Sayruci levantou-se da cama e andou um pouco pelo quarto sem nada responder. Latifah levantou-se também e foi até a mãe.

 

--Com quem você esteve? – continuou cobrando

 

“Ela praticamente não me dá satisfação de nada e vem me cobrando desse jeito!” – pensou com revolta – “Vamos, mulher, reaja!” – parecia ouvir uma voz falando dentro de si

 

--Com quem você esteve? – perguntou mais uma vez

 

--CALA A BOCA, LATIFAH! – gritou agoniada

 

A jovem levou um susto e se calou.

 

--Eu passei a vida inteira dando satisfações! – olhou nos olhos da filha – Pros seus avós, pro seu pai! – começou a chorar contidamente – Não vou dar satisfações a você também, que detesta quando eu desejo saber o mínimo sobre o que faz! – fungou – Nós combinamos que você não me perguntaria com quem estive. – derramou uma lágrima

 

--Porque eu pensei que soubesse e... – interrompeu a mãe

 

--Não me interessam os motivos! – interrompeu a fala da jovem também – Nosso acordo era esse: sem perguntas, sem cobranças! – secou os olhos com as costas da mão

 

Balançou a cabeça contrariada e cruzou os braços. – Não conte comigo pra conseguir dar mais rolezinhos por aqui! – decidiu

 

Olhou para a filha com muita tristeza. – Nunca pude contar com você pra muita coisa, Latifah! – desabafou dolorosamente – Não me surpreende! – foi até o banheiro e fechou a porta

 

A jovem permaneceu parada no mesmo lugar e nada falou.

 

***

 

--Sabe que não te entendi? – Rita comentou ao perceber que o táxi de Ales Bysex havia partido – A mulher te jogou um charme por esses dia todo e você nada! – olhou rapidamente para a amiga – Tu não dissesse que a tal é escritora de sucesso e por aí vai? Ter uma namorada dessa não te agradou por que? – não entendia

 

--Humpf! – fez um bico – Primeiro que a bicha não é bonita! Mal feita de corpo, nem cintura tem! – respondeu de pronto – Segundo que num instante descobri o segredo do sucesso dela, não sabe? É a velha história da patotinha lésbica! – organizava documentos nas gavetas – E terceiro que me pareceu oferecida por demais.

 

--Oxe! – olhou para a outra indignada – Fosse atrás de belezura com aquela Teodora safada e visse no que deu! Tu é do tipo que dá nó no rabo do Capeta, mas pelas belezura da outra e embalada pelas bajulação dela, caísse num golpe dos mais fuleiro! – não concordava com o jeito da amiga pensar – E a mulher não é oferecida, ela gostou de você, só isso! – cruzou os braços

 

--E eu dispensei! – continuava com a arrumação

 

--Aff! – balançou a cabeça contrariada – Sabe qual é o teu problema, mulher? – colocou as mãos na cintura – Você reclama tanto do preconceito que as pessoa tem com quem não segue os padrão de beleza, mas tu mesmo é preconceituosa! – falou o que pensava – Só quer saber de mulher bonita e o conteúdo que se lasque!

 

--Eu hein, Rita? – fez cara feia – Não gosto quando você vem dar uma de mulher santa pra cima de mim só porque frequenta igreja! – reclamou – Sabe do que eu tô precisando? – virou-se de frente para a outra – De um bom computador modos de escrever meus conto. – gesticulou -- Ainda falta um capítulo inteirinho pra terminar Lésbicas da Faraó e mais umas boa dedada pra dar no conto e eu aqui! Sem recurso!

 

Acabou achando graça. – Você só pensa nisso, Deus que me guarde! – revirou os olhos – Vou lá na piscina ver o movimento e já volto. – deu tchauzinho – Mas, ói! – deteve-se antes de sair – Nem pensar em passar a mão em mais computador daqui, visse? – advertiu – Dessa vez Duarte não tá falando de rebol*r nenhum deles! – foi para a piscina

 

--Rita pensa que eu sou ladrona só porque peguei um notebook velho que tava com os dias contados! – resmungava consigo mesma – E que pena que não tem outro... – lamentou 

 

***

 

--Amiga, meu carnaval foi um arraso, mas terminou tão borocoxô... – Patrícia desabafava por telefone – Pulei em vários blocos, dancei, zoei... -- suspirou

 

--E por que terminou assim depois de tanta zoada? – Beatriz perguntava curiosa

 

--Logo na sexta encontrei ninguém menos que Carol Delliah, conhecida na roda da lesbicagem como Frog Kruger! – fofocava – Rolou um clima e a gente ficou direto até a quarta-feira de cinzas! – cobriu o bocal do telefone e olhou para todos os lados para perceber se alguém prestava atenção – E amiga, cá pra nós, ela é muuuuito foda! – elogiou – Nota dez no quesito cama!

 

--Jura?? – perguntou assanhada – Pois agora é que não entendi mesmo por que esse carnaval terminou ruim! Você até tirou as teias!

 

--Terminou ruim porque tomei chifre! – esclareceu -- Na quinta peguei ela na praia no maior amasso com uma riponga maluca lá! – comentou chateada – Ela tinha dito que não ia poder me ver, que ia visitar uma tia e blábláblá, então eu decidi ir na praia sozinha. – contava – Por sorte ou azar dei de cara com aquelas cenas, me emputeci e fiquei mal!

 

--Nossa, que merd*! – surpreendeu-se – Mas assim, encara como pegação de carnaval, entendeu? Não era pra vocês ficarem de namoro.

 

--Ah, mas eu queria... – lamentou – Maior gata, interessante, boa de papo, boa de cama... e autora renomada, né? – calou-se brevemente – Ao que me pareceu ela tá numas de pipa voada, pegação...

 

--Amiga, há casos e casos, mas no meio dessas autoras têm sempre umas que tão nessa pela pegação, né? Carol é do tipo. – falava sua opinião – Eu ouvi uns papos que ela passou o rôdo no Congresso e pegou muitas. – fofocou -- Então desencana porque não vale a pena! -- aconselhou

 

--É... Fazer o que, né? – suspirou – Deixa quieto que sempre pode piorar... -- brincou

 

--DONA PATRÍCIA!!! – Joelma gritou ao aparecer na sala

 

--Ai, meus sais! – arregalou os olhos

 

--Piorou! Fui! – Beatriz desligou o telefone

 

--Tô correndo, tô correndo, chefinha! – Patrícia se levantou e correu sem destino certo

 

--Tá correndo pra onde, sua doida? – cruzou os braços sem entender – Eu só ia dar bom dia! – estranhou a atitude – Não pedi nada!– foi para sua sala -- Eu hein! Cada coisa...

 

--Bom dia?! – parou de correr – Gentem, eu já ando doida! – esfregou as mãos no rosto – Tenho que sair desse emprego, pelamor...

 

***

 

--Pronto, prima. – Socorro entregava a parte do dinheiro de Vera – Fevereiro cê lucrou menos porque o mês é curtinho e também trabalhou menos, né? – justificava-se – Vamos ver se nesse mês de março recupera. – sorriu

 

--Hum... – guardou o dinheiro na carteira – Vocês bem que podiam baixar a fatia que me cobram pelo Iuba. – reclamou – Aquele trem já paga miséria e ainda tendo que pagar porcentagem pros dois...

 

--Ah, prima, assim não dá. – levantou-se do sofá – O carro é do maridão e quem banca a manutenção somos nós, né? – colocou as mãos na cintura

 

--Que manutenção? – perguntou revoltada – Vocês mal pagam pra lavar o trem, uai!

 

--Prima, por favor, sem esses capitalismos entre nós! – sentou-se novamente – Vamos falar de coisas mais importantes, como aquela tua namorada. – pensava em como iniciar o assunto – É mais velha que você mas nem parece! Ela não é bonita, mas que olhos maravilhosos, nu! – comentou admirada – Dos cabelos também gostei.

 

--Minha Sayzinha é linda! – protestou – “Nem sei como pôde me querer...” – pensou

 

--Reconheço que ela é top. Culta que chega dói, inteligente, classuda... – cruzou as pernas – Mas, ó! Esse é irmão desse! – mostrou os olhos – Reparei que é casada!

 

Ficou sem graça. – Como assim, casada? – desviou o olhar -- “Socorro é fuxiqueira, mas que diacho!” – pensou contrariada

 

--Marquinha de aliança no dedo, meu bem! – afirmou de pronto -- Depois fui fofocar a tal na internet. Simplesmente escrevi Sayruci e Foz do Iguaçu. – contava -- Vi fotos e fotos dela com marido, filha, mãe, pai, sogros... a corja toda! – gesticulou – A filha parece que tem um canal na internet com fã e tudo!

 

Olhava para as próprias mãos. – Eu não cheguei a pesquisar na internet depois que soube do nome verdadeiro dela. – confessou – “Acho que tive medo de ver o que não queria.” -- pensou

 

--Pois deveria!– aconselhou -- E aqui, prestenção! – acenou para que a prima olhasse – É rica, viu? Tem um restaurante chique, um hotel grande que chega dói e uma loja cheia dos parangolé! Né pouca bosta não!

 

“E eu que nem sabia disso!” – pensou – Ela me disse que é de família rica. – respondeu timidamente – Só não entrou nesses detalhes.

 

--Detalhes importantíssimos, diga-se de passagem! – retrucou – Prima, não queria ser eu a chata da história, mas não posso ficar calada, não, uai! Eu te disse pra ter cuidado e não ser usada como distração de mulher casada! – segurou uma das mãos da outra – É nítido que é isso que tá acontecendo!

 

--Você não sabe o que tá acontecendo! – levantou-se revoltada – O que existe entre nós é sério, intenso, bonito e real! – argumentou – É amor!

 

“Como pode ser tão ingênua?” – pensou com pena da prima – Verinha...

 

--Você não sabe! – continuou falando – Ela não é bem casada e vai se separar pra ficar comigo! – alimentava a esperança

 

--Cê já sabia de tudo... – ficou surpresa e levantou-se novamente – Pelo amor de Deus, abre os olhos criatura custosa! – olhava para ela – Essa mulher não vai ficar com você, ela tá só passando o tempo, vivendo um trem diferente, fazendo um sex* bom! – afirmava com muita certeza – Ninguém trocaria o que ela tem lá pra viver com você aqui!

 

Vera sentiu muita dor ao ouvir aquilo. – Ela me disse que não quer nada material! – respondeu como criança – Que só quer a mim... – os olhos marejaram

 

Suspirou. – Own, meu bem... – lançou um olhar piedoso – Você acha que só os homens falam macio pra iludir? – perguntou com brandura – Ela não vai cumprir com nada do que te prometeu! E um belo dia vai inventar uma história e sumir.

 

--ELA NÃO É ASSIM! – derramou uma lágrima sofrida

 

--Ela te procurou quantas vezes desde o carnaval? – perguntou desafiadora

 

“Nenhuma.” – não teve coragem de responder --Ela não é assim... – repetiu a resposta

 

--O tempo dirá. – pegou a bolsa – E lamento muito o tanto que você vai sofrer quando ele disser. – caminhou até a porta

 

--Não vá falar disso pra ninguém! – secou os olhos com as costas da mão – Ela não é assumida, a família é complicada...

 

–Anêim, comento nada não, pode ter certeza. – prometeu – Mas depois não diga que não foi avisada. – abriu a porta e foi embora

 

Vera ficou pensando se no fundo Socorro teria razão. “Sayruci ficou baratinada quando Socorro chegou naquele dia. É que foi uma situação que não dava pra escapar e ela acabou relaxando.” – lembrava – “Quase me implorou pra eu pedir segredo à prima e talvez não pensasse que Socorro ia fazer um fuxico tão bem feito da vida dela...” – andou um pouco pela sala – “Será que ela tá só me usando pra se distrair? Igual aquela Carol do Congresso?” – tinha muito medo de se decepcionar – “Será que ela vai me largar de mão?”

 

***

 

Sayruci e Zorayde terminavam de jantar em uma área reservada no Al-Hafeez.

 

--Esse tal prato vegano estava maravilhoso! – limpou os lábios com guarnapo – Parabéns! – cumprimentou formalmente

 

--Obrigada. – limpou os lábios também – A comida vegana necessita apenas ser experimentada sem preconceitos. – segurou o cálice de água – Deixa nada a desejar para a dieta carnívora tradicional. – bebeu um gole

 

--Eu já percebi há muito tempo que você prefere o alternativo ao tradicional. – bebeu um gole de vinho – Apenas imaginava que essa fase havia passado junto com a juventude. – mirava os olhos da filha

 

--Fala como se eu fosse uma velha, maama. – olhava para a mulher também

 

--Quisera fosse! Quem sabe teria mais... juízo? – perguntou provocadora

 

“O que ela está querendo me dizer?” – pensou – Imagino que não esteja me dizendo isso em vão. – foi direto ao assunto – Talvez a minha pretensa falta de juízo tenha sido o motivo deste convite. – arriscou

 

Sorriu. – Eu teria motivos para desconfiar de sua... maturidade, Sayruci? – perguntou com ironia

 

--Em relação a mim, a senhora sempre desconfiou de qualquer coisa. – respondeu não muito satisfeita

 

--E o tempo mostrou e mostra que tenho razão! – cruzou as pernas – Eu sei de tudo, Sayruci. – afirmou sem rodeios – Está tendo um caso com uma mulher em São Paulo! – acusou em tom comedido

 

--O que?? – perguntou em estado de choque – “Não é possível que ela saiba!” – angustiou-se – Do que está falando?– não sabia o que dizer – “Meu Deus, me ajude a não desmaiar!” – sentia um frio na barriga e as pernas trêmulas

 

Achou graça. – Você mal disfarça! – reparava – Está pálida e trêmula! – pausou uns instantes – Se eu tivesse qualquer dúvida, apenas em vê-la agora não mais teria!

 

--Toda vez que a senhora faz essas coisas me deixa abalada, sim! – tentava disfarçar – Não sei da onde tirou que tenho um caso! -- tremia

 

--Poupe-me desse teatro mal interpretado! – pediu calmamente – Paguei um detetive para investigar sua primeira viagem a São Paulo e ele descobriu que você não dormiu no hotel em uma das noites. Mas como não estava seguindo você na ocasião, não saberia me dizer aonde a madame foi parar. – explicou a origem de suas certezas

 

“Não acredito!” – arregalou os olhos

 

–Na segunda viagem, ao contrário, ele te seguiu. – sorria – E disse que você dava mil voltas para ir a algum lugar no subúrbio da cidade. – encarava a filha – Creio que você devesse esperar por isso, já que conseguiu despistá-lo. – cruzou os braços – “E aquele incompetente devia estar mais interessado na bagunça do carnaval do que no trabalho!” – pensou contrariada

 

Tentava organizar os pensamentos para dizer alguma coisa.

 

--Ele também descobriu que você é escritora, não? – continuava falando – Khaalii! – sorriu – Pseudônimo literalmente vazio!

 

“Meu Deus!” – não deixava de se surpreender – “Hackearam meu computador?!” – não conseguia acreditar – “Graças a Deus nunca mais escrevi pra Vera! Bendita intuição!” – pensava – “E graças a Deus minha neura me fazia dar mil voltas pela cidade até chegar na casa dela ou sair de lá!”

 

--Você vai me dizer por bem quem é a tal ou eu vou ter que descobrir do meu jeito? – perguntou com firmeza

 

--Não tem o que descobrir! – tentava mentir – Não tenho um caso... é apenas um grupo de escritoras lésbicas. -- abaixou a cabeça – Se seu detetive é bom, deve ter percebido que meu destino era sempre o mesmo. E se ele investigar direitinho, vai descobrir que as escritoras da Academia Lésbica se encontram nesse lugar, que eu não vou revelar. – voltou a olhar para a mãe – Ninguém vai pra lá por outra razão senão pela literatura! – fazia o máximo esforço para ser convincente -- Escrevo pra desabafar, tentar ser eu mesma em algum lugar, viver, nem que seja na ficção, o que a senhora nunca me deixou viver na vida real! – os olhos marejaram – Escrevo com intensidade, paixão, entrega! E as meninas admiram isso!

 

Estudava as atitudes da filha. “Sayruci nunca soube mentir. Ela deve estar dizendo a verdade.” – pensava – Admiram tanto a ponto de... algo mais? – testava a filha

 

--Sempre tem aquelas que se encantam... – falava a verdade – Mas nunca dei brechas. – respondeu convicta – Não teria como sustentar algo assim. – calou-se por uns instantes – Seu detetive não lhe disse que minha identidade é completamente anônima no meio?

 

--Mas se você foi se encontrar com outras escritoras, deixou de ser! – provocou

 

--Tão anônimas quanto eu! – retrucou de imediato – Não sou a única que tem algo a perder, maama!

 

--Bom que percebeu, pois tem muito a perder! – advertiu – E eu NUNCA permitiria que isso acontecesse, entendeu? -- ameaçou

 

--Não há o que acontecer, maama. – colocou o guardanapo sobre a mesa

 

--Trate de manter Samir satisfeito, especialmente agora que ele está decidido a reconquistá-la. – ordenou

 

“Ela parece mais mãe de Samir do que minha!” – pensou desgostosa – Será que posso me retirar agora, por gentileza? – pediu com seriedade

 

--Pode. – respondeu simplesmente – Pode ir. -- observou a filha se levantar e fez uma última advertência: -- Enquanto continuar apenas nestes delírios literários, -- falava com ironia – eu não vou interferir. – afirmou – Mas sonhe em desviar um pouquinho disso e vou dar meu jeito de cortar suas asinhas. – ameaçou

 

--Boa noite, maama. – cumprimentou e se retirou – “Ela não sabe que tenho um chip a mais, ninguém sabe.” – pensava – “Vou escrever uma mensagem pra Vera e advertir.” – planejava – “Enquanto isso, tenho que descobrir como fazer pra sair desse inferno o mais rápido!” – ainda estava muito nervosa – “Tudo isso me destrói e eu não quero passar o resto da vida desse jeito!”

 

***

 

--Então, pós recesso de carnaval, o status dos processos ficou nesse pé. – Érica explicava – Os impostos de transmissão dos quatro imóveis foram pagos e todos já estão em nome de Abigail Trindade. – olhava para a idosa – O problema que temos está com as ações, porque os filhos do falecido senhor Tibúrcio abriram entre eles uma disputa por razões patrimoniais. Questões de inventário que ficaram mal resolvidas no passado e agora eles decidiram retomá-las. – relatava os fatos – Essa disputa me impede de fazer a transferência até que tudo se resolva.

 

--Mas que inferno! – reclamou – E se demorar muito tempo? Quer dizer que enquanto durar a peitica dos dois minha sobrinha não pode receber as ações? – queria entender

 

--Sim, mas não é um cenário ruim de todo. – continuava explicando – Um deles, o senhor José Paulo, pediu uma reunião comigo e com o advogado dele. Está disposto a abrir mão da exigência de manter 15% das ações da senhora intransferíveis se a senhora concordar em não pleitear qualquer percentual na fatia deles de 40%.

 

--Concordo! – respondeu prontamente – Prometi ao falecido que nunca iria bulir em nada dos menino e nem da primeira esposa!

 

--Basta que um deles formalize que dispensa a exigência e os 15% tornam-se transferíveis.

 

--Vá me dizendo o que eu tenho que fazer, pois quero resolver todas as pendenga! – pediu – Não quero que a morte me pegue desprevenida.

 

--A senhora tem sentido alguma coisa? – perguntou preocupada – Desde que operou nunca mais...?

 

--Não! – respondeu de imediato – Mas pra morrer, basta estar viva. Vamos resolver as coisas enquanto assim estamos. – sorriu

 

***

 

Samir estava deitado na cama com a esposa nos braços. Sentia-se satisfeito como há muito não experimentava.

 

“Seguir os conselhos de minha sogra tem sido ótimo!” – pensava – “Ela tinha razão o tempo todo quando dizia que pra conquistar Sazii bastava romantizar um pouco!” – sorriu

 

Sayruci não estava nada à vontade naquela situação e se desvencilhou devagar para se levantar.

 

--Aonde vai? – perguntou preocupado

 

--Ao banheiro. – respondeu mansamente – Preciso ir. – abaixou a cabeça

 

--Tudo bem. – observava a esposa – Estarei aqui.

 

“Infelizmente!” – pensou revirando os olhos – Não sei se demoro. – advertiu ao entrar no banheiro

 

--Sazii, -- cruzou os braços por trás da cabeça – soube que os Kahlain estão inovando no show do restaurante deles. – falava mais alto para ela ouvir – Também parece que fizeram uma reforma imensa no hotel da família.

 

“Samir e sua eterna disputa com os Kahlain!” – pensou ao se sentar no sanitário – Eles são os mais antigos no ramo, excelentes administradores e nunca pararam no tempo. Nada que surpreenda. – respondeu simplesmente

 

--Quero que você invente algo vibrante pro nosso restaurante! – falou empolgado – Como fez naquele evento que saiu em várias colunas sociais no país! – lembrava

 

“Aquele que você e seus pais disseram que foi um lixo...” – lembrava também – “E te fez me tratar como um lixo...”

 

--Você tem carta branca! – continuava falando – E quanto ao hotel, vou conversar com os sócios pra decidirmos o que fazer, mas certamente vou querer que você pense em novidades!

 

A mulher suspirou. – Envolva Latifah. Ela pode fazer um vídeo para os seguidores e com isso atrair o público mais jovem. – sugeriu –Mas pra isso, você vai precisar pensar em opções mais acessíveis economicamente pra eles. Pacotes de viagem integrados com atividades de turismo no parque... coisas assim.

 

Sorriu. – Eu gostei! – concordou – Vou envolver nossa filha! – deitou-se de lado – Ei, não demore muito aí. – pediu ao fechar os olhos – Depois de fazer amor sempre fico cansado... – sentia-se satisfeito

 

Sayruci terminou de usar o sanitário e se levantou para lavar as mãos. Olhou-se no espelho e tudo que viu foi uma sombra pálida exalando tristeza. Sentia-se suja por fazer sex* com Samir, especialmente depois de Vera em sua vida, mas decidiu que se quisesse um dia se libertar deveria mudar de tática.

 

“Vivo no meio da hipocrisia. Tudo que eu preciso é fingir!” – pensava – “É essencial que maama e Samir pensem que estou totalmente sob controle e conformada com o destino que traçaram pra mim.” – derramou uma lágrima – “Deus, me ajude a saber o que fazer no momento certo, eu imploro!” – mais lágrimas rolaram de seus olhos – “Tantas saudades de você, Vera... minha caipira...” – desejava ardentemente revê-la – “Se soubesse o quanto me dói...” – abaixou a cabeça e chorou

 

***

 

Vera se preparava para trabalhar pelo Iuba quando percebeu que havia recebido e-mail de Khaalii.

 

“Depois de um mês de silêncio...” – sentou-se no sofá e clicou para ler

 

Olá, meu amor! Perdoe minha demora, mas felizmente segui minha intuição de não procurá-la rapidamente. Maama contratou um detetive e acho que ele, ou não sei quem, hackeou meu notebook e descobriu que sou uma autora no mundo lésbico virtual. O homem também me seguiu quando estive aí no carnaval, mas não conseguiu saber que eu ia para sua casa porque as voltas que eu dava o confundiram.

 

--Uai? Que diacho de mãe é essa? Pior que a minha madrasta! – continuava lendo

 

Esperei todo esse tempo para lhe escrever e o faço agora pelo celular, não mais pelo notebook, para não levantar suspeitas. Eu não posso declarar guerra contra maama e Samir sem ter uma plano muito bem esquematizado para conseguir me libertar do controle de ambos.

Então peço que não fique triste, mas passarei longo tempo sem entrar em contato, sem no entanto jamais esquecê-la. Você vive dentro de mim e te esquecer seria como esquecer de mim mesma.

Confie em mim, porque eu te amo!

Beijos,

Sayruci

PS: Prometo que Zayah e Sulah ficarão juntas no final.

 

Vera queria acreditar que Sayruci dizia a verdade, mas sentia como se aquele e-mail fosse um adeus e imediatamente lembrou-se da conversa que teve com Socorro. Sem querer pensar, levantou-se, pegou as chaves do carro e partiu.

 

***

 

Duas passageiras sentaram-se no banco de trás do carro de Vera. Deram boa tarde e começaram a conversar entre si. Um engarrafamento que pegaram na Marginal Pinheiros fez com que a caipira pudesse ouvi-las perfeitamente, mesmo que não desejasse.

 

--Menina, conta mais dessa treta que você arrumou! – pedia – Como é isso de sair com sapatão? – perguntava excitada

 

--Eu já andava fula da vida de tomar chifre do Alê sem reagir, mas ao mesmo tempo não queria correr o risco de ficar grávida nessa altura do campeonato. – contava – Aí uma amiga me sugeriu de experimentar uma coisa diferente, sabe? E até me apresentou a uma bofinha. – riu brevemente – A gente começou a conversar, saiu umas vezes de boas e numa noite que eu tava numa vibe de loucuras, a gente acabou trepando... – contava – E foi bom! Cara, puta que pariu, foi muito bom!

 

Vera se incomodou com o que estava ouvindo e tentou abstrair, porém sem sucesso.

 

--Mas explica isso... – a outra tinha curiosidade – Como pode ser bom sem pau?

 

--Cara, Alê tem um pau até bem grande e não sabe usar. – mostrou o tamanho – Trepar com mulher é mais criativo, sei lá. E você se solta, sabe? Faz cada coisa! – riram

 

--Me apresenta essa tua bofinha aí? Ou a alguma amiga dela, se você é ciumenta e não quiser dividir.– pediu –Tô querendo experimentar também e ver se é bom mesmo! – falava empolgada – Meu casamento anda muito devagar e Lucas não tá dando no couro como eu gosto.

 

--Te apresento a uma amiga dela, deixa eu mostrar a foto. – pegou o celular – Bofinha bem machinho e uma graça.

 

--Cadê? – perguntou toda interessada

 

“Minha Sayzinha não faz isso, não acredito!” – pensava angustiada – “Ela não me vê desse jeito, não fala de mim desse jeito...” – desejava que fosse amor o que as unia – “Ela não tá procurando uma distração comigo...” – controlava-se para não chorar – “Ela me ama! Ela me ama!” – queria acreditar nos sentimentos da outra – “Vou ligar o rádio pra não ouvir mais esse raio de prosa delas!” – decidiu

 

É que você nasceu pra ser minha,

Vamos dividir uma casinha,

Uma cama, dormir de conchinha,

Deus abençoou a nossa união...

Jorge & Mateus - Os Anjos Cantam [1]

 

“Ai, não, essa música não!” – mudou de emissora

 

--Deixa, pilota, adoro essa música! – uma das mulheres pediu

 

--Volta lá, volta lá! – a outra pediu também

 

Vera atendeu às clientes e as mulheres começaram a cantar juntas fazendo farra.

 

--E os anjos cantam nosso amor, ohh, ohh, ohh... – faziam corinho -- E os anjos cantam nosso amor, ohh, ohh, ohh...

 

“É muita tortura pra uma caipira só...” – pensou agoniada

 

***

 

Abigail estava escondida na sala de lazer. Eram quase 22h e ela decidira que não dormiria em casa naquela noite. Passaria horas em claro usando o computador do hotel, permitindo-se um cochilo escondida apenas se não aguentasse manter os olhos abertos até o momento de retomar o expediente no dia seguinte.

 

Curiosa para saber das novidades sobre seu conto, clicou para ver e se decepcionou ao perceber que ninguém estava lendo.

 

--Não fosse as dedada que dei junto com Rita mais Jailson, ia tá até hoje nas trinta e poucas leituras... – constatou contrariada – A gente passa horas e horas escrevendo entre um tempinho e outro pra que? É uma fuleiragem da porr*! – revoltava-se -- Tem nem uma infeliz pra comentar! – reparou mais uma vez que somente Khaalii e Teodora haviam comentado. As demais leitoras faziam parte de seus embustes – Nem pra escrever assim: Cachorra, li e não gostei. Vê se melhora da próxima vez pra ver se presta! – decidiu fofocar a concorrência – Deixe ver como andam as outra. – clicou no link das mais lidas

 

Não Atiça a Rebelde – O Musical das Brejeiras

Por Soul Sapa&Tão

997.348 Leituras

1001 Comentários

 

Despertar de Nós

Por Crisálida Manhães

870.201 Leituras

905 Comentários

 

Essa Perestroika É do Povo

Por Camarada Sapa

796.969 Leituras

803 Comentários

 

Reganheta da Capeta

Por Frog Kruger

696.969 Leituras

690 Comentários

 

Degluta-me!

Por Zu Clética

600.928 Leituras

425 Comentários

 

--Ave Maria, é uma concorrência desleal! – deu um soco na mesa – Será que essas autora contrata um arsenal de mulher só pra dar umas dedada no site e contar leitura? – conjecturava – Não é possível ter tanta leitura assim! – não aceitava – No próximo conto vou escrever só um parágrafo por capítulo, aí vai ficar com mais de mil capítulo. – planejou – Uma leitora que seja que tiver a consideração de ler minha história vai me dar mais de mil leituras sem perceber! – espremeu os olhinhos – É isso... vou investir nesse truque! – sorriu – Deixe ver quantas leitura tem no conto de Khaalii. – clicou

 

Sob o Pranto de Zayah

Por Khaalii

238.636 Leituras

185 Comentários

 

--Mas que bixiga que até essa novata água com açúcar tem mais leitura e comentário que eu?? – reclamou – É uma praga! – não se conformava – Por isso que não retribuí o comentário dela, pra não dar mais ibope em vão!

 

--HAHAHAHA!!! – som de gargalhadas invadiram o silêncio da noite

 

--Ainda não viste a pila, miúda! – um homem falava em voz alta – Espero que não sejas caloira pois só o que penso é dar uma queca! – riu

 

--Entendi nada... – uma jovem respondeu

 

--Que negócio é esse? – Abigail perguntou-se intrigada -- Bagunça é essa na recepção? – ficou atenta

 

--Quando começares a fazer um bico, entenderás! – outro homem respondeu com gaiatices – E sem durex, oh, pá! – riu

 

--Sem durex! – o outro concordou rindo

 

--Eles falam diferente, não sabe? – outra jovem comentou

 

--Deixe ver que patifaria é essa! – levantou-se e foi até a recepção

 

Chegando no local, Abigail deu de cara com dois homens maduros, bêbados e nitidamente estrangeiros, cada um abraçado a uma jovem semi nua. Gargalhavam e falavam coisas que lhe pareciam sem sentido.

 

“Essas menina são de menor...” – concluiu de imediato – Boa noite! – abordou o quarteto – Os senhores estão hospedados aqui?

 

Os dois homens pararam de rir e olharam desconfiados para a funcionária.

 

--Não temos satisfações a dar. – um deles respondeu ao apertar o botão do elevador

 

--Pois têm! – afirmou com firmeza – Essas menina são de menor e eu quero entender direitinho que negócio é esse! – encarava os homens -- Adriano! – gritou – Cadê você, homem de Deus?

 

--Quem pensas que é? – o outro homem retrucou de cara feia – Somos hóspedes!

 

As jovens nada disseram e abaixaram a cabeça.

 

--ADRIANO! – chamou novamente e o colega apareceu com cara de sono

 

--Fui dar uma olhada na piscina e peguei no sono... – veio correndo – Não fosse embora, Bigail? – surpreendeu-se – Que foi? – reparou no quarteto

 

O elevador abriu e os quatro entraram.

 

--Ou os senhores saem daí por bem ou vão sair por mal, direto pra cadeia! – ameaçou enfurecida – Adriano, pegue teu celular e filme! – não desviava os olhos dos hóspedes – Filme esses dois filho de uma égua levando menina nova pro quarto do hotel!

 

Adriano fez como lhe fora pedido e começou a filmar. – Esse hotel é sério e não admite essas fuleiragem! – olhava para os homens – Exploração sexual de menor é crime, não sabe? – falava de cara feia – Aqui não é a casa da mãe Joana, não, seus cabra!

 

Os dois se entreolharam preocupados e saíram do elevador junto com as garotas.

 

--Eu vou ligar pra polícia agora mesmo! – Abigail foi até o balcão da recepção

 

--És de menor? – um dos homens perguntou hipocritamente para a garota

 

--E tu? – o outro perguntou para a parceira

 

As jovens continuaram caladas. A resposta era óbvia.

 

--Apaga este vídeo do teu telemóvel! – um deles ordenou à Adriano – Nós não autorizamos! – tentou pegar o celular do outro

 

--Sai pra lá! – Adriano deu um tapa na mão do homem – Tá filmado e já joguei na internet! – mentiu quanto à divulgação

 

--Alô, seu polícia? Meu nome é Abigail Trindade, trabalho no Morada dos Deuses Palace Hotel e tem dois turista filho de uma égua hospedado aqui, querendo levar menina menor de idade pro quarto! – denunciava

 

--Fingidas, mentirosas! – um dos homens tentou reverter a situação – Vão-te daqui, oh, duas trapaceiras! – empurrou as jovens com estupidez – Sumam daqui! – ergueu a mão para bater nelas

 

--Não se atreva a bulir nessas menina! – Adriano partiu para cima

 

Os três homens começaram a brigar.

 

--AH!!! – as garotas correram para se esconder na recepção – Socorro, acode aqui!! -- gritaram

 

--Eles tão batendo no meu colega! – Abigail falou ao telefone – Pelas caridade, venham logo! – colocou o fone no gancho e pegou o fio da extensão – Fica as duas aqui! – mostrou um lugar para as meninas ficarem – Larga meu colega, seus bixiga do inferno! – correu até eles – AH!! – gritou enfurecida

 

Sem que esperassem, Abigail pulou nas costas do homem mais corpulento e usou o fio da extensão para enforcá-lo. Os dois caíram no chão mas ela se manteve firme.

 

--Maldita!! – o homem gritava tentando se libertar

 

Enquanto isso, Adriano levava a melhor com o outro hóspede. – Toma, desgraça! – deu-lhe um soco no rosto – Vem pra terra dos outro pra fazer mal pras mulher daqui? – mais um soco

 

--AH!!—o outro continuava tentando se desenganchar do fio de Abigail

 

--Peste, nojento, miserável! – a mulher gritava ensandecida – Desgraçado!

 

As jovens acompanhavam a tudo apavoradas e sem saber o que fazer.

 

--Seu Tião tava contando com os dólar desses homi. – uma delas comentou com a outra

 

--Pois que morra seco! – a jovem desejou entredentes

 

***

 

Duarte conversava com Abigail e Adriano. Os dois haviam passado a madrugada depondo no 5º DP, onde os dois turistas estrangeiros cumpriam prisão preventiva. Rita prestava atenção.

 

--Me deixasse sozinho pra trabalhar no turno da noite e eu me canso por demais! – Adriano relatava reclamando – Acabei pegando no sono na piscina e se Bigail não me chama, os cabra ia ter passado a noite com as menina aqui no hotel debaixo de nossas barba! – segurava uma bolsa de gelo contra o rosto – Quando vi um deles empurrando as menina com aquela brutalidade, perdi a cabeça! – lembrava – Tenho filha em casa e sou sujeito homi pra não admitir certas coisa! – gesticulou com raiva

 

--Mas tudo isso começou como? – Duarte queria saber

 

--Eu ouvi umas gargalhada, umas conversa estranha, fui curiar e dei de cara com uma patifaria aqui na recepção! Dois homi bêbo, cada um agarrado com uma menina, se preparando pra subir pro quarto. – a mulher relatava também – Abordei os cabra, ameacei chamar a polícia, gritei por Adriano e tava no meio do telefonema quando a briga deles começou. Eu não podia deixar Adriano sozinho contra dois cabra covarde, não sabe? – gesticulou – Peguei aquela extensão que tava sobrando ali na recepção e não pensei duas vezes: garrei nas costas do mais rechonchudo e foi só pena que voa! – deu um soco na mão

 

--Quando ela fez isso, meti dois soco nas fuça do portuga que sobrou e o bicho logo desarmou. – o homem continuou a narrativa – Daí eu fui acudir ela e amarrei os pulso do rechonchudo com a extensão. – olhava para o chefe – Quando a polícia chegou, um tava desmaiado e o outro amarrado. – apontou o local onde os homens estiveram – Aí mostrei o vídeo que fiz e os bicho já saíram daqui preso!

 

--E as menina, cadê? – Duarte perguntou preocupado

 

--Foram encaminhada ao Conselho Tutelar. – Abigail respondeu – São duas irmã, Gilvane de 12 e Quézila de 13 ano, moradora do bairro de Vó Marisa. – pensava nas jovens com pesar – Parece que um tal de Tião é o cafetão delas e de um monte de menina das redondeza. – informou – A polícia tá investigando o caso pra desmanchar essa quadrilha de pistinga do Cão!

 

--Eu fico doente com essas coisa! – Duarte exclamou revoltado – E os cabra vieram pousar justo aqui! – reclamou – Filhos de uma égua!

 

--Já mandei desocupar o quarto dos traste! – Rita se meteu na conversa – E lancei o débito da hospedagem completa no número de cartão de crédito que eles informaram.

 

--Fizesse muito bem! – Duarte concordou – Registre os nome dos infeliz! – ordenou para a funcionária – Nunca mais esses peste põem os pés aqui! – decidiu – E vocês dois vão ganhar dois dia de folga pra recuperar do susto. – olhou para Adriano e Abigail – Vou recontratar Serafim em caráter temporário pra ficar no turno da noite e Rita fica mais Jailson na recepção pela manhã. – decidiu

 

--Serafim tinha que ficar em definitivo! – Adriano reclamou – Um só durante a noite não dá!

 

--E tinha que ter segurança! – Abigail protestou – Se tivesse um segurança que fosse não tinha acontecido o arranca rabo que teve aqui, visse? – gesticulou

 

Duarte não gostou das sugestões e desconversou. – E afinal de contas, dona Abigail Trindade, -- cruzou os braços -- posso saber por que a senhora tava aqui às dez da noite, fora do seu horário e sem farda? – queria entender – Tava aonde que pudesse ouvir a patifaria dos cabra?

 

“Taí uma coisa que eu também queria saber!” – Adriano pensou

 

“Não me diga que Bigail tava na sala de lazer dando dedada nos conto dela pra marcar leitura?” – Rita pensou

 

--Onde eu tava? Ora, onde eu tava! – levantou-se pensando no que dizer – Saindo do banheiro! – respondeu o que primeiro lhe veio à mente – Quando deu meu horário de sair, fui no banheiro trocar de roupa, deu um piriri miserável e só saí de lá às dez!

 

“Conversa!” – Rita pensou – “Quando deu o horário, eu que fui trocar de roupa e Abigail ficou na recepção fazendo não sei o que!” – lembrava

 

--Oxe? E ficasse no banheiro das sete às dez?? – Duarte ficou pasmo

 

“Ave Maria!” – Adriano pensou horrorizado

 

--Pra tu ver o nível do piriri! – mentiu – Tive até que empurrar com a pá pros tolote poder descer! – pegou a bolsa dos sapatos e o praterno com o uniforme – Mas agora eu tô de folga, né? Então vou mimbora! – soprou beijinho para todos – Inté! – caminhou para a saída

 

--Rita, -- Duarte chamou – Abigail almoçou o que ontem? – perguntou curioso – “Tem que saber, porque não quero nem sonhar de comer pistinga igual! Cagar por três horas, Ave Maria!" – pensava apavorado

 

***

 

Abigail estava no cemitério público Parque de Nova Descoberta, onde sua mãe fora enterrada. Sentada em frente ao jazigo, conversava com a pequena cruz que ornava o túmulo.

 

--Quando eu olhei praquelas menina, foi como se o passado tivesse ali, se repetindo na minha frente... – olhava para um ponto no infinito – Tia Quitéria me disse que quando minha bisavó morreu, ela e voínha tavam com 12 e 13 anos. Duas irmã e da mesma idade daquelas duas com os turista... – lembrava do relato que ouviu – E ela me disse que quando voltou pra cidade, modos de visitar, a senhora tava com 13 anos. – deu um sorriso triste – Eu vi nossa família ali, estampada naquelas duas pobres infeliz! – derramou uma lágrima – E me subiu uma revolta, um ódio tão grande, não sabe? – gesticulou – Por que essa pobreza parece uma herança maldita que nunca se acaba? Essa pobreza que joga tantas moça na prostituição? Destruindo a infância, os sonhos, a auto estima delas? – derramou mais uma lágrima – Por que tem gente que não se importa de lucrar às custas disso? Passando por cima de tudo! – não se conformava – Por que uns desgraçado de uns homi como aqueles turista, têm coragem de procurar por isso? – balançou a cabeça contrariada – Se não tivesse quem pagasse, não ia ter quem tivesse tino de ir atrás de prostituir ninguém! – pensava alto – Se as pessoas vissem em cada um, em cada ser humano, alguém igual, tão digno de respeito e de amor quanto se quer pra si, nada disso aconteceria! – sonhava com uma sociedade melhor – Eu não aceito certas coisas, mãínha, não aceito! E não pude aceitar o que tava ali, na minha frente, em plena recepção do hotel onde trabalho! – calou-se por uns instantes e secou os olhos com as costas da mão – Eu posso apanhar, me danar e até morrer, mas toda vez que eu ver esses homi, seje eles de onde for, prostituindo menor de idade, vou me meter! Vou agir, vou denunciar e se tiver que encestar, encesto! – prometia – Isso tem que acabar! – passou a mão nos cabelos – A prostituição como um todo, essa exploração da mulher, isso tem que acabar! – olhou para o céu – E mesmo que eu não veja acontecer, posso estar morta e queimando no inferno, mas tenho fé em Deus e na Virgem Maria, que chegará o dia em que essas pistinga serão apenas uma lembrança tão distante, que as pessoa do futuro nem vão acreditar que um dia existiram. – tinha fé – Mas enquanto esse dia não chega, -- abaixou a cabeça – enquanto o Brasil for o segundo país no ranking mundial da exploração sexual infanto-juvenil, eu sempre vou me meter quando ver acontecer! – prometeu novamente – Acredite, mãínha, eu vou me meter! – derramou mais uma lágrima – E se Deus quiser, nenhuma menina ou menino vai sentir o que eu senti, especialmente quando a senhora morreu... – emocionou-se mais – E quando Moema foi morta... – não se conteve e chorou com muita saudade

 

***

 

Sayruci havia orado fervorosamente antes de dormir, pedindo forças para continuar mantendo-se firme em seus propósitos. Também pediu que Deus abrandasse os corações de Zorayde e Samir, que orientasse Latifah quanto às coisas importantes da vida e que abençoasse o falecido pai em sua nova morada no Além.

 

Com o coração abrandado, sonhou...

 

“Sonhava que estava caminhando pelo extinto Parque das Sete Quedas, o qual amava profundamente e lhe remetia a lembranças queridas de sua infância. Em algum momento, a doce e firme voz de uma mulher chamou sua atenção.

 

--Você lembra do ritual indígena que fizeram quando o parque estava às vésperas da inundação? – ela perguntou – Foi tão lindo...

 

--Gidda? – virou-se na direção da mulher – Ah, gidda... – correu até ela e abraçou a avó com carinho – Que saudades! – sorria – Eu lembro do ritual! – olhou para a idosa – A senhora e o giddu estavam comigo lá. – lembrava dos avós paternos desencarnados – Aquele dia me marcou profundamente! – estava emocionada – Nunca imaginei que poderia vê-la antes de morrer.

 

--Continuei acompanhando você, minha querida. Desde que desencarnei, na verdade. – falava com carinho – E nada em você poderia ser motivo de desgosto para mim ou para seu avô!

 

Sayruci entendeu o que ela queria dizer e ficou muito feliz em saber.

 

--Quero seu bem e se você continuar esmagada nessa vida de luxo opressivo em que se mantém há tantos anos, acabará adoecendo e desencarnando prematuramente. – advertiu

 

--Eu não sei o que fazer... – respondeu como criança – Tenho tanto medo...

 

– Venda uma de suas joias para Abdoul e deposite o dinheiro em sua conta no banco. – orientou -- Selecione as joias que mais costuma a usar, fotografe com o máximo detalhamento que puder e peça a ele que faça cópias sem valor de cada uma delas. – aconselhou – Tire todas as joias de suas caixas, embrulhe-as com cuidado e tire-as da sua casa, enviando para algum lugar onde saiba que podem ficar em segurança. – continuava aconselhando – Não as empenhe e nem as leve ao banco para tratar delas de qualquer forma, pois do contrário as notícias chegarão aos ouvidos de Samir. – advertiu – Abdoul lhe deve muito, ele não vai abrir a boca se você pedir.

 

Concordava com o que ouviu.

 

--Você pode não ter renda e quase não ter dinheiro em conta, mas suas joias serão a chave para sua independência no futuro.

 

“Baba me disse algo parecido...” – lembrava da conversa que tiveram no hospital

 

--Vai ser muito difícil, daí, de verdade, mas não tema! – pausou brevemente – Você é uma pessoa bondosa. Confia em Deus e Ele sempre colocará anjos no seu caminho! – sorria – E quando tiver que sair de casa, pegue todos eles de surpresa e ficarão desnorteados. – continuava aconselhando – O segredo é ser discreta e não levantar suspeitas. Cuide das suas emoções para que elas não a deixem vulnerável!

 

O volume das águas progressivamente tornava-se maior e o parque desapareceu inundado por elas ”

 

A morena acordou sobressaltava e levou um susto ao ver Samir dormindo a seu lado. Percebeu que havia sonhado mas lembrava-se em detalhes do que ouviu. Sentou-se na cama e em sua mente maquinava como faria para executar o que lhe foi proposto.

 

“Sei muito bem para onde enviarei estas joias!” – pensava – “É um risco imenso, mas estou certa de que é a melhor escolha!” – olhou para cima e agradeceu a Deus pela honra que recebera com aquela visita

 

***

 

Uma passageira acabava de entrar no carro de Vera. Trazia uma pequena mala, que alojou no banco de trás, onde se sentou.

 

--Boa tarde, senhora. – Vera cumprimentou com formalidade

 

--Boa tarde. – respondeu educadamente – Mas vamos combinar: – sorriu -- sem o senhora, tá legal?

 

Sorriu também. -- Pode deixar. – manobrou para sair do aeroporto – “Eu conheço essa da onde, uai?” – pensou intrigada

 

--Nós nos conhecemos? – olhou para Vera pelo retrovisor – Você não me é estranha! – reparava na motorista

 

--Eu tava aqui pensando a mesma coisa... Só ainda não me atinei da onde lhe vi! – riu brevemente

 

A mulher pensou um pouco mais e matou a charada: -- Ei, você é a assessora ou sei lá o que daquela kaozeira doida! – lembrou – Da Gail Nasser!

 

Olhou rapidamente para trás. – Você é aquela moça... Paty Golezzo? – perguntou desconfiada – “Eita, que se Abigail soubesse que tô com a tal no carro...” – pensou com vontade de rir

 

--A própria, -- olhou os dados da motorista no aplicativo – Vera. – prestava atenção na outra – E vem cá, -- queria fofocar – desistiu de trabalhar pra... egípcia? – pronunciou a última palavra com descrença

 

--Deixa eu te contar que ela me contratou só pela duração do Congresso. – respondeu com a verdade – Depois que a temporada na cidade acabou, Gail foi pra terra dela. – pausou brevemente -- E foi isso.

 

--Qual é o nome verdadeiro dela? – continuava querendo fofocar – Da onde aquela farsante é?

 

Ficou meio sem graça com as perguntas da passageira. – Ela não é farsante, uai. Não fale assim... – defendeu a outra – E faz parte de nosso acordo que eu não revele a identidade dela. Tanto que não revelei pra ninguém. – dizia a verdade

 

--Tá bom. – cruzou as pernas – Admiro essa fidelidade. Coisa rara nos dias de hoje! – pensava em Carol

 

A caipira nada respondeu.

 

--Você é lésbica também, né? – reparava – Acho que Gail não contrataria um hétero pra pagar mico junto com ela! – deduzia

 

--É, eu sou. – não gostou da parte do “pagar mico”

 

--É verdade que aqui em São Paulo as lésbicas tão batendo cabeça? – queria saber – Quer dizer, é verdade que tem tanta dando sopa por aí, que fica-se difícil saber qual escolher?

 

Estranhou ouvir aquilo e acabou rindo brevemente. – Olha, moça, eu não sou do tipo que se possa dizer que faz sucesso, mas nunca soube disso aí, não, uai! – negava a informação – Moro aqui há anos e nunca vi isso!

 

--Jura? – cruzou os braços revoltada – E eu que vim passar férias aqui pensando nisso? – olhava para fora do carro – Também, pudera. Primeiro dia de férias cair em pleno primeiro de abril, tinha que ser mentira mesmo!

 

Achou graça novamente. – Você é famosa e poderosa. – lembrava do que Abigail falava sobre Paty Golezzo – Quando as chegadas souberem que você veio, vai ter briga pra ver quem te conquista. – falava sem malícia – Espere só, uai. – balançava a cabeça

 

“Hum! Se ela soubesse do meu poder...” – pensou com vontade de rir – “Já vi que vou continuar no zero a zero nessa terra!” – suspirou – Minha última investida amorosa terminou em chifre! – desabafou – Também pudera, confiar numa sujeita que atende pela alcunha de Frog Kruger! – criticou

 

“Eita, que essa Frog faz um estrago!” – pensou – “Sapinha maligna!”

 

--Mas, aqui... Cê tá sozinha? – perguntou pensando em possibilidades – Afinal de contas, se a gente tá fazendo nada, né? Vamos fazer um nada juntas! – sorriu – “Pra não perder a viagem...” – considerou

 

Vera sentiu o rosto corar. “Ave Maria, que ela tá matando cachorro a grito!” – pensou espantada – Eu tenho namorada, uai! – pensava em Sayruci – E tô morrendo de saudades dela! – confessou

 

--Ah... Sorte sua, né? – respondeu decepcionada – E saudades por que? Ela não é daqui?

 

“Mas essa moça é fuxiqueira, Ave Maria!” – pensou – Ela é de outra cidade. – não desejava entrar em detalhe – Bem longe daqui.

 

“Pra ver que esse papo de brejo lotado é o maior kaô!” – pensou contrariada – “Se ela teve que importar namorada de longe, é porque aqui a coisa tá feia igual no Rio!” – concluía – “Me ferrei, te contar...”

 

Fim do capítulo