Após sua mãe sair, Raquel desabou no chão. Provavelmente seu pai também já sabia de tudo, não tinha mais por que fingir não ter algo com a loira, isso lhe deixava aliviada, no entanto, estava muito abalada.

As palavras de sua mãe haviam sido duras. A mulher parecia não sentir nada pela engenheira. Não tinha carrinho de mãe, não parecia ter pena dela, demonstrava querer lhe deixar ainda mais destruída por dentro.

Várias lágrimas escorreram pelo seu rosto. Posicionou as fotos do envelope no chão e as encarou.

Elas retratavam momentos felizes do casal.

Raquel respirou fundo. Havia sido seguida durante todo final de semana e não percebera.

Lembrou-se do carro e levou a mão até a face. Havia sido muito boba por não ter desconfiado daquele carro desde o começo, poderia ter evitado o que aconteceu.

— Pare de besteira, Raquel, uma hora todos iriam saber – Encostou suas costas na parede e deixou as lágrimas rolarem por um bom tempo.

Ao ver Raquel naquele estado, Nino se aproximou deitando com a cabeça sobre o colo da dona.

— Estava feliz demais, Nino, eu não mereço a felicidade – Raquel alisou a cabeça de seu cachorro.

Nino não emitiu nenhuma reação, apenas ficou olhando para sua dona, parecia querer lhe dar conforto.

O celular de Raquel começou a tocar. Temia ser Sófia. Não, ela não estava nem pensando na possibilidade de terminar com a loira, mas sentia que estava precisando de um tempo para colocar a cabeça no lugar, pois se falasse com a loira, ela poderia pensar que tinha culpa por Raquel estar sofrendo daquela forma.

Pegou o aparelho e viu o nome de Norma na tela. Sem pensar duas vezes atendeu.

— Norma, minha mãe sabe de tudo – Disse sem preparar a outra mulher.

— Raquel, como isso aconteceu? – a ruiva estava surpresa – Quer que eu vá te ver? – perguntou, pois sabia que a morena temia aquele momento.

— Se você puder, Norma, eu ficarei grata.

— Hoje, eu tenho uma cliente, mas posso desmarcar — Norma disse já pegando sua bolsa.

— Eu não quero atrapalhar você.

— Ah... Não pense nisso, Raquel, não está me atrapalhando. Em alguns minutos, eu chego aí.

— Está bem! — falou com um tom de voz baixo, isso fez a Ruiva sentir um aperto no peito.

Após a ligação, Norma imediatamente ligou para sua cliente, sabia que geraria uma situação desconfortável, mas não podia deixar Raquel sozinha depois de ter discutido com a mãe.

Durante todo o percurso até o apartamento da engenheira, ela se perguntou se Raquel já havia dito a Sófia o que aconteceu, pois nessa hora seria bom a loira estar lhe confortando.

Pensou na possibilidade de ligar para a loira, mas sabia que não era ela que teria que fazer isso.

Mas de meia hora se passou, Norma destrancou a porta do apartamento de Raquel e se deparou com uma cena que fez o seu coração entretecer.

Havia várias fotos espalhadas no chão e Raquel estava sentada totalmente perdida em seus pensamentos ao lado de Nino.

— O que aconteceu por aqui? — Perguntou ao catar as fotos uma por uma. As imagens retratavam momentos felizes entre Raquel e Sófia.

— Minha mãe trouxe para que eu não tivesse que inventar nenhuma mentira.

— Raquel...

— Ela me ofereceu dinheiro para sair de sua vida, Norma — Disse chorosa.

Norma engoliu em seco, não sabia o que dizer naquele momento, mas não estava admirada com a reação da mãe da morena.

— Eu não esperava menos de sua mãe, minha querida.

— No fundo, eu acho que também não.

— Venha, sente-se no sofá, não quero que fique dessa forma — devolveu as fotos ao envelope — Já contou o que houve a Sófia? — Perguntou ao ver sua amiga se levantar.

— Ainda não, eu não quero que ela se sinta culpada por eu estar nessa situação — Sentou-se no móvel indicado pela amiga.

— Entendo, mas você precisa falar sobre o que houve com ela.

— Hoje, eu me mudo para a casa dela — Disse após Norma se sentar ao seu lado.

Norma sorriu.

— Uma boa notícia, mas... — pensou — você não vai voltar atrás, né?

— Não, Norma — Sentiu os seus pensamentos indo para rumos incertos, mas não iria mudar seus planos — Eu quero ficar com Sófia, e nada vai me fazer mudar isso.

Norma segurou a mão de Raquel e a acariciou.

— Não fique abalada pelo que houve com sua mãe. Ela é assim, você sabe...

— Eu sei, mas ela não tem nenhum carinho por mim, Norma, tudo isso de minha volta foi fingimento... ela não me ama — Encostou a cabeça no ombro de Norma e começou a chorar.

            — Não fique assim — Norma acariciou os cabelos da morena e ouviu um barulhinho, demonstrando que Raquel estava com fome — Não tomou café hoje?

            — Não — Sorriu um pouco sem graça — Quando eu estava terminando de preparar, Sófia ligou e depois minha mãe apareceu — ficou ainda mais abatida.

            — Está bem, não fique assim — Depositou um beijo na testa de Raquel e se levantou — Vou preparar algo para nós duas e quero te contar uma novidade.

            — Novidade?! — Raquel perguntou surpresa.

            — Depois do café, eu te conto — Norma comunicou.

            — Está bem!

            Após Norma ir para cozinha, Raquel ficou perdida em seus pensamentos. Cogitou a possibilidade de ligar para Sófia avisando que não iria para a empresa, mas achou melhor deixar para quando seus pensamentos se acalmassem mais.

            — Então, me conte qual é a novidade? — Raquel perguntou enquanto tomavam o café-da-manhã.

            Norma sorriu um pouco sem graça, pois sua amiga poderia pensar que estava sendo muito apressada.

            — Laura e eu estamos namorando — avisou e riu quando viu Raquel abrindo a boca, surpresa.

            — Nossa, por essa eu não esperava. O final de semana foi bom mesmo.

            — Nem eu... o final de semana foi maravilhoso. Ela é uma mulher maravilhosa, Raquel.

            — Mas você não sentiu nem um pouquinho de receio? — Raquel ficou curiosa.

            — Do quê?

            — Bom... ela é uma mulher. É sua primeira relação assim e você já está namorando. Bem que dizem que sapatão é ligeira — As duas riram.

            — Não vou mentir, eu queria que fosse com mais calma, mas estou me apaixonando Raquel. Ela me chamou para conhecer sua casa... tomar banho de piscina... acho que fazer outras coisas também — Riu um pouco sem jeito, por estar falando dos assuntos íntimos.

            Raquel se alegrou com a novidade, Norma estava precisando conhecer alguém. Vivia muito solitária.

            — Vocês já...

            — Ah... sim, muito — Riram juntas — Foi muito bom. Laura é tão carinhosa – disse toda apaixonada. Seus olhos estavam brilhando.

— Que bom que você está feliz, Norma – O olhar de Raquel se entristeceu e começou a brincar com a xícara.

— Raquel, não fique assim. As coisas vão se resolver e também, a sua mãe não merece todo esse seu sofrimento não. Bola para frente. Seja feliz com a mulher que você ama.

— Obrigada, Norma, você é uma grande amiga. Sempre esteve ao meu lado— Deu um sorriso fraco.

— E sempre estarei – Norma segurou uma das mãos de Raquel – Amigas são para isso, para estar ao lado em todos os momentos.

— Obrigada! – Disse emocionada.

_*_

Fazia um tempo que estava andando pela construtora e Sófia já se sentia angustiada. Não havia visto sua amada em nenhum lugar.

Por várias vezes olhou a tela de seu celular, mas não recebera nenhuma mensagem ou ligação de Raquel.

— Será que ela entrou e eu não vi? — Perguntou-se, contudo logo descartou a possibilidade, pois já havia passado em frente a porta da morena.

Como não estava mais aguentando essa espera por notícias, encostou-se na parede de um corredor vazio e ligou para Raquel.

— Amor, onde você está? – Perguntou preocupada e olhou para os lados para ver se estava vindo alguém.

— Oi, amor, estou em casa. Não vou a empresa hoje – disse desanimada.

Ouvir o tom de voz de Raquel assim fez Sófia ficar ainda mais preocupada.

— O que houve? Você estava bem... está se sentindo mal?

— Um pouco, mas não é nada com a gente. Minha mãe veio aqui hoje.

Ao ouvir isso, Sófia sentiu uma sensação nada agradável lhe invadindo.

— Você está bem? Quer que eu vá ficar com você? – Sófia estava muito preocupada com a morena, pois sabia como o assunto da mãe mexia com a amada.

— Não precisa, amor, a Norma está comigo e à noite vou ir para sua casa. Lá te conto o que aconteceu – preferia não  falar que sua mãe já sabia de tudo por telefone.

— Está bem, agradeça a Norma por mim, pois sei que está dando o apoio que você precisa e eu queria muito fazer isso.

— Não se preocupe, você precisa trabalhar.

— Se cuida, amor, eu preciso entregar umas planilhas a Ricardo. Ele pediu isso faz tempo, mas eu estava querendo saber de você... estava preocupada – Disse baixo.

— Eu estou bem – Mentiu, pois não queria deixar sua amada preocupada.

Sófia respirou fundo, pois conhecia bem sua noiva, mas achou melhor fingir que acreditava. À noite poderiam conversar melhor.

— Vou indo... estou com saudade – Sófia confessou.

— Também estou, meu amor – sentiu por deixar sua amada ir. Respirou fundo tentando conter as lágrimas.

— Esses assuntos é melhor serem tratados pessoalmente – Norma que estava ao lado de Raquel, comentou.

— Você está certa... ela pediu para te agradecer por estar cuidando de mim.

— Ah... Não precisa, é um prazer – Deu um beijo na testa de Raquel – Agora vá deitar na cama. Descanse um pouco... depois eu levo um chá para você dar uma relaxada.

— Está bem – Raquel se levantou da cadeira e foi para seu quarto.

Ao chegar, se deitou na cama e encolheu todo seu corpo nos lençóis macios. Precisava dormir um pouco para esquecer que sua mãe a desprezava.

_*_

Após estar emocionalmente apresentável, Sófia foi para a sala de Ricardo. Antes de abrir a porta respirou fundo, pois estava sendo difícil lidar com seu ex.

Ricardo andava muito estranho. Parecia frio, tinha um olhar que lhe causava calafrios. O homem após o término havia mudado radicalmente ou sempre fora assim e só naquele momento passou a mostrar como realmente era.

— Licença, Ricardo, trouxe o que você pediu – Passou pela porta e notou o homem com um olhar distante.

— Obrigada, Sófia – Ricardo direcionou o seu olhar para a loira e notou algo diferente em sua mão. O engenheiro sentiu um nervosismo começar a tomar conta de seu ser, pois sabia o que isso queria dizer – Será que chegou a esse ponto? – Pensou.

Sófia colocou os papéis sobre a mesa de Ricardo e se afastou.

— Mais alguma coisa? – a loira perguntou.

Ricardo ficou um tempo em silêncio, levou a mão até a gola de sua camisa, precisava se acalmar, pois seria capaz de fazer alguma coisa se caso isso não ocorresse.

— Anel bonito – Ricardo comentou.

Sófia olhou para o anel. Sentiu vontade de sorrir, mas evitou.

— Obrigada, comprei – Mentiu e Ricardo ficou muito decepcionado, pois para ele, Sófia era uma mulher pura. Em outros tempos nunca mentiria para ele – Bom, eu vou indo, preciso organizar uns arquivos.

— Está bem – Ficou observando Sófia sair – Eu vou te libertar dessa mulher, Sófia – pensou ao ficar só na sala.

Fim do capítulo