Capitulo 25
Ainda que Brigitte fosse imprevisível, aquela demora em responder ao email já ultrapassava os limites do razoável. Era regra da editora que toda reunião editorial seguisse uma pauta, e que impreterivelmente era sancionada pela chefe. A reunião com Zyan decorreria num jantar, mas era trabalho e precisava seguir um método.
Elena olhou as horas e decidiu ir à sala da chefe. Já passava das sete e o jantar estava marcado para as oito horas, e não seria em Manhattan. Precisava correr para não chegar atrasada, já que nada poderia dar errado naquele encontro.
Depois de bater três vezes na porta da sala da chefe, entrou. Pela centésima vez ficou admirada com a beleza e a sumptuosidade daquele espaço. A vista sobre a cidade era um sonho que parecia-lhe tão distante...
Sacudiu a cabeça e chamou a chefe. Sabia que ela estava por ali pois o cheiro intenso de perfume o denunciava.
Brigitte apareceu vindo do banheiro privativo e Elena olhou-a admirada.
--Wow, estás linda!
--Gostas?
--Hum-hum!
--Esse japonês é fabuloso e detalhe, peça única.
--E cara! - Elena fez uma careta. Aquele estilo de roupa não a atraia, mas sabia reconhecer a qualidade e o requinte.
--Ah, apenas alguns milhares de dólares, mas vai valer cada centavo.
Ela admirava a própria figura ao espelho, enquanto retocava a maquiagem impecável.
--Brigitte, não aprovaste a pauta para a reunião com o Zyan. Já estou um pouco atrasada...
--Não te preocupes com isso, querida.
Querida. Elena não gostava quando ela a tratava assim. Tinha sempre a sensação que era uma criança ou uma marionete.
--Mas temos regras que tu criaste e...
--Querida, eu trato disso.
--Não entendi. Eu vou jantar com o escritor...
Brigitte sorriu e sentou na secretaria procurando alguma coisa no computador.
--És uma funcionária exemplar, mas falta-te alguma malicia, minha querida.
Sem saber o que viria a seguir, Elena já se sentia muito irritada. Não gostava daquele tom...
--Podes explicar-me o que está a acontecer?
--Vou jantar com o Zyan. Sozinha!
--Hmmm...
--Depois, eu me reúno contigo e comunico-te o que decidimos.
--E o convite? E os emails?
Brigitte riu de forma sarcástica e bateu a cabeça.
--Elena, não sei em que mundo vives, mas vou ser bastante clara. Está em vias de acontecer alguma coisa entre mim e o escritor prodígio, mas preciso que as coisas aparentem ser estritamente profissionais.
Elena continuava sem entender e o nervosismo já ameaçava explodir-lhe a cabeça.
--A troca de emails, o convite e essa coisa toda, foi ideia minha. Não quero desconfianças e sabes que meu marido de vez em quando aparece por aqui...enfim....
Nada daquilo fazia sentido para Elena.
--Estás a ter um caso com o Zyan? É isso?
--Não seja tão simplista, menina. Será um jantar de negócios, com benefícios...
--E para quê me envolver nisso? Eu tenho... -Ela ia dizer que tinha mais o que fazer, mas desistiu.
--Elena, como eu já disse há cinco minutos, não deixo rastos para me pegarem. Adorei que tenhas ficado até mais tarde, assim, ninguém sabe do teu destino. Confio na tua discrição.
A última frase soou como uma ameaça ou algo bem próximo.
--Aproveita para dormir mais cedo, querida. Já eu, espero não ter tempo para pregar o olho.
Com uma gargalhada esplendorosa, saiu da sala.
Elena olhou de um lado para o outro como que para certificar-se de que não tinha sido um delírio. Com passos arrastados, saiu da sala da chefe, atravessou um corredor e entrou no seu espaço. Caiu pesadamente na cadeira e girou por algum tempo até sentir-se tonta. Com uma sensação de enjoo, debruçou a cabeça no tampo da mesa e esticou os braços. Teve vontade de arremessar tudo, mas controlou-se. Quem era mais idiota? Brigitte ou ela?
--Mas afinal, eu trabalho numa editora de grande prestigio ou num parque de diversões para satisfazer os caprichos dessa doida? - Questionou-se em alta voz.
Sem repostas claras, permaneceu naquela inércia física por algum tempo.
Ainda sem forças para reagir, tentou ligar para Milanka, mas ela não atendeu. Sabia o que a amiga diria, o de sempre, e ao que parece ela estava coberta de razão.
*****
Joy editava algumas fotos de trabalho e cantarolava baixinho. Vez ou outra sorria com os pensamentos que lhe vinham à mente. A frustração de não sair com Elena e concretizar a surpresa, fora compensada por um surto de criatividade inimaginável. Agradeceu por sua escola de vida como empresária que não podia errar. Aprendera sempre a ver as coisas por vários ângulos.
Aguardava um email de um possível trabalho muito importante quando viu Zayco entrar pelo estúdio. Ele prostrou-se ao lado da cadeira e olhou-a de frente.
--O que foi? Queres carinho? Atenção? Só mais um minuto e serei toda tua. Aguardando um email importante...
Ele latiu e deitou completamente no chão com uma expressão que Joy já conhecia.
--Estás triste, meu amor? Eu também fiquei um pouco desapontada. Mas temos que entender que é o trabalho dela e não tinha como adivinhar que eu estava a preparar essas coisas...ok?
Zayco subiu as duas patas dianteiras nas pernas de Joy e latiu mais uma vez.
--O que foi? O que tu queres?
Ele saiu do estúdio e Joy foi atrás. Na cozinha, ele latiu mais uma vez olhando em direção às embalagens de comida que estavam no balcão.
--Estás com fome? Não, acabaste de comer. Ah, queres que eu coma...oh Zayco, não tenho fome...
Ele correu para a porta de entrada e só assim Joy entendeu que ele queria passear.
--Zayco, está uma noite bem fria...
Ele latiu mais uma vez e com veemência.
--Ok! Já entendi. Vou buscar um casaco mais quente e vamos passear.
Sorriu ao vê-lo abanar o rab*.
*****
Joy e Zayco andavam tranquilamente pelo Astoria Park, quando por um breve descuido, ele soltou-se da coleira e correu livremente por entre as árvores.
--Zayco...Zayco, agora não. Está muito frio.
Só lhe restou correr atrás do animal que parecia uma criança feliz fazendo ziguezague por entre as árvores. Por instantes Joy perdeu-o de vista e quando o viu, estava sentado ao lado de uma mulher num banco. Joy gritou-o e ele olhou para ela e permaneceu onde estava. Ela deu mais alguns passos e para seu absoluto espanto, percebeu que era Elena no banco. Pareceu-lhe ilusão da sua cabeça, mas mesmo assim correu até lá e sentou-se. Sim era Elena e brincava com Zayco. Ainda ofegante, Joy foi abraçada por Elena que não disse nada. Abraçou-a o mais forte que pôde e ficaram em silêncio. Também em silêncio e deitado nas quatro patas, Zayco observava a cena.
Algum tempo depois, sem que o silêncio tivesse sido quebrado, Joy teve a necessidade de entender o motivo do encontro inesperado e do desalento notório de Elena.
--O que aconteceu? - perguntou ainda com Elena nos seus braços.
--Eu sou uma idiota. Apenas uma menina de uma cidadezinha rural com sonhos megalómanos e que é facilmente dragada pela cidade gigante. Uma idiota!
--Elena, o que aconteceu? Não deverias estar num jantar?
--Acreditas que era uma farsa? - Ela finalmente encarou Joy.
--Farsa? Para quê? Como?
--É o cúmulo da sordidez, ou talvez eu seja uma ingénua, idiota, sei lá...
--Para. O que aconteceu?
--Minha editora chefe e que por acaso é dona daquele circo, e o escritor que eu anseio editar a obra, estão ávidos por umas horas de sex* e me usaram.
--Menage?
Elena arregalou os olhos e Joy soltou uma gargalhada.
--Não! Estás doida? Eu não sou moderna a esse ponto. - Sorriu e bateu com a cabeça.
--Pelo menos arranquei-te um sorriso.
--Ah, grandes coisas...tu sempres fazes isso.
Sorriram.
--Explique-se melhor porque a imagem que criei há bocado foi de uma tórrida cena de sex* a três.
Risos.
--Nem brinques com isso. Não vejo nada de interessante na Brigitte e eu não misturo trabalho e prazer.
--Hmm, já entendi essa parte. O que aconteceu?
--Uma cena patética que até agora eu não consigo acreditar. O jantar com o escritor nunca existiu, ou pelo menos, a minha participação nele. Tudo foi um esquema para parecer que era a pratica da editora e quando fui pedir que ela verificasse a pauta, a mulher riu na minha cara.
--Hã?
--Hum-hum e disse que quem iria ao jantar era ela e que ninguém na editora poderia desconfiar. Por isso, o circo.
--Mas ela precisa fazer isso? Agir como uma criança?
--Precisa, porque o marido é controlador. Também não sei até que ponto isso é verdade pois esse homem raramente aparece na editora e passa a vida a viajar.
--Pode ser fetiche...
--Pode ser qualquer coisa porque aquela mulher é desequilibrada.
--Já não vais editar o livro?
--Vou, ou não. Sei lá. Estou cansada, Joy.
Joy acariciou-lhe o braço, dando-lhe abertura para desabafar.
--Dizem que sou usada, às vezes tenho a impressão que acham que eu babo a chefe para subir na vida e não tem nada a ver. Até aí, tudo bem. Eu gosto do meu trabalho e não tenho muito mais coisas que demandem meu tempo e a opinião dos outros não me interessa, mas falta de respeito já é demais. - Respirou fundo. - Eu não gozo férias e quando tiro dois dias, ela não gosta e começa com umas conversas sem sentido e nada profissionais. Será que meu sonho de trabalhar numa grande editora em Nova York, resume-se a isso?
--Calma! Teu sonho é maior do que isso. Só estás irritada e à flor da pele...
--Estou irritada, frustrada, agoniada, com frio e com muita fome.
Joy riu alto e abraçou-a.
--Não sou esfomeada.
--E quem disse que és?
--Ah sei lá...
Gargalhadas.
--Nem tudo está perdido. Ela está com fome.
Gargalhadas.
Elena fingiu estar irritada e bateu no braço de Joy. Zayco latiu em sinal de proteção à dona.
--Desculpa, Zayco. Mas ela me irrita.
Joy riu muito da cena.
--O que pensas disso tudo que te contei?
--A atitude da tua chefe não me pareceu nada ética. Em relação aos teus outros sentimentos, cabe a ti pesar o que vale suportar. Até que ponto estás disposta a ir em prol de um sonho? São respostas que terão de vir de dentro e com muita ponderação.
Elena olhou-a com a expressão mais suave e sorriu levemente.
--Eu não esperava encontrar-te aqui...nem tudo é desilusão nessa minha noite de intempéries.
Risos.
--Agradeça ao Zayco. Ele que me trouxe para esses lados...
Elena afagou a cabeça do cachorro que grunhiu feliz.
--Esse parque nos conecta. É, ele nos conecta.
Joy concordou com a cabeça. Sentiu uma emoção diferente que não podia ser verbalizada. Pelo menos não naquele momento...
--Vamos? Está muito frio e se continuarmos aqui, tu ainda adoeces.
--Tenho que concordar contigo, senhorita fotógrafa.
Risos.
--Nem sempre estou errada.
Gargalhadas.
--Posso ir para o teu apartamento? Não quero ficar sozinha...
--Claro que sim! - Joy sorriu.
--Ah, o Myk...
--Queres ir buscá-lo? Acho que o Zayco não se importa.
Risos.
--Nem tudo são trevas...
--Perspetivas...vamos?
--Claro!
Seguiram abraçadas em direção à saída do lado norte do parque.
*****
--Preciso apenas de cinco minutos para verificar algo no meu email. A casa é tua, mas isso já sabes.
Risos.
--Obrigada! Eu fico quieta no sofá e não te atrapalho.
--Tu nunca atrapalhas. Se quiseres comer, esteja á vontade. Mas, se quiseres uma boa companhia... - Joy piscou.
--Eu espero-te! Olha esse Mykonos, parece que viveu aqui a vida inteira.
Risos.
--E o Zayco é o perfeito anfitrião.
Gargalhadas.
Joy seguiu para o estúdio e Elena sentou no braço do sofá.
De repente, deu-se conta que o peso da frustração já não era o mesmo. Se estivesse sozinha em casa, estaria a remoer, mas, naquele momento o peso era outro. Mantinha a mesma opinião em relação ao comportamento da chefe, mas a diferença residia na forma como a mesma a afetava. As palavras de Joy continuavam a ecoar pela sua mente.
Dirigiu-se à cozinha para beber água e viu sobre a bancada um autentico banquete. O cheiro estava divino e teve vontade de experimentar tudo. Estranhou a quantidade de comida e no mesmo instante foi até ao estúdio.
Parada na porta e sem ser notada, observou mais uma vez aqueles pequenos detalhes que a encantavam. A mania de cantarolar baixinho enquanto editava as fotos, de morder a ponta dos dedos quando estava em dúvida sobre alguma coisa e o entrelaçar das mãos quando ponderava.
Aproximou-se e abraçou-a por trás, beijando-lhe o topo da cabeça.
--Recebeste o email? - Perguntou com o queixo sobre a cabeça de Joy.
--Hum-hum. - Joy assentiu segurando os braços de Elena com as suas mãos.
--Mensagem boa?
--Muito boa! Um trabalho grande, desafiador e que eu queria muito.
--Que bom! Fico muito feliz.
--Eu sei que sim.
Sorrisos.
--Joy, vai haver uma festa aqui?
--Vai? Quais são as tuas ideias, grega?
--Parva!
--E ela fica vermelha para o meu desespero.
Risos.
--Pergunto por causa do banquete que tem na tua cozinha. Juro que não comi nada, mas a curiosidade venceu-me e espreitei...
Risos.
--Deverias ter comido...o banquete era para ti, para nós...
--Para mim? Mas eu tinha o jantar...
--Pois, era para ser uma surpresa. Mas, cometi o erro de não consultar-te sobre a tua agenda.
Elena não conseguiu dizer nada. Uma sensação estranha alojou na sua garganta.
--Um amigo meu, a quem fiz um trabalho outro dia, convidou-me para a sua casa que fica a 45 minutos da cidade. É numa região bem exclusiva com casas bem interessantes. A dele tem um observatório com 3 telescópios de última geração e o céu daquela região é perfeito. Nada de muitas luzes ou arranha-céus, e assim o céu é mais visível...
--Ele gosta de estrelas?
--Hum-hum...assim como tu. Ele disse-me que hoje havia algo nos céus que os amantes ficariam extasiados...
--Planetas mais próximos da terra e vistos a olho nu...
--Isso mesmo. Ele ia fazer um evento com alguns amigos para vermos esse fenómeno, com fotos e brindes, e eu pensei logo em ti.
--E porque não foste? - A voz de Elena estava embargada.
--Ele é muito intempestivo e imprevisível. Precisou viajar de repente e o evento foi cancelado. Mas, eu poderia ir para ver as estrelas e fotografar e estar à vontade. Somos amigos há muito tempo e não o via há séculos. Ele também é londrino, mas vive pelo mundo. Pensei em vermos as estrelas e depois jantar comida italiana do melhor restaurante italiano do Queens.
--Tudo que eu gosto...
--Hum-hum, mas podemos fazer isso numa outra ocasião...
Elena saiu do estúdio sem dizer uma única palavra. Tinha a garganta presa e a cabeça às voltas.
Na sala, desabou no sofá e com a cabeça entre as mãos, foi sacudida por um choro convulsivo.
Sem entender aquela reação, Joy veio atrás dela e sentou-se ao seu lado. Sem saber muito bem como agir, colocou uma mão sobre a perna de Elena e afagou. Ela não tinha por hábito rompantes assim. Quase nunca chorava, logo, não sabia como agir.
--O que aconteceu? - Perguntou finalmente.
--Eu estou a sentir-me tão idiota...
--Por que dizes isso?
--Joy, eu me sinto confusa...perdida. - Respirou fundo. - Parece que de repente tudo está instável na minha vida. Meus pés que sempre estiveram bem assentes no chão, agora parecem flutuar. Minha vida está de cabeça para baixo. Os sonhos que eram certos parecem miragem e sonhos que nunca tive, me invadem sem pedir licença.
--Há momentos na nossa vida que isso acontece e muitas vezes é para o nosso bem. Conflitos às vezes trazem uma necessidade de amadurecimento, ou...
Foi a vez de Joy respirar fundo e pensar na própria vida. Há algum tempo que se sentia assim, fora do eixo. Rompera com muita coisa para viver um sonho. Ainda titubeava, sentia-se balançar e quase cair, mas seguia firme no seu propósito. Entendia os anseios de Elena, pois eram os mesmos que a assombravam. E quanto a sonhos que jamais tivera, estava exatamente diante do maior deles...
--Hoje eu me senti duplamente idiota. No trabalho e na vida...
Elena soluçava e Joy abraçou-a.
--Meu sonho nunca foi ser babá de chefe. É assim que me sinto, passei a me sentir assim...os outros já me veem assim há muito tempo.
--Não interessa o que os outros veem...
--Eu me vejo assim. Demorou algum tempo, mas hoje eu me vi assim, uma boneca nas mãos da Brigitte. Fui tratada como uma menina boba, quando sou uma profissional.
--Excelente profissional.
--Disso não tenho dúvidas. Então porque me sujeito aos caprichos da Brigitte? Parece que não sei me impor, que não conheço o meu valor. Acho que sou deslumbrada e nada coerente...
--Elena, não se martirize.
--Eu só quero paz. Quero sabes onde estou a pisar...está tudo uma grande confusão. Minha vida está uma confusão. Eu quero uma coisa e a vida me leva para outro lugar.
--O que é que tu queres? - Joy arrependeu-se imediatamente de ter colocado aquela questão. Tinha medo da resposta. Ou melhor, tinha medo do que a resposta de Elena pudesse provocar.
--Eu quero paz! Quero saber o que vai acontecer amanhã, depois de amanhã e no mês seguinte. Eu não sei de mais nada...é difícil viver assim...
--A vida é um bocado isso, meu bem...
--A tua calma me conforta...
Onde Elena via Calma, Joy sabia que existia um turbilhão. Tinha medo de prolongar aquele assunto, exatamente porque sabia que levaria a lugares escuros. Levaria a respostas que ainda não tinha. Precisava desviar...
--Vamos jantar? Tinhas muita fome. - Tentou brincar.
Elena riu.
--O banquete era para mim, só me resta aproveitar.
Riram juntas e dirigiram-se à cozinha.
*****
--Isso deve ser um pecado...
--O quê?
--Tanto prazer de uma só vez. A comida estava maravilhosa, o vinho soberbo e agora estou empanturrada e embriagada.
Gargalhadas.
--Exagerada! Nem comeste tanto assim...
--Ah não? Tu que não bebeste quase nada.
--Já tinha tomado uma taça mais cedo.
--Tu não és muito apreciadora de vinho.
--Prefiro cerveja e whisky.
--Garota inglesa...
--E filha de Irlandês. Minha ascendência diz muito sobre minhas preferências.
Risos.
Joy puxou Elena para sentar-se nas suas pernas.
--Ainda me aguentas?
Gargalhadas altas.
--Vais acordar os lordes da casa.
--Acho que Myk ainda está acordado. Ele passou por aqui há bocado.
--Ele tem essa mania. Só dorme depois que me vê na cama.
Joy sorriu.
--Nunca pensei dizer isso...
--Hmmm?
--Bendita hora que me fizeram de idiota lá no trabalho. Imagina que eu ia perder esse jantar maravilhoso, numa companhia perfeita...e esse vinho?
Joy riu muito e beijou demoradamente o ombro de Elena.
--Nossas perceções podem sempre mudar...
--E graças ao Zayco, fui regatada no nosso parque. Já disse que sou apaixonada por esse cachorro? O que foi Joy?
--O quê?
--Esse olhar intenso...
Risos.
--Eu fico encantada quando estás entusiasmada. Hipnotizada...
--Bêbada! Muito bêbada e feliz!
--O Mykonos precisa dormir...
--Hmmm?
--Ele passou por aqui há instantes.
--Esse gato...preciso ajudá-lo...
--Vamos para a cama.
--Ah, pensei que nunca mais me convidavas para a tua cama.
Gargalhadas seguidas de um intenso beijo na boca.
*****
Joy refletia sobre a magia daquele momento e de tantos outros passados com aquela mulher, e uma mistura complexa de emoções faziam eco na sua alma. Ver Elena dormindo languidamente e enroscada no seu corpo depois de uma sessão do melhor amor jamais feito, era algo que não sentia a menor vontade de abrir mão. Podia abrir mão de muita coisa na vida, já o fizera e sabia que outros momentos conflituantes viriam, mas aquela leveza era para perpetuar. Beijou-lhe a testa ternamente e gem*u. Não saberia mais viver sem aquilo...
--Hmmm...- Elena gem*u.
--Estás acordada?
--Tu és intensa, mas eu sou mais nova.
Gargalhadas.
--Idiota! - Joy mordeu-lhe o ombro.
--Duplamente embriagada. De vinho e prazer...e com sede.
--Vinho e prazer costumam provocar sede.
Risos.
--Abusada...
--Vou lá buscar água para a senhora mais nova.
Elena riu e se enroscou nas cobertas. Levantou a cabeça para observar Joy se movimentando dentro do quarto. Estava completamente nua.
--Queria ter o teu talento... - Disse enquanto ela mexia na caixa de música.
--Qual deles?
Risos.
--Boa pergunta, porque sim, a senhora tem muitos talentos. Referia-me à fotografia.
--Hmmm...
--Queria ter o teu talento para fotografar-te nua contra essa luz. Perfeição!
--Teria que te ensinar alguns truques, contra a luz não ficaria muito bem.
Gargalhadas.
--Vem logo, estou com frio.
--Frio? Aqui?
--Provoca a minha língua...
--Hmmm...
--Idiota! Tu adoras me provocar e eu gosto disso.
--Tu gostas de mim...
--Muito e nem disfarço mais.
--E tu me deixas tão à vontade para ser o que sou que acho que também gosto de ti.
Risos com muitos beijos.
--Tu és tão linda Joy, tão majestosamente linda que eu nem sei...minha vida está um caos, eu não sei onde estou a pisar, eu não sei nem mais quem é Elena, mas...
--Minha vida não está menos caótica...- Joy desabafou.
--Eu entendo que sim...- Elena suspirou e antes que pudesse pensar, Joy estava sobre o seu corpo, beijando-a milimetricamente.
Num rompante que pareceu-lhe vital, segurou a face de Joy entre as suas mãos e disse olhando dentro dos olhos dela:
--Apesar do medo gigante que mora na minha cabeça, eu não quero abdicar disso. Não quero abdicar da melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. - Disse num sopro.
--Eu não vou abdicar da melhor experiência da minha vida e sabes porquê?
Elena mal conseguia respirar diante de tamanha emoção. Limitou-se a bater a cabeça.
--Porque ainda quero descobrir tudo sobre essa grega e me encantar mais ainda, se é que isso é possível.
Os momentos que se seguiram, embalados por Stay (Cat Power), foram o coroar daquele encontro sublime de almas.
Fim do capítulo
Olá people,
Nos meus rompantes, resolvi parar o 25 por aí...
A sinopse é outra, bem maior, mas parei aqui porque sim. Depois eu volto com o 26 rsrsrs
Uma surpresa para a vossa sexta feira. Espero que gostem.
Abraço e obrigada pelos comentários.
Nadine
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mtereza
Em: 07/03/2021
Essa história também me embriaga perfeita que bom elas.estão acordando e admitindo os sentimentos entre ambas mais.ainda com medo de principalmente Joy venha a recuar por pressão dos pais ou do namorado encosto.
Resposta do autor:
Muita coisa em jogo.
Obrigada. Bjs
Lorena Braga
Em: 07/03/2021
Capítulo muito esperado. Essas duas precisam confiar mais no amor que sentem para se relacionarem mais livremente, não quero pensar que elas só sonharão com um futuro juntas lá nos últimos capítulos ???”
PARABÉNS pelo talento de nos envolver em um romance.
Resposta do autor:
E eu que ia terminar a história no capítulo 30 kkkkkk
Dont worry, mudei de ideia e mais nao digo.
Muito obrigada. Bjs
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brunafinzicontini
Em: 06/03/2021
kasvattaja Forty-Nine - PARABÉNS! Uma banda escocesa cantando essa maravilha que é o Casaco Marron! Como descobriu isso? Ou antes - como a banda Belle & Sebastian descobriu essa joia? Demais!
Besos, de novo,
Bruna
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brunafinzicontini
Em: 06/03/2021
Ah... CAT POWER foi homenagem a MYKONOS? rsrsrsrs... Sorry... Foi irresistível.
Anyway, linda música (como sempre! Seu bom gosto musical é imbatível...)
Stay, Elena... Stay! Os braços de Joy a envolvem no melhor dos mundos!
Até mais, dear Nadine.
Besos,
Bruna
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brunafinzicontini
Em: 06/03/2021
Nadine!!! Que surpresa deliciosa! Não sei por que artimanha da internet, só recebi o aviso de atualização hoje e corri para a leitura encantadora que você sempre proporciona. Agora... surpresa mesmo foi encontrar um capítulo “relativamente” curto (não é exatamente curto, mas o é considerando os padrões “Nadine” de criação)... Para nosso consolo, porém, veio junto com a promessa do próximo!
Adorei o capítulo! No momento em que Elena descobre o “jogo” de sua editora e começa a lamentar sua participação lamentável nesse mise en scène, eu já estava fazendo festa porque antecipava o encontro com Joy, lembrando que ela estaria com uma surpresa preparada para a grega! Um amor de surpresa! Essa Joy é mesmo apaixonante!
Elena declara seu amor por zayco - “Já disse que sou apaixonada por esse cachorro?” – como é que não grita sua paixão pela inglesa? Eu já teria gritado lá no parque... As duas juntas são uma perfeição.
Joy sempre fazendo um bem enorme à grega! Muito bom!
Beijos, querida!
Bruna
Resposta do autor:
Internet doida rsrsrs
Daqui até à final vou escrever caps menores rsrsrs, pelo menos é o que pretendo. O 26 nao entra na conta rsrsrs
Joy sabe ser fofa, tomara que ela saiba outras coisas tb rsrs
Elena é meio travada e até certo ponto, ela está coberta de razão. Pelo menos no que toca a essa história com a Joy. Afinal, o que ela sabe da Joy? Eu acho que muito pouco...o fato de se darem bem e de estar a crescer algo bom, nao é o suficiente para alguem se atirar de cabeça, ainda mais ela. Ambas são travadas, parece que se desligam do mundo quando estão juntas, mas no geral, são travadas e cheias de camadas...enfim, sigamos rsrsrs
Muito obrigada. Bjs
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 06/03/2021
Olá! Tudo bem?
Suspiros! Suspiros! Suspiros! Enlevados, mas rasteiros e por vários motivos — ou nenhum, quem sabe?
Realmente está na hora das duas começarem a dar um rumo para a história delas. Gosto de como tudo está sendo construído até agora, mas começo preocupar-me com os próximos passos a serem dados que as levaria para uma história cheia de clichês e mais do mesmo, o que seria uma pena.
Quanto a Brigite, sem comentários, ou melhor, um só: para irlandeses e escoceses, seria a deusa do fogo, então o objetivo dela e tocar fogo no parquinho. Só pode!
É isso!
Post Scriptum:
Falando em escoceses, vamos hoje de Belle & Sebastian — uma ''puta'' banda para lá de excelente — para também embalar esse capítulo. Segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=uhjPC1tyKGM
Casaco Marrom
Evinha
Eu vou voltar aos velhos tempos de mim
Vestir de novo o meu casaco marrom
Tomar a mão da alegria e sair
Bye bye Cecy, nous allons
Copacabana está dizendo que sim
Botou a brisa à minha disposição
A bomba H quer explodir no jardim
Matar a flor em botão
Eu digo que não
Olhando a menina
De meia estação
Alô coração
Eu vou voltar aos velhos tempos de mim
Vestir de novo o meu casaco marrom
Tomar a mão da alegria e sair
Bye bye Cecy, nous allons
Copacabana está dizendo que sim
Botou a brisa à minha disposição
A bomba H quer explodir no jardim
Matar a flor em botão
Eu digo que não
Olhando a menina
De meia estação
Alô coração
Alô coração
Alô coração
Eu vou voltar aos velhos tempos de mim
Vestir de novo o meu casaco marrom
Compositores: Danilo Candido Tostes Caymmi/Renato Correa/Guttemberg Nery Guarabyra Filho [Não tinha como sair música feia: filho do Dorival, integrante dos Golden Boys e parte do Sá, Rodrix & Guarabyra]
Letra de Casaco Marrom © Euterpe Ed. Ltda.
Resposta do autor:
Um anjo me contou que essa história tem tudo menos cliche rsrsrs
Feliz ou infelizmente os personagens têm a sua propria forma de ver a vida, de estar nela, expectativas, medos, inseguranças e etc
Eu já teria agido se estivesse a sério, porque tem gente que finge bem rsrsrs, mas eu sou eu e elas são elas. Veremos até onde isso vai dar.
Obrigada pela sugestão musical, maravilhosa como sempre.
Muito obrigada.
Bjs
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diasana377
Em: 05/03/2021
Adoro Elena e Joy, mas acredito que ja passou da hora de uma conversa séria pra definir o futuro da relação. Não dá pra ricar desse jeito sendo que Joy tem uma pessoa (William). Elena não merece ficar a viver de incertezas. Joy também não pode ficar na insegurança já que Elena razz questão de dizer a todo tempo q não se relaciona com mulheres... Vamos colocar o pingo nos is. A pegação ta legal, mas envolve sentimentos, e nenhuma das 2 merece sofre por algo tão lindo.
Resposta do autor:
Concordo inteiramente, mas sabe-se lá o que psssa na cabeça dessas mulheres rsrs
Até onde eu entendi rsrsrs, elas brincam com coisas sérias, cada uma por uma razão e ambas estão tranquilas levando as coisas na brincadeira, até que...
Vamos lá ver onde isso tudo vai levar rsrsrs
Obrigada. Bj
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HelOliveira
Em: 05/03/2021
Muito obrigada por essa surpresa, amei o desencontro que terminou virando um encontro de almas.
Amei o capítulo
Resposta do autor:
Muito obrigada.
Bj
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NovaAqui
Em: 05/03/2021
Essa Brigitte é um ser repugnante. Aff!! Espero que ela seja desmascarada pelo marido!
Suas meninas estão se curtindo muito. Está delicioso acompanhá-las
Adorei o capítulo hoje! Volte sempre que quiser
Abraços fraternos procês aí
Resposta do autor:
Muito obrigada.
Bj :)
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Crislax
Em: 05/03/2021
Sou tão encantada por essa história que fico emocionada sempre que posta uma atualização.
A forma como narra o envolvimento entre as personagens e os seus dilemas é fascinante.
Não vejo a hora de uma delas se declarar de verdade.
Obrigada por este texto mais uma vez excelente.
Resposta do autor:
Muito obrigada :)
Bj
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Marta Andrade dos Santos
Em: 05/03/2021
Surpresa otimas.
Resposta do autor:
:)
Bj
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