MARI e ANA por MahLemes
Meninas, aqui mais um capítulo para vocês.
Juro que escrevo para diversão de vocês e não tortura, então tenham carinho com a escritora, viu?
Beijos e boa leitura!
Capitulo 22 - Galinhas
Capítulo 22 - Galinhas
-Caiu da cama, Mari? -Dona Rosa perguntou.
-Que susto, vó. Tava indo no banheiro. -Respondi colocando a mão no peito. -Já volto. -Fui ao banheiro e voltei à cozinha.
-Não vai voltar pra cama não? -Ela perguntou de costas para mim fazendo o café.
-Tive um sonho que me despertou. Acho que não consigo dormir de novo. -O cheiro do café tomou conta do ambiente e novamente fui transportada para minha infância e as visitas à fazenda. -Que cheirinho gostoso, vó.
-Também adoro o cheiro do café passado logo cedo. -Ela concordou. -Mas então se foi sonho foi bom, né?
-Heim? -Perguntei perdida. -A sim, entendi agora. Acho que ainda não acordei de tudo. A, vó, não sei se foi bom.
-Como você se sentiu quando tava sonhando?
-Muito bem. Leve e elétrica. -Respondi olhando pro nada.
-Então foi bom. -Ela disse me servindo uma xícara de café.
-É, acho que foi, mas quando acordei vi que não era de verdade. E me lembrei das complicações. -Parei de falar para soprar o café.
-Minha filha, às vezes a gente precisa ignorar as complicações e viver. Os momentos pagam as complicações.
-Mas eu tô dividida, vó. -Disse e provei o café. O sabor era o que eu me lembrava. -Esse café é daqui?
-É sim. O Alceu que planta, colhe, seca, torra e mói. Ele tem muito orgulho desse café.
-Muito gostoso.
-Você tá dividida entre a Ana e outra mulher? -Ela perguntou e tomou um gole do seu café.
Eu quase engasguei-me com o café com a fala de dona Rosa. Não esperava essa fala. Não consegui dizer nada. Só fiquei estática, olhando-a.
-Eu reparo nas coisas, filha. Eu vi como ela te olha e como você tratava ela diferente ontem. E percebi também como você olha pra ela quando acha que ninguém tá vendo. Quem é a outra mulher?
-A outra é tia de uma amiga minha. -Eu disse ficando vermelha da cabeça aos pés.
-Então ela é mais velha?
-Ela tem trinta anos.
-Nem é tanto assim então. Qual o problema com ela?
-A, vó, nem sei, viu? Ela fez igual à Ana. Simplesmente sumiu.
-Explica melhor, quem sabe não consigo te ajudar a pensar?
Contei para ela sobre a Ana ter sumido e depois sobre a Márcia.
-Então ela é professora na sua faculdade? -Ela me perguntou.
-É sim. Mas eu juro que não sabia de nada até encontrar ela lá. E foi ela quem veio atrás de mim depois disso. E quando o amigo dela falou na cabeça dela ela disse que iria me ligar depois e nunca mais me ligou. E ontem eu vi ela com a ex dela na casa da minha amiga.
-O coração é bobo, né, minha filha?
-É sim. Eu não tenho a menor chance com ela. Ela é mais velha, tem a carreira promissora, voltou com a ex. Não sei nem porque eu fico dividida.
-De tudo que me disse, o único motivo real pra mim é ela ter voltado com a ex. Minha filha, você é uma mulher linda, inteligente, madura. Não tem porque alguém não se interessar por você.
-A nossa relação pode dar dor de cabeça pra ela, vó. Não é bom uma professora namorar uma aluna. Ela pode sofrer algumas consequências pelo que entendi.
-E a Ana? O que te impede de estar com ela?
-Além da Márcia? -Perguntei rindo. -A insegurança, vó. Quem me garante que ela não vai sumir de novo?
-Se estivessem as duas aqui na sua frente dispostas a te namorar. Qual você escolhia?
-Não sei, vó. -Eu disse depois de um pouco de silêncio. -Foram experiências completamente diferentes. O que vivi com uma não vivi com a outra.
-É, minha filha, você tá bem dividida mesmo. -Ela disse e terminou seu café. -Mas não estou vendo ninguém aqui te pressionando para uma decisão, então não se apressa não. Lembra que o tempo é sempre o melhor remédio.
-É, vó. Vou tentar manter isso na minha mente. Mas não tá fácil.
-Nunca é, Mari. Vem, vamos lá buscar um pouco de leite. O Alceu já deve ter começado a ordenhar as vacas. -Ela disse se levantando e pegando uma vasilha e uma caneca com café. -Coloca café pra você aí na caneca pra tomar com o leite.
Não me fiz de rogada e logo estava atrás dela com a minha canequinha.
-Amanhã acordamos a Ana para ter a experiência. -Ela me disse piscando um olho em cumplicidade. -Coloca essa bota aqui pra não sujar seu chinelo.
Calcei a bota e fomos atrás do seu Alceu.
***
-Bom dia. -Disse Ana sonolenta ao chegar à cozinha.
-Bom dia! - Respondi junto com dona Rosa.
-Hum, que cheiro gostoso. -Ela comentou.
-É o pão de queijo que a Mari fez pra mim enquanto eu ficava só olhando. -Dona Rosa respondeu.
-Que gracinha, Mari. Ele tá pronto?
-Tem alguns aqui na mesa, os do forno ainda falta um pouco pra ficar pronto. Senta pra você tomar café. Deve ter passado da hora de você comer já.
-Como você sabe? -Ela perguntou intrigada.
-Eu li um pouco sobre a pré-diabetes quando você foi embora. -Respondi com um certo sorriso para demonstrar que não era uma alfinetada.
-Que atenciosa. -Ela respondeu sorrindo e sentou-se à mesa.
***
-Mari, não quer andar um pouco e mostrar pra Ana os animais? Podem até colher os ovos pra mim.
-Você anima, Ana? -Perguntei um pouco sem graça.
-Eu animo. Mas você não vai ficar sem jeito, Mari? Se quiser podemos esperar as meninas acordarem.
-Fico não. -Respondi feliz por ela ter pensado no meu lado, me deixando mais à vontade. Sorri para ela, que ficou vermelha.
-Eu vou lá trocar de roupa e já volto. -Disse e saiu correndo.
-Obrigada, vó. -Abracei dona Rosa apertado.
-Por nada, minha filha. Não se preocupe com nada. Apenas viva, tá bom? -Ela disse isso e me beijou a testa.
Apenas acenei em acordo. Logo Ana retornou e fomos andar pela propriedade. Levei ela ao pasto primeiro. Da cerca conseguíamos ver algumas vacas e um dos cavalos. Ficamos em silêncio olhando-os pastando e aproveitando o vento fresco da manhã.
-Queria ser mais eu, sabe? -Ana disse um tempo depois.
-Como assim? -Perguntei olhando para ela.
-Ser mais livre, não me prender tanto às expectativas dos outros. Me sinto muito presa aos meus pais. -Ela disse sem me olhar. -Eu devia ter insistido com eles pra ficar no início do ano.
-Mas você devia estar assustada com o que tinha acontecido, não?
-Sim, estava, mas já tinham descoberto o problema. Eu conseguiria me cuidar lá. Não precisava ter voltado pra casa e perdido um semestre. Talvez eu não tivesse te perdido. -Ela completou e abaixou a cabeça.
-Ana... -Eu comecei, mas ela me interrompeu.
-Não, não precisa dizer nada. Não tô querendo te pressionar nem nada. Só tô dizendo que eu podia ter me imposto mais. Você parece tão livre, tão dona de si. -Ela finalmente me olhou. -Foi uma das coisas que me chamou a atenção em você depois que nos conhecemos melhor.
-Não sei o que dizer. Nunca parei pra pensar nisso. Mas se for analisar eu costumo mesmo forçar a barra com os meus pais quando tenho uma opinião diferente deles.
-Como você faz isso? -Ela me perguntou parecendo um pouco desesperada.
-Não sei, Ana. Acho que eu só falo.
-E se eles desaprovam? Você faz da mesma forma?
-Depende do que é. Acho que tem que ter um balanço entre respeitar eles e ter personalidade própria. Não sei te falar bem onde está a linha, mas não acho que eu já tenha cruzado ela.
-Eu não consigo, sabe? Eu acabo fazendo a vontade deles. Ficar lá em casa parada esses meses foi muito difícil. Eu me sentia presa. Depois de experimentar a liberdade de morar fora por alguns dias já me sentia outra pessoa. Mas foi como se tudo se apagasse quando voltei pra lá.
-Sinto muito que tenha sido assim.
-Mas já passou. Logo vou morar sem eles novamente e vou poder exercitar essa vontade própria.
-Sim. Aproveita pra tentar se impor com eles aos poucos. Isso vai te fazer bem e vai fazer com que eles percebam que você já é adulta e mesmo inexperiente em certas coisas, tem direito de cometer seus próprios erros.
-Obrigada por aceitar começarmos do zero, Mari. Senti muita falta das nossas conversas. -Ela me olhou e sorriu. Sorri de volta e preferi não responder.
-Vamos ver os porcos?
-Nossa, que convite mais romântico. -Rimos feito duas bobas. -Vamos sim.
Andamos mais um pouco e chegamos ao chiqueiro. A porca estava deitada e seis porquinhos mamavam nela.
-Ô meu Deus, que coisinha mais fofa! Eu quero um pra mim!
Olhei para a cara dela e disse:
-Você sabe que eles crescem e ficam do tamanho da mãe, né?
-Isso é apenas um detalhe. -Ana disse fingindo indiferença ao tamanho do animal.
-Claro, com certeza a Ju e a Nanda vão adorar ter um porco em casa para montar de vez em quando. -Rimos da brincadeira e ficamos mais um pouco olhando os porcos mamando.
-Vem, vamos visitar o peru. Você vai adorar ele. -Disse puxando-a pela mão. Nossas mãos se entrelaçaram automaticamente, o que me assustou e me fez soltar sua mão.
-Desculpa, foi automático. -Ana disse com o rosto vermelho como um pimentão.
-Não preocupa não. -Respondi sem graça.
Continuamos andando até chegar ao cercado onde o peru estava.
-Senhor Peru, essa é a senhorita Ana. Senhorita Ana, esse é o senhor Peru. -Coloquei ênfase no nome peru e aumentei minha voz para fazê-lo gritar, o que funcionou.
-Glugluglugluglu.
-O prazer é todo meu, senhor Peru. -Ana respondeu fazendo um comprimento e entrando na brincadeira.
-Conversa com ele. -Eu disse.
-E como eu converso com um peru? -Ela respondeu indignada.
-Ô meu Deus, você é pinto de apartamento mesmo, né? -Ri da cara que ela fez. -É só fazer barulho imitando ele. Presta atenção na cor do pescoço dele.
-Tá branco, e daí?
-Glugluglu. -Gritei assustando-a.
-Glugluglugluglu. -Ele respondeu.
-Glugluglu. -Repeti. Logo seu pescoço começou a ficar vermelho até àquela pele do nariz.
-Glugluglu. -Ana começou, rindo de mim e do peru. Ela ficou uns minutos conversando com ele em "peruês" até se cansar. Ela não parava de rir. Seu rosto alegre, o sorriso, seu olhar e sua risada estavam mexendo comigo. Eu a observava de canto de olho para que ela não percebesse, mas acho que ela sentiu, pois me pegou no flagra e sorriu para mim de uma forma muito meiga e doce.
-Agora são as galinhas. -Eu disse sem graça.
Elas estavam logo ao lado. Entramos pelo portãozinho e elas vieram para o nosso lado, achando que tínhamos comida. Ana ficou com medo de que elas a bicassem e veio pro meu lado, quase subindo no meu colo. Eu a abracei e disse:
-Não precisa ter medo. Elas não vão te atacar. -Ela então se soltou, novamente um pimentão. -Vem, vamos ver se tem ovos.
Ana se recusou a pegar os ovos nos ninhos, com medo de levar bicadas das galinhas. Eu ria cada vez mais de suas reações quando eu entregava os ovos para ela e alguma galinha cacarejava.
-Vamos embora antes que você sofre um infarto, Ana. -Disse rindo dela. -Depois a dona Rosa volta aqui pra pegar o resto dos ovos.
Nesse momento, como se tivessem combinado, as galinhas a cercaram como eu nunca havia visto antes. Ela se desesperou de uma forma que eu não conseguia acalmá-la. Peguei a cesta de sua mão, pendurei na cerca e a peguei no colo. Não sei como consegui, simplesmente a peguei e levei até o portãozinho que consegui abrir para sairmos. Ela havia se agarrado à minha blusa e colocado seu rosto no meu pescoço para não ver nada. Seu corpo tremia e ela soluçava. Me abaixei e me sentei no chão com ela em meu colo.
-Calma, Ana. Já foi. Estamos do lado de fora já. -Disse esfregando suas costas tentando acalmá-la. -Ei, olha pra mim. -Pedi, tentando levantar seu rosto. O soluço havia parado, mas ela continuava agarrada a mim e não parecia que iria soltar. Tentei me levantar com ela nos braços e me desequilibrei, mas uma mão me amparou e me ajudou. Olhei para o lado e vi seu Alceu com o olhar preocupado. -O senhor me ajuda a levar ela pra dentro?
-Ajudo sim. -Ele respondeu solícito. Não havia muito o que fazer com ela agarrada a mim, então ele simplesmente foi me amparando para que não caíssemos as duas.
Chegando na casa consegui me sentar no sofá com ela. Logo dona Rosa estava ao nosso lado querendo saber o que tinha acontecido. As meninas haviam acabado de acordar e apareceram.
-Ana, fala comigo. Estamos dentro de casa já. Pode abrir os olhos. Não vou deixar nada acontecer com você. -Eu dizia isso tentando fazer com que ela me olhasse, mas ela mantinha seu rosto escondido no meu pescoço como uma criança quando tem medo e se esconde no colo dos pais.
-Vamos deixar elas aqui até a Ana se acalmar, meninas. -Dona Rosa disse chamando as meninas para a cozinha. -Vou deixar um copo de água aqui ao lado.
-Obrigada, vó. -Respondi.
-O que aconteceu? -Escutei Júlia perguntar antes de Alceu fechar a porta da cozinha e nos deixar à sós na sala.
Comecei a balançá-la devagarinho e cantar baixinho.
-"Daydreamer Sitting on the sea Soaking up the sun He is a real lover And making up the past Feeling up his girl Like he's never felt a figure before..." -Percebi que ela foi relaxando aos poucos e parou de tremer. Suas mãos pararam de apertar minha roupa, mas ainda continuava com o rosto escondido no meu pescoço. -Ana, tá tudo bem. Você consegue olhar pra mim? -Perguntei bem baixinho.
Passaram uns dois minutos e ela se afastou um pouco de mim e me olhou.
-Oi. -Eu disse e sorri.
-Oi. -Ela respondeu com a voz rouca de quem não falava há algum tempo. Ela então se deu conta que estava em meu colo e tentou se levantar. Eu a segurei, impedindo-a.
-Calma. Não precisa desesperar. O que foi que aconteceu? -Perguntei ajudando-a a se sentar ao meu lado no sofá.
-Não sei. Eu simplesmente travei. O ar não entrava, parecia que eu ia morrer. Nunca senti isso antes na minha vida.
-Você teve um ataque de pânico? -Perguntei confusa.
-Acho que sim. -Ela respondeu pensativa. -Minha amiga uma vez me descreveu assim um ataque de pânico dela. Se você não dissesse eu não iria me lembrar.
-Você tem medo de galinhas? Por que não me disse? Não teríamos entrado no galinheiro.
-Eu não sabia que tinha medo.
-Que estranho. -Comentei confusa. -Bom, o importante é que agora sabemos e é só não entrarmos mais no galinheiro. -Completei para tentar animá-la.
-Obrigada por cuidar de mim, Mari. -Ela disse pegando minha mão e me olhando nos olhos.
Nossas mãos se encaixaram perfeitamente, como sempre. Aquele instinto protetor ainda estava bem à flor da pele. Olhávamos nos olhos uma da outra e começamos a nos aproximar devagar. Estávamos envoltas em uma névoa que nos impedia de ver qualquer outra coisa que não fossem os olhos ou a boca uma da outra. Nossos lábios estavam a poucos centímetros quando Ana fechou os olhos. Eu fechei os meus e senti sua respiração pesada no meu rosto quando a porta fez um barulho e nos afastamos, assustadas.
-Ana? Tá melhor? -Júlia abriu a porta perguntando. Quando nos viu com os rostos corados, afastadas uma da outra e com os olhos assustados ela ficou vermelha, pediu desculpas e fechou a porta novamente.
-Desculpa. -Eu disse me levantando rápido e indo em direção ao quarto e fechando a porta.
Fim do capítulo
Gente, quis colocar o ataque de pânico na história tanto para compor ela, claro, mas também para mostrar que existem muitos medos que para nós podem parecer infundados ou bobos, mas para quem tá sentindo pode parecer o fim do mundo. Se alguma vez se depararem com alguém tendo um ataque de pânico tentem tirar a pessoa da situação primeiro e nunca tentem argumentar. Ela precisa se sentir segura novamente para que isso passe. Conversem com uma voz calma e nunca se desesperem, pois isso só vai piorar a situação.
Dito isso, espero que tenham gostado do capítulo...
Beijos e até o próximo!
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 09/11/2020
Mah....
Essa vó Rosa é um amor, compreensiva, inteligente e companheira (tinha que se chamar Rosa né? Kkkkm), muito bom esse episódio do ataque de pânico, como você mesmo completou, um medo parecendo bobo para alguns pode ser um abismo de problemas para outros, nunca devemos julgar essas coisas. Belo toque parabéns. Agora a Júlia, tinha mesmo necessidade de entrar aquela hora é daquela forma?? Caramba viu...kkkk
Beijo
Rosa
Resposta do autor:
Siimmm!! Morro de saudades das minhas conversas com a minha vó... Ela era bem assim quando estava mais lúcida... Minha conselheira...
Obrigada, Rosa!!! Essa Julia não tá cooperando, né? kkkkkkk
Beeeijos!!
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