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Amor incondicional por caribu

Ver comentários: 9

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Palavras: 3559
Acessos: 3991   |  Postado em: 19/07/2021

Trinta e oito

 

                De todas as qualidades em Beatriz que Fernanda admirava, seu senso de organização era o que mais a impressionava. Simplesmente porque a mulher era metódica ao ponto de planejar, tabular (e até metrificar!) tudo: dos atendimentos que prestava aos artigos que escrevia; dos livros lidos às pesquisas que tinha orientado. A agenda que ela usava no trabalho parecia traçada à mão, em páginas que Beatriz fazia quadrinhos e anotações que só ela entendia.

                Fernanda logo no começo entendeu que aquilo era quase uma tática. Beatriz usava suas anotações como extensões de sua memória, incapaz de guardar tudo aquilo. E isso ficou evidente quando ela lhe mostrou uma planilha em Excel que era um verdadeiro tesouro: cada célula era um histórico de um paciente atendido, e as informações se destrinchavam em colunas de cores diferentes, que englobavam de sintomas a medicamentos, do tratamento à alta. Ela acessava pela nuvem, através do celular se precisasse, então era possível dizer que a psiquiatra tinha detalhes de centenas de casos na palma da mão. Literalmente!

                Sua organização era tamanha que, num momento de necessidade (até então inédito), se afastou um tempo do trabalho para colocar a cabeça no lugar, e isso não atrapalhou seus pacientes porque ela conseguiu manejar todas as consultas agendadas. Na verdade, quem fez isso foi Cíntia, que se assustou quando a médica alertou que faltaria no dia seguinte. Era a primeira vez que aquilo acontecia, e o espanto ficou visível em seu rosto, quando foi avisada.

 

- Espero que te ajude, descansar um pouco – a secretária diz, no final do dia, sem saber o que motivava o breve afastamento.

- Sim, mas você sabe que, se precisar, pode me ligar. Sei lá, caso aconteça algum problema – Beatriz recomenda, alinhando o vaso de orquídea no balcão.

- Eu vou estar aqui, Cíntia. Nós vamos deixar a doutora descansar, né – Fernanda fala, saindo de sua sala, passando pela recepção. Deu uma olhadinha rápida no relógio e continuou caminhando até o elevador – Bia! Seis horas, vamos.

 

                Beatriz dá um sorriso para Cíntia, que retribui. Numa rápida troca de olhares, cheia de cumplicidade, ficou subentendido que, caso precisasse, as duas se falariam, sim. Fernanda não precisaria saber e nem Arthur, que tinha insistido para que sua pupila tirasse aquele tempo para se cuidar. A recomendação tinha sido feita como médico e amigo, assim que ele soube da história da foto. Ela teria feito o mesmo.

                Só por isso não resistiu à ideia, embora parecesse meio absurda. Quem tira uma folga assim, no meio da semana? Geralmente Beatriz era quem fornecia os atestados médicos, não quem se fazia valer deles.

                Mas se sentia mesmo meio zureta, e não parecia justo trabalhar daquele jeito (não era justo com seus clientes). Estava com dificuldade de se focar e entre prestar meio atendimento e nada, preferia a segunda opção, mesmo que isso soasse um pouco radical. E se realmente ajudasse passar um dia útil inteiro deitada no sofá matutando, dissecando aquele assunto chato, então ela estava disposta a tentar.

                Em outras palavras, Beatriz se rendeu.

                Já fazia um tempo que não produzia nada no ateliê, quem sabe aquela folga ajudaria até a destravar sua criatividade. Ela duvidava um pouco disso, mas foi um pensamento que se agarrou, sinceramente e cheia de esperança.

                Decidiu que conversaria com Cícera já pela manhã. Sentia que precisava de tempo para isso, afinal seria uma conversa demorada, que certamente a deixaria reflexiva todo o resto do dia. Nem dava para ser de outro jeito.

                Isso apaziguou um pouco todos os sentimentos que borbulhavam dentro dela, e saiu do trabalho mais consolada do que quando tinha chegado naquela manhã, já na função de folgar.

                No trajeto de volta para casa, enquanto dirigia, Fernanda veio contando alguma história que Beatriz não conseguiu acompanhar. Mas notou que sua voz estava num tom animado, e ela ria enquanto falava. Ficava linda quando isso acontecia, às vezes a risada até prendia sem querer, e ela dava uma engasgadinha (mas só quando se tratava de algo realmente engraçado). Nessas horas ela ficava sempre com as bochechas coradas, e Beatriz ria porque a achava muito fofa.

                Fernanda vinha contando sobre a irmã estar saindo com Renato, tinha visto uma foto deles no Instagram, e nem era nada demais, mas ela achava que Beatriz precisava de uma distração. Mesmo que fosse só a sua voz ecoando dentro do carro e ela nem prestasse muita atenção ao que estava sendo falado (que era o caso).

                Na verdade, Fernanda estava um pouco aflita em ver a noiva daquele jeito, tendo até que faltar ao trabalho. Sabia que aquela era uma medida drástica, e que só estava sendo tomada por ser realmente necessária (conhecia bem o apego que Beatriz tinha aos seus compromissos, ao consultório).

Naquele fim de dia Fernanda se sentia um pouco mal porque não parecia ter muito o que fazer para ajudá-la, a não a distrair, contando amenidades. Pretendia pedir alguma coisa para comerem mais tarde, assistiriam qualquer bobagem na tevê e ficaria com ela até que dormisse, de preferência depois de namorarem um pouco. Beatriz precisava de endorfina, afinal de contas.

Na manhã seguinte logo cedo a deixaria apenas porque precisava trabalhar, e porque estava ciente de que aquele tempo sozinha era importante para a mulher que tanto amava. Ela ficaria também mais à vontade para conversar com Cícera se Fernanda não estivesse por perto.

O apartamento estava quieto e na penumbra quando chegaram e Fernanda reparou em um copinho, novo, atrás da porta da sala, com água e sal grosso pela metade, mas não comentou a respeito. Provavelmente Cícera tinha alguma explicação para aquilo, e assim como Beatriz, Fernanda tinha decidido confiar nos “poderes” que a mulher tinha. Sabia que mal não faria.

Mesmo assim, ficou impressionada em como ela sempre parecia prever as coisas, e se anteceder aos fatos. Estava agora comprovando algo que já tinha ouvido nas histórias da noiva, com seu longo histórico junto daquela mulher (que parecia, para ela, quase uma bruxa! Mas no sentido de “fada madrinha” porque Cícera era muito zelosa e cuidadosa). Por isso se convenceu até que a casa de Beatriz parecia diferente. Estava impecavelmente limpa e organizada, como sempre, mas parecia ter sido assepsiada de uma maneira extraordinária. Quase defumada, Fernanda diria, considerando o aroma que ainda pairava no ar. Cícera sem dúvida tinha feito alguma preparação naquele ambiente, ela só não sabia o quê.

                A casa toda estava com um cheiro diferente, mas Beatriz estava sem ânimo para puxar conversa. Mesmo que fosse só para falar do óbvio, e com Fernanda, que nitidamente se esforçava para se mostrar presente. Ela não se sentia nem um pouco animada para interagir. Só queria tomar banho quieta e deitar. Já que a recomendação era se curar, faria isso, mergulhando de cabeça na questão que já a tinha dominado por mais tempo do que deveria.

                A culpa era dela, por ter dado tanto poder àquilo. Assumia que nos últimos dias tinha se isentado de muitas responsabilidades, e por isso ficou meio à deriva. Mas, longe de se culpar, agora o que Beatriz mais queria era resolver logo aquilo, e seguir sua vida, em paz. Tinha um casamento para planejar e queria estar com a mente leve para o evento, que mudaria simplesmente todo o resto de sua vida.

Antes só precisava se livrar de uma pedra no sapato chamada Bianca. Que, coitada, nem tinha culpa de ser um transtorno. Era tão vítima quanto Beatriz, ou até mais. Por isso também aquela era uma questão tão urgente: envolvia mais gente, que de certa forma dependia dela. Da sua racionalidade.

                Tomou banho sem prestar muita atenção aos movimentos, eventualmente só respondendo algo que Fernanda perguntava. Depois de se lavar, ficou um tempo debaixo do chuveiro, só sentindo a água cair no topo da cabeça e escorrer pelo corpo. Depois ficou olhando a namorada pelo vidro do box, que estava na frente do espelho, distraída, passando creme no rosto. Fernanda tinha enrolado uma toalha no cabelo e estava nua. Uma cena incrível!

                Pensou brevemente como seria caso seu pai ainda estivesse vivo. Como teria sido o seu casamento, conhecendo tão bem o seu genitor. Sua noiva se preocupava com os pais, conservadores, mas não tinha conhecido o sogro. Ainda bem! Foi poupada de muitas situações embaraçosas.

                Beatriz se imaginou então confrontando Antonio. Por Fernanda o teria encarado. Listou mentalmente os argumentos que usaria, e até ensaiou algumas respostas, depois de frases que seu pai certamente teria dito. Riu ao final, e só então percebeu que, na sua cabeça, pai e filha tinham discutido por causa de sua mãe (não noiva).

Em que momento a mãe de Bianca entrou naquela história, e por que saiu, eram as duas perguntas que Beatriz agora se fazia. E era inevitável não ser invadida por aquela sensação de abandono, mesmo que agora já fosse adulta, crescida. Mesmo depois de tanto tempo.

Tentou então se consolar, imaginando que a mulher tinha sido forçada a isso; conhecia o poder de persuasão de seu pai, ele sabia ser intimidador. Mas não conseguiu exatamente algum amparo com isso, e parecia que quanto mais pensava, mais se incomodava com o assunto. Seu instinto era querer correr, fugir de tudo aquilo.

Se sentiu parecida com a madeira que às vezes esculpia, que escondia sob o musgo imperfeições que sempre existiram, que sempre foram parte daquela natureza, mas estava escondido. E que mudavam sempre o resultado da arte final.

Os anos e a própria vida tinham se arregimentado em cima do começo de sua história, ocultando tudo, em partes, mas aquilo sempre esteve ali. E só agora Beatriz finalmente jogava luz sobre o assunto. Só agora se sentia preparada para isso, ainda que eventualmente se questionasse da sua capacidade de ser a analista daqueles fatos.

                Ao sair do banho não estava com muita vontade de fazer nada, então foi para o quarto e deixou que Fernanda escolhesse algo para assistirem. Ela colocou um documentário sobre a vida de um serial killer, e Beatriz acabou se distraindo (não era exatamente o tipo de assunto que despertava seu interesse). Pegou o celular e procurou por Bianca nas redes sociais. Desistiu de algumas tentativas, e buscou por Fábio. Ainda se lembrava do sobrenome dele: Aguiar da Costa. Achou depois de dois cliques.

                Sua foto de perfil era com Bianca e Joaquim, que estava com um colar havaiano, todo colorido. Os três formavam uma família muito bonita, ela achou que Bianca ficava até um pouco diferente, sorrindo daquele jeito, tão sincero. Notou que ela dava a mão para Joaquim, que a segurava também com a outra. Se não soubesse, Beatriz até diria que os dois eram mãe e filho, biológicos. Viu cumplicidade e amor envolvendo a dupla, cujo elo era Fábio, que os abraçava, por trás.

                Clicou sobre o nome de Bianca, que tinha comentado na foto,  e foi para a sua conta. Beatriz ampliou a foto de perfil e a viu numa versão de uns dois anos atrás, de óculos escuros e cabelo preso. Tinha os braços cruzados, numa posição invocada, apesar de estar no meio de uma plantação de girassóis. Pulou para a foto seguinte e reconheceu Joaquim em seu colo, ainda bebê. Bianca aparecia com o semblante mais ameno, e dava um meio sorriso.

 

- Você me acha uma má pessoa por não querer procurá-la? – Beatriz pergunta, algumas horas depois, quando já estavam deitadas.

- Claro que não, querida – Fernanda responde, dando um beijo em sua testa. Ajeitou melhor a mulher, deitada no seu peito – Até porque isso pode mudar. Está tudo bem, agora, você não sentir vontade. E estará tudo bem se depois não se sentir confortável também.

- É que parece que eu tenho que fazer isso.

- Você não tem que fazer nada, Bia. Só o que te der vontade.

 

                Aquilo pareceu tranquilizá-la, e Beatriz dormiu ouvindo o coração de Fernanda. Acordou na manhã seguinte quando a mulher se levantou, mas ficou na cama mais alguns minutos depois que ela saiu para o trabalho. Estava um dia chuvoso, propício para ficar um pouco de preguiça, deitada.

                Levantou já perto das nove, e encontrou Cícera na cozinha. A mulher deu um sorriso para ela e não disse nada. Beatriz imaginou que Fernanda tinha dito mais cedo que ela não trabalharia naquele dia.

                Sentou-se em uma das banquetas e antes que pegasse a xícara para o café, Cícera entrega a ela uma caneca, cheia de chá. Estava fumegante e exalava um cheiro bem doce.

 

- Dona Cícera, sempre fico ressabiada quando você faz essas coisas – ela diz, bebendo um golinho do chá.

- Deixe de ser boba, menina. O que tem de errado em eu querer te preparar uma xícara de chá? – Cícera pergunta, sentando-se ao lado dela – Está um dia chuvoso, você parece cansada... Pensei que gostaria de uma bebida doce e quente.

- Sei – ela diz, sorrindo pela primeira vez desde que tinha acordado – Eu te conheço, Cícera!

- Que bom! E melhor ainda é eu poder dizer o mesmo de você, Bia – ela rebate, docemente. Apesar do que dizia, porém, a encarava com seriedade – Quer me contar o que está acontecendo?

 

Beatriz reclina a cabeça suspira. “Querer” não era exatamente a necessidade daquilo. Estava mais para “precisar”, mesmo.

 

- Eu descobri algumas coisas recentemente que mudam muita coisa (para não dizer “tudo”) na minha vida – ela começa. Sentiu a atenção de Cícera em cada palavra que proferia – Já passei pelas fases da negação, da barganha, e acho que agora só me resta aceitar.

- E já consegue? Aceitar?

- Não sei – Beatriz parecia sincera – Mas já não sinto mais raiva. Encaro isso como um bom indício.

- E é, sem dúvida – Cícera concorda, se servindo de um pouco de chá, que tinha um cheiro diferente – Por isso você não foi trabalhar?

- Sim, a Fernanda te falou?

- Não vi a Fernanda hoje – Cícera responde – Acho que ela saiu um pouco antes de eu chegar.

- Bom, o fato é que eu cresci acreditando que minha mãe tinha morrido quando eu nasci, mas parece que não foi bem isso que aconteceu.

- Sei.

- Meu pai mentiu sobre a minha mãe, mentiu sobre eu ter uma irmã – Beatriz parecia magoada – Vai saber quais outras mentiras ele não me contou! Não sei mais no que acreditar, não sei como foi que ele conseguiu mentir para mim, desse jeito tão descarado, durante toda a minha vida – ela reclama, encolhendo as pernas, apoiando-as no assento do banco – Não sei como a sua consciência paterna não o incomodou! E nem sei também como eu pude ser tão tola e nunca ter desconfiado de que o que ele me dizia era mentira. Tudo mentira.

- A verdade, muitas vezes, está diante dos nossos olhos, mas nós é que nos recusamos a enxergá-la – Cícera garante, adoçando o chá.

- Não nesse caso.

- Também nesse caso –  ela retruca, dando três batidinhas da colher contra o pires – Não me cabe lhe mostrar em quais momentos a verdade bateu à sua porta e você se recusou a deixá-la entrar. Analise e você vai reconhecer. Você sabe, Bia, muito mais do que eu, que se recusa a ver tudo o que não te agrada, que foge do seu roteiro. Ou tenta não reparar, quando é obrigada a enxergar algo que não quer. Você se abstrai. Se abstém.

- Do que você está falando?

- Do que eu estou falando? – repete Cícera, com a voz suave – Não se faça de boba, menina.

 

Beatriz desvia o olhar para a sua xícara e se perde nos milhares de pensamentos que tumultuavam sua cabeça, enquanto os trovões lá fora se tornavam cada vez mais audíveis.

 

- Fazia tanto tempo que não prestava atenção aos sons de uma tempestade – ela revela, como se falasse sozinha – Meu pai dizia que dias chuvosos eram deprimentes e eu aceitei isso como uma verdade absoluta... sem questionar, como uma regra. Sem nem me dar conta de que a chuva é água! Água que cai do céu. Limpa e pura.

- Quantas coisas mais você deixou de fazer? – Cícera pergunta, pegando uma segunda xícara fumegante – Foram muitas privações. Essa é a oportunidade para você resgatar a Beatriz que já foi um dia.

- Aquela que eu fui um dia não cabe mais na minha vida – ela garante, sorrindo com os olhos ao ver Cícera levar aos lábios a xícara florida.

- A vida é sua. Você faz o que quer dela, Bia. Inclusive colocar-se novamente no centro de tudo.

- Ultimamente ando mais para espectadora, isso sim – diverte-se, apoiando os pés na parte de baixo do banco.

- Espectadora da sua própria vida? Não acha isso meio errado?

- A vida é tão mais que “certo” e “errado” – Beatriz resmunga, fugindo da pergunta.

- A vida é um grande espetáculo e é mais do que justo que você seja a atração principal. Não a plateia.

- Tem razão.

- Então por que vaia? – a mulher questiona, e Beatriz não soube responder.

- Você é uma ótima analista, Cícera. Enxerga as coisas de um jeito que é digno de apreciação e admiração.

- Eu apenas observo bem aquilo que vejo – Cícera garante, apoiando sua xícara na mesa, olhando séria para a mulher – E daqui eu vejo você se debatendo, reclamando de ter que nadar, sem perceber que até então estava se afogando, e sozinha – ela faz uma pausa, esperando que Beatriz absorva suas palavras – São essas águas que vão te levar para onde você precisa estar, Bia. Para você, parece o fim, mas eu tenho certeza de que essa é uma oportunidade perfeita para você se resgatar. Eu diria, até, que é a única ocasião em que vai poder fazer isso. É uma chance única.

- Nossa! Que comentário pessimista!

- “Realista”, Bia. Foi um comentário realista. Mas não falei isso porque vai acontecer algum desastre com você, ou algo do tipo... É só porque agora a sua cabeça está aberta para vivenciar o que a vida está te oferecendo. Imagine que é um trem que está passando na sua porta, e que se você não embarcar vai perder a chance maravilhosa de conhecer lugares desconhecidos. Especialmente aqueles lugares que existem dentro de você.

- Acho que estou entendendo.

- Ainda não. Mas vai entender em breve – Cícera sorri – Nós ainda vamos ter outra conversa. Mas ainda não é o momento.

- Tudo bem – Beatriz diz, fazendo um gesto com a mão. Já se sentia um pouco melhor, só de ter colocado aquilo tudo para fora – Foi bom ter verbalizado.

- Fico feliz por ter te escutado – Cícera estava sorrindo para ela – Bia, imagine que agora você está ensaiando, de maneira consciente, lúcida, os primeiros passos de uma caminhada que não tem volta.

- Isso não é muito confortador... – Beatriz resmunga, bebendo mais um gole de seu chá. A doçura do líquido já quase frio contrastava com o amargo que tinha na boca – Será que essa caminhada me leva pelo menos para um lugar bom?

- Isso depende de você – ela responde, sabiamente – Você é uma moça inteligente, sabe que a vida é só o resultado das projeções que nós fazemos. Queira o bem e viverá no bem.

- Eu quero o bem!

- Quer mesmo? Por que, então, a dúvida sobre procurar a irmã?

 

Beatriz faz a menção de responder algo, mas fecha a boca, muda. Quieta, suspira e balança a cabeça negativamente, antes de beber o resto de sua bebida.

 

- Não quero que se sinta julgada. Nem pressionada – Cícera fala, juntando com a ponta do dedo o açúcar que tinha caído no pires – Sei que você se fechou dentro de uma concha e por enquanto não se permite ser visitada. Eu te entendo, filha. Está tudo bem.

- Sei que não está – Beatriz responde, sorrindo para ela de um jeito triste – Você conhece a Bianca?

- Sim. Mas ela não me conhece.

- Sei. Ou melhor, não sei se sei.

 

A chuva batia com força contra a janela do apartamento, e apesar de cedo, os cômodos estavam um pouco escuros, inclusive a cozinha, onde estavam. Beatriz pensava em tudo o que tinham conversado, em como Cícera adorava analogias e falava às vezes como se usasse códigos. Isso exigia dela uma organização de pensamentos que em geral não era preciso.

Um raio clareou a varanda durante frações de segundos, chamando a atenção das duas. Então seu rosto se iluminou. Cícera sorriu satisfeita quando notou um brilho diferente nos olhos de Beatriz, quando ela a encarou novamente.

 

- Foi você, Cícera! Você alertou sobre a gravidez! Da Bianca!

- Não – Cícera sorri – Eu tentei alertá-la sobre o acidente, a “não gravidez”, no caso. Sobre a gravidez, mesmo, eu ainda não falei.

- Ela está grávida? – Beatriz pergunta, e Cícera apenas sorri novamente.

 

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

 

Que vontade de tomar um chazinho...!


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Comentários para 38 - Trinta e oito:
Alex Mills
Alex Mills

Em: 12/12/2021

Ah Dona Cícera, sabia que você tinha ido fazer umas comprinhas no Viver! Cadê o chá que te encomendei? Hahahah

Mas que bom que a Beatriz abriu uma brexinha desse casulo para encontrar uma luz do lado de fora. 

Eu acho engraçado a forma como a Cícera fala, um dia quero falar assim com os filhos hehe se fosse eu respondendo a pergunta dela sobre a preparação para um caminho eu já estava lá, saindo correndo! Para bem longe mesmo, porque para frente ainda dá para lidar com os obstáculos novos (se pá até conhecer um mundo movo)

Mas que medo, já passei da metade e estou chegando no fim. Progresso!


Resposta do autor:

 

Ah, esse capítulo é delicioso!

Eu amo quando a Cícera aparece, é uma personagem muito querida, e fundamental pra história! <3

Essa cena delas na cozinha é demais! <3

 

Pois é, dona Alex! Já passou da metade e está chegando ao fim do livro!

Tá gostando?

=D

 

Beijos!

 

Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 24/08/2021

Você sabia que 69 é a quantidade de romances/crônicas postadas por você? 69? Tem alguma crônica sobre isso? kkkkk

 

Como eu me sinto hoje sem AI: 

 

https://youtu.be/TLxUVDVsw-s


Resposta do autor:

 

Hahahahahahaha

Não sei oq foi melhor: seu comentário ou o choro rsrsrsrsrsrs

Ri alto!

 

Não sabia desse sugestivo número, não! Era pra ter dois textos a mais, mas já tirei os primeiros livros publicadosaqui no Lettera (vc pode tê-los aí na sua casa, no conforto do seu lar, em versão impressa rsrs Um se chama "Minha Melhor Amiga" e o outro, "Sorte e Sol").

 

Querida, acredite, faz dias que me proponho a escrever. Dias!! Até abri o arquivo em alguns deles, mas aí sempre surge alguma urgência e eu acabo não conseguindo produzir nada (literariamente falando rs). Hoje, na verdade, ia terminar o capítulo 39, mas tô tendo que refazer um trabalho que fiz errado, por pura brisa...  

Essa semana sai! Prometo!

Vou correr aqui com os trabalhos pra ficar logo livre para caribu!

 

Não desiste da gente!

Beijos!

Responder

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ahannahhcs
ahannahhcs

Em: 16/08/2021

Cadê tuuuuu???? Eu necessito do restante, tô passando mal aqui. Volta logo. Beijosss.


Resposta do autor:

 

Oi, querida! Tô por qui, enfrentando meus monstros!

Não ando tendo dias muito fáceis, confesso... Mas pretendo voltar logo, com o desfecho!

Beijos!

Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 07/08/2021

Menina!

Cadê você?

Esqueceu de nós? kkkkkk

Cadê sua inspiração? rsrsrs

Está vendo a olimpíadas? Kkkk

Abraços fraternos procês aí


Resposta do autor:

 

Hahaha 

Né! Muitas emoções! Olímpiadas, CPI, que voltou rsrs 

E eu tinha travado tb, pq a história tá acabando e aí entrei numas bad rsrs 

Mas já defini a próxima, então acho que agora vai!

Quem sabe a gente volta já essa semana! #retafinal

Beijos!

 

 

Responder

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Lins_Tabosa
Lins_Tabosa

Em: 20/07/2021

Cícera me deixa bem pensativa quando aparece. Estou eu e meus botões num momento introspectivo, já pensando que falta todos esses personagens irão fazer.

Abrs, o/


Resposta do autor:

 

Ah, mas somos duas!!

Responder

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Hanna_caroll
Hanna_caroll

Em: 20/07/2021

Eu simplesmente estou rendida a esta narrativa! Na verdade, acompanho teus textos já faz um bom tempo. Tua escrita é maravilhosa, envolvente, coesa, prende demais a atenção.

Parabéns por escrever tão bem!

Quando sei que Cícera irá aparecer no capítulo fico ainda mais ansiosa pela leitura. É de uma sabedoria e magnetismo ímpar. Quem dera a nós termos uma guru particular dessa magnitude. Espero que ela mate nossa curiosidade hahahah

É impressionante como a atitude de uma pessoa (pai da Beatriz) pôde alterar várias vidas de uma forma tão negativa. Tento imaginar qual será a reação do Fábio ao se deparar com "o irmão" perdido de Bianca.

Queremos mais!!!

Abraços!


Resposta do autor:

 

Que delícia! Grata! Pela leitura, comentário e elogio!

É praticamente uma realização de vida editar e postar essa história! Sempre foi minha preferida, no começo eu até comentei que depois dela me achei incapaz de escrever algo melhor rs E eu vejo os acessos, o interesse, assim que posto já tem várias lendo rs Fico muito contente quando de repente uma delas de manifesta, como vc!

Eu queria muito uma Cícera do meu lado! Amo pessoas sensitivas, me fazem repensar todos os personagens que crio rs As pessoas têm o dom de ser mágicas às vezes, né!

Acho que o principal dessa história nem é tanto A história, propriamente dita, mas os personagens. A ideia sempre foi mostrar que somos transformadas, dependendo de onde e como somos criadas, entre outras diversas variáveis. A Beatriz é uma personagem que eu sempre gostei de acompanhar, pq ela teve a vida alterada pela relação com o pai, o fato de não ter mãe, mas no presente é uma mulher centrada. Maravilhosa! Sou fã, leria todos os artigos que ela escreve e sentaria na primeira fileira das palestras dela, sem dúvida rs 

Ela com certeza é/foi/será o facilitador para a relação com a Bianca e Fábio dar certo. E mesmo eles sendo o núcleo hétero/desinteressante, são pessoas incríveis, que se transformaram tb!

Olha eu, já em tom de despedida rsrs

Vamos aos capítulos finais!

Depois me diz o que achou!

Beijos!

Responder

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cris05
cris05

Em: 20/07/2021

Oba! Capítulo novo pra semana começar muito bem!

A Cícera  parece a vozinha da Bia Beatriz. Engraçado que toda vez que ela é mencionada me vem à cabeça a atriz Nicette Bruno, é assim que eu imagino a Cícera rsrs.

Autora, autora, você vai matar essa pobre leitora de curiosidade. Tô doida pra Cícera contar tudo o que sabe. Rs

Beijos!


Resposta do autor:

 

É, Cris, ela parece a vozinha da Bia Beatriz rs

A Nicete Bruno era uma fofinha!! <3 Vou imaginá-la agora assim tbbb!!

Estamos entrando na reta final, né. Já quase em contagem regressiva dos dez últimos capítulos (aí falo isso e sou tomada por um quase desespero, pensando que ficarei órfã. Ficaremos rsrs). As coisas vão se esclarecer e fim rs

Ansiosa desde já pra saber oq achou!

Beijos, ótima semana!

 

P.S.: ontem eu vi que vc já aparece no ranking das comentadoras mais assíduas aqui do site. Fiquei feliz por vc e por mim! <3 <3

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Helenna
Helenna

Em: 19/07/2021

Olá

Estou adorando

 

Parabéns!

 

Abraços.

 


Resposta do autor:

 

Que bom que está gostando!

Vamos entrar já na reta final!

Beijos!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

NovaAqui
NovaAqui

Em: 19/07/2021

Que delícia! Capítulo fresquinho!!! Uhuuu.

Hoje fui com a criança assistir Viúva Negra (Scarlett Johansson ????), na volta tomamos um cházinho. Filhinha no suco e eu/esposa tomamos chazinho que passarinho não bebe kkkkkk perto do cinema tem um restaurante com uma comida deliciosa, aí, tive que tomar esse chazinho rsrsrs

Cícera já sabe da gravidez de Bianca

Olha! Cícera tem que contar todos os detalhes sobre Bianca, Catarina e o Zé Ruela do pai de Beatriz

Abraços fraternos procês aí

 


Resposta do autor:

 

Cê viu! Capítulo fresquinho, quentinho!

A Cícera vai contar tudo o que sabe!rs 

Beijos!

 

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