Destino
Angélica pensou seriamente em simplesmente avançar e atropelar mais uma pessoa. Que diferença faria? Já tinha dois corpos no seu porta-malas.
A pequena – e afiada – diferença era o objeto que essa desconhecida segurava. Não havia tempo para dar ré ou manobrar o carro em segurança se quisesse fugir. Então ficou paralisada, esperando que a mulher fosse embora e não tivesse qualquer curiosidade com a sua presença ali.
Por outro lado, Daniela tinha a difícil decisão do que fazer a seguir. Estavam na floresta, mas na beira, onde ficava a casa em que seus avós moravam. Tinha chegado ali fazia pouco tempo, o carro ainda tinha as lanternas acesas e o porta-malas aberto. Não tinha vizinho próximo, então estavam sozinhas. Ou quase, pois o corpo do homem estava jogado ao lado de um pequeno buraco que ela tinha começado a cavar.
Daniela só tinha resolvido parar o carro pois além de estar invadindo a propriedade no meio da noite, ela tinha medo que alguém a tivesse seguido.
Agora ambas estavam ali, entrelaçadas pelos acontecimentos que as levaram a cometer um crime, cada uma.
— Você está invadindo uma propriedade. — Daniela alertou.
Angélica julgou que não tinha escolha senão responder, por isso baixou o vidro e colocou a cabeça para fora, forçando a voz.
─ Eu me perdi, não conheço a região. ─ Mentiu, e descobriu que até soou convincente, pois sua voz estava estável.
— Eu nunca te vi por aqui. ─ Daniela decidiu mentir sobre conhecer a região. — Tem família que mora próximo? Eu posso ligar para alguém...
— Não é preciso. Eu vou dar ré e te deixar em paz, moça. Tenha uma ótima...
Ela foi interrompida quando as batidas fortes na tampa do porta-malas foram audíveis, acompanhadas dos gritos, pedindo por socorro. Daniela ergueu a sobrancelha enquanto os olhos de Angélica arregalaram. Sua cabeça foi para dentro do carro e ela manejou de trocar para a marcha ré e pisar no pedal, pronta para fugir, mas Daniela também pensou rápido e tirou a arma do cós da calça, apontando para a loira atrás do volante. Estava sem balas, mas Angélica não sabia e parou em seguida, pisando no freio e fazendo o carro dar uma balançada.
— Saia do carro, boneca.
Angélica não sabia se pelo tom firme da morena se sentiu intimidar, mas o revólver e o machado também colaboraram para ela obedecer. Saiu devagar com as mãos para cima enquanto Daniela contornava o veículo, arma firme em punho até ficar frente a frente com a loira, pressionando o cano na barriga dela. Os pedidos por ajuda continuavam, e só então ela percebeu o amaçado na frente do carro, fazendo-a tirar conclusões. Por outro lado, com a proximidade, Angélica percebeu as roupas da mulher sujas de sangue e terra. Apertou os olhos sobre os ombros dela, onde avistou a grande casa logo atrás com um carro estacionado na frente e as lanternas ligadas, porta-malas aberto. E não somente isso: havia um corpo deitado no chão.
— Você o matou... — Pontuou, sentindo-se pasma.
— E você está fazendo o quê? — Daniela falou na defensiva. — Passeando com as pessoas no seu porta-malas?
— Eles mereceram isso! Eu não planejei nada.
— Acha que eu planejei? Ele tentou me estuprar.
— E eles me traíram por meses enquanto eu sustentava a casa.
— Que droga... E o que vai fazer com eles? Obviamente ainda estão vivos.
— E vão falar sobre você e o corpo se os soltarem.
— Eu posso terminar o serviço e embalar vocês três junto do Zé Ninguém.
— Você não faria isso.
— Quem te garante, boneca?
— Se quisesse já teria feito.
Daniela a encarou em busca de entender como ela podia ter tanta certeza do que dizia se nem a conhecia ou sabia o seu nome. Foi quando um clique estalou na sua mente, e a realização lhe atingiu: elas não eram desconhecidas.
— Você estudou na escola Zuneide Paula, na Freguesia, não foi? — Questionou, vendo a confusão passar pelo rosto dela. — No colegial. Angélica Nunes.
— Eu te conheço? — Ela estava perplexa, olhando-a uma segunda vez, tentando distinguir a sua expressão em meio à pouca luminosidade.
— Provavelmente não deve se lembrar, mas fizemos um trabalho juntas, eu tinha um crush em você, mas você só tinha olhos para o idiota do Maurício. — Ela olhou para o porta-malas, recuando um passo. — É ele quem está no porta-malas?
— Nós casamos. — Ela soltou um ar surpreso. — Daniela! Meu Deus... Há quanto tempo.
— Um belo lugar para nos encontrarmos. — Falou com ironia, então baixou a arma.
— Eu achei que você gostasse da Nina. Ela vivia atrás de você. — Comentou ao cruzar os braços, sentindo-se estranha agora.
— Você nunca me deu uma chance. — Pontuou, então indicou o porta-malas. — Nunca achei que você seria capaz de algo assim.
— Todos me subestimam. Eu me cansei disso. Quero viver a minha vida longe desses idiotas e quero que eles paguem por me fazer de idiota. O que foi? — Seus olhos estreitaram quando viu o sorriso bobo da outra.
— Nada... você só soou muito sexy agora. Toda decidida.
Daniela odiava tudo no mundo, mas no momento que Angélica a puxou pela nuca e grudou seus lábios num beijo molhado, amou a sensação do seu coração disparado. O aperto nas armas se soltou, dando espaço para as suas mãos apalparem as nádegas da mulher. Havia um desejo insano que as levaram apressadas para dentro da ampla casa, ignorando a sujeira – e os crimes – que as levaram até ali. Havia a adrenalina e o gosto do passado misturado nos seus corpos, de forma que se consumiram nos lençóis xadrez sem pensar no que estavam fazendo.
Roupas foram atiradas para cima enquanto as peles roçavam uma na outra, as bocas explorando a carne e também deixando ecoar os gemidos. Ali estavam seguras, pois assim o destino as tinha ligado.
Fim do capítulo
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Até o próximo.
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Cristiane Schwinden
Em: 25/08/2022
matei pessoas
eu tb
vamos fazer sexo?
vamos.
ahahahhaha amei essas duas protagonistas.
Resposta do autor:
Um momento super propício para um tchuco tchuco.
Será que matar pessoas aumenta a emoção?
Nunca provei! Socorro não chamem a polícia hahaha
Fico feliz que tenha gostado Cris! :D
Lea
Em: 16/08/2022
Nossa, totalmente inesperado essa continuação!
Estou entusiasmada para esse desfecho!
*
Os traidores ainda vivem. Será que continuarão vivos?
*
Boa tarde Alex!
Resposta do autor:
Lea, que bom te ver por aqui :D
Que bom que te peguei de surpresa! Adoro hahaha
Seráaaa que vão prosseguir? Poxa, terão que batalhar muito para passar tanto tempo tancrafiados e atropelados num porta-malas viu ahaha
Ótima semana, Lea! ;)
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Rosa Maria
Em: 15/08/2022
Alex...
Uauuuu...que capítulo intenso, o ruim foi terminar na melhor parte isso não se faz sabia? quantas descobertas...
Beijo
Rosa Maria
Resposta do autor:
Rosa!
Que bom te rever :D
ahahah terminei no ponto alto da cena, não é?
Nível de dificuldade em resumir tudo em mil palavras, socorro!
Beijos Rosa! ;)
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HelOliveira
Em: 15/08/2022
Será destino rs...já estou muito curiosa para a proxima...tá ficando cada vez melhor
Resposta do autor:
Seráaaa que é o destino? ahahah
Que bom que está gostando! Mais um pouco e tem a parte final ;)
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