Por Helane:

Quando cheguei em casa, meus pais já tinha se recolhido, fui no quarto da minha mãe ela não estava, me preocupei um pouco, fui até o quarto do meu pai, encontrei os dois dormindo bem juntinhos na cama recostados na cabeceira. A tevê estava ligada num filme que eles deviam estar assistindo,mas foram vencidos pelo sono. Desliguei a tevê, fui para meu quarto feliz, meus pais aos poucos estavam se entendendo. Depois de vestir a roupa de dormir, fui até a cozinha preparar um chá de camomila com leite em pó, tomei devagar. Lembrei do pedido da Yasmin. "Tia Lane, pede logo a minha mãe em casamento, pra gente ficar juntas pra sempre!" Eu sorri na hora. "É uma ótima idéia." Falei pra ela. Sorri dos meus pensamentos e fui dormir.

Apesar de estar de folga na segunda-feira acordei cedo, pois tinha combinado com meu pai que iríamos trocar a bomba de combustível do carro do seu Agenor. Meu pai tinha curso básico de mecânica e eu seguia seus passos. Ele não possuía carro, pois o que teve foi totalmente destruído no acidente que matou meu tio. Depois disso ele não quis mais saber de comprar outro, não podia dirigir pois por conta do acidente perdeu parte do movimento de coordenação motora do lado direito, ficando com um tique nervoso que fazia a perna direita ou o braço tremer por algum tempo; por isso ele era um policial militar aposentado. Ele quase morreu no acidente que matou meu tio, escapou por um milagre. Segundo o meu pai, meu tio dirigia quando perdeu a direção batendo na beira da estrada, eles não usavam cinto, com a capotagem foram lançados pra fora do veículo, que desceu numa ribanceira, pegou fogo e explodiu.

Durante o café falei com meus pais sobre a possibilidade de ir morar com a Acácia. Minha mãe falou que era muito cedo, mas já que estávamos com tanta pressa, por que não casarmos de uma vez? Meu pai pensava a mesma coisa, então prometi pra eles que iria fazer as coisas direito.

Assim que trocamos a bomba o possante de seu Agenor funcionou como uma beleza. As dez horas em ponto eu encostei o carro de frente ao CAE, desci e fui saber do guarda se a Acácia ainda estaria por lá; com a afirmação positiva de que logo ela sairia, agradeci ao guarda voltando para junto do carro.

- Bom dia, marcando território? - Virei pra vê quem falava.

- Bom dia Rute! O quê faz por aqui? - Perguntei enquanto a abraçava. Reparei que ela estava vestida de branco.

- Eu trabalho aqui, sou uma das ginecologistas. Estava indo falar com um dos rapazes alí do táxi pra me levar. Você veio buscar a Acácia? - Ela disse me soltando do abraço.

- Sim, mas ela não sabe. Você vai para casa? Eu te dou uma carona. - Quando fechei a boca a Acácia apareceu na portaria.

- Aceito sim, toda segunda-feira a Acácia volta comigo, só que hoje a Rebeca precisou do carro, então me trouxe mais cedo e foi resolver umas coisas. - Eu sorri do comentário, mas meu olhar estava direcionado para a Acácia. A Rute percebendo minha cara de boba virou acompanhando meu olhar. Antes dela abraçar a amiga falou pra mim. - Limpa a baba! - Eu sorri.

Notei que tinha uma outra garota junto da Acácia quando a abracei e essa ficou me secando com o olhar. Assim que nos afastamos a garota se apresentou como Paula e colega da Acácia, bonita,mas sem o mínimo de educação. Resolvi falar apenas o suficiente pra ela entender que agiu feio. E a vi ficar completamente sem graça ao ouvir que eu era namorada da Acácia, olhou feio pra Acácia e balbuciou algo que não entendi. A dispensei gentilmente enquanto abria a porta do carro para as meninas.

Eu e a Acácia ainda estávamos dentro do carro em frente sua casa, eu tinha respondido sua pergunta, ela estava completamente corada. - Você não deveria está trabalhando? - Desci do carro, abrir a porta pra ela só então respondi.

- Estou de folga hoje, minha mãe está esperando você e a Yasmin pra almoçar com a gente; por isso fui te buscar no trabalho. - Ela abriu o portão com sua chave.

- Quando você vai parar de me surpreender? - Segurei sua mão assim que o portão foi fechado. - Não sei meu anjo! - Respondi enquanto caminhávamos até a varanda.

- Tia, a senhora voltou! - A Yasmin falou enquanto se jogava em meus braços.

- Filha, tenha modos! Assim você suja toda a roupa da Helane. - A Acácia reclamou, pois as sandálias dela estavam cheias de terra.

- Bom dia! Chegou cedo filha. Eu estava entretida mexendo nas plantas, mas a Yasmin cismou que ouviu o barulho do carro do seu pai, então viemos vê. - Dona Carmélia também apareceu com as mãos e os pés sujos de terra.

- Bom dia dona Carmélia, a Yasmin ouviu mesmo, ele está parado lá fora. - Enquanto eu falava com minha sogra a Acácia limpava a terra das sandálias da Yasmin.

- Ah! Então conseguiram consertar! Venham! Filha, prepare um suco enquanto me lavo! - Dona Carmélia falou entrando apressada na casa.

Fizemos um lanchinho rápido e bem leve, pois iríamos almoçar cedo para que nem a Yasmin, nem a Acácia se atrasassem. Minhas meninas se arrumaram e seguimos.

As 11: 30 já estávamos almoçando tranquilamente na companhia dos meus pais. A Yasmin estava radiante. - Eu agora tenho três avós e três avôs! Será que a bisa Carlota também vai gostar de mim? - Nós rimos com o comentário dela.

- Claro que vai meu amor! A minha mãe vai amar você. E vou te contar um segredo; quando você chegar faça que nem a Pérola, corra pra o abraço, pois a mamãe adora um abraço bem apertado. - Minha mãe falou fazendo um carinho na Yasmin.

- Com licença, preciso ir ao banheiro! -  A Acácia falou quando a Dina trouxe a sobremesa. Levantei e a acompanhei até minha suíte. Enquanto ela usava o banheiro a Yasmin me entregou um pequeno objeto que guardei no bolso da minha jaqueta de couro.

A Acácia se foi algum tempo depois que comemos a sobremesa, pois precisava deixar a Yasmin na escola antes de seguir para o trabalho, fiquei um tempo em pé na calçada de casa olhando o carro desaparecer com a distância, e aquela sensação de saudades ficou no peito.

Apesar da semana ter sido muito trabalhosa e corrida com os preparativos do aniversário, na sexta-feira a noite nós seguimos como combinado para a casa da minha vó. Meu sogro me emprestou seu carro e foi de carona junto com a dona Carmélia no carro da Rute e da Rebeca; esses preferiram ficar na casa dos avós da Acácia. Nós passamos por lá cumprimentamos o casal e seguimos para o casarão.

- Até que enfim chegaram! - Minha vó que estava sentada na varanda junto com meus pais e meu irmão, falou.

- Boa noite! - Falei abraçando minha vó. 

- Sejam todas bem-vindas! E essa bonequinha só pode ser minha mais nova bisneta! - Minha vô falou e a Yasmin a abraçou forte. - Ai meu Deus que abraço gostoso! Adorei! - Nós sorrimos felizes com os comentários da minha vó. - A senhora é tão linda quanto a vó Helen, posso te chamar de bisa Lota? - A Yasmin perguntou olhando nos olhos da minha vó. - Claro meu anjo, você pode tudo! Acácia meu bem, essa menina por fora é um clone de você, mas por dentro é igualzinha a teu pai, extrovertida e direta; combinação perfeita! - Minha vó disse abraçando a Acácia que assistia tudo calada com sua timidez tão peculiar.

O sábado chegou bem ensolarado, estávamos todos em volta da piscina, a Bruna e a Ana minhas amigas já tinham chegado, a Rute, a Rebeca, os meus sogros, alguns amigos do André e da Havana também, todos meus familiares alí; o churrasco estava rolando. E eu pensando como as coisas estavam se encaixando. Ali estavam todas as pessoas importantes na minha vida.

O aniversário da Pérola foi um sucesso, ela se emocionou com os muitos presentes que ganhou, mas três em especial lhe deixaram feliz; um estojo de canetas para colorir, presente da Yasmin; um caderno com gravuras pra pintar, presente da Acácia e um kit de desenho que eu tinha escolhido pra ela em companhia da Yasmin, quando fomos comprar os presentes.

Depois que a maioria das pessoas foram embora, ficando apenas nossos amigos mais íntimos e demais familiares, me levantei, peguei um copo batendo nele com um talher, pra chamar a atenção pra mim; em seguida fiquei de frente para a Acácia.

- Eu não sou muito boa em fazer discursos, nem nunca fui uma pessoa muito romântica, mas encontrei um poema anônimo que define esse momento. Acácia,

"Eu nunca beijei ninguém como beijo você,

Nunca ao menos olhei alguém da mesma forma que olho você...

Com a inocência de uma criança,

Com o desejo de uma adolescente,

E com a malícia de uma mulher... Nunca!

Nunca encontrei alguém que me fizesse esquecer de tudo,

Que prendesse meus pensamentos,

Que controlasse, mesmo sem querer; meus sonhos, desejos e vontades.

E se eu não tiver a felicidade de viver com você,

Ao menos uma coisa restará para me fortalecer...

A certeza que você me ensinou a amar.

E que esse sentimento será eterno,

Viverá dentro de mim, enquanto meu coração permanecer vivo."

Casa comigo? - Falei já de joelhos a seus pés lhe estendendo as alianças de ouro branco cravejadas com uma pedrinha vermelha em formato de coração e nossos nomes gravados na parte de dentro. Eu suava frio, meus olhos ardiam com meu esforço de segurar as lágrimas, o silêncio chegou a ser constrangedor. As lágrimas desciam dos olhos da Acácia, até que ela também se ajoelhou de frente pra mim.

- Acho que você quer ficar viúva antes mesmo de casar. Também tenho um poema do Caio Fernando Abreu que gostei muito e completa o teu: 

"Nunca precisei tanto de alguém como preciso de você, 

Nunca desejei tanto um sorriso como desejo o teu,

Nunca esperei tanto um beijo como espero o teu."

Sim, eu caso contigo! - Então ela tomou meus lábios num beijo tímido, nos levantamos em meio as palmas e gritos do pessoal.

Fim do capítulo