INUTILIA TRUNCAT
São José dos Campos, estado de São Paulo
Era quarta-feira de cinzas e Graça havia convidado seus amigos para um jantar. Ao terminar a sobremesa, Elza, Machado, Fernandão e Goulart sentiam-se satisfeitos com as iguarias que lhes foram servidas.
--Dona Graça, que grande cozinheira a senhora é! – Fernandão elogiava sorridente – O sargento Machado sempre elogiou sua comida e vejo que ele não exagerou em nada! – olhava para a mulher – Eu agradeço muito por esse convite! – olhou para Goulart – E ao senhor também, major! – pausou brevemente – Ainda não havia tido oportunidade de lhe dizer isso, mas parabéns pela promoção!
--Ora, querida, você já é da casa, não precisa ser tão formal. – Graça respondeu descontraída – Fico feliz que tenha gostado desse jantar carnavalesco. – sorriu
--Obrigada, Fernandão. Como Graça falou, você já é da casa! – Goulart respondeu com simpatia
--Faço minhas as palavras da garbosa cabo Fernandão! – Machado afirmou após limpar os lábios – As refeições servidas nesta casa são deveras soberbas! – elogiou – E nosso prestimoso major Goulart logo será um varonil Tenente-Brigadeiro-do-Ar, estou certo! -- desejou
--Calma, homem! – Goulart respondeu brincalhão – Daqui até lá tem muito chão! – sorriu
Elza se sentiu à vontade com o clima que imperava na casa e começou a falar o que desejava: -- Eu também gostei muito do jantar, tia Gracinha, como sempre gosto muito de me reunir aqui com vocês. – olhava para todos – E eu tava pensando, sabe? – abaixou a cabeça – Sei que no ano passado cometi minhas burradas... – admitiu – Menti, inventei histórias, fui descoberta da pior forma e morri de vergonha... – pausou brevemente -- Sei que perdi a confiança de todos vocês mas eu queria muito recuperar... – estava sendo sincera – Não quero fazer as mesmas besteiras de novo...
--Todos aqui já fomos jovens como você, meu bem! – Graça segurou uma das mãos da moça – Podemos ter nos aborrecido na ocasião, ficamos decepcionados, sim, mas não quer dizer que deixamos de te amar.
--É verdade, querida. – Goulart concordou – Não deixamos e estamos dispostos a confiar em você novamente. – afirmou com mansidão
A jovem levantou a cabeça sorridente.
--Não vos lobrigueis e nem se turbe o vosso coração, Elzinha! – Machado concordava com os demais – Sabemos que vós sois o sal da terra! – gesticulou – E se o sal se tornar insípido, com o que salgar-se-á?
--E ninguém gosta de comida insossa, né, menina? – Fernandão brincou e ela riu
--Fico feliz que vocês me entendam! – sentia-se mais em paz – Até com a tenente Chiara eu tô me enturmando melhor, sabia? – comentou animada – Desde que consertei o rádio e o ventilador dela, parece que agora somos amigas! – contava – “Além do fato de que agora é freguesa assídua do salão da tia da Alê!” – pensou
--Ouviste isso, prestimoso? – Machado olhou orgulhoso para o amigo – Meu rebentinho ressuscita uma vasta gama de eletrônicos e eletrodomésticos em uma casa!
--Elza aprende rápido! – Fernandão balançou a cabeça concordando – E tem muito jeito com atividades práticas!
--Sim, eu sei de tudo isso! – Goulart respondeu orgulhoso – Chiara elogiou bastante nossa Elza e disse que é uma jovem exemplar! – comentou para os demais – Ela me disse que acha que Elza tem tudo pra ser uma excelente oficial no futuro!
A jovem ficou toda prosa com o que ouviu.
--E graças a Deus, mesmo com toda confusão e greve e sei lá mais o que, nossa menina passou de ano muito bem! – Graça continuava segurando a mão da outra -- Agora já vai começar o terceiro ano do curso e no ano que vem virá o quarto e último ano de estudos pra se formar em técnica! -- sorria
--Amém! – todos disseram ao mesmo tempo
--E depois vou pra faculdade, me formar e me tornar oficial da Aeronáutica! – afirmou resoluta
--Minha filha, sangue do meu sangue, plasma do meu plasma, oficial... – Machado suspirou – É muita emoção para um peito varonil de pai... – sorria abestalhado
--Isso mesmo, filha, tem que ter foco! Mantenha o foco! – Goulart aconselhou – Depois que pensa em rapazes, em namorar e casar. – olhava para a moça – Se surgir algum que lhe encante, ainda assim fique atenta! Tem muito aproveitador por aí! -- advertiu -- Sem contar que gravidez na adolescência é coisa muito séria!
--Decerto que há muitos fanfarrões! – Machado concordava – Há rapazes que visam apenas o gineceu! – falou em voz mais baixa
--Gineceu, Machado? – Graça riu divertida – “Ai, ai, só ele pra dizer uma doideira dessa!” – pensou divertida
Fernandão percebeu que Elza abaixou a cabeça envergonhada e nada comentou a respeito. “Hum... se eles soubessem que o negócio dela é um bom de um gineceu...” – pensou – “Deixa quieto!”
***
Agosto já estava no fim. Elza estranhou ser a única aluna que aguardava a aula de educação física e ficou sem entender. “Mas de fato, de repente, parece que a Escola esvaziou!” – pensava intrigada
--Elza, sua doida, eu te procurando e você moscando aqui? – Alessandra vinha esbaforida – Vamos embora, amiga, senão a gente perde o bonde! – bateu duas palmas – Anda, mulher, levanta daí e me segue!
--Te seguir pra onde? – levantou-se sem entender – Cadê todo mundo, o que houve? – seguia a amiga sendo puxada pelo pulso – Calma, que assim você me derruba! – tentava acompanhar os passos da outra
--Você vive fora da Terra, né? – respondeu sem desacelerar o passo – Amiga, são esperados mais de 400 mil estudantes no protesto que tá rolando pra fazer o impeachment do presidente e você não imagina pra onde foi todo mundo? – olhou brevemente para a outra – A maior cabeçada saiu do MASP rumo ao Largo de São Francisco e é pra lá que a gente vai!
Elza não sabia se isso seria bom ou ruim mas decidiu ir assim mesmo.
***
--Uau, eu nunca vi tanta gente na minha vida! – Elza exclamou ao chegarem perto do Largo – Nossa, que da hora! – bateu palminhas – Olha que carro de som imenso! -- apontou
--Vai ser foda achar nosso pessoal no meio dessa multidão! – Alessandra olhava para todos os lados – Cara, parece que todos os estudantes dessa cidade tão aqui! – sorriu – Ih, olha, aquele pessoal ali pintando a cara da galera! – apontou – Vamos lá pintar a cara! – segurou-a pelo pulso e se embrenhou no meio das pessoas
--Alê, calma, tem muita gente no caminho! – sentia-se espremida – Espera! – falava mais alto
--Alô, pessoal! – um rapaz começava a falar do alto do carro de som – A gente tá reunido aqui por causa de que mesmo? – fingia-se de desentendido – Será que alguém pode me dizer? – colocou uma das mãos perto do ouvido
--FORA FERDINANDO!!!!!! – a multidão gritou em coro
Neste momento Alessandra soltou o pulso de Elza e as duas acabaram se afastando mais que o desejado.
--ALÊ!! – a jovem negra gritava – ALÊ!!! – gritou novamente – Ai, meu Deus!
--ELZA!!! – chamava pela amiga – Caraca, sumiu como por encanto! – chocava-se contra os manifestantes – Pra onde ela foi? – procurava em vão – ELZA!! -- gritou
Espremida por vários jovens, Elza definitivamente não conseguia mais identificar sua amiga no meio deles.
--Ai, que droga! – sentiu-se perdida – E agora, meu Deus? – passou a mão nos cabelos e pensou no que fazer – Cadê o tal pessoal pintando a cara dos outros? – reparou que vários grupos faziam isso – Que maravilha, e agora? – olhava para todos os lados em busca da amiga – Já sei, vou pra perto do carro de som! – decidiu – Alê sempre gosta de um tumulto mesmo! – tentava se aproximar do veículo
--Juventude cara pintada, é hora de reagir! – um rapaz bradava no carro do som – Esse país viveu esmagado por 21 anos de ditadura e agora esse presidente Ferdinando quer colocar a democracia a perder com essa corrupção deslavada que aí está! – gesticulava com raça – A gente não aceita isso! Não aceita! – olhava para a multidão – Quem tá comigo grita: FORA FERDINANDO!!!! – socou o ar
--FORA FERDINANDOO!! – o povo gritou
--Gente, eu fico surda! – Elza acabou achando graça – FORA FERDINANDO! – gritou também
--Quer que te pinte, gata? – uma jovem loura se apresentou de repente falando alto – Vai um verde e amarelo, aí? – piscou para a outra
Elza olhou para loura e sorriu respondendo em voz igualmente alta: – Quero sim! – parou de andar – Mas... aqui? – sentia-se encurralada no meio dos outros
--Vem comigo. – segurou-a pela mão e a guiou com dificuldade para perto do carro de som parando ao lado dele – Pronto. – parou de andar – Aqui tá menos tumultuado. – sorriu novamente – E as caixas de som tão gritando pra lá, né? -- apontou na direção do som – Agora vamos pintar esse rostinho lindo!
--Obrigada... – sorriu timidamente – “Você é que é linda...” – pensou ao reparar no rosto da loura de cabelos curtos
--O que a gente quer, caras pintada??? – o homem berrava do alto do carro de som
--FORA FERDINANDOOO!!! – e tome do povo gritar
--Pronto! Ficou da hora! – concluiu a pintura – Mas pra ficar uma revolucionária completa só falta subir comigo no carro de som! – convidou
--Eu?? – arregalou os olhos – E é assim, qualquer um pode subir? – ficou pasma
Achou graça da pergunta. – Esse carro de som é da União dos Estudantes do Brasil. – guardou os potes de tinta em uma bolsinha – Eu sou filiada e também sou do Partido Comuna. – explicava – O Partido tá junto, então... – abriu os braços rapidamente – Posso subir e quem tiver comigo também. – olhava nos olhos – Vamos? – piscou
Elza sentiu o coração disparar. “Caramba, eu com essa gatíssima no alto de um carro de som revolucionário!” – pensava – “Nem Alê nunca fez coisa igual!” -- sorriu
Minutos depois, Elza estava no alto do carro de som. De mãos dadas com a loura e com um rapaz trajando uma camiseta vermelha, cantava empolgada acompanhando a música que parecia ecoar por todos os lados.
“Caminhando contra o vento,
Sem lenço, sem documento,
No sol de quase dezembro,
Eu vou...”
--Gente, Elza tá cantando no alto do carro de som?? – Alessandra reconheceu surpreendida – Caraca, mandou bem! -- achou graça – Valeu, amiga, uhu!! -- gritou
“Em caras de presidentes,
Em grandes beijos de amor,
Em dentes, pernas, bandeiras,
Bomba e Brigitte Bardot.
O sol nas bancas de revista,
Me enche de alegria e preguiça,
Quem lê tanta notícia?”
Elza virou o rosto na direção da loura e se perdeu no par de verdes que se fixaram em seu olhar.
“Eu vou,
Por entre fotos e nomes,
Os olhos cheios de cores,
O peito cheio de amores vãos...
Eu vou,
Por que não? Por que não?”
Caetano Veloso – Alegria, Alegria [1]
--Por que não? – a loura perguntou perto do ouvido da negra
Elza abaixou a cabeça envergonhada e sorriu.
***
--Meu Deus, menina, você vinha tão bem e de repente me faz uma coisa dessas? – Goulart reclamava chacoalhando uma folha de jornal – Quarta-feira eu quase caí pra trás quando peguei o jornal e dei de cara com isso! – jogou a folha sobre a mesa – Primeira página de O Mundo: -- gesticulava – você, num carro de som, de mãos dadas com uma moça e um rapaz nitidamente comunistas! – riu de nervoso -- Você tem o que na cabeça, hein, Elza Machado, será que pode me dizer? – olhava para a jovem – Além de tudo ainda diz aí que vocês cantavam simplesmente Alegria, Alegria! – falava de cara feia
--Se ainda cantassem o hino da bandeira... – Machado considerou – Canção belíssima de puro parnaso varonil. – balançou a cabeça pensativamente
--Tio, mas... – Elza tentava se explicar – Todos os estudantes foram protestar pelo impeachment, por que eu deveria ter ficado de fora? – perguntou timidamente – Eu não acredito que o senhor seja favor da permanência desse presidente no poder!
Respirou fundo antes de responder: -- Nenhum militar que se preze é a favor da continuidade desse governo, mas o ponto não é esse! – falava com firmeza – Você quer ser militar, não quer? Quer ser uma oficial, não quer? – gesticulava – Então como se mete no meio de comunistas? Você não viu que o carro de som tava infestado deles?
--Tantos vermelhos que assemelhar-se-iam ao bloco do Boi Garantido! – Machado comentou
--Tio... – não sabia o que dizer
--E você sabe por que eles escolheram essa música rebelde como pano de fundo, sabe? – Goulart insistia – Porque a TV Mundo tá transmitindo uma minissérie pra falar da pretensa ditadura militar no Brasil! – explicava -- Aí você vai e dá força pra isso, cantando a trilha sonora do seriado deles!
--Tempos Indóceis. – Machado citou o nome do seriado – Verdadeiro ode à rebeldia comunista!
--Que seja a última vez uma coisa dessas, viu, Elza? – Goulart advertiu de cara feia – A última vez!
A jovem apenas suspirou sem nada dizer.
***
--E aí, quando cheguei na rodoviária na sexta à noite, meu tio Goulart e meu pai me esperavam com uma cara que nem te conto! – olhava para a amiga – Tomei um esporro daqueles porque apareci na capa do jornal de quarta e eles ficaram falando de comunismo e mais um monte de coisas! – gesticulou
--Amiga, eu nem tinha visto esse babado! – respondeu animada – Tia Malu foi que me mostrou no sábado, porque aconteceu de uma cliente largar esse jornal no salão e quando ela pegou pra jogar fora te reconheceu e levou pra casa pra me mostrar! – gesticulava – Achei o máximo ter uma amiga como capa de jornal! – riram brevemente – E até saquei que a súbita coragem que te deu de ir lá pra cima veio da loura que tava de mãozinha dada contigo! – deu-lhe um tapinha na perna – E não nega, porque a foto mostra as duas naquele olhar de peixe morto que entrega o jogo!
--Jura?! – arregalou os olhos – “Ainda bem que ninguém em São José percebeu esse lance!” – pensou aliviada
--Mas, vai, abre o jogo comigo! – pediu – Quem é aquela comuna que te encantou? – queria saber
--Ah, eu... Eu nem sei o nome dela... – abaixou a cabeça -- Foi aquela empolgação de passeata, aquela coisa louca daquele dia... – levantou a cabeça timidamente -- E provavelmente nunca mais vou ver aquela garota de novo... – queria encerrar aquele assunto – Outra coisa também foi que nesse final de semana descobri que o ITA ainda não tem vaga pra garotas. – suspirou – Vou ter que fazer faculdade no meio civil mesmo...
Percebeu a brusca mudança de assunto mas não insistiu no tema anterior. – Ih, Elza, desencana! – aconselhou – Faz vestibular pra USP e vai ser feliz. Aquela faculdade é ótima e tem vaga pra mulher, pra homem, pra porr* toda! – brincou – Eu vou tentar pra UFRJ. Minha mãe me quer de volta no Rio. – olhava para a amiga – Vou morrer de saudades de você, mas pelo menos ainda teremos esse ano e o próximo juntinhas pra azucrinar aqui em Sampa! – brincou e elas riram
--Também vou morrer de saudades... – dizia a verdade – Ai, nem quero pensar nisso agora pra não sofrer! – balançou a cabeça como se espanasse as ideias -- Ano que vem cê vai estudar de manhã ou à noite?
--Vou começar na manhã e quando arrumar um estágio passo pra noite. – respondeu de pronto
--Nem ouso em planejar isso porque meus tios e meu pai não querem saber de me ver estudando de noite! Eles morrem de medo! – lembrava do que ouviu – Nem a tenente Chiara me quer estudando de noite e eu tô na casa dela, né?
--Humpf! – fez um bico – Então reza, e reza com um pé de coelho e um trevo de quatro folhas debaixo do travesseiro, porque vai ser dificílimo conseguir estágio de meio período! – aconselhou – “Graças a Deus que a minha família não é neurótica igual a dela, puta que pariu!” -- pensou
***
Elza prestava atenção a tudo que estava sendo apresentado na Feira Tecnológica da Escola e se arrependia por não ter desenvolvido um projetinho para expor também. “Poxa, mas eu dei um mole!” – pensava – “Tanta coisa da hora nessa FETEC e eu só babando...” – admirava um veículo robótico que limpava o chão – Colocaram o nome do robô de Mercedita... – falava consigo mesma – Que mau gosto! – achava graça
--Ah, uma dessas lá em casa... – uma voz de moça se fez ouvir
Olhou na direção da voz e deu de cara com a loura. – Você?! – sorriu surpreendida – Você é a moça da passeata! – reconheceu – “Gente, e mais gata do que nunca!” – pensou
--Só faltou o mais importante. – estendeu a mão – Renata, prazer. – sorriu e deu três beijinhos de comadre
--Elza. O prazer é meu. – sorriu timidamente ao soltarem as mãos – Você é mineira? Dizem que os mineiros é que dão três beijinhos.
--Sou daqui mesmo, mas gosto de beijar. – piscou para a outra
--Ah! – abaixou a cabeça – E eu que não sabia que você estudava aqui. – sentia as bochechas queimarem
--Curso de mecânica, terceiro ano, turma da tarde. – reparava na outra – Se procurar na lista da 3HMEC vai ver que sou a única mulher da turma.
--Nossa! – não sabia o que dizer ao olhar para a loura novamente – Eu sou da eletrônica, mas estudo de manhã. Terceiro ano também, turma 3AEL.
--Te conheci em agosto e só agora te reencontro, em pleno mês de dezembro e graças à FETEC. – passou a mão nos cabelos curtos -- Você tá apresentando algum trabalho aqui? – perguntou curiosa
--Não, tô só babando pelo trabalho dos outros. – respondeu timidamente – Tô desde cedo admirando.
--Então já deve ter visto praticamente tudo, né? – segurou uma das mãos dela – Vamos dar uma fugidinha pra conversar melhor? – piscou
“E tem como dizer não?” – pensou embevecida
***
--Então é pra cá... que você traz... as suas vítimas... dona Renata? – Elza perguntava entre beijos
--Se quer saber... – beijou-a – Você é... simplesmente... a segunda... – respondeu entre beijos
As duas moças namoravam escondido em uma salinha abandonada no último andar do prédio mais alto da Escola.
--Ai... – suspirou ao final do beijo – Eu nem sabia que existia esse lugar aqui... – envolveu o pescoço da outra com os braços – Adorei saber... – beijou-a mais uma vez
--Olha só... – beijou-a -- Você me disse que volta pra tua cidade amanhã cedo, né? – abraçava-a pela cintura com força – Então vamos marcar de se ver no ano que vem? – pediu
--Quando as aulas recomeçarem? – perguntou animada – “A pena é ficar esse tempo todo sem vê-la novamente...” – pensou
--Pô, eu tava pensando em dar uns perdidos lá em São José... – mordeu os lábios da negra – Pode não? – beijou-a – Hein? -- sorriu
Elza respondeu com um beijo.
***
Elza e Fernandão trabalhavam na montagem de um circuito eletrônico para fazer um detector de aproximação. O objetivo era evitar que Machado continuasse tendo problemas ao estacionar o carro na garagem de casa.
--Você acha que o feixe infravermelho que esse foto-diodo emite vai ser suficiente pra disparar o alarme a tempo de papai não fazer burrada? – Elza perguntava enquanto examinava atentamente o componente
--A distância vai ser curta, mas o sargento não entra na garagem correndo. – respondeu enquanto soldava um par de fios – Confia que vai dar certo! – garantiu
--Deus te ouça! – deixou o foto-diodo sobre a mesa e separou os capacitores – Calculei que a gente precisa de dois capacitores de 1 microFarad e mais dois com 10% dessa capacitância.
--Tô botando fé! – sorriu para a moça ao terminar de soldar – Elza, deixa eu aproveitar que o sargento ainda não voltou da padaria pra te dar um toque. – debruçou-se sobre a mesa – Cê tá dando muita sorte pro azar, viu? – advertiu preocupada
--Como assim? – olhou para a outra sem entender
--Ontem, garota! – começou a falar mais baixo – Você sabia da comemoração no Clube do Ar e tava se pegando na pracinha com uma loura minutos antes da festa começar! – percebeu que a jovem morreu de vergonha – Quando cheguei no Clube, mandei o maior papo pra poder justificar que tu ia chegar atrasada no teu próprio aniversário!
Cobriu o rosto brevemente com as duas mãos. – Vergonha, meu Deus! – olhou para a outra – E como você me viu? – estava pasma
--Tava de moto, atrasada, cortei caminho pela praça e vi o que não devia! – cruzou os braços – Goste-se ou não, isso aqui não é uma cidade grande como São Paulo. Fica dando sopa, meu? -- gesticulou
--É, eu sei que você tá certa, mas... – pausou brevemente – Ah, ela veio de São Paulo só pra me ver, né? – sorriu embevecida – Me trouxe um presentinho e tudo!
Acabou achando graça e balançou a cabeça. –Se você quer continuar sendo discreta, fica mais esperta! – olhava para a jovem – E fica atenta com essa garota aí também pra não sofrer como foi com a outra. – advertiu – Alinha as expectativas porque você é romântica e sonhadora demais. Nem todo mundo é assim.
--Relaxa, Fernandão! – voltou a se concentrar no trabalho – Renata não é igual a Carla e nem eu sou a mesma tolinha de antes!
--Tomara! – voltou ao trabalho também – Você é muito passarinha pra andar com qualquer morcega.
***
--Ah, ah, ah!! – Elza gemia de prazer sentindo a penetração dos dedos de Renata – Ai, assim vai! – pedia ao abraçá-la com força
--Goz* pra mim, gostosa, goz*... – mordia a orelha da namorada – Goz*... – acelerava o ritmo das penetrações – Goz*, delícia!
--AH, AH, AH!! – sentiu o orgasmo chegando e fechou olhos – AH... – sorriu e deslizou as mãos pelas costas da loura – Ai... – suspirou satisfeita – Ai... – sentiu as mãos dela deslizarem por suas coxas apertando com força -- “Ela é muito melhor que a cachorra da Carla!” -- pensava
As duas jovens estavam sentadas na cama do quarto de Renata. A negra envolvia a cintura dela com as pernas.
--Adoro fazer amor com você, Elzinha! – beijou-a – Gostosa! – sorriu e beijou-a demoradamente
--Ai... – colou testa com testa – Também adoro... – admirava o rosto da outra – Até me fez esquecer a odiosa experiência de passar por duas entrevistas de estágio no mesmo dia que me reprovaram porque sou mulher!
--Porr*, nem me fala! – revirou os olhos – Empresas de merd*! – reclamou -- Anunciam que têm vaga pra ambos os sex*s só pra não ficar mal na fita com o Centro de Integração de Estágios mas na hora H só querem homem! – falava de cara feia – E dão cada desculpa escrota! Não aceitam mulher porque não têm banheiro feminino! – lembrava do que Elza lhe disse – Porr*, faz a merd* do banheiro!
--Eu vou dar queixa das duas lá no Centro de Integração. – acariciava o rosto da loura – E você? Ainda não arrumou estágio? – perguntou preocupada – Imagino que na mecânica seja ainda pior pras mulheres!
--E é mesmo! – concordou – Mas eu ainda não tô procurando, não. – confessou – Tô vendo uns lances aí que o pessoal do Partido me pediu e depois vejo isso. – beijou-a
--Amor, você tem que levar sua formação mais a sério! – Elza advertiu – Suas notas dificilmente são boas e até pra procurar estágio você põe o Partido na frente? – reclamou com jeito – Não pode!
--Na sua frente não ponho! – respondeu de pronto ao beijá-la – Confia em mim que vou dar meu jeito! – beijou-a novamente – E você bem que podia estudar de noite igual a mim, hein? – beijava o pescoço da namorada – Até tua amiga tá na night... – beijou-a
Achou graça. -- Minha família... não me quer... estudando... à noite. – respondeu entre beijos – E você sabe que comigo a coisa é complicada. – segurou o rosto da namorada com as duas mãos -- Não vê os malabarismos que faço pra tá com você?
--Malabarismos? – sorriu maliciosa – Faz um malabarismozinho comigo aqui agora? – em um movimento brusco deitou a ambas na cama – Faz? – beijava um seio da jovem – Posição diferente comigo? – sugou-lhe o mamilo
“E tem como dizer não?” – pensou excitada
***
Alessandra havia ido ao CEFET pela manhã para entregar um relatório de estágio. Encontrou com Elza e ficaram conversando perto da cantina
--Dei sorte que hoje lá no estágio deram folga pra gente. O transformador da rua explodiu e o gerador da firma não entrou.– contava -- Daí aproveitei pra vir resolver as burocras da Escola logo de uma vez. – olhava para a amiga – E você? Até agora nada de estágio, né? – perguntou preocupada
--Você tinha razão, Alê: praticamente não se acha estágio de meio expediente! E os poucos que encontrei ou não me quiseram porque sou mulher ou eu não quis porque eram lá no inferno da pedra! – falava um pouco chateada – Vi que abriu concurso pra alguns estágios bem interessantes mas é tudo período integral... – suspirou – Tive a maior discussão com a minha família por causa disso! Eu falei assim: gente, junho chegou, daqui a pouco as férias do meio do ano começam e eu sem estágio! Isso vai atrasar minha entrada na faculdade! – contava – Mas foi o mesmo que nada! Todo mundo cheio de argumentos pra explicar porque eu não posso estudar de noite! – fazia cara feia
--É foda, amiga... – revirou os olhos – Nem sei o que dizer!
--Até a Rê fica falando que eu devia estudar de noite, mas vai botar isso na cabeça da minha família? – cruzou os braços – Pensam que sou neném até hoje, né?
--Amiga, falando nessa tua namorada aí... – aproximou-se mais para falar mais baixo – Cê não acha que tá indo com muita sede ao pote, não?
--Ah, Alê, por que hein? – perguntou chateada – Se você falou com ela umas três vezes foi muito!
--O problema é que vocês são muito diferentes e eu acho que querem coisas diferentes também! – foi direto ao assunto – Aquela Renata quer nada com nada, amiga! E até agora nem arrumou estágio! – gesticulava -- Além do mais, pelo que você me diz, ela só se vira em mil pra fazer o que o Partido quer ou pra arrumar jeito de trans*r contigo, né? – olhava para a outra -- Mas nunca chega junto com nada! Namorada ruim que nunca tem tempo de passear contigo, fazer coisas interessantes... Relação com ela é só sexual e olhe lá! – criticava – E eu ainda acho que você correu pro abraço com ela muito rápido, mas enfim! – deu de ombros
Sentiu o rosto queimar de vergonha. – Quer falar baixo, por favor? – reclamou – E também nem é assim como você diz, tá? – falava de cara feia
--Eu tô falando baixo e tô te situando porque você acha que tá vivendo um grande amor com aquela maluca mas ela só quer é sacanagem! – disse o que achava – Porém, se você não aceita ouvir, então não está mais aqui quem falou!
Elza ficou chateada com a amiga. “Alê é engraçada! Pega um aqui e outro ali e eu não falo nada! Mas aí vem se meter com meu namoro?” – pensava revoltada – “Eu hein, não se manca!”
***
--Você ficou muito tempo sem se cuidar, Graça! – a médica falava com jeito – Mesmo naquela ocasião em que tratamos da Elza só ela se consultava, você não. – prestava atenção à paciente – Eu vou te passar o pedido de ressonância e certamente vamos ter que fazer uma biópsia. – pegou os papéis de receituário para preparar as prescrições – Eu não sei como tá o tempo de espera, mas isso aqui deveria ser pra ontem! – advertiu – Fala com o major Goulart porque de repente...
--Eu vou fazer pelo particular pra poder ir mais rápido! – respondeu de pronto – E não vou falar com meu marido a respeito! – decidiu
--Você não deveria encarar isso sozinha, Graça! – entregou os papéis à mulher – Eu não deveria dizer isso, mas tô preocupada e pode ser que seja realmente um nódulo maligno... – olhava para ela – Nós vamos trabalhar pra que tudo dê certo, porém o apoio da família é muito importante nessa hora e...
--Tudo bem, Daniele! – interrompeu a fala da outra mais uma vez – Eu sei o que tô fazendo. – guardou os pedidos de exame na bolsa – E te agradeço por tudo. – levantou-se – Assim que eu tiver a data de entrega dos resultados, marco uma consulta e volto aqui.
--Marca logo pra daqui a duas semanas. – aconselhou – O resultado da biópsia não vai ter saído mas ao menos teremos a ressonância.
--Tá ok. – balançou a cabeça – Até mais, querida! – despediu-se e saiu
--Até mais. -- a médica acompanhou a paciente com o olhar.
***
--Porr*, teu tio é um sujeito bem relacionado do caralh*! – Renata falava enquanto acariciava as costas da namorada – Te arrumar um estágio de meio expediente no aeroporto de Congonhas? – riu brevemente – Né pouca coisa, não!
Elza e Renata estavam nuas e abraçadas na cama da loura, que estava deitada de barriga para cima tendo a namorada em seus braços.
--É, ele conhece muita gente e tem um engenheiro lá no aeroporto que tem muita consideração por ele. – respondeu desanimada – Aí pediu meu currículo, o histórico escolar e me arrumou a vaga de estágio...
--E parece que cê não gostou disso, né? – notava a falta de empolgação da outra
--Ah, claro que não... – ajeitou-se no peito da outra – Eu queria ter arrumado um estágio por mim mesma e não por indicação... Fica parecendo que sou uma incompetente que precisa de pistolão... – pausou brevemente – A única coisa boa disso é que pelo menos as férias chegaram e eu pude ficar aqui na cidade e com isso, -- levantou a cabeça – posso ficar com você! – beijou-a e deitou novamente – Aí só em dezembro completo as 720h obrigatórias de estágio que preciso pra poder tirar o diploma. E quase na véspera de natal!
--Isso é que é foda, né? – olhava para o teto – Diploma, estágio, essa porr* toda!
--E você, amor? – olhou para a namorada novamente – Até agora não arrumou estágio mesmo estudando no turno da noite! Tem que ver isso! – falava com preocupação
--Relaxa, amor, não fica preocupada comigo que eu me viro! – beijou-a – E você nem tá sabendo da novidade! – sorriu ao mudar de assunto – Tô com o possante do Partido na garagem! – anunciou – Agora a gente vai poder dar uns rolêzinhos por aí! – beijou-a
--Tem isso, carro do Partido? – achou graça – E por que você tá com ele?
--Porque eu assumi umas funções lá. – não queria entrar em detalhe – Depois cê me dá os dias das tuas provas do vestibular que te levo de carona! – prometeu – A gente marca um lugar pra você me encontrar, sem despertar as suspeitas daquela tenente X9, e aí te levo. – sorriu
--Combinado! – beijou-a – E você não vai se inscrever no vestibular também? – perguntou interessada
--Gata, o vestibular que me interessa, -- mudou as posições e deitou-se sobre a outra – é o de anatomia... – abriu as pernas da jovem e se posicionou entre elas – E só! – beijou-a com desejo
“Ai...” – Elza suspirou mentalmente
***
Graça lia o resultado da biópsia escondida no banheiro de casa. Àquela hora o marido estava no trabalho.
“E agora, meu Deus?” – orava mentalmente – “Câncer no seio... igualzinho o que foi com minha vó...” – lembrava-se da idosa – “Me ajude, meu Pai, porque não quero passar pelo que ela passou!” – fechou os olhos e chorou
***
Elza e Alessandra retocavam o alisamento no salão de Malu.
--Eu me inscrevi pra Engenharia e tô confiante! – Alê contava animada – A UFRJ espalhou as provas em três dias diferentes, vamos gastar uma grana com tanta viagem de ida e volta, mas é sério pessoal, -- gesticulava -- pode botar fé nessa little brown! – apontou para si mesma – Eu vou passar! – anunciou confiante
--Se Deus quiser! – Malu cuidava dos cabelos da sobrinha
--Eu também me inscrevi pra Engenharia e tô confiante! – Elza afirmou com a mesma alegria – Vai dar Elzinha na Engenharia Aeronáutica da USP, podem botar fé! – sorria
--Amém! – Malu sorriu para a jovem – Eu boto fé nas duas! – dizia a verdade – E morro de orgulho!
--E aquela tua namorada, Elza? – Alê perguntou em voz mais baixa – Já decidiu o que vai fazer da vida ou continua só naquela de Partido? – olhava para a amiga – Fiquei sabendo que ela entrou no CEFET em 1987!
--O que?? – Malu arregalou os olhos – Já estamos em 93 e ela continua lá no curso técnico?? Mas não são quatro anos, gente?
--É que ela repetiu duas vezes, trancou matrícula... Rê ainda não se encontrou, sabe? – respondeu compreensiva – Mas, não sei. Já falei que ela deveria fazer Direito, Comunicação, algo do gênero.
--Humpf! – Alessandra fez um bico discreto – “O direito que ela quer fazer é só na cama, tolinha!” – pensou – “Fico passada como Elza nunca aprende!” – deu um suspiro – “Dedo podre pra escolher sapa!”
***
Elza, Machado e Fernandão estavam na casa de Goulart e Graça. Era o último domingo de outubro e o casal havia acabado de comunicar sobre o estado de saúde da mulher.
--Amanhã, Graça e eu vamos pra São Paulo. – o homem afirmava resoluto – Ela vai operar no Hospital Central da Força Aérea e eu vou acompanhar. – olhava para todos – Vamos ficar na cidade o tempo que for preciso. – pausou brevemente – Você vem no carro conosco, Elza. Dessa vez não precisa ir de ônibus. – olhou para a jovem
--Vai dar tudo certo, dona Graça! – Fernandão controlava-se para não chorar – Eu vou rezar muito, pode acreditar! – prometeu
--Decerto, senhora, todos iremos humildemente depositar vosso nome aos pés da Sacrossanta Cruz! – Machado afirmou emocionado – Não se turbe o vosso coração e nem vos arreceie, pois Deus estará convosco, todos os dias, até o fim do mundo! – deu um soco na mão – Amém! – benzeu-se
--Vai dar tudo certo, gente, eu sei. – Graça afirmou com convicção – É uma operação rápida e eu logo voltarei pra casa. – sorriu – Querido, já temos tudo arrumado, não? – perguntou ao se levantar – Elza, você também já tá de mala pronta, né? – olhou para a jovem
Elza não sabia o que dizer e correu em direção a mulher para abraçá-la. – Eu amo a senhora, tia Gracinha! – estava emocionada – Como se fosse minha mãe! – derramou uma lágrima – Amo muito!
--E eu a você, meu bem. – respondeu igualmente emocionada – Olhe pra mim. – segurou o rosto da jovem com as duas mãos – Amo você, exatamente como é! – olhava nos olhos – Sem mudar absolutamente nada! Entendeu? – sorriu com os olhos marejados – Deus vai me ajudar, acredite!
A jovem abraçou a mulher mais velha como se quisesse parar o tempo. “Deus, não leve ela de mim!” – implorou em pensamento – “Eu não quero ficar sem mãe pela segunda vez!”
“Dona Gracinha sabe da Elza...” – Fernandão pensou emocionada – “Apenas fingia não saber...”
***
--Meu, quem tá sentando o dedo nessa campainha? – Renata estranhava ao se dirigir para a porta – Tô indo! – olhou pelo olho mágico e abriu a porta desconfiada – Gata? – perguntou desconcertada
Elza abraçou-a com força. – Ela tá mal, amor! – fechou os olhos – Deu metástase, o câncer tava espalhado por um monte de lugares... – estava muito triste – Ela... – soluçou e não conseguiu mais falar
--Calma, amor, não chora assim! – abraçou-a com carinho – Tem gente que passa por isso e cura! – não sabia o que dizer
--Eu não sei! – desvencilhou-se da outra e pegou a malinha no chão – Tô morrendo de medo! – adentrou na sala do apartamento da namorada – Ela tá no CTI, os médicos tão preocupados... – deixou a malinha e a mochila em cima do sofá – Tio Goulart tá a ponto de ter um treco! – andava de um lado a outro
--Ah... – fechou a porta e olhou para a outra – Mas... cê tá pensando em ficar aqui? – perguntou preocupada – E a tal da tenente X9, cê não fica sempre no apê dela? – reparava nas bagagens da outra
--E eu lá quero saber da Chiara? – respondeu nervosamente – Além do mais, a essa altura do campeonato, quem é que tá pensando em me regular? – passou as mãos nos olhos – Eu preciso ficar aqui, amor! – foi até ela e a abraçou novamente – Por favor... – fechou os olhos
--É... gata... – desvencilhou-se com cuidado – Eu entendo que o momento é punk, cê precisa de carinho, acolhimento e tals mas... – pensava em como falar – Você ainda é de menor, tá com 17 e eu já tenho 21, né? – deu um sorriso amarelo – Daqui a pouco teu velho também pode aparecer por aí e é milico demais pra vir em cima de mim...
Ficou decepcionada com o que ouviu. – Eu não acredito que na hora em que mais preciso de uma namorada, você me vem com essa! – respondeu com tristeza
--Gata, entende, por favor? – segurou o rosto dela com as duas mãos – Quando teu tio te procurar na casa da X9, ela vai dizer o que? Que não sabe onde você tá! – argumentava com delicadeza – Aí vão começar a te procurar pela cidade, envolver polícia e o escambau... – pausou brevemente – Pô, pensa no que eu tô falando, não pode ser assim! Tua família nem sabe da gente! Nem sabe que eu existo!
“De fato, por muito menos meu pai montou uma operação de resgate junto com Fernandão!” – pensou ao suspirar com tristeza – Pior que você tem razão... – abaixou a cabeça
--Vamos fazer assim: -- propôs – pego o possante, te levo pra casa da X9 e antes de você entrar no apê dela a gente conversa um pouco no carro. Pode ser? – beijou-a brevemente nos lábios
--Tá bom... fazer o que, né? – concordou sem animação – Olha, mas não esquece que semana que vem é a primeira fase da prova da USP. – lembrou – Você prometeu que ia me levar!
--E até lá, tua tia já saiu do CTI e você vai fazer a prova aliviada! – sorriu e se afastou para pegar a malinha e a mochila da namorada – E vai mandar ver nesse vestibular! – piscou para ela -- Vamo nessa? – abriu a porta da sala – Vem? – chamou com carinho
Elza nada respondeu e saiu com a namorada.
***
--Amiga, mas que barra, hein? Até agora tua tia internada... – Alessandra estava penalizada – Mas, olha, tia Malu, eu e minha família lá no Rio tamo tudo rezando pra ela se curar e sair logo daquele CTI! – dizia a verdade – Mamãe fez até promessa!
--Obrigada, Alê, agradeço de coração! – Elza respondeu com tristeza – Só Deus sabe o esforço que tô fazendo pra conseguir estudar, estagiar e me preparar pro vestibular apesar de tudo isso! – pausou brevemente – E você, como vai?
As duas amigas conversavam por telefone. Alessandra ligou para a casa de Chiara usando um orelhão.
--Tudo bem comigo, com a família, no CEFET e no estágio. Vamos ver como vou me sair no vestibular da UFRJ, mas não tô ansiosa. Seja lá o que Deus quiser! – colocou uma ficha no orelhão
--Mas você tem estudado pra se preparar, né?
--Dentro do possível, né, amiga? A vida tá corrida! Tô nem pegando ninguém!
--Ah! – achou graça – Só você pra me fazer rir numa hora como essa!
--E você? Ainda lá com a maluca do Partido? – perguntou curiosa
“Lá vem ela implicar com a Rê!” – pensou contrariada – Tô sim e a gente tá muito bem, obrigada! – respondeu meio desaforada – Ela vai me levar pra fazer as provas do vestibular porque tem carro à disposição! – exibiu-se
--Tô sabendo. – fez um bico – “Elza que não se cuide, que aquela maluca vai deixar ela na pista!” – pensou – “Maior irresponsável aquela uma!”
***
Elza aguardava por Renata no ponto de encontro conforme combinado e nada dela aparecer. “Vou esperar só mais dez minutos!” – olhou nervosamente para o relógio – “Pior que quando liga pra casa dela ninguém atende!” – já havia tentado duas vezes no orelhão
Após mais dez minutos, a jovem decidira ir de ônibus porém não contava com um tremendo engarrafamento que a fez demorar mais que o esperado para chegar no local da prova. Quando finalmente conseguiu, viu que os portões estavam sendo fechados. Desesperada correu, mas não foi rápida a tempo de conseguir entrar.
--Pelo amor de Deus, me deixa entrar! – Elza gritou – Por favor, moço?
--Por favor, moço, abre! – outra moça que chegara atrasada também pedia
--Abre o portão, mano, foi um engarrafamento que brecou a gente! – um rapaz pediu em desespero
O homem que fechara o portão nada respondeu e entrou. Os jovens ficaram berrando em vão.
“Não acredito!” – Elza fechou os olhos e encostou a testa nas grades – “Perdi a prova!” – começou a chorar
***
Revoltada, horas depois Elza invadia a sede do Partido Comuna. – Cadê a cachorra da Renata Vilani? – abordou o porteiro de cara feia – Ela não tá em casa, então só pode tá aqui!
--Boa tarde pra você também, senhorita...? – olhava desconfiado para a jovem
--Elza. – respondeu de cara feia – Agora me fala, moço, ela taí ou não? – não queria perder tempo
Olhava desconfiado para a jovem. – Eu me lembro de ter visto a senhorita aqui algumas poucas vezes. – balançou a cabeça – Mas, enfim, Renata saiu daqui há uns minutos atrás. – respondeu com a verdade – E não espere por ela, porque viajou com a namorada e agora só na semana que vem.
Sentiu o coração acelerar. – Namorada?? – perguntou em choque
--Oh! – ficou sem graça – A senhorita não sabia que ela é lésbica... – concluiu errado – Mas, não é segredo, nem sei como não notou. – deu de ombros – Ela namora a presidente do núcleo do Comuna em São Paulo desde o início do ano. – fofocou – É que a Vilma viaja muito pra trabalhar nas campanhas de engajamento e dessa vez a Renata foi junto.
Elza se sentiu completamente sem chão e saiu sem responder uma palavra. Já na rua, chorou de tristeza e agonia, andando a passos rápidos sem direção certa.
***
Goulart, Machado e Fernandão ocupavam seus lugares no auditório nobre do CEFET. Assim como os demais presentes, aguardavam o momento de início da cerimônia de formatura dos jovens técnicos em eletrônica.
--Este recinto acadêmico pulula de promessas alvissareiras! – Machado comentou sorridente – Imaginem, pensem nesta boa nova: meu rebentinho e seus colegas discentes recebendo hoje o Canudo de Saber Tecnológico a ser conferido por esta honorável instituição magna! – suspirou – É muita emoção neste peito varonil de pai!
--Graça ficaria tão orgulhosa... – Goulart comentou saudoso – E como ficaria... – suspirou
--De onde ela estiver, ficará orgulhosa, major! – Fernandão respondeu – Eu acredito que os desencarnados sempre vêm pra perto em certos momentos. – balançou a cabeça
Machado balançou a cabeça concordando. “Tua grandeza é manifesta, senhora!“ – falava mentalmente para Graça – “Assim como a vossa, saudosa Edna...” – pensava na mãe de Elza
Dentro do banheiro, Elza olhava para si mesma com firmeza. Cuidadosamente maquiada, cabelos alisados e unhas feitas, admirava sua própria imagem de forma crítica, mentalmente falando para si mesma o que desejava incorporar dali por diante. Reparava no vestido azul longo, justo no corpo, de alças finas e bojo meia taça. Reparava em cada parte que podia ver.
--Mas olha só isso! – Alessandra chegava esbaforida – Criatura, tá todo mundo em formatura lá fora pra gente entrar no auditório! – colocou as mãos na cintura – Só falta você, dona Elza! – olhava para a amiga pelo reflexo do espelho – Ainda vem pra esse banheiro ao invés de usar o do auditório? – aproximou-se e cruzou os braços – Que é isso, vai desistir? – encostou-se na pia
--Não! – respondeu resoluta – Só tava num momento comigo mesma. – olhou para a amiga – Eu precisava disso.
Alessandra respirou fundo e abrandou o olhar. – Tá certa... – fez um carinho rápido no braço da outra – Foi muita coisa punk pra você administrar em pouco tempo. – considerou – A morte da tia Gracinha, o lance do vestibular, a putaria daquela Renata sangue ruim... – lembrava – Só que, perdoa a objetividade amiga, a gente tá atrasada e tem que se apresentar. Pensa em coisas boas agora e não se permita sofrer num momento que deveria ser felicidade. – aconselhou
--Sofrer? – sorriu – Não, eu não tô sofrendo! – respondeu com firmeza – Eu tô é tomando decisões, porque daqui pra frente, eu nunca mais vou sofrer por causa de ninguém!
--Nossa! – assustou-se – Você falou isso de um jeito que deu até medo!
--Não seja boba e nem se preocupe comigo. – olhou para si mesma pela última vez e se preparou para sair -- Temos uma formatura pela frente. – empinou-se – Vamos brilhar! – acenou para a amiga e se encaminhou para fora do banheiro
--Eu hein, parada estranha! – admirou-se brevemente no espelho também e seguiu atrás da outra – Me espera, ow! -- chamou
Instantes depois, Elza recebia o canudo das mãos da professora eleita como paraninfo. Do alto do púlpito olhou para todos e sentiu-se vencedora, especialmente ao se lembrar de tudo que vivera até então. “De hoje em diante vou sempre olhar pros outros assim: de cima!” – dizia para si mesma – “Elza Machado nunca mais vai sofrer por causa de ninguém; seja lá quem for!” – ergueu o canudo como se fosse um troféu
--Elza!! – Goulart aplaudia emocionado
--Grande garota! – Fernandão aplaudia também
--Avante, Elza Machado! – o pai aplaudia com lágrimas nos olhos
Fim do capítulo
Samira postando pela caipira. Depois ela vem para responder aos COMENTS. Vão comentando aí sem medo! Laila, pede praquela mulherada que escreveu aquilo tudo aparecer aqui! huahuahuahua
Música:
[1] Alegria, Alegria. Intérprete e compositor: Caetano Veloso. In: Caetano Veloso. Intérprete: Caetano Veloso. Philips Records, 1968. 1 disco vinil, lado A, faixa 4 (2min43)
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Sem cadastro
Em: 20/01/2025
O "geneceu" de Machado foi a única coisa leve neste capítulo kkk.
"Não há banheiros para mulheres!" Já vi que é uma desculpa clássica.
Jurava que elas se encontrariam no protesto a favor do impeachment...mas aí, ela me encontra a Comuna errada! Confesso que este capítulo me "quebrou" um pouco. Tenho a sensação de que elas estarão em lados opostos. Não acho que ela irá ver com bons olhos, outra Comuna. Será difícil Yara conquistá-la depois de tantas decepções.
Sem falar na morte de Graça, uma pessoa que era importante pra ela, em decorrência de uma doença que acomete a tantas mulheres. Por isso é necessário um auto cuidado! Fico pensando como ficará a relação de família, já que era cotidiano o encontro, entre eles, com o almoço feito por Graça.
Tenho a sensação de que Elza estará tão armada, tão preparada para o combate, que qualquer aproximação será uma guerra. Sem falar no fato de que, quem está machucado, dificilmente, se importa em machucar.
Ela pode criar uma capa, não permitindo que mais ninguém entre, como uma espécie de proteção ou, até mesmo, isolamento social. Ela pode chegar em um ponto onde não irá se importar com que as pessoas irão achar. Ela só irá se preocupar com ela, com que irá sentir. Pode até se assumir, sem se preocupar com a rejeição. Irá decidir o que será melhor pra ela, sem se importar com que os outros irão pensar.
Minh@linda!
Em: 20/01/2025
O histórico indica as duas do mesmo lado.
E o Prestimoso Machado é o detentor das respostas kkk
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Sem cadastro
Em: 28/06/2024
Uau hein? Nasce uma dama de ferro? Elzinha desligou o coração? Será Yara a fazer religar?
AAAMMAAANNDDOOOO!!!!
Solitudine
Em: 10/07/2024
Autora da história
Olá querida,
Sim, nasceu.
Yara vai quebrar? Vamos ver.
Beijos,
Sol
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Ontracksea
Em: 16/01/2024
Elza é tão racional a ponto de aplicar o Inutilia na própria vida mas pensa de cima pra baixo! Primeiro ela acredita tipo Renata me ama e é perfeita e depois ela busca evidência pra corroborar essa fé. Busca e quando não acha vai inventar! Aconteceu igual com a Carla...
Elza vai odiar tudo que Renata representa ou ela acha que representa? Absolutamente... mal comecei, tô devorando mas dá pra sacar que você mereceu o top 1!
Alegria, alegria foi uma lembrança demais!! Amo! Também sou da Luta!
Solitudine
Em: 16/01/2024
Autora da história
É verdade! A Elza funciona como nosso subconsciente faz a maior parte do tempo quando estamos enviesados. Ainda eram as aparências acima de tudo para Elza naquela época da vida.
Elza vai fazer uma associação, como você verá. E por quanto tempo será assim? Vejamos...
Obrigada por seus elogios!
Estamos juntas na luta!!
Beijos,
Sol
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Femines666
Em: 30/03/2023
Esqueci de comentar que tô achando genial a forma como você traz fatos da história do "Brasil fictício" pra vida delas. Tá passando um flashback na minha cabeça rs
Solitudine
Em: 31/03/2023
Autora da história
Obrigada!
Também passou na minha! rs
Beijos,
Sol
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Femines666
Em: 30/03/2023
O vício me trouxe de volta... kkkk
É incrível como tem gente que entra na nossa vida pra destruir! Renata matou a Elza romântica e apaixonada. Espero que em algum momento ela ressuscite o coração. Sei bem como é o que ela sente.
Eu adorava a Gracinha. Tive a maior pena dela partir
Solitudine
Em: 31/03/2023
Autora da história
Olá querida!
Que bom que você viciou!
Renata foi uma influência muito ruim na vida de Elza, mas este tipo de coisa também se supera.
Mesmo que demore.
Infelizmente, as pessoas cumprem seus ciclos e se vão. Graça cumpriu o dela. Fico feliz que tenha gostado dela.
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 21/01/2023
Aí sua caipiralha como é que posta CAPS novo do nada e nem me fala????
Resposta do autor:
Uai, mas você não disse que estava impossibilitada, menina? Eu ia te falar amanhã. Não falei hoje para você não ficar ansiosa. Conheço a figurinha... rs
Os próximos eu te passo. Voltei mais cedo do que pensei mas semana que vem será punk.
Beijos,
Sol
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Joabreu
Em: 20/12/2022
Boa tarde,
Que duro quando as ilusões se despedaçar. Quando a gente foge e não consegue voltar. Entendo Elza mais do que gostaria. Tudo que ela viveu é muito cringe... Yara ma8s ainda!
BBS
Jo Abreu {}
Resposta do autor:
Mais um que eu vou repetir os beijinhos! Respeitosamente, é claro! rs
Beijos,
Sol
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Joabreu
Em: 20/12/2022
Boa tarde,
Que duro quando as ilusões se despedaçar. Quando a gente foge e não consegue voltar. Entendo Elza mais do que gostaria. Tudo que ela viveu é muito cringe... Yara ma8s ainda!
BBS
Jo Abreu {}
Resposta do autor:
Olá querida!
Será que alguma de nós nunca viveu esse despedaçar de ilusões? Eu com certeza vivi. Mas é o aprendizado da vida. Penso que a gente precisa, de uma forma ou de outra...
Cringe ainda não descobri o que seria, mas irei!!! rs
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 03/11/2022
Amore olha só sem querer pressionar mas já pressionando... posta na sexta? Huahuahua E respondendo os COMENTS, ai,ai,ai
Resposta do autor:
kkkk E quando a senhora não me pressiona para postar capítulo de conto?? kk
Estou respondendo, uai. Confia, habibi!
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 31/10/2022
Autora caipira ou caipira autora, esqueci de perguntar tu vai contar de que a mãe da Elza morreu quando e porque? E vai explicar onde se encaixa Graça e Goulart? Porque eles nem são da família de sangue né?
Resposta do autor:
Olá querida!
Sim, eu vou esclarecer. tudo isso. E sim, Goulart e Graça não são da família cosanguínea de Machado e Elza. Confia na caipira. rs
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 31/10/2022
Solvisky, Sadiki querida!!
Ei, estava diferente os comentários, né?! O primeiro, até pra mim, senti que passei demais. O outro, eu estava num clima complicado, eu queria muito ler, porém, eu nao consegui comentar da melhor maneira, como tinha exagerado no anterior e nao queria deixar-te sem um comentário, fui breve...hj estou mais leve!!
Eu gostei muito do título, fiquei me perguntando porque vc tinha colocado, mesmo antes de ler, entao, eu fui buscar para saber o contexto histórico em que surgiu, pois penso que iria aproveitar melhor o texto, me enfocando também nessa parte. Entao fui ler as características e lemas do Arcadismo. Vamos ver se posso pescar a ideia no texto no final...sou péssima qndo penso demais ou com frases pra interpretar. Vai ser uma embolacao retada.
Entao, cheguei ao final do capítulo:
Vamos pra algo light, Machado: Ele é engracado demais, gineceo, me mato. " Plasma do meu Plasma", ele sim, dá uma refrescada na estória.
Gosto que vc sempre misture e nao deixe tudo tao intelectual...repito, gosto muito dos tema que aborda, como aborda, muito didático, esse é um pouco diferente, presumo pq nao esteja dentro da sua realidade e é um tema complexo, iclusive para um negro falar. Por isso vc disse que nao era sua intencao abordar certas coisas, eu acho,n sei se entendi bem sobre o que falava, pois eu vomitei letras sem pensar rs.
Bem, mas eu acho um tema muito bom, sempre será, pois sempre esteve presente em nossa cultura desde que comecou a escravidao e estará por muito mais tempo, enquanto n pararmos com isso de que n nos consideramos racistas ou preconceituosos, mas nao existe isso, todos somos, em algum aspecto, mas é vergonhoso dizer, nao? A divisao social ela está instalada desde nascemos, até pro próprio negro que se percebe-se o peso de ser negro desde jovem. O racismo é de ordem estrutural . Ela está há muito tempo enraizada em nossa cultura. Como enfrentar algo que nao fazemos nada para mudar? Que n conhecemos de onde veio...a escravidao terminou? Nao...vemos a diferenca nos empregos que conseguem ou como muitos tratam uma pessoa afrodescendente. As confunde na sua posicao social. Como se um negro deve ser sempre empregada doméstica, limpar chao e td isso. Ele já chega o lugar e as pessoas já olham,né? Já pensam q sao vendedores, pq n professor, dona de alguma loja, etc...Ou como vc própria citou sobre o cabelo, de n valorizar um e sobrevalorizar o outro...
Creio interesantissimo falar sobre o racismo, bem como o preconceito contra os indígenas, apesar que esse, eu nao ter nocao nenhuma, visto que nunca tive contexto, onde me via nele, de fora ou desde dentro. Sim,li, vejo notícias, mas nunca pude criar tanta empatia como com outros temas. Me faz mal, claro,minha empatia está no sofrimento humano como um todo, na discriminacao, de como vivem , como estao perdendo sua identidade, mas nao sinto vísceral, como com os temas anteriores onde chorava...n sei se me fiz entender....
Falamos sobre Elza nesse capítulo:
Elza sempre muito acelerada nas relacoes, é compreesível que se envolva nessa velocidade, pois, ve que gostam dela e ela sendo insegura porque considera-se inferior por ser negra ou "invisível", nao ve a realidade. Que existem pessoas que se aproveitam dessa vunerabilidade Nem toda relacao, se busca para algo mais forte, como ela espera. Há uma diferenca entre inocencia e ingenuidade, ela é inocente ainda, nao é ruim, mas nesse aspecto, no romantico, nao lhe convém, mas agora ela foi pra 8 ou 80. Mas na bolha em que foi criada e com suas insegurancas, ela se entrega geral!! Fernandao dá ótimos conselhos, mas como toda adolescente, ela achou que já estava esperta. A diferenca entre ela e Ale, é que Ale, até pode " pegar geral", mas ela nao se envolve, ela sabe a regra do jogo, pois nao pretende nada mais sério, Elza, é mais quieta, romantica, busca algo duradouro, porém, sempre acha que a próxima é o "amor de sua vida", nisso, terminou sofrendo , em vez de levar as coisas com mais calma...algo que aprende com o tempo. Renata, se via que escondia algo e egoísta, pois, apesar de tudo, ao menos um pouco de considerao poderia ter, tanto com que Elza passava com a tia, como dando um telefonema dizendo que n ia buscá-la! Mas se ela nao se importa nem com os estudos dela e nada, pq haveria de fazer para outro...enfim! Mais uma vez, ela foi enganada, nao quis ver as coisas que se passavam. Renata dand desculpas. Ale falando, mais uma vez, ela ficou cega.
Que pena por Graca, esqueceu-se da importancia de fazer exames regularmente. Algo que muitas de nós, esquecemos. Achamos que nao vai passar com a gente... bem, ela deixou um grande amor pra Elza. Mas foi no momento que Elza mais precisava dela. Mas, sempre n é assim?
Elza, com tudo que passou na vida, nao só nas relacoes amorosas, deixou-se levar pelo famoso, se me oprimiam, agora serei a opressora, assim nao me machuco mais....no final, ela será a que machuca, mas isso, é algo do ser humano, a raiva pela qual passamos nos leva a ser frios, será que ela irá por esse caminho mesmo? Quero logo ver esse encontro entre Yara e Elza....n sei o que vai passar, mas se tiverem algo, espero que Elza já esteja dentro da órbita de novo...
To aqui pensando no seu título. N sou boa interpretando, frases. Se penso muito, n vou pra lugar nenhum....se n tivesse lido, estaria melhor!! Hahahaha. Mas acho que quis falar sobre o desapego das ideias, que temos hj em dia das pessoas, sentimentos, esse descartar que fazemos hj em dia das pessoas. Ela se sentiu como um obejto descartável. Estou tentando comparar a sociedade e n aos poetas que pra melhorar tiravam o q acham fútil...bla bla. Elza diz: Vou estar agora olhando de cima, signfica que agora ela descartará as pessoas e n as pessoas a ela? Ninguém vai diminuir ela, por isso cortar o que é inútil, o que ela considerava inútil, ainda q considere as ideias q tinha de si supérfluas e inutil. Quando se olhou e viu o cabelo, as unhas, me iludi ao pensar que ela ia cortar essa unutilidade capitalista e de padrao de beleza...enfim! Disse q seria enbolado kkkk Entendo, mas n sei aritucular com o texto......
Espero que em algum capítulo vc use o " Locus Amoenus", ainda que Carpe diem, apesar de ser uma frase clice, gosto da parte de aproveitar a vida um dia após o outro e fugir dessa busca q ela tem pela beleza, por esse padrao de beleza que só causa depressao ou raiva. Nos leva a atitudes como essa de Elza. Super patético essas desculpas de novos comportamentos de "uso e abuso" pq fizeram o mesmo... entao eu fodo com o outro....mas, ela sempre olhou pro lugar errado,pro objetivo errada, sempre pro lado, o outro sempre melhor que ela, nunca igual a ela...mas é algo q ela aprenderá qndo poder se amar e que vierar uma esnobe n solucionará nada...é uma videa vazia e sem sentido....
Desculpe, foi difícil esse texto ... cada dia vc me complica a vida...kkkkk. Nem "Em Busca do Tao" fiquei tao perdida...hahahaha. E nem comecou a estória....
PS pra Samirao: Será que existem?!! kkkkkkkkkk. Mas eu to divulgando com raca, pedindo comentários, nem q seja uma frase, mando escreverem em algum momento....público difícil!!!!
Resposta do autor:
Olá dona Lailesca Doré Ami Poète!
Espero que esteja bem.
Você não é péssima quando pensa demais. Acho que de repente o que acontece é que as ideias turbilhonam na sua cabeça e, naquela ansiedade em transmití-las, você acaba se enrolando um pouco. Normal para muitas pessoas, fique tranquila. É que você admite isso e a maioria não. rs
Machado é uma pessoa boa e traz leveza. Ele também tem suas questões mas Elza ainda não enxerga isso. Gostei do que você falou sobre o racismo invisível, vamos dizer assim, dentro de seu contexto histórico e dos discursos generalizados de que isso acabou, somos todos iguais diante da lei... A palavra fria dos jurismos não é suficiente para anular séculos de mentalidade escravagista, não é verdade?
Também gostei do que falou sobre Elza e sua ansiedade nas relações. Captou muito bem, dona principesca!
Graça foi a típica pessoa que cuidou de todo mundo e esqueceu de si. Não podemos relaxar; a saúde precisa de manutenção para permanecer o mais integral possível.
Vamos ver como Elza se comportará daqui para frente. Aguarde que o tíulo fará mais sentido.
Quanto ao próximo capítulo, você previu o título. Parabéns, Lailikii!
Você acha que ficar perdida mas te vejo sempre muito da bem localizada! kkk Deixe de peitica, mulher! rs
Olha ela e Samirão interagindo aí! Uma dupla destas ninguém segura, Ave Maria! rs
Beijos caipirescos,
Sol
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Seyyed
Em: 29/10/2022
Hoje tô de bobs no meu rincão aí vim fazer companhia a Elzinha. E que capítulo puta merda! Eu morro com Machado! Parnaso varonil bloco do Boi Garantido gineceu hahahahaha não sei quem é mais doido tu ou ele hehe Elzinha caiu de boca na relação com Renata comuna e se f@$%€ de verde amarelo ao final. Ela demora a ver a realidade sempre querendo que seja igual aos sonhos e o tombo é certo. Mas assim quando a gente tá de fora parece que tem sabedoria a mais. Como seria eu no lugar dela? Não sei. Nunca tive a chance de viver um "amor" com as gostosas em plena adolescência quisera!!! Hahahahaha
Pêsames pela Gracinha. Gostava dela. Mulherada olha aí a prevenção do câncer de mama. Valeu por ter chamado o outubro rosa a atenção
Resposta do autor:
Olá minha divertida comentarista!
Você gosta das coisas que Machado fala, não? É cada trem sem base! kkk Eu não sei se ele ou eu somos loucos iguais ou se alguém se supera nessa! rs
Concordo com sua leitura sobre a Elza. E, assim como você, não tive essas musas na adolescência! kkk
Sim, foi uma forma bem singela e superficial de lembrar o Outubro Rosa, que é algo muito importante. Tivemos um caso de câncer de seio na família e o trem deu trabalho, embora tudo tenha terminado bem. Eu era criança mas nunca esqueci.
Beijos,
Sol
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 29/10/2022
Olá, tudo bem?
Querida Autora...
''Elza sentiu o coração disparar. “Caramba, eu com essa gatíssima no alto de um carro de som revolucionário!” – pensava – “Nem Alê nunca fez coisa igual!” -- sorriu''... Ai, ai, querida Autora...
Aqui nossa menina ''maria-vai-com-as-outras'' está enfiando o ''pé-na-jaca'', de novo, e — Kasvattaja acha — sem, ao menos, entender o que é ''sem lenço, sem documento'' nessa magnífica canção atemporal de Caetano Veloso.
E se permite-me — olha só Kasvattaja metendo-se onde não deve —, aqui Kasvattaja iria com ''Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua'', do Sérgio Sampaio, conterrâneo de Roberto Carlos...
''Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval''
Ficaria bem também — rimou! —, não ficaria?
Apesar de as duas canções fazerem referência ao mesmo tema — a ditadura militar no Brasil —, aqui Kasvattaja usaria a do Sergio Sampaio em outro contexto, afinal Elza quer ''brincar, botar pra gemer''...
Segue o link em uma versão de Pádua, que ficou muito boa...
https://www.youtube.com/watch?v=kGZDGDMBBeE
Perdoe Kasvattaja se Kasvattaja estiver sendo muito dura com sua personagem, mesmo ela tendo 17 anos, negra, etc., etc., etc., ET COETERA...
Agora, o ''Inutilia Truncat'' — as inutilidades devem ser banidas — tinha um significado para os escritores árcades e estamos falando somente de escritores. Kasvattaja ainda não tem ideia do que Elza quer ''tirar de inútil'', se é que ela sabe o que é inútil para ela: a parte ''doce'' dela que a tia viva refletia, os as tentativas de ''agora encontrei o amor verdadeiro''?
Kasvattaja acredita que Elza ''empedrara'' seu coração, para o bem e para o mal.
Finalizando, Kasvattaja não gostaria do envolvimento amoroso — nem sexual — entre Elza e Yara, mas Kasvattaja não é a autora e sim, Solitudine, assim sendo...
É isso!
Post Scriptum:
''O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove. ''
Fernando Sabino,
Escritor.
Resposta do autor:
Olá queridíssima!
Não peça perdão, Kasvattaja, não há pelo que. Mesmo se estiver sendo muito dura com a Elza. rs
Eu escolho as músicas para os contos conforme elas me vêm à mente, quando vêm, relacionando-se com o que está acontecendo. Há vezes, porém, em que escolho pelo contexto histórico. De fato, na grande passeata do dia 25/08/92 em São Paulo, a música que embalou o pessoal foi mesmo Alegria, Alegria, que era o tema de abertura do seriado Anos Rebeldes. Embora eu seja crítica à leitura que fazem sobre o movimento dos cara pintada, não poderia não ser fiel ao que houve naquele dia. E a música até me permitiu fazer umas gracinhas, como o "por que não?" da Renata e o fuzuê que Goulart e Machado fizeram ralhando com a nossa jovem. Daí, segue que embora eu tenha entendido seu ponto, Sergio Sampaio não seria a melhor pedida para o que era pretendido por esta caipira do lado de cá (gostei da versão, aliás).
Eu gostei muito de estudar o arcadismo e trouxe este lema (como trarei outro, mais conhecido) por achar que cabia no contexto da Elza. Do que viveu durante o ano de 1993 ela julgou algumas coisa inúteis e você verá o que são estas coisas. Para o bem e para o mal, como prenunciou muito sabiamente.
Quanto ao envolvimento amoroso, ou não, entre Elza e Yara, vou te contar como a caipira mais ou menos funciona neste mundo da escrita: a história vem com seu esqueleto para mim, os pontos principais. Aí eu vou fazendo e desfazendo com o dinamismo da coisa. Inclusive sendo influenciada pelos comentários de vocês. Então no geral eu também não sei como exatamente termina. rs Vamos ver o que as personagens me pedirão.
Não sei, me parece que deste conto você não está gostando muito, mas continue lendo e, se possível comentando. Sua crítica é muito importante para mim.
Minhas histórias têm pontos de interseção propositais embora sejam sempre diferentes entre si. Esta aqui está sendo diferente até no meu contexto de escrita. Acho que é o conto que veio no meu momento mais desfavorável, mas ele pediu tanto para sair que não resisti.
É tempo de agir, não é mesmo? rs
Beijos,
Sol
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Dandara091
Em: 28/10/2022
Elzinha aprendeu e vai ser difícil mudar
#badgirl
#outoflove
Resposta do autor:
Boa noite, querida,
De fato, concordo que vai ser difícil mudar.
Beijos,
Sol
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Marta Andrade dos Santos
Em: 28/10/2022
Demorou Elza!
Resposta do autor:
kkkk Não é?
Vamos ver como será daqui para frente.
Obrigada por continuar acompanhando e comentando.
Beijos,
Sol
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Irina
Em: 28/10/2022
Kotinha amada!
Eu bem que estive a temer por Elza tomar o rumo da frieza d'alma depois de tanto amar às cegas para a realidade. Ela desiludiu-se pois e agoora fechar-se-á para o Amor. Não teria sido o Amor a inutilidade a se cortar?
Como sempre és genial. Acompanho a trajetória destas duas moças mulheres com gosto, ansiedade e belas expectativas.
Com estima
Irina
Resposta do autor:
Olá querida!
Estou feliz em vê-la sempre aqui. Espero que permaneça! rs
O que será que Elza cortou? Você verá o que ela julgou inútil, continue acompanhando.
Obrigada pelos elogios e carinho de sempre.
Beijos,
Sol
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Mille
Em: 28/10/2022
Oi Sol
Que pena a Gracinha ter partido.
Elza tem dedo pobre para arrumar namorada viu é cada cilada e a mulher apaixonada fica cega.
Bora ver como será esse novo ciclo para ela.
Bjus e até o próximo capítulo
Tô lendo Maia. Depois deixo o comentário
Resposta do autor:
Olá querida!
Sim, foi uma pena. Eis aí a importância de se cuidar e dar atenção à saúde. Gracinha cuidava de todos e esqueceu de si.
Elza, de fato, não foi muito cautelosa na forma como entregou seu coração. Como será daqui por diante, é isso aí, bora ver! rs
Beijos!
Sol
PS: Está lendo Maya? Espero que goste!. Obrigada pelo carinho
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Samirao
Em: 28/10/2022
Amoreee! Entrei na tua conta pra postar o CAPS novo a teu pedido e esqueci temporariamente a senha da minha conta Coisa tá crítica né? Huahuahua Eu amei esse CAPS! Elzinha passou por um batismo de fogo e decidiu anular o coração. Tô curiosa pra saber como vai ser. Ela confiou demais em quem não devia aí chutou o pau da barraca. Perdeu a tia... foda
O Comuna já tá sendo o ponto intersecção entre ela e Yara de um jeito ou de outro Quero conhecer esse partido! huahuahua bjusss volta logo
Resposta do autor:
kkkk É que você vive nesse trem de troca daqui, entra em perfil dali... aí tome de se confundir! kkk
Que bom que você gostou do capítulo!
Elza viveu muita coisa complicada em um curto intervalo. Umas foram por conta da vida e outras porque ela não quis ver o que estava diante de si o tempo inteiro. Como será a reação depois disso? Você verá!
Quer conhecer? kkkkk Esses partidos comunas são radicais demais para você. rs
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 20/01/2025 Autora da história
Olá querida!
Este capítulo apresentou um ano muito difícil na vida de Elza e a forma com a qual ela vai lidar com tudo isso ao longo do tempo, você verá.
Pense bem sobre o histórico de vida de cada uma e observe se o mais provável seria que elas estivessem sob o mesmo espectro político ou em opostos. Mas, o conto dirá. Machado também dirá muita coisa! rs
Não desista do conto e nem das meninas. Da caipira, idem.
Beijos,
Sol