O desejo que vem no escuro
Eu não sabia como nem por que, mas eu estava no apartamento de Leonora. Ela iluminou o caminho pela sala com o próprio celular porque estava um breu, enquanto os miados dos gatos se faziam notar. Eu não a segui, ao invés disso peguei o chaveiro que tinha uma pequena lanterna no meu bolso, e iluminei um pouco o percurso até a ampla varanda da sala. A chuva não estava tão forte agora, mas eu me sentia tremer até os ossos, minhas roupas estavam pingando e eu estava desconfortável. Dali dava para ver o prédio do hotel, onde eu passei dois dias observando a rotina de Leonora do terraço.
—Pronto, os gatos estão comendo. — Escutei a voz dela depois de um tempo, mas não me virei para olhá-la. — Alice? Você precisa tirar essas roupas ou vai ficar doente.
—Que diferença faz? Eu vou morrer de todo jeito.
—Não diga isso.
—É a verdade, você só não sabe de nada.
Ela se colocou a minha frente, segurando uma vela com uma mão enquanto a outra protegia do vento sutil que entrava pela brecha da varanda. Seu rosto assumiu contornos sombrios por causa da luz trêmula, mas isso não a tornava menos bela. Ela também vestia as mesmas roupas molhadas, e o cabelo pingava as gotículas, escorrendo pelo seu rosto.
—Eu quero saber o que está acontecendo para você achar que precisa me matar, mas primeiro você precisa tirar essas roupas e se secar, colocar algo quente. Não quero que fique resfriada. Venha comigo.
—Por que continua me mantendo aqui? Eu ainda posso te matar. Você não sabe nada de mim.
—Não? — Ela se aproximou de repente, eu me afastei, mas ela segurou meu ombro e me pressionou contra a porta de vidro da varanda. — Tem certeza?
Sua mão livre apoiou no vidro, mas a vela não impediu que seu corpo ficasse tão provocantemente perto. Sua perna pressionou entre as minhas, e não foi o calor da vela que senti entre nós. Um arrepio na espinha me fez fechar os olhos, sua respiração quente no meu rosto me alertando dos seus lábios tão perto.
—Para que precisa do dinheiro, Alice? — Sua voz estava baixa, eu podia perceber o desejo e a preocupação mesclados.
—Porque estou doente... e preciso do dinheiro para operar antes que seja tarde. — Minhas palavras saíram sem eu sequer pensar no que estava dizendo.
—Quem te pagou para me matar? — Seus lábios traçaram beijos no meu maxilar, subindo lentamente enquanto me via hipnotizada pela sua proximidade.
—David Henrique de Melo Júnior. — O nome escorregou da minha boca.
—Aquele cretino... — Ela parecia controlar o tom. — Esqueça-o. Você não precisa executar trabalho nenhum.
—Eu preciso-
—Não se preocupe. Eu tenho um plano. — Ela mordiscou o lóbulo de minha orelha, e dessa vez meu corpo estremeceu em prazer. — Você só precisa me dizer se quer mesmo me matar.
—Eu não quero morrer tanto quanto não quero puxar aquele gatilho agora.
Sua língua quem deslizou de volta pelo meu maxilar até meus lábios, eu não sabia quem era mais insana ali. Ela, que continuava perto de sua assassina, ou eu, a assassina que se deixava envolver pela vítima. Leonora pressionou os dedos em minha nuca e não precisou dizer nada para me ter retribuindo ao seu beijo. Ela só se afastou para deixar a vela no chão, no momento seguinte ela me erguia e tinha minhas pernas envoltas na sua cintura. Mãos delicadas tiravam minha blusa e minha camisa, minhas costas pressionadas no vidro gelado sequer me incomodaram, não quando sua saliva quente aqueceu o bico do meu seio diante da fome que ela o sugou. Eu gemi sem buscar entender o desejo latente que pulsava de Leonora, e que meu corpo cedia tão facilmente.
—Leonora... — Meus dedos pressionaram no couro do seu cabelo, recebendo seu desejo ainda mais intenso.
Eu peguei a arma em minhas costas, trocando um olhar com ela antes de simplesmente deixar que caísse no chão. Ela me levou sem rodeios para a sala, abaixando nossos corpos até minhas costas serem pressionadas contra algo quente e macio. Eu puxei a camisa de Leonora pela cabeça porque ela tinha tirado a jaqueta, então seus seios estavam em minhas mãos em questão de segundos.
Sua boca estava em todo o meu corpo e ao mesmo tempo estava na minha, provocante e abrasadora. Eu já nem sabia o que era frio, e quando já não existia roupas que nos cobrissem, eu deixei de saber onde começava o seu corpo e onde terminava o meu. Nossas peles estavam unidas e nossas vontades entrelaçadas, eu não queria mais que acabasse, queria ficar ali o resto da noite, e repetiria aquele momento até o último dos meus dias.
—A luz voltou. — Digo, acariciando o rosto de Leonora, deitada abaixo de mim.
—Não importa. — Ela sorriu, as velas em torno de sua cama jogando luzes e sombras no seu rosto. — Eu não moverei um dedo daqui. E aí de você se tentar.
Rio baixo, cansada. Tínhamos encontrado o caminho do seu quarto eventualmente, ela deixou velas à pilha ao nosso redor e seus gatos dormiram na calçadeira. A luz tinha entrado pela fresta da porta, mas sinceramente, não havia lugar melhor para estar que não fosse ali, nos braços de Leonora.
Fim do capítulo
Eta que a vela sobrou hehe
Contem-me seus pensamentos :)
Até o próximo :D
Estou adorando esse desafio =D
Comentar este capítulo:
kasvattaja Forty-Nine
Em: 28/06/2021
Olá! Tudo bem?
Pensando bem, eliminar alguém que se chama ''David Henrique de Melo Júnior'' — sério? Uau! — não deve ser difícil, o difícil é imaginar essas duas lá na frente, confiando-se.
É isso!
Post Scriptum:
''A confiança é ato de fé, e esta dispensa raciocínio. ''
Carlos Drummond de Andrade,
Poeta, Contista e Cronista.
Resposta do autor:
Olá Kasvattaja :D que bom te ver por aqui ;)
É um alvo fácil esse tal de David Henrique de Melo Júnior, não é? Será que é o nome dele que vai aparecer na lista da Alice? hehe
Gostei da referência, mas sou suspeita para falar, porque sempre gosto ahahaha
Obrigada por comentar ;) até o próximo!
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