Desfecho
O dia seguinte acordou nublado e com nuvens grossas no céu, ameaçando mais chuva. Um trovão estalou alto, ali perto, iluminando todo o ambiente e na certa acordando tanto Angélica quanto Daniela no susto. Elas se olharam e sorriram, contentes quando recordaram sobre a última noite. Envolveram-se num abraço e num beijo, poucas palavras sendo ditas até os corpos estarem se roçando e provocando a faísca não apagada ao longo da madrugada. Se amaram ali mesmo, no colchão mais uma vez, até estarem sem ar e então ofegantes.
Tomaram banho juntas e se amaram mais uma vez. Fizeram o café da manhã, e ali mesmo, na mesa, sem terminarem de comer, as louças foram ao chão para dar espaço a fome insaciável que uma tinha da outra.
Quando estavam exaustas, trocando beijos, um novo raio rasgou o céu, dessa vez despertando em ambas para a realidade: havia um corpo no quintal e dois no porta-malas. Em breve começaria a chover e tornaria impossível a escavação de uma cova, além de avançar o tempo para a decomposição. Precisavam decidir, ali mesmo, o que fazer.
Daniela encontrou mais munição para a arma no porta-luvas do carro, então recarregou o pente. Precisavam descobrir também se o casal estava vivo no porta-malas do carro de Angélica após uma noite inteira. Com a arma em punho, Daniela apontou o cano enquanto a loira tomava coragem para acionar o botão que abria a tampa traseira. O que encontraram, no entanto, foi somente o vazio e o vestígio de sangue, enquanto o banco do passageiro estava tombado, indicando o local da fuga. Não somente estavam vivos, como também conseguiram fugir enquanto tinham uma noite tórrida de amor.
— Isso é péssimo — Daniela olhou para o caminho entre as árvores. — Eles já devem ter chamado a polícia. Temos pouco tempo.
— Temos que nos livrar do corpo do guri então, senão vão te prender também. — Angélica já caminhava em direção ao outro veículo. — Eles podem me acusar de tentativa de homicídio, mas se eu confessar que agi sem pensar não pego uma pena tão grande.
— Isso se nos encontrarem. — Daniela a seguiu. — Vamos embora daqui.
— Para onde? Não temos dinheiro nem um lugar, Dani. Você ainda pode ter uma vida normal se não me pegarem junto de você.
Daniela se surpreendeu com a ideia que a mulher tinha, em se entregar sozinha e se oferecer como sacrifício. Sem dúvida, pensou, o maior ato de consideração que alguém já tinha tido com ela até então. Não havia uma única coisa que Daniela odiasse no mundo, mas ao ver Angélica, que cavava uma cova, visando ocultar o cadáver que produziu horas atrás, soube que jamais seria capaz de odiá-la. Angélica podia não ter nada de especial, mas tinha em mãos muito mais que a pá naquele momento, tinha também a admiração e os sentimentos de Daniela. Se cuidados da maneira certa, seriam coisas a crescer e proliferar, fortificando o laço que as unia.
— Ou vamos embora juntas, ou eu me entrego junto a você. — Daniela declarou, dessa vez atraindo os olhos claros de Angélica para si. — Podemos conseguir qualquer trabalho pelo caminho.
— E viveríamos fugindo?
— Que vida teríamos se fôssemos presas? Ninguém contrata ex-presidiário.
— Nem fugitivos.
— Você acha mesmo que vão suspeitar de nós? Ninguém sabe que estamos juntas. Eu não tenho família.
— E a minha nunca acreditaria que eu faria uma coisa dessas. — Considerou. — Talvez eles nem nos denuncie. Devem achar que sou louca.
— Você é. — Daniela sorriu para a careta que recebeu. — Não levaram o seu carro ou o meu. Se fugiram foi a pé, isso se conseguirem ir longe. O melhor que podemos fazer é nos livrar das provas e irmos embora. Diga a verdade para a sua família.
— Que verdade? Que eu atropelei o meu ex-marido e a amante dele?
— Não. Diga que encontrou outra pessoa e decidiu seguir em frente. É o mínimo de satisfação e o máximo que terão de notícias.
Angélica suspirou e deixou a pá de lado, deixando-se ser envolvida nos braços de Daniela. A morena acariciou seus cabelos e beijou o topo de sua cabeça, buscando confortá-la.
— Eu sei que é pedir muito para deixar a sua vida para trás. Eu não tenho nada nem ninguém que me segure aqui, mas agora tenho você e quero te manter perto. É pedir muito?
— Não, se também é o que quero. — Angélica levantou a cabeça e selou seus lábios, sentindo-se mais decidida do que há cinco minutos. — Vamos enterrar o corpo e ir embora.
Daniela achou mais uma pá dentro de casa, então cavaram juntas uma cova funda o suficiente para não vir à tona tão cedo. Enterraram e foram tomar outro banho, livrando-se das roupas sujas. Angélica achou prudente escrever uma carta para os pais, apesar de duvidar que perceberiam algum erro na sua história, mas os amava apesar de tudo e não queria deixá-los preocupados. Pegou um caderno velho da avó de Daniela e escreveu para ambos os pais, e ainda com o lápis em mão, direcionou o endereço para a casa deles.
Estavam colocando os pertences no carro quando ouviram as sirenes à distância, alerta o suficiente de que já não tinham tempo. Daniela assumiu a direção do próprio veículo e acelerou adiante, para a estrada além da sua casa.
— Vamos conseguir. — Daniela garantiu, e sentiu Angélica pressionar a mão na sua coxa.
— Ficaremos juntas. — Angélica afirmou, convicta. — Não importa o que aconteça.
Elas avançaram na estrada, poucos minutos as separando do destino atrás das grades. Ainda assim estavam confiantes de que adiariam esse fim – se assim ele viesse. Estavam apaixonadas, e por isso sentiam o fervor da impunidade em prol do amor que brotava dentro de cada uma, afinal, quem conseguiria punir ambas por uma fuga em direção ao que elas acreditavam naquele momento?
Fim do capítulo
Finalmente, o fim :)
O que será que realmente aconteceu? haha
Sempre um desafio escrever um conto, ainda mais quando o mesmo só pode ter mil palavras!
Mas é válido, assim a gente sai um pouco da caixinha e se desafia a fazer algo diferente :)
Até o próximo coleguinhas!
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Rosa Maria
Em: 26/08/2022
Alex...
O final com gostinho de quero mais, só não é maior do que essa fome maravilhosa e sugestiva que uma tem pela outra, seja em que circunstâncias for....parabéns
Beijo
Rosa Maria
Resposta do autor:
Rosa! Que bom ver que gostou e leu até o fim!
Elas foram uma gracinha que adorei criar.
Ótimo final de semana!
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Cristiane Schwinden
Em: 25/08/2022
meu deus espero que thelma e lousie tenham conseguido fugir da polícia e estejam agora em uma praia curtindo a nova paixão com muito sexo torrencial ahahhahahah
conto maravilhoso, ameeeeeeeeeei
obrigada!
Resposta do autor:
ahahahah adorei a referência
Que elas encontrem um caminho menos sangrento até essa praia!
ahahha
Que bom que gostou Cris, foi um prazer te ter por aqui!
Beijos!
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HelOliveira
Em: 24/08/2022
Na minha cabeça elas conseguiram fugir.....deixar as duas serem felizes né....deram bobeira e deixaram os traidores fugir
Amanhã já é quinta....ansiosa? Nem um pouco só contando o segundos
Resposta do autor:
Deram bobeira com o fogo na bunda em horário impróprio não é? Hahaha
Quinta está a poucos minutos de chegaaaaar, se prepare que a Rainha tá vindo!
Beijos Hel :*
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Lea
Em: 23/08/2022
Tinham que terem acabado o serviço na noite anterior,mas o fogo falou mais alto! Hahaha
Espero que não as peguem!
*
Aquele boa tarde Alex!
*
Obs: querendo que a quinta feira chegue rápido!
Querendo conhecer mais a fundo a Rainha e seus aliados!
Resposta do autor:
Não é? Foram acender o fogo e esqueceram os presuntos no carro!
Agora é correr até não aguentar mais :3
Boa tarde dona Lea!
Aaaaaah! A Rainha daqui a pouco reaparece só para dar o ar da graça!
Até quinta, Lea!
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