Um passado
— Isso é inacreditável! — Digo com raiva. — Como é possível essa mulher continuar me perseguindo desse jeito? Você disse que eles iriam parar com a perseguição!
— Eu disse que iriam parar de te interrogar. — Gwen me corrigiu. — E isso acabaria acontecendo, só não foi como imaginei que seria. Eu sinto muito, Ana, mas não temos escolha senão continuar.
Tínhamos conseguido escapar para o banheiro com a desculpa de que precisávamos nos arrumar melhor para as fotos. Mas todos estavam à nossa espera no salão, as dezenas de soldados e o General Marcondes, que comandava Canéia atualmente. O mesmo que tinha escapado das acusações de estupro e corrupção e que, Arthur, meu antigo editor, acusou-me de mencionar no meu último livro interpretando o soldado Marcos.
Não tínhamos muito tempo para nos recuperar do susto porque deveríamos voltar e assinar nossos nomes perante o juiz. Ainda me sentia nervosa e queria poder socar a cara de Joana, mas estar tão incapaz e rendida às atitudes dessa mulher me impossibilitava de fazer qualquer retaliação. Sequer podia me negar a cumprir com o nosso papel naquela festa, porque foi o que estivemos planejando todo esse tempo. Mas por ter sido arranjado por aquela mulher, tornava nossos planos uma parte dos planos dela – seja lá qual fossem. Era como desvalorizar nosso esforço. Como ser obrigada a algo que tínhamos trabalhado para fazer. Não fazia sentido, e isso me irritava.
— Você precisa se acalmar. Não podemos fazer nada senão voltar lá e casarmos. Depois disso terá acabado, Ana. Não precisaremos convencer ninguém de que estamos juntas. — Ela me segurou pelos ombros, mantendo-se firme e convicta. — Nós podemos fazer isso, não se preocupe.
— E se algo sair errado nisso tudo, G? E se aquela cretina ainda tiver alguma coisa planejada? Eu não quero ser presa. Estamos no meio de um monte de soldados e do próprio General.
— Por isso precisamos manter a calma e nos concentrar na única imagem que precisamos passar.
— De um casal? — Arrisquei.
— Sim. Mas não qualquer casal. Noivamos ontem, estivemos morando juntas por dois meses. É esperado que estejamos felizes e apaixonadas, beirando a loucura por fazer tudo às pressas. Entende? Não é difícil. Foi como estivemos sendo nas últimas semanas.
— Eu nunca estive num casamento antes, G, como eu devo me comportar? Tem algum protocolo a ser seguido?
— Protocolo? Não seja boba. — Ela riu mais leve. — Teremos que conversar com as outras pessoas, mas ninguém vai nos culpar se quisermos somente aproveitar a nossa festa entre comer e dançar.
— Dançar? Que tipo de dança? Eu nunca... — Desvio o olhar, soltando um suspiro constrangido. — Eu nunca dancei antes. Achei que teríamos algum tempo ainda para treinar.
— Não se preocupe. Só me siga, está bem? — Ela segurou o meu rosto e acariciou. — Eu cuidarei de tudo. Só mantenha a calma e não deixe ninguém te tirar do sério.
— Isso eu consigo fazer. Mas não me deixe sozinha no meio deles, entendeu?
— Eu não vou a lugar algum, noiva. Em alguns minutos você será minha esposa.
— Sim, em poucos minutos Amy vai me odiar para sempre. Achei que fosse conseguir me acertar com ela antes disso acontecer.
— Ei, você ainda vai conseguir, tenha um pouco de paciência com a sua veterinária. Se você está com ciúmes por ela passar tempo com a sua amiga mesmo nenhuma delas sentindo nada uma pela outra... — Ela ergueu as sobrancelhas, deixando-me completar seu raciocínio. — Sei que é difícil, mas não pense nesses problemas agora. Não podemos errar hoje.
— Você tem razão. Desculpa, eu vou me concentrar em ser a melhor esposa que você poderia ter.
— Você já é. — Ela selou os meus lábios e sorriu. — Agora vamos mostrar isso para eles.
Eu movi a cabeça para concordar e segurei sua mão, envolvendo nossos dedos. Ela usava uma roupa formal de soldado, mas era de um azul escuro que realçava sua beleza, principalmente os seus olhos. A calça era justa, havia uma camisa branca de botão por baixo, um colete e terno. Os sapatos pareciam confortáveis e davam um estilo mais neutro para ela. Seus cabelos escuros estavam penteados para trás com um creme que os mantinha no lugar. Eu tinha optado por um vestido vinho porque Gwen disse que ele era elegante, além do salto que me deixava maior que ela. Até então estávamos vestidas para um evento formal de soldados para também comemorar nosso noivado, eu duvidava que era apropriado para um casamento de verdade.
Ainda assim nós voltamos para a festa. O lugar era enorme, um salão próprio para festa com teto oval espelhado, além de estar lotado de soldados e suas famílias, todos com roupas formais. O General Marcondes estava com a sua esposa e três filhas. Joana estava com o marido, um homem mais velho. Nós tivemos que ir nessa direção, porque estavam juntos no centro do salão com o juiz e uma mesa enfeitada, um tablet no centro com uma caneta digital. Os soldados nos cumprimentaram pelo caminho, erguendo taças e estourando champanhes.
— É uma honra ter o senhor e a sua família presentes nesse dia especial, General Marcondes. — Gwen falou com seriedade, mas expressando sua gratidão e respeito.
— É sempre uma felicidade presenciar casórios. — Ele falou de maneira amistosa. — Desejo felicidade a vocês nessa nova etapa da vida. Casais jovens sempre inspiram a nós, que estamos velhos.
Marcondes era um pouco mais alto que eu de saltos, tinha um topete grisalho penteado para trás e conservava a boa forma. Seu traje era preto e o terno tinha as diversas condecorações junto da plaquinha com as suas iniciais. O maldito foi o mesmo quem recebeu as acusações de estupro e corrupção, mas foi absolvido por falta de provas. E eu apostava que ele mesmo tinha tratado de pressionar Arthur para me ameaçar e caçar a minha identidade.
— É sempre bom ver novas famílias se formando. — Era a mulher do General, uma senhora também em boa forma e aparência. — A juventude é a melhor fase para iniciar uma relação séria.
— Eu concordo, senhora Marcondes. — Gwen passou o braço sobre os meus ombros. — Eu me sinto pronta para formar laços duradouros, então essa surpresa veio com grande felicidade para nós.
— Bom saber que todo o meu empenho foi bem-vindo. — Joana ergueu a taça de champanhe para nós. — Por que esperar para casar se estão tão envolvidas em pouco tempo, não é mesmo?
— Não iríamos realmente esperar tanto para casar já que estamos morando juntas. — Gwen me olhou com um pequeno sorriso, esperando que eu dissesse algo, mas eu somente sorri e envolvi sua cintura.
— E vocês já tem filho como planejamento?
— Sim, temos. Ainda queremos modificar a casa para receber uma criança, juntar mais recursos para os estudos dele. Além de que temos trabalhado bastante para isso, acredito que podemos aproveitar mais um pouco o tempo juntas antes de termos mais alguém para cuidar.
— Você ainda é professora, não é mesmo, srta. Martins? — Joana estreitou os olhos na minha direção.
— Correto, eu leciono aulas de literatura e idiomas para os jovens na escola. — Digo com tom calmo e buscando ser mais direta.
— Então lidar com crianças é natural para você. Já começou a buscar por doadores no banco de dados para engravidar?
— Eu não tive tempo ainda. Além de corrigir os trabalhos dos jovens eu busco passar o tempo com minha noiva o máximo que consigo. — Ofereço um sorriso para ela. — E você, senhora? Está planejando filhos também?
— Infelizmente eu já não tenho idade para essa graciosidade. — Ela forçou um sorriso, mas era evidente que eu tinha conseguido atingir um ponto sensível, e para isso eu mantive o meu sorriso. — Você devia aproveitar sua juventude. Já que seu corpo se recupera fácil de incidentes, é bom começar a tentar e não perder tempo.
— Nós pensaremos nisso com mais calma após o casamento. — Gwen falou antes que eu pudesse pensar numa resposta, então beijou minha bochecha. — Nós gostamos de trabalhar, tem sido meses bastante produtivos para nós duas.
— Seus serviços tem sido excelentes. — O General elogiou. — Vejo um caminho limpo para o seu crescimento nesse trabalho.
— É tudo o que eu mais quero, venho dando o meu melhor para que a Cidade de Canéia permaneça segura.
— Aposto que a cidade está muito mais segura contigo nas ruas, querida, ao menos eu me sinto mais segura contigo bem ao meu lado. — Digo a olhar para ela, que sorriu verdadeiramente contente.
— Eu sou uma mulher sortuda, não é mesmo? — Ela ainda me olhava. — Seus alunos também tem uma grande sorte em ter uma professora dedicada como você.
— Então devíamos juntar os nossos nomes oficialmente, não acha, noiva? Formamos uma dupla incrível.
— Não poderia ter dado melhor ideia. — Ela olhou entre os demais. — Se vocês não se importarem, é claro.
— Estamos aqui para isso. — Joana falou num tom mais sóbrio.
— Vão em frente, estamos aguardando! — A senhora Marcondes nos incentivou.
O General moveu a mão como uma liberação oficial, eu suspirei em alívio por poder dar fim a aquela formalidade. Nós duas caminhamos para junto da mesa principal, o salão ficou em silêncio enquanto o juiz nos deu as orientações gerais sobre a nossa união. Para isso eu estava preparada porque Gwen me fez ouvir quais seriam nossos direitos e deveres após o casamento.
A primeira coisa era que nossos bens seriam unidos de agora em diante, então não podíamos ter contas individuais no banco. Teríamos que passar em terapia de casal uma vez por mês para nos ajudar a manter o casamento, se apresentássemos algum problema as sessões podiam ficar mais frequentes. Tínhamos que apresentar um plano familiar após um ano de casadas, que consistia em demonstrarmos de maneira concreta o que faríamos juntas. Normalmente envolvia ter filhos, para isso teríamos que mostrar nossas condições financeiras e emocionais que permitiriam esse acontecimento. Por sermos duas mulheres casadas, ainda tínhamos que passar por testes para comprovar nossa estabilidade psicológica para lidar com crianças, com o relacionamento e a sociedade, porque acreditavam que lésbicas tendiam ao desequilíbrio.
Basicamente eles aceitavam o relacionamento entre as duas mulheres contanto que isso não agredisse a sociedade e à ordem. Como Gwen era soldado com bom histórico, tínhamos imunidade de não precisar fazer testes de estabilidade antes do casamento, mas agora teríamos que sempre comprovar nosso envolvimento e equilíbrio.
Juramos nosso compromisso diante de todos ali presentes, então mudamos a aliança para a mão esquerda. Assinamos os nossos nomes no tablet, alegando que estávamos unidas. Por Gwen ser soldado, eu tinha que receber o seu sobrenome para me incluir na imunidade militar. Então agora eu me chamava Ana Stewart Martins.
Fomos aplaudidas e parabenizadas, mas felizmente nos deixaram em paz para comer algo sozinhas. Fomos para um canto com menos pessoas em busca de podermos respirar e relaxar para absorver os fatos, além de recuperarmos as nossas forças.
— Por que a comida não tem gosto aqui? — Eu perguntei com frustração.
— Porque a intenção é não comermos muito. São apenas aperitivos para inflar no estômago com as bebidas alcoólicas. — Gwen me explicou.
— Não podemos beber. — Relembro.
— Não. Mas os sucos são bons ao menos, não acha?
— Não podemos simplesmente ir embora? Já estamos casadas, já falamos com o General. Eu daria tudo para irmos para casa e comermos uma pizza.
— Você não vai a lugar algum antes de dançar comigo, esposa. — Ela sorriu de maneira zombeteira para mim.
— Eu te odeio. — Mostrei a língua para ela.
— Eu posso viver com isso. — Ela sorriu e tocou o meu rosto, acariciando a minha bochecha. — Você está sendo incrível. Aguente mais um pouco e logo poderemos descansar em casa.
— Está bem, eu aguentarei.
— Mas eu ainda quero uma dança contigo.
— Está bem, vamos dançar, esposa. Mas prepare os seus pés porque eu sei que pisarei neles.
Ela riu e nós saímos dos bancos, mas ela me puxou contra o seu corpo e me manteve perto de si com força. Eu abri a boca para questionar o gesto abrupto quando Joana parou ao nosso lado e pigarreou. Suspirei então, abraçando a cintura de Gwen e sentindo novamente o coldre das suas armas debaixo do terno. O General estava junto de mais dois soldados de patentes altas.
— Senhoras Stewart. — Marcondes nos cumprimentou. — Está tudo do agrado de vocês?
— Claro, senhor. Estava inclusive levando minha esposa para a pista de dança. — Gwen alegou, provavelmente tentando nos livrar de mais formalidades.
— Eu lembro quando foi o meu casamento e quisemos dançar a noite toda. — Um dos soldados de patente alta falou, um sorriso amplo.
— Vocês poderão aproveitar a festa em breve, afinal isso tudo é para vocês. — Marcondes falou. — Primeiro há algumas formalidades a serem resolvidas.
— Acredito que tenhamos assinado todo o necessário para a nossa união, senhor. — Gwen pareciam tão confusa quanto eu.
— Sim, você tem razão. A união de vocês está de acordo com a lei, não se preocupe. O meu interesse é no seu histórico, senhora Stewart. — Ele pousou os olhos em mim e eu engoli em seco. — Tive o prazer em ouvir tudo sobre você por minha querida amiga. — Ele tocou o ombro de Joana. — Já não é necessário formalidades já que estamos todos servindo o mesmo propósito aqui. Tenente Joana Torres é uma amiga de minha família e eu a considero uma irmã. Esses são os Tenentes Ronny Brodie e Cole Graham.
— É uma honra conhecê-los. — Falo lentamente, estendendo a mão e apertando a de cada um. Era normal haver militares estrangeiros trabalhando nos estados da Bandeira Azul, mas tê-los em Canéia era uma surpresa.
— Você não nos conhece, mas nós trabalhamos lado a lado com os seus pais. — O Tenente Brodie alegou, para o meu espanto. — Sinto muito pela morte deles.
— Eles eram sérios e centrados, fácil de trabalhar. — Tenente Graham acrescentou.
— Os Tenentes vieram de Figueira Vermelha a meu pedido para celebrarem a sua união com a soldado Stewart. — Marcondes explicou. — Quando eu soube por Joana quem eram os seus pais, busquei saber tudo sobre eles e sobre você. Então quis trazer as pessoas mais próximas para homenagear o trabalho que fizeram.
— Meus pais sempre trabalharam muito. — Eu busquei manter meu tom baixo e lento, em parte para manter a calma, mas também porque estava apavorada com a ideia de terem conhecido os meus pais. — Fico feliz que tenham feito bons colegas no trabalho.
— Seus pais realmente trabalharam duro. Uma pena terem morrido em missão. — Tenente Brodie alegou.
— Estávamos lá quando aconteceu. Eles lutaram até o fim. — Tenente Graham concordou.
— Uma pena ter sido pelo lado errado. — Joana acrescentou, eu a olhei em confusão.
— Do que está falando? Meus pais morreram em missão contra um grupo rebelde. — Afirmo com certeza, porque era o que tinha sido dito quando recebi a notícia da morte deles.
— Deve haver uma boa explicação para a sua afirmação, Tenente Torres. — Gwen falou em tom ponderado.
— Infelizmente é a realidade. — Marcondes afirmou, parecendo conformado. — Seus pais morreram em conflito, mas não lutaram contra os rebeldes, e sim contra os próprios colegas de trabalho; pessoas que dedicaram à vida para ditar a ordem, mas traídas pelos próprios colegas.
— Eu não estou entendendo. Meus pais nunca fariam algo assim, eles amavam o trabalho. — Digo com certeza, porque eles realmente gostavam.
— Foi o que achamos também, senhora Stewart. — Tenente Graham tinha o tom contido agora. — Mas nesse mesmo conflito eles tentaram ajudar militantes do grupo rebelde a fugir. Nós fomos testemunhas, temos gravações sigilosas para comprovar o fato.
— E com isso você entende que eles tiveram que ser executados em missão. — Marcondes não poupou as palavras secas. — São informações sigilosas, não queremos levantar alarde entre a população de Canéia e Figueira Vermelha.
— Então você está dizendo que os meus pais eram traidores. — Constato, buscando absorver os fatos. — Eles participavam de grupos? — Meus dedos tiraram a trava do coldre de uma das pistolas de Gwen, segurando o cabo dela.
— Não temos essa informação, infelizmente.
— Mas nenhum soldado ajudaria rebeldes se já não tivesse algum envolvimento. — Joana ergueu a sobrancelha para mim, eu senti a acusação antes que ela dissesse qualquer coisa. Ela sempre acharia uma forma de desconfiar de mim, mesmo quando eu não fazia ideia do que se tratava tudo aquilo. — Eles nunca te falaram nada sobre alguma movimentação de grupos?
— Eu nunca sequer soube de grupos rebeldes em Figueira Vermelha. — Isso era plena verdade, ela sequer poderia me acusar de algo assim.
— Então eles nunca te disseram nada sobre o que faziam fora do trabalho?
— Desculpa, mas vocês têm alguma suspeita sobre a minha mulher? Isso é tremendamente inapropriado. — Gwen me abraçou com força, impedindo que eu movesse a mão que segurava a arma.
— Não há qualquer alegação contra a sua esposa. — Marcondes tocou o ombro de Joana. — Peço desculpa pelas perguntas. Não é minha intenção interferir nessa comemoração.
— Tenho plena certeza de que minha esposa não tem qualquer conhecimento sobre o passado dos pais dela ou qualquer envolvimento com grupos rebeldes. — Ela estava tensa e o seu corpo rígido, eu podia sentir diante do aperto entre nossos corpos. Ela devia esperar pelo pior tanto quanto eu, mas estava tentando se controlar. — Não estão vendo que ela está surpresa com todas essas informações? Eu conheço minha mulher e posso garantir que ela é péssima em encenações. O que quer que os pais dela tenham feito não reflete no presente dela. E eu não dou o direito de questionarem minha esposa se vocês não têm qualquer alegação contra ela.
— Não viemos aqui porque desconfiamos de sua esposa, soldado Stewart. Eu queria esclarecer quem foram os pais dela. E apesar disso, queria cumprimentar os esforços dela em ser uma cidadã exemplar. Soube fazer uso da renda coletada pelos seus pais; e mesmo quando se perdeu no caminho, encontrou o rumo de volta para a ordem e paz em nossa sociedade. Eu gostaria que mais pessoas soubessem utilizar os recursos que a nossa querida Bandeira Azul fornece, assim como você utilizou, assim mais pessoas veriam os nossos esforços em manter todos organizados e com futuros promissores na sociedade.
— De fato, são poucos que sabem admitir os seus erros e corrigi-los a tempo. — Tenente Graham concordou.
— Fico feliz em ter participado dessa mudança na sua vida. — Joana sorriu de maneira cretina para mim, eu senti o meu maxilar travar com pura raiva dessa mulher. — Como vai a sua recuperação?
— A recuperação de minha mulher está excelente, Tenente Torres. Agradeço a sua preocupação. — Gwen respondeu por mim, mantendo firme o aperto ao meu redor.
— Se o seu braço está melhor, senhora Stewart, seria um bom momento para iniciar seu treinamento em nossa academia. — Tenente Brodie sugeriu.
— É uma boa ideia, realmente, não acha, querida? — Inclino a cabeça para Gwen, esperando pela sua aprovação, porque era algo que queríamos.
— Claro, você tem mostrado bons resultados em casa com a sua mão de comando. — Gwen me ofereceu um pequeno sorriso, provavelmente contente que eu tivesse respondido de maneira controlada, mas a sua resposta fez os demais se mexerem constrangidos no lugar, interpretando errado suas palavras. — Eu a tenho treinado com armas de pequeno porte. — Apressou-se em explicar para eles. — E ela mostra bom controle e equilíbrio, além de uma mira de dar inveja para muito recruta.
— Bom saber que leva jeito, senhora Stewart, espero poder acompanhar seu primeiro treinamento. — Tenente Graham parecia interessado.
— Claro, por que não? — Sorrio para ele. — Essa semana o senhor estará na cidade ainda?
— Afirmativo.
— Então minha esposa te avisará quando me levar para a academia para que possa acompanhar meu treino.
— Sim, eu aviso. Por enquanto eu vou aproveitar o momento e levar a minha esposa para descansar. Acho que temos muitas coisas para planejar, não é mesmo? — Gwen me olhou com intensidade, eu suspirei e movi a cabeça para concordar, fechando a trava do seu coldre e movendo as mãos para o seu abdômen e suas costas como prova de que não segurava suas armas.
— Sim, seria ótimo. — Sorrio e beijo a sua bochecha. — Mas foi um prazer conhecer todos vocês, nos encontraremos em breve.
— Com toda a certeza. — Joana concordou.
O General e demais Tenentes não criaram caso em nos deixar ir embora, foram cordeais e assumiram que estávamos cansadas. A volta para casa foi silenciosa, tínhamos muito o que absorver entre o casamento e a descoberta sobre a causa da morte dos meus pais. Eu sequer sabia o que pensar disso, eu nunca considerei a hipótese dos meus próprios pais terem participado de grupos organizados.
Em casa eu fui verificar se Aurora e Lênin estavam confortáveis no jardim, repondo a água e comida deles. Manuela não estava lá, mas ao menos mandou mensagem dizendo estar com Samuel e a namorada dele. Então encontrei Gwen no quarto dela após ter tomado banho e colocado roupas mais confortáveis. Ela estava sentada junto dos travesseiros, pensativa, mas me deixou entrar e sentar ao lado dela.
— Nunca mais faça isso, Ana. — Ela falou em tom cansado, mas firme. — Matar Joana ou o próprio General não mudaria nada. Eles seriam substituídos e nossos esforços teriam ido para o lixo.
— Eu nem sei o que estava pensando, G... Eu tive medo, muito medo. Todo aquele interrogatório de repente... Eu achei que iriam me prender, que assumiriam o meu envolvimento em alguma coisa dos meus pais.
— E você quer morrer lutando, não presa. — Ela suspirou. — Vamos pensar em outras formas de lutar, Ana, eu não vou deixar que te prendam ou te interroguem. Você não precisa pensar nisso, eu sei que é difícil. Mas eu te propus essa alternativa de ficar comigo porque eu sei que não podem fazer nada com você sem provas. E temos tomado todo o cuidado para não gerar provas.
— É difícil pensar nisso na hora, G.
— Mas você terá que se esforçar para lembrar. Não podemos agir como se estivéssemos escondendo algo, Ana, porque eles não têm nada contra nós.
— Eles continuam querendo que eu erre, não é mesmo?
— Sim, e infelizmente você não pode errar, não na frente deles. — Ela me olhou com uma compreensão reconfortante. — Mas eu estou aqui para impedir esses erros. No fim você foi bem e foi discreta.
— E você me defendeu.
— Você é minha esposa, claro que defendi.
Eu acabei rindo, então deitei a cabeça sobre a sua barriga, cansada. Ela acariciou meus cabelos, respirando fundo.
— Você acha que os meus pais eram do seu grupo? Por serem soldados... há uma chance?
— Há uma chance, sim. Eu vou falar com o pessoal, mas talvez você tenha mais chances de descobrir conversando com Graham.
— Por que eu perguntaria algo assim? Não seria suspeito eu fazer essas perguntas sobre grupos?
— Com outros soldados sim. Mas Graham é da liderança em Figueira Vermelha, você pode confiar nele. — Ela sorriu quando ergui a cabeça para a encarar. — É verdade. Temos pessoas espalhadas em vários estados. Pessoas de patentes mais altas.
— Ele disse que matou os meus pais em missão, Gwen.
— E ele terá uma boa explicação para isso, não acha? Ainda mais quando ficou interessado em você.
— Interessado em mim? Me respeite. Eu sou uma mulher casada.
— Isso é verdade. O cargo de amante está ocupado e você não tem tanto tempo disponível assim para ter mais um amante.
— Isso é verdade. Mas eu tenho uma coisa para te mostrar. Fique aqui.
Eu voltei para o meu quarto, peguei o computador que eu escondia num cofre secreto que Gwen fez para mim no assoalho debaixo da cama, então voltei para o quarto dela. Liguei o aparelho e abri o arquivo do meu livro, mostrando a capa para ela.
— Eu terminei o primeiro livro e tenho textos complementares sobre cada grupo, apresentando mais profundamente cada um.
— Isso é incrível, Ana. — Ela pegou o meu computador e deslizou os dedos pela tela, observando a capa mais de perto com a função de tocar diretamente.
— Você gostou?
A capa era vermelha, com o desenho de uma multidão na praça central de Cidade de Canéia, em torno da estátua do General Vitor Hugo. Ele tinha sido um General importante, não era tão rígido. Foi ele quem permitiu o casamento entre pessoas do mesmo sex* e aprovou a criação das crianças por esses casais. Houve relatos do pertencimento dele à um grupo organizado, mas isso nunca foi comprovado. As letras douradas marcavam o topo da página com o nome que escolhi.
— A Revolução. — Ela leu, então me olhou com emoção. — Ana, é perfeito. Estou louca para ler.
— Você pode ler. Eu queria ter mostrado para Amy primeiro, eu até separei um tablet para isso. Mas isso não pode mais esperar, não é mesmo? E já que estamos casadas, pensei em lançar agora. — Sugeri. — Para comemorar a nossa lua de mel.
— É uma ótima ideia. Faça isso agora, quero estar ao seu lado.
— Está bem. Eu vou ligar para Deborah e ela vai assegurar que eu não seja rastreada.
Deborah tinha instalado programas e me ensinado a usar, mas eu tinha mais segurança se ela me dissesse estar tudo bem. Então no mesmo dia em que me casei, Isa Miranda iniciou a mensagem de revolução.
Eu fui me deitar tarde naquela noite, comemorando a repercussão do meu livro. Gwen e eu ainda tiramos algumas fotos e ela postou na rede social dela, em parte para completar nossa encenação de que comemorávamos o casamento, mas também para não levantarem qualquer suspeita entre a publicação do livro e a minha identidade como Isa. Afinal, ela não publicaria um livro se tivesse acabado de casar, certo?
— Acorde, dorminhoca, eu trouxe o seu café. — Escutei me chamarem em algum momento.
— Estou cansada. — Reclamei, ainda sem abrir os olhos.
— Eu também, mas é sua culpa. Você me fez ler seu livro a noite toda, escritora. É pura covardia.
O apelido me fez abrir os olhos, surpresa em encontrar Amy sentada do meu lado. Eu sequer pensei, somente a abracei, distribuindo beijos pelo seu rosto, feliz por tê-la ali outra vez. Ela riu baixo, mas não me afastou, ouvi o som de surpresa ecoar de sua boca quando a puxei para deitar sobre mim e então a beijei na boca. Houve um momento de hesitação, mas fiquei aliviada quando ela me beijou de volta, relaxando em meus braços e movendo a língua contra a minha.
Não me impediu quando puxei sua camisa pela cabeça e não hesitou em puxar minha calça para baixo. Nossas roupas foram todas ao chão para que as nossas mãos e bocas explorassem a carne e sentissem o gosto uma da outra. Eu sentia falta dela, de cada parte, então devorei cada gosto, som e imagem dela que eu podia enquanto a satisfazia da melhor maneira. Ela também demonstrou toda a sua paixão, deixando para trás qualquer mágoa.
Eu amava tocar o seu corpo e sentir o seu cheiro, ouvir seus gemid*s e sentir a sua entrega. Amy era minha, e era uma delícia. Eu a amava e queria demonstrar isso no seu corpo. O roçar de nossas peles me enlouquecia, mesclado com o seu gemid* e a sua umidade, era como estar num mundo só meu e dela. Nesse mundo eu podia estar com ela sem medo, sem restrições. Podia amar cada pedacinho da sua essência sem pesar, somente com a certeza de a ter nos meus braços.
Logo estávamos deitadas debaixo das cobertas, juntas e abraçadas. Nunca me senti tão quente e realizada, feliz somente pelo fato de ter Amy ali comigo. Eu não queria que nada acabasse com isso.
— Bom dia. — Ela falou assim que recuperou o fôlego, fazendo-me rir. — Você continua me surpreendendo. É uma grande prova de amor exigir um beijo assim tão logo acorda, sabia?
— Ah, é? E se eu te exigisse isso todas as manhãs?
— Bem, eu faria esse sacrifício é claro. — Ela selou os meus lábios, mantendo-se perto para respirarmos o mesmo ar. — Senti sua falta.
— Eu também senti a sua. Eu sinto tanto, Amy, por tudo. — Alego de prontidão, querendo resolver isso. — Desculpa por ter sido uma idiota. Você é a última pessoa que eu tentaria magoar. Eu senti sua falta a cada segundo.
— Eu sei, sua esposa me ligou antes do amanhecer e pediu para que eu viesse aqui. — Ela sorriu para a minha surpresa. — Ninguém sabe que estou aqui.
— Ela tem sido legal. — Selei os seus lábios. — Ela é uma grande amiga que tem mantido minha cabeça no lugar nos momentos mais tensos que temos que passar. Mas eu entendo se você continuar não gostando de nada disso, eu também não gosto.
— Sua esposa tem sido mais que legal em convidar a amante para a sua lua de mel.
— Amy... — Fiz uma careta. — Não diga isso.
— Eu estou brincando. — Ela me beijou para anuviar o clima. — Nós sabíamos que isso aconteceria.
— Você sabe que não sinto nada por ela, não sabe?
— Sim, eu sei, principalmente em momentos como esse. — Ela me beijou de novo, suas mãos continuando a mover no meu corpo para acariciar.
— Desculpa... Eu tinha planejado algo mais romântico com Samuel para me desculpar contigo. Até comprei um presente.
— Um presente? — Ela pareceu interessada.
— Sim. Não se mova.
Eu me virei e abri a gaveta do criado mudo, pegando uma caixinha e me voltando aos seus braços. Entreguei a pequena caixinha para ela e deixei que abrisse. Ela abriu um amplo sorriso quando viu o colar com pingente de coração, no centro a foto de Lênin, Aurora e os filhotes.
— É lindo, Ana. Eu amei. — Ela beijou os meus lábios algumas vezes.
— Que bom que gostou. — Sorrio aliviada. — Eu queria que lembrasse que estamos unidas de uma maneira que ninguém pode copiar ou romper. E eu farei tudo para nos manter juntas como agora, Amy.
— Oh, escritora, assim você me fará chorar.
Ela me beijou mais profundamente, nossos corpos grudados. Estava aliviada por tê-la ali na minha cama e nos meus braços outra vez, contente porque não tinha estragado tudo e podia continuar a contar com o seu amor para me fortalecer.
Nós tomamos banho e colocamos roupas mais quentes antes de descer para comer propriamente. Manuela e Gwen estavam comendo juntas, não se incomodaram em nos ter juntas para compartilhar o desjejum.
— À Revolução. — Manuela ergueu a caneca de café dela em brinde, fazendo-me erguer a sobrancelha.
— À Revolução. — Gwen também ergueu o próprio café.
— À Revolução. — Amy nos serviu rapidamente café, erguendo a xícara, sorrindo para que eu também brindasse.
— À Revolução. — Ergo a minha xícara, nós quatro tocando os recipientes com cuidado para não derramar.
— As redes estão uma loucura. — Manuela alegou após beber um gole. — Nossa querida Isa Miranda cumpriu com o seu objetivo de agitar a população.
— As distribuições atingiram mais de 500 mil pessoas ao longo da madrugada. — Gwen estava animada.
— 500 mil? Mas isso equivale... — Pensei por um momento, tentando lembrar quantas pessoas tinham na cidade.
— Equivale à Cidade de Canéia e Figueira Vermelha juntas, querida. — Amy acariciou a minha perna por baixo da mesa. — Mas a distribuição atingiu todo o Continente Sul. Os números continuam subindo.
— E as tentativas de derrubar a página da Isa também. — Manuela comentou. — A equipe de Deborah tem trabalhado a noite toda para impedir os hackers de acessarem sua página e ainda garantir o anonimato de quem acessa seu site.
— Isso é preocupante. — Considero enquanto bebo um gole do meu café, absorvendo aquelas informações. — Eles têm conseguido alguma coisa?
— Não. — Gwen respondeu. — Deborah é bem equipada, tem protegido todas as compras efetuadas no site, para não emitir uma prova contra quem está adquirindo. Questão de nota fiscal e tudo mais.
— Ela pensou em tudo.
— Não se preocupe com isso. — Amy tentou me assegurar, eu a olhei, tentando acreditar. — Estamos preparados para lidar com os problemas. Você só precisa se preocupar em continuar com o plano e permanecer escrevendo. Os resultados virão.
— Falando em seguir o plano, seria uma boa ideia irmos para a base. — Gwen comentou, limpando os lábios. — Eu enviei uma mensagem para Graham, ele estará lá agora de manhã.
— Quem é Graham? — Amy olhou entre nós.
— Aparentemente um Tenente que participou da execução dos meus pais. E que faz parte do Comando Geral. — Olho para ela, então indico Gwen. — Nós o encontramos na festa ontem. Foi muito esquisito toda aquela abordagem. Eu achei que seria presa.
Eu tive que explicar toda a história dos meus pais, aturei os questionamentos de Amy e Manuela, mas como puderam perceber, eu sabia tanto quanto elas. Isso me incomodava, não me fazia mais à vontade em ir ao encontro desse Tenente, por mais que fosse de um grupo, confiar em Gwen foi um processo. Agora confiar em outro soldado? E de patente maior? Era difícil.
— E você tem certeza de que é uma boa ideia ter aula de tiro com esse cara?
Amy perguntou para mim, mas olhou para Gwen. Eu não sabia responder, então entendia que ela não estivesse me pressionando a saber com certeza o que estava fazendo.
— Graham está no Comando há muitos anos. Ele é uma peça fundamental que ajudou a manter Ana limpa no sistema durante esse tempo todo. Ser amigo dos pais dela é uma surpresa, mas só temos como saber o que realmente aconteceu se formos ao encontro dele.
— Se ele quisesse algum mal, teria agido antes, se sabe sobre a Isa. — Manuela raciocinou.
— E foi dele a ideia de nos casarmos. — Gwen comentou casualmente. — Eu estarei contigo, Ana. Você não precisa se preocupar.
— Vocês não estão em lua de mel? — Amy ainda parecia não gostar da ideia, mas estava se controlando. — Por que não podem adiar isso até não estar tão movimentado nas ruas?
— E teremos esse momento? — Gwen sorriu de lado. — Graham não ficará na cidade por muito tempo. Além de que se formos para uma base militar vai ajudar na imagem de que não estamos fazendo nada de errado.
— Infelizmente ela tem razão. — Suspirei, baixando o olhar. — Eu vou precisar aprender a atirar de todo jeito, e preciso descobrir o máximo que puder sobre os meus pais. — Senti o toque de Amy na minha mão, acabei suspirando, mas me senti mais calma com o contato quente da sua pele. Olho para ela, servindo-me dos seus lábios por um instante. — Eu ficarei bem.
— Vaso ruim não quebra. — Manuela provocou, mas nos fez rir, aliviando a pequena tensão.
— Eu vou me vestir e já te encontro. — Digo para Gwen, ainda que pudesse sair com aquelas roupas, quando me levantei sem soltar a mão de Amy, ela entendeu que era somente um pretexto para ficarmos sozinhas.
— Não demorem. — Gwen falou, já com a atenção voltada para o próprio celular.
Amy pareceu interpretar errado nossa volta para o quarto, porque me prendeu contra a porta e pressionou nossos corpos. Suas mãos seguraram firme em minha cintura, já seus olhos vibraram um desejo latente enquanto miravam meus lábios. Aquele sorriso malicioso calou meus protestos e eu somente a beijei, saboreando seu delicioso sorriso e sentindo suas verdadeiras intenções. Era inusitado, confesso, que ela tivesse atitudes assim, mas não seria eu quem a faria parar porque tínhamos pouco tempo.
Não levou nem um minuto para a sua intensidade repentina me tirar o fôlego, mas ela não me deu tempo para respirar antes de aprofundar mais ainda o beijo.
— Amy... eu tenho uma cama logo ali.
Não que eu estivesse reclamando, mas ela riu da sugestão. Não aceitou, no entanto, puxou minha blusa para cima e abocanhou meu mamilo esquerdo, olhando-me de um jeito provocante. Envolvi a mão na sua nuca, sentindo um gemid* escapar dos meus lábios enquanto a boca dela estava tão molhada e ávida a me consumir.
Ela desceu mais, distribuindo beijos pela minha barriga enquanto puxava minha calça e minha calcinha para baixo. Sorriu para mim, tendo-me entregue diante da sua ousadia em me possuir logo ali. Sua língua provou minha umidade, eu nem tentei me controlar quando pressionei as mãos em sua cabeça, pedindo por mais. Ela não hesitou em me entregar aquilo, tão necessário naquele momento.
Amy devorou-me como se estivesse em jejum, tão sedenta. Mas ao mesmo tempo alternava com zelo, beijando meu púbis com carinho e até certa reverência. Quando ela deslizou a língua pela primeira vez em todo o meu sex*, minha perna direita instintivamente prendeu na sua nuca. Ela avançou mais e ch*pou onde estava sensível, arrancando um gemid* que tentei conter. Mas ela não queria que eu me contivesse, ela simplesmente moveu a língua e ch*pou, deixando-me molhada ao ponto de me sentir escorrer em sua boca.
Eu g*zei ali mesmo, sentindo minha perna vacilar, mas me segurei num último instante de sanidade para não cair. Ainda assim, minhas costas deslizaram na porta e eu me sentei no chão, sentindo meu corpo dormente.
Amy subiu no meu colo, beijando sutilmente meu rosto até selar meus lábios por um instante mais prolongado.
— Eu não quero que esqueça a quem você realmente pertence. — Ela falou baixo contra os meus lábios. — E não quero que esqueça ou duvide por um segundo que estarei sempre fazendo tudo para estar do seu lado.
— A única coisa que esqueci é como andar nesse momento. — Sorrio, fazendo-a rir. Movi minhas mãos para chegar no seu rosto, processo que demorou mais que o planejado devido a sensação dormente que repercutia no meu corpo ainda. Olhei nos seus olhos, tão perto e vibrantes, sinceros e expostos, frágeis até, mas não menos apaixonantes e encantadores. — Eu não tenho como esquecer algo assim. Se estou aqui e cheguei nesse momento também foi por influência sua, Amy. E se quero chegar nessa causa até o fim, então também é por você.
— Por nós.
— Sim, por nós.
Ela sorriu satisfeita, também me senti mais segura, mais plena. Eu tive que deixá-la ali e então seguir com Gwen para a base militar no interior norte de Canéia.
Eu nunca tinha estado naquela região. E por que frequentaria uma região tomada de soldados? Só tendo casado com um, é claro. Então lá estava eu, adentrando a imensa fortaleza metálica com bandeiras azuis espalhadas por todo o lugar.
A Base Militar Oficial de Treino (BMOT) era um prédio redondo entre outros dois idênticos, diferenciado somente pelas letras douradas e garrafais na fachada.
— O prédio à esquerda é o administrativo. — Gwen me explicou enquanto eu mirava os três, lado a lado, do estacionamento. Era um espaço amplo e que se dividia em andares no subsolo; mas o térreo, onde estávamos, era coberto por vidro esfumaçado. — Retém todo o tipo de informação e é de onde recebem as ordens diretas da Bandeira Azul. Só os Generais têm acesso a aquele prédio. Eu nunca vi ninguém da diretoria sair de lá.
— Aposto que moram lá dentro. — Sugeri, mas sem levar a sério.
— Eu também acho isso. O prédio é grande, espaçoso. Não contratariam muitos funcionários para correrem o risco de vazar informações. Então só resta funcionários braçais como limpeza e cozinheiro, essas coisas. A equipe técnica sempre sai, isso eu vejo.
— E se nem for a base administrativa de verdade? Pode ser só de fachada.
— Talvez. — Ela suspirou e segurou o meu rosto de repente, aproximando-se como se fosse me beijar, mas somente ficou perto. — Temos que ser discretas. Agir normalmente.
Eu iria questionar do que ela falava quando percebi com o canto dos olhos alguns soldados passarem por onde estávamos. Não sei dizer as patentes porque não podia me desvencilhar de Gwen, mas entendi que não deveríamos ficar conspirando sobre a Bandeira Azul em solo comandado por soldados. Então suspirei e assenti, deslizando as mãos sobre as suas.
— E o prédio da esquerda é o quê? — Perguntei mais baixo, fazendo-a rir em divertimento.
— É um misto de prisão, salas de interrogatórios; onde tem maior monitoramento da população. — Ela se afastou um passo e segurou minha mão, envolvendo nossos dedos. — O lugar que você não quer conhecer.
E não queria mesmo. Nós saímos do estacionamento e fomos para o prédio do meio. Havia seguranças e um grande sistema de vigilância. Drones, câmeras, verificação de identidade na entrada do prédio... Eles não confiavam nem mesmo nos próprios soldados. Mas apesar disso, o clima não era intenso como costumava ser nas revistas cotidianas nas ruas. Existia um ânimo, uma conformidade. Como eram outros soldados que faziam essas verificações em outros soldados, existia aquela descontração como se todo aquele controle fosse natural. E era, para eles.
Passamos por toda a checagem sem maiores problemas; fiquei surpresa que Gwen conhecesse tantas pessoas, ministrando bons relacionamentos com soldados que eu diria terem grande apreço por ela.
— Não sabia que você era popular aqui, esposa. — Digo para ela, que riu para mim. Envolveu um braço sobre os meus ombros e me manteve perto de si enquanto andávamos rumo ao elevador.
— Eu não sou. Todos suspeitavam de mim por não estar envolvida com ninguém na base. Depois que começamos a aparecer em público isso mudou e eles se tornaram mais amigáveis. — Ela desviou o olhar, parecendo triste apesar do sorriso. — Eu te disse que a questão de estabilidade pessoal era um ponto importante para eles aqui dentro.
— São um bando de fofoqueiro, isso sim.
O térreo era um amontoado de placas que sinalizavam onde ficava cada coisa ali dentro, não havia enfeites nem uma recepcionista. Tudo era metálico com emblemas da Bandeira Azul. No caminho para os elevadores, havia uma coleção de quadros antigos estampando os rostos de Generais que felizmente já morreram. Tinha pouca movimentação por ali, então pegamos o elevador sozinhas.
— Você morava aqui desde criança? — Perguntei baixo, inclinando o rosto para ela, temendo que naquele espaço pequeno houvesse mais alguém ou alguma escuta.
— Não nesse prédio. — Seus olhos continuaram fixos no painel digital no alto da porta, que indicava os andares passando lentamente. — Tem o Conjunto de Condicionamento Infanto-Juvenil (CCIJ), fica logo após esses prédios. É onde as crianças começam, até terem 16 anos. Então o treino se intensifica nesse prédio aqui e eles são alojados em habitações na cidade.
— Tão jovens. — Comento. — E já com tantas responsabilidades. Deve ter sido difícil.
Ela não me respondeu porque normalmente ela não gostava de relembrar esses anos da sua vida. Sempre finalizava o assunto sem uma resposta ou trocando para outra coisa aleatória. Mas julguei que estar ali dentro não lhe dava a maior opção de mudar de assunto, então ela somente se calou e eu não insisti.
Saímos no 7º andar, uma placa indicava “Centro de Tiros”. Conforme avançávamos pelo único corredor central que ligava à outras ramificações, observei que havia de tudo ali dentro. Desde o treino básico de montagem de armas e identificação de cada modelo, até simulações de alvos e pequenas operações. Tudo era exposto ou pelos monitores ao lado da porta, ou pelas janelas transparentes.
Nós fomos até quase o fim do corredor, onde eu reconheci Tenente Cole Graham. Ele era um homem de meia idade, com aparência firme, mas olhos gentis. Os cabelos castanhos tinham mechas grisalhas, somente um topete penteado para trás no topo e todo o resto raspado. Não possuía barba. Era alto, mas não tinha a quantidade de músculos intimidadores que a maioria dos soldados possuía, então o uniforme estava largo no seu corpo.
Ele nos recebeu cordialmente dentro da pequena sala de treino. Estávamos sozinhos e não tinha a maior luminosidade no local, somente nos alvos e na mesa de tiros.
— Fiquei feliz com o convite. — Ele falou, olhando para Gwen até pousar os olhos castanhos em mim. — Estava ansioso para te conhecer pessoalmente, Ana.
— Eu posso dizer o mesmo. — Relutei em soltar a mão de Gwen, apertando-a.
— Está tudo bem. — Ela me garantiu. — Não tem escutas nas salas. Você não precisa se preocupar com nada.
— Não é muito animador.
— Eu entendo seu receio, Ana. Não te julgo. — Tenente Graham alegou, imperturbável. — As coisas têm sido complicadas para você nesses meses, eu não esperaria menos que a sua desconfiança.
— Gwen disse que foi ideia sua oficializar nossa união. — Estreitos os olhos para ele, que move a cabeça para concordar. — Por isso eu agradeço.
Afastei-me deles, sentindo-me claustrofóbica por estar naquele quarto sem janelas. Vi soldados passarem pela janela do corredor e isso me incomodou. Fui até a mesa de tiros e observei as peças desmontadas, pensando que provavelmente manter as mãos ocupadas diminuiria minha ansiedade, tão exposta no tremor que elas demonstraram ao segurar as primeiras peças. Também ajudaria a manter o disfarce de que eu estava treinando e não coletando informações.
— Você tem ficado íntima com facilidade das armas. — Gwen comentou, ficando ao meu lado a me observar montar peça por peça.
— Eu tenho uma boa professora em casa. — Afirmo, mas a verdade era que eu tinha duas, porque Amy adoraria me ensinar a atirar se o nosso tempo juntas já não fosse tão curto.
— Sua mãe tinha um carinho especial pelas armas que carregava. — O Tenente ficou do outro lado, montando com facilidade e rapidez o modelo sobre a mesa, eu poderia facilmente dizer que ele estava se exibindo. — Seu pai era bom, mas nem de longe acompanhava o desempenho de Natasha nas sessões de tiros. Ela era um prodígio, difícil de ser batida por atiradores profissionais de longa data.
— Espero que tenha usado essa habilidade com as armas para ter dado maior trabalho para vocês quando foram assassiná-la. — Meu tom saiu rude e seco, senti o olhar do Tenente em mim, mas não o olhei de volta, porque não sentia muito.
A verdade ainda estava ali: sendo de grupo ou não, ele foi responsável pelo assassinato dos meus pais. E isso revirou o meu estômago, porque se os meus pais participavam do mesmo grupo de militares, seus próprios aliados escolheram exterminá-los.
Ainda com as mãos trêmulas e geladas, trabalhei automaticamente na montagem da pistola. Não era difícil, eu tinha visto com frequência Gwen desmontar e montar a própria arma quase diariamente para higienizar, ou simplesmente para testar as engrenagens, fazer testes. Ficar entediada em casa era fácil, ainda que a nossa rotina nos deixasse atarefadas – trabalho, corrigir provas e trabalhos escolares, cuidar dos cachorros, escrever um livro, bancar um casal – havia os momentos que nada calava os pensamentos. E nessas ocasiões eu observava Gwen e suas armas, imaginando ocasiões em que teria que usar uma delas para me defender. Em nossa situação na sociedade, era fácil ver isso acontecendo.
— Não é como está pensando, Ana. — Graham ainda me olhava. — Fomos enviados numa missão para conter um grupo terrorista. É como chamam os grupos organizados de resistência, você deve saber nessa altura.
— E como não sabiam que se tratava de uma operação do próprio grupo? — Ergui a minha arma, olhando para ele por um instante. — Você é Tenente e tem uma posição confortável dentro do grupo, no entanto vai me dizer que não sabia que ambas as operações iriam colidir.
— Eu não sabia porque seus pais faziam missões sem contatar o grupo.
Revirei os olhos para a informação, porque era muito fácil para ele lançar a culpa nas pessoas que não tinham fôlego para se defender. Mirei nos alvos à frente com contorno humano e riscos de pontuação conforme acertava os pontos vitais. Fiz como Gwen me ensinou, relaxei os ombros e mantive os pulsos firmes, separei as pernas sutilmente e respirei fundo. Então disparei uma vez atrás da outra até o cartucho acabar. O som ecoou pelo ambiente pequeno, mas parecia distante para mim, uma vez que eu estava focada nos pontos críticos.
Talvez o burburinho dentro de mim tenha ajudado a concentrar meu ódio pela situação para acertar o alvo. Dos 12 tiros, 8 foram no coração, o restante cambaleou entre pescoço e ombros. Gwen assobiou em admiração, movendo a mão em minhas costas como uma forma de me consagrar.
— Eles se arriscavam demais Ana, nós nunca concordávamos com as missões que eles propunham. — Graham olhava para frente agora, sem tencionar atirar no próprio alvo. — Mas não podíamos impedir que eles realizassem por conta própria.
— Eles eram somente dois. Como conseguiriam chamar atenção se sabiam como funcionava as coisas entre os soldados? — Olho para ele, sentindo minha testa tensionar. — E por que vocês não aprovavam as missões deles?
— Eram arriscadas demais. Podíamos ser descobertos. Todas as missões precisam ter uma rota de fuga em caso de algo vir a dar errado. Mas eles estavam mais concentrados em resgatar reféns, em salvar pessoas, nossos aliados. — Ele pareceu frustrado com a recordação, os dedos pressionavam na arma sobre a mesa até ficarem sem cor. — Isso colocava um alvo nas nossas costas, maior do que já tínhamos. Porque eram informações que somente soldados podiam ter. Então todo o departamento de investigação apertou o cerco entre nós para descobrir quem eram traidores. Tivemos que dar uma pausa em nossas operações, porque a pressão estava grande. Mas seus pais não pararam.
— Por que eles estariam tão vidrados em resgatar reféns?
— Seus pais tinham os próprios motivos, Ana. Eu não posso falar por eles. Talvez se sentissem responsáveis, porque muitos eram soldados ou família de soldados. Pessoas vulneráveis, sem terem como se defender; civis basicamente.
Gwen chamou minha atenção quando começou a atirar no alvo a frente, exibindo-se ao descarregar o pente na cabeça e no peito. Eu a encarei e ela ergueu a sobrancelha, desafiando-me a fazer melhor, ou talvez relembrando de que deveria parecer estar treinando. Bufei, convencida a vencê-la nos pontos. Havia um painel mais ao fundo, somando a pontuação do que acertávamos nos alvos, e agora o “jogador nº 2” estava em primeiro lugar. Era impossível competir com dois soldados que fazem isso há anos, mas lá estava eu.
Recarreguei a pistola com outro pente já com munição, acionei na tela sobre a mesa o comando para trocar de alvo, assim as engrenagens se moveram e um novo boneco se prostou à frente. Ergui as mãos e mirei nele, sentindo o foco vir com facilidade. Alternei a mira dessa vez na cabeça e no peito, tentando melhorar meu escore em comparação à Gwen. Dessa vez foram nove tiros na cabeça, mas o restante não acertou em cheio o peito. Ainda assim mirei Gwen para retribuir seu desafio.
— Eu não tinha escolha. — Graham falou, insistente. — Você consegue imaginar chegar no local da missão, junto de outros soldados, e encontrar seus amigos ali? Se eu recuasse seria morto ou então preso e interrogado. Nossa causa teria mais perda que qualquer vitória.
— Todos nós temos escolhas. — Revidei, mas sequer o olhei, deslizei os dedos no painel sobre a mesa para trocar de alvo enquanto recarregava outro pente. — E eu não me importo se achou que não tivesse uma, porque você tinha, e você escolheu. Você matou os meus pais. — Pontuei, minha mandíbula se retesando na próxima rodada de tiros. — E eu nunca esquecerei disso, não importa as circunstâncias.
— Eu não consigo esquecer também. — Ele suspirou de maneira audível, então apontou a arma para o próprio alvo pela primeira vez e disparou todos os tiros na cabeça. — Mas pelo menos tenho buscado seguir com a causa e mudar as coisas para que nada se repita.
— É o mínimo que você pode fazer. — Afirmo com resignação. — Então quais são os planos para o que vem a seguir?
Porque era o que realmente importava. Meus pais estavam mortos, mas as pessoas ainda viviam dentro daquele sistema totalitário. Muitas morriam por pensar fora da bolha em que fomos criados, outras tantas eram torturadas em situações desumanas.
Isso precisava acabar.
E foi quando tudo caminhou para o caos que uma revolução causava.
Fim do capítulo
Eis o casamento do mais novo casal top da história ahaha brincadeira :)
Vosso comentário, por obséquio.
Até o próximo ;)
Comentar este capítulo:
May Poetisa
Em: 20/08/2022
Alex, você tem o dom de causar nos casamentos, eu ainda nem superei Ira e Micai rs
Resposta do autor:
ahaahah nem eu, que escrevi Born 2, superei a Ira com a Micai ahahaha
HelOliveira
Em: 25/04/2022
Essa Joana é insuportável, autora não sei se meu coração vai aguentar, nossa quantas coisas nesse casamento hennn.... só a Amy para acalmar tudo no final....
Muito top esse capítulo parabéns autora
Resposta do autor:
Joana é um amor de pessoa! ahahahah zuera
Vai aprontar muito ainda, só acho :3 não sou uma fonte muito segura de informações hehe
Amy sempre coloca um panozinho quente no fim! Uma beleza.
Que bom que gostou, Hel, fico feliz!
Agradeço por comentar!
Até o próximo!
[Faça o login para poder comentar]
Dressa007
Em: 23/04/2022
Gente e aquele interrogatório todo no casamento? Fiquei aflita esperando pelo o pior... ainda bem que Gwen acalmou Ana se não tudo iria por água à baixo a cada capÃtulo fica mais perigoso... agora falando na lua de mel... quem se deu bem foi Amy! ... tirando os atrasos hein kkkk
CapÃtulo maravilhoso parabéns autora
Resposta do autor:
Já pensou ficar sendo interrogada (in)diretamente em pleno casamento (que foi forçado)?
hahaha bem no estilo da pressão
Gwen acaba sendo um grande banho de água fria nas impulsividades da Ana :3
A Amy toda sortuda mesmo ahahaha consumando o casamento
Agradeço dona Dressa!
Até o próximo ;)
[Faça o login para poder comentar]
Lea
Em: 22/04/2022
Que "presente" de casamento, descobrir que seus pais faziam parte de um grupo revolucionário,e morreram defendendo seus ideais.
E essa Joana,oh mulherzinha repugnante.
Como vão conseguir derrubar esse sistema?? Não vejo uma luz no fim do túnel.
Alex,avisa para a noiva que ela consumou o casamento com a esposa errada. Kkkkkk
Resposta do autor:
Presentão, né? Tá na genética o ar revolucionário nessa família!
Joana já começou a irritar? ahahaha
Difícil derrubar um sistema assim, não é? Mas não impossível :)
Elas vão acabar enfrentando grandes desafios, mas a luz vai aparecendo aos pouquinhos :D
ahahahhaha
Não é, menina? Ana na lua de mel... mas com a amante! ahahahha
Beijos!
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]