Dez
Fábio tinha a barba por fazer e não havia se penteado naquela manhã. O cabelo estava preso, mas despenteado. As olheiras davam a impressão de que seus olhos afundavam aos poucos em seu rosto, que estava com sulcos profundos nas bochechas. Sua aparência era uma lástima, ele parecia até outra pessoa. Estava sentado na mesma posição, naquela cadeira de plástico marrom, totalmente imóvel, há cerca de 20 minutos. Tinha a cabeça apoiada contra a parede e olhava para algum ponto fixo à sua frente. Mal piscava.
Seus ouvidos pareciam doer a cada ruído – fosse das pessoas conversando, fosse o som que fazia o ponteiro do relógio, pendurado ali perto. Ele se irritava também com o barulho da televisão da sala de espera do hospital, que mesmo baixa, fazia ruído. Na verdade, Fábio experimentava uma hipersensibilidade esquisita, e seu corpo todo parecia doer, latej*v* – como se estivesse queimando em brasa. Como se ele tivesse apanhado, ou sido atropelado. Ou as duas coisas juntas.
Ele não se lembrava de alguma vez já ter se sentido assim. Era um estado tão desolador que até a sua memória parecia afetada; os pensamentos estavam embaralhados e juntos pareciam mais uma sirene, tocando de maneira intermitente na sua mente.
A cabeça era quem mais pesava. Já tinha doído de diferentes maneiras, com pontadas aqui e ali, e agora dava a impressão de pesar como chumbo. Era necessário muito esforço apenas para imaginar virá-la para o lado. Então ele não virava, não se movia. Ficava quieto, que era melhor. O máximo de movimento que fazia era coçar os olhos, que ardiam bastante.
Eles tinham registrado a passagem de diversas pessoas por aquele espaço. Todas iam e vinham, e ele permanecia ali, sentado no canto da sala, piscando muito esporadicamente.
Fábio acreditava que ficar imóvel era a melhor maneira de não sofrer com esses incômodos, que pareciam querer desviá-lo do foco de sua verdadeira dor, que era interna, que o rasgava por dentro, e queimava. Latejava, acompanhando seus batimentos cardíacos. E parecia querer doer enquanto ele respirasse.
Nas últimas horas, um pouco a contragosto, Fábio percebeu que ficar sem se mexer era uma maneira eficiente também para ele não pensar. Ele não queria pensar! Seus pensamentos estavam lhe massacrando nas últimas horas, e isso também causava dor e incômodos diversos.
A cena de Bianca caindo no quintal ficava se repetindo várias e várias vezes. Uma repetição tosca, em câmera lenta – o que era um pouco irônico, porque no momento do incidente tudo pareceu acontecer rápido demais. Ela escorregou e foi ao chão em frações de segundos, quase num piscar de olhos. Fábio nem sabia ao certo se tinha visto a queda, ou se o seu cérebro é quem projetava o ocorrido (sem parar, num looping macabro).
Ele desejou que a mente tivesse um botão de liga e desliga. Ou algum tipo de pente fino, que evitasse que pensamentos indesejáveis lhe assaltassem a todo instante, como estava ocorrendo. Fábio aceitaria até mesmo um artifício que bloqueasse tudo na base da pancada, se fosse preciso. Sentiu vontade de bater a cabeça contra a parede, e isso o assustou também. Pareceu-lhe que estava perdendo um pouco do controle de si mesmo.
Era tudo muito cansativo e desgastante. E estar ali, naquela sala de espera daquele hospital, não facilitava para que algo melhorasse. O sofrimento das pessoas parece que fica impregnado nos tijolos, tem que ter estômago para se ficar bem em um ambiente assim.
- Fábio! – chama Irene, caminhando em sua direção – Tome, é café. Come este bolo, comprei para você. Vai te fazer bem! – ela entrega a ele um copo quente de isopor, fumegante, e um bolinho.
- Escute a sua mãe, você precisa colocar alguma coisa no estômago – fala Teresa, vendo que Fábio permanecia imóvel – Se continuar assim, logo você é que vai precisar se internar também. Agora, mais do que nunca, você precisa ficar forte. Por você e pela Bia, também.
Fábio olha de relance para as mulheres, como se despertasse de repente de um transe. Pisca algumas vezes, mas não movimenta as mãos – nem demonstra qualquer intenção de comer. Ele não sabia explicar, mas parecia, de alguma maneira, que comer era quase errado. Algo que ele não deveria se preocupar agora, mesmo sentindo fome (e necessidade de comer, depois de tanto tempo). Fábio sabia que nada preencheria o vazio que sentia.
As paredes do hospital eram pintadas em um tom amarelado e ele sentia que aquela seria uma das principais lembranças que teria daquele pesadelo terrível. Estava há dois dias naquele lugar. Não saiu para nada, só para ir ao banheiro. Não comeu e não dormiu até então. Não tinha conseguido, por mais que se sentisse exausto, em vários níveis. Não conseguia imaginar se um dia voltaria a ter o apetite normal, ou seu sono em dia. Dali, Fábio não conseguia ver nenhuma possibilidade de normalidade, em nenhuma área de sua vida. Não conseguia nem mesmo se ver direito.
Em níveis mais profundos do seu inconsciente, ele percebia como a vida muda de repente – nos mudando também. Quase moldando; forjando, mesmo. Somos lapidados pelos acontecimentos que nos ocorrem, muitos dos quais não temos absolutamente controle algum. O que dá uma tremenda sensação de impotência diante da vida. Especialmente diante de momentos traumáticos que envolvem pessoas que amamos.
- O médico disse que a Bia está bem, filho! Garantiu que daqui a pouco ela acorda, e vai poder falar com você.
O rapaz não moveu nem um único músculo diante da notícia. Nem piscou. Tinha ouvido as informações passadas pelo médico, mas não ficaria tranquilo enquanto não visse a esposa, e constatasse por ele mesmo o seu estado. Queria segurar sua mão, abraçá-la, dar a Bianca todo o seu amor. Só então ficaria minimamente mais tranquilo, e a consolaria. Ele sentia dali o sofrimento da mulher.
O que é “estar bem”, diante de um ocorrido desta magnitude? Aparentar bem-estar não significa que a pessoa não esteja quebrada por dentro. Bianca tinha quebrado um pouquinho, Fábio sabia.
O tombo tinha sido sério o suficiente para manter Bianca desacordada durante os longos e quase intermináveis minutos que se passaram até a chegada da ambulância. As gotas de sangue que caíram de seu supercílio já tinham sido lavadas do chão do quintal com a chuva, que não parava desde a madrugada de domingo. A cidade parecia lamentar com eles.
Bianca chegou ao hospital inconsciente e tinha passado longos períodos sedada. Fábio não gostou de vê-la desacordada, mas ficava aliviado quando pensava que era bom que ela ainda não tivesse se confrontado com a realidade. Estava blindada, de alguma forma.
Aquela era uma realidade dolorosa; o mundo agora tinha se transformado num lugar frio onde o bebê deles não existia mais. E ninguém podia mudar isso.
Fábio sabia que enquanto estivesse sentado naquela sala de espera podia dar vazão à dor e ao vazio que sentia. Que não se exteriorizava, exatamente, mas era a maneira que ele sabia lidar com questões sérias como aquela. Tinha consciência de que a partir do momento em que Bianca recebesse alta médica ele teria que sufocar aquele sentimento de perda e mostrar-se forte para a esposa.
A gestação beirava três meses naquele domingo.
- Ela caiu sobre a barriga – o médico disse, algumas horas depois que chegaram – A queda foi grave e machucou o feto, que não resistiu. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas não pudemos fazer nada para salvá-lo. Eu sinto muito.
Fábio sentiu uma lágrima desabar de seus olhos enquanto relembrava as palavras que, apesar de seus ouvidos terem captado perfeitamente bem na ocasião, seu cérebro ainda não conseguia assimilar direito. Se recusava a isso. E aí as palavras ecoavam sem parar, até perderem o sentido, ficarem desconexas. Terminava sempre com o “eu sinto muito” do médico, que parecia sincero.
- Meu filho! Vá para casa, tome um banho! – aconselha Irene – Se recomponha para mostrar-se confiante para a Bia! Ela pode até se assustar se vir você assim. Volte mais apresentável, mais forte. Você precisa se cuidar, também.
A tentação de tomar um banho era grande e ele olhou para a mãe por um instante breve. Notou nos olhos da mulher que ela também sofria, e que sua preocupação era genuína. Mas Fábio não podia sair dali. Sentia que era sua obrigação ficar por perto, mesmo que não pudesse ver Bianca, ou estar ao seu lado, segurando sua mão. Vai que ela precisasse dele?
Tomado por uma grande tristeza, o rapaz atirou-se nos braços da mãe e chorou. Irene nada pôde fazer, a não ser tentar consolá-lo. Se sentia impotente também, diante do sofrimento do filho.
- Deus sempre sabe o que faz, meu amor – consola Irene, afagando a cabeça do rapaz – Confie Nele e tudo vai ficar bem.
- Deus tirou meu filho de mim, mãe – retruca Fábio, afastando-se de repente, secando o choro com as costas da mão.
A raiva que experimentava agora parecia lhe dar forças e ele aproveitou o impulso para se levantar da cadeira. Sua vista ficou turva por alguns instantes, talvez porque ele levantou rápido demais, ou porque estava há muito tempo sem comer, mas Fábio não transpareceu estar tonto. Ele finalmente percebeu um ponto para direcionar sua frustração.
- Que Deus é esse que me castiga assim? Ou à Bia? Até o Joaquim foi castigado! Hein? – ele pergunta, falando um pouco rápido demais.
- Amigo, tente ficar calmo – Teresa diz, pausadamente. Tinha uma das mãos levantada, reforçando o que dizia. Algumas pessoas próximas a eles os olhavam, curiosas – Eu entendo a sua raiva, mas tente se controlar. Se você quiser eu procuro aqui no hospital, com certeza tem, alguém que possa conversar com você. Não estou falando de nenhum padre – ela se antecipa, ao sentir o olhar dele em sua direção, contrariado – Pode ser um psicólogo. Esses profissionais são estudados justamente para saberem ouvir. Você quer?
- Não precisa – ele responde, com uma fungada – Agradeço, Terê. Te agradeço também, mãe. Me desculpem.
Se afastou um pouco, envergonhado. Não era justo descontar nelas a frustração que ele sentia com a sua própria vida. Decidiu que deveria lavar o rosto para estar minimamente apresentável, quando finalmente visse Bianca. Já que não iria para casa, que ao menos lavasse o rosto para o encontro.
Postado em frente ao espelho, Fábio constatou que sua aparência era péssima. Entendeu o porquê da sugestão da mãe; Bianca poderia mesmo se assustar de vê-lo daquele jeito. Ele se sentia cansado em vários níveis.
Não queria que Bianca soubesse que ele tinha chorado (tinha sido pouco, ele não se permitia muito, mas sua feição lhe traía), isso jamais havia acontecido. Até ali nada tinha feito o rapaz chorar. E Fábio sabia que ele seria o local em que ela iria querer aportar. Precisava estar bem, para ser seu porto seguro.
Lavou o rosto, ajeitou o cabelo e ao voltar para a sala de espera aceitou o café que sua mãe tinha oferecido, instantes antes. Sentiu a bebida rasgar sua garganta, como se empurrasse o choro para baixo, e na sequência cair no estômago como uma bomba. Doeu já logo após o primeiro gole. Mas estranhamente isso o fez se sentir um pouco mais vivo.
Mastigava o último pedaço de bolo quando enfim foi chamado. Finalmente tinha começado o horário de visitas, e Bianca estava acordada. Seguiu pelo corredor até o quarto, que estava meio na penumbra. Reconheceu a figura deitada na cama que ficava no canto da parede, ao lado de outras três mulheres. Duas delas estavam com bebês recém-nascidos no colo.
Fábio sentiu inveja e raiva.
Bianca tinha um curativo sobre a sobrancelha esquerda e abriu os olhos quando sentiu alguém encostando na cama. Ela o olhou com uma expressão meio vaga e Fábio notou que a mulher tinha chorado. Essa constatação gerou um nó em sua garganta e ele sentiu um aperto grande no coração. Uma tristeza avassaladora. Faria tudo o que pudesse para evitar sofrimento à mulher que ele tanto amava e queria bem, e por isso se sentia um pouco mais frustrado agora. Quase impotente.
- E o Joaquim? – ela perguntou, com a voz rouca, quase inaudível.
- Ele está bem. Aquela água com sabão só o deixou com um pouco de diarreia – garante Fábio, segurando a mão da esposa – Não pude nem brigar porque ele bebeu água com sabão, ou porque deixou os brinquedos espalhados...
- Tadinho... – Bianca resmunga, no instante em que uma lágrima escapa de um de seus olhos.
- Como você está? Posso fazer algo por você?
Bianca apenas balança a cabeça, em sinal de negativo. Na mesma hora um bebê chorou ali perto, despertando a vontade nela, que chorou também, copiosamente, tapando com os olhos a mão que estava furada, com uma agulha que injetava medicamentos direto na veia. Ela detestava chorar, achava um sinal de fraqueza, e sempre acabava chorando também por um pouquinho por raiva. Pela frustração de estar chorando.
Se sentia um pouco vazia. Era uma sensação esquisita, ela nem saberia especificar direito. Mas era como se faltasse um pedaço dela. Que Bianca nem sabia que precisava tanto! E dali ela não conseguia imaginar como faria para permanecer vivendo, deficiente daquilo. Parecia quase impossível, e isso era desolador.
Fábio sabia o quanto era penosa a dor que ela sentia, conhecia bem a esposa, compreendia que tinha muita coisa borbulhando dentro dela. Sua dor também era imensurável, mas no fundo sentia que para ela era ainda mais doloroso. Acreditava que Bianca estava se culpando. A culpa pode doer, em alguns casos até mais do que a dor física.
Ele afagou seus cabelos e beijou a mão, que ela tinha deixado sobre a barriga. Mal completara 48 horas desde o incidente e Bianca já demonstrava ter emagrecido. Parecia mais frágil também, quase menor do que era, de fato. Estava muito abatida, afundada naquela cama de hospital.
Sua vontade era carregar a esposa para longe dali. Levá-la para um lugar onde não havia sofrimento e onde seria possível fazer reviver o bebê, ou o sonho de terem um filho. Mas sabia que esse lugar não existia; que seriam perseguidos pelo ocorrido, onde quer que fossem, para sempre.
Bianca parecia mais indefesa do que nunca. E desta vez Fábio não podia fazer nada para desanuviar o incômodo que ela sentia, não existia remédio para esse tipo de dor. Ele próprio não sabia lidar direito com aquilo tudo – e por isso estava calado há alguns minutos. Ele não tinha palavras para dizer. Tudo o que pensava lhe parecia muito raso. Era preferível ficar quieto.
- Eu matei nosso filho, Fá – ela conseguiu dizer.
- Shhh... Não é verdade! Não diga isso, querida, por favor! – pede Fábio, consternado, abraçando Bianca com força – Foi um acidente, Bia! Você não teve culpa de nada!
- Sou desajeitada demais para ter um bebê.
- Não fale besteira, Bianca, estou te pedindo. Não faz isso! Foi um acidente, apenas isso. Não há culpados, somos todos vítimas! Se sentir assim não vai te ajudar, meu amor!
- Deus nunca mais vai me dar um filho.
- Isso não tem nada a ver com Deus! – fala Fábio de repente, tentando conter sua raiva, sem muito sucesso, que naquele momento era direcionada contra as forças divinas – Que mania que as pessoas têm de ficar enfiando Deus em tudo, que coisa mais chata. Será que se escutam? Você está se ouvindo? Que saco!
Bianca apenas o observou. Parou de chorar no mesmo momento, e segurou sua mão um pouco mais forte. Só então percebeu que Fábio também sofria – quem sabe até de dores distintas das suas. Aí ela ficou ainda mais triste, porque não soube consolar o marido.
Fábio foi criado em um lar religioso, quase rígido. Seus pais pertenciam a uma religião que tolhia bastante, pregava algumas coisas que ele achava um pouco absurdas, depois de adulto. Umas limitações meio sem sentido, impostas a pessoas que se diziam “tementes a Deus” (e ele nunca gostou dessa palavra, “temente”. Impunha medo!). Desde criança ouvia o pai pregar sobre os chamados “castigos divinos” contra aqueles que não levavam a sério Sua Vontade. “A mão de Deus vai pesar” era uma de suas frases favoritas.
Cresceu ouvindo sobre uma figura que estava acima de tudo e de todos, e que eventualmente tinha uns caprichos para cumprir, e mandava dilúvios e pestes variadas. E as pessoas eram obrigadas a se reconhecer o tempo todo como pecadoras, inferiores, até – o que limitava bastante suas ações.
Durante boa parte da infância teve medo do tal Deus que castigava. Fazia tudo na base da barganha; se comportava apenas para não ser punido, não porque entendia que certas coisas eram certas ou erradas. Na adolescência aprendeu a relevar, levou um tempo até se desprender de todas as crenças limitantes impostas ao longo de toda uma vida, e só depois de adulto perdeu o medo e se abriu para a vida. Mas também não conseguia sentir de nenhuma maneira a presença de Deus em seu coração – o que colaborava para aflorar uma intensa irritação sempre que ouvia a mãe falar sobre o assunto (e ela falava bastante, era religiosa até hoje). Isso se amplificava em momentos de tensão, como este.
Agora, Fábio se sentia agora novamente uma criança, temendo o “Deus que castiga”. Pensando pela lógica de seu falecido pai, certamente ele e Bianca não tinham se comportado direito e agora Deus arrancava deles o filho. Era uma punição. Aquele era o preço a ser pago por alguma insubordinação, que ele nem sabia dizer qual era ao certo.
Pensar nisso o deixava muito irritado.
Bianca, ao contrário, não teve uma religião e foi batizada na igreja católica apenas porque aquilo era uma espécie de praxe, algo esperado que se fizesse, mesmo pelos não praticantes. Apesar disso, mesmo longe das igrejas, cresceu ouvindo sua mãe dizer-lhe que Deus era amor, como Ele era bom e fazia as coisas na vida da pessoa darem certo – desde que se fizesse por onde, que se merecesse. Ser puro de coração era uma das condições primordiais, ela dizia.
Agora ambos experimentavam uma sensação desconhecida, diante de um Deus que tampouco conheciam, ou compreendiam. Com um ponto, porém, em comum: tanto Bianca quanto Fábio estavam certos de que, por um motivo ou outro, estavam sendo castigados. Parecia mais fácil crer nisso, agora.
- Se eu sou uma inútil que não consegue nem manter o filho vivo na barriga, para que vou continuar vivendo? – resmunga Bianca, como se pensasse em voz alta. Apenas ele pôde escutá-la, pois ela falava quase num murmúrio.
O coração de Fábio, a esta altura já bastante apertado, pareceu se comprimir ao ouvir aquilo. Doeu, como doíam seus pensamentos, como latej*v* seu corpo – pelo cansaço, pela perda.
- Porque eu te amo e preciso de você – ele responde, sem conseguir evitar que as lágrimas se desprendessem dos olhos – Porque o Joaquim também te ama e também precisa de você. Porque vamos ter ainda muitos filhos que vão te amar, e vão precisar de você. Por favor, Bia, nós te amamos.
- Me deixa sozinha, Fábio – ela pede, impaciente, voltando a chorar – Por favor, me deixa sozinha. Preciso ficar só.
Fábio saiu do quarto e se deixou cair no corredor, junto à parede. Chorou e só conseguiu se controlar quando uma enfermeira chegou, convidando-o para beber uma água, para se acalmar. Ela disse algumas coisa que ele nem entendeu direito, mas usou um tom tão amoroso que aquilo o acalmou um pouco.
Sem querer ele pensou que Deus às vezes envia anjos, quando mais precisamos. Acreditava que muitos enfermeiros eram seres celestiais, disfarçados de gente.
Bianca ouviu o choro do marido no lado de fora e o desprezo que sentia por si mesma pareceu aumentar. Estava fazendo a pessoa que ela tanto amava sofrer. Tinha tirado de Fábio a oportunidade de ser pai, e isso a consumia enormemente. Só conseguiu controlar as lágrimas quando a mesma enfermeira que socorrera Fábio instantes antes se sentou ao seu lado e segurou sua mão.
Aquele gesto de certa forma a acalmou e Bianca adormeceu.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Lea
Em: 23/01/2022
Esse capítulo foi emocionante,muito triste, doloroso. Consegui captar a dor da Bianca e do Fábio!!
E a profecia da Cícera aconteceu !!
Resposta do autor:
=/
É um capítulo pesado mesmo... doído.
A profecia dela (rs) se cumpriu, porque era algo que tinha que acontecer. Às vezes merdas acontecem para que outras ocorram, né, a vida opera de maneira misteriosa!
Beijos!
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cris05
Em: 27/02/2021
Caraca, que vontade de abraçar a Bia Bianca e o Fábio, viu. Só que de qualquer forma ainda estamos numa pandemia, infelizmente, e aí tem que ser um abraço virtual mesmo. Bem apertado.
Evoluir é difícil, apesar de necessário. E algumas merdas que acontecem durante o caminho sugam as forças.
Torcendo aqui pra que tudo fique bem.
Autora, estava com saudades. Volte logo, por favor!
Beijos!
Resposta do autor:
Olá, querida!
Tb tenho vontade de abraçá-los! Na verdade, travei nessa parte da história pq acho esse capítulo mto triste...
Mas vida que segue, né, como dizem.
Vai ficar tudo bem <3
Eu estava com saudades tb! Amo os seus comentários!
Volto logo!
Beijos!
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 25/02/2021
Olá! Tudo bem?
Ambiguidade, substantivo feminino — só podia ser, não é? —: característica ou condição do que é ambíguo. ''Há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar.'' Essa nós sabemos de quem, certo?
Que bom que você voltou, Autora. Sentimos falta do seu bom texto. As nossas meninas têm muito que revelar e vamos torcer para que essas revelações não as separem, ou que pelo menos as ajudem a entenderem-se.
É isso!
Post Scriptum:
''Como podemos nós pretender que os outros guardem os nossos segredos se nós próprios os não conseguirmos guardar?''
François La Rochefoucauld
Resposta do autor:
Olá, dona 49! Voltei! Vc tb! Que bom!
As revelações as unirão! Vai ficar tudo bem, mas como na vida real, às vezes merdas acontecem. E só a maturidade nos permite ver que são as portas que se fecham justamente as que nos levam para novos caminhos!
Continuo escrevendo!
Volto logo!
Beijos!
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Jebsk
Em: 24/02/2021
Que bom que voltou. Estava agoniada aqui pela demora. Você escreve muito bem, sabe envolver na sua narrativa e ainda colocou um toque de suspense.
Já reli 2x para ficar mais curiosa. Elas são irmãs ou serão amantes e essa dúvida é sensacional.
Se quiser liberar um spoiler, não tem problemas, adoooooooro.
Se cuide e obrigada por voltar.
Bjs
Resposta do autor:
Que bom que voltei! Eu tb estava agoniada rsrs
Eu reli tb, antes de voltar a escrever rsrs
AMO esse livro! <3
Voltamos logo, prometo!
Beijos!
P.S.: Sem spoiler rsrsrsrsrs
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Marta Andrade dos Santos
Em: 24/02/2021
Nossa!
Resposta do autor:
Que tal?
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