracinhas. -- sorriu

 

--E como vocês vão fazer, filha? – a idosa queria saber – Jurema vem morar aqui ou você vai morar lá com ela?

 

--A gente vai continuar cada uma morando onde está. – respondeu de pronto – Cheguei a ventilar com ela a hipótese de casar, ela disse que preferia cada uma morando num lugar e eu tô dentro. O importante é firmar o compromisso, tá ligado?

 

--Melhor assim! Que aí continua obedecendo a regra não ter safadeza debaixo do teto do abrigo, né, dona Kedima? – Marcio provocou

 

--Oxe! – fez cara feia – Safadeza e acasalamento aqui não! – gesticulou revoltada

 

Yara, Renata e Marcio acharam graça.

 

 

***

 

Fogos de artifício clareavam os céus da capital de Goiás. O ano de 2023 chegava trazendo esperança de que, apesar de ainda haver muito a ser mudado, o país seguiria por uma direção menos dolorosa.

 

Após confraternizar com todos na festinha de réveillon do abrigo, Kedima era levada para seu quarto por Yara e Renata.

 

--Vão cada uma pros seus cantos! – a idosa ordenava ao sentar em sua cadeira de balanço – Só quero que coloquem meu disquinho na vitrola, tocando bem baixinho, e me deixem sozinha. – fez um gesto despreocupado – Coisa de velha!

 

--Tá na ponta da agulha. – a indígena pegou o disco e fez como solicitado – A senhora não quer ir no banheiro, não tá precisando de nada?

 

--Sua garrafa d’água tá vazia. – a loura observou – Quer que eu encha?

 

--Eu quero é que você vá pro seu canto! – olhou para a professora – E você vá pra casa da sua futura esposa! – dirigiu-se a ex deputada – Agora sou eu e minha Libertad! – referia-se à cantora

 

--Tá certa! – Renata olhou para a foto de Elissa – Quer segurar o porta retrato? – ofereceu

 

--Não... deixe onde está. – respondeu mansamente

 

As duas mulheres deram beijos na cabeça da idosa, pediram a bênção e se retiraram.

 

--Agora somos nós, minha filha... – olhou para o retrato – Somos nós... – fechou os olhos para sentir a música

 

“Tarde que me invita a conversar con los recuerdos (Tarde que me convida a conversar com as lembranças),

Pena de esperarte y de llorar en este encierro (É uma pena esperar por você e chorar neste confinamento)...”

 

“Ah, minha Elissa, minha menina...” – a idosa pensava – “O presente que eu mais desejava nessa vida era o seu perdão...” – derramou uma lágrima

 

--Ao derradeiro dia do ano, talvez os sonhos se transformem em realidade. – a voz de um homem se fez ouvir

 

--Yasser?? – Kedima abriu os olhos e viu o marido radiantemente vestido de branco, sorrindo para ela – Yasser, você veio me ver? – perguntou emocionada

 

“Tanto en mi amargura te busqué sin encontrarte (Tanto na minha amargura te procurei sem te encontrar),

Cuándo mi alma, cuándo moriré para olvidarte... (Quando minha alma, quando vou morrer para te esquecer....)”

 

--Sim, mas não estou sozinho. – mudou de posição e apontou para alguém que aguardava atrás dele

 

--Elissa?? – a idosa não aguentou e chorou copiosamente – Oh, minha filha! – lançou-se de joelhos no chão – Eu passei os últimos 47 anos ansiando o seu perdão... – olhava para a jovem – Por favor, será que poderia...? – não teve coragem de completar a frase

 

--E eu passei os últimos 47 anos sofrendo as consequências de meu ato de desespero. – ajoelhou-se ao lado da mãe – A senhora não escolheu por mim. A decisão foi minha! – derramou uma lágrima sofrida

 

“Quiero verte una vez más, estoy tan triste (Eu quero te ver mais uma vez, estou tão triste),

Y no puedo recordar por qué te fuiste (E eu não consigo lembrar por que você foi embora)...”

 

--A culpa foi minha! – a mãe retrucou – Eu te induzi a fazer o que fez, por causa do meu carrancismo e intolerância! – lutava para falar apesar do choro – E passei anos a fio tentando encontrar um pouco de você em cada criatura que passou por esse abrigo!

 

--E a cada vez que fez isso, foi como se fizesse a mim! – Elissa respondeu emocionada – Eu sentia o seu amor, o seu carinho e o seu arrependimento, maama... – começou a chorar – O perdão que tanto desejou já lhe foi dado há muito tempo... – pausou brevemente – Eu te amo, maama...

 

--Oh, minha filha! – abraçaram-se com força – Minha filha, eu te amo tanto, tanto, tanto... – choravam juntas

 

“Quiero verte una vez más y en mi agonía (Eu quero te ver mais uma vez e na minha agonia),

Un alivio sentiré y olvidada en mi rincón (Vou sentir um alívio e esquecida no meu canto)...”

 

--É hora de ir. – Yasser afirmou emocionado – A família se une mais uma vez... – sorriu com os olhos marejados

 

E assim, Kedima Yahiah partiu desta Terra após receber o presente que mais desejava e pelo qual muito trabalhou para obter na vida.

 

Más tranquila moriré... (Mais calma eu vou morrer...)”

Libertad Lamarque - Quiero Verte Una Vez Más [1]

 

 

Fim do capítulo