Capitulo 28
Aquele dia parecia que ia ser um dia normal como qualquer outro dia desde o início da quarentena. Exceto que era véspera do meu aniversário. Eu estava animada porque iria passá-lo com Elis e eu estava pensando até em fazer uma reunião virtual com minha família. Pasmem. Pela primeira vez eu tinha realmente vontade de estar com eles. Contudo, eu não tinha ideia do que ainda estava por vir.
Naquela manhã do dia 19 de maio, Elis tinha ido a farmácia comprar remédio para cólica e eu estava no sofá da sala com Salem. Ele estava todo enrolado ao meu lado, eu fazia carinho na cabeça dele enquanto descia minha timeline de alguma rede social. Tocava uma música qualquer no rádio da sala. Vi o nome de Ana na tela do celular, logo atendi sua ligação.
- E aí, Ana. - A cumprimentei animada.
- Oi Leah. - Ela estava com uma voz séria e ali já percebi que tinha algo errado.
- Ta tudo bem?
- Então... não muito.
Eu fiquei em silêncio. Tive medo de perguntar, mas perguntei:
- O que houve?
Ela hesitou.
- A mamãe... ela está no hospital.
Uma corrente gélida e extremamente desconfortável percorreu meu corpo inteiro naquele instante, me senti meio zonza. Se eu não estivesse sentada precisaria me apoiar em alguma coisa.
- O que...? - Saiu quase como um sussurro minha pergunta. Eu então ouvi minha irmã chorando do outro lado da linha. Eu só queria uma resposta.
- O que houve com ela? - Eu insisti - Ela está com covid? - Continuei perguntando.
- Não. Papai disse que ela acordou estranha. Ela não sabia se localizar onde estava, que dia que era. Estava completamente perdida. Ele a levou ao hospital e lá ela teve uma convulsão. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu. O médico disse que pode ser sido um AVC.
- O QUE?
O tempo pareceu então passar de uma forma diferente naquele momento. Ana tornou a chorar e eu não queria que o relógio continuasse a bater, que a música continuasse a soar, queria ficar presa naquele lapso de tempo porque tive medo das consequências daquela informação. Um medo terrível.
Ana continuou chorando.
- Aonde ela está? Eu preciso vê-la. - Perguntei.
- A gente não pode ir - Ela fungou. - Não é seguro por causa da covid. O papai está lá com ela.
- Ele está sozinho?
- Não, o Guilherme está com ele.
- Guilherme? - Perguntei num tom ríspido. Sentia uma raiva crescente em meu peito. Sabia que a raiva não era de meu cunhado, era da situação, mas era mais fácil trazer para algo mais palpável. - Ele nem é da nossa família! - Esbravejei como se pudesse por um fim naquilo, arrancar aquela faca fincada em minha garganta... - O papai precisa de mim ou de você ao lado dele!
- Ele é meu marido, é claro que é da família. - Ela rebateu chateada. - Agora não é hora pra esses seus ataques.
- Por que você não me ligou antes?! Eu ficaria lá com ele.
- Foi tudo muito rápido... Eu estou tentando fazer o melhor que posso. - Disse com a voz embargada e então balancei a cabeça. De nada ia adiantar continuar essa conversa.
- Aonde ela está?
- No Hospital Samaritano.
- Eu vou até lá.
- Não adianta, eles não vão te deixar vê-la. Você vai se arriscar. A Elis está com você?
- Ela já está voltando, deu uma saída.
- Fique ai com ela. Se você for, vocês duas podem se contaminar. O hospital não é um lugar muito seguro pra ninguém nesse momento. Eu te ligo assim que tiver alguma novidade. Vou ligar agora pro Guilherme, se souber de qualquer coisa já te retorno. Pode ser?
- Sim. - Concordei apenas pra ela se acalmar, mas era óbvio que eu iria atrás da minha mãe. Não ia conseguir ficar de braços cruzados.
Ela desligou.
Um nó gigantesco tinha se instaurado em minha garganta e aquela música não parava de ecoar pelas paredes frias do apartamento. A primeira coisa que fiz foi desligar o som. Depois me servi uma dose generosa de whisky. Minhas mãos tremiam. Sentei-me no sofá da sala e deixei meu corpo afundar ali. Mil e uma coisas passaram pela minha cabeça naquele momento. Por que isso tinha acontecido com ela? Por qual motivo? Por que justo agora que as coisas estavam bem entre nós? Eu estava pensando até em como seria o Natal, o Ano Novo, se essa pandemia logo acabasse. Eu iria querer passar os feriados com minha família depois de sei lá quanto tempo.
Eu então senti raiva, muita raiva. De tudo aquilo. Mentalmente quebrei todos os móveis da sala, jogando tudo para o ar, arremessei a mesa de jantar contra a parede, vendo-a se partir em diversos pedaços assim como meu coração estava naquele momento. Contudo, meu corpo permaneceu inerte naquele sofá, eu me sentia sem forças pra me levantar, pra me mexer. Pensei que a bebida traria alivio pro meu coração, mas não chegou nem perto. Eu queria ver minha mãe, precisava vê-la. Mas acima de tudo queria ter certeza que ela ficaria bem.
Ouvi um barulho na porta e ela se abriu. Elis entrou.
- Sabe o que é bom da máscara? Eu posso falar sozinha sem ninguém perceber.
Ela tirou os sapatos, sua máscara e logo foi lavar as mãos na pia. Continuou falando:
- Eu comprei um dipirona mesmo, tava bem mais barato que o buscopan. Já vou tomar pra ver se passa. - Ouvi o barulho dela pegando um copo e o enchendo de água. - E esse whisky aberto e derramado aqui no balcão? Não são nem 10 horas da manhã.
Aproximou-se de mim. Nós nos olhamos.
- O que houve? - Perguntou preocupada ao ver minha cara.
Respondi com a voz fraca:
- Minha mãe teve um AVC.
- Meu Deus, Leah...
Ela se sentou ao meu lado, tirou o copo de minha mão e me abraçou. Eu me aconcheguei em seu peito e a dor parece que ficou um pouquinho menor. Elis me acalmava mais que qualquer bebida ou entorpecente. Fechei os olhos e os pisquei repetidas vezes, depois os apertei forte. Eu fazia isso quando tinha algum pesadelo e tomava consciência durante o sono que era um pesadelo. Contudo permaneci no mesmo lugar, não acordei, nada aconteceu. Não era um pesadelo. Era real.
Ela passou a mão em meu cabelo.
- A Ana ligou. O idiota do Guilherme está lá com meu pai.
- Por que está falando assim dele?
- Eu quero ir vê-la, Elis.
- Acho que não é tão simples assim, meu amor. Ainda mais nesses tempos que estamos vivendo.
- O que eu posso fazer?
- Nada. Vamos ter que aguardar mais notícias.
- Eu não aguento ficar aqui. Eu preciso fazer alguma coisa. Eu preciso ir pro hospital.
- Eu não acho que...
- Eu preciso.
Leah me olhou.
- Eu dirijo, você me mostra o caminho.
Fomos o percurso inteiro em silêncio, sem trocar absolutamente nenhuma palavra, exceto as coordenadas. Eu sentia que ia desabar a qualquer minuto, mas não queria, não podia, pois sabia que se começasse, abriria uma comporta que demoraria a se fechar. Segurei as lágrimas em meu peito. Ela ia ficar bem. Ela era jovem, tinha acabado de fazer 60 anos. Ela ia se recuperar. Eu ficava repetindo essas frases na minha cabeça como um mantra.
Procuramos uma vaga na rua e Elis estacionou um pouco longe dali. Logo ao chegarmos vimos Guilherme e meu pai em frente ao hospital. Guilherme fumava com a máscara pendurada na orelha. Meu pai ficou surpreso ao nos ver.
- O que estão fazendo aqui?
- Aonde ela está? - Perguntei esbaforida.
- Na UTI.
- Eu quero vê-la.
- Não podemos, filha. Eu não pude entrar, nem o Gui. Só no horário de visita e ainda se o médico autorizar que ela receba visitas.
- Ta tudo errado, pai.- Eu disse com a voz fraca. - Não era pra isso estar acontecendo.
Meu pai, meu velho Itamar, tinha os olhos cheios d'agua e apenas concordou com a cabeça. Olhei para sua barba e seus cabelos brancos, as marcas de expressão em seu rosto. O que seria do meu pai se minha mãe morresse? Eles estavam há quase quarenta anos juntos. Pensar naquilo me deixou ainda mais tensa.
Guilherme me estendeu seu maço de Lucky Strike e eu quase o beijei, eu precisava muito de um cigarro naquele momento. Ele acionou seu isqueiro prateado e o acendeu pra mim. Aquele isqueiro e aquela cena me fizeram lembrar de Carla. Eu precisava contar pra ela sobre minha mãe. Minha mãe nunca gostou muito da Carla, mas a Carla tinha grande apreço por ela.
Eu olhei para Elis, ela estava usando meu moletom preto do Justiceiro, seu cabelo estava preso em um coque na cabeça, meio bagunçado. Eu nem tinha me olhado no espelho antes de sair de casa, estava com uma camiseta preta desbotada que usava pra dormir, a gola estava toda larga, só agora que tinha percebido.
- Eu preciso avisar a Carla. - Disse pra Elis, um pouco com medo de sua reação. Eu vi algo em seus olhos, uma espécie de retraimento, mas ela apenas confirmou com a cabeça.
Segurando o cigarro entre os dedos disquei o número da minha ex-melhor-amiga. Ou seria ex-e-melhor-amiga? Ela não demorou muito pra atender.
- Carla?
- Leah... é você? – Ela pareceu surpresa, talvez incrédula com minha ligação.
- Sim. Oi.
De repente fiquei um pouco sem graça, um pouco nervosa. Elis estava de braços cruzados me olhando de rabo de olho, enquanto meu pai e Guilherme conversavam sobre minha mãe.
- Tudo bem? - Ela perguntou.
- Na verdade não muito. Eu to ligando pra falar da minha mãe.
- O que houve com a dona Esther?
- Ela ta internada aqui no Samaritano, ela... ela teve um AVC. Eu sei que você gostava muito dela, então quis... - Ela me cortou.
- Eu to indo pra aí agora.
- Não, não precisa vir. Não vai adiantar nada. Você não pode subir de Santos até aqui no meio dessa pandemia. Nem meu pai conseguiu entrar para vê-la. Estamos aqui fora sem saber ao certo o que fazer, na verdade.
Ficamos em silêncio.
- Nem vou perguntar como você está. - Ela disse.
- Já tive dias melhores.
- Eu sinto muito por isso.
- Eu sei...
Ficamos em silêncio novamente. Eu podia ouvir a respiração pesada de Carla do outro lado da linha. Traguei meu cigarro e soltei a fumaça lentamente.
- Eu te aviso se souber qualquer novidade.
- Ela vai sair dessa, ela é forte.
- Sim - Afirmei, mas algo dentro de mim me dizia que não.
- Um beijo.
- Outro.
E desligamos. Elis permaneceu me encarando, como se apenas observasse minhas reações após a ligação, eu me aproximei e não comentei nada. Eu sabia que ela tinha ciúmes da Carla.
- Elis. – Guilherme disse quando eu retornei. - Não queria que fossemos apresentados dessa forma. Sou o marido da Ana. Ela me falou muito bem de você.
- Ah, sim - Elis sorriu e abaixou os olhos. Nós nos olhamos, eu tentei sorrir, mas não consegui.
Meu pai estava meio perdido, eu via em seu olhar. Aquilo me deixava péssima. Ele parecia que não cabia dentro de si mesmo. Ele contou novamente o que tinha acontecido, a mesma história de minha irmã, com alguns detalhes a mais.
- Ela acordou, ainda foi lá fora, ainda olhou para as plantas dela... - Seus olhos se encheram novamente de lágrimas. Ele parou de falar, abaixou o rosto, limpou a garganta. - Com licença... - E ele se afastou, com as mãos nos bolsos de sua calça cáqui. Guilherme olhou para nós e então seguiu meu pai.
Entramos no hospital, eu nunca tinha estado ali dentro, se eu ficava doente ia no SUS e pra mim estava tudo bem. Mas aquele hospital parecia um hotel 5 estrelas, meus pais deviam ter o melhor convênio do mundo, pensei. Fui conversar com uma das recepcionistas, ela disse que eu tinha que ter autorização do médico dela para entrar e só no horário de visita, assim como meu pai tinha falado.
Haviam alguns bancos vazios na recepção, eu puxei Elis pela mão e nos sentamos, uma em cada poltrona. Ela entrelaçou seus dedos aos meus.
- Ela vai ficar bem, meu amor.
- Eu não sei. - Eu balancei a cabeça. - Eu estava pensando... tive um sonho com ela há algumas semanas.
- Que sonho?
- Ela me dizia que ia fazer uma viagem. - Eu disse. Elis permaneceu me encarando. - E se essa viagem foi um aviso?
- Não... Tire isso da cabeça.
- Você lembra que eu te contei que eu tinha uns sonhos quando era mais nova, não lembra? Que eram avisos? Eu sonhava e acontecia?
- Sua mãe vai ficar bem. – Ela disse apertando a minha mão, mudando de assunto. - Foi só um sonho. Não pense nessas coisas.
Eu estava muito frustrada com tudo aquilo. Não queria ir embora até ver minha mãe, eu não podia.
O Guilherme nos procurou e disse que ia aproveitar que estávamos ali, que ele iria levar meu pai em casa, pra ele comer alguma coisa, tomar um banho. Eu sugeri pra Elis se ela quisesse ir, ela poderia ir, mas eu queria ficar. Ela disse que não iria me deixar sozinha e não saiu do meu lado.
As horas se passaram, na verdade se arrastaram. Encostei minha cabeça no ombro dela e ali ficamos.
Quando o horário de visitas chegou, por volta das 14:00, eu voltei a falar com a recepcionista. Ela disse que eu podia subir, mas sozinha. Elis teria que esperar lá em baixo. Ela fez meu cadastro, me deu uma pulseira e eu subi até a UTI.
Fiz toda higienização, me deram outra máscara, uma espécie de avental descartável e uma sapatilha descartável para colocar por cima do meu tênis. Entrei no quarto com meu coração na garganta. Minha mãe estava ligada a vários aparelhos, seu rosto estava pendido pro lado. Inerte.
- Oi mãe. - Eu disse baixinho. E sem que eu pudesse controlar, as lágrimas que segurei desde cedo começaram a escorrer pelo meu rosto como uma chuva num dia frio. Gelada, cortante.
O médico entrou no quarto e eu comecei a limpar meu rosto.
- Boa noite, sou o Doutor José. - Era um senhor de quase a idade da minha mãe. - Você é filha dela?
- Sim. – Respondi com a voz fraca, ainda tentando limpar as lágrimas em meu rosto, mas era inútil.
- Ela está em coma induzido, como uma forma de proteger o cérebro dela. Estamos esperando pra fazer uma tomografia.
- Quando ela vai fazer essa tomo?
- Essa noite.
Eu olhei para minha mãe, ainda chorando.
- Ela vai ficar bem, doutor?
- Preciso dos exames em mãos pra eu te dar um parecer melhor. O estado dela é grave, mas está estável. Queremos achar a causa das convulsões que ela teve mais cedo.
- Sim.
O médico então se despediu, indo para outro quarto. Eu tornei a olhar pra minha mãe. Respirei fundo.
- Eu não sei quando foi a última vez que te disse isso, mas... eu te amo, mãe. Eu sinto muito por não ter sido a filha que a senhora queria que eu fosse. Eu queria que tivéssemos nos dado melhor. Mas se você sair dessa eu prometo que vou te visitar sempre, não vou me irritar com você, nem com as coisas que você falar. Eu queria muito que você pudesse me ouvir...
Eu olhava para ela, para seus olhos, suas mãos. Eu gostava de suas mãos, elas eram tão bonitas. Minha mãe era uma mulher vaidosa. Quis tocar nela, mas eles disseram para não tocar em nada pra evitar contaminação.
Ela estava estática, apenas seu peito subia e descia de uma forma não-natural e o barulho das máquinas preenchia o silêncio no quarto. Eu fiquei ali parada, como uma estátua olhando pra ela, não me lembrava de ter ficado tanto tempo olhando para minha mãe antes, não me lembrava do quão bonita ela era, mesmo com seu rosto ligeiramente inchado, talvez pelas medicações.
Ouvi a porta se abrindo. Era uma enfermeira.
- O horário de visita acabou, senhorita. - Ela me disse.
- Mas eu acabei de chegar.
- São apenas 30 minutos de visita na UTI.
- Ok. - Eu limpei meu rosto, olhei de novo pra minha mãe. - Eu volto depois pra te ver, mãe. Fica em paz. Eu... eu amo você, muito.
Então sai, me sentindo pior do que tinha entrado. Antes de descer novamente para a recepção, fiquei parada por alguns minutos, olhando a vista pela janela do corredor. Vendo as pessoas vivendo suas vidas, suas rotinas e eu ali, com meu coração em pedaços.
Quando voltei para a recepção, procurei por Elis aonde estávamos sentadas anteriormentre e percebi que ela estava acompanhada por uma morena com dreads coloridos.
Eu não acredito que ela tinha vindo.
Era a Carla.
Fim do capítulo
Acho que quem escreve sempre acaba colocando um pouquinho de si nos personagens. Se alguém me perguntasse com quem eu mais me pareço, eu não saberia responder, pois me vejo como um misto de todas elas. Alguns mais, outros menos. Algumas coisas são puramente ficção, outras uma mistura dos meus sentimentos e vivências entrelaçados as personagens dessa história. Esse capítulo tem um significado muito profundo pra mim, espero que gostem.
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Manuella Gomes
Em: 14/09/2020
Eu imagino que esse capítulo tenha um significado pra vc, pois eu consegui sentir tudo o que vc escreveu.
Gostei tb do trecho: "Mentalmente quebrei todos os móveis da sala...". Uma implosão de sentimentos que complicado de administrar.
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Vanderly
Em: 03/09/2020
Boa noite thays_, tudo bem?
Olha é triste vê a mãe da gente nessa situação, acredito quê pelos sentimentos da Leah a mãe dela vai parti. Se eu estiver certa, torçamos para quê a Leah fique em paz, com a Elis.
Beijos â¤ï¸!
Resposta do autor:
Oi Vanderly, boa noite! Realmente é muito difícil. Sim, talvez o sonho de Leah tenha sido um aviso, como ela temia. Vamos ver como as duas irão ficar com Carla reaparecendo! Beijos!
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thays_ Em: 19/04/2023 Autora da história
Não, a Elis vai entender!