Recomeço – Capitulo 61

Era segunda-feira, querendo se distanciar um pouco da esposa, Rogério foi jogar tênis com seu amigo, Emiliano.

Não era de costume fazer isso, entretanto, não aguentava mais Rita falando que precisavam afastar Raquel da família. E isso era algo que o engenheiro não aceitava, Raquel era sua filha, mesmo tendo defeitos, em suas veias corriam o mesmo sangue.

— Quis fugir um pouco das responsabilidades? – Emiliano indagou quando foram tomar um suco na lanchonete do clube.

— Você sabe, Rita gosta muito de mandar e acha que sempre está certa – Rogério disse parecendo cansado.

— O que houve dessa vez? — Sabia que a relação do amigo com a esposa tinha muitos conflitos mesmo o homem sendo uma pessoa calma.

— Quer que eu mande Raquel para longe. Que eu ache um jeito de afastar nossa filha de nossas vidas – respirou fundo – Será que Rita não considera Raquel a nossa filha?

— Pensava que essa situação já havia se resolvido. Raquel retornou e você nunca mais falou de problema – comentou e observou o garçom que chegava com seus sucos – Obrigado!

— Agora estou com um problema bem maior – levou a mão até seus cabelos grisalhos, precisava conversar com a filha o quanto antes.

— O que houve dessa vez? – Emiliano começou a tomar seu suco tranquilamente.

— Por incrível que pareça, ela está se envolvendo pela segunda vez com uma namorada de Ricardo – Disse e ficou pensativo.

— Imagino que Rita esteja possessa com a situação. Bom... Ricardo é o seu preferido, mais uma vez ele saíra na pior nessa situação.

— E como está possessa — Rogério manteve o seu olhar perdido na grande piscina que tinha ao lado — Eu não sei quais motivos Raquel teve para voltar a se meter no relacionamento do irmão, mas gostaria de ouvi-la, saber o que realmente aconteceu. Não posso agir por impulso — Deu uma pausa — Como posso mandar Raquel sumir de nossas vidas? Ela é nossa filha.

— Eu compreendo... Mas Rita quer que ela vá embora? — Emiliano perguntou surpreso, sempre pensara que as mães tinham mais apego aos seus filhos.

— Por incrível que pareça sim — Respirou fundo demonstrando seu descontentamento — E eu sempre me pergunto, como uma mãe pode pensar dessa forma?

_*_

Já estava escuro quando Rogério estacionou o carro na garagem de sua casa. Havia saído para se distrair, mas já estava de volta. Logo mais teria que escutar as queixas da esposa com relação a Raquel e isso o incomodava.

Soubera que Rita havia saído de manhã às escondidas, isso lhe preocupava, pois não sabia aonde a mulher tivera ido. Seus pressentimentos quanto a isso não eram bons.

Repousou a cabeça no encosto do banco queria tardar a entrada em sua casa, mas algo lhe chamou a atenção. Gritos vinham da sala e uma sensação passou a rondar-lhe.

Abriu a porta imediatamente, sabia que o filho estava em casa, mas nunca tivera escutado uma discussão entre Ricardo e Rita.

Apressou os seus passos e ao chegar a porta se deparou com uma cena que fez o seu coração falhar uma batida.

— O que está acontecendo aqui? Eu ouvi as discussões de lá de fora. Meu Deus, Ricardo, o que houve? – Correu até onde o filho estava.

— Eu a mantei! — Essa fala do filho fez seu mundo desmoronar. Como assim Ricardo havia matado Rita.

— Não fale besteira — gritou e aproximou-se da esposa para certificar-se de que a esposa não morrera — Está respirando — Pegou o celular em seu bolso, precisava ligar para a emergência — Cuide dela — afastou para fazer a ligação. Não queria demonstrar perante ao filho, mas estava abalado com a situação — Depois eu quero que me fale o que aconteceu — após avisarem que a ambulância estava vindo, disse com um tom de voz firme, enquanto observava o filho com sua esposa em seus braços.

Ricardo que segurava sua mãe, chorava sem parar. Se arrependeu do que havia feito. Quando chegou à casa de sua mãe, nunca passara por sua cabeça que as coisas se desenvolveriam daquela forma.

Manteve seu olhar fixo na face da mãe e chorou, soluçando a todo momento.

— Eu fui o culpado, pai — Direcionou o olhar para Rogério que não estava mais apresentável como antes.

— Nunca mais repita isso. Para qualquer pessoa que venha a perguntar, foi um acidente — Disse firme, pois não queria que o filho se prejudicasse.

— Pai...

— Ricardo, eu que vou tomar as rédeas da situação agora. Já deixei você tempo demais sendo mimando por sua mãe. Achando que pode fazer o que bem entender.

O som da ambulância começou a tomar conta do ambiente.

— Graças a Deus! — Rogério foi até a porta recepcionar os socorristas — Ainda bem que vocês chegaram.

— Boa noite, sou o doutor Carvalho, o que aconteceu? — Um homem forte uniformizado indagou, ao cumprimentar Rogério.

— Ela se desequilibrou e caiu no degrau da escada — Rogério olhou brevemente para Ricardo que observava em prantos a sua mãe sendo colocada na maca.

— Pai, e se descobrirem o que aconteceu? — Ricardo indagou enquanto observava o seu pai dirigindo em silêncio. Parecia que estava pensativo, não trocara nenhuma palavra desde que saíram de casa.

— Você vai arcar com as consequências de seus atos. O que deu em sua cabeça ao empurrar sua mãe, Ricardo, está louco? Perdeu o juízo de vez? Nunca fui de levantar a mão para ti, mas se eu pudesse no momento, faria — O homem disse enquanto se mantinha concentrado no trânsito.

— Eu errei, sei disso, mas tudo foi culpa da Raquel — Ricardo disse e Rogério apertou o volante com força.

— Será que você que agora você vai colocar a culpa em sua irmã por ter quase matado sua mãe, Ricardo? — Perguntou impaciente.

— Ela tá trepando com a Sófia... ela que foi o motivo de nossa discussão. Ela é culpada pelo o inferno que virou a minha vida.

Rogério respirou fundo. Seu filho tinha os mesmos comportamentos da esposa. Se pareciam em tudo, até mesmo quando queriam manter Raquel longe de suas vidas.

— Não me diga que ainda não está sabendo? — Ricardo indagou ao notar o silêncio do pai — Sua querida filhinha é um vagabunda.

— Ricardo, realmente não sei onde errei... olhe seu linguajar... como você se refere a sua irmã.

— Nunca foi minha irmã, sempre quis tudo que era meu... sempre me infernizou... se eu pudesse, mataria.

Rogério olhou perplexo para o filho. Ricardo tinha os seus defeitos, mas já estava passando do ponto.

— Realmente o que lhe falta é uma bela surra — Rogério falou de uma forma ameaçadora.

— Me poupe, pai, fraco como é, nunca seria capaz de me tocar — Ricardo falou e sentiu o colarinho de sua camisa sendo puxado com força após o carro ser estacionado em frente a clínica.

— Olhe aqui, seu moleque, não vou ficar ouvindo seus desaforos não — Rogério dizia com uma fúria desconhecida por seu filho — Você acha que tem algum direito de falar sobre mim. Olhe onde estamos, a situação a qual você nos colocou... somente você, pois o que aconteceu com sua mãe não foi culpa de ninguém, foi somente sua — Puxou ainda mais forte sentindo as mãos de Ricardo querendo lhe afastar, pois o ar começava a faltar — Se sua mãe morrer ou ficar com sequelas, você viverá com a culpa e espero que você aprenda com ela — Finalizou empurrando o filho contra a porta do automóvel.

Ricardo ao ser tratado daquela forma, sentiu um temor percorrer seu corpo. E se sua mãe morresse?

_*_

Após se banharem, Raquel e Sófia voltaram para o quarto.

Enquanto se posicionava ao lado da cama observando sua amada se vestir, Raquel sentiu uma sensação ruim invadindo seu peito e o tocou com as pontas dos dedos massageando. Olhou para os lados procurando uma explicação para o que sentira, contudo, não chegou a nada.

— Aconteceu algo? — Sófia voltou-se para a amada com um olhar preocupado.

— Eu não sei, estou sentindo uma sensação ruim me invadindo — manteve sua mão sobre o peito, não entendia o que estava acontecendo.

— Acalme-se — Reparou que a amada demonstrava aflição — você está assim por conta do ocorrido. Está sensível — segurou as mãos da morena com as suas e foi surpreendida com um abraço.

— Obrigada por estar comigo — Disse ao afundar seu rosto na curva do pescoço da amada.

— Amor, não precisa agradecer — Acariciou os fios negros da amada — Sente-se na cama, eu vou procurar uma roupa para você vestir. Depois vou preparar algo gostosa para a gente — Deu um beijo rápido em sua amada.

— Está bem — Sorriu ao observar sua noiva saindo. Sófia era uma mulher linda e era uma beleza que ia muito além do que seus olhos podiam ver.

Quando ficou sozinha no quarto, Raquel voltou a prestar atenção na sensação que sentira, não era normal.

Apertando a toalha ainda mais ao seu corpo, levantou-se e foi para a beirada da janela. Precisava respirar um ar fresco e no momento estava ventando.

— Ainda não passou a sensação ruim? — Sófia indagou ao colar o seu corpo no da amada, abraçando-a.

— Não, amor, parece que algo muito ruim vai acontecer — Sentiu os lábios de Sófia encostando na pele de seu pescoço. De repente, seu corpo começou a ser balançado e Sófia passou a cantarolar uma música desconhecida por ela, mas que passava uma sensação muito boa.

Fechou os seus olhos e apoiou a cabeça no ombro de Sófia. Sentia-se no paraíso.

Sófia que movia o corpo de Raquel devagar, notou os músculos de sua amada relaxando.

Roçou os seus lábios devagar contra o ombro da engenheira e ouviu uma respiração mais calma batendo contra seu rosto.

— Você me faz muito bem — Raquel comentou ao tentar olhar nos olhos da loira.

Sófia sorriu.

— Esse é meu objetivo, te fazer sempre bem — Soltou a cintura de Raquel — Venha se vestir. Eu vou até a cozinha preparar algo para nós duas.

Sófia foi até a cozinha e Raquel se aproximou da cama. Vestiu as roupas que foram deixadas pela a amada. Sentou-se na cama e ficou olhando para a parede a sua frente.

— Algo aconteceu, mas o quê? — Levantou-se e ouviu o seu celular tocando na sala. Seu coração passou a bater mais forte, sem pensar duas vezes correu até o aparelho – Meu pai – Suas mãos passaram a tremer. Aceitou a ligação e a cada palavra dita por seu pai parecia que o chão estava se abrindo debaixo seus pés.

As lágrimas começaram a rolar por sua face. Estava magoada com sua mãe, mas não lhe desejava nenhum mal.

Sentou-se no sofá, as pernas perderam as forças.

A ligação foi encerrada e o celular ainda permanecia junto a orelha. Estava em estado de choque. O seu olhar se perdera na parede a sua frente.

— Amor, eu ouvi um celular tocando – Sófia chegou na sala e estranhou o comportamento da amada. Sentou-se ao lado – O que houve? – Perguntou e não obteve nenhuma resposta.

As lágrimas escorriam pela face sem cessar.

— Amor – Sófia chamou já angustiada. Pegou o celular e viu o nome de Rogério.

— Ela caiu da escada — Voltou-se para a amada. Seus olhos evitavam piscar.

— Quem? – Estava ficando angustiada com essa falta de informação.

— Minha mãe... ela não está bem, amor – Abraçou Sófia com força. Sentia-se um pouco culpada pelo ocorrido, pois havia discutido com a mãe na manhã daquele dia.

Fim do capítulo