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Amor incondicional por caribu

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Palavras: 3417
Acessos: 3579   |  Postado em: 20/05/2021

Dezesseis

Eram necessários três ônibus para chegar até o consultório de Beatriz, e mais três conduções para voltar para casa. Fábio se achava uma pessoa de sorte, tinha uma habilidade inata, própria de quem pega transporte público: sempre “pressentia” quem desceria próximo, e parava perto, e sentava logo. Acompanhava pelas janelas a vista mudar, o cenário ia se alterando, de melhor para pior, no quesito beleza, limpeza e até largura das ruas, que iam se afunilando, conforme os ônibus barulhentos cumpriam com seus trajetos, numa velocidade meio errada.

Aquele era sempre um momento de reflexão. Fábio não era de pensar muito, mas sua cabeça ficava a mil quando andava de ônibus. Gostava de ver as pessoas nas calçadas, imaginava o que estariam fazendo, quem seriam, como viveriam. Gostava das conversas nos assentos próximos. Se interessava pelos causos, pelas pessoas que aprontavam peripécias que caíam na boca do povo (e nos seus ouvidos). Gostava de comparar o comportamento dos motoristas, e dos cobradores, que passavam a vida enfiados naquelas latas metálicas, com uma autoridade que só existia ali. Ele reclamava do seu trabalho, mas aquele certamente era mais difícil – apesar de passar o dia todo dando rolê pela cidade.

Preferia mil vezes se sujar de graxa.

Ao desembarcar ele nem deu muita atenção ao movimento que sempre tinha em volta da pracinha. A vida da vila desembocava ali, que a esta hora estava iluminada por lâmpadas que vinham de todos os lugares, abastecidas por ligações clandestinas nos postes (o famoso “gato”). O som ambiente vinha das diversas caixinhas de som, quase todas no volume máximo, cada uma tocando uma música diferente, e das crianças que brincavam ali perto, aos berros. A cada três metros Fábio cumprimentava alguém. Um sujeito no bar, a mulher da venda, o tio da pipoca, o olheiro da biqueira.

Mesmo exausto, chegou em casa feliz. Estava satisfeito com a sua atitude em procurar pela psiquiatra. Era lá na casa do chapéu, mas foi uma conversa proveitosa, tinha valido a pena. Fábio se sentia mais leve, como se tivesse tirado um peso de cima do seu coração. Ele só não assoviava para evitar aborrecimentos – sabia que qualquer lampejo de felicidade poderia ser mais um motivo para irritar e contrariar Bianca. Tudo a irritava, até (e principalmente) as coisas que Fabio fazia. Já tinham brigado por causa do jeito que ele comia, da louça que tinha lavado, e até por causa do ruído que fazia quando ele respirava.

Ele sabia que a conversa com a médica não faria tudo simplesmente mudar, como num passe de mágica, mas era como se agora ele estivesse, de alguma forma, “blindado”. Recarregado. É o que acontece quando a gente se ilumina pelo lampejo da esperança.

Bianca ficava o tempo todo remoendo e se culpando pelo acidente, e nem mesmo o tempo que os afastava cada vez mais daquele fatídico dia parecia suficiente para fazê-la esquecer. Pelo contrário; quanto mais ela “cozinhava”, mais fedia. E a angústia corroía Fábio, e ele se preocupava com o fato de ela nunca mais voltar ao normal. Como seria viver para sempre assim?

A culpa parecia consumi-la de uma maneira tão eficiente, que ela condenava a decisão de Fábio de continuar tocando a vida. Criticava que ele permanecia levantando cedo todas as manhãs para ir trabalhar. Logo ela, sempre tão cricri com esse assunto. E por isso a primeira briga do dia era sempre pelo mesmo motivo: sobre a vida que continua, os boletos que vencem, a necessidade de continuar colocando comida na mesa. Brigavam pelo óbvio.

Ele sempre evitava retrucar ou responder às agressões de Bianca. Sabia que muitas vezes aquela rispidez era só para chamar a sua atenção e exatamente por isso ficava quieto, mesmo quando ela fazia insinuações absurdas, e usava palavras ásperas.

Porém, isso exigia um autocontrole que nem sempre Fábio conseguia ter, e às vezes só percebia que estavam brigando quando a ouvia gritar, e ele meio que despertava, como num transe esquisito. Aí é que percebia o que ela estava dizendo, por exemplo, na última briga, que Bianca disse ter raiva dele. O que ela falou antes disso, ninguém sabe.

Se não bastasse o desgaste de todas essas desavenças, Fábio se criticava também, e aquilo o consumia. Afinal, aos olhos de Bianca ele não estava abalado com o ocorrido, e aí ele se sentia mal por não estar pior.

Era cansativo. Mas pela primeira vez, em dias, via uma possibilidade de luz no fim do túnel. Compreendia, com mais facilidade agora, que nada dura para sempre – nem nossos piores momentos. Isso pode servir de boia para quem está se afogando – e quer se salvar, como era o seu caso.

Não era uma pessoa insensível. Só não gostava de viver no lodo da tristeza. Preferia os dias de sol. Mas entendia que soaria meio absurdo demonstrar que estava feliz – ou sentindo algo próximo disso.

            Já estava escuro quando virou a esquina da sua rua. O trajeto entre o ponto de ônibus até ali não era longo, e Fábio seria capaz de fazê-lo de olhos fechados. Tinha nascido na vila, desde menino andava por aquelas vielas, conhecia cada beco. Quando menino seu maior objetivo era jamais precisar sair dali. “Ter que morar em outro lugar é castigo”, ele dizia.

            Respirou fundo e contraiu a boca numa espécie de sorriso, discretamente, como se estivesse acessando alguma memória. Estava a poucos metros de casa quando notou uma figura sentada no meio-fio. De imediato, reconheceu Joaquim.

 

- Ei, filhão! – ele chamou, se agachando para abraçá-lo.

 

Joaquim levantou a cabeça e viu o pai. Tinham se visto na manhã do dia anterior, mas o abraço foi tão apertado que parecia que não se viam há anos. Fábio notou que o menino tinha chorado, mas preferiu não perguntar o motivo. Sabia que qualquer menção a este fato desencadearia mais choro. E, afinal, nem precisava perguntar o porquê. Assim como ele, o filho estava envolvido até as tampas com todos os acontecimentos que vinham afetando suas convivências.

Ele tinha só alguns meses de vida quando conheceu Bianca e era visível que estava sofrendo com tudo o que vinha acontecendo. De repente, parou de ter a atenção da madrasta, que agora quando se voltava para ele era sempre para reclamar de alguma coisa que ele tinha feito, ou lhe aplicar algum castigo.

 

- O que você está fazendo aqui fora?

- Esperando você.

- Mas já está tarde, Joaquim. É perigoso você ficar aqui fora e já conversamos sobre isso. Lembra que vimos juntos na tevê todos aqueles assaltos que acontecem o tempo todo na cidade? Lembra, que o papai falou que era perigoso?

- Eu tirei tudo do bolso. Meus carrinhos e até as figurinhas que ainda não colei no álbum. Se viesse bandido, não ia achar nada.

- Você é muito esperto! – afirma Fábio, envaidecido com a ingenuidade do garoto.

 

Estava uma noite fresca, uma brisa bem-vinda circulando por ali, movimentando de leve as folhas da árvore da calçada. Fábio viu vários vizinhos sentados nas portas de suas casas, numa cena típica, e cumprimentou um casal ali perto, levantando a mão. Olhou novamente para o filho. Sentiu que por algum motivo o menino não tinha entrado e por isso sentou-se ao seu lado.

 

- Como foi seu dia?

 

Joaquim não respondeu. Apenas levantou e abaixou os ombros, algumas vezes. Tinha em uma das mãos um graveto, que usava para rabiscar no chão, e manteve os olhos focados ali. Ultimamente aquilo estava virando costumeiro: Joaquim falava cada vez menos.

Fábio observou o menino. Percebia o quanto o filho havia crescido. Ainda era novinho, tinha a estatura típica de uma criança menor de quatro anos. Apesar de sua ligeira magreza, fator que sempre lhe dava a impressão de ser frágil, e até o diferenciavam um pouco do restante das crianças da vila, neste momento, sentado ali ao seu lado na calçada, parecia mais maduro do que no encontro anterior. Muito mais crescido do que antes do acidente de Bianca.

Mas era uma falsa maturidade – e Fábio se viu comparando o próprio filho com frutas cultivadas em estufa. Notavelmente boas por fora, mas por dentro é perceptível que amadureceram contra sua própria natureza. Precocemente.

Joaquim parecia ter caído do pé antes da hora. De maneira forçada. Fábio certamente pediria ajuda para Beatriz na próxima consulta. Precisava ajudar o filho para que aquele evento não o traumatizasse por toda a vida.

 

- Como você veio para cá? – ele perguntou, olhando para o menino, que evitava encará-lo. Aquilo era atípico. Geralmente, durante a semana ele sempre ficava com a mãe.

- A mamãe me trouxe.

- Ela não está em casa?

- Não. Saiu.

- E por que você não ficou na casa da vovó?

- A vovó foi fazer unha.

- E a mãe Bia? Ela não está lá dentro? – Fábio apontou para a casa com a cabeça. Teve como resposta, de novo, um levantar de ombros – Você jantou?

 

O menino só balançou a cabeça, em negativa, e jogou para longe o graveto, como que dando um sinal. Fábio o puxou pela mão e se levantaram. Caminharam de mãos dadas, e entraram juntos. Já era tarde e Joaquim certamente estava com fome.

A casa estava toda na penumbra, com exceção do brilho da televisão. Ao acender a luz, torceu para que tivesse ainda um pouco de comida na geladeira; não estava com vontade de cozinhar, àquela hora. Fábio achava muito chata essa rotina de trabalhar e ainda ter que fazer comida, todo dia, enche o saco.

Notou que o garoto retesou ao entrar na sala – apesar de Bianca não ter movido nem um único músculo em sua direção. Estava deitada no canto, apoiada nas almofadas, e parecia hipnotizada por algo que via no celular. A televisão estava ligada, passando alguma novela que não recebia sua audiência. Fábio não gostou da reação de Joaquim diante dela.

Ficou na dúvida se deveria cumprimentá-la. Já tinham brigado tanto porque ele disse “oi” quanto porque não disse. Na dúvida, só disse “chegamos”, quando fechou a porta, assim que entraram. Não que ela não tivesse visto, mas...

Colocou Joaquim sentado em um banquinho na cozinha e pegou duas panelas que tirou da geladeira. Riscou três fósforos até finalmente conseguir acender a boca do fogão. O menino observava cada gesto do pai, mas sempre olhava de canto para Bianca, que permanecia imóvel, perto dali, alheia às movimentações na cozinha. Fábio fritou os ovos que estavam no pote debaixo da pia e serviu como complemento ao arroz e feijão que tinha acabado de esquentar.

 

- Bia? – ele chama – Comer?

 

            Enquanto esperava a reação da mulher, que demorou alguns segundos para acontecer, Fábio pensou em como seus diálogos estavam virando quase monossilábicos. Triste, considerando que eles sempre foram duas maritacas.

 

- Estou sem fome, deixa aí, mais tarde eu como – ela resmungou.

 

Pai e filho jantaram em silêncio. O ruído dos talheres arrastando no fundo dos pratos era o único som na casa, além da televisão, que transmitia agora o início de uma partida de futebol. Bianca mal tinha se movido nas últimas horas, e o cheiro do almoço requentado não a entusiasmou o suficiente para fazê-la querer se mexer, se levantar, comer, viver. Preferiu permanecer ali, deitada, imóvel. Sentia-se cansada demais para se levantar. Não parecia ter forças nem mesmo para brigar – algo incomum para ela nos últimos tempos. Ainda mais porque vinha considerando a raiva como o seu combustível. Estava vivendo à base do ódio.

Fábio lavou a louça do jantar e deu banho em Joaquim. Conversaram longamente sobre a sujeira em suas roupas. Parecia que ele tinha passado o dia limpando as rua da vila com o próprio corpo. Fábio quis fazê-lo entender como era trabalhoso esfregar roupa encardida no tanque, mas Joaquim estava distraído com as bolhas provocadas pelo sabonete.

Decidiu que o menino deveria dormir com ele aquela noite. Já era tarde para levá-lo embora, e não queria aborrecer sua mãe, caso Regina ainda não tivesse voltado do compromisso. Além disso, eram grandes as chances de encontrar a mãe de Joaquim sob uso de substâncias tóxicas, ou alcoolizada, ou ambos.

 

Joaquim adorou a ideia. Não era segredo para ninguém que, se dependesse dele, moraria com o pai e Bianca. Quer dizer, isso antes do ocorrido. Agora já não tinha mais tanta certeza, mas ficou contente por dormir ali mesmo assim. Escolheu um pijama que combinava com o de Fábio, e penteou o cabelo sozinho.

Fábio sabia que quando estava por perto, Bianca era sempre mais gentil com o menino – ou menos agressiva. Assim que arrumou sua cama, pediu para que Joaquim fosse dar um beijo de boa noite na madrasta, antes de se deitar.

Beatriz tinha proposto como parte da estratégia de reaproximação, que aos poucos eles voltassem a fazer as coisas que faziam antes, resgatando a rotina. Disse que mesmo com Bianca agindo de maneira diferente, ele precisava voltar a agir como antes. Era preciso fazê-la entender que, apesar do acidente, da perda, Fábio e Joaquim ainda eram Fábio e Joaquim. E ainda guardavam o amor que nutriam por ela. Esse amor a salvaria.

A médica afirmou que isso poderia não surtir nenhum efeito de imediato, mas Bianca certamente ia perceber uma mudança de atitude – e isso a faria repensar seus próprios atos. Ao menos a ideia era essa.

O menino recusou-se a princípio, mas aceitou negociar quando o pai garantiu que ficaria por perto, vigiando, e que Bianca desta vez não lhe falaria nada de rude. Percebeu, através dos gestos e atos de Joaquim, que seu medo por Bianca era real, e por um momento isso o deixou bastante angustiado. Seu impulso inicial foi caminhar até a sala e xingar Bianca. Mostrar o que ela estava causando em Joaquim, um menino tão bonzinho, que gostava tanto dela.

Só que antes de fazer qualquer movimento, de repente, Fábio se lembrou do gosto do chá de camomila que tinha bebido no consultório, mais cedo. Que maluquice, um sabor voltar do nada!

 

Ele nunca foi de bebidas quentes, era raro até beber café – sempre disponível tão fartamente, onde quer que ele fosse ou estivesse. Achava que o clima era mais propício para coisas geladas, e que chá era coisa de gente esnobe, que tem ar-condicionado, e daí não sente a quentura rasgando por dentro.

 O consultório de Beatriz estava com as janelas abertas. O chá nem queimou!

 

- Joaquim, a gente precisa lembrar para a mãe Bia que a gente a ama. Ela está chateada, mas vai passar, e até lá, ela precisa lembrar que não está sozinha, que somos uma família e que ela é importante para nós dois. Pode ser difícil no começo, mas a gente vai conseguir. Juntos!

 

O menino assentiu, como um soldado corajoso, ao aceitar sua missão numa batalha. Nunca tinha ouvido o pai falar daquele jeito, sobre aquelas coisas, sentimentos. Até ali, na verdade, sempre que tinha escutado Fábio falar sobre amor era associando-o a “florzinhas”, um tipo de pessoa que ele ainda não sabia o que era, mas pelo tom que o pai usava, não parecia ser algo exatamente positivo ou bom.

Ele amava Bianca, sabia. E o olhar encorajador do pai foi suficiente para fazê-lo caminhar alguns passos até a sala. Era só um beijo de boa noite, tudo ficaria bem.

Fábio fez um gesto encorajador para o menino, com os polegares, e ligou o chuveiro, fingindo tomar banho. Estava determinado, graças à Beatriz, a hastear naquela casa uma bandeira branca, propondo paz. E o momento era agora.

Ficou espreitando pela porta, cuidando para que Bianca não machucasse Joaquim (inclusive com palavras grosseiras). Viu o filho caminhar cauteloso, arrastando os chinelos como Fábio fazia, e parar próximo dela. Pareceu-lhe, porém, que ele escolheu manter uma distância segura entre os dois.

- Boa noite, mãe Bia – disse, com a voz um pouco rouca.

 

Bianca nem se mexeu. Continuou olhando para a tela do celular, mas Joaquim reparou que ela estava sem fones de ouvido. Olhou para a televisão, só para constatar que o aparelho também não estava com volume alto. Coçou a cabeça, um pouco sem graça. Ela parecia realmente concentrada no que estava assistindo (ou jogando) e ele imaginou que talvez não tivesse escutado. Falou, então, mais alto.

 

- Ei, mãe Bia! Boa noite!

 

Bianca mexeu apenas os olhos. Seu corpo e sua cabeça continuavam em direção à televisão, que emitia o prolongado som de um homem gritando a palavra “gol”. Ele sabia que não era nenhum jogo importante, porque o pai nem estava ali para assistir, e gritar com o narrador (às vezes até antes!). Joaquim adorava quando saía gol, e já tinha aprendido que só alguns deveriam ser comemorados.

Ela encarou o menino à sua frente. Dava para ver que ele é quem tinha penteado o cabelo, porque estava repartido de lado (que era como ela penteava, e ele copiava. Fábio sempre penteava tudo para trás, numa tentativa de moicano – que não funcionava com o cabelo de Joaquim). De sua pele ligeiramente morena era possível sentir o cheiro adocicado do sabonete, e o aroma cítrico do xampu para crianças – “aquele que não sai ‘laguiminha’ do olho”, segundo Joaquim. Ele estava com o pijama que ela comprou para ele. Lembrou-se que na ocasião comprou um modelo semelhante para Fábio – o que fez com que o menino se extasiasse e, mal conseguindo controlar sua felicidade, risse alto enquanto estavam na fila para pagar. O pijama era branco com a gola azul-marinho, e tinha como estampa pequenos dinossauros coloridos.

Bianca reparou que a roupa tinha sido lavada e passada recentemente. Notou que a camiseta estava para dentro do short. Apesar do calor percebeu, com o canto dos olhos, que o menino havia colocado nos pés a pantufa que tinha o formato de uma cabeça de gato. Ela sabia que Joaquim só gostava das pantufas porque ela é quem tinha dado. Em sua sinceridade típica de criança, ao ganhar ele comentou algo sobre preferir uma pantufa do Batman. “Mas olha, mãe Bia! O gatinho é bebê! E eu também sou bebê, por isso você comprou! Eu vou usar, tá bom?”. Aquela lembrança a fez suspirar.

Joaquim a olhava apreensivo. Retorcia o pescoço comprido da girafa amarela de pelúcia que tinha nas mãos, com as sobrancelhas um pouco arqueadas. Sua respiração estava descompassada e seu peito chiava um pouco a cada inspiração. Bianca notou que o calor – ou o nervosismo – tinha causado uma pequena concentração de suor acima do lábio, que tremia, eventualmente.

Bianca constatou, muito triste, que já fazia dias que não olhava para aquele menino, que sempre a fazia rir com sua imaginação fértil, e seu humor tão característico. E ali estava Joaquim, em pé à sua frente, implorando por um pouco de atenção. Seu coração doeu, e ela começou a chorar, sem querer.

 

- Boa noite, meu amor – Bianca disse, enfim.

 

As sobrancelhas do menino arquearam-se ainda mais e durante alguns segundos ele a encarou, um pouco descrente. Preparado para receber alguma agressão verbal como resposta, Joaquim se surpreendeu. Há tempos não ouvia Bianca falar com o tom de voz doce. Na verdade, ela mal o chamava pelo nome, e em vários momentos Joaquim se perguntou se Bianca realmente se lembrava de quem era ele.

Ela de repente parecia ter se esquecido de como era falar sem gritar, de como era viver sem estar sempre muito zangada, e há mais tempo ainda não olhava para ele daquele jeito. Chorou, só porque ela estava chorando. Na verdade, ele estava feliz.

Joaquim atirou-se nos braços de Bianca e a abraçou com força. “Gadu, mamãe Bia”, agradecia, com a cabeça enterrada no pescoço dela. Bianca retribuía, afagando o cabelo do menino. Aquele abraço significava para Joaquim o fim de um período de grande tristeza. Para Bianca parecia significar o mesmo.

Tocado, Fábio entrou no chuveiro, pensando que talvez Beatriz tivesse mesmo razão. Não era justo esperar só de Bianca alguma atitude, atribuir a ela, somente, a responsabilidade de resolver aquele caos; cabia a ele também salvar sua esposa. E a Joaquim.

Ao sair do banheiro, encontrou Joaquim e Bianca dormindo abraçados. Apesar do estado de relaxamento de ambos, era notável que seus braços se apertavam, mutuamente. Fábio teve a impressão de que os dois sorriam em seus sonos.

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

 

Joaquim <3 <3 <3


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Comentários para 16 - Dezesseis:
edianerocha
edianerocha

Em: 21/01/2023

Cada capítulo é um suspiro diferente. Esse além de suspiro, teve laguiminha tbm. 

Oww Joaquim. ^^

Responder

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Lea
Lea

Em: 24/01/2022

Joaquim é um doce de menino!


Resposta do autor:

 

Ah, ele é! <3

O mais doce que já criei! <3

 

Responder

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cris05
cris05

Em: 20/05/2021

Autora, pelamor, tô me acabando de chorar aqui! Agora eu que vou ter que tomar chá rsrsrs.

Fábio é um espetáculo! 

E Joaquim? Meu Deus, que vontade de pegar ele no colo e dar muito carinho!

Ainnn...torcendo muito por Bia Bianca. Ela vai ficar bem, sei que vai.

Amei o capítulo!

Beijos!


Resposta do autor:

rsrsrs

Tomou o chá?rs

Que bom que gostou, querida!

Beijos!

Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 20/05/2021

Tem um olho aqui na minha lágrima!

Tomara que Bianca vá melhorando aos pouquinhos

Fábio está sendo uma pessoa bem legal. Do bem! Espero que ele consiga ser feliz!

Adorei o capítulo

Emoção pura! S2

Abraços fraternos procês aí!


Resposta do autor:

 

Ai, o capítulo é bem fofinho msm! Eu gosto <3

Bom que vc tb tenha gostado!

Beijos!

Responder

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