Um plano
Manuela teve uma conversa quase monossilábica com Amy ao telefone, provavelmente porque ao ouvir a palavra soldado, Amy soubesse fazer as perguntas certas para obter um sim ou não sem comprometer nossa situação. Então chegamos no hospital rapidamente porque a soldado realmente usou a sirene no meu carro, e todos os demais saíram do caminho. Eu fui no banco de trás junto à Aurora, que estava deitada do meu lado, eu acariciei sua cabeça o caminho todo, buscando me acalmar e conter a sensação de dor que sentia a cada curva que a mulher fazia. Ao menos Aurora estava bem aparentemente.
— Você não pode entrar. — A soldado falou para Manuela quando saímos do carro, parado numa vaga no estacionamento fechado, reservado para pacientes.
— Como é? — Manuela estreitou os olhos, desconfiada.
— Você não pode deixar um animal sozinho no carro e não pode entrar com ele num hospital. Eu acompanharei a senhorita Martins para tratamento.
— Ela tem razão. — Sou obrigada a falar. — Fique aqui e espere por Amy, então leve Aurora para o petshop para checar se está tudo bem com ela. Eu te encontro em casa.
— Você tem certeza de que é uma boa ideia? Você está sem celular. — Manuela tinha razão, infelizmente.
— Ligue para Samuel e fale para ele vir. Ele deve terminar o expediente até eu ser liberada aqui.
— Está bem, mas Amy não vai gostar da ideia.
— Eu lido com ela depois. Vê se não apronta nada. E cuide de Aurora.
— Não se preocupe, ficaremos bem.
Eu esperava que sim.
A soldado me seguiu para dentro do hospital silenciosamente, passando por pessoas que se calavam tão logo viam um soldado acompanhando uma civil, que dirá no meu estado. Eu odiava chamar a atenção. Sentia meu coração aos pulos, temendo o que ainda pudesse acontecer. A dor era constante e eu evitava fazer caretas, porque a queimação na minha face impedia até que eu murmurasse xingamentos.
Ao menos eu fui levada sem demora para fazer exames e constatar que eu tinha fraturado o braço. Ficou entendido que um soldado fez aquilo comigo, não fizeram as perguntas que fariam quando alguém quebra um osso; e havia aquele clima, aquela troca de olhares acusativos dos enfermeiros e médicos que me faziam sentir mais raiva do que culpa. A soldado estar do meu lado o tempo inteiro os intimidou o suficiente para não perguntar, o que, de certa forma, era um bônus. Fui medicada com injeção para sessar a dor quando colocaram o osso no lugar, então imobilizaram meu braço com uma tipoia.
Cuidaram do ferimento no meu rosto, passando alguma pomada para não infeccionar; felizmente não havia aberto nenhum corte. Fiz outro Raio X para verificar meus dentes, demonstrando que eu tinha perdido o segundo pré-molar, mas confirmaram que eu poderia fazer um implante.
Um implante... com que dinheiro? Eu tinha guardado o dinheiro de Isa Miranda e feito pequenas retiradas ao longo do tempo para não chamar atenção, mas toda a renda que recebi como editora foi usado para pagar minhas contas. E como professora substituta nem de longe bastaria para suprir todos os meus gastos, muito menos para um implante. Agora que o dinheiro de Isa tinha sido bloqueado – se fosse realmente verdade – eu teria que achar um trabalho verdadeiro. Mas quem aceitaria alguém com o braço quebrado e a cara marcada?
Eu pensaria numa solução, só não enquanto houvesse um soldado do meu lado e sob o efeito de drogas para a dor. Já tinha acontecido tanta coisa naquela semana que eu me sentia a beira do colapso. Lidar com grupos organizados, com a ameaça de ser descoberta por soldados, e a pressão constante de que estavam perto de descobrir a minha identidade não estava sendo fácil de lidar. Quase ter perdido Aurora e a minha vida em menos de 48H não colaborava também. Agora esse incidente com uma soldado.
— Você não precisa realmente ficar aqui. — Digo de mal humor; a dor tinha diminuído e eu estava sentada numa cama. — Eu só estou esperando meu amigo chegar para me levar. Já recebi alta.
— Eu sei que quer se livrar de mim, mas eu queria conversar contigo antes do seu amigo chegar.
— Não há nada para conversar.
Seu suspiro foi audível. Ela parou do meu lado na cama e me olhou nos olhos, sem falar nada por um longo momento. Ela retirou o colete e o casaco, ficando somente com uma camisa branca, então retirou a boina que todo soldado usa e deixou os cabelos escuros caírem sobre o ombro ao desfazer o coque. Ela era forte, eu pude perceber os músculos nos seus braços expostos. Mas também era jovem, talvez tivesse a mesma idade de Manuela. Ela colocou os trajes na poltrona que esteve sentada, e se não bastasse, tirou o cinto com as duas pistolas da cintura e uma faca debaixo da calça no tornozelo. Desligou o rádio e o celular. Mostrou que os bolsos estavam vazios. Então ficou do meu lado outra vez, parecia outra pessoa.
— Eu não estou falando como soldado, Ana.
— Está, se eu não sei o seu nome.
— Tudo bem, é justo, já que sei de toda a sua vida que consta no sistema. — Ela respirou fundo antes de me estender a mão. — Meu nome é Gwendoly. Mas isso terá que ficar só entre nós, caso contrário eu correria o risco de sofrer penalidades no meu departamento.
— Eu nunca diria esse nome, de qualquer forma, onde seus pais tinham a cabeça? — Eu segurei seu pulso com a mão esquerda, ela sorriu constrangida por ter oferecido a mão para quem tinha acabado de ter o braço imobilizado.
— Desculpa, é força do hábito. — Ela colocou as mãos nos bolsos da calça, desconfortável. — Você pode me chamar de Gwen se preferir.
— Tudo bem, Gwen, sobre o que exatamente você quer falar? — Sento na cama na beira da cama, pegando o copo com água ao lado desta e bebendo um gole para afastar o gosto amargo do remédio na boca.
— Primeiramente, eu sinto muito pelo que houve hoje. Os ânimos de todos tem estado mais alterado com os últimos acontecimentos, e sei que isso não justifica o seu estado atual.
— Não, não justifica. E não é seu lugar pedir desculpa por algo que não fez.
— Eu fui responsável de certa forma se não impedi de acontecer. — Isso eu não podia discordar. — Eu sou de um ramo menor no que faço, eu tenho que acatar ordens, e aquela soldado é de um ramo maior, então não posso intervir diretamente. Por isso eu cuido dos interrogatórios, para evitar que ela o faça.
— Mas ela dá o jeito dela de conseguir um exemplo. — Toco minha bochecha, sentindo-a sensível e inchada ao toque. — Acho que é o jeito dos soldados de lidarem com uma situação adversa.
— Nem todos os soldados são assim.
— Então você nunca bateu em ninguém?
— Eu não posso falar de minhas missões, Ana, tente entender. Cada soldado está ali por um motivo, não são todos que tem uma escolha. Não são todos que gostam do que estão fazendo, mas é um trabalho como qualquer outro.
— Onde está querendo chegar? Você não quer ser soldado?
— Eu não disse isso. Eu gosto da missão de manter a vida das pessoas seguras.
— Eu não me sinto exatamente segura com o serviço de vocês nesse momento, sinto muito se eu não te der uma boa avaliação.
— Eu não disse que concordo com os métodos. E sei que muitos também não estão contentes.
— É? E o que estão fazendo sobre isso?
— Eu entendo que você esteja hostil e desconfiada, você tem razão em estar. Eu não vou te machucar, Ana, eu vim até aqui para dizer que estou fazendo a minha parte para proteger Isa Miranda.
— De novo esse nome? Qual o problema de todo mundo com essa mulher? Eu não sou ela! — Falo com maior impaciência. — Se veio até aqui para continuar o interrogatório que a sua amiga começou, já aviso que eu nunca tive nada a ver com essa mulher, eu só editava os livros e enviava de volta para a editora.
— Se acalme, Ana, seria pior se algum enfermeiro entrasse aqui agora e você tivesse que ser sedada. Além de que quanto mais você se estressar, pior será sua recuperação.
Respiro fundo, a última coisa que queria era dormir com essa mulher do meu lado no quarto. Massageio a ponte do nariz, tentando pensar.
— O que você quer dizer sobre proteger Isa?
— Eles fizeram uma análise do perfil de Isa Miranda com as imagens que conseguiram na editora, então estão seguindo o padrão em algumas mulheres pela cidade para descobrir quem pode ser. Em outras palavras, eles não vão deixar de te pressionar mais que às outras, até você errar um passo, como hoje. — Eu a encarei, mas não digo nada. — Você vai perder seu trabalho e ficar meses sem encontrar outro por causa do seu braço e do seu rosto, então de onde arranjaria dinheiro para se bancar sem o dinheiro de Miranda? É onde eles querem te pegar.
— Você me dizendo isso não parece melhor também.
— Pelo contrário. Para você é bom. Eu faço parte de um grupo entre os soldados que quer mudanças.
— Mas isso é um pesadelo. Um grupo de soldados. — Baixo a cabeça e fecho os olhos, sentindo-me exausta somente por ouvir aquelas duas palavras juntas.
— Não é o que parece. Não somos radicais como alguns grupos extremistas. Concordamos que os Generais tem sido duros demais e os representantes inflexíveis. Apoiaremos os grupos que ajudarem a mudar as coisas pelo bem, e não à força.
— Como se eu fosse acreditar nisso. — Eu a olhei e ergui a sobrancelha. — Fazendo papel de boazinha ao contando uma história bonita para eu dizer coisas que me comprometam o suficiente para eu sair daqui para uma sala de interrogatório.
— Tudo bem, eu imaginei que você não acreditaria de primeira. — Ela suspirou, parecendo conformada. — O que eu queria te dizer é simples. Eles não vão deixar de te perseguir até descobrirem sobre Isa Miranda. Te pressionando você terá medo e não haverá proteção suficiente dos grupos até o movimento enfraquecer. Então Ana Martins tem que desaparecer do mapa de forma definitiva, para que Isa Miranda possa viver.
— Você veio aqui me ameaçar?
— Não. Estou te dando a solução do seu problema atual, Ana. Você terá o nosso apoio, podemos ajudar a se manter escondida, mas com eles atrás de você, será impossível manter uma vida normal. Pois mesmo que não provem que você é Isa, eles não terão dificuldades em terminar contigo de uma vez; eles já fizeram isso com outras. Somente fazendo com que acreditem que Ana está morta, Isa terá liberdade de existir.
— Isso não faz qualquer sentido.
— Pense sobre isso, Ana. Fale com quem precisa falar, se informe. Mas faça isso enquanto respira. Eu te encontrarei de novo quando estiver melhor.
Ela começou a vestir a farda e a colocar as armas nos seus devidos lugares, enquanto isso eu somente pensava, buscando entender sua estranha proposta.
— Descanse e se recupere, Ana. O Comando Geral vai te manter segura por dentro do sistema.
— Comando Geral? — Ela sorriu. — E como nos falamos de novo?
— Eu te encontrarei quando quiser conversar, não se preocupe. Até mais ver, Ana Martins.
Ela caminhou em direção a saída do quarto, momento que Samuel chegou, deixando claro seu estranhamento ao ver um soldado saindo do meu quarto. Respirei aliviada ao vê-lo, sentindo minhas lágrimas brotarem por simplesmente ver um rosto familiar ali. Ele me abraçou como podia, deixando que eu chorasse e soluçasse.
— Manuela me contou tudo, mas eu jurava que ela estava me pregando uma peça até te ver agora. — Ele segurou meu rosto em mãos, preocupado. — O que esses animais fizeram com você, Ana?
— Vamos sair daqui primeiro, estou exausta.
— Claro. Venha, eu estou com o meu carro.
Paramos somente para comprar os remédios que eu tinha sido receitada, então eu parei no estacionamento ao reconhecer o rosto das duas mulheres que tinham me parado na estrada no dia anterior. Amy devia ter mandado que ficassem de plantão por segurança. Eu movi a cabeça de maneira positiva para elas antes de entrar no carro de Samuel, sentindo-me nervosa quando ele me conduziu para casa, pois temia sermos parados outra vez.
— Você quer que eu pare em algum lugar para pedirmos comida para a viagem? Você deve estar com fome.
— Pode ser, eu ficarei te devendo.
— Não se preocupe com isso.
Ele parou num restaurante de massas, então fomos direto para a minha casa. Somente quando fui ao banheiro eu entendi o resultado daquela maldita vara no meu rosto. Agora eu tinha uma faixa vermelha cruzando minha bochecha, meus lábios estavam feridos e meu rosto doía, inchado. Perder o dente também não tinha ajudado, e não era um dente que ficava realmente escondido na boca. Eu sequer fazia ideia do que pensar daquilo tudo, não conseguia efetuar qualquer planejamento sobre o que fazer a seguir.
Talvez percebendo isso, porque era o meu melhor amigio, Samuel me ajudou no banho, a colocar roupas e a me sentir humana outra vez; tarefas manuais ajudavam a manter a cabeça preenchida e a acalmar. Então nós comemos juntos, ele manteve o clima agradável, como sempre fazia em nossos encontros na lanchonete.
— A escola vai me demitir, não vai? — Pergunto eventualmente, comendo a última almondega do meu macarrão. — Eles não vão manter quem chamou a atenção de soldados.
— Eu falarei com eles. Você dá aula para os maiores, eles já têm idade para entender. Além de que a escola tem recursos digitais, você não terá problema para dar a aula em si. Sem falar que o inchaço e a marca vermelha passam numa semana, eles não vão ser rígidos com isso. — Ele sorriu para me consolar. — Você não é a primeira a tomar um corretivo dos soldados, principalmente nos últimos anos. Os trabalhos têm sido mais compreensivos.
— Bem... isso é um alívio. Eu vou precisar da renda, pelo que a soldado falou, meus bens foram bloqueados.
— Da Isa? Você tem certeza?
— Não. Eu não tenho um celular desde ontem, não consegui averiguar ainda.
— Ah, é verdade, Manuela me disse isso também. Você tem se tornado especialista em destruir celulares. — Ele riu. — Eu vou verificar do meu.
— Eles podem te rastrear.
— Não, meu celular tem o aplicativo que bloqueia minha localização. Eu vou instalar um no seu próximo aparelho. — Ele me piscou o olho e começou a mexer no próprio aparelho. — Bem... a conta está ativa. Seu dinheiro está disponível.
— Ela só queria me assustar o suficiente para abrir a boca.
— Provavelmente. Mas vai ser melhor movimentar esse dinheiro, se eles não bloquearam, podem estar a caminho de fazer isso.
— Sim, eu vou ter que pensar em como fazer isso agora. Posso movimentar o dinheiro para outras contas e fazer pessoas sacarem para me entregar.
— Eu sequer vou perguntar como você sabe algo assim. — Ela moveu a cabeça de forma negativa. — Mas sim, é uma boa ideia, não chama atenção. Você conhece quem pode fazer esses saques?
— Não, mas conheço quem sabe. — Sorrio. — Você sabe... você sabe que é o meu melhor amigo.
— Sim, eu sei que sou o melhor. — Sorriu convencido, eu revirei os olhos.
— Você sempre lidou bem com essa história toda da Isa e sempre me ajudou sem sequer hesitar. Então é nesse momento que você me conta que é um super militante de um desses grupos que quer propagar a revolução?
— Eu? — Ele gargalhou, achando graça. — Não, eu não sirvo para isso. Mas... sim, eu concordo com o que você escreve, as coisas precisam mudar, mas eu não me vejo fazendo isso de maneira tão... direta. Eu gosto de trabalhar com as crianças, como você sabe. Eu acredito que ensinando elas a serem melhores que os pais vai plantar uma semente na cabeça de cada um para buscar mudar as coisas no futuro.
— E por isso você é o melhor.
— Eu devia ter dado mais remédios para dor se fosse te fazer falar tão bem de mim assim de repente.
— Não é isso, seu idiota. Eu só queria que soubesse que sou grata por tudo o que fez por mim por todos esses anos. Principalmente agora.
— Você sempre pode contar comigo. E eu sei que sempre posso contar contigo. É para o que amigos servem no fim. Mas estou feliz que não perdi sua atenção por causa da sua nova namorada.
— É diferente. — Sorrio um pouco, porque toda vez que sorria meu rosto doía. — Eu gosto dela, realmente gosto, mas você é meu amigo, eu te conheço há anos.
— Não fale assim ou quem vai chorar sou eu.
— Canalhas não choram.
— Quanta ofensa. Eu te deixei ficar com minha almondega.
— Você roubou minha porção de queijo, era o mínimo que me devia.
Ele acabou rindo, satisfeito. Passar momentos com Samuel significava que eram momentos para estar mais relaxada e até despreocupada com o mundo à fora. Eu não sabia como ele tinha se mantido próximo por tantos anos, mas eu podia aproveitar sua companhia e zelar para que ele se sentisse bem perto de mim como ele me fazia sentir. Não queria que nada acontecesse com ele, então por isso fiz um voto de não contar sobre os grupos, e se o fizer, algum dia, falar bem pouco.
Manuela não levou muito mais tempo para chegar também, trazendo minha Aurora limpa e perfumada, com uma gravata e uns adesivos nas orelhas. Eu me sentei no chão para receber suas lambidas no rosto, contente em ver que estava mesmo bem como sempre.
— Minha garota, eu senti tanto a sua falta. — Beijo sua cabeça, abraçando seu pescoço enquanto via seu rab* abanando com velocidade. — Você ainda me reconhece desfigurada, não é mesmo? — Ela lambeu meu rosto, fazendo-me rir baixinho, feliz por tê-la ali outra vez. — Fizeram você tomar banho, foi? Você ficou tão linda. Acho que vou usar seu shampoo.
— Se soubesse que você estava com pulgas eu nem tinha entrado no seu carro. — Manuela me provocou, eu somente reviro os olhos. — Onde está Samuel?
— Provavelmente destruindo meu banheiro. Amy te consertou?
— Sim, como uma profissional. Eu só não sei se me sinto bem por ter sido costurada por uma veterinária.
— Fique feliz por isso estar devidamente fechado, então trate de manter limpo e não esquecer os remédios para não infeccionar.
— Eu sei, ela me falou tudo isso. E mandou eu te entregar isso aqui, disse que virá assim que possível.
Ela se inclinou e me entregou uma caixa pequena, dentro tinha um celular novo. Sobre ele um bilhete: “Eu coloquei alguns programas que vão te manter segura”, era o que estava escrito. Eu esperava que ela tivesse colocado o número dela ali, porque eu não me lembrava.
— Obrigada por ter cuidado de Aurora.
— Achei que te deixaria contente se ela estivesse bem tratada para ter certeza que aquela idiota não a machucou de verdade, mas está tudo certo e no seu devido lugar.
— Que bom, eu perderia o chão se algo acontecesse com ela de mais sério.
— Não, ela está bem. Mas e você? — Ela se abaixou à minha frente, acariciando a barriga de Aurora, que estava no chão recebendo nossos carinhos.
— Vou ficar algumas semanas com o braço imobilizado, então serão meses de fisioterapia para tentar recuperar o movimento normal.
— E o rosto? É algo permanente?
— Não, amanhã deve começar a melhorar. Só o dente que será um problema por causa do implante.
— Dente? — Seu cenho franziu, confusa.
— Sim. — Abro a boca, deixando que ela visse, surpresa e então raiva passando pelo seu rosto.
— Esses malditos soldados! — Exclamou sem se conter, parecendo inconformada. Achei curiosa a reação dela, porque era ela quem tinha um ferimento à bala no corpo. — Deixe que eu banque seu implante, eu tenho dinheiro guardado e eles não vão desconfiar. E eu vou te ajudar mais aqui em casa. Meu pessoal e os demais já ficaram sabendo do que houve hoje.
— Comigo?
— Sim.
— De que grupo você é afinal?
— Contra Controle. — Ela sorriu, mas eu não fazia ideia de que grupo era aquele. — Somos mais recentes. Nos tornamos aliados da Resistência Avant hoje. — Ela apontou para onde estava o ferimento no seu ombro. — Sua namorada é realmente legal.
— Essa coisa de aliado é algo bom?
— Sim, teremos maiores recursos e proteção. Vamos trabalhar juntas.
— Olha só. Parece que seu dia foi mais produtivo depois do nosso passeio mais cedo.
— Foi mesmo. O que a tal soldado queria contigo afinal? Ela te fez alguma coisa?
— Não. Pelo contrário. Mas eu quero falar sobre isso depois, eu ainda preciso pensar sobre o que ela me disse.
— Tudo bem. Vá descansar. Você deve estar tombada por causa dos remédios. Eu falo com Samuel.
— Claro, obrigada por tudo Manuela.
Ela somente sorriu, tocando o topo de minha cabeça. Segui para o meu quarto junto a Aurora, fechando a porta e tentando me fazer confortável na cama. Eu dormi antes de conseguir explorar meu novo celular, sentindo Aurora tomar o lado esquerdo da cama para si.
Eu só voltei a ver Amy no final de semana, quando ela insistiu em me tirar de casa e me levar num encontro. Eu não estava realmente confortável em sair de casa no meu atual estado, mas ela queria me compensar por ter ficado ocupada nos dias anteriores. Ao menos ela não me fez acordar tão cedo e me buscou para irmos num restaurante que ela parecia conhecer bem para almoçarmos. A comida era boa, tinha um tempero mais apimentado, mas eu gostei. Depois ela me levou ao cinema e assistimos à um filme de ação.
— Obrigada. — Agradeço eventualmente, e talvez tenha sido aleatória, porque ela me olhou com a testa enrugada, confusa, mesmo assim ela se tornava uma fofura e eu me alonguei a olhá-la.
— Mas eu disse que “A sombra do Imperador” ficou abundante demais, não é dos meus preferidos. Digo... sim, fala da opressão que todos viviam numa sociedade bem mais alienada que a nossa. Mas você colocou detalhes irrelevantes demais, desfocou do conteúdo por dentro, como ter uma rainha tendo caso com o Imperador, o que não mudou em nada sua história.
— Você acha? — Ergo a sobrancelha, agora prestando atenção no que ela estava falando.
— Sim, é só minha opinião e você pode me odiar, eu nunca entendi como fez tanto sucesso esse livro.
— Parece que eu não tenho uma fã tão árdua por me elogiar afinal. — Balanço a cabeça diante das suas críticas.
— Não! Claro que eu amo seus livros, não seja boba. Eu sempre serei sua fã. — Ela se apressou em se justificar, acariciando os dedos da minha mão enquanto caminhávamos pela rua. — Mas esse em específico realmente não foi o seu melhor. Posso estar enganada.
— Tudo bem. Eu vou te contar algo porque você talvez saiba manter segredos. — Olho para ela, deixando claro minha ironia. — Eu recebo muitas coisas na página da Isa dos fãs e dos grupos. — Falo lentamente, mais baixo. — E as pessoas gostam de me enviar de tudo achando que vai ajudar no processo criativo de um livro. Algumas realmente ajudam. Um belo dia eu recebi a foto que me inspirou a fazer “A Sombra do Imperador”.
— Uma foto? — Estranhou.
— Sim. — Sorrio com a recordação. — Era um flagrante do General de Figueira Vermelha em momentos... íntimos com um duque da Vila das Chamas. — Outra cidade pertencente à Bandeira Azul no Continente Sul.
— Com um duque? — Ela perguntou cética. — Não, impossível.
— Impossível? Não, não. Eram eles mesmos. A foto era clara. E não era montagem. O duque da Vila das Chamas tem uma tatuagem do triângulo das ilhas que pertencem à Figueira Vermelha.
— A rainha do livro tinha uma tatuagem de triângulo também, mas era na barriga e significava os três sinais da liberdade.
— Sim, querida, mas era somente uma troca de palavras. Os três sinais da liberdade são o poder de escolha, o acesso ao conhecimento e o questionamento. Então se você juntar os três, seria a escolha do General de trair a esposa e esconder o amante, o meu acesso a esse conhecimento e minha utilização do fato para fazer o Imperador ter um caso com a rainha. Você não deve ter ficado sabendo, mas a foto foi divulgada na internet por 30 minutos durante o lançamento do meu livro até Canéia sofrer blackout. Quando voltou a energia, a foto tinha sido apagada e os registros deletados.
— Que ardilosa você, escritora.
— Eu não pedi que divulgassem a imagem. Mas foi o suficiente para as pessoas passarem a informação entre si e enxergarem a menção ao triângulo. Eu o coloquei na barriga da rainha por puro divertimento para simbolizar o real prazer do General. — Rio baixo com a recordação, a expressão de Amy se abrindo em entendimento. — Então foi por isso que o livro foi um sucesso, mas sim, eu concordo que coloquei detalhes demais.
— Agora tudo faz sentido.
— Você ainda odeia o livro?
— Agora eu vou ler de novo. — Ela levou minha mão aos lábios e beijou. — Ao que exatamente estava me dizendo obrigada? Por falar mal do seu livro?
— Não, claro que não.
— Oh, ela não gosta de ser criticada. — Ela riu levemente, provocando-me.
— Não é que eu não goste, mas os elogios fazem bem ao meu ego, e eu quero aproveitar cada um.
— Quanto ego, escritora. Você tem milhares de fãs, deixa eu me aproveitar para aprender os detalhes ocultos dos seus livros.
— Você tem toda a liberdade.
Paramos de andar quando chegamos no seu carro, eu me recostei na sua porta e ela pressionou as mãos de cada lado meu, mantendo-se próxima e sempre tomando o cuidado de não tocar meu braço quebrado.
— Então? — Ela insistiu.
— Bem... obrigada por hoje, acho que estava realmente precisando e não sabia. — Assumo. — E obrigada por me levar aos lugares que estavam mais vazios e por evitar os soldados na rua.
— Oh, você percebeu minhas intenções. Eu devo ter perdido minhas habilidades furtivas. — Ela sorriu, um sorriso doce que eu somente a fiquei olhando enquanto acariciava seu rosto. — Eu imaginei que você fosse estar estressada, temendo estar em público outra vez após a semana que teve, mas quero que saiba que estou fazendo o possível para te manter segura.
— Eu agradeço. Sinceramente estou com medo do próximo interrogatório. Você me conhece... eu não tenho paciência e odiaria acabar com outra coisa quebrada. E eu sei que isso não vai demorar a acontecer, eles estão muito na minha sombra.
— O outro grupo te atualizou de alguma coisa?
— Não, não o grupo de Trisha ao menos. Só... — Suspiro, constatando que não havia mais como adiar o assunto. — Você já ouviu falar do Comando Geral?
— Um pouco. Mas que eu saiba não são de Canéia. E são soldados envolvidos, então não tenho como dizer o quanto são confiáveis. Como você sabe deles?
— A soldado que me levou no hospital se apresentou como um deles e disse que está querendo proteger o ideal da Isa também.
— Ela te disse isso? — Havia surpresa, mas a mesma apreensão que eu sentia.
— Sim. Parece que já sabem que sou Isa, todos os grupos devem saber agora. Pelo que entendi os demais soldados só não sabem porque eles estiveram apagando dados ou ocultando provas, eu não sei. Ela falou pouco e eu não queria ouvir, porque não acreditava nela. Não depois do que tinha acabado de acontecer.
— Realmente, é difícil acreditar. Mas eu posso averiguar melhor. Saber sobre o grupo e se realmente existe aqui na cidade.
— Seria realmente adorável da sua parte fazer isso. — Fecho os olhos por alguns instantes, respirando fundo. — Tudo tem estado tão sensível ultimamente. Toda essa situação com os grupos tem mexido com partes de minha vida que eu não me sinto confortável. E eu estive pensando tanto no que deveria fazer.
— Eu sinto muito por isso. Sei que da minha parte isso tem refletido na nossa relação porque eu não tenho tido muito tempo, principalmente quando você precisou de mim lá.
— Não é sua culpa. Você tem seu papel a jogar no seu grupo, eu entendo isso agora. Eu sei que tenho que escolher algo. Mas ao mesmo tempo eu venho temendo cada vez mais pela minha vida. Primeiro a explosão, então a brutalidade daquela idiota. Eu começo a ver sentido quando a soldado me propôs de dar um fim a mim para que Isa pudesse realmente desempenhar o papel dela.
— Dar um fim a você? Como assim? — Ela segurou o meu queixo e acariciou, demonstrando sua confusão.
— Ela acha que só assim eu conseguirei fazer da Isa um ícone inatingível. Os soldados não estariam atrás de mim, como civil, porque eu seria dada como morta.
— Ela quer que você seja dada como morta?
— Sim. Eu não sei como, ela só disse que me manteria fora do radar dos soldados quando eu assumisse o papel integral de ser Isa Miranda.
— Mas você teria que viver escondida, Ana. E nem sabemos por quanto tempo, porque não temos como prever quando conseguiremos atingir a população e os representantes.
— Não deve ser para sempre, não é?
— Não, não é para sempre. Mas é por bastante tempo, pode durar anos.
— E quanto tempo eu posso durar desempenhando o papel de Isa e passando por interrogatórios constantes na rua, Amy? Eu não estou dizendo que vou aceitar, mas eu sinceramente não sei o que fazer, não me parece uma ideia ruim se isso vai me manter viva. Eu só... — Suspiro, voltando a fechar os olhos. — Eu só não sei de que forma eu continuaria viva seguindo minha vida atual. Eles estão perto de descobrir, eu sinto isso, de descobrirem sobre Isa. Se eu desaparecer ao menos, ou sumir de forma definitiva, então talvez isso dê maiores chances de os grupos agirem com a ajuda de Isa, não é?
— Não estou preocupada com os grupos, e sim contigo. Você conseguiria viver nessas condições? Você não poderia sair livremente nas ruas, não teria documentos. E mesmo que aquela mulher consiga te colocar no sistema com informações falsas, poderiam te reconhecer aqui na cidade.
— E se eu não morasse mais nessa cidade?
— Oh... — Ela baixou os olhos, mas eu vi o choque e a tristeza passarem pelo seu rosto.
— Eu não estou dizendo que vou, mas é uma possibilidade. E eu não quero te fazer exigências de largar sua vida aqui para se transferir para uma região que você não tenha o controle.
— Então você terminaria comigo. — Definiu, mas eu não soube responder.
— Eu não quero terminar contigo. — É o que consigo dizer.
— Mas terminaria, se decidisse apagar seu nome da lista dos vivos aqui. — Ela me olhou, havia mágoa em seus olhos que me machucava olhar.
— E você viria comigo se eu precisasse sair da cidade, Amy?
— Você não precisa sair da cidade, você não precisa sair do mapa. Só fique aqui, Ana, e eu farei o impossível para te manter a salvo. Eu morarei contigo e deixarei sempre pessoas para fiscalizar sua casa. Você não enfrentará os soldados sozinha, eu não deixarei que toquem em você outra vez, não importa o que eu tenha que fazer.
— Eu não quero te dar todo esse trabalho, Amy, eu não posso te pedir algo assim.
— Você não tem que pedir, eu estou oferecendo.
— Todos os grupos estão oferecendo proteção para a marca Isa Miranda a todo custo. — Suspiro e encosto nossas testas. — E você é a única que quer me manter aqui.
— Eu sei que te procurei pela primeira vez por causa do que Isa representa a todos. Mas eu preferiria abrir mão de Isa Miranda do que abrir mão de você, Ana, que é minha namorada. E sei que Isa é uma parte de você, mas não colocarei sua vida e nossa relação em perigo por causa de uma marca. Isso pode atrasar os planos de todos os grupos, mas eu não me importo.
— Eu só... eu só não sei mais o que fazer ou o que pensar, Amy. — Sinto meus olhos derramarem as lágrimas rapidamente, as palavras dela me emocionando de uma maneira espontânea; ela me abraçou no mesmo instante. — Só me diga o que fazer e eu farei. Eu estou cansada de pensar enquanto sinto como se uma corda estivesse amarrada no meu pescoço. Então me diga o que devo fazer sobre Isa, porque eu não quero ficar parada vendo você fazer tudo também.
— Só me dê algum tempo para pensar num plano melhor, meu amor. Eu juro que farei tudo para não te desapontar.
Eu acreditei nela, porque era a única a tentar. Ela me levou para casa naquela noite, prometendo voltar no dia seguinte. E não voltou sozinha. Até o horário do almoço, Trisha chegou com Deborah e Marcus, então eu conheci Yohan, um representante do grupo de Manuela, e Cauã, do grupo de Amy. Ao menos eles tiveram a decência de pagar pela comida, e Amy aconchegou todos na minha sala como pode, porque não era um grande espaço. Eles não se incomodaram em sentar nos bancos que pegaram da cozinha ou nas cadeiras da minha sala de jantar. Mas eu estava no meio deles, e aquilo me incomodava.
Yohan tinha os olhos arredondados e puxados, um pouco inclinados para cima nas laterais, com coloração castanha. Os cabelos lisos atingiam os ombros com tranças. Trajava uma calça pantalona preta, bem acentuada entre suas pernas, com uma camiseta aberta nas axilas e um casaco, ambos na coloração escura e bem largos; talvez para compensar sua aparente magreza. Utilizava botas pesadas e correntes no pescoço. Ele compartilhava um beque com Manuela, suas cadeiras um pouco afastadas do círculo por esse mesmo motivo.
Já Cauã era alto e musculoso, usando somente uma regata justa que marcava seu corpo, na coloração branca, e um jeans claro, com tênis vermelho. Tinha o cabelo escuro assim como os olhos e a pele.
— Tem mais alguém para chegar? — Perguntei, inquieta no meu assento.
— Só se você chamou sua amante também. — Manuela falou em provocação, eu a encarei com olhos estreitos.
— Minha amante não, mas sua mãe vai chegar a qualquer momento.
— Que golpe baixo.
— Só mais uma pessoa, Ana. — Amy me garantiu.
— De que grupo? — Inclino a cabeça para ela, tentando imaginar.
— Comando Geral.
— Você convidou um soldado? — Estreito os olhos, sentindo-me alarmada com a possibilidade de ter um soldado dentro de casa.
— Sim, já que se disseram do seu lado, ela tem que estar aqui.
A campainha tocou como que um anúncio do que eu temia, mas sinalizei dessa vez, e fui atender. Gwendoly estava ali em roupas comuns e o cabelo solto, vestindo trajes de ginástica; ela parecia outra pessoa. E parecia mais leve também, sem o aparato militar.
— Gwen... — Falo devagar. — Então você veio aqui.
— Fiquei sabendo que haveria uma festa. Precisa de senha? — Ela sorriu.
— Não, mas posso criar uma para você. — Estreito os olhos. — É bom que isso não seja uma forma sua de conseguir a identidade e saber os planos dos grupos.
— Você acabou de descobrir meus planos, Isa.
— Não me chame assim. — Meu rosto torceu numa careta com a menção daquele nome vindo de um soldado.
— Você não tem que se preocupar comigo ou o meu grupo, Ana. Quero você em segurança tanto quanto qualquer um aqui, e se não me mandou embora ainda, lá no fundo você quer ouvir o que tenho a dizer.
— Eu quero que você mantenha sua cabeça colada no pescoço e eu quero manter a minha funcionando, somente isso.
— Então podemos agir juntas.
— Não pense que confio mais em você sem a roupa de soldado.
— Mas você gostou mais do que estou vestindo hoje, não gostou? — Ela sorriu com humor, provocante.
— Não, você tem um péssimo estilo. Legging com camiseta? Isso é tão ultrapassado.
— A escritora sabe de moda. O que gostaria que eu estivesse vestindo para te deixar mais confortável?
— Entre logo. — Finalizo o assunto, abrindo mais a porta para ela passar, decidindo que aquela conversa não iria para lado nenhum.
Ela sorriu somente, parecia mais leve e animada do que no dia que estava vestida de soldado e contando sobre seu desejo de me ter dada como morta. Talvez fosse assim naturalmente e o uniforme a deixasse séria, quem sabe? Ela me acompanhou até a sala e sentou do meu lado no sofá, uma vez que Amy queria manter a aparência séria e estava em uma das cadeiras junto a Cauã. Achei uma atitude meio exagerada, todos ali sabiam que estávamos juntas e que ela estava movendo os recursos e contatos para me manter segura desde o início.
— Já que estão todos presentes agora, Ana, queria que soubesse que estivemos todos discutindo quais serão nossos próximos passos para te manter segura. — Trisha começou a falar.
— E levamos a sério essa tarefa, garota. — Deborah complementou logo ao lado, piscando na minha direção.
— Está bem, e qual o grande plano? — Pergunto lentamente, desconfortável por ter um soldado ouvindo tudo, era como se fosse entrar outros soldados e nos levar todos presos.
— Primeiramente, você terá um emprego integral na minha empresa. — Deborah sorriu quando eu fiz uma careta. — Não se preocupe, sua função é fictícia. Teoricamente você será minha secretária, mas você estará livre para escrever.
— Secretária? — Balanço a cabeça. — Eu sequer tenho formação para isso. E eu continuo tendo o meu trabalho como professora. Qual o problema em manter?
— Porque seu trabalho é provisório e não é integral. — Trisha explica. — Mas concordo, você não tem a formação, por isso achamos melhor que você faça o curso de secretária somente para ter o certificado e constar no sistema.
— Dessa forma você sai do perfil que eles montaram para achar Isa. — Deborah complementa.
— E que empresa é essa? Os outros funcionários não vão desconfiar? — Pergunto, ainda achando a ideia estranha.
— Não se preocupe com os outros, até porque minha parte da empresa tem poucos funcionários e cada um cuida da própria vida. Mas sendo mais prática, seu trabalho seria todo online, as ligações que receberá você só terá a função de passar para mim. Minha agenda e demais tarefas eu deixo para Marcus organizar. — Ela tocou o joelho de Marcus logo ao lado.
— Vocês trabalham juntos?
Na verdade, eu quis perguntar “e eu vou ter que trabalhar com ele?”, mas eu somente me calei para não gerar conflitos.
— Sim. Foi como eu conheci Trisha. — Deborah manteve o bom humor. — Então você estaria segura de alguém desconfiar do seu trabalho na empresa.
— Isso tudo não previne os interrogatórios na rua. — Gwen comentou, deslizando os olhos entre os três. — Só coloca um trabalho diferente no perfil dela.
— Se verem que ela tem todo o tempo ocupado no trabalho como qualquer pessoa, eles vão acabar tirando ela da lista de suspeitos. — Amy falou. — Ela vai demonstrar ter uma vida comum como qualquer pessoa, sem tempo ou traços que a coloquem no perfil de Isa Miranda.
— Vocês esquecem o detalhe que nossa querida amiga aqui já está fichada por insubordinação durante uma abordagem. Nenhum soldado vai esquecer esse detalhe e vão sempre pressioná-la para que ela cometa o mesmo erro para acrescentar mais uma queixa no perfil dela. Vocês não entendem? Ela já está marcada como suspeita. Somente uma mudança brusca na vida dela vai deixá-la de fora dessa lista.
— Como me matar, por exemplo, é uma mudança brusca no meu estilo de vida, certo? — Pergunto com ironia, incomodada com a forma de ela me colocar como culpada por ter sido fichada por insubordinação.
— Sim, você estaria segura de tudo isso. — Ela não se afetou pela forma que falei. — Mas já que quer continuar viva, estou dizendo que mudar de trabalho apenas não vai adiantar. Você continua tendo o perfil de Isa, sua voz bate com a gravação que temos, e você vai continuar sendo interrogada na rua. Você não tem um perfil estável, Ana, mudar de trabalho não vai te ajudar.
— Perfil estável? — Pergunto com irritação. — E como é um perfil estável?
— Na sua idade as mulheres tem uma carreira quase estável, ou possuem um trabalho há alguns anos. Tem um relacionamento e planejam filhos. Você não tem nada disso, mudar sua carreira agora só vai constatar sua inconstância, e todos aqui sabem que isso não é bom.
— O que está sugerindo? — Manuela questionou no meu lugar. — Se ela tivesse continuado com o trabalho na editora ela continuaria sendo suspeita. E ela tem um relacionamento, isso conta a favor.
— Há quanto tempo você tem um relacionamento? — Ela me questionou.
— Algumas semanas. — Falo mais baixo, sem entender como o assunto tinha ido parar no meu relacionamento com Amy de repente.
— Então não estão pensando em filhos e sequer moram juntas.
— Claro que não.
— Mas ela deve saber sobre Isa Miranda. Ela tem uma carreira estável?
— Acho que sim. — Eu não fazia ideia de quão estável era o trabalho de Amy no petshop.
— Sim, minha carreira é estável há alguns anos. — Amy resolveu se pronunciar, então a atenção de Gwen se voltou a ela, um sorriso se abrindo.
— Oh, então você é a namorada. Devo supor que você a colocou no meio dos grupos organizados então?
— Não. — Respondo por ela. — Ela não foi a primeira a entrar em contato comigo para falar sobre essas coisas.
— Independente disso, temos como oferecer proteção a ela. — Cauã falou pela primeira vez, eu agradeci em silêncio. — Temos o controle de onde os soldados montam sua tenda para interrogatório, basta fazer um percurso que evite esses pontos, ela continuando no trabalho como professora ou mudando de carreira.
— Vocês acham que vão evitar para sempre os interrogatórios? — Gwen pressionou.
— Ela não estará sozinha nessas ocasiões. — Amy pontuou.
— Ela não estava sozinha da última vez também. — Ela mirou Manuela mais ao lado. — Ninguém pode impedir, é o que estou tentando dizer. Você pode evitar por algum tempo, mas vai ter que passar por isso eventualmente, porque eles precisam checar seus status pelo menos uma vez por semana. Caso contrário eles virão na sua casa.
— Na minha casa? Por que? — Perguntei em maior confusão.
— Porque eles precisam atualizar os status de todas as pessoas fichadas para terem certeza de que o plano de controle está funcionando.
— Qual o seu plano, afinal? — Marcus resolveu falar. — Você não está ajudando em nada além de criticar o plano que temos.
— Porque o plano de vocês não vai funcionar para sempre. — Ela se virou para mim e respirou fundo. — E você sabe que vai precisar de mais do que um livro para movimentar as pessoas, vai precisar mais que a militância na página social. E tão logo publicar um texto ou um livro sequer, eles vão dobrar ou triplicar a ordem de controle da população. Os interrogatórios vão aumentar de frequência, eles se tornarão mais agressivos. E grupos como os de sua namorada vão retaliar com o que tem, porque é como funciona. Você pode liderá-los para a guerra que está por vir, mas se eles te pegarem Ana, está tudo acabado e você será um mártir. Sua luta vai continuar no ideal, um ícone. É o que você quer?
— Eu quero continuar viva tanto quanto você, G. — Ela sorriu diante do apelido.
— É bom saber que mantém sua palavra. — Ela tocou meu queixo com um dedo, então suspirou. — Você pode achar uma ideia absurda agora, mas me escute primeiro, pode ser?
— Sim, diga. Qual a sua fórmula mágica?
— Continue no seu trabalho atual, condiz com o seu perfil, seu amigo pode conseguir um trabalho lá dentro mais definitivo, certo?
— Sim, Samuel pode falar de mim lá e eu posso conseguir uma turma.
— Ótimo, isso resolve a questão de estabilidade no trabalho. Então você tem dois caminhos para solucionar a estabilidade na sua vida pessoal. — Ela esperou enquanto eu revirava os olhos, sem realmente acreditar que aquilo realmente era um problema. — Você e sua namorada começam a morar juntas agora, fazendo planejamento real de filhos. — Ela mirou Amy. — E você se afastará das suas funções do grupo que pertence. Vocês duas não encontrarão com ninguém dos grupos e vão falar manso em qualquer interrogatório, fazer o que são mandadas.
— Acabamos de iniciar uma relação, como morarmos juntas mostrará um perfil estável para nós? — Amy questionou.
— Mostrará o grau de comprometimento de vocês em algo duradouro.
— Mas não para os interrogatórios do mesmo jeito. — Comento, tentando seguir o raciocínio dela, e ela volta a me olhar, concordando. — Tem alguma solução para isso?
— Sim, e vocês não vão gostar, mas é a solução mais eficaz para você não ter que passar pelos interrogatórios todos os dias. Não resolve todos os problemas, você teria que mudar alguns hábitos seus, comparecer a alguns eventos, mas estaria livre dessas situações.
— Tudo bem. E o que eu teria que fazer?
— Você termina simbolicamente seu relacionamento agora, e nós investimos o nosso tempo para fazer todos verem que estamos nos relacionando. Então você casará comigo.
— O que? — Manuela ecoou o choque que todos ali deviam ter sentido, inclusive eu. Terminar minha relação com Amy para me casar com um soldado?
—O que isso mudaria? — Amy foi mais lógica.
— Ninguém interroga companheiras de soldados. Ana passaria para outro perfil, porque eles entenderiam que qualquer atitude suspeita dela foi devidamente corrigida e ela está agindo dentro dos costumes. — Ela me olhou, analisando-me, mas eu não sabia o que pensar daquilo. — Você não será mais interrogada, não vai mais correr o risco de te olharem uma segunda vez em qualquer lugar, mesmo depois que começar a publicar como Isa.
— Só porque nos casaríamos? — Pergunto, tentando entender.
— Sim. Resolve o problema do interrogatório, que eu julgo ser o mais sensível para você agora, e o mais perigoso futuramente. Qualquer soldado que tentasse te interrogar ou revistar, bastaria você dizer minha identificação como soldado, e eles te liberarão sem hesitar.
— Parece bom demais para acreditar. Se eles não me olhariam torto porque me enxergariam como uma pessoa devidamente doutrinada, que foi corrigida e não faz parte de grupos organizados, então deve ter algo ruim para se tornar real.
— Claro, sempre tem. — Ela respirou fundo. — Você teria que participar de alguns eventos chatos que eu, como soldado, tenho que participar junto do alto escalão. Terá que fazer alguns... treinamentos, como defesa pessoal, de tiro, de etiqueta, e... bem, você jantará com o General algumas vezes, comigo ao seu lado, claro, mas isso requer uma certa formalidade sua para não atrair atenção. — Eu não digo nada, absorvendo o fato. — E você não precisa realmente terminar com sua namorada, mas por questão de aparências, seria melhor não se encontrarem em público ou sozinhas em qualquer hipótese.
— Eu vou beber algo. — É o que digo, sentindo a tensão no ambiente comprimir meus ossos.
Eu saí da sala e caminhei apressadamente até a cozinha, enchendo um copo com água e bebendo alguns goles em busca de distrair meus pensamentos. Casar com um soldado? Namorar escondido com Amy? E de quebra conviver com outros soldados, com o General em pessoa. Isso ou sempre ser interrogada, avançar um passo maior que a perna com Amy.
Eu a perderia das duas formas, porque não há como dar certo uma aproximação tão repentina como morarmos juntas, ou um afastamento tão regrado, que seria nosso namoro escondido. Mas acima disso tudo, eu sentia um medo descomunal em ser interrogada de novo. Eu tinha pesadelos todas as noites, lembrando da minha última experiência, além de acordar com dores. Eu me assustava com qualquer estalo que ouvisse, porque era como ouvir meu osso se rompendo outra vez, e a agonia só me fazia temer sair de casa outra vez. Mas até onde eu podia confiar em Gwen?
Amy me seguiu até a cozinha alguns instantes depois, parando a minha frente e inclinando o rosto, analisando-me, mas eu não conseguia olhar em seus olhos, temendo o que ela pudesse encontrar neles.
— Eu não vou te pedir para decidir nada agora, Ana. — Ela me falou lentamente. — Eu entendo que é difícil para você, mas eu só quero que saiba que independente do que escolher, eu continuarei ao seu lado.
— De que forma, Amy? Eu nunca te faria se manter numa relação comigo que tenha que se esconder para ficar comigo. E eu não quero dar um passo tão abrupto em nossa relação que estrague o que estamos fazendo aqui.
— Eu imaginei que fosse ser mais difícil nossa relação com toda essa coisa de grupo envolvida, mas não significa que me faça querer menos estar contigo. — Ela se aproximou e segurou meu rosto enquanto eu deixava o copo de lado. — Eu quero te manter segura, Ana, não quero que corra mais nenhum risco, mesmo que tenha que deixar de ser Isa Miranda, eu continuarei ao seu lado, porque eu amo você, Ana. E não abrirei mão de sua segurança por nada.
— Mesmo que eu me case com um soldado, Amy?
— A menos que me diga que a ama e que esse casamento não será apenas de aparências, que vão consumar a união, aí não, não ficaríamos juntas. — Ela sorriu ainda assim.
— Não, não é o caso. Mas você a ouviu, teríamos que nos afastar. Como lidaríamos com isso? Você quer realmente se prender numa relação assim, Amy?
— Eu quero estar contigo, porque não será para sempre que você ficará casada, e nós daremos um jeito de nos encontrarmos, isso não será problema. — Eu relaxei diante da certeza de suas palavras, da sensação das suas mãos em minha pele. — Desculpa. Você me pediu por um plano de agora em diante, e eu não consigo te manter segura de forma alguma. Você tem certeza de que quer continuar comigo?
Eu não a respondi com palavras e simplesmente a beijei, calando suas dúvidas e sanando as minhas. Eu sentia falta dela, mas sabia que tinha que pensar no meu futuro enquanto Ana e Isa, em qual era a minha melhor chance de continuar viva e em plena forma para poder ajudar os grupos a revolucionarem o sistema das bandeiras. Eu só esperava que não durasse a minha vida inteira para acontecer.
— Você pode me responder dessa forma quantas vezes precisar, mesmo quando estiver com raiva de mim, eu sequer vou me importar quem tinha razão na briga. — Amy falou ao se afastar, fazendo-me rir antes de a abraçar como podia. — Oh, agora sim. Era o som que eu queria ouvir. Enquanto puder te fazer rir, eu sei que podemos fazer isso continuar funcionando.
— Daremos um jeito, não daremos?
— Sim, vamos encontrar as formas de continuarmos juntas. Resta sabermos se ela não criará empecilhos para isso e se ela tem uma paixão secreta por você.
— Paixão secreta? Não, duvido.
— Vir até aqui e te pedir em casamento na minha frente? Eu prefiro manter meus olhos abertos, querida.
— Não há nada que deva se preocupar em relação a isso. — Volto a olhá-la nos olhos. — Estou contigo, Amy.
— É tudo o que preciso saber então.
Selei seus lábios, contente. Quem diria que Amy se mostraria tão firme e estável numa situação dessas? Nem mesmo eu tinha tanta certeza de para onde estávamos indo com todas as questões que nos envolvia, mas se havia algo que eu queria naquele momento, era estar ao lado dela, não importa de que maneira.
Seguirmos de volta para a sala de mãos dadas, eu parei em frente a Gwen, que se levantou para ficar na minha altura, expressão séria. Eu sequer acreditava no que estava fazendo, em como a vida podia dar tantas voltas e simplesmente porque todos ali queríamos mudar o mundo injusto que estávamos vivendo. De certa forma precisávamos fazer alguns sacrifícios por isso.
— Temos que acertar os detalhes, mas sim, eu aceito, vamos nos casar. — Falo da maneira mais séria e direta que eu podia, dado a tensão no ambiente.
— Temos alguns rituais antes do casamento, mas fico feliz que tenha chegado a essa conclusão Ana. — Ela me sorriu, pousando a mão no meu ombro. — Eu te manterei longe do radar deles.
— Espero que sim, porque todos nós estaremos em alerta. — Amy alertou.
— Sem problemas. Não tenho nada a esconder. — Ela olhou despreocupada para Amy.
— Espero que fique em segurança, Ana. — Trisha parou atrás de mim, e eu me virei para olhá-la. — Mas sim, você pode continuar contando comigo e o Pró-Independência para o que precisar.
— Sim, garota, estamos à uma chamada de distância. — Deborah me abraçou, fazendo-me rir com sua espontaneidade.
— Uma pena que não trabalharemos juntos. — Marcus falou ao lado, sem conter a ironia.
— Sim, uma pena. — Concordo no mesmo tom.
Os grupos foram embora, somente Amy e Gwen ficaram enquanto Manuela se ocupava em organizar a sala outra vez. Havíamos detalhes para acertar, e eu tinha um casamento para planejar.
Fim do capítulo
Comente, seus comentários são muito importantes ;)
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May Poetisa
Em: 19/08/2022
Pedir a mulher em casamento, na frente da namorada dela, mas, foi muita audácia, aí lembrei que limite é algo que não existe nas histórias da Alex, neste caos todo de um casório muito louco, claro que lembrei de Born.
Resposta do autor:
ahahah A Revolução se comunica bastante com Born, bem observado :3
Muito ousada essa soldado!
kasvattaja Forty-Nine
Em: 02/04/2022
Olá! Tudo bem?
Então, querida Autora, ai, ai... Para que a soldada?
E o casamento?
A leitura das últimas cenas fez com que Kasvattaja desse um passinho atrás com relação ao caminhar de nossas meninas, afinal Kasvattaja achava que elas caminhavam para um final retumbante, salve, salve, só que não...
Because?
Ah, por que Kasvattaja decepciona-se fácil, fácil com algumas coisas, e, assim, Kasvattaja vai botar o pé no freio das expectativas, afinal Kasvattaja aprendeu que a menor distância entre dois pontos é uma reta — ou não? —, então Kasvattaja não entende o porquê de alguns arcos.
Enfim, aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
É isso!
Post Scriptum:
''Exige muito de ti e espera pouco dos outros.
Assim, evitarás muitos aborrecimentos. ''
Confúcio,
Filósofo.
Resposta do autor:
Olá Kas!
Pois então, por que a soldado?
Ela vai dar um novo rumo na história, mas não significa necessariamente que será um rumo ruim.
No amor e na guerra vale tudo, dizem por aí.
Mas tudo bem ficar com um pé atrás :)
Quem sabe não te traz boas surpresas ainda?
Até a próxima, dona Kasva!
Beijos ;)
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HelOliveira
Em: 01/04/2022
Que virada foi essa?
Os grupos se unindo...ótimo eu queria isso....mas não contava com essa soldado.... E um casamento...Amy é incrível mas será que vão resistir?....já vi que tem um carinho por esse casal, eu te apego .....confesso aquele medinho vai me acompanhar....
O plano pode dá certo, mas tb pode não dar né...
Parabéns capítulo maravilhoso
Até o proximo
Resposta do autor:
Olá Hel! :D
Os grupos se unindo é um ótimo vento trazido pela maré não acha?
Pode trazer tempestade, mas também bons presságios :)
Realmente, será que essas duas vão resistir ao casamento? E será que essa soldado realmente vai colaborar?
Obrigada Hel! Feliz em te ver por aqui ;)
Até o próximo!
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Lea
Em: 01/04/2022
Eita,o que foi isso? Que "solução" ,as peças mudaram de lugares, porém com o mesmo objetivo, manter a Ana viva.
Para derrubar o poder tem que começar a injetar "o vírus" de dentro para fora. Será que os grupos "trabalhando" juntos conseguirão o êxito que tanto almejam,seres livres??
Agora até eu estou me perguntando,esse namoro tão recente resistirá a algo assim? Iso é quase uma separação! Creio eu que,a Ana ganhou mais uma admiradora.
Alex você como sempre fazendo "as trocas" de casais! Hahahaha
Resposta do autor:
Exaaaaatamente. As peças do tabuleiro mudaram e a Ana foi para o outro lado hehe
Eis a questão! Será que eles juntos vão conseguir mudar o jogo?
Até então o jogo está bem desequilibrado :(
Olha eu espero que resista! O que será que vai acontecer com esse casal? Confesso que tenho um carinho especial por esse hehe talvez essas trocas não sejam iguais dessa vez (será?)
Até o próximo dona Lea!
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Dressa007
Em: 01/04/2022
Gente dei um berro com esse capÃtulo... os planos, os grupos... será que podemos confiar nessa soldado? acredito que mesmo com esse plano de um casamento vai ser um abalo no relacionamento de AMY E ANA. Em fim adorando essa maravilha de historia ansiosa para saber como vai ser o desenrolar tudo isso... É parabéns pelo capitulo.
Resposta do autor:
Um berro tipo AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA???
ahahahah
Olá Dressa! Que bom te ver por aqui!
Será que essa soldado é confiável? Temos a mesma dúvida hehe
Com toda a certeza vai abalar o relacionamento delas, mas eu tenho um amorzinho por elas, talvez elas sobrevivam!
Fico feliz que esteja gostando! É um prazer enorme em saber disso :D
Agradeço por comentar, Dressa!
Até o próximo ;)
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