Desculpem a demora, me enrolei!
Aproveitem o capítulo.
Capitulo 39: Culpa
Érika suava frio com o celular na mão. A última mensagem de Catarina não fora nada animadora e agora a gerente se via preocupada ao ponto de não se importar em ser julgada por Débora ou por qualquer outra pessoa. Queria estar perto de sua amada a todo custo, apoiando-a no que fosse necessário. Há duas horas sem notícias do estado emocional de Catarina após a internação repentina de Rodolfo, Érika já se preparava para ir até o hospital, mas foi interrompida por Felipe, que carregava uma pilha de papéis gigantesca nas mãos:
- Érika, ainda bem que você não foi pra casa! Preciso que me ajude a passar essas informações para aquele programa novo que estamos testando, sou péssimo em planilhas! Tudo bem se você ficar mais um pouco hoje?
- Claro, Fê, sem problemas. - Ela não podia negar o pedido do chefe depois de tantas concessões já feitas por ele.
- Obrigado! Enquanto faz isso vou organizar os cadastros dos clientes que ganhamos através da parceria com o Cleber.
- Foram tantos assim?
- Claro, você chegou a ver quando fechamos o contrato, não lembra?
- Desculpa, desde cedo estou com a cabeça longe.
- Percebi, algo a ver com seu pai?
- Não, com a Catarina... com o Rodolfo, mais especificamente.
- Ele foi atrás de você novamente?
- Não... ele foi internado às pressas hoje à tarde, não sei o que aconteceu ao certo. A Cate não me manda mais notícias!
- Nossa, você não sabe mais nada do estado de saúde dele?
- Não, por isso quero terminar o trabalho logo e ir para lá.
- Tem certeza? A ex-esposa pode achar ruim.
- Não me importo com o que ela vai achar ou não, vou pela Cate, não consigo deixá-la sozinha num momento como esse.
- Mas ela não está sozinha, a mãe dela está lá também. Pense bem, você pode acabar causando um mal-estar maior para as duas.
- Já pensei e preciso ficar ao lado dela, nem que eu me esconda para que Débora não me veja.
- Cabeça dura, vamos terminar logo isso aqui, então. Eu te levo lá!
No hospital, Débora e Catarina aguardavam notícias da médica que havia atendido Rodolfo mais cedo. Tudo que elas sabiam era que o homem fora resgatado por um vizinho e trazido já inconsciente pela ambulância. Rubens, o vizinho, deixou o hospital prontamente à chegada de Débora e Cate, limitando-se a dizer que havia combinado um uísque com Rodolfo há semanas e, quando chegou a hora marcada, o encontrou desmaiado ao lado de uma garrafa de vodca pela metade e de uma cartela de compridos para dormir.
Quando a médica finalmente retornou, mãe e filha levantaram ao mesmo tempo de suas cadeiras, sendo convidadas a entrarem no consultório. Débora fechou a porta e Catarina cumprimentou a responsável pelo tratamento de seu pai. A profissional falava com delicadeza:
- Boa noite, agora poderei explicar melhor a situação do paciente para vocês. Primeiro podem ficar tranquilas, ele está se recuperando.
- O que houve, doutora? - Débora não disfarçou a aflição.
- De acordo com os exames, seu esposo estava com alta concentração de um medicamento diazepínico e álcool no sangue. Ele faz uso regular de Alprazolam, Clonazepam, Valium ou Rivotril?
- Não enquanto estávamos morando juntos, mas não sei como anda o estilo de vida dele ultimamente.
- Entendo. As taxas que apresentaram alterações nos exames do senhor Rodolfo estão diretamente interligadas ao fato do uso abusivo desses medicamentos que lhes falei, agravadas drasticamente pela mistura com o álcool.
- Você está querendo dizer que...
- Se não fosse prontamente atendido as complicações seriam maiores. Pode ter sido acidental, mas por via das dúvidas, estou prescrevendo uma guia para acompanhamento neurológico e psiquiátrico a partir daqui.
- Acompanhamento psiquiátrico? - Catarina se assustou com a frase dita pela médica.
- Acalmem-se, ele vai permanecer em observação por um ou dois dias, mas entendam que existe a probabilidade de ser necessário esse acompanhamento, mediante o quadro e a forma como deu entrada em nossa clínica. Se for o caso, será melhor já adiantar as autorizações, por isso deixarei as guias prontas.
- Faça o que for preciso, doutora. Quando poderemos vê-lo? - Débora tentou passar calma através da voz.
- Quando acordar. Sugiro que o deixem relaxado e não façam muitas perguntas, ele ainda estará confuso e sonolento.
- Mas ele está fora de perigo agora, certo? - Perguntou Catarina.
- Sim, funções cardiorrespiratórias controladas, função renal ok, ausência de infecções, tudo dentro dos conformes. Aguardemos o fim do período de observação, quando avaliarei a pertinência ou não dos outros acompanhamentos, tudo bem?
Débora e Catarina deixaram o consultório sentindo um misto de alívio e preocupação. Alívio por Rodolfo estar fora de perigo, preocupação pelas possibilidades que acabaram de conhecer através da médica que o atendera.
Para Débora havia culpa por não ter procurado ela mesma o ex-marido, assim que se tornara perceptível que ele sucumbia a um mal maior. Para Cate, um turbilhão de pensamentos desconexos ameaçava tomar-lhe de conta. Mesmo que liberadas pela médica, as duas não ousaram voltar para casa.
Enquanto isso, na recepção, Érika, antes mesmo de perguntar coisa alguma a atendente de plantão, tratou de se esconder rapidamente atrás de uma coluna providencial, pois acabara de avistar Catarina e Débora deixando um dos consultórios, cabisbaixas. Sem titubear e sem aparecer, ligou para sua amada, do lugar onde estava. Cate se sobressaltou ao ver quem estava ligando e, displicentemente, alegou que iria atrás de um lanche, recebendo apenas o silêncio congelante de sua mãe como resposta.
Encontraram-se nos fundos do hospital, abraçando-se fortemente. Em seguida, foram, de mãos dadas, até uma lanchonete na esquina. Sentaram no local mais afastado, sem desfazerem o enlace das mãos:
- Érika, eu queria muito te encontrar, mas é perigoso você estar aqui, minha mãe não pode te ver!
- Eu sei, mas não podia te deixar assim. Como ele está?
- Está bem agora, descansando.
- Ufa, então só foi um susto?
- A médica disse que... talvez ele precise de um acompanhamento psiquiátrico.... ele misturou álcool e uns remédios pra dormir... estou...
- Assustada?
- Sim, é que não paro de pensar nos possíveis motivos.
- Seja o que for - Érika passou os cabelos de Cate para trás da orelha e beijou seus lábios - Não pense que é sua culpa, ok? São os motivos dele, de ninguém mais.
- É que eu meio que virei as costas para ele e agora isso...
- Cate, cuidar de quem a gente ama é indispensável, mas cuidar de si mesmo é essencial! O Rodolfo precisa lidar com as consequências dos atos dele como qualquer um de nós.
- A diferença entre indispensável e essencial é tão sutil como parece?
- Acredito que sim, qualquer dia te explico. Entendo seu susto, mas se o caminho para Rodolfo melhorar for a terapia ou outro processo, que ele o siga, entende?
- Ah, Érika... queria não me sentir culpada, queria muito... desculpa, vou acabar chorando aqui...
- Não precisa segurar o choro, meu amor. Vamos até a minha casa? Lá você ficará mais à vontade, pode tentar dormir, eu ficarei o tempo que você quiser ao seu lado.
- Eu quero.
- Então vamos, você comeu desde que chegou aqui?
- Não comi nada o dia inteiro.
- Vamos aproveitar que estamos aqui e comer, depois partimos.
Comeram um sanduíche maior que a fome de ambas. Érika explicou a Catarina que seu chefe a havia levado, mas que voltariam de outro jeito, sempre tentando deixá-la mais relaxada. Saíram da lanchonete abraçadas, sem se incomodar com os olhares dos outros. Um olhar, entretanto, não puderam ignorar.
Fim do capítulo
Nós vemos em breve!
Comentar este capítulo:
Naty24
Em: 14/02/2021
A culpa simplesmente acaba por nos levar a ruína pelo fato de carregar um sentimento que ñ é pra si,mas foi gerado por outro alguém. Que agora sofre as consequências das suas ações mediante a situação presente, onde só agregou dor,sofrimento,angústia e decepção.Espero que disto tudo renasça um novo Rodolfo, para que assim alcance sua própria redenção
Sobre a Débora, bom, ela precisa deixar a cegueira e a raiva descabida em torno de alguém que é tão, ou igualmente vítima das circunstâncias infelizes da vida quanto ela. E veja a verdadeira versão dos fatos.
Sobre nosso casal sensação ou nem tanto para todos kkk.... vejo enraizamento e fortalecimento da relação num todo
Ah! Se o mundo existissem mais Érikas e Catarinas por aí seríamos mais empáticos e menos apáticos com o próximo
Só a apenas uma certeza nesta vida.... que a autora volte com mais enredo tão bons ou melhores que este ;
Abraços!!!!
Resposta do autor:
Grata, sempre gata pela torcida por minhas personagens e pelo envolvimento nessa trajetória. Não é fácil, tem dias que bate o desânimo, mas lembro que tem você e mais outras pessoas esperando e continuo.
Tenho mil ideias para novas histórias e espero colocá-las em prática este ano ainda, tomara.
Abraço e espero que curta a reta final!
Cma24
Em: 14/02/2021
Mais reviravoltas nesse romance.
Mtos "serás?" que ainda podem acontecer. Gostei do título do capítulo, tbm autoexplicativo.
Esse sentimento vem forte e muda o rumo das coisas.
E o pior é ele ser causado pela irresponsabilidade do Rodolfo.
Mas tenho esperança de que tudo ficará bem #dedoscruzados
Resposta do autor:
Sua leitura é uma grata surpresa, fico sempre muito feliz ao ler seus comentários.
Até o final, que está cada vez mais próximo, espero te surpreender mais.
Abraço!
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