• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Amor incondicional
  • Quinze

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,492
Palavras: 51,967,639
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Legado de Metal e Sangue
    Legado de Metal e Sangue
    Por mtttm
  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • COMO SEMPRE FOI
    COMO SEMPRE FOI
    Por Esantos
  • Perfumes da Memória
    Perfumes da Memória
    Por Val8005

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Amor incondicional por caribu

Ver comentários: 7

Ver lista de capítulos

Palavras: 3602
Acessos: 3001   |  Postado em: 19/05/2021

Quinze

É muito difícil, quando se é muito racional, explicar certos conceitos sem soar de maneira muito mística. O acaso, por exemplo. Beatriz tinha dificuldades em conceituar o que seriam as “coincidências” – e ouvia muitos relatos a respeito, o que despertava um sincero interesse. Mas tinha um bloqueio quando estudava o assunto, mesmo que sob um prisma científico, porque ficava com a impressão de estar adentrando no campo do esoterismo (que ela tinha certo preconceito, embora não admitisse).

Este era um assunto que a interessava, quase todas as leituras que não eram relacionadas à sua área de atuação tinham a ver com o tema. Ou quase isso: Beatriz tentava sempre entender a força que existe por detrás dos acasos.

Haveria alguma? Ou era preciso, logo ela, admitir que não existiria alguma lógica envolvendo tudo? Já eram anos dedicados a esse tipo de pensamento.

O problema é que seus estudos sempre a deixavam diante de polêmicas difíceis, envolvendo argumentos racionais (seus preferidos), baseados em cálculos probabilísticos, mas logo esbarrava em outros que adotavam uma justificativa mais de cunho religioso, com a premissa de que “nada acontece por acaso”. “Foi Deus que quis”.

Ela revirava os olhos para este segundo grupo. Achava meio absurdo terceirizar a responsabilidade das coisas, dos acontecimentos, a uma entidade externa. Acreditava que religião era somente uma criação do homem para lidar com dilemas existenciais. Para isso, ela contava com as ferramentas da psiquiatria.

Beatriz nunca soube dizer se de fato existe um Deus que um dia se inspirou e fez o mundo tal qual o é. Não teve uma criação religiosa, não havia ninguém ao seu redor que conversasse com ela a respeito. Quando era nova viveu determinadas situações que até a deixaram um pouco envergonhada – ela não sabia rezar.

O que lhe parecia ruim, ao menos aos olhos dos outros (porque para ela, pouco mudava, saber ou não das coisas. Só sentimos falta daquilo que um dia tivemos), acabou sendo benéfico. Ela se sentia mais centrada por não ver o mundo sob a ótica da religiosidade. Não acrescentava, por exemplo, o peso do pecado às ações das pessoas (já tinha visto colegas agindo assim); analisava as ações, simplesmente.

Claro, compreendia que para cada ação existe uma reação – mas isso é física. É lógico. Adorava as palestras da Monja Coen por isso – ela parecia uma cientista falando (mas num tom de voz de monja, que sempre a deixava em paz). Beatriz se identificava com o discurso. Mas se desinteressava, sem querer, quando a abordagem mencionava palavras que, para ela, eram gatilho.

Aquela era uma característica que Arthur, seu amigo e mentor, admirava. Ele sempre dizia que essa imparcialidade tornava a análise de Beatriz mais objetiva. Ela lhe parecia mais consciente, por exemplo, dos estragos que a família causa na vida de uma pessoa (e como isso a leva a ter certos comportamentos e atitudes). Explicações que não envolviam “o céu e a terra”, mas que eram lógicas; faziam sentido. Era o caminho que ela sempre escolhia, na condução de seus tratamentos e terapias. E isso a permitia ir além de karma e darma.

O ceticismo adquirido quando ainda era muito menina talvez fosse um dos principais elementos de sua personalidade. Mas Beatriz não podia afirmar, por mais cética que fosse, que a vida na terra não era impulsionada por uma energia que poderia ser perfeitamente chamada de Deus. Havia até outros nomes, que no fundo indicavam a mesma força.

Beatriz sentia que, possivelmente, existia algo que comandava a vida das pessoas, dos animais e de tudo o que habitava o planeta – e talvez até mais além. Um maestro regendo, energeticamente, a sinfonia da vida. E os acasos estavam inclusos aí.

Prova disso era estar agora escutando o relato daquele homem à sua frente, que nem imaginava o quanto sua história provocava reflexões, importantes para ela. Sem saber, sua consulta era também para Beatriz, que dificilmente se arrependia de uma decisão, sempre tomada com base em muitos critérios, mas Fernanda tinha o dom de quebrar seus modelos de tudo. Sim, estava arrependida, e fazia só alguns minutos que tinham terminado. Como seria até se acostumar com a ideia?

Aquela conversa não podia ser somente uma coincidência – e Beatriz sequer imaginava os meandros por trás daquele encontro, que ela tinha até classificado como “aleatório”. Há poucos minutos havia descartado a pessoa que possivelmente era a mais adequada para conviver ao seu lado (para não dizer “seu grande amor”, ou “o amor da sua vida”, ou qualquer outra expressão piegas que a gente adora), e agora tinha, a poucos metros, um rapaz que procurava auxílio para, basicamente, salvar o amor que o unira a outro ser humano.

 

- A Bianca sempre foi normal, equilibrada. Tinha alguns acessos de mau humor ou irritação de vez em quando, mas quem nunca? Era só. Agora, doutora, está impossível de se conviver. Tudo provoca briga, ela anda irritada demais. E eu sei que ela sofre. Me dói vê-la desta maneira. Eu preciso ajudá-la, você precisa nos ajudar.

- Mas ela precisa querer ser ajudada, Fábio – explica Beatriz.

 

Tinha servido chá de camomila para ambos. Agradecia sempre por ter aceitado a sugestão de Cícera, e comprado chás para a clínica. Não eram mágicos, mas certamente eficazes. Beatriz tinha até um projeto de escrever um artigo a respeito – mas só quando a ideia não a fizesse rir sem querer. Parecia, de novo, caminhar pelos bosques do esoterismo. Que corda bamba, e tênue!  

 

- Eu entendi que o fator que despertou essa agressividade na sua esposa foi o aborto que ela sofreu há alguns meses. Entendi que as atitudes dela prejudicam não só a ela, mas também você, seu filho e todos à sua volta. Entendi que você a ama e a quer bem. Mas se ela não quiser se tratar, não há muito que se fazer.

- Posso obrigá-la a vir?

- Não acho adequado – responde, quase automaticamente, balançando a cabeça, em desacordo.

 

A obrigatoriedade de qualquer ato já beirava o ilícito; de um tratamento psiquiátrico, era ainda pior. A pessoa sempre tinha que, no mínimo, colaborar para a sua própria melhora – e o primeiro passo era estar ali (e isso era muito difícil para algumas pessoas). E, além de comparecer à consulta, era preciso também chegar munido de uma considerável dose de boa vontade. De nada adianta comparecer aos compromissos só em corpo, e deixar o coração em outro lugar.

Beatriz acreditava que o sofrimento que Fábio alegava estar sentindo era verdadeiro. Percebeu, pelo que tinha acabado de ouvir, que Bianca havia se tornado uma pessoa arredia, afetando o convívio de todos – principalmente se tratando de Joaquim. Ela pensava no menino. Mas suas ações, neste momento, estavam limitadas a aconselhar Fábio. Afinal, ele estava ali, ao contrário da esposa.

 

- Não sei se foi boa ideia termos conseguido a licença médica e as férias vencidas dela, tudo ao mesmo tempo – ele comenta, bebericando um golinho de chá. Nunca imaginou beber aquilo no verão – Eu preciso trabalhar, mas sair de casa sabendo que ela está lá sozinha não me deixa em paz. Não consigo trabalhar, paro o serviço toda hora para mandar mensagem, ou ligar para a vizinha para saber se aconteceu alguma coisa com ela.

- Mas você tem consciência de que isso não te faz bem, não tem? – pergunta Beatriz, olhando para ele.

- Sei que não me faz bem. Mas não sossego sabendo que a Bia está daquele jeito, o que posso fazer? Ela não é uma pessoa qualquer para mim. Eu a amo. É a mulher da minha vida – revela Fábio, com a voz embargada – Éramos felizes, entende? Nunca tivemos dinheiro sobrando, nunca viajamos para lugares exóticos, nada para ostentar. Mas nos completávamos! Eu e ela. Coisas pequenas eram amplificadas e bastava que tivéssemos um a presença do outro para ficarmos bem, entende?

 

Beatriz não podia imaginar como era sua aparência antes, mas reconhecia que ele aparentava cansaço, fadiga e estresse. A barba estava crescida e não parecia ter sido planejada, tampando seu rosto encovado, com olheiras bem marcadas. O cabelo estava amarrado em um grande rabo de cavalo, e dava mostras de que não era escovado há alguns dias. E os olhos de Fábio confirmavam que já eram várias as noites que ele não dormia o que merecia – e precisava. A tatuagem que lhe tomava praticamente todo o braço destoava de todo o resto do conjunto. Ele estava sem dúvidas com a aparência envelhecida, parecendo até ter mais idade do que realmente tinha (Beatriz calculou que talvez não passasse dos 30).

A esta altura, a inquietação típica de começo de consulta, que afetava cerca de 80% das pessoas que passavam por ali, já tinha se amenizado. Fábio se mantinha afundado na cadeira, um braço sustentando a cabeça, o olhar vago, absorto em algum pensamento. Tinha uma ruga marcando o meio da testa. Olhou para ela quando se sentiu analisado, mas não decifrou o que encontrou nos olhos verdes de Beatriz.

 

- Eu entendo – ela afirma, sem piscar.

            Algo no seu tom de voz fez Fábio acreditar que ela entenderia até se ele não dissesse nada. Beatriz lhe parecia muito inteligente e sagaz – mas internamente ele usou o adjetivo “top”. Ele tinha a impressão de que ela era capaz de ler mentes – e talvez isso estivesse associado àquele chá. Estava sentindo uma vontade esquisita de falar (tudo!).

 

- Eu prometi à mãe da Bia, pouco antes de ela morrer, que cuidaria da filha dela. Eu preciso cumprir com a minha palavra.

- Mas para isso, você precisa se cuidar também.

- Eu sei – ele garante, enxugando com as costas da mão uma lágrima que tinha fugido sem querer – Eu venho tentando.

- Você tem alguém a quem recorrer? Alguém que possa te ajudar, um parente, algum familiar?

- Por quê? Você acha que isso ajudaria a Bianca?

- Certamente ajudaria você, compartilhando um pouco desse peso, até mesmo com as rotinas de casa, uma pessoa que seja confiável, que possa também conversar com ela, alguém que se importe.

 

            Beatriz notou todo o gestual de Fábio mudar, de repente. Ela gostava de observar a linguagem não verbal se manifestando, o corpo sempre entregando a mente. Era perceptível quando algo que ela dizia abria alguma porta dentro da pessoa que a ouvia.

 

- Nossa, sem querer você me deu uma ótima ideia.

- Ótimo. Quer compartilhar comigo?

- Eu quero – Fábio enxuga outra lágrima, desta vez mais afoito – Vou te contar uma coisa que ninguém mais sabe. Eu jurei que não contaria. Jurei à Catarina que esse seria um assunto que levaria para o túmulo. Mas não vejo motivo para não te falar.

- Só fale se sentir necessidade. E se estiver à vontade para isso.

- Eu estou bem – ele diz, a encarando. Sua impressão inicial havia se dissipado e sentia confiança em Beatriz. Há meses não se sentia tão calmo e tranquilo – A Bia nem desconfia dessa história, mas o pai dela não foi o único homem na vida da mãe. A Catarina me contou, perto já de ela morrer, sabe Deus por que, que antes de conhecer o Pedrão ela teve um caso com um cara, um figurão. Vai vendo! Ela era nova e quando se viu grávida, entrou em desespero. O tal sujeito era conhecido, tinha influência, status, grana. Era um bacana, desses caras que a gente vê desfilando abraçado em meninas de 20 e poucos anos.

- Isso quando ela engravidou da Bianca? – Beatriz pergunta. Tinha parado de anotar porque já estava perdida na narrativa de Fábio.

- Nada! Outro bebê, doutora. Antes da Bia – ele explica, movimentando a mão – Para resumir, minha sogra deu a criança para o cara cuidar. Entregou para ele, pá. Que nem em novela. E jurou que nunca iria procurar (o cara ou o bebê).

- O homem a deixou com medo? Fez alguma coisa contra ela?

- Claro, fez várias. Essa gente é ruim, dona Beatriz. A Catarina só fez isso porque passou os nove meses recebendo várias ameaças. O cara exigia que ela desse para ele a criança. Ela deu, ué.

- Certo, me ajude a entender onde você quer chegar. Você acha que isso pode ajudar de que forma? – ela pergunta, bebendo seu chá.

 

Estava acostumada a ouvir esse tipo de história. Casos de mães que doavam os filhos eram comuns, ela tinha alguns registrados. E percebia como eram situações difíceis, para todos os envolvidos, e como a depressão acabava virando um denominador comum. Sim, porque passado um tempo, a mulher entrava em depressão, muitas vezes consumida por um profundo arrependimento. E a criança, por sua vez, no momento em que descobria sua verdadeira história, invariavelmente também entrava em depressão, consumida por uma profunda revolta.

 

- Minha experiência me leva a crer que assuntos assim costumam aborrecer muito a pessoa envolvida. Eu recomendo cautela, Fábio.

- Mas talvez seja a solução para o problema da Bianca! Vai aumentar a família de repente!

- Não sei – Beatriz parecia receosa.

- Pensa comigo, ela sempre se queixou de ser sozinha, ficou muito abalada depois da morte da mãe (claro! A Catarina era muito gente boa, não tinha quem não gostasse dela), então engravidar foi, para a Bianca, a chance de começar a sua própria família, de aumentar (porque já tem eu e ela). Eu entendo o raciocínio dela!

- Você acredita que perder o bebê significou certa incapacidade de montar uma família? Que de alguma forma ela se acusa de ter estragado um sonho dela mesma?

- Tenho certeza disso – Fábio responde, rapidamente. Seus olhos tinham adquirido um brilho diferente – O que não é verdade. Engravidou uma vez, engravida outra. Sem mistério. O problema é que a gente mal consegue deitar junto, que dirá fazer outras coisas.

- Sei.

- Por enquanto, é tudo o que eu posso fazer por ela.

- E você achar esse irmão pode desanuviar a tensão? – Beatriz questiona, notando o embaraço do rapaz.

- Acho que sim. Você não?

- Não sei dizer. Não a conheço e só agora começo a ter conhecimento sobre a história dela, a história de vocês. Meu conselho é que você não tome ainda nenhuma decisão. Não fale nada para ela sobre esse assunto, Fábio. Dar um palpite é sempre muito arriscado, principalmente quando envolve a reação de alguém diante de informações desse tipo. E ela está instável, como você relatou, você não tem como prever a reação dela, tem? Agora, pode parecer ser a solução para o problema, mas isso pode significar também a piora do seu estado. É imprevisível demais, entende?

- Entendo – Fábio, porém, fazia uma cara de quem nem estava escutando direito aquilo que lhe era dito – Mas investigar esse assunto e procurar por esse irmão pode significar uma válvula de escape para mim. Entende?

- Bom, se isso vai aliviar o seu estresse, vá em frente. Até porque, se ocupar em encontrar alguém desconhecido, tendo poucas provas de sua existência, vai ser bom, vai te fazer se esquecer por alguns instantes dos problemas que vem enfrentando. É, como bem disse, uma excelente válvula de escape.

- Tenho mesmo poucas pistas. Mas acho que são mais do que suficientes (até porque, com um celular qualquer um vira espião): eu sei o nome do sujeito que engravidou a Catarina. Ela me disse. Nome e sobrenome.

- Ótimo! Procure por ele, então. E se possível, vamos conversando, conforme você avança nas suas investigações. Não diga nada para ela sobre isso, antes de falarmos a respeito.

 

Combinaram de se encontrar novamente dali a 15 dias. Fábio recebeu orientações de abordagem para conversar com Bianca, sobre os benefícios trazidos pelo tratamento. Beatriz era muito didática, até fez uma lista e entregou para ele manter sempre no bolso.

Se obtivesse sucesso, agendaria uma consulta para o mais breve possível (ainda naquela semana, se tivesse algum horário para encaixá-lo). Fábio saiu do consultório se sentindo mais forte, mais confiante (menos sozinho). Era como se tivesse colocado o dedo na tomada e o choque tivesse feito bem. Sentia-se mais desperto. Bianca certamente ia perceber como ele estava diferente, e ficaria convencida de que também poderia melhorar, depois de algumas sessões com Beatriz. Conversar era um santo remédio; conversar com quem sabia ouvir era ainda mais medicamentoso.

Beatriz chegou em casa exausta e foi direto para o banho. No fim do dia parecia sempre que um peso se acumulava em cada junta, em cada parte. Hoje, em especial, se sentia muito cansada e seu corpo pedia por repouso. Na verdade “pedir” não é a palavra correta. “Implorar” está mais de acordo. Seu corpo suplicava por descanso. Sua mente lhe pedia pela mesma coisa, gritando mais alto ainda.

Já tinha desativado seu modo analista, estava novamente vivendo no modo humana, e seu coração estava triste. Pensava em Fernanda sentindo o mesmo, e aí a sensação era ainda mais esmagadora. Sabia lidar com as suas frustrações, mas não podia fazer nada com relação às dela. “Mais um motivo para terminar”, disse uma voz dentro de sua cabeça, mas Beatriz não sentiu muita firmeza no tom.

Tomou um merecido banho, bem demorado. Ficou vários minutos sentindo a pressão forte da água quente nas costas e visualizou os nós sendo desfeitos (sentiu todos indo embora, ralo abaixo). Se ensaboou com dedicação, como que para provar ao seu corpo que não seria um rompimento amoroso que a faria deixar de ter amor-próprio. Repetiu isso para si mesma durante o banho, mas ao fim notou que aquela era uma tentativa falha de se enganar. Saiu do banheiro tão chateada quanto tinha entrado. Só que mais limpa.

Assumiu, então, que estava aborrecida com a decisão que tinha tomado (péssima decisão, totalmente errada, absurdamente equivocada). Assumiu que estava triste e que já sentia saudade de Fernanda. A franqueza com ela mesma desanuviou um pouco o peso que tinha sobre sua consciência. Mas só um pouco.

Vestiu-se sem pressa; colocou sua calça de moletom preferida e uma camiseta simples, de malha. Como sempre, dispensou a calcinha e, obviamente, o sutiã. Ainda estava na metade da semana, mas gostava da sensação que tinha sempre que ficava, verdadeiramente, “em casa”. Parecia até que de repente era sábado.

Analisou a correspondência deixada sobre a mesinha de cabeceira. Constatou, sem surpresa, que eram apenas algumas contas e material publicitário de duas ou três lojas. “Queria o quê?”, se perguntou, sem muita paciência consigo mesma. “Um cartão postal do seu cupido?”.

Desceu para a cozinha quando ouviu que Cícera ainda estava por lá. Ela certamente ia gostar de saber que Fábio tinha passado em consulta, mais cedo. Nunca entrava em detalhes sobre os atendimentos, mas fazia questão de dar feedbacks sobre as tentativas de entendimento com pessoas que Cícera recomendava. A mulher tinha uma inteligência peculiar, Beatriz se encantava sempre com a sua linha de raciocínio, aliada à sua generosidade. A conversa era boa também para ajudá-la a dar prosseguimento, quando havia.

A maneira como Cícera tinha contado a história de Bianca, dias atrás, demonstrou o quanto ela estava penalizada com a moça. Era mesmo uma história triste, perdas são sempre difíceis, a moça era nova. Mas Beatriz percebeu, no relato, que pela primeira vez Cícera demonstrava realmente preocupação com alguém (sem desmerecer todas as suas indicações anteriores). Imaginou, então, que por algum motivo a mulher – que segundo Cícera, quase nunca via –, era importante para ela. Cícera sempre tinha alguns misteriozinhos e Beatriz não entrava em detalhes sobre os seus segredos.

Ela contaria, se quisesse.

 

- Esse cheiro é de chá? – pergunta, sentindo o chão gelado debaixo dos pés descalços.

- Erva cidreira – responde Cícera, de costas para ela. Tinha começado a preparar a bebida quando ouviu a torneira ser fechada no andar de cima – Não vou nem te lembrar que ficar descalça, no chão gelado, depois de tomar banho quente, pode te gripar.

- Hum... Ok, certo – fala Beatriz, olhando para os próprios pés, se sentindo uma menina sendo repreendida. Sabia que Cícera estava de costas para ela desde que entrara na cozinha, mas não se prendeu pensando em como ela tinha notado a ausência de chinelos. Talvez pelo som (ou sua falta).

- Fiz pão de queijo para você.

- Beleza! – responde, sentando-se em uma banqueta alta e colocando na boca um minipão de queijo. Cícera sabia que provavelmente ela só comeria aquela bolinha e mais uma, e só para agradá-la – Hoje conversei com o Fábio. O marido da Bianca, amiga da irmã da sua vizinha. A que perdeu o bebê depois de cair, sabe?

- Sim. Ela também foi? – pergunta Cícera, colocando na mesa, à frente de Beatriz, uma xícara grande, fumegante.

- Não. Ele foi sozinho.

- Você acha que foi uma decisão correta a que você tomou, Bia? –Cícera pergunta, antes que algo mais fosse dito.

 

Beatriz tinha acabado de enfiar mais um pãozinho na boca e, mastigando devagar, olhou para a mulher pequena à sua frente. Seus olhos se contraíram por um instante, imaginando como Cícera conseguia descobrir as coisas.

 

- Não acha certo que ele procure pelo irmão da moça, Cícera? – pergunta, tentando esconder, sem muito sucesso, a surpresa em sua voz. Ainda mastigava parte do que tinha na boca quando ouviu a resposta.

- Me referia à Fernanda, Bia.

 

Beatriz quase se engasgou com o pãozinho.

 

 

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

 

 


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 15 - Quinze:
Lea
Lea

Em: 24/01/2022

Revelador saber que a Bianca tem um irmão ou seria uma irmã,cujo nome atende pó Beatriz?? Será???

Cícera já amo você!


Resposta do autor:

 

Será, será?rsrsrs

#timeCícera #teamamosCícera 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Alex Mills
Alex Mills

Em: 24/11/2021

Como espalhar o segredo do Fábio com a sogra em poucas palavras, dona Beatriz  xD

 

Dona Caribu pesquisou bem sobre uma sessão, achei bem coerente (como profissional). Ou vai saber se é a sua segunda profissão, quem sabe? Ouvir primeiro e não fazer suposições ou julgamentos são os princípios básicos, mas os mais importantes que as pessoas falham no dia a dia. Acho que a Teresa devia investir na carreira hehe

Obs: Qual o contato da Beatriz? Preciso de um psiquiatra assim para encaminhar meus pacientes! Urgente.


Resposta do autor:

 

Oi, dona Alex! <3

Que bom saber que a sessão de dona Beatriz está minimamente coerente! Podia ser minha segunda profissão, mas nem é rs Qdo escrevi, foi de abelhuda msm rs

Teresa tem perfil de analista, assim como a Cícera rs

Vou ver se a Bia autoriza de eu passar pra vc o contato dela rs 

Beijos!

 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

NúbiaM
NúbiaM

Em: 24/06/2021

Desafiador buscar entender a mente humana. Rende infinitas conjecturas.

A Bia encerrar uma relação para se preservar emocionalmente, possui uma profissão que trata de emoções, sentimentos, ensina às pessoas o autoconhecimento e como enfrentar a vida com equilibrío,  mas sabota a própria história.

"Casa de ferreiro, espeto de pau". Kkkkk

Abr

P.S. Elas são irmãs!? Lindo casal, a Bianca e o Fábio, uma sintonia maravilhosa.


Resposta do autor:

 

É bem isso: santo de casa não faz milagre rsrs

Achei msm uma contradição tudo isso, mas faz sentido, né. A gente se blinda às vezes de cada coisa...

Não vou responder seu PS pq em breve ele será respondido rsrs

Vc volta aqui e me conta!rsrs

Beijos!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 20/05/2021

Mistério.


Resposta do autor:

"Mistérios da meia-noite, que voam longe, que você nunca, não sabe nunca, se vão, se ficam, quem vai, quem foi"!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

cris05
cris05

Em: 19/05/2021

Caraca maluco! As Bias são irmãs? Tô passada!

Ansiosa também pela resposta da Bia Beatriz pra Cícera.

Queria uma Cícera pra mim (acho que eu e a torcida do Flamengo rsrsrs).

Ai como eu amo essa história!

Beijos

 


Resposta do autor:

rsrsrs

Não sei se são, será que são?rsrs

Amiga, imagina que eu queria tanto uma Cícera pra mim, que criei uma!rs

Gosto que goste da história!

E os capítulos só ficam completos depois que vc comenta! <3

Beijos!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Drea
Drea

Em: 19/05/2021

Kkkkk... me acabando, kkkk... No início desse capítulo achei q o amor de Fábio é  Bianca serviria para que Beatriz reverse aos poucos alguns conceitos , porém já vi que ñ vai ser bem isso, pode até vir a ajudar, só que existe algo muito além.... A ligação das Bias é fator genético são irmãs e não estou perguntando, estou afirmando ( kkkk, ousada). Fábio vai descobrir isso, no início será difícil mas vão conseguir. 

Obs: Prevejo uma linda amizade; Cícera deve saber de algo, ela sempre sabe.


Resposta do autor:

 

Hahahaha

Olha, te digo uma coisa: eu gosto de surpreender!

 

P.S.: bruxa! A Cícera!rsrsrs

Responder

[Faça o login para poder comentar]

NovaAqui
NovaAqui

Em: 19/05/2021

Menina! Que bafão

Seria que as Bias são irmãs? Uau!

Essa Cícera é bruxa das boas kkkkk

Eu estou achando ótima a história

Mistérios, amor e algumas briguinhas.....

Ansiosa pela resposta de Beatriz para Cícera

E ansiosa pela resposta de Bianca para Fábio

Curiosidade é meu nome!!!

Abraços fraternos procês aí!


Resposta do autor:

Bafão msm, menina!rsrs

Vamos aguardar os próximos capítulos!

Feliz que esteja gostando!

Um beijo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web