MARI e ANA por MahLemes
Mais um capítulo para vocês!!!
Boa leitura! Beijooos
Capitulo 23 - Cavalos
Capítulo 23 - Cavalos
Me encostei na porta e respirei. Meu coração estava disparado. Eu não estava pronta para aquilo, não sabia o que fazer. Precisava colocar a cabeça no lugar. Não queria me envolver com a Ana. Não agora. Eu precisava conversar com a Márcia antes de qualquer coisa. Mesmo que ela tenha voltado com a ex, preciso falar com ela. Se eu me envolver com a Ana antes de resolver o que não teve um fim vai ser como está sendo com a Ana. Vai ter sempre uma tensão no ar e isso não vai dar certo. Nunca sei quando vou encontrá-la na faculdade ou na Ritinha. Resolvi arrumar as camas para me dar um tempo e me recuperar. Quando terminei me sentia um pouco mais equilibrada e saí do quarto. Ana não estava mais no sofá e a porta da cozinha estava aberta. Ouvia vozes vindo de lá.
-A, você voltou, Mari. -Nanda comentou ao me ver. -Estávamos discutindo aqui sobre o ataque de pânico da Ana. Vovó acha que talvez ela tenha passado medo com galinhas quando era pequena e não se lembra.
Olhei para Ana e ela desviou o olhar.
-É, pode ser, né? -Respondi um pouco distraída ainda.
-Vem tomar café, Mari.
-Já tomei, Ju, obrigada.
-Mas você tomou muito cedo, minha filha. Come mais alguma coisa, vai. O almoço ainda demora. -Dona Rosa disse me incentivando.
-Vou tomar um café então. -Meu estômago não estava preparado para comida novamente. Ainda estava agitada internamente. Percebi que Ana tinha um copo de água na sua frente e não comia.
-A Ana estava dizendo que foram ver os animais, Mari. -Nanda tentou puxar assunto comigo.
-Sim. Ela viu as vacas, um dos cavalos, os porcos e o peru. -Resolvi deixar as galinhas fora do assunto. -Eu não tive coragem de levar ela perto das vacas e do cavalo. Não sei se são mansos. Depois, se o seu Alceu puder, acho que ela iria gostar de passar a mão neles. -Eu disse olhando para ela.
-Sim! Eu vou amar! -Ela respondeu com um sorriso me olhando.
-Claro -Dona Rosa disse. -Ele tá só terminando de tratar dos animais e logo leva vocês lá.
-Ele podia selar os cavalos pra gente, né, vó? -Nanda disse animada.
-Ele sela sim, minha filha. É só pedir. Eles são todos mansos.
A conversa continuou por um tempo ao redor da mesa até que dona Rosa se levantou dizendo que ia arrumar a casa para depois começar o almoço. Não deixamos que ela se levantasse. Fomos nós quatro arrumar a casa e mandamos ela para sua cadeira preferida na varanda. Rapidinho terminamos de arrumar a casa. Quando fomos procurar dona Rosa ela estava na varanda conversando com seu Alceu. Os dois tinham uma cumplicidade tão grande que quando estavam juntos parecia que uma áurea de paz os recobria. Sentamo-nos junto com eles como na noite anterior e logo dona Rosa falou:
-Alceu, as meninas querem andar a cavalo.
-Vocês sabem montar?
-Só eu que nunca andei, seu Alceu. -Ana respondeu.
-É super fácil, Ana. Você vai tirar de letra. Vou te colocar com o mais velhinho que é o mais manso e mais obediente. Aí a Nanda mostra a propriedade pra vocês. Só não pode correr que é perigoso pra vocês e pro animal, viu? Aqui não é preparado pra isso e ele pode pisar num buraco e vocês caírem e machucarem feio além deles poderem quebrar a pata também.
-Pode deixar, vovô. Não vamos correr não.
Com essa conversa fomos em direção ao curral, onde estavam as selas. Seu Alceu chamou o cavalo que estava mais próximo, selou ele com uma habilidade incrível e logo montou.
-Vou buscar os outros cavalos. Eles estão pastando. Já volto. -Disse e saiu num trote rápido.
-Uau, seu avô monta bem demais, Nanda. -Eu disse.
-Ele montava quando era novo. Participou de algumas competições, mas teve que parar quando se casou com a vovó. Depois você pergunta pra ele. Ele ama contar das competições.
Poucos minutos depois chegavam os cavalos e seu Alceu. Selou todos os cavalos e deu umas instruções básicas para a Ana e entregou um apito para Nanda.
-Qualquer coisa é só apitar que os cachorros estão treinados para ir atrás. Aí eu sigo eles. Se tiver muito longe manda alguém vir voltando pra eu pegar o cavalo e chegar mais rápido, tá bom?
-Tá bom, vô. Obrigada. Não vai acontecer nada não.
-Vai não, mas é sempre bom estar preparado, né? -Ele disse bem sério. -Vocês entenderam, meninas?
-Sim. -Respondemos as três um uníssono.
-Então vão aproveitar. Voltem umas 11 horas no máximo que o almoço vai tá pronto.
-Obrigada, vovô. Beijos. -Nanda disse e começou a nos guiar.
Andamos bastante. O terreno era muito bom para andar a cavalo. Ana não teve dificuldades, muito menos Nanda, Eu e Jú. Nanda nos mostrou muita coisa da propriedade. Chegamos até à beira do rio, onde os cavalos beberam água e nós descemos um pouco. Amarramos eles numa árvore que dava uma sombra bem gostosa e nos sentamos com os pés na água, aproveitando para nos refrescar.
-Aqui é muito gostoso, Nanda. Dá uma paz tão gostosa. -Júlia disse.
-Dá mesmo. Vontade de ficar aqui pra sempre. -Ana completou.
-Sem internet? -Nanda perguntou. -Duvido que você consiga. -Rimos da cara de afronta da Ana.
-É, talvez não. -Ela acabou concordando. -Mas passar uns dias aqui vai ser muito gostoso. -Ela disse isso e me olhou.
-Sim, vai ser sim. -Respondi um pouco sem graça pelo olhar dela.
Ficamos em silêncio ouvindo apenas o barulho da água correndo. Me deitei e fechei os olhos para relaxar com aquele barulho. Na minha cabeça repassava aquele quase beijo com a Ana. Era a terceira vez que eu a "salvava". Aquilo estava virando uma rotina de quando estávamos próximas. Será que isso era um padrão meu? Será que era essa necessidade de cuidado que ela inspirava que me atraía para ela? Meus pensamentos foram interrompidos pela fala de Nanda.
-Meninas, já são dez pras onze. Vamos? O almoço deve estar pronto já.
-Vamos. -Respondi me sentando.
Calçamos nossos tênis e logo subimos nos cavalos.
O resto do domingo foi gasto em conversas, comidas, violão e mais um pouco de sol. Nesse dia todas dormimos cedo, afinal a energia que havíamos gastado não era pouca. Na segunda dona Rosa foi nos acordar umas seis horas da manhã para irmos beber leite da hora no curral. A cara da Ana tentando tirar leite da vaca foi a melhor de todas. Era um misto de receio com concentração que estava muito cômica. Não demoramos muito lá para não atrasar os peões que estavam ajudando o seu Alceu. Tomamos o café da manhã e lá fomos arrumar a casa para dona Rosa de novo.
-Meninas, o Alceu vai me levar no postinho da cidade para eu ver essa dor nas minhas pernas, mas logo estaremos de volta, viu? Vocês precisam de alguma coisa?
-Precisamos não, vovó. Podem ir despreocupados, qualquer coisa eu corro lá na dona Zélia. E pode ficar tranquila que a gente faz o almoço. Aproveita e passa lá em casa pra ver minha mãe. Ela tava morrendo de saudades da senhora.
-Tá bom, minha filha. Obrigada. Se cuidem, meninas. -Ela deu um beijo em cada uma e saíram com um aceno tímido de Alceu.
Resolvemos começar o almoço logo pois não estávamos acostumadas com fogão a lenha. Acabamos por acertar na decisão pois terminamos de fazer tudo quando eles estavam chegando da cidade.
-E aí, vovó, como foi com o médico? -Nanda perguntou preocupada.
-Ele pediu uns exames, minha filha. Disse que está desconfiado de varizes. Mas disse que se for isso mesmo ele acha que com medicação melhora porque deve tá no início ainda. Aí ele já pediu exame de tudo pra mim e pro seu vô. Vamos fazer todos na semana que vem.
-Que coisa boa, vovó. Vem, o almoço tá na mesa já.
-Ainda bem que fizeram, minha filha. Eu achei que ia ser mais rápido, mas tinha bastante gente na fila. Ele queria passar a gente na frente por causa da idade, mas não deixei não. Tinha gente lá com febre, passando mal. Eu nem com dor estava na hora.
-Ele passou alguma coisa pra dor? -Perguntei interessada.
-Não, minha filha. Ele disse só para eu evitar ficar muito tempo em pé. Quando for fazer qualquer coisa que dê pra fazer sentada é pra eu fazer. E colocar as pernas para cima depois de ficar um tempo maior em pé. Como conseguimos horário pra fazer os exames semana que vem, ele disse que prefere não me dar remédio.
-Tá certo, né, vó? Você é tão saudável, melhor não tomar remédio atoa. -Respondi aliviada.
***
Os dias passaram tranquilos, sem mais incidentes. Eu percebia que por mais que eu tentasse evitar, a cada dia me sentia mais próxima da Ana. Não houve mais nenhum momento de quase beijo como após o ataque de pânico dela, mas quando ficávamos sozinhas a tensão no ar era quase palpável. Por isso eu evitava que ficássemos sozinhas, enquanto Júlia fazia de tudo para ficarmos apenas nós. Ana sempre parecia querer dizer algo para mim, mas desistia no último minuto. Eu não insistia, com medo do que poderia ser.
Quando fomos na cachoeira me assustei com a semelhança dela com meu sonho. Estávamos nós quatro dentro da água quando Júlia disse que ia beber água e Nanda foi junto. Até então não tinha me dado conta da cena, mas logo ouvi o barulho de um tucano. Me peguei apontando-o.
-Olha, Ana, o tucano.
-Onde? -Ela perguntou se aproximando de mim e olhando na direção do meu dedo.
Sem notar ela se aproximou demais e se encostou em mim. A eletricidade nos pegou desprevenidas. Ela ia se virar para mim, mas eu a segurei a tempo e disse no seu ouvido:
-Não se vira, por favor. Não tô preparada pra isso, Ana. -Eu a abracei por trás, dei um beijo no seu cabelo e mergulhei para longe para esfriar a cabeça. Fui até a queda d'água e fiquei lá um pouco para deixar a tensão se esvair. Pouco tempo depois Nanda estava ao meu lado.
-Amiga, você tá bem? -Ela perguntou preocupada.
-Não sei, Nanda. Tá sendo uma tortura ficar próxima assim da Ana. Eu não quero me envolver agora. Eu preciso resolver algo antes. Além do que não sei se consigo me entregar totalmente depois do sumiço dela. Preciso de mais tempo. Essa convivência próxima tá me matando.
-O que eu posso fazer pra te ajudar?
-Acho que não tem o que fazer. Você viu o que acabou de acontecer?
-Não. Só vi você se afastar.
-Nós quase nos beijamos outra vez.
-Outra vez? -Ela perguntou confusa.
-A Jú não te contou do dia do ataque de pânico dela?
-Não.
-Se a Jú não tivesse ido atrás da Ana aquela hora que estávamos no sofá teríamos nos beijado. Ainda bem que ela foi, pois a coisa poderia ficar pior do que já está.
-A Ana deve tá amaldiçoando ela até hoje. -Nanda riu.
-Deve mesmo. Por mais que ela não esteja tentando criar oportunidades aquela seria perfeita pra ela. Porque foi mútua a atração naquela hora. Eu tô ficando maluca, Nanda. Quando ficamos só nós duas a sensação que tenho é que vamos nos beijar a qualquer momento.
-Amiga, por que você tá resistindo tanto? -Nanda perguntou confusa.
Refleti por alguns instantes antes de responder.
-Não sei, Nanda. Tem uma pessoa, mas já está claro que não temos nada. Na verdade, nunca tivemos, pois foi conversado que seria algo do momento na primeira vez, mas na segunda meio que não terminou o encontro. Ele foi interrompido. Esse encontro estava diferente. Me pareceu que estávamos mais abertas, que poderia ser algo a mais. Mas desde então não nos falamos mais.
-Você procurou ela?
-Não. Ela disse que me procuraria quando tivesse processado a informação que interrompeu nosso encontro.
-Nossa, quanto mistério. -Nanda riu. -Tô só brincando, não precisa me dizer nada. Eu entendo que você esteja se resguardando. Mas será que você não está se torturando sem motivos?
-Pode ser, né? Mas o outro problema é que não sei onde isso com a Ana vai dar. Eu não sei se me entregaria como eu estava antes dela ir embora. Ela ter ido e não ter dado notícias me deixou muito desconfiada. Vou precisar de mais tempo para voltar a confiar nela.
-Amiga, ninguém tá pedindo pra vocês namorarem.
-Eu sei, Nanda, mas e se eu ver que não vai dar e ela estiver muito na minha? Não quero machucá-la. E nem brincar com os sentimentos dela.
-Ela é adulta, Mari. É só vocês conversarem. Deixa claro que não é nada sério, que quer ir devagar para se conhecerem assim como estava indo no início de tudo.
-É, talvez você tenha razão, Nanda. Vou pensar nisso com carinho. Obrigada por me ouvir. -Eu disse abraçando-a.
-Você sabe que eu estou aqui para o que precisar, né?
-Claro que sei.
***
-Vocês pegaram tudo, minhas filhas? -Dona Rosa perguntou pela milésima vez.
-Pegamos sim, vó. -Foi a minha vez de responder.
Estávamos guardando tudo no carro para sair no domingo após o almoço. Passaríamos na casa da Nanda só para pegar as malas e iríamos direto para a minha cidade. Dona Rosa deu um abraço em cada uma das meninas, me deixando por último. Quando me abraçou sussurrou no meu ouvido:
-Seja jovem, minha filha, cometa erros e viva. Para isso serve a juventude. Para sermos um pouco inconsequentes. E vê se vem mais vezes com a Nanda. -Me deu um beijo na bochecha e me soltou.
Seu Alceu se despedia com um aceno apenas. Havíamos cantado muito com ele nas noites antes de dormirmos. A reunião dos primos no sábado tinha sido ótima e até Júlia tirou uma casquinha de um dos primos de Nanda, que tinha acabado de passar na terceira chamada para um dos cursos da nossa faculdade. Júlia adorou a notícia e estava toda animada para o semestre.
A viagem ocorreu sem problemas. Deixei as meninas no apartamento e fui para minha casa. Estava muito cansada. A estrada estava cheia e fiquei muito tensa ao volante. Tomei um banho, comi alguma coisa e sete horas da noite estava deitada na minha cama para dormir.
Fim do capítulo
Espero que tenham gostado, meninas!!!
Obrigada por acompanharem as aventuras da Mari... hehe
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 09/11/2020
Mah...
Que pedaço do paraíso de paz e tranquilidade as meninas estavam hein? Com certeza muito belo lugar. A Mari continua se mostrando bem adulta, inclusive não querendo ferir os sentimentos de Ana, no entanto a atração entre elas é evidente. E a Vó Rosa dando força...
Só não demore voltar está bem? Kkkk
Beijo
Rosa
Resposta do autor:
Da uma vontade de estar lá, né Rosa?
Eu tô achando é que a Mari anda muito madura. Estamos precisando mostrar um pouco de realidade, né? Ou será que realmente existem pessoas assim?
Beijos!!
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