Recomeço – Capítulo 60

O movimento na rua era constante, Ricardo que estava em sua sala, observava tudo, tentando se manter calmo, no entanto, era uma tarefa impossível.

Sofia e Raquel estavam em algum compromisso sério e isso mexia muito com ele.

Bateu forte na madeira da mesa. Xingava Raquel mentalmente, nunca iria perdoar a sua irmã pelo que estava lhe fazendo passar.

— Aquela miserável – Apertou sua mão com força. Se tivesse oportunidade seria capaz de matar sua própria irmã naquele momento. Queria vê-la longe e a única opção que sobrara era essa – Preciso pensar em algo... não posso deixar as coisas assim.

Ricardo se manteve em sua sala por alguns minutos, arquitetando uma forma de acabar com sua irmã, contudo não chegou a nenhum plano brilhante.

Olhou para o relógio, passava das 16 horas, não costumava sair cedo do trabalho, porém estava precisando espairecer um pouco.

Levantou e caminhou até a porta, ao aproximar a mão na maçaneta ouviu uma conversa que não lhe agradou.

“ Você soube que a dona Rita veio até aqui e deu uma surra em Sófia?” – Sua secretária comunicou a outra pessoa com deboche.

“ Ah... bem feito, Sófia estava precisando abaixar a sua bola" – uma voz feminina falou.

Ao ouvir isso, Ricardo apertou a maçaneta com força e abriu a porta. Não estava acreditando no que acabara de escutar. Será que sua mãe soubera de tudo e achava que Sófia tinha culpa do mau-caratismo da irmã?

— Que história é essa de que minha mãe bateu em Sófia? – Ricardo perguntou enfurecido.

Notando a presença de Ricardo, as duas mulheres arregalaram os olhos e ficaram totalmente sem fala.

— Falem! – o homem gritou enquanto observava atentamente as duas mulheres.

— Foi na sexta – a secretaria começou a falar com a voz trêmula – mas não sei o que exatamente aconteceu – Engoliu em seco, pois temia perder o emprego.

Ricardo, ao receber a informação, apertou suas mãos com força sentindo as suas veias saltarem. Precisava tirar satisfação com sua mãe quanto a isso.

— Saiam da minha frente – Passou pelas mulheres quase as derrubando. Não tinha tempo para ter educação com as mulheres – Ela não tinha esse direito... Sófia é inocente nessa história – Ficou repetindo essa fala até chegar em seu carro.

_*_

— Por que está com essa carinha triste? – Amanda perguntou ao chegar à sala onde a amiga trabalhava.

— Problemas – Sófia se acomodou melhor na cadeira e passou a fitar o teto.

— Ué, mas você hoje não me disse que estava noiva de Raquel.

— Ah... sim, mas não é isso – passou a observar a amiga que havia acabado de se sentar – A mãe de Raquel foi a casa dela... acho que discutiram.

— Será que ela já sabe que vocês tem algo? – ficou surpresa com a novidade.

— Esse é meu medo – Disse preocupada – Se ela está sabendo, não duvido Ricardo também saber. E se ele fizer algo contra Raquel? Amiga, não quero nem pensar nisso – Olhou para os arquivos que estava organizando e se deu conta de que ainda não havia feito nem metade do trabalho.

— Sófia, não pense assim... pensamentos negativos atraem coisas ruins.

— Eu sei, mas não tem como pensar de outra forma – olhou para a tela do celular e notou que estava pestes a acabar seu expediente – Hoje, Raquel vai para casa e poderei conversar com ela sobre isso.

— Espero que dê tudo certo – apertaram as mãos.

— Eu também, minha amiga.

Após Amanda sair de sua sala, Sófia organizou a mesa. Antes de ir para casa, ela ficou um tempo perdida observando a paisagem por trás do vidro da janela. Um medo passou a tomar conta de seu íntimo. Tinha receio do que poderia acontecer dali por diante e seus pressentimentos não eram bons.

Mandou uma mensagem para Raquel avisando que já estava indo para casa.

Em seguida, saiu tentando deixar naquela sala o dia cansativo de trabalho. Precisava estar bem para ouvir o que Raquel tinha para dizer.

Ao chegar em seu apartamento, ela foi recebida com um abraço de Nina.

— Obrigada, minha linda, você não sabe o quanto isso me conforta – Acariciou as costas de Nina e depois caminhou até o sofá, enquanto fazia isso, não conseguia tirar os olhos da tela de seu celular. Havia uma mensagem de Raquel dizendo que já estava indo.

Sentou-se e sentiu o seu coração apreensivo. Queria muito ver sua amada, saber como ela realmente estava.

Após alguns minutos de espera, a campainha tocou e sem pensar duas vezes correu para atender.

— Amor, você está bem? – abriu a porta e se jogou nos braços de Raquel.

A morena sorriu ao ser recebida com vários beijos pelo seu rosto.

— Bom... depois dessa recepção não tinha como não estar bem – Sorriu e isso fez o coração da loira se aquecer.

— Estava preocupada com você – Sófia comentou ao se abaixar para fazer um carinho em Nino – Seja bem-vindo a sua nova casa, grandão – sorriu ao ver a gravata no pescoço do cachorro— Está lindão – com o elogio, Nino ficou todo bobo – Entre – começou a ajudar a loira com as malas.

— Tive sorte por seu porteiro ser atencioso, ele me ajudou – Soltou Nino da guia e o observou indo para o encontro de Nina.

Sorriram ao ver os dois cachorros tão felizes.

— Agora me conte o que houve entre você e sua mãe – Deram as mãos e caminharam até o sofá.

A feição de Raquel ficou triste.

— Espera – Antes de sentar, foi até sua mochila e de lá trouxe um envelope.

— O que é isso? – Sófia olhou para Raquel confusa após se sentarem no sofá.

— Minha mãe já sabe de tudo, amor – entregou o envelope a sua amada e ficou observando a reação da loira enquanto tirava as fotos do envelope.

— São desse final de semana – disse surpresa – Como ela conseguiu isso?

— Provavelmente, ela contratou alguém para nos seguir.

— Então, ela já desconfiava da gente.

— Sim, mas ainda não sei como isso chegou a acontecer – Raquel devolveu as imagens para o envelope – Ela foi muito dura comigo. Parecia que eu não era filha dela – Sentiu os olhos começarem a marejar ao lembrar de como sua mãe havia lhe tratado.

— Amor, não fique assim – Abraçou sua amada fazendo com que a cabeça dela ficasse apoiada em seu ombro – Sua mãe vai perceber que está sendo injusta com você.

— Acho que ela nunca vai voltar atrás no que me falou. Ela me ofereceu dinheiro para me afastar deles... eu não posso mais voltar a construtora.

— E suas coisas? – Sófia começou a acariciar os cabelos de Raquel.

— Você pega para mim? – perguntou já sentindo as lágrimas rolarem por sua face.

— Claro, amor, amanhã, eu começo a organizar tudo.

— Temo por você, e se ela te demitir... fazer algo contra você?

Sófia sorriu, pois mesmo com todos os problemas a sua amada ainda se preocupava com o que pudesse acontecer com ela.

— Não encha sua cabeça com isso. Trabalho, eu procuro outro... não esquente sua cabeça com isso. E você não disse que iria abrir seu próprio negócio?

— Sim, eu falei e vou começar a pensar nisso – Falou e sentiu os lábios macios de Sófia tocando sua testa.

— Então, não vamos pensar na construtora agora. O importante é que estamos juntas e que vamos lutar para continuarmos assim.

— Você está certa, amor – Tocou a face de Sófia e a puxou para um beijo lento. No meio do beijo, Raquel sentiu o seu coração bater ainda mais forte... ele estava se transbordando por conta do tanto que amava a loira. Mesmo estando decepcionada com sua mãe e ter sido tratada mal por estar com a loira, ela não pensou por nenhum momento em desistir da loira e fingir ser outra pessoa para ser aceita.

— Já tomou banho? – Sófia perguntou ao findar o beijo.

— Ainda não – sorriu. Aquela mulher conseguia fazer ela se esquecer doa problemas. Deu um selinho rápido na loira.

— O que foi? – Sófia também sorriu.

— É que eu te amo... você é uma mulher maravilhosa, minha futura esposa – acariciou a face da loira.

— Também te amo, amor, sempre vou estar do seu lado... independente de qualquer coisa – segurou na mão da morena – Vamos tomar um banho... cuidarei de você. Você vai esquecer um pouco esses problemas.

— Está bem – levantaram do sofá e caminharam em direção ao banheiro.

Após tirar toda a roupa de Raquel, Sófia tirou a sua e se posicionou atrás do corpo da engenheira.

— Quero que você relaxe – deslizou suas mãos pelos ombros tensos de Raquel e iniciou uma massagem. Enquanto fazia isso, sentia sua amada ficando mais tranquila.

— Obrigada, amor, pelo seu carinho – disse quando passou a se sentir mais leve.

— Não precisa agradecer por isso – envolveu a cintura de Raquel com seus braços e beijou os ombros nus a sua frente – Vamos tomar um banho e depois vou preparar uma comida bem gostosa para gente – Falou e ouviu a gargalhada de Raquel, isso fez seu coração se aquecer por completo, pois a felicidade de Raquel era a sua felicidade.

_*_

Após sair da construtora, Ricardo foi para seu apartamento. Precisava tomar um banho antes de ir a casa de seus pais, estava com a cabeça muito quente, necessitava se acalmar um pouco, pois do jeito que estava era capaz de fazer uma besteira.

— Ela não tinha esse direito – Ricardo levou suas mãos até a cabeça e começou a andar de um lado para o outro.

Mesmo ficando algumas vezes na casa dos pais, ele tinha aquele apartamento para ter mais privacidade se caso quisesse ficar com alguém, no caso Sófia que já não queria mais nada com ele.

Sentindo suas mãos trêmulas de tanto nervoso, Ricardo foi até onde guardava as bebidas.

Após pegar a garrafa de whisky, deu uma golada de uma vez. Precisava acalmar seus pensamentos, mas estava sendo em vão.

Parou a mão pela testa, já estava suando.

— Mãe, eu não vou te perdoar por isso – pegou a chave do carro que estava na estante e saiu pela porta. Precisava resolver aquela situação imediatamente.

Enquanto dirigia para a casa de seus pais, ele cometeu várias infrações de trânsito... quase havia atropelado um senhor em um semáforo.

O carro atravessava a cidade em alta velocidade. Ricardo não se acidentou por sorte.

Antes de entrar na casa de seus pais, tomou mais um gole da bebida. Ricardo já estava totalmente fora de si.

Meio que cambaleando, o engenheiro chegou até a porta. Após destravar, a abriu violentamente.

— Mãe – Gritou da porta olhando para os lados para ver se tinha sinal da senhora – Mãe – gritou novamente e ouviu o som de passos.

Tentava saber de onde vinham, mas seus sentidos já não estavam aguçados.

— Mãe – tentou obter alguma resposta.

— Ricardo, o que está acontecendo? – a senhora surgiu descendo as escadas. Ao perceber o estado do filho começou a dar passos apressados – Filho, o que houve? – tentou levar suas mãos até o filho mais foi impedida.

— Fique longe de mim – disse duro – Não quero suas mãos perto de mim.

— Filho, não fale assim comigo – A mulher tentou se aproximar de novo.

— Por que a senhora bateu em Sófia. Ela não tem culpa... ela nunca teve culpa – Segurou os braços de sua mãe a erguendo – Vocês que são culpados por essa desgraçada surgir em nossas vidas.

— Filho, eu não tive culpa... eu não tive... eu sou inocente – Rita começou a sentir uma dor em seu peito. Seu filho já sabia de tudo. Sabia que Raquel e Sófia estavam se relacionando – Me perdoa, filho – a senhora começou a chorar.

— Eu não te perdoo... a senhora é culpada. Tudo culpa de vocês— Afastou a mulher de si. Ele chegou àquela casa achando que sua mãe tinha batido em Sófia por saber que a loira estava com sua irmã.

— Aonde você está indo? – a mulher perguntou já desesperada. Sentia todo seu corpo tremer. Tinha medo de seu filho nunca mais querer saber dela.

— Vou pegar as coisas que tenho aqui. Nunca mais voltarei a esta casa – Com um pouco de dificuldade começou a subir a escadas.

— Filho, não faça isso – Rita se desesperou ainda mais. Foi até Ricardo e começou a segurá-lo, começando uma luta com seu filho.

— Me solte... eu não quero que me toque – Ricardo tentava tirar as mãos de sua mãe de perto de si.

— Eu não vou soltar... eu não vou – Rita gritava enquanto segurava a camisa do filho.

— Me solte... eu não quero te ver nunca mais.

— Filho – Rita gritou desesperada e sentiu as mãos de Ricardo a empurrando com força para de encontro as escadas.

Sem conseguir se equilibrar, a senhora bateu a cabeça em um dos degraus e perdeu a consciência.

— Mãe— Ricardo se deu conta do que fizera e se aproximou. Ao tocar a nuca da mãe sentiu algo quente contornando seus dedos, sangue.

— O que está acontecendo aqui? Eu ouvi as discussões de lá de fora – Rogério surgiu na porta após chegar do seu jogo de tênis. Ao ver a cena de Ricardo com sua esposa nos braços, o seu coração falhou uma batida – Meu Deus, Ricardo, o que houve? – Correu até onde o filho estava.

— Eu a matei!

Fim do capítulo