• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Amor incondicional
  • Nove

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,492
Palavras: 51,967,639
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Legado de Metal e Sangue
    Legado de Metal e Sangue
    Por mtttm
  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Anjo
    Anjo da Morte
    Por JillValentine024
  • A verdadeira face de uma assassina
    A verdadeira face de uma assassina
    Por hipolita

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Amor incondicional por caribu

Ver comentários: 7

Ver lista de capítulos

Palavras: 3695
Acessos: 3800   |  Postado em: 02/10/2020

Nove

           

Começo de semana era sempre significado de agenda cheia e muito trabalho. Propositalmente, os atendimentos que Beatriz realizava às segundas-feiras eram com seus pacientes mais “problemáticos”, que demandavam dela mais atenção para conduzir seu trabalho. Com o tempo ela passou a perceber que as queixas desses clientes eram mais acirradas no começo da semana. Em geral, as pessoas se aborreciam mais quando tinham tempo vago – geralmente aos finais de semana; piorava consideravelmente quando era “prolongado”, e tinha feriado junto. Eram sempre os dias mais desgastantes para ela.

Por este motivo, Beatriz dizia que o ócio faz mal à mente. Era o que ela comprovava, semanalmente, com as queixas que ouvia, com os relatos que analisava, e depois estudando tudo o que anotava a respeito do atendimentos. Tabulava todos os dados e informações, em planilhas que só ela entendia, e dispendia longas horas escrevendo a respeito de suas conclusões. Já tinha até submetido um artigo com este tema a uma revista científica chamada PSIQuiatria.

                Se tinha uma coisa que a fascinava era a mente humana. A capacidade da mente humana, no caso, inclusive no sentido de pregar peças nas pessoas, de montar armadilhas, arapucas, labirintos infinitos. Enfim, os meandros da mente era algo que a atraía, e por isso estava sempre estudando, lendo alguma coisa, ouvindo podcasts. E Beatriz acreditava que era quase um dever compartilhar com as pessoas alguns dos entendimentos a que chegava, com seu trabalho. Não havia nenhuma vaidade nisso, era o simples prazer do compartilhamento de conhecimento, mesmo. Ela se sentia útil, academicamente falando. Mas aí por causa disso já tinha sido convidada a palestrar algumas vezes em faculdades, sobre temas relacionados. Foi assim que Fernanda a conheceu, antes de elas se conhecerem formalmente.

                Fernanda nem ia àquele evento, tinha marcado de tomar um café com Samanta, mas a irmã cancelou o encontro em cima do horário. Fernanda se sentiu culpada em não ir, já estava ali, foi. E ficou feliz pelos contratempos. Achou Beatriz linda naquele auditório lotado e em silêncio, saboreando as palavras que ela proferia com propriedade, num tom de voz firme, seguro. Não porque tinha uma beleza física (tinha, e era bastante exótica, ela até diria pouco usual, porque fugia dos padrões de beleza impostos, geralmente), mas principalmente porque a inteligência a deixava bela. E ela era daquelas pessoas que consegue falar bem pausadamente, e cada intervalo servia para que se digerisse aquilo que ela dizia. Em alguns momentos, em transições de frases, Beatriz dava uma espécie de sorriso, curto, quase só um suspiro, e sempre que isso acontecia Fernanda entrava em regozijo. Que delícia de sorriso! Ela se derretia naquela cadeira dobrável e olhava para ver se isso acontecia com mais alguém, mas tudo indicava que não. No final, nem lembrava mais qual era o assunto da palestra. Não conseguiu prestar atenção.

                Beatriz não se lembrou dela depois, quando enfim foram apresentadas, algumas semanas mais tarde; Fernanda comentou que puxou papo com ela naquele dia, depois do encerramento do evento. Ela foi lá tietar (claro). Só não tirou uma foto porque achou que seria um pouco exagero, mas foi algo que passou pela sua cabeça. Fernanda sempre ria quando se lembrava disso, e era algo que a irmã usava contra ela, nas brincadeiras que faziam quando estavam sozinhas. Samanta chamava Beatriz de Freuda, nessas conversas. Dizia que ela era a crush suprema de Fernanda – que sempre só ria, nunca negava.

                Beatriz nem desconfiava que era alvo de conversa entre as irmãs. Na verdade, ela nem pensava na vida de Fernanda fora dali. Até então. Porque há alguns dias a moça tinha deixado de ser apenas uma colega de trabalho, e despertava em Beatriz um interesse inédito.

                Eram pensamentos que estavam sendo gerados e que Beatriz ainda não conseguia analisar como gostava – porque tudo parecia um pouco embaralhado demais, confuso demais, e era difícil examinar algo assim. Era estranho. Por isso ela tentou nem pensar; colocou no “freezer” e quando fosse a hora certa, mexeria naquilo. O problema era só que o assunto ficava voltando toda hora, até nos momentos impróprios. Isso a deixou levemente irritada. Pelos últimos dois dias.

                Agora ela tinha acabado de realizar a última consulta e neste momento fazia algumas anotações quando Fernanda entrou na sala, depois de dar três batidinhas de leve na porta, como sempre fazia. Sempre levava os prontuários referentes às consultas do dia, mas hoje sua presença foi percebida de outra maneira (seu cheiro chegou até Beatriz de um jeito diferente, causando nela uma sensação na parte de baixo da barriga, involuntária). Era a primeira vez no dia que se viam.

                Foi com uma certa pontada de decepção que Beatriz constatou que a moça de fato não fazia o tipo de mulher que implora por atenção, depois de um encontro – pelo contrário! Passaram o domingo sem trocar nem mesmo uma mísera mensagem. E Beatriz tinha dedicado vários minutos pensando na contrariedade daqueles pensamentos. Fez um desenho com carvão, num papel canson de gramatura diferente, de uma pedra sendo arrematada por ondas violentas, enquanto divagava a respeito. Ao terminar, enfiou numa gaveta, onde desenhos semelhantes estavam agrupados. O que os diferenciava era a pedra.

               

- Beatriz, fiz o encaminhamento de duas pessoas para o Rodinei e aqueles três pacientes foram encaminhados para a clínica da Glória, como você tinha pedido – comenta Fernanda, sentando à sua frente e separando na mesa duas pilhas de papel. Até os papéis ficavam com o cheiro dela, mas Beatriz não quis pensar nisso – Passei para a recepção um caso de mania.

- Ok, perfeito – responde Beatriz, sem olhar para ela, anotando mais alguma coisa no caderno grande, encapado com couro.

 

                Fernanda deu uma olhada para as anotações de Beatriz, e olhou para a mulher, brevemente. Reparou que ela tinha uma ruga no meio da testa – era típica, característica daqueles momentos de concentração, quando ela estava entretida com o trabalho. Beatriz tirou a franja da frente dos olhos, e antes de levantar o olhar, Fernanda já estava mirando em seus próprios papéis. Fingiu que estava lendo algo, mas sentiu nela os olhos verdes de Beatriz, a fitando por alguns segundos.

A continuidade do trabalho as forçou a perceber que eram maduras e profissionais o suficiente para não terem a relação ali na clínica afetada por uma noite de amor (e uma manhã inteira, depois, na sequência, bem molhada, Beatriz se lembrava bem). E apesar de nenhuma das duas demonstrar, ambas experimentavam agora, pela primeira vez, uma pontada de desconforto por estarem juntas. Mas nenhuma das duas pensava, ainda assim, que tinha sido errado o que haviam feito. Ao contrário: elas até fariam de novo.

                Beatriz levantou de repente e caminhou até geladeirinha que ficava próxima à porta do banheiro, acompanhada pelo olhar de Fernanda. Voltou à mesa trazendo uma jarra de vidro e dois copos. Serviu com suco de maracujá e sentou-se novamente. Antes apoiou os copos em descansos próprios para isso.

                Fernanda constatou que o perfume dela pairara no ar, misturando-se ao aroma adocicado do suco à sua frente. Só que um acalmava e o outro a agitava. Tentou se distrair e remexeu mais uma vez nos papéis. Estava um pouco nervosa, e considerou uma bobagem se sentir assim. Era adulta, afinal de contas. Beatriz também. E aquele era o ambiente de trabalho delas, nada jamais aconteceria ali.

                Com o canto dos olhos via os dedos compridos de Beatriz segurarem delicadamente a caneta enquanto ela ainda fazia suas anotações. Beatriz tinha a letra bonita, desenhada. Os Ts eram todos bem aparentes. Fernanda olhou novamente para a mão de Beatriz e notou a ausência de anéis e pulseiras. Percebeu que ela estava sem o relógio também. Mesmo sem nenhum adorno, reconheceu que ela tinha mãos lindas. Fernanda gostava de mãos.

                Beatriz, por sua vez, estava concentrada na tarefa que desempenhava. Mas não ao ponto de não se permitir pensar em Fernanda, sentada ali, do outro lado da mesa, se remexendo na cadeira, sem parar. Naquele momento, queria ser gentil com ela – quem sabe até dizer como havia gostado de sua companhia no sábado. Mas censurou-se por pensar tal coisa. Não queria dar mostras de sentimentalismo. Temia que isso fizesse com que ela parecesse tola e romântica demais. E num lugar impróprio para isso.

 

- Bom, acho que da minha parte, isso é tudo. Já passei tudo do dia para a Cíntia – comenta Fernanda, assinando um documento e colocando-o sobre uma das pilhas de papel. Tomou um gole de seu suco e olhou de relance para a mulher à sua frente – Me permite saber como está o processo com a Sílvia?

- Tivemos mais uma consulta hoje, você deve saber – responde Beatriz, largando a caneta por um instante e ligando a tela do computador em sua mesa. Deu dois cliques em um dos arquivos – O marido ligou na sexta, ele parecia transtornado, encaixamos a consulta dela de manhã. Em partes, para atendê-lo também. O aborto espontâneo mexeu muito com ela. Esse caso é daqueles que sempre me intrigam, porque vai contra muitas lógicas. De comportamento, em especial.

- Pois é! Ainda mais se pensarmos que ela se apegou a uma figura imaginária, considerando que o bebê nem nasceu.

- Sim. Racionalmente falando, sim. Mas se você pensar com o lado emocional percebe que é perfeitamente natural tal apego. Muitos estudos apontam que o ser humano tem muitos dos seus instintos despertados a partir do momento em que descobre que a sua cria já foi concebida e está a caminho. Para citar o principal, temos o instinto materno. E se um bebê que nem nasceu desperta um instinto, imagine o que mais ele faz com a mulher que o carrega no ventre.

- Mas não é contraditório, considerando que o instinto é um tipo de impulso, irracional? – pergunta Fernanda. Ela se sentia meio boba às vezes, quando se ouvia fazendo perguntas assim. Mas Beatriz era paciente e didática, e sempre explicava tudo de maneira detalhada (ela gostava de conversas assim!). E só agora Fernanda se perguntava se Beatriz sempre a olhara com aquela expressão meiga nos olhos, e ela que nunca percebera.

- Sim, pode-se dizer que o instinto é um impulso. E que é irracional. Mas o que dizer de mães que enfrentam o perigo para salvar seus filhos, e de tantos exemplos que viram notícia depois que a intuição materna evitou um grave acidente? Fora aqueles casos de mulheres que levantam, sei lá, um automóvel, para salvar um filho seu. Como algo assim pode ser chamado de “impulso” ou de “irracional”?

- É, tudo é muito enigmático.

- Eu troco a sua palavra por “fantástico”! Imagine, Fernanda, que por mais que a ciência descubra funções no cérebro, a nossa natureza, a natureza humana, está sempre à nossa frente! E é da natureza da mulher se apegar aos filhos, mesmo aqueles que nem chegaram a nascer. Quando uma mãe despreza ou maltrata sua cria faz isso devido a alguma disfunção. E veja como essa palavra, “disfunção”, é uma palavra interessante: significa distúrbio, mas se você quebrar a sua formação silábica, tem uma “dis-função”. Uma ausência de função. Nesse caso, a função de amar, de ser mãe. Que pode estar ligada a muitas causas, que precisam ser investigadas, sempre.

- Você quer dizer, então, que o fato de algumas mães sentirem mais ou menos a perda de um filho que ainda não nasceu significa que em algumas foi despertado o instinto materno e as outras sofrem de algum distúrbio?

- Não, de maneira alguma – sorri Beatriz. Seu sorriso foi franco e despertou em Fernanda uma vontade quase incontrolável de sorrir também. E beijá-la – Mais uma vez, uso a palavra “fantástico”. O ser humano é um ser tão complexo, tão esplêndido que não se permite generalizações. Você não pode, simplesmente, separar em dois grupos as mulheres que sofrem e as que não sofrem após um aborto espontâneo, seria injusto. Primeiro, porque sofrer, acredito que quase todas sofrem, sei lá, em algum nível. Segundo, porque o sofrimento exagerado (aquele que leva à depressão, como é o caso da Sílvia) pode ser ocasionado não só pelo aborto. Vários fatores podem levar uma mulher até então saudável a condições iguais à dela. Em alguns casos, o aborto é só o clique, a chamada “gota d’água”. E nós sabemos que a Sílvia já tinha todas aquelas questões que nós já estávamos trabalhando antes, então o caso dela se torna bastante complexo.

- Mas...

- Sempre você precisa entender o contexto em que essa mulher foi criada, quais são os valores que ela considera, quais são suas crenças, como estava sua vida – note: temas além da gravidez, além da perda do bebê. Estamos focando na mulher, na “mãe”. E cada uma é uma. A própria psiquiatria aponta que a singularidade do ser humano é o fator-chave para que qualquer tratamento seja bem-sucedido.

- E como a Sílvia está reagindo?

- O caso dela é delicado. Passou a vida toda tentando engravidar, desde o começo do casamento faz exames que apontam a total falta de infertilidade; tanto dela quanto do marido. O casal é perfeitamente sadio, fértil, forte. Ela engravidou depois de inúmeras fertilizações artificiais, sob constante pressão, após os 40 anos. Desde o começo já foi considerada uma gravidez de altíssimo risco, considerando a idade avançada e o alto nível de estresse. Perder esse bebê, assim, espontaneamente, significou para ela, de certo modo, a morte de uma última esperança (ela parece ter decretado como sendo). E nesse estado avançado de depressão que ela se encontra, é complicado, né, só com muita força de vontade para melhorar e conseguir engravidar novamente.

- Além dos medicamentos, claro.

- Sim, mas a medicação é o que menos conta em determinados casos. Há situações em que ela age só de maneira paliativa – Beatriz responde, bebendo um gole de suco – Ontem eu estava lendo um artigo sobre o efeito placebo. Um estudo de Harvard provou que o placebo tem efeito de remédio. Olha só o poder da mente! Isso sem falar nos inúmeros os casos de pessoas no mundo inteiro que se curaram de doenças através da fé, por exemplo.

- Isso me parece um pouco contraditório... – resmunga Fernanda, descrente. Já ouvira falar sobre esse assunto, mas nunca tinha dado muita importância. Lhe soava esotérico demais.

- Não vejo contradição – suspira Beatriz, bebericando o suco, olhando a moça por cima do copo – Quantos e quantos estudos que apontam que a mente da pessoa adoentada pode fazer com que a doença progrida ou recue. Isso é ciência, é comprovado, há pesquisas.

- Mas é insensato acreditar que um doente gosta de ficar doente e “comande” que sua doença não seja curada. Já discuti isso várias vezes na universidade.

- E não é igualmente insensata, sei lá, a maldade, a tortura? Cuidado com os seus julgamentos, doutora – Beatriz fala, mas num tom amigável – Se afaste para observar. A mente humana é uma máquina. Veja assim: você tem em mãos uma ferramenta potente e tem o poder de direcionar em duas direções: vamos chamar de “para o bem” e “para o mal”. Sem querer aqui entrar no mérito disso. Como e para onde cada um decide direcionar a sua própria máquina tem a ver com uma série de questões. Porque cada “piloto” é único, claro. E o direcionamento está intrinsicamente relacionado a uma série de questões, e de doenças, também. Que podem inclusive ser propícias, para alguns, em dados momentos. Aqui que a gente entra.

- Você quer dizer, então, que a Sílvia não se importa em ficar deprimida?

- Não posso afirmar isso. Não ainda! Mas meus pensamentos caminham para essa direção, sim.

- Mas qual a vantagem em se ficar doente? Nós sabemos que a depressão é corretamente considerada como “a doença do século”! É perigosa, atinge milhões de pessoas, pode até matar.

- No caso da Sílvia, as vantagens são muitas. Até então ela enfrentava problemas com familiares, com amigos e até mesmo com o próprio marido. Lembra que a gente conversou semana passada? Enquanto estiver doente, ela não vai ser cobrada de cumprir com suas “funções de mulher” e gerar um filho. Ao contrário: estando doente, recebe toda a atenção que o filho receberia.

- Isso é verdade.

- Mas volto a falar: não se pode generalizar. Nunca! Estou falando exclusivamente da Sílvia. Não se pode pensar que todos os casos são iguais e que o tratamento para uma mesma enfermidade, mas em pessoas diferentes, tem de ser parecido. Prova de que isso é errado é o fato de existirem Sílvias e Joanas e Marias.

- Claro – Fernanda sorri para Beatriz – E você acredita na recuperação da Sílvia?

- Acreditar na recuperação de um paciente é o segredo para o sucesso de um tratamento. Mas às vezes não é o bastante. Eu posso (e devo) mostrar a direção que ela tem que seguir, qual caminho deve trilhar. Às vezes posso até pegar na mão e auxiliar para que ela passe por alguma determinada barreira. Mas não posso caminhar por ela. Porque a vida é dela. De coração, eu torço para que ela se recupere. É uma boa pessoa, com certeza será também uma boa mãe.

- Eu torço também, de verdade. Desde que a vi pela primeira vez, percebi que valia a pena encaminhá-la para você.

- Fico grata pela confiança!

- É o meu trabalho! – responde Fernanda, sorrindo mais uma vez.

 

                Beatriz sorriu. Achava Fernanda bonita e agora via nela uma beleza diferente (tinha a visto sob ângulos novos dias atrás!). Não parecia mais só uma menina, uma universitária que faz perguntas que, Beatriz sabia, ela detinha muitas das respostas. Agora se assemelhava mais à mulher que tinha se ajoelhado no chão da sua sala para ch*pá-la daquele jeito incrível. Que só de lembrar, Beatriz ficava mole.

                Tentou afastar os pensamentos, bebendo mais um pouco do suco. Comandou ao seu corpo para que sossegasse, e enrolou a língua no gosto adocicado da fruta. Mas Fernanda ainda a encarava, e ainda sorria, daquele jeito, meio malicioso, então Beatriz fez o que nunca fazia: agiu por impulso.

Não querer se envolver amorosamente com alguém era uma coisa. Perder a oportunidade de se distrair e se divertir com uma pessoa era outra, completamente diferente. Além de boa na cama, Fernanda era inteligente e Beatriz apreciava o nível das conversas entre as duas (a melhor preliminar, para ela. Inteligência pode mesmo ser um afrodisíaco!). E ela tinha nesse momento uma expressão no rosto que parecia estar de acordo com o que Beatriz tinha em mente.

 

- Pensei em você ontem – Beatriz disse.

- Minha casa é uma loucura aos finais de semana – Fernanda se justificou, vendo Beatriz se levantar e trancar a porta.

                 Ao se virar, Beatriz viu que Fernanda tinha se levantado, e foi dela a iniciativa do beijo. Puxou Beatriz para perto, já encaixando suas bocas, movimentando sua língua naquela dança que era dela; que era delas. Sentiu os braços de Beatriz a evolvendo pela cintura, e quando os corpos se encaixaram ela deu um suspiro que a fez lembrar do sex*, o que fez Fernanda soltar um gemidinho. Aquilo pareceu despertar Beatriz de uma espécie de transe.

 

- Esse é meu ambiente de trabalho, não é certo – ela disse, se afastando rapidamente.

- Não precisamos fazer nada aqui, vem cá, só me beija – Fernanda suspirou, num sussurro.

 

                Beatriz voltou a envolvê-la, talvez se convencendo de que aquele já era um caminho sem volta. E era só um beijo, afinal. Um beijo. Mas ela já sentia a calcinha molhada. Incrível o poder que aquela mulher tinha sobre ela!

                Fernanda tinha um beijo muito gostoso, era macio, e eventualmente ela mudava o ritmo, dava uma investida diferente e isso desconcertava Beatriz, que era acostumada à constância das coisas – até de um beijo. Quando isso acontecia ela sentia uma fisgada e era como se jorrasse um rio de dentro dela nessas horas. Até as pernas ficavam um pouco bambas.

                Se prensaram, ainda se beijando, contra o encosto da cadeira, que deu uma rangidinha, mas as segurou. Beatriz ainda parecia um pouco contida, e Fernanda imaginou que era a primeira vez que ela se permitia se pegar com alguém ali, que aparentemente era um local mais sagrado que a sua casa – que já parecia para ela um santuário.

                A puxou para bem perto, mantendo o braço em volta de sua cintura, a prendendo ali, e sem desunir as bocas abriu a calça de Beatriz, que quis protestar, mas só gem*u.

                Fernanda desceu a mão por dentro da calcinha de tecido mole, sentindo com a ponta dos dedos os pelos macios de Beatriz, que cedia ao toque, e segurava forte em Fernanda, que continuava descendo e parou de beijá-la por um instante, breve, para olhar de maneira incrédula para Beatriz, constatando como ela estava molhada. Surpresa, Beatriz a viu tirar a mão dali e colocar dois dedos dentro da boca, sorrindo para ela de um jeito lindo, antes de voltar para o beijo e descer novamente a mão para aquela parte pulsante de Beatriz.

                Os dedos, ágeis, roçaram de leve no clit*ris, como em reverência, em cumprimento, e correram para a entrada de Beatriz, que vibrou com o contato, e deu uma piscadinha, sem querer. Fernanda sorriu dentro do beijo, ouvindo Beatriz gem*r ao ser violada, no meio da tarde, no meio do seu consultório.

                Beatriz quis gritar, mas se conteve. Pensou de maneira breve nos pacientes da sala de espera. No artigo que estava escrevendo. E antes de pensar em mais alguma coisa Fernanda suspirou diferente, a trazendo de volta para ali, para o que estava acontecendo dentro dela. Contraiu, segurando a mulher, que pareceu gostar e forçou os dedos para mais para o fundo, até onde o alcance permitia, e aumentou a velocidade das investidas.

 

                Ao goz*r, Beatriz disse “que gostosa”, bem baixinho, mas seu pensamento foi “não se apaixone, Bia!”.

 

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 9 - Nove:
edianerocha
edianerocha

Em: 08/01/2023

Mulheeerrr.. Cada capítulo me surpreende.. Tô curtindo um monte essas duas. Gente que sintonia é essa?

PQP.. Tô adorando.. s2


Resposta do autor:

 

Não por acaso eu considero essa história a minha obra prima <3

 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Lea
Lea

Em: 23/01/2022

Se apaixone Beatriz,se apaixone!!!!!


Resposta do autor:

 

Rsrsrs  

Vai, Bia! <3

 

 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Cma24
Cma24

Em: 23/05/2021

Achei genial o diálogo das duas nesse episódio. Até quero ler mais vezes para assimilar as ideias trocadas.

É uma síntese sobre seres humanos, racionais, emocionais e inexplicáveis.

Mto boa essa forma de desbravar o complexo das personagens e de seus pacientes (consulentes).


Resposta do autor:

 

Que bom que você gostou!

Eu adoro essa conversa delas! É um bate-papo à primeira vista casual, mas é bem profundo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Aja Rocha
Aja Rocha

Em: 08/12/2020

Não tá na hora de liberar mais um capítulo?

Hahaha 

a princesa já chega pedindo, muita ousadia né haha 

 

esperando, tá? hahahaha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Resposta do autor:

Hahaha

Eu diria que já quaaaaase passou da hora! Perdi meu computador semana passada... o novo chega no meu recesso, vou postar, eu juro!! Vai ser tipo presente de natal rsrs 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

olivia
olivia

Em: 03/10/2020

Olá autora , você me surpreendeu ,a partir do momento que, começei a ler seu livro! Primeiro o titulo segundo o desenvolvimento do tema ! Não tenho cultura mas, a complexidade da mente me fascina ! Você escreve maravilhosamente bem! Só digo uma coisa estou perdidamente apaixonada pelas personagens !!!!💛💛💗💚💜💙💛💘💖🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🍀!!!! Parabéns,posso te mandar Beijos?


Resposta do autor:

Olá, Olivia! Escrevi um conto com o seu nome, vc leu?rs "Olivia, quase o contrário de Alívio"rs

 

Que bom que está gostando do livro! Eu adoro esse tema tb, e tô escrevendo de enxerida rsrs Não tenho muitos conhecimentos não rsrs

 

As personagens são maravilhosas, eu queria ser analisada pela Beatriz. E pela Fernanda rs

 

Pode mandar beijos, sim! ❤

 

Beijos!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

malumoura
malumoura

Em: 02/10/2020

Caramba!! Você escreve bem demais. Eu acho esse casal tão fofo.. tenho um certo receio que isso dê merd# hahaha enfim parabéns pela escrita :)


Resposta do autor:

Oin! Grata! ❤

 

Esse casal é mto fofo!! Mas a Bia é mto racional, né

Vamos ver rsrs

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Rain
Rain

Em: 02/10/2020

Oi! 

Que capitulo, hein?! No começo fiquei meia perdida nessa assunto delas sobre aborto espontâneo, gravidez e depressão, mas depois entendi o assunto. Não sei o que fale é um assunto delicado, perder um filho é algo inexplicável não tenha palavras para falar sobre isso. 

Gosto da mente da Beatriz. Na verdade, eu gosto da Beatriz ela é demais! É uma pena que ela viveu anos se escondendo do pai, não amando a si próprio deixando quem ela é de lado e o que gosto para fazer os gostos deles. Situação assim são horríveis e difícil de se passar. Amar doi mas também cura e como um remédio milagroso se você souber valorizar bem. 

Sobre o outro comentário: minha reação foi triste. Eu realmente esperava um romance entre as duas Bias, tipo o titulo " Amor incondicional" e a frase na sinopse " Sera que sempre estiveram entrelaçadas?" me fizeram imaginar uma história daquelas que o destino já tomou conta de unir mesmo antes do nascimento. Tipo isso sabe? Uma história de amor entre duas pessoas inesperadas. A personalidade forte da Bianca e intimidadora da Beatriz me fizeram imaginar elas como um casal. Queria saber como seria elas juntas. 

Apesar de não ser o que esperava, Vou continuar lendo, por que amei essa história. Cheia de enigimas, reviravoltas, e uma Cicera que parece que vai aprontar muito ainda. Já to até começando a Shippar a Beatriz como a Fernanda, não totalmente mas aos poucos. Fábio e Bianca são lindos juntos. Porém, sinceramente, sinceramente mesmo não consigo ver eles como um casal. Talvez, seja a imagem que tenho deles na cabeça que não se batem ou talvez seja por ainda não aceitar que Bianca vai ser mesmo hétero ate o fim da história. Nada contra, só esperava que ela fosse se achar de outra forma no decorrer da obra. 

Não fique chateada comigo, por favor! Como disse não vou deixar de ler a historia ela é brilhante como todas as letras maiúsculas assim como você é uma brilhante autora como todas as letras maiúsculas também. Eu ainda tenho muitos enigimas para desvendar dela e realmente quero saber o final das duas Boas e principalmente, onde a Cicera vai entrar nisso tudo. 

Tenho impressão que a Cicera vai me dar muito arrepios! Rsrs😄

Tenho trés perguntas: 

1: Você disse que escreveu essa história em 2008 ( eu acho que foi esse o ano), E também disse que foi a única que escreveu até agora em 2020. Posso perguntar porquê? É uma história ótima, porque depois dela você não escreveu mais?  

2: Você mudou algumas coisas nela não? Por exemplo a situação no caso da depressão ser a doença do século, em 2008 ela não era tão afetada assim ou era? É por isso que ta reescrevendo algumas partes da história? 

3: Sem quere ser chata e perturbada. Mas.... Quando vai sair o capitulo sobre os 5 por 25? 

Desculpa qualquer coisa. Até a próxima!


Resposta do autor:

hahaha

Olha, vc vai me mal acostumar com esses seus comentários longos e divertidos, hein!!

Imagino a sua decepção, a história que vc tinha pensado era realmente avassaladora!rsrs Mas te prometo uma boa história aqui, e amor! O amor é incondicional, é entre elas, mas não vou mais falar mais, senão estrago.

A Cícera tá no rolo!rsrs

Quanto às perguntas, vamos lá:

1. Depois que escrevi esse livro, primeiro eu dei uma travada. De verdade acho ele mto bom, e tenho uma questão mto séria com autoboicote. Me convenci de que nunca mais escreveria nada tão bom, acreditei nisso e só. Segundo que, nesse meio tempo (de 2008 até aqui) eu me separei do meu primeiro casamento (e mudei de casa, de cidade), depois me casei de novo e fiquei viúva cinco anos depois. Estive muito ocupada, escrevi no máximo crônicas (contos são super recentes, comecei esse ano!). 

2. O que estou mudando são coisas pontuais, por exemplo, agora Beatriz ouve música numa caixinha de som rs E Beatriz e Fernanda se pegam, explicitamente. Isso não tinha na versão anterior (os capítulos acabam em cima da hora, e a cena de sexo cada uma que fazia a sua rsrsrs). Mas a depressão já era "mal do século" naquela época, essa fala estava na versão original.

Outra coisa que eu ajeito tb é quando eventualmente o capítulo está muito curto, com menos de dez páginas, ou termina numa página ímpar (aí escrevo mais pra que o próximo capítulo comece na página certinha). Tenho TOC rsrsrs

3. hahahaha 

Sabe que na minha cabeça já está escrito??

Vou postar em breve, prometo! Eu de um tempo pq esse livro tava precisando ser atualizado tb!

 

Não há nada para se desculpar!

Beijos e até a próxima!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web