Cada uma com seus próprios conflitos internos.
Nem sempre a gente entende o que sente sozinho;as vezes precisamos da ajuda de alguém e elas buscaram.
Cada uma a seu modo, elas irão compreender e aceitar que precisam seguir nas suas descobertas.
A solidão as vezes é o grande conselheiro para tirar as dúvidas e nos dá certezas.
Capitulo 4 Sentimentos confusos
Por Acácia:
Quando fiquei a sós com a Helane, e nossos olhos se encontraram pela milésima vez naquele dia, uma vontade insuportável de ficar o máximo possível ao seu lado, fez-me convidá-la pra subir e conhecer minha casa. Mostrei todos os cantos, mas quando chegamos na porta do meu quarto parei com certo receio; o que fez ela olhar-me intrigada. É que o quarto é um lugar íntimo, e ela ainda era uma estranha. No entanto ela agia naturalmente, se sentia alguma coisa não demonstrava; seus olhos estavam atentos a cada detalhe.
Depois de algum tempo na varanda do quarto ela elogiou a casa e pediu pra usar o banheiro; abrir a porta do closet para que ela usasse meu banheiro.
Enquanto ela estava lá fiquei sentada no puf, pensando o porquê dos seus olhares,da sua presença mexerem tanto comigo; eu nunca tinha reparado numa mulher, agora até calor estava sentindo nas partes íntimas, meu coração batia descompassado.
Quando ela voltou do banheiro que tocou levemente no meu ombro e disse vamos; senti uma sensação como um pequeno choque,um formigamento no corpo. Precisava de um banho urgente.
Assim que a deixei no quarto da Yasmin,corri para o chuveiro,tomei uma ducha rápida e quando voltei,vi uma cena linda. Ela estava com as duas meninas no colo e brincavam de corcegas. Eu vi o quanto minha filha estava feliz. Também percebi que a Helane era sem dúvidas uma pessoa do bem. A sua sobrinha por si só, já demonstrava o quanto aquela tia era especial; afinal a menina falava muito sobre ela pra Yasmin.
Quando segurei sua mão ao nos despedirmos, desejei muito mais que aquele apertar de mãos, eu quis abraça-la; sentir uma agonia no peito que quase faltou ar nos pulmões, quando simplesmente ela soltou minha mão,deu a volta no carro, tomou a direção e foi embora. Enquanto eu e a Yasmin olhavamos o carro desaparecer na esquina, uma angústia tomava conta de mim, uma confusão de sentimentos, aquela sensação de saudades, uma vontade de encontrar outra vez.
Nunca senti-me tão só naquele quarto, meu corpo reclamava uma presença, e eu só lembrava da morena; daqueles olhos azuis, ou cinzas dependendo da luz. Lembrei da boca com seus lábios carnudos e naturalmente vermelhos, imaginei como seria um beijo dela. Definitivamente,eu estava ficando louca; só podia. Precisava conversar com alguém sobre esses sentimentos novos que estavam me atormentando. A Rebeca e a Rute com certeza viriam passar o domingo comigo; a gente iria conversar e eu iria me sentir melhor com aquela confusão mental.
As dez da manhã em ponto a Rute chegou sozinha, a Rebeca tinha ido visitar uma amiga. Eu estava tomando café com meus pais. Aos domingos quase sempre acordava tarde; então aquela hora pra eles já era a do lanche. A Yasmin havia saído para passear com os avós, aproveitando que eles ainda estavam na cidade.
- Amiga preciso conversar contigo sobre umas coisas que estou sentindo, e que estão me deixando doida. - Falei assim que fiquei a sós com a Rute.
- Então fale,se eu puder ajudar! -
Olhei pra Rute sem saber por onde começar. Pigarreei e a voz não saía.
- Desembucha mulher! - Gargalhou.
- É, quê desde que conheci a Helane, tenho sentido umas coisas diferentes, umas sensações estranhas. Não sei explicar direito. E isso está me tirando do eixo. - Falei vermelha de vergonha.
- Amiga, eu estou besta! Como assim? Ela fez alguma coisa contigo?
- Não! Foram os olhares, o jeito de falar, o toque das mãos.
- Nossa amiga, teu caso é grave! Se só com isso tu ficou assim; quando aquela mulherão te pegar, tu vai ficar de quatro. - A Rute gargalhou alto.
- Poxa, estou te falando séria e você faz piada, que amiga você! - Falei brava.
- Desculpa, mas não deixa de ser engraçado. - E riu dinovo.
- Já vi que virei motivo de piada, se eu soubesse não teria te contado. - Fechei bem a cara e sair pisando duro.
- Desculpa amiga, não me leve a mal; estou tão surpresa que não sei bem o que dizer, por isso comecei a rir. - Ela falou segurando-me no braço.
- Tudo bem, eu entendo tua reação. Acho que também acharia engraçado se alguém me dissesse há duas semanas atrás que um dia eu iria ficar assim por causa de uma mulher. - Falei
- A Beca brincava com a gente lembra? Falando que se um dia, uma mulher nos pegasse de jeito, queria ver se a gente não iria virar a casaca pelo avesso. Acho que a praga pegou em você amiga. Mas falando sério; eu percebi os olhares de vocês, ela com certeza é lésbica. A Rebeca também percebeu, depois que reclamei com ela. E garante que o negócio dela é mulher, e que está caidinha por você. Se realmente você estiver afim deixe rolar, mas não vá atrás dela, descubra se é solteira, se não é uma pegadora; tipo a Beca, que fica com garotas mas não namora sério. Você já sofreu tanto por causa daquele cafajeste, então não arrisque tanto, não deixe-se enganar novamente.
- Olha Rute, eu não sou mais aquela adolescente deslumbrada, apesar da confusão que esses sentimentos estão causando dentro de mim, não vou me entregar de bandeja pra ninguém. E quanto ao Rogério, pra falar a verdade, eu nem lembro tanto como tudo aconteceu, recuperei-me tão bem, que já não sinto raiva dele, não sinto nada, é como se não existisse. Quanto a Helane caso ela realmente estiver interessada como você falou, vou fazer de tudo para conhece-la, mas não vou facilitar as coisas.
- Acácia, você tem uma arma poderosa a seu favor; a grandona caiu de amores pela Yasmin; caso ela te convide pra sair não recuse,mas leve a Yasmin junto. Mostre que você é mulher pra namorar e não para uma aventura. Não precisa ser difícil demais, demonstre que está interessada,mas nem tanto; nisso tua timidez vai ajudar. Acredito que logo, a grandona vai dá sinal de vida; pois pelo jeito dela, parece ser bem decidida.
Depois da conversa com a Rebeca, ainda me sentia num turbilhão de emoções, mas sentia-me melhor, pois já entendia o que se passava dentro de mim. Desde minha gravidez, que eu me fechei para qualquer relacionamento; eu acreditava que em algum momento da minha vida encontraria alguém que valesse a pena. Eu não amei o Rogério, foi apenas uma paixonite de adolescente, que durou só até ele me forçar a ter relações sexuais; foi tão horrível passar por toda aquela humilhação, depois descobrir que estava grávida, ele ter a infâmia de dizer que não tinha certeza que o bebê era dele, pois não me encontrou virgem; quando na verdade, eu nunca tinha ficado com ninguém além dele.
Chorei,me desesperei, quis morrer. Meus pais foram meu refúgio naqueles dias, meus irmãos que moram em outra cidade,queriam se vingar do covarde do Rogério que fugiu; quando ficou comprovado que ele era o pai do bebê; seus pais assumiram a responsabilidade e o obrigaram a assumir a paternidade registrando a menina. Ele registrou, mas nunca quis chegar perto, o que de certa forma eu agradeço. Tive muito medo de regeitar a criança, caso fosse um menino e se parecesse com ele; mas Deus foi tão bom comigo, quê nasceu uma menina e em nada se parece com ele, é meu clone.
Por Helane:
Quando chegamos em casa já passavam das nove, a Andréa estava visilmente agoniada ao lado do meu cunhado, Luciano que cochilava no sofá. Então, só fez pegar as chaves do carro da minha mão e irem pra casa; pois antes de sairmos para o aniversário ela dissera que iriam passar o domingo na casa da nossa avó, então precisavam acordar cedo, já que a mamãe e a Pérola também iriam com eles. Eu até iria também, mas diante da confusão que estava minha cabeça, preferi passar parte daquele domingo na minha própria companhia.
Foi difícil o sono chegar naquela noite apesar de estar com o corpo cansado. As cenas daqueles momentos na casa da Acácia passavam lentamente como um filme na minha cabeça. Principalmente suas últimas palavras. Nos despedimos com um singelo aperto de mãos, mas confesso que desejei toma-la em meus braços, beijar aqueles lábios tão convidativos. Tomei um banho morno pra vê se relaxava, mas nem isso resolveu.
Confesso que tinha um pouco de experiência com mulheres, mas nenhuma fez meu coração bater descompassado com poucas palavras, olhares e muito menos simples toques de mãos. Eu me considerava um pouco fria, pois só sentia prazer quando dava prazer a outra mulher; ouvir gritos, gemidos nos meus ouvidos e sentir o quanto a parceria ficava excitada com minhas carícias era o que me levava ao clímax. As vezes eu permitia que me tocassem, mas não sentia muito prazer com o ato; por isso preferia ficar com garotas mais tímidas, aquelas que só faziam olhar,mas não tinham coragem de chegar junto.
Definitivamente,eu precisava entender o que estava sentindo em relação a Acácia; até aquele momento não sabia nada sobre ela,a não ser o que estava a minha frente. O que eu tinha certeza é que não queria ser apenas sua amiga. Eu tinha esperança de que o fato do pai da Yasmin não aparecer na festa, significasse que não existia mais nada entre eles...
Acordei já passando das nove da manhã. Tomei um banho gelado, vesti uma calça de moleton leve, uma regata, peguei meu casaco, um par de botas de couro com solado de borracha, e fui pra cozinha tomar um café.
A casa estava em silêncio. Encontrei meu pai terminando de tomar seu café.
- Bom dia pai, como passou a noite? - Falei depois de beija-lo na cabeça.
- Bom dia querida. Passei bem. E você? - Ele respondeu depois de também beijar minha cabeça.
- Apesar do cansaço o sono quase não chega, mas depois dormir como uma pedra. - Falei enquanto me servia de café,leite, uma generosa fatia de cuscuz que adoro,com ovos mexidos que papai tinha terminado de fazer.
- Você saiu ontem com a Pérola, conta como foi lá no aniversário! Aposto que tua falta de sono tem a ver com alguma coisa que aconteceu por lá. Estou certo? -
Meu pai sempre foi direto, e se tinha alguém que me conhecia bem era ele. Meus pais sabiam das minhas preferências sexuais,mas apesar disso eu não era de falar sobre esse assunto com eles. Mas sabia que podia, se assim desejasse.
- Conheci uma mulher, e desde então ela não sai dos meus pensamentos; o pior é que não sei se ela é solteira,casada; o que sei é que eu adoro a filhinha dela, e não quero ser apenas sua amiga. - Falei de uma vez antes que faltasse coragem.
- Você está falando da moça, que é enfermeira lá do CAE? Eu ouvi sem querer uma conversa da tua mãe com a Andréa. Ela falava pra Déa o quanto você ficou encantada com a loirinha de cabelos cacheados, que por sinal tinha uma filha que era igualzinha a ela.
Quase engasguei com o cuscuz, que desceu rasgando. Acho que fiquei igual aqueles pimentões vermelhos. Eu nunca poderia imaginar que minha mãe, tinha prestado tanta atenção em mim naquele dia. Agora eu entendia o porquê daquela pergunta dela.
- Que coisa feia papai. Ouvindo a conversa dos outros escondido! - Falei sem graça.
- Alto lá moça, eu não estava escondido, estava chegando na varanda, e tua mãe falava um pouco alto; qualquer pessoa ouviria naquela distância. Acácia não é?
- Meu Deus! Estou numa família de fofoqueiros e não sabia! - Falei fingindo indignação; mas no fundo estava contente, por perceber que minha estava saindo do casulo; ainda que aquela fala dela trouxesse alguns momentos embaraçosos pra mim.
- Esperei elas terminarem pra poder entrar na casa; não antes de ouvir tua mãe pedir a Andréa que não contasse a ninguém sobre isso, pois não sabia até que ponto você se envolveria com a moça, que segundo ela também demonstrou interesse. Só entrei depois que a Déa falou: tudo bem mãe, vamos deixar que ela mesma nos conte. Fiz um pequeno barulho e entrei.
Depois de contar tudo pra o meu pai e ouvir seus conselhos. Peguei a moto e sair sem destino certo. Amava a sensação de liberdade que existia em cima de duas rodas. Depois de uma hora rodando pelas ruas sem parar, resolvi pegar a rodovia. Trinta minutos depois corria por uma estrada de cascalho, peguei uma trilha no meio do mato e seguir morro acima até chegar no alto e me deparar com ela, uma pequena nascente d'água que descia de uma rocha no meio da mata. Já faziam cinco anos que eu visitava aquele lugar. Aquelas terras eram da minha avó, mas poucas pessoas conheciam aquele local,o que o tornava solitário e de certa forma perigoso.
Eu precisava pensar, e nada melhor que a solidão pra pôr as ideias no lugar. A minha confusão de sentimentos eram: Eu gosto da Acácia,ou ela é apenas uma mulher conveniente para mim? Ela é bonita, inteligente, batalhadora, talvez solteira; já que também não apareceu um namorado por lá; eu também modéstia a parte sou uma boa aquisição... Não, o que eu sentia não era mera conveniência. Concluir que o quê eu estava começando a sentir pela Acácia iria muito além de tudo que eu conhecia. E era muito boa aquela sensação. Sentia-me viva, forte, invencível, livre, como uma águia voando no céu.
Fim do capítulo
Olá, tudo bem?
Novo capítulo finalizado, espero que gostem e comentem!
Beijos meninas!
Com amor,
Vanderly
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Gleicy Clara Dourado
Em: 18/05/2021
Só falta o embuste do Rogério aparecer
Resposta do autor:
Olá!
Calma, ele vai aparecer, mas lá bem adiante... Risos.
Obrigada querida.
Beijão!
Vanderly
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rhina
Em: 07/08/2020
O pai da Lane cheio de informação.
Acácia tendo uma boa e esclarecedora conversa com a amiga.
Rhina
Resposta do autor:
Olá!
Sim, muito boa a conversa de ambas entre pai, e amiga.
Eu fico feliz que tenha gostado.
Muito obrigada pelos comentários!
Beijos â¤ï¸!
Vanderly
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Brescia
Em: 12/04/2020
Oi de novo.
Acho que está nascendo um sentimento mais forte em ambas, o desejo de se conhecerem está ficando mais forte do que imaginavam.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Olá, tudo bem?
Verdade! E põe sentimento nisso!
Desejos a flor da pele.
Muito grata pelo teu comentário isso é muito importante para mim.
Beijos!
Vanderly
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