Por Acácia:

Apesar dos meus temores a recepção dos meus avós não podia ter sido melhor em relação a Helane. A aceitaram de bom grado, a tratando praticamente como uma neta. A Helane os conquistou com sua simpatia e carisma. Meus avós amavam pessoas que se doavam em ajudar o próximo, e sendo neta de quem era ganhou mais um ponto em seu favor. Dona Carlota era muito conhecida naquela região, pois amparava muita gente, empregando em sua fazenda ou emprestando dinheiro a juros baixos para pequenos sitiantes como meus avós.

Helane já era extrovertida e com a cabeça cheia de vinho e licor então; fiz uma anotação mental pra não deixar a Helane chegar mais perto daquele licor, aquele troço era preparado com algumas especiarias afrodisíacas, pois até meu pai ficava bem saído quando tomava dele. Ela me deixou morta de vergonha  quando me agarrou na frente dos meus avós me fazendo sentar em seu colo, quase morri; mas nada foi pior que na estrada, o susto que levei com aquele baque no vidro do carro; nem tive tempo de processar o ocorrido e já ouvia as gargalhadas debochadas da Andréa. O quê a Helane tinha de séria, aquela lá tinha de cômica. 

Helane estava me fazendo viver coisas que certamente eu não faria com ninguém na vida. Jamais imaginei que me entregaria assim pra uma pessoa, ela me dominava fácil, minha timidez desaparecia quando suas mãos me tocavam provocando prazer, quando sua boca tomava conta da minha eu perdia a noção de tudo; por isso não evitei ficar me pegando com ela dentro daquele carro na entrada de acesso ao casarão da sua vó.

Agora eu estava alí naquela mesa de jantar roxa de vergonha com a afirmação da Yasmin. Mesmo que não fosse verdade, eu teria ficado vermelha, mas saber que realmente estavamos juntas não só no banho,mas na cama e deixar isso transparecer, me deixou extremamente desconfortável. Fui salva pelo meu pai, que fez a Yasmin calar, mas fiquei imaginando como reagiria se ela tivesse subido pra me chamar quando estava delirando nos braços da Helane no meio dum orgasmo. Ainda bem que meu pai não permitiu que ela fosse nos chamar. Aquele velho era esperto, imaginou que estávamos namorando.

Depois que terminamos de jantar fui ajudar minha mãe com a louça, enquanto meu pai, a Yasmin e a Helane assistiam a tevê. A Helane quis ajudar mas não deixei.

- Filha, a Rute e a Rebeca estiveram aqui depois que vocês saíram. Elas disseram que foram convidadas pela mãe da Pérola para irem ao aniversário, e querem combinar pra irmos todos juntos. - Minha mãe falou assim que ficamos a sós.

- Não sei mãe, tenho que falar com a Helane, a senhora ouviu ela falar pra Yasmin que nós iremos na sexta-feira depois que eu sair do trabalho; o aniversário será no sábado a tarde, mas ao meio dia haverá um churrasco. - Falei pensando onde iriam acomodar tanta gente.

- Filha, eu e seu pai podemos ir com elas, ficamos no sítio dos meus pais,e de lá iremos para o aniversário. - Meus avós iriam gostar de ter a casa cheia de gente. Pensei.

- Ótima idéia mãe, já faz um tempo que não vou lá com as meninas, elas gostam muito dos meus avós, e eles delas. - 

Depois que guardamos a louça fomos para a sala onde encontramos meu pai cochilando na poltrona, a Helane quase deitada no sofá, e a Yasmin por cima dela, ambas pareciam dormir. Achei tão linda aquela cena que peguei o celular e tirei uma foto das duas. Minha mãe tocou no ombro do meu pai o despertando, e eu tive que acordar a Helane.

- Que horas são? - Helane perguntou-me ao abrir os olhos.

- São vinte e trinta, e eu peço licença a vocês, mas vou me recolher. - Meu pai falou e retirou-se.

A Helane levantou com a Yasmin no colo, nos despedimos da minha mãe, subimos pra minha casa, ela pôs a Yasmin na cama; depois que saímos do quarto ela me abraçou pela cintura. - Amor, vou pra casa, mas amanhã te pego no curso. - Ela falou acariciando meu rosto.

- Tudo bem meu amor, sei que você também precisa está com seus pais. - Falei com vontade de pedir que não fosse. Fui levá-la até o portão, e ela percebeu que eu estava um pouco triste.

- Não fique assim meu bem, a noite passa rápido. - Me beijou, pôs o capacete e seguiu prá sua casa.

Eu subir, entrei no meu quarto, olhei pra minha cama e pensei; essa noite vai ser longa sem você aqui morena. Suspirei, vesti meu pijama e me deitei.

Levantei da cama na segunda sem um pingo de vontade, rolei na cama praticamente a noite inteira, me arrastei até o banheiro, tomei um banho frio bem rápido, me arrumei, acordei a Yasmin pra irmos tomar café com meus pais, pois pretendia pegar carona com meu pai, pois não estava com ânimo pra ir de ônibus, mas lembrei que a caminhonete estava quebrada.

- Mãe, a tia Lane já acordou? - A Yasmin perguntou-me enquanto vestia a roupa.

- A Helane não dormiu aqui. - Falei enquanto a ajudava a desembaraçar os cabelos.

- Ah! Por que a senhora não casa com ela, pra poder morar aqui com a gente? Aí ela não vai precisar ir dormir na casa dela! - Meu coração deu um pulo de contentamento.

- Filha, você gosta tanto assim da Helane, a ponto de querer ela morando aqui? - Perguntei só pra me deliciar com a resposta.

- Gostar é pouco mãe, eu a amo um tantão, assim como amo a senhora e aos meus avós. E eu falei ontem pra ela pedir a senhora em casamento. - Quase caí dura com a resposta.

- Filha! Você não disse isso! - A Yasmin abriu aquele sorriso largo que ela herdou do meu pai.

- Eu disse sim! E ela falou sorrindo que era uma ótima idéia. - Fiquei de boca aberta enquanto desciamos a escada e não tive palavras para expressar minha alegria.

Depois do café o carro da empresa de construção passou pra pegar meu pai e eu fui com ele pro estágio. Apesar da noite mal dormida desempenhei bem minas funções, e estava me preparando para sair quando uma colega chegou chamando minha atenção.

- Acácia, quem é a morena bonitona que está te esperando lá fora? -  Minha colega Paula perguntou-me. 

- Não faço idéia. - Respondi com meu coração palpitando.

- Pois ela está lá fora te aguardando, vi quando chegou numa caminhonete, desceu e foi falar com o guarda, um mulherão daquele, difícil passar despercebida, me aproximei e ouvir que perguntava de você; o guarda então disse que você estava aqui dentro e que logo sairia. -

Não dei nem resposta pra Paula, peguei minha bolsa, a sacola com o jaleco e disparei pra saída. Quando cheguei na porta avistei a Helane encostada no carro do meu pai conversando com a Rute, que também trabalhava lá no CAE, ela era uma das ginecologistas.

Assim que a Helane me viu abriu aquele sorriso lindo quê me fazia flutuar. A Rute virou pra mim e fez um sinal com a mão limpando o queixo, que só entendi quando ela me abraçou. - Limpa a baba que está escorrendo no queixo. - Ela falou baixinho e eu sorri.

Quando a Rute me soltou a Helane me enlaçou pela cintura. - Então, gostou da surpresa? - Enrosquei meus braços em seu pescoço e falei baixinho com a voz dengosa. - Adorei! - Os pelos do seu pescoço ficaram eriçados.

- Olá, eu sou a Paula colega da Acácia! - A minha colega que estava atrás de mim e eu nem tinha percebido se apresentou pra Helane.

- Olá Paula, eu sou a Helane namorada da Acácia. - A Helane falou apertando a mão da Paula, que ficou completamente sem graça ao ouvir o restante da frase. - É assim que você não tinha idéia? - A Paula falou me direcionando um olhar frio. - Vamos lindas! Paula, a gente se vê por aí, prazer de te conhecer. - A Helane falou abrindo a porta da caminhonete para mim e a Rute, depois deu a volta dando partida no carro em seguida.

- Gente o quê foi aquilo? - Rute perguntou depois de algum tempo.

- Aquilo o quê? - Perguntei. - Aquela tua colega sem educação, nem me deu um bom dia e já foi logo pra cima da Helane. - Olhei pra Rute, depois pra Helane que dirigia séria.

- Fiquei tão aérea quando ela me disse que tinha uma morena bonitona me esperando na rua, que nem prestei atenção que ela estava vindo atrás de mim. - Falei, Rute riu, Helane me olhou rapidamente, segurou minha mão e a beijou.

- Gostei do jeito que você se apresentou pra ela, tomou o pirulito da mão da criança! - A Rute falou piscando pra mim.

- Se vocês não estivessem lá a resposta seria bem menos educada. Tipo: Seu nome é Paula, e o quê eu tenho com isso? - A Rute gargalhou e eu fiquei assustada.

- Que horror, ainda bem que em vez de lhe dizer meu nome, iria sair sem nem saber o teu no dia que nos encontramos no CAE. - Helane sorriu. - Naquela situação a gente já tinha um diálogo, então eu não estranharia se ao despedir-se  você me dissesse teu nome. Agora a tua colega veio com tanta sede na fonte, que se estabacou na falta de educação; e eu não gosto de mulher com esse perfil. -

O carro parou em frente ao portão de casa a Rute desceu após agradecer a carona, combinamos a viagem da sexta-feira, ela foi embora, e só então virei pra Helane. - E qual perfil de mulher que te agrada? - Ela sorriu sedutora. - As que gostam de ser cortejadas, ficam coradas facilmente, as tímidas, mas a minha preferida agora é uma loirinha de olhos verdes, cabelos rebeldes e muito carinhosa.

Fim do capítulo