O título é autoexplicativo kkkkk
Obrigada pelas leituras e comentários!
Capitulo 38: Mais um tapa
A conversa que tivera com Victor havia caído por terra quando Débora escutou a declaração emocionada de Catarina. De início, a mãe tentou fingir não entender o que a filha clamava aos quatro cantos da sala de estar, porém não conseguiu sustentar a falsa incompreensão por muito tempo, visto que Cate tornou a explicá-la a situação de uma forma mais detalhada. De repente, se sentindo fraca, Débora deixou o corpo desabar sobre o sofá, mais pálida que uma folha de papel. Não se mexeu durante o relato da mais jovem, a não ser para secar as lágrimas quentes que começaram a escorrer por seu rosto, descendo em cascata a cada vez que o nome de Érika era mencionado de forma tão afetuosa.
- Diga alguma coisa, mãe, por favor.
Mas nenhum ruído sonoro foi emitido da parte de Débora. Ela apenas chorava e soluçava copiosamente. Catarina, apreensiva, insistiu:
- Por favor, diga alguma coisa... por favor, não chore!
Mais uma vez, nenhuma resposta:
- Eu só queria que você soubesse como me sinto e que procurasse conhecê-la melhor. Ele a enganou, inclusive forjou a sua morte para que Érika o visse como alguém que tinha passado pelo mesmo problema que ela. Se eu não tivesse revelado a verdade para ela, quem sabe até hoje ele estaria levando a vida dupla que inventou, sem que nenhuma das famílias suspeitasse de algo!
Débora permanecia calada, enxugando os olhos com a ponta de suas unhas vermelho carmim, pintadas num dos melhores salões da cidade. Parou de enxugá-los, no entanto, quando viu Catarina ajoelhar-se diante de si, a fim de se igualarem em altura e diminuírem também a distância imposta:
- Não vê que é só sobre amor que estou falando? Genuinamente amor, sem o intuito de ferir ninguém. O nosso amor é...
- "Nosso"? - Débora finalmente proferiu.
- Sim, "nosso". Ela também me ama e eu quero ficar junto a ela, mãe, sem precisar ficar longe de você! Por favor!
- Me dê licença, Catarina. Não dormi nada a noite toda, preciso descansar.
- Eu suplico a você que pense no que contei! - Era a vez de Catarina se debulhar em lágrimas. - É amor... só isso...
- Neste momento quero que você saia da minha frente...
- Mas, mãe...
- Sai da minha frente! - Débora levantou bruscamente do sofá.
- Não pode ignorar o que sinto assim! Não vai sumir quando você acordar mais tarde, não sumiu nem quando eu mais tentei! Está mais vivo do que nunc...
O som do tapa entrecortou as palavras de Cate. O rosto da garota ardia em contato com as lágrimas que continuavam a cair. A mão de Débora, ainda suspensa, tremia. Catarina recuou para que Débora passasse e subisse as escadas, e se trancasse no quarto, na sequência. A jovem ocupou o lugar no sofá anteriormente destinado à mãe, num choro contínuo e doloroso.
Semanas passaram sem que mãe e filha se falassem dentro da própria casa. Catarina destinava maior parte do tempo aos estudos e aos encontros apaixonados com Érika, que aconteciam na casa da gerente, sempre após as aulas do cursinho pré-vestibular, aproveitando a ausência dos pais dela.
Tudo havia acontecido muito rápido, num dia estava quase namorando Raga, no outro estava na cama de Érika, no seguinte levava um tapa da mãe, sacramentando a distância familiar. Débora não demonstrava indícios de querer uma nova aproximação com Catarina depois da última conversa que tiveram. Por mais que Victor pacientemente a escutasse e aconselhasse, não lhe era concebível a ideia de que sua filha estivesse envolvida amorosamente com a amante de seu, agora oficialmente, ex-marido.
A audiência do divórcio, por sinal, ocorrera sem grandes emoções. Rodolfo não relutava mais, visivelmente mais desleixado e enfraquecido do que nos encontros anteriores com o advogado. Aceitara também, sem novas exigências, que teria que montar o próprio negócio, vide que a sociedade entre eles teria os dias contados a partir dali.
A rotina separatista que a família Barone seguia foi alterada, no entanto, em uma tarde de quarta-feira. Catarina escrevia uma redação sobre o auxílio da tecnologia na educação quando seu celular tocou, ligação de um número desconhecido. Débora mudou a rota do GPS, da academia para o hospital particular São Firmino. Rodolfo havia sido internado, às pressas.
*****
Raga estava com a vida agitada desde o término das férias e da desastrosa bebedeira na festa de Catarina. Chegava cedo todos os dias no campus da universidade, com pressa em sair de casa e assim fugir do clima ortodoxo das manhãs com sua mãe e padrasto.
Ainda amargava na boca e lhe doía a cabeça tentar lembrar o que havia acontecido de fato na noite da festa. As imagens surgiam tais quais borrões inacabados de um artista surrealista. Apesar do incômodo que sentia, não sabia se lembrar do ocorrido iria ajudá-la de qualquer forma. Desde antes do primeiro beijo que trocaram havia a presença de outra pessoa no coração de Catarina, disso ela sabia.
A garota dos cabelos coloridos tentava, naquele dia, focar a atenção na ementa da disciplina inicial do curso de medicina veterinária, pesquisando o preço dos livros sugeridos pela rígida professora. Vinha tão distraída olhando o conteúdo do papel reciclado que acabou trombando com Audrey, que estava parada na frente do quadro de avisos, com um copo de suco de laranja nas mãos. O choque fez com que a amiga de Cate derrubasse o suco em cima de Raga e nas folhas da ementa, gerando uma pequena bagunça. Audrey ia começar a reclamar, mas quando viu quem era a desastrada, abrandou a voz:
- Cuidado aí...
- Desculpa! Eu realmente não te vi, te pago outro suco, tudo bem?
- O suco é o de menos, não se preocupa. Seus papéis eram importantes?
- Não muito, posso pegar de alguém e tirar uma cópia depois. Foi mal mesmo, eu vinha muito distraída!
- Não foi nada, já disse. Aliás, é a primeira vez que te vejo por aqui desde...
- Pode falar, desde que te dei aquele trabalho na festa da Cate.
- Eu ia falar desde que as aulas começaram...
- Ah... acho que é por que o curso de jornalismo fica na ala oposta ao meu, mesmo assim queria te pedir desculpas de novo, apropriadamente, mas nunca havia pedido seu número à Cate e os dias foram só passando. Desculpa por aquele vexame!
- Você leva as coisas a sério, hein? - Audrey não evitou o riso. - Vem, vamos até o banheiro pra eu te ajudar a limpar essa blusa, tem suco de laranja nela toda!
- Espera, aproveitando... como ela está?
- Ela quem? A Catarina?
- Si... sim... não nos falamos há semanas...
- Ela está bem, até onde sei, estudando muito para os próximos exames de admissão. Também não temos conversado muito, essa faculdade já está começando a sugar minha vida!
- Nem me fale, a minha professora de daqui a pouco é uma verdadeira carrasca. No primeiro dia já arrancou lágrimas de outra caloura, por nada.
- Por falar nisso, já estou atrasada para a minha aula, acho que terá que limpar a sujeira sozinha, tudo bem?
- Tudo bem, se apresse. Até um outro dia.
- Antes, me dê aqui sua mão.
- Hã? Aqui está, por quê?
Audrey tirou do bolso uma caneta esferográfica e anotou na palma da mão de Raga uma sequência de 9 números, ao lado desenhou um emoji sorridente:
- Já era pra você ter meu número antes.
- Vou anotar no celular antes de limpar esse laranjal todo. Ei, sexta tem uma calourada do curso de história, você vai?
- Claro. Anote mesmo, tá legal? Nunca se sabe se você precisará dos meus serviços de cuidadora de novo, não é mesmo? Tchauzinho!
Raga ainda pensou em dizer "fala pra Cate que mandei um abraço", mas achou melhor ficar quieta. Olhou a hora e se apressou em correr para a sala, sem limpar a mancha de suco que se espalhara. Estava atrasada e temia que a professora lhe comesse o fígado na frente de toda a turma.
Fim do capítulo
Se vocês comentarem, eu volto amanhã <3
Biscoiteira mesmo, assumo huahuhaua!
Mas real, amo os comentários, uma visão da história além da minha é um presente e tanto pra quem escreve. Abraços!
Comentar este capítulo:
kasvattaja Forty-Nine
Em: 12/02/2021
Olá! Tudo bem?
Provavelmente você, Autora, tenha razão.
Acompanhamos várias histórias ao mesmo tempo e, então, o ''tico'' e o ''teco'' — após as leituras das histórias — devem ter trocados heroínas e vilões, protagonistas e antagonistas e eu, é claro, embarquei nessa minha análise furada. Que mancada, não é mesmo?
Prometo ler sua história — a partir de agora — em separado para não pular capítulos nem confundir passagens.
É isso!
Post Scriptum:
''O sucesso encoberta uma multidão de tolices.''
George Bernard Shaw
kasvattaja Forty-Nine
Em: 12/02/2021
Olá! Tudo bem?
Então quer dizer que a Débora está errada?
Quer dizer que a relação da Érika com uma pessoa casada — aqui no caso, um homem — é correta?
Quer dizer que a Érika é inocente em ao entrar em um relacionamento com uma pessoa já compromissada, não importando os motivos?
Olha, tenso isso tudo e — sinceramente — não vejo por que insistir nessa relação Cate/Érika que começou errada e continua. Essa relação deveria ter terminando lá atrás quando surgiu a Raga, mas como a Autora é quem decide que caminho todos trilharam na história, torcer para que no final não fique aquela sensação de que tudo poderia ter sido diferente ou até mesmo o vazio.
É isso!
Post Scriptum:
''Em nossas vidas, a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo de ruim.''
Buda
Resposta do autor:
Olá, grata pelo comentário!
Mas creio que tenha pulado alguns capítulos, ou mesmo não compreendido bem o enredo.
A partir do quarto capítulo já deixei claro: Érika não sabia que Rodolfo era casado, ele é o grande vilão desta história, que mentiu e manipulou a própria família e todos ao redor.
Quando, por volta do capítulo 18, se não me engano, Catarina conta a verdade, Érika decide imediatamente terminar com Rodolfo. Ele a persegue, ameaça, chantageia, mas ela não o aceita de volta.
Enfim, creio que faltou um pouco de atenção a esses pormenores da história.
Um abraço e apareça mais vezes!
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cris05
Em: 11/02/2021
Infelizmente tá complicado pra Débora aceitar a relação da Cate com a Érika. Afinal de contas ela enxerga a Érika somente como mau caráter, a amante do seu ex marido. Sigo na torcida para que o Victor, com o seu jeitinho, consiga fazer com que ela enxergue o que realmente aconteceu. Oremos!
E esse encontro de Raga e Audrey, hein? Será a formação de um novo casal???
Resposta do autor:
Não foi desta vez que Débora entendeu, mas o caminho está se estreitando.
Abraço, grata pelo comentário!
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Naty24
Em: 11/02/2021
Eu não consegui achar argumentos para o capítulo anterior por isso fiquei off.
Eu já havia comentado que a relação da Cate, e a gerente seria uma batalha ganha mesmo sendo conplexo
Este tapa só confirma
É impressão minha ou vai rolar algo entre Audrey e a Raga? Kkk.... seria interessante
Como sempre surpreendente e incrível sua dominação na narrativa da história. Aguardo o retorno triunfal ;
Resposta do autor:
Mil vezes obrigada pra você, Naty. Não faltam muitos capítulos para o final e esta história só chegou até aqui graças à leitoras como você.
Mais tarde tem mais! Aguardo seu comentário, abraço!
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