DO OUTRO LADO DO MUNDO - 1
CAPÍTULO 144 – Discutindo a Relação
Zinara e Clarice conversavam no quarto da paleoceanógrafa. Era tarde da noite e Leda já estava deitada.
--Será que ya Leda ficou me achando uma tarada, Sahar? -- perguntou com preocupação -- Eu não queria que ela pensasse que não tenho respeito... -- olhava para a namorada -- Jamais ofenderia ommik (sua mãe)! Abadan! (Nunca!)
--Não se preocupe, meu bem, ela não te vê com maus olhos. -- tranquilizou-a -- Do contrário! -- segurou uma das mãos da morena -- Aliás, ela quer mais é que a gente se entenda!
--Tamintanii! (Que alívio!) -- respirou aliviada -- Mas não é só ela que deseja que a gente se entenda... -- entrelaçaram os dedos -- É tudo que eu mais quero! -- afirmou com verdade
--Eu também... -- suspirou
--Então se abre comigo, vamos tentar resolver o que ficou pendente! -- pedia com sinceridade -- Não sabe como maltratou albii (meu coração) o fato de saber que você se sente tão mal por causa do que aconteceu... -- referia-se à viagem para Cedro -- E ver como nossa situação te incomoda... -- balançou a cabeça -- Oh, Sahar, eu te amo tanto... Tudo que não quero é ser motivo de infelicidade na sua vida!
--Mas você não é... Longe disso... -- pausou brevemente -- É que... -- tentava se expressar com clareza -- É que me incomoda muito ver que só eu desejo construir uma vida baseada num compromisso sério! Você parece não se importar com o fato de vivermos separadas... -- olhava para a astrônoma -- Na maior parte das vezes nosso contato se resume a telefonemas e internet e não é isso que espero de um relacionamento...
--Mas quem disse que eu não quero uma vida a seu lado? -- retrucou -- Quem disse que não sinto sua falta, que não gostaria de vê-la todos os dias e poder sentir o prazer da sua presença na minha rotina? -- segurou a outra mão da paleoceanógrafa -- Eu já disse e repito que tô buscando um jeito de resolver isso, não é mentira! -- garantiu -- Mas você precisa ter paciência, min fadlik (por favor)...
--Não acha que tenho tido toda paciência do mundo? -- rebateu chateada -- E tudo tem limite, Zinara! -- soltou as mãos da outra e se levantou -- Tudo tem limite... -- andou até a janela
Suspirou. -- Ana a’arfa... (Eu sei...) -- concordou -- Mas precisa pensar no contexto do nosso relacionamento, Sahar! -- alertou -- Nós começamos a ter contanto quando eu tinha um compromisso com Jamila e naquela época falávamos apenas sobre trabalho. -- olhava para a amada -- Depois que ela me deixou vivi uma fase muito triste e pesada, sofrendo pelo abandono, por conta da doença e ao mesmo tempo buscando meu caminho, uma nova forma de conduzir minha vida, de ver a mim mesma... -- desabafava -- Sahar, eu era terminal! -- enfatizou -- Minhas perspectivas se resumiam a desejar que Allah me desse mais tempo pra resolver problemas que ficaram pendentes na minha vida! -- queria que ela entendesse -- E foi nesse contexto que nos conhecemos e ficamos juntas! -- levantou-se também -- Eu não menti pra você! Não neguei que a carga era pesada e cheguei a te pedir que me deixasse!
--Mas eu não quis fazer isso...
--No que te serei eternamente grata! -- respondeu de pronto -- Mas preciso insistir pedindo que você entenda o contexto da minha vida quando entrou nela! -- olhava nos olhos -- Eu não imaginava que pudesse me curar! Não mesmo! -- aproximou-se -- E quando viajei pra Cedro sem avisar, não foi por um capricho ou por causa de um egoísmo idiota! -- desejava se explicar -- Eu precisava ir!
Afastou-se novamente. -- Foi uma fase péssima pra mim! -- reclamou -- Não sabe o quanto sofri!
--Nunca vou convencê-la de que eu precisava ir! -- reconheceu -- E ambas sabemos que se eu tivesse contado a você ou a qualquer pessoa da minha vida sobre meus planos, ninguém me apoiaria naquela decisão!
--Claro que não! -- retrucou de imediato -- Aquilo era loucura! -- olhou para a astrônoma
--Laa, ya habibi... (Não, minha querida...) -- discordou -- Pra mim era algo tão necessário quanto respirar! -- pausou brevemente -- Você não vai me entender, não vai concordar, mas eu precisava ter ido! Eram meus demônios, os últimos demônios que precisavam ser exorcizados... -- sorriu com tristeza -- O amor que dedicou e dedica a mim, com toda certeza, tem sido um elemento de cura poderosíssimo pros males do meu corpo e da minha alma. -- falava com verdade -- Valorizo esse sentimento como talvez nunca saiba demonstrar e te amo na mesma medida!
--Você não agiu como alguém que me amava! -- acusou -- E continua não agindo!
Riu brevemente por achar absurdo. -- Pensaria diferente se estivéssemos casadas? -- aproximou-se mais uma vez -- Agir como alguém que ama, é largar tudo sem pensar e vir morar em São Sebastião? -- perguntou com seriedade -- Que prova de amor desejaria ter recebido?
--Você minimiza as coisas! -- protestou
--Responde, Sahar! -- insistiu franzindo o cenho -- Que tipo de prova queria ter recebido? -- esperava uma resposta -- Se eu jogasse tudo pro alto e viesse morar na cidade pra casar com você, isso seria uma boa prova de amor? -- queria saber -- Amar se resume a se casar?
--Se você não tivesse ido embora como fez, se sua atitude comigo fosse outra, se demonstrasse que realmente quer mudar nossa situação ao invés de apenas buscar me convencer de que tenho que esperar mais... -- respondeu agoniada -- Você não bolou estratégias ou modelos matemáticos pra se casar com Shamash e tampouco com aquela bailarina megalômana! -- acusou contendo a emoção
Deu um suspiro profundo. -- Argumentar é inútil, não é? -- reconheceu desanimada -- Não adianta explicar que o contexto de quando te conheci era completamente diferente das épocas em que conheci Shamash ou Emille... -- pausou brevemente -- Você pensa assim e não vai mudar de opinião... -- constatou com tristeza -- A’akli a’aar... (Minha alma se envergonha...) Lamento muito por tê-la feito sofrer... -- sentou-se na cama -- Mas o passado não vai mudar, Sahar... -- abaixou a cabeça -- Não posso mudar o fato de ter partido pra Cedro, não posso mudar o fato de ter vivido com Shamash e depois com Emille...
--Mas pode mudar o presente!
Olhou para a namorada. -- E eu já disse que vamos nos acertar. -- falou com seriedade -- Se prometi isso, vou cumprir! -- garantiu -- Não minto quanto a meus sentimentos ou intenções! Ana kol gamla talaa men khalass be ged! (Eu realmente sinto cada frase que digo!)
Cruzou os braços e se encostou na parede. -- E eu já disse que não quero passar a vida toda esperando pra ver isso acontecer!
Calou-se novamente e passou uns instantes em silêncio antes de voltar a falar. -- Eu não tô enrolando, Sahar... -- queria muito convencê-la -- Não me julgue e nem me avalie como faria com uma pessoa normal, porque eu não sou uma pessoa normal! -- advertiu
--Pare com isso, Zinara! -- reclamou
--Será que não viu isso ainda? -- levantou-se mais uma vez -- Não queira me comparar com as pessoas a sua volta, porque não dá. -- olhava nos olhos -- Omr Il-insaan yama maktoub a’a ijbee-know... (A vida de um ser humano está escrita na sua testa...) -- apontou para a fronte -- E eu tenho muita dor, violência, sangue, mortes e misérias no meu passado. -- admitiu -- Muita coisa ficou pra trás, Allah me ajudou a superar outras tantas, mas a guerra marca pra sempre! -- afirmou enfática -- Paz é algo novo pra mim... Somente agora aprendo a me limpar e, quem sabe, um dia eu possa me livrar totalmente dessa marca maldita...
Clarice não sabia o que dizer.
--Eu nasci quando a guerra começou e ela veio comigo pra Terra de Santa Cruz e ficou em mim por todos esses anos... -- emocionou-se -- Finalmente ela acabou... Ficou lá, no cume do Monte Cedro... -- passou a mão nos olhos -- E com ela, ficou a doença que me consumiu nos últimos tempos. -- respirou fundo e sorriu -- Você conheceu e se apaixonou por uma mulher arrasada, traumatizada e com o emocional totalmente desequilibrado! -- apontou para si mesma -- Essa Zinara aqui, no entanto, agora é outra mulher! -- segurou as duas mãos da amante -- Sou toda sua, Sahar, não precisa duvidar! Não deve duvidar! -- enfatizou -- E nem deve se comparar com outras mulheres ou achar que tô fugindo de um compromisso! Você é única! -- afirmou convicta
--Zinara... -- não sabia o que dizer e se afastou uma vez mais -- Isso tudo é tão... -- andava em círculos
--Vamos decidir algumas coisas aqui! -- pediu -- O passado não vai mudar e se quer começar uma vida comigo, devemos deixá-lo onde deve ficar! -- olhava para a amada -- A gente não pode cair nessa rotina perigosa de viver discutindo esse assunto e você me acusando de falta de amor e eu te pedindo mais um tempo! -- argumentou -- Se não te dei as provas de amor que desejava, perceba que nas condições em que eu vivia talvez não pudesse, não tivesse como. -- buscava acabar com a discussão
--Não acha que é muito cômodo pra você dizer isso? -- questionou
--Não é cômodo, é a verdade! -- respondeu de pronto -- E nem sempre a verdade é como a gente quer!
A paleoceanógrafa deu um suspiro profundo e nada respondeu.
--Pode acreditar que não ficaremos eternamente nessa situação que te incomoda tanto! -- prometeu novamente -- Você não sonha sozinha com um futuro pra nós! Eu também, e muito! -- garantia -- Hoje eu tenho planos pro futuro e esse futuro é a seu lado!
--Será mesmo? -- perguntou de súbito
--A vida mudou, Sahar! Amanheci! -- aproximou-se e beijou uma das mãos dela -- Wallah wed-dony baØ¡et fe ‘aenaya Haga tanya! (Eu juro que a vida mudou diante de meus olhos!)
“Ela sempre conduz a coisa pra me seduzir...” -- pensou amolecida
--Esse clima ruim, essas discussões desgastantes... Ma byilbaklik... (Isso não combina com você...) -- insistia -- Vamos acabar com essa agonia de viver sempre girando ao redor desse assunto! -- pediu com preocupação -- Quem viveu o que nós vivemos até aqui... -- considerou -- Sahar, o pior já passou, será que não vê isso?
--Às vezes... com essa distância... -- abaixou a cabeça -- tenho medo que você me esqueça...
--Haad yensa alboo, ya gamil? (Alguém poderia esquecer do próprio coração, minha linda?) -- levantou o rosto dela com carinho -- Impossível esquecê-la um dia sequer!
--Lá vem você falando essas coisas... -- retrucou melosa -- "Eu não entendo nada, mas a bousa se derrete...” -- pensou embevecida
--Você é meu amor, Sahar! Alma gêmea, flor de luz, meu porto seguro... -- declarava-se -- Ya agmal hedeya ba’aathaly el adar leya! (Você é o presente mais bonito que o destino mandou para mim!)
--Ai... -- gem*u
--Que se acabem as desavenças entre nós! -- pediu abraçando-a pela cintura -- Sahraani, ya gamil... (Você me fascina, sua linda...)
--Não vem me seduzir pra ganhar tempo... -- retrucou dengosa -- E mamãe tá em casa... -- advertiu em voz mais baixa
--Não é sedução, ya habibi, é amor! -- respondeu com voz gutural -- E um pouco de desespero também! -- riram juntas -- Preciso que acredite no meu amor e no que você representa pra mim! -- pediu com muito sentimento -- Depois de você, nunca mais haverá outra mulher! -- sussurrou no ouvido
--Ai... -- suspirou
--Preciso do seu perdão e peço que tenha paciência comigo! -- continuava sussurrando -- Preciso que me dê um tempo! -- pedia aflitamente -- Sei que peço demais, só que... min fadlik (por favor), Sahar, min fadlik... me dê mais essa chance?
--Ai... -- gem*u de novo -- Não sei se dou, não sei se não dou... -- estava na dúvida -- Eu queria muito te dar, mas não sei...
--Min fadlik, Sahar! -- insistiu -- Preciso muito que você me dê! -- afirmou enfática -- Viajei na correria e sem avisar só por isso! -- olhava nos olhos
“Ih, que conversa é essa, hein?” -- Leda pensou preocupada ao abrir os olhos -- "Que papo brabo é esse na minha casa?” -- ficou em alerta -- "Tô deitada, mas não tô surda!”
--Não é de meu feitio fazer certas coisas em casa de família, mas... -- apertou o corpo da mulher contra si -- hatee booseh, habibi! (beije-me, querida!) -- falava com paixão
--O que? -- envolveu o pescoço da astrônoma com os braços -- O que você quer, meu bem? -- perguntou excitada -- Repete! -- pediu melosamente -- "Aposto que é a bousa!” -- pensou
--Bousa ala shafayef! (Beijo nos lábios!) -- respondeu de pronto
“Eu sabia!” -- pensou -- Ui! -- aproximou os lábios para beijá-la
--ÊÊÊÊPAAAAAAA! -- Leda gritou do quarto dela -- Quero saber de ninguém dando a bousa aqui, não! -- advertiu em voz alta -- Pó pará!
Clarice e Zinara se desvencilharam uma da outra e acabaram rindo da situação.
--Vamos dormir, amor. -- propôs -- Já é tarde e... mamãe tá online! -- riu brevemente -- E eu também quero acordar cedo pra votar logo no primeiro horário amanhã.
--Tudo bem... -- concordou -- Mas será que... -- pôs as mãos nos bolsos -- estamos de bem de novo?
--Acho que tenho pensado muita bobagem... -- considerou -- Vou refletir sobre o que me falou.
A morena decidiu não insistir mais. “Oh, Aba, que ela considere e não termine comigo!” -- pediu mentalmente -- “Já não aguento mais esse clima entre nós...”
--E ai de vocês que eu ouça um gemido, hein? -- Leda continuava advertindo -- Segura a bousa aí!
Zinara achou graça. “Ya Leda não é fácil! Sempre antenada...” -- pensou
CAPÍTULO 145 – Momentos de Tensão
--Tava ti procurandu, muié! -- Amina encontrou a cunhada no quintal -- Ocê num vai querê oví as contagi dus votu, não? -- abordava a outra -- Tá todu mundu lá dentru módi iscutá. -- olhava para ela -- Raed foi pru clubi mas dissi qui vorta pra casa módi sabê dus finarmenti.
--Ai, Amina, me perdoe, mas não quero. -- respondeu desanimada -- Esse negócio de eleição já me encheu a paciência e não tô dando conta! -- revirou os olhos -- Além do mais, outras coisas têm me preocupado.
--O qui foi? -- queria saber -- Acunticeu arguma coisa?
--É o Marco... -- suspirou -- Ele anda tão estranho... Ando até desconfiada que esteja aprontando alguma...
--AHHa! -- exclamou de cara feia -- Mais a essa fundura du campionatu? -- não aceitava -- Aprontandu o que?
--Sei lá, Amina! -- levantou-se e caminhou para perto de uma árvore -- Ele só quer saber de fazer ginástica, de correr, se cuidar... -- pausou brevemente -- Homem maduro quando começa nessa fase é porque tem mulher no meio... -- conjecturava -- E mulher jovem...
--Será?? -- ficou pasma
--Regula essi trem direitu, muié! -- Ahmed ralhava com a esposa -- Num si iscuta nada, só essa chiadêra doida!
--Tô tentandu, homi, si acarma! -- Catiúcia respondeu de cara feia -- Essi rádiu é mais véio qui eu!
--Baba nem pra tê uma televisão im casa, nunca vi! -- Nagibe reclamou -- Aí fica nóis aqui só na basi dessis trem véio!
--E eu qui nem mi alembrei di tê trazidu a minha TV, num sabi? -- Cid falou
--Essi rádiu pareci cum tipo du qui meu pai tinha. -- Penha sentou-se ao lado de Catiúcia -- Deixi vê si eu cunsigu. -- pediu
--Pois eu vi um dessi na casa di cumadri Zefa, num sabi? -- Dora se uniu às duas -- Vamu tentá!
--Quê qui ocês tantu reclama, hein? -- Georgina chegou com Hassan e as outras crianças -- Quê qui ôvi aí?
--Tamu querendu iscutá us resurtadu das eleição, num sabi? -- Cid respondeu agoniado -- Mais baba só tem essi trem véio e num si iscuta é nada! -- apontou para o rádio
--E quem será que vai ganhar? -- Hassan perguntou curioso -- Quê que você acha, Mateus? -- perguntou para o garotinho em seu colo
--Vai sê a gidda! -- Khadija respondeu inocentemente
--Gidda! -- Cidmara concordou
--Pois é Décio qui vai ganhá! -- Ahmed afirmou convicto -- Todu mundu aqui votô neli!
--Anêim, num sei qui todu mundu é essi! -- Nagibe retrucou -- Quem vai ganhá é Vilma!
--É Vilma! -- Cid concordou -- Aqui na roça num tem trôxa qui gosti di Décio, não, sô! -- pensou um pouco -- Só ocêis! -- apontou para Ahmed e a mulher
--Dá pra ocêis tudu calá a boca módi nóis iscutá? -- Dora reclamou -- Diacho!
--Ô, pesti di rádiu! -- Catiúcia reclamou -- Só chia essi trem! -- fez cara feia -- Queru iscutá a vitória di Décio im artu e bom som! -- gesticulou -- Simbora, Penha, dá teu jeitu!
--Tô quase nu pontu certu módi oví anunciá a vitória di Vilma, num sabi? -- Penha comentou enquanto tentava sintonizar -- Farta pôcu!
--Pois sim! -- Catiúcia retrucou
--Pois sim! -- Ahmed repetiu
--Criança! -- Georgina chamou os pequenos -- É mió nóis vortá lá pra fora. -- queria evitar o pior -- "Queru nem sabê dessis arranca rabu!” -- pensou
Enquanto isso, em São Sebastião...
--Ai, meu Deus, que agonia, que diabo! -- Clarice roía as unhas -- Essa apuração nunca termina! -- reclamou -- Inferno! -- andava de um lado a outro
--Não invoca o Bicho Ruim pra dentro de casa, menina! -- Leda ralhou -- Eu hein? -- fez cara feia -- Já basta ver a cara dessas peste de político aparecendo na televisão! -- fez um gesto revoltado
--Calma, Sahar, não fica desse jeito! -- tentava tranquilizá-la -- Daqui a pouco vem o resultado. -- pausou brevemente -- Seja ele qual for...
--Mas se ele ganhar a indústria nacional vai perder de novo! -- argumentou -- E vai voltar aquela coisa de importar tudo e desemprego e priorização de commodities e todas as vontades de Godwetrust sendo atendidas... -- gesticulava -- Pensa nisso, Zinara, pensa!
--Vilma não tem sido tão diferente, Sahar! -- replicou -- O governo dela tem cedido direto aos gostos do mercado financeiro. Não dou conta de tanta subserviência ao Capital! -- reclamou
--Meu bem, Décio encarna o próprio Capital! -- afirmou enfaticamente
A morena engoliu em seco.
E em Cidade Restinga...
--A televisão faz um mistério! -- Ritinha reclamava -- E parece até que os safados tão certos da vitória de Décio!
--E eu lá quero saber de Décio, tia? -- Adamastor andava de um lado a outro -- Por mim, ele e Vilma que se lasquem! -- estava tenso -- Tô é num aperreio doido porque Cecília nunca que chega! -- esfregava as mãos nervosamente -- Não aguentei ficar sozinho em casa esperando ela ligar!
--E por que você não tá no aeroporto esperando por ela, homem de Deus? -- perguntou sem entender -- Se você já recebeu as mudanças dela, tá com tudo arrumado em casa, tá fazendo aqui o que? -- olhava para ele -- Agora tem que ir buscar a mulher! -- falou como quem diz o óbvio -- Se avie!
--E não é? -- concordou com ela -- Ave Maria, tia, deixe eu ir. -- pegou as chaves do carro apressadamente -- Depois eu ligo, tchau! -- saiu quase correndo
--Eu hein! -- a idosa acabou achando graça e voltou a se concentrar na TV -- Eu adoro alcovitar casal, mas isso aqui é mais importante! -- prestava atenção -- Quem será que vai ganhar, hein? -- perguntava-se curiosa
--Décioooo!!!!!!! -- alguém gritou na rua -- É Décio na cabeça, Restingaaaaaaa!!!!!!!!
--Gente, mas que tortura! -- Lúcia reclamava diante da TV -- Deus do céu, confio em Ti, confio no povo de São Sebastião! -- olhou para cima -- Não deixa esse homem ganhar, por favor! -- pedia com aflição
--Calma, meu benzinho... -- Magali se aproximou carinhosa -- Não fica nervosa, vem aqui comigo que eu te relaxo todinha... -- falava melosamente -- Todinha, minha gostosa... -- abraçou-a pela cintura -- Te deixo nas nuvens... -- sussurrou no ouvido
--Ai... -- suspirou excitada -- É... -- buscou se recompor -- Nem pensar, Magali! -- afastou-se rapidamente -- Você ainda tá de castigo, viu? -- respondeu seriamente -- Nem tenta!
A professora suspirou pesarosa.
--Ai, meu Deus, ai, meu Pai, e se Décio, ganhar, hein? -- Clarice perguntava-se preocupada -- Ai, mas eu tô com tanto medo! -- passou a mão nos cabelos -- Já sei que você vai dizer que Vilma também não é flor que se cheire, -- olhou para Zinara -- mas você sabe que se o partido dele ganhar... -- falava com aflição -- em pouco tempo virá um tremendo arrocho no social!
--Você tá me deixando nervosa, Sahar... -- a morena respondeu agoniada
--Olha só pra cara do Décio! -- Leda apontava para a televisão -- Todo se sentindo, achando que já ganhou!
--Ai, gente, se ele ganhar, se ele ganhar... -- a paleoceanógrafa segurou a namorada pelos braços -- se acaba toda verba de pesquisa de ponta nesse país! -- afirmou apavorada -- Vai ser igual aconteceu em 1995! -- lembrava
--Eita! -- a astrônoma não sabia o que dizer
--Vai voltar o miserê do povo e o conservadorismo do Congresso vai ficar mais forte ainda! -- Clarice continuava -- Eles vão privatizar tudo que ficou faltando!
--Pois eu acho que daqui uns dias, seja Vilma ou seja Décio, vão querer privatizar até o rabo da gente! -- Leda afirmou revoltada
--Ave Maria! -- Zinara arregalou os olhos
--Pois o homem santo falou, -- Julieta discursava na portaria do prédio -- que na ausência de Osvaldina, o candidato do povo do Pai é Décio! -- olhava para os vizinhos -- Vilma é comunista, vermelha, bandida, possuída! -- fez uma expressão de tensão -- Enviada do próprio Bicho Ruim!
--Queima! -- umas senhoras responderam -- Repreende, meu Pai!
--Cidade Restinga tem que se unir! -- gesticulou -- Vamos orar pra Décio ganhar essa eleição! -- convocava -- Nós sabemos votar certo!
--Pois sim! -- um jovem que passava na rua resmungou consigo mesmo -- Cidade Restinga elegeu Armando Sollor pra senador! -- achou graça -- Isso porque sabe votar! Imagine!
--Oxi, qui pareci qui Décio tá na frenti! -- Catiúcia exclamou sorridente
--O que??? -- Nagibe e Cid perguntaram ao mesmo tempo
--É Décio, é Décio, vai dar Décio! CHUPAAA!!!! -- Ahmed gritou -- CHUPAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!
--CHUPAAAAAAA!!!!! -- Catiúcia gritou também
--Ch*pa?! -- Hassan olhou para a mãe -- Ch*pa o que, maínha? -- não entendia a gíria
--Ah, meu fio... -- Georgina não sabia -- Pensa nisso não!
--Anêim! -- Penha deu um soco na mão -- Pelu qui eu tô ovindo é Vilma qui tá na frente, uai!
--O que?? -- Ahmed e Catiúcia não acreditaram
--É Vilma, é Vilma!!! CHUPAAAAAAAAAA!!!!!!!! -- Nagibe gritou
--CHUPAAA!!! -- Cid gritou também
--CHUPAAA!!!! -- Penha e Dora gritaram juntas
--Ai, Zinara, eles tão juntinhos, juntinhos!! -- chacoalhava a namorada -- E agora, o que vai ser, no que vai dar?? Eles vão acabar com o programa Ciência sem Barreiras!!!
--Saluu ‘na nabi La tahsiiduuna!! (Reze para o profeta contra o olho do mal!!) -- a morena invocava nervosamente -- AAHH!! -- gritou
--Amor, o que você tá falando? -- não entendia
--Aah ya laali iw-ya la laali iw-ya laali iw ya lala! -- a astrônoma entoava desafinada sem nem saber o que dizia
--CHUPAAAAA!!!! -- Ahmed gritava como louco -- CHUPAAA!!!!!
--CHUPAAA, OCÊIS!!!!!!!!!!! -- Nagibe e Cid gritavam também
--CHUPAAA!!! -- Ahmed retrucou de volta -- Ai! -- exclamou surpreendido -- Oxi!
--Negóciu é esse di ch*pa, AHHa! -- Raed deu-lhe outra cintada -- Cunversa é essa, Ahmed?!
--Vilma ganhô! -- Penha avisou -- Vilma ganhô!!! -- estava feliz -- AHAHAHAH!!!! -- comemorou
--CHUPAAAA!!! -- Nagibe e Cid gritaram sem pensar -- Ai, baba! -- falaram ao mesmo tempo
--Mais qui diachu! -- Raed bateu nos outros filhos -- Qui cunversa é essa?? -- ralhava de cara feia -- Num criei fio pra ficá ch*pandu nada, não, uai! -- deu mais duas cintadas -- Indecença! Queru sabê di ch*pação ninhuma aqui, não! -- advertiu -- Aqui é casa di famia!
As três mulheres se entreolharam constrangidas.
--Qui tantu gritu di ch*pa foi aqueli, hein? -- Amina perguntou desconfiada -- Trem horrívi, aHHa! -- fez uma careta
--Ah, nem sei! -- a ex fazendeira respondeu sem se importar -- Vai ver foram os rapazes se engalfinhando. -- fez um gesto despreocupado
--Raed devi di tê dadu um fim nessas indecença. -- comentou -- Num si iscuta mais nada!
--É... -- respondeu pensativa -- Pelo menos essas indecências tiveram um fim... -- pensava em Marco -- Já outras...
--Mamãe, ela tá estatalada, me ajuda por favor! -- Clarice sacudia levemente o corpo da namorada -- Não fala nada, não pisca! -- estava com medo -- No máximo conseguiu se sentar! -- segurou o rosto da outra com as duas mãos -- Tá até gelada!
--A culpa foi sua, né, menina? -- foi examinar a caipira -- Você ficou falando tanta coisa, anunciando tanta desgraça, que endoidou a bicha de vez. -- balançou a cabeça preocupada -- Danou-se! -- fez um gesto -- E olha que ela tem que viajar pra casa hoje! -- advertiu -- Quero só ver!
--Ai, mamãe, me ajuda! -- a paleoceanógrafa acariciava o rosto da morena -- Amor, fala comigo! -- pedia aflita -- Diz alguma coisa!
--CHUPAAA!!!!!!!!! -- e tome do povo gritando nas ruas
Zinara jazia abestalhada na poltrona da sala.
CAPÍTULO 146 – Godwetrust
Jamila discursava diante de uma pequena multidão em um evento da ONG da qual fazia parte.
--A imprensa local e internacional fala sobre os horrores do Estado Radical e todos justificam esse ataque eminente de Godwetrust em nome da urgência em deter os fanáticos que estão matando milhares de pessoas em Suriyyah. -- falava em saxão -- Mas me respondam como pode o governo de Godwetrust agora se colocar como inimigo do Estado Radical, se foi esse mesmo governo quem forneceu os armamentos que os fanáticos estão usando? -- olhava para as pessoas -- Segundo documentos obtidos pelo jornal saxão, The Soldier, grande parte do armamento utilizado pelos radicais veio de grupos armados por Godwetrust e cooptados pelo líder do Califado, que hoje controla territórios em Suriyyah e na Babilônia. -- mostrava um exemplar do jornal
“Essa mulher é tudo que eu pedi no altar da deusa da sacanagem!” -- Cátia assistia interessada -- "Inteligente, culta, decidida, firme, corajosa, linda, gostosa...” -- pensava cheia de fogo -- "E dona de um par de seios de parar qualquer guerra!” -- suspirou -- De hoje ela não me escapa! -- prometeu a si mesma -- Ah, mas não me escapa mesmo!
--O ciberagente Edgar Scowben afirmou que os serviços de inteligência de três países, -- apontou para o chão -- esse aqui, Saxônia e Dar-ulharb, cooperaram juntos a fim de criar uma organização terrorista que fosse capaz de atrair todos os extremistas do mundo para um só lugar que lhes interessasse, dentro de uma estratégia batizada como “o Ninho dos Falcões”. -- denunciava -- Segundo os documentos de Scowben, -- pegou uma cópia dos arquivos e começou a ler -- “a única solução para proteger o Estado de Dar-ulharb,” -- lia parte do texto -- "é criar um inimigo próximo de suas fronteiras, porém, dirigi-lo contra os países que se opõem a Dar-ulharb”.
(Nota da autora: baseado também em http://averdade.org.br/2014/07/snowden-lider-grupo-terrorista-eiis-estado-islamico-foi-formado-pelo-mossad-israelense/)
--Como é que pode?? -- Cátia se revoltou falando sozinha -- Bando de governos podres que não tão nem aí pra vida do povo! -- resmungou com raiva -- Tudo pra proteger o aliado que eles têm no Oriente e continuar mamando às custas dos recursos dos outros!
--Além de tudo isso, -- Jamila continuava explicando -- é do interesse de El Arb Saud que todos os países da região com predominância xiita sejam anulados. -- olhava para as pessoas -- Somente dessa forma, o governo deles, que é sunita, conseguirá manter a hegemonia sobre o Oriente e suas decisões estratégicas. -- pausou brevemente -- Lembrem-se de que Suriyyah, Babilônia e Pérsia têm maioria xiita.
--E é bom lembrar que El Arb Saud tem um histórico de relações nada politicamente corretas com Godwetrust. -- a geofísica continuava falando sozinha -- Tudo isso não passa de um joguinho muito bem urdido por esse bando de abutres! -- concluiu com nojo da situação -- Ô merd*! -- fez cara de desgosto
--Essa guerra servirá apenas para matar gente inocente e enriquecer ainda mais a poderosa indústria armamentista! -- a advogada afirmava convictamente -- Precisamos lutar para que a invasão não aconteça, porque seu objetivo não é salvar o povo infeliz, mas sim tomar a posse de países que têm recursos interessantes à indústria petrolífera de Godwetrust e da Saxônia, além de estabelecer ainda mais um posto de hegemonia dos grandes playeres do comércio internacional! -- denunciava -- A primeira ação para minar as atividades do Estado Radical é interromper o seu municiamento, porque o estoque de bombas que eles têm vai acabar! -- preparava-se para concluir -- Se a indústria da guerra não vender mais nada para eles, quem vai fazer isso? -- provocou -- Guerra não se acaba com mais guerra! Chega desse jogo onde a riqueza de poucos se constrói sobre o sangue de muitos! -- elevou o tom de voz -- Os defensores da invasão não querem resolver nada! -- acusou -- Querem apenas o que sempre desejaram: dinheiro e poder! Nada mais que isso. -- pegou seus documentos para guardar na pastinha -- Obrigado!
As pessoas aplaudiam e gritavam palavras de repúdio à invasão de Suriyyah. Jamila desceu do púlpito e foi abordada por várias delas.
--Até quando fala sobre a cafajestagem de Godwetrust, essa mulher sabe ser gostosa, meu Pai do Céu! -- a professora acompanhava cada movimento da outra -- Isso não é mulher, isso é uma musa do gozo venéreo! -- babava -- E tem uma bunda maravilhosa, olha só! -- respirou fundo -- Ah, mas eu quero essa advogada! -- esfregou as mãos -- Essa Jamila nasceu pra ser minha!
--Your article was amazing! (Seu artigo foi incrível!) -- um rapaz elogiava -- I read it yesterday and forwarded to all of my friends! (Eu li ele ontem e encaminhei para todos os meus amigos!)
--Você não acha que na verdade se trata de um grande tabuleiro de xadrez? -- uma mulher já chegou falando -- Afganis, Babilônia, agora Suriyyah... -- gesticulava -- Nem no atentado das Torres Fêmeas eu acredito! Tudo aquilo foi uma grande armação para conquistar apoio popular aos planos belicosos do nosso ex presidente Lord Crush!
--É agora que eu vou! -- a geofísica se arrumou toda -- Abordar ela pra falar de geopolítica e depois chegar junto! -- caminhava em direção a outra mulher -- Capricha, Cátia! Ressuscita a pantera! -- falava consigo mesma -- Traz de volta a loura Belzebu que fez miséria em Terra de Santa Cruz! -- ajeitou os seios -- It's now or never! (É agora ou nunca!)
--Será que a gente podia conversar sobre a questão das águas? -- uma mulher perguntou interessada -- Sou natural da Rossiya e fiquei pensando no que você escreveu sobre o meu país, Terra Santa Cruz e Kanatá: os três como os maiores reservatórios de água potável do planeta!
--Você conheceu o Scowben? -- um rapaz perguntou -- Cara, ele é meu ídolo! He rocks! (Ele é demais!)
--E quanto aos agrotóxicos? -- um idoso questionou -- Agrotóxicos e água são dois temas intimamente ligados! Você também se envolve nos movimentos contra as atividades da empresa MontSaint? -- queria saber -- É um absurdo o que eles fazem nesse país e no mundo!
--Você está engajada no combate ao aquecimento global causado pelo ser humano? -- uma ativista perguntou à queima roupa -- Ou é mais uma negacionista? -- provocou
--All of you are talking about very relevent questions (Todos vocês estão falando sobre questões muito relevantes). -- Jamila nem sabia por onde começar -- Oh, eu...
--Acho que você precisa de ajuda pra dar uma fugidinha... -- a loura se aproximou de repente -- De preferência, de alguém que fale sua língua. -- caprichava na voz sexy -- Que tal, my darling? -- piscou para ela
--Você? -- virou-se para a outra surpreendida -- Acho que sim, habibi. -- sorriu
***
Cátia e Jamila conversavam no barzinho de um cassino.
--É incrível como você consegue chegar, prender a atenção de todo mundo e dar seu recado na maior categoria. -- a geofísica elogiava com sinceridade -- Mal chegou nesse país e parece que você já tem uma legião de fãs. -- sorria sedutoramente -- E eu me incluo entre eles.
Sorriu também. -- Eu não sou nenhuma ídola, habibi, apenas tenho muita paixão pelo que faço. -- respondeu igualmente sedutora -- Não sou mulher de coisas mornas... -- afirmou com duplo sentido -- Tudo comigo é muito quente! -- olhava nos olhos -- Ana al Haraara! -- afirmou ao se debruçar sobre a mesa -- Eu sou o próprio calor! -- traduziu sensualmente -- "Quero essa loura na minha cama essa noite!” -- decidiu
“Ah, mas eu quero me queimar é toda na Haraara dela!” -- pensou excitada -- Eu não pensaria outra coisa de alguém como você! -- debruçou-se sobre a mesa também
--Acho que já conversamos o suficiente sobre geopolítica, guerras e jogos de poder pelo mundo afora. -- a advogada deslizou um dedo pela sobrancelha da outra -- Não acha que é hora de... experimentarmos nossos próprios jogos? -- convidou
--Estamos em um cassino, meu bem. -- segurou a mão da outra -- Jogar com você é tudo que eu quero. -- beijou a mão que segurava -- Que seja como e onde você quiser! -- respondeu com voz gutural
--Eu não sugeri de virmos pra esse lugar à toa. -- deslizou um dedo sobre os lábios da professora -- Eles têm quartos lá em cima...
--Hum, que safadinha... -- sentia a excitação tomar conta de si -- "É hoje!” -- pensou maliciosamente -- E o que estamos esperando?
--Nada! -- levantou-se -- Tacaalii? (Vem?)
Cátia não entendeu a expressão, mas levantou-se imediatamente. -- Quando eu começar... -- aproximou-se como felina -- vai ter que me pedir pra parar! -- afirmou cheia de desejo
--Não sou do tipo que pede pra parar, habibi. -- segurou-a pela presilha do jeans -- Você vai ver. -- puxou-a e seguiu andando
“Essa mulher era tudo que eu queria!” -- a loura pensava -- "E a bicha aqui embaixo chega tá doida!” -- sentia o sex* latejar
***
As duas mulheres entraram no quarto perdendo-se em um gostoso amasso.
--Você... é muito... quente... Jamila... -- dizia entre beijos
--Ainda não viu nada, -- empurrou-a contra a parede -- Cátia Magalhães! -- beijou-a com paixão -- Vem! -- começou a despir a outra -- Alaan! (Agora!) -- mordia a pele recém descoberta
--Gostosa! -- abriu o fecho do vestido de Jamila -- Eu vou... te comer... toda! -- segurou-a pelos cabelos
--Ah! -- arremessou blusa e sutiã da parceira no ar -- Ana cawza!! (Eu quero!!) -- cobriu um mamilo com os lábios
--Isso! -- fechou os olhos -- Isso... -- puxava-lhe o vestido para baixo -- Ai! -- gem*u -- Tira essa roupa...
--Devia... ter... vindo... de vestido... -- falava enquanto mordia e sugava a pele da loura -- Seria mais... -- ajoelhou-se e abriu a calça da professora -- fácil. -- sorriu antes de morder-lhe a virilha -- Mas eu não ligo... -- puxou a calcinha para baixo -- Molhada... -- provocou com a língua -- Hum...
--Ah! -- olhava para a parceira -- Você é quente garota! -- estava ofegante -- Ah! -- sorriu -- "O que ela faz com a língua, minha nossa...” -- abriu mais as pernas -- Isso!
Provocou um pouco mais até que se afastou e sorriu. -- Haraara! (Calor!) -- levantou-se lentamente -- É o que eu tenho... -- deixou o vestido cair no chão -- É o que eu sou. -- tirou o próprio sutiã
--Vem aqui! -- Cátia não resistiu e puxou Jamila com força contra seu corpo -- Você tá... ferrada... comigo... garota! -- beijava-a com volúpia
--Ah! -- deu um gemido abafado pelo beijo
A geofísica guiou a mulher até uma pequena mesa e deitou-a sobre ela. -- Quero você agora! -- puxou a calcinha furiosamente e mergulhou entre as pernas da advogada
--AH!! -- gem*u alto -- Yiniik!! (expressão do tipo “fuck me”) Yiniik!!! -- pedia
Introduziu um dedo. -- Deliciosa! -- seguiu lambendo e mordendo a pele sob seus lábios -- Gostosa... -- introduziu mais dois dedos
--Forte! -- pedia sofregamente -- Forte! -- sentia a pressão sobre si aumentar -- Hada shay'un jameel... (Isso é tão bom...) AH! -- gem*u
--Como quiser! -- mordiscou-lhe um mamilo -- Macia... -- penetrava com força -- Hum... -- explorava os seios da amante
Jamila envolveu a cintura da loura com as pernas e gem*u alto sentindo que o orgasmo se aproximava.
***
--Você não mentiu quando disse que não pedia pra parar... -- beijou a mulher diante de si -- Confesso que me deixou arrasada... -- beijou-a mais uma vez -- Maravilhosamente arrasada. -- sorriu
--Eu sabia que você daria conta do meu calor, albii (meu coração). -- acariciava as costas da loura -- E tinha certeza que devia ser uma amante e tanto! -- beijou-a
As duas mulheres estavam deitadas de lado, uma de frente para a outra.
--Isso pode parecer absurdo, mas... -- não sabia como dizer -- Eu me sinto como se já tivéssemos cometido loucuras em outros lugares. -- deslizou uma das mãos pelo braço da amante -- Só que... ao mesmo tempo parece que não. -- beijou-a de novo -- Foi tão quente, envolvente, intenso... -- olhava nos olhos -- É como se eu te esperasse na minha vida há séculos...
--Também não me parece que foi nossa primeira vez... -- concordava com a professora -- Mas com certeza foi muito... -- beijou-a -- muito especial. -- sorriu -- Nada romântico... -- as duas riram brevemente -- Mas nada vulgar... -- deslizou as mãos pelo rosto da outra -- Foi sensual, quente e do jeito que eu gosto... Sedutor... -- beijaram-se demoradamente
Cátia gastou uns segundos calada admirando o rosto da advogada quando o beijo se acabou. -- Eu vou... -- começou a falar -- fazer diferente com você. Vou te contar a verdade. -- decidiu -- Jamila, eu tive uma vida amorosa super promíscua, marcada por... -- desviou o olhar -- traições, mentiras... -- deu um sorriso sem graça -- Quando caí em mim do que tava fazendo com minha vida, eu... sofri um tanto e... comecei um tratamento que larguei no meio pra viajar... -- desabafava -- E eu me envolvi com uma garota maravilhosa, mas não era pra ser, sabe? -- olhou novamente para a mulher -- Ela e eu sabíamos disso... -- falava em Lídia -- Também tem uma aluna que me dá um tesão danado... -- pensava em Vanessa -- Mas não vai rolar nada... -- pausou brevemente -- Mesmo que ela queira, eu não quero que role nada...
--Ei, não precisa me dizer essas coisas com esse aperreio todo. -- respondeu carinhosamente -- Eu tive uma vida amorosa totalmente louca, mas... -- sorriu -- uma pessoa muito especial me ensinou que amor não é coisa pra se brincar. -- pensava em Zinara -- E depois que a perdi... mudei consideravelmente... -- admitiu -- Bem mais do que pensei que pudesse mudar.
--Também houve um anjo em minha vida que me fez despertar. -- lembrou de Clarice -- Mas também a perdi... por causa de minhas mentiras...
--Então quer dizer... -- abraçou-a pela cintura -- que somos duas mulheres experientes, -- beijou-a -- cansadas de loucuras... -- beijou-a novamente -- e dispostas a viver um amor de verdade?
--Eu diria que sim... -- aproximou-se mais e beijou-a languidamente -- Não sei no que isso pode dar, mas eu quero... -- falava com sinceridade -- Quero tentar com você, Jamila!
--Também quero, Cátia! -- mordeu-lhe o lábio inferior -- Também quero... -- arranhou-lhe as costas provocando
--Menina, não provoca... -- ameaçou brincalhona -- Tô cansada mas não nego fogo... -- beijou-a
--Que bom! -- mudou as posições e deitou-se por cima da outra -- Porque eu também não nego! -- buscou lugar entre as pernas dela com uma das mãos -- Não mesmo... -- seguiu lambendo e ch*pando suavemente a pele da geofísica -- Laa... (Não...) -- massageava o sex* da mulher -- Hum...
“Essa mulher foi feita pra mim...” -- Cátia pensava com um sorriso no rosto -- "Toda safada, tarada e sem nenhum pudor...” -- sentia prazer com os toques e carícias que recebia -- “Do jeito que eu gosto...”
CAPÍTULO 147 – Sem Medo de Ousadias
Leda terminava de fazer o almoço quando ouve alguém batendo palmas do lado de fora.
--Quem será? -- reduziu o fogo do feijão -- Faz tempo que não vem mendigo aqui pedir alguma coisa. -- foi andando para a sala e caminhou até a janela -- Vamos ver quem é. -- puxou a cortina e olhou para fora -- É um pobre de um mendigo mal acabado mesmo! -- resmungou sozinha quando avistou o homem no portão -- Quer um prato de comida, menino? -- ofereceu
“Ih, maluco!” -- pensou surpreendido -- "Ela num tá me reconhecendo mermo!” -- ficou sem graça -- Sô eu, sogrona. -- respondeu timidamente -- Getúlio. -- deu um breve aceno
--O que?? Getúlio?? -- arregalou os olhos -- Mas que diacho! -- foi abrir a porta -- Criatura, mas o que você anda fazendo pra ficar desse jeito? -- saiu para abrir o portão -- Nunca foi bonito, mas agora tá que nem um Satanás sem rabo! -- olhava para o homem -- Nossa Senhora! -- exclamou horrorizada
--A vida tá punk, sogrona... -- respondeu sem saber o que dizer
--Mas não precisava, né? -- abriu o portão -- Se tivesse vergonha na cara, tava empregado e não passava por isso! -- fez um gesto de desgosto -- O que você veio ver aqui? -- perguntou curiosa
--Eu... -- coçou a cabeça -- Eu precisava levar um lero com a senhora, sabe qual é? -- não tinha coragem de encará-la -- Vim por causa do muleque... -- pausou brevemente -- Num quero ser uma vergonha pra ele... -- esfregou as mãos nervosamente -- Tô precisado de um help e... pensei na senhora...
--Humpf! -- fez um bico -- Vem. -- convidou de cara feia -- Mas antes de qualquer coisa vai tomar um banho, porque sujo desse jeito você não senta no meu sofá! -- foi andando para dentro -- Vou pedir uma roupa do filho da vizinha pra você vestir. -- parou na porta da sala -- E vou te arrumar uma gilete também, porque essa barba aí tá um troço dos mais horríveis! -- encarou com o homem -- Tá com piolho, não, né?
“Será que eu devia tê vindo mermo?” -- pensou arrependido
***
--Pronto. -- Leda se sentou no sofá -- Agora que você tá com jeito de gente, vamos conversar. -- olhava para o homem -- Senta. -- convidou
--Valeu, sogrona. -- sentou-se encolhido
“Ele não tá com aqueles modos ôgricos e espaçosos de até bem pouco tempo atrás...” -- observou -- "Será um truque pra me enganar ou o bicho realmente tá tomando jeito de gente?” -- prestava atenção no ex genro -- Fala, menino! O quê que houve? -- queria saber
--Ah... -- não sabia como começar -- A senhora tá ligada que meu muleque foi me ver... -- esfregava as mãos nas pernas -- Ele me mandô uns papo reto e eu fiquei boladão, sabe qual é?
--Ficou boladão... -- repetiu as últimas palavras de Getúlio
--Ele me deu uns toque, mandô a real, assim na maior. -- olhou desconfiado para a idosa -- Eu saquei os vacilo, saquei a das parada toda aí da minha vida com a princesa e... pô, o muleque tava certo... nunca fui sangue na boa pra chegar e dizê: “Aí, gata, tamo junto!”
--Hum. -- ouvia com atenção
--Aquele X9 vacilão me dexô na pista por causa dessas parada toda aí. Saquei os lance. -- referia-se a Fagundes -- Dexei a bola quicando na frente do gol e o malandro pegô minha mulé e gritou partiu! -- derramou uma lágrima -- Perdi a gata e o muleque...
--Gritou partiu... -- balançava a cabeça tentando entender
--Eu quero fazê as coisa na moral agora, sogrona! -- falava com sinceridade -- Mas num sei cumé que vai dá! -- chorava contidamente -- Vim aqui porque o muleque falô que a senhora podia me quebra essa, tá ligada? -- ajoelhou diante dela -- Tô na moral, num vô mais vacilá, mas eu num sei... -- passou a mão sobre os olhos -- Eu amo muito Raquel, sogrona... -- chorava -- E amo muito meu muleque... -- olhou para Leda como se suplicasse -- Quero eles de volta... -- não conseguia se conter -- Ajuda, sogrona... -- chorava copiosamente
Leda sentiu sinceridade nas intenções dele e se comoveu diante do sofrimento daquele homem que, pela primeira vez, lhe parecia digno de uma nova chance.
--Eita... -- olhava para Getúlio -- Não chore desse jeito, menino! -- pediu com delicadeza -- Nem tudo tá perdido. -- não sabia o que dizer -- Fique calmo.
--A senhora vai me dá uma força? -- perguntou esperançoso -- Vai? -- tentava parar de chorar
Lembrou-se do pedido feito pelo neto há dias atrás.
“--Por que você anda tão tristonho desse jeito, hein, menino? -- beijou a cabeça da criança -- Tudo isso é saudade de Khadija? -- sorriu -- No final do ano vocês se reencontram. E nem vai demorar tanto assim! -- sentou-se do lado dele
--Eu sinto saudade dela, mas não é por isso... -- respondeu desanimado -- É por causa do meu pai.
--Do seu pai? -- olhava para o garoto -- Está com saudade dele?
--Tô com pena... -- abaixou a cabeça -- Meu pai virou mendigo, vovó...
--Que é isso, menino? Virou não! -- tentava fazê-lo mudar de ideia -- Ele só tá morando em um lugar simples, mas não quer dizer que virou mendigo.
--Virou sim! -- olhou para a idosa -- Ajuda ele, vovó! -- pediu pesaroso -- Mamãe não quer mais ele e meu pai só tem eu! -- segurou uma das mãos dela -- Mas eu sou criança, não posso fazer nada!
--Querido... -- não sabia o que dizer
--A senhora ajuda os outros! -- insistiu -- Ajuda o meu pai!”
--Meu bonde é solitário, sogrona... -- tinha esperança que Leda o ajudasse -- Num sô mais vacilão...
A mulher deu um suspiro profundo. -- Se eu entendi bem desse dialeto que você fala, parece que finalmente você tá disposto a tomar vergonha na cara e deixar de ser o vagabundo espaçoso e boa vida que sempre foi. -- afirmou sem rodeios
Getúlio confirmou balançando a cabeça. Ainda chorava muito.
--Eu não posso garantir nada, mas... pelo menos você pode tentar. -- pensava nas possibilidades -- Todo mundo acaba precisando de um pintor e quando você quer... até que sabe fazer alguma coisa que preste. -- pausou brevemente -- Conheço umas pessoas lá no centro espírita que tão atrás de um bom pintor.
--Formô, sogrona! -- exclamou animado
--Também posso conversar com a diretora da casa e pedir a ela que você passe uns tempos lá. -- propôs -- Mas vai ter que colaborar com o centro! -- advertiu -- Ajudando na limpeza, no cuidado com as crianças...
--Eu levo o maió jeito cum os muleque, sogrona! -- secava as lágrimas -- E se a galera do centro quisé, eu posso mandá umas pintura de responsa nas parede de lá! -- sorria
--Se você começasse a trabalhar com vontade e tivesse um comportamento decente no centro, -- gesticulou -- sem abuso, sem preguiça e sem esse teu jeitinho espaçoso de ser, pode ir perdendo a ogrice aos poucos. -- olhava para o homem -- E com isso seu filho pode ficar orgulhoso de você.
--Caraca! -- estava esperançoso -- Meu muleque num vai mais ficá bolado comigo, tá ligada?
--E quanto a minha menina, eu não posso garantir que Raquel vai querer voltar pra você, mas... pelo menos você pode crescer um pouco no conceito dela.
--Eu vô conquistá minha mulé de volta! -- afirmou resoluto -- E vô metê umas porr*da boa naquele babaca traírão! -- deu um soco na mão -- X9 de merd*!
--Epa, olha o palavreado na minha casa! -- deu-lhe um tapa na cabeça -- Olha a boca! -- levantou-se de cara feia -- Não se pode dar uma brecha que já abusa? -- cruzou os braços revoltada
--Foi mal, sogrona. -- esfregou a mão na cabeça envergonhado -- Foi mal, aí!
--Eu não acho que Raquel tenha bom gosto pra homem, mas entre você e o cigano pornô... -- considerou -- Não gosto daquele sujeito! -- revirou os olhos
--Sogrona, tamo junto?? -- surpreendeu-se -- A senhora também num qué minha mulé com aquele sangue ruim? -- levantou-se de um pulo -- Formô, sogrona, partiu! -- estava feliz -- A princesa vai voltá pra mim, sabe qual é? -- abraçou a idosa -- Se a senhora tá comigo, ela vai colá em mim de novo! -- beijou a cabeça dela -- Ela vai colá!
--Não exageremos, Getúlio! Sem essas ousadias aí! -- desvencilhou-se dele -- Sem chamego, comigo, por favor! -- endireitou a roupa -- Eu não queria ver minha filha nem com você e nem com aquele bicho dos peito cabeludo, mas, afinal de contas, querendo ou não, você é pai do meu neto! -- considerou -- E é só por isso que eu vou te ajudar! -- fez questão de frisar -- Ele me pediu pra ajudar você.
“Meu muleque é foda mermo!” -- pensou orgulhoso --Valeu, sogrona! A senhora é muito responsa! -- agradeceu
--Mas ai de você que me faça passar vergonha no centro, hein, Getúlio! -- advertiu -- Ai, de você! -- gesticulou com o dedo em riste
--Eu num dô mole mais, não, sogrona! -- prometeu -- Agora as parada comigo são otra! É só na moral! -- garantiu -- Sem kaô e sem vacilação!
“Ô, meu Pai, ajude pra que eu não me arrependa por isso!” -- Leda desejou mentalmente -- Que sacrifícios uma velha não faz por causa de neto? -- resmungou sozinha
Getúlio dançava o passinho na sala da ex sogra.
***
--Eu nem acredito que você tá aqui comigo, num sabe? -- Adamastor comentava sorridente -- Parece mentira! -- beijou-a -- Que felicidade!
--Pois tudo é a maior das verdades! -- afirmou melosa -- Daqui não saio e daqui ninguém me tira! -- beijou-o também
--Amém! -- beijou-a mais uma vez, até que o som do interfone tocando os interrompeu
--É ela! -- Cecília se levantou rapidamente e pegou a camisola -- Se prepara, amor! Hoje vai ser mais quente do que nunca! -- vestiu-se e soprou um beijo para o amado -- Deixa eu atender.
--Oxi, mulher, você tem certeza? -- perguntou receoso -- Eu nunca fiz tamanha ousadia!
--Pra tudo tem uma primeira vez! -- tirou o interfone do gancho -- Sim? -- calou-se por uns segundos -- Pode deixar subir! -- devolveu o aparelho -- Ela é pontual, viu? -- olhou para o relógio
--Eu sei que todo homem sonha com duas mulheres numa cama e você pode estranhar o que vou dizer, mas... -- levantou-se também e vestiu a cueca -- Apesar de ser um cabra muito macho, eu acho essas coisa estranha... -- coçou a cabeça -- Já que o nosso caso é de casamento será que isso de ménage não é muita fuleiragem, não?
--Ai, Mastô, não seja tão conservador com o que é picante! -- foi até o homem e o beijou -- Que mal há em fazer uma coisa diferente de vez em quando, hein? -- envolveu o pescoço dele com os braços -- Além do mais, até onde eu saiba, essa tal de Akemi é uma profissional daquelas! -- sorria sensualmente -- Deixa todo mundo arriado! -- lembrava-se de Zinara e Clarice
--Ave Maria! -- estava nervoso
A campainha tocou. -- É ela! -- bateu palminhas -- Vou abrir! -- correu para a porta
--Eita, homem, se avie! -- falava consigo mesmo -- Cecília é mulher de São Sebastião, tem outra mentalidade! -- considerava -- Fique de bestagem aí que ela vai achar que se pegou com um cabra frouxo!
--Olá, querida! -- recebeu a fisioterapeuta com um sorriso maroto -- Lembra de mim? -- piscou
A oriental achou aquela atitude estranha. -- Lembra, né? Akemi tem boa cabeça! -- apontou para a fronte
--Nossa, você trouxe até uma bolsinha! -- reparou na maleta da fisioterapeuta -- Aposto que tem todo tipo de brinquedinho aí dentro! -- comentou assanhada
--Akemi no brinca! -- respondeu com estranheza -- É profissional!
--Eu sei, bobinha! -- fechou a porta e veio puxando a mulher pelo pulso -- Olha só, meu bem, eu tô aqui com meu cabra macho, -- apontou para Adamastor, que deu um tchauzinho sem graça -- e a gente quer que você nos mostre tudo que sabe! -- piscou
--Tudo que sabe? -- não entendeu
--É, a gente quer... -- Adamastor não sabia o que dizer -- ousar, não sabe? -- deu um sorriso amarelo -- Cecília me disse que você é muito boa no que faz!
--Hum. -- Akemi respondeu desconfiada
--E se prepara que a pressão é grande! -- fez um sinal para a oriental mostrando o tamanho
--Pressón? -- não entendeu -- "Deve ser hipertensón.” -- concluiu
--Então... -- caminhou até o amado -- A gente quer aquele mesmo tratamento que você deu naquele dia pra minha irmã e a comu... -- interrompeu o que dizia -- E Zinara. -- piscou mais uma vez
--Como é?! -- Adamastor arregalou os olhos -- "Zinara é mulher macho?!” -- estava pasmo -- "Ah, então foi por isso que ela nunca cedeu à minha sedução...” -- concluiu -- "E olha que joguei pesado!”
--Akemi lembra. -- balançou a cabeça
--Vamos pro quarto! -- Cecília convidou -- Gente, vamos ficar à vontade, vocês tão muito presos! -- piscou para a oriental e segurou a mão de Adamastor -- Vamos lá! -- foram andando
“Moça que tanto pisca!” -- pensou desconfiada -- "Deve ser problema no olho, né?” -- deduzia ao seguir o casal para o quarto -- Oh! -- surpreendeu-se
Akemi levou um susto ao ver que o quarto estava iluminado por uma luz vermelha e apresentava uma decoração no mínimo exótica, na qual pluminhas coloridas adornavam a cama forrada com um lençol vermelho e rendado. Uma esquisita música da Gália tocava ao fundo.
“Coisa cafona, né?” -- pensou -- Quem começa? -- pôs a maleta sobre um móvel
O homem não entendeu. -- Não seria... todo mundo junto? -- sorriu sem graça
--Gente, por favor, -- Cecília colocou-se entre ambos -- formalidade numa hora dessas não tem sentido, né? -- sorriu saliente -- Mas tudo bem, você é profissional e sabe como são essas coisas. -- deu um tapinha no braço de Akemi -- Mastô, -- olhou para ele -- você começa. -- sugeriu
--Eu?! -- teve medo -- "Valei-me, Nossa Senhora, como é que vai ser isso?” -- olhou desconfiado para Akemi -- "E se o negócio não levantar?” -- estava nervoso -- "Já pensou passar vexame na frente de duas mulher?” -- esfregou as mãos nervosamente
--Moço primeiro. -- a fisioterapeuta concordou antes de estalar os dedos -- Deita barriga pra baixo. -- ordenou
--O que?! -- não gostou da ideia -- Eu não vou ficar de bruço, não! -- gesticulou revoltado -- Sou cabra macho, fique sabendo! -- esclareceu -- Não admito certas fuleiragens comigo!
--Ai, Mastô... -- Cecília protestou dengosa
Akemi revirou os olhos e aproximou-se do homem segurando-o por um braço e pelo pescoço. -- Deita. -- lançou-o sobre a cama como se fosse um boneco -- Moço medroso, né?
--Mas o que...? -- protestou revoltado
--Deita barriga pra baixo. -- virou-o de bruços na maior facilidade
“Que peste de mulher é essa?” -- pensou apavorado -- Oxi!
“Gente, que força!” -- Cecília pensou extasiada --E eu faço o que? -- dava pulinhos
--Moça espera vez. -- respondeu de pronto -- Moço agora fica quieto. -- olhava para o homem -- Akemi vai trabalhar! -- tirou o jaleco cheia de raça
“Gente, que paixão!” -- não se aguentava de fogo
Virou o pescoço e olhou assustado para a pequena mulher. “Ave Maria, que a bicha já tá tirando a roupa!” -- não sabia o que fazer
--Vê pescoço. -- apertou o pescoço do homem
--AHAHAHAHAH!!!!!!!!!! -- gritou dolorosamente -- Mas o que você tá fazendo, desgraçada?
“Gente, que perigo!” -- Cecília pensou excitada -- "A tampinha é sádica! Será que vai rolar um chicotinho?” -- bateu palminhas -- Aguenta firme, Mastô! -- recomendou assanhada -- Depois inverte as posições!
Akemi seguiu massageando as costas do homem apertando em pontos estratégicos e com vigor.
--AAAAI!!!!!! -- gritava com fé -- Ave Maria, essa doida vai me matar! -- sentia dores terríveis -- AAAAHHH!!!
--Moço grita, né? -- observava atentamente as reações dele -- Hum. -- apertou mais -- Nervo ciático pinçado. Tem que destravar. -- subiu na cama
-- Nervo ciático? -- Cecília começou a desconfiar que alguma coisa estava estranha.
Akemi pegou o pé direito de Adamastor e pisou sobre sua nádega no mesmo lado.
--Mas o que diacho...? -- perguntou sobressaltado
--Fica quieto. -- ergueu o pé do homem para cima enquanto pisava com força sobre a nádega correspondente -- Akemi resolve. -- puxou com força
--AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!!!!! -- um berro ensurdecedor invadiu a casa
--Isso não é preliminar de sex*... -- resmungou consigo mesma desconfiada
--SOCORRO!!! -- olhou para Cecília com expressão de pânico -- Essa puta vai me matar!! -- queria ajuda
--Olha só, Akemi, eu acho que a gente tem que discutir melhor umas coisas aqui. -- aproximou-se da cama
--Moça fica quieta que a vez no chegou, né? -- desceu da cama rapidamente e apertou um ponto próximo a virilha de Adamastor
--AAAAAAAAAHHHHHH!!!!!!!! -- gritou -- Aí não, aí não!!! -- advertia tentando se levantar -- Eu sou cabra macho, não quero que enfie nada... AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH!!!!!!!! -- gritou desesperado
--O que você tá fazendo, sua louca? -- tentou imobilizar a fisioterapeuta segurando-a por trás -- AAAHHH!!! -- foi arremessada por sobre os ombros dela e caiu na cama de qualquer jeito
--No tem medo. -- olhou para a outra -- Homem sempre medroso, né? -- continuava apertando Adamastor, que gritava como porco à beira do abate
“Onde é que eu fui me meter, gente?” -- Cecília pensou apavorada temendo o que lhe aguardava
***
Horas depois Cecília e Adamastor ainda jaziam rendidos na cama.
--Ave Maria, que eu pensei que fosse morrer, não sabe? -- o homem confessava abestalhado -- Aquela bichinha tem uma força que nem o Coisa Ruim supera!
--Ela me apertou em lugares que a dor era tanta! Descobri músculos que nem sabia que tinha... -- respondeu em câmera lenta
--Você devia ter se informado melhor, visse? -- virou lentamente o pescoço na direção da amante -- Confundir uma fisioterapeuta com puta?
--E como é que eu ia adivinhar? -- virou o pescoço lentamente também -- Ela dava toda pinta do contrário! -- justificava-se -- E as coisas que ouvi minha irmã e a comunidade gritando...
“Comunidade?” -- não entendeu -- É que a pessoa fica até doida! -- argumentou -- E o pior foi que ainda pagamos por isso... -- deu um suspiro profundo -- Pagar pra sofrer...
--E eu que pensei que seria um arraso... -- suspirou também
--Arraso foi! Mas pra quase matar a gente! -- Adamastor moveu-se lentamente e se ajeitou na cama. Olhava para o teto -- Amor, só responde uma coisa... -- não sabia como perguntar -- Zinara e tua irmã são mesmo...?
--Ai, Mastô, não me pergunta mais nada que eu não sei de nada. -- deitou-se de lado com dificuldade -- Eu preciso dormir um pouco pra voltar pra vida... -- fechou os olhos -- Aquela oriental dos infernos não me matou por um fio!
“Bem que desde o começo não gostei dessa ideia de ménage!” -- pensou ao fechar os olhos -- "E depois das cutucada que levei nem sei o que sobrou de minha macheza...” -- decidiu não pensar em mais nada
CAPÍTULO 148 – Correndo Atrás do Tempo Perdido
Raquel levava o filho para escola e ouvia seu relato animado a respeito do pai.
--E ele bem tá trabalhando no centro da vovó. Ajuda as crianças, os velhinhos e faz umas coisas que a moça do centro pede. -- contava orgulhoso -- Sabia que ele pintou o muro todinho de azul e branco? Ficou bonito! -- olhava para a mãe
--Sua vó me contou. -- olhou para o garoto -- Sei que agora ele tá morando lá.
--E ele também pintou um monte de criança e bichinho na porta da creche, mãe! -- continuava falando -- Foi com aqueles negócios que os pichadores usam. Ficou legal à beça!
--O nome é grafite, querido. -- explicou -- Seu pai sabe fazer isso. -- estranhava a radical mudança de comportamento do ex marido
--E ele também não é mais mendigo! -- exclamou satisfeito -- Tá bonito de novo, viu, mãe?
Achou graça. -- Imagino que sim, meu bem.
--Se ele continuar legal assim você vai querer namorar ele de novo? -- perguntou cheio de esperança
Chegaram na porta do colégio e pararam de andar. Raquel se abaixou e ficou olhando para o rosto do filho. -- Querido... -- suspirou e fez um carinho breve no rosto dele -- O namoro dos adultos não é uma coisa assim tão simples...
--Fica de olho que você vai ver, mãe! O papai tá mudando e vai ser um bom namorado pra você igual eu sou pra Khadija! -- afirmou confiante
Achou graça e riu brevemente. -- Imagino que namorado bom você deve ser! -- sorria para a criança -- Meu lindo! -- beijou-lhe o rosto
--É sim, mãe! Eu dei uns conselhos pra ele! -- falava todo prosa -- Você vai ver só!
Suspirou novamente. -- Eu sei que você se importa, mas não fique pensando nisso. -- beijou-lhe a testa e se levantou -- O namoro dos adultos é muito mais complicado, um dia você vai entender. -- pausou brevemente -- E eu não vou lhe prometer que seu pai e eu um dia vamos namorar de novo. -- falava com delicadeza -- Não quero que fique sonhando com isso, meu amor. -- segurou as duas mãos dele -- Juntos ou separados, sempre seremos seus pais e amamos você mais do que tudo! -- olhava para o filho com carinho -- E isso não vai mudar. -- prometeu -- Agora vai lá, que você tem que estudar. -- soltou as mãos dele -- Boa aula. -- soprou um beijinho e acenou um tchau
--Tá bom. -- deu tchauzinho -- Mas você vai ver que o papai vai mudar. -- estava confiante -- Tchau! -- foi embora correndo
--Crianças... -- cruzou os braços e acompanhou o filho com o olhar -- Pra elas tudo é tão fácil... -- sentiu o celular vibrar e olhou para a tela -- Que número é esse? -- começou a andar -- Alô? -- atendeu desconfiada
--Oi, gostosa... -- ouviu um sussurro do outro lado
Sentiu o coração acelerar. -- Você?! -- apertou o passo -- Como se atreve a me ligar, hein? -- perguntou com rispidez -- Você me trai, desaparece e agora me liga assim, do nada? Tá pensando o que? Que eu tô a sua disposição? -- falava rapidamente -- Acha que basta me chamar de gostosa e fazer essa voz de cafajeste pra me seduzir? -- sentia-se perturbada
--Calma, querida, vamos conversar numa boa. -- pediu com humildade -- Eu tô aqui na rua, seguindo você de carro. -- viu que a mulher olhou para trás rapidamente -- Sou esse que você acaba de ver. -- sorriu
“Ele trocou de carro.” -- pensou -- Eu tenho que voltar pro trabalho, Fagundes. -- respondeu secamente -- Não adianta ficar me seguindo porque não vai ter conversa nenhuma! -- continuava nervosa
--Por favor, querida? -- insistia -- Além do mais eu sei que você não vai mais voltar pro trabalho hoje.
“Como é que ele sabe?!” -- pensou intrigada --Anda me investigando, é? -- perguntou de cara feia -- O quê que houve que de repente se lembrou de mim?
--Eu nunca esqueci de você, só tava dando um tempo pra tua raiva passar...
--E quem disse que passou? -- olhou rapidamente para trás de novo -- Eu não vou esquecer do que fez é nunca! -- respondeu com raiva -- E vou desligar! -- anunciou sem coragem de fazê-lo
--Se você ainda não desligou é porque não quer fazer isso. -- afirmou com carinho -- Sei que vacilei, fui um idiota, mas a mulher que eu amo é você, Raquel!
“Ai...” -- suspirou balançada -- "Ele acaba comigo...” -- desligou o telefone e parou de andar
Fagundes se aproximou e parou o carro do lado dela. Abriu a janela e pediu caprichando no tom de voz: -- Entra, minha gata? Vem comigo?
--Eu não vou entrar nesse carro! -- afirmou resoluta sem olhar para o homem -- O que aconteceu com aquela vagabundazinha que você arrumou? -- cruzou os braços
--Ela não significou nada pra mim. -- respondeu de pronto -- Por favor, gata, minha mulher é você! -- caprichou no tom -- Entra nesse carro e vem conversar com teu homem!
“Ai, mas ele fala de um jeito...” -- arrepiou-se toda -- Acabou, Fagundes! -- olhou para ele -- Vai embora, sai da minha vida! -- pediu sem muita firmeza
O policial saiu do carro cheio de decisão e parou diante da ex amante. -- Nem que eu tenha que te seguir pela cidade pelo resto dos meus dias -- falava com voz rouca -- nunca vou sair da tua vida porque isso é impossível pra mim! -- olhava nos olhos
Raquel não sabia o que fazer ou dizer.
--A gente precisa conversar, meu bem. -- segurou o rosto dela -- Eu te amo e não quero te perder por causa de uma aventura totalmente sem importância! -- sorriu -- Vamos pra um lugar mais à vontade, a gente precisa esclarecer as coisas.
--Fagundes... -- perdia-se nos olhos dele
--Vem? -- segurou-a pela mão -- A gente precisa urgentemente de uma conversa.
Acreditando-se incapaz de resistir, Raquel se deixou guiar até o carro do policial e seguiu com ele.
--Não pense que por causa disso a gente tem volta! -- olhava para a rua -- Só aceitei vir por causa da sua insistência! -- tentava ser firme
--Calma, gata. -- dirigia em direção a um motel mais afastado que conhecia -- Não tem porque ficar tão na defensiva. -- olhou rapidamente para ela -- A gente só vai conversar, nada de mais... -- puxou a blusa semi aberta um pouco mais para baixo buscando exibir o peito cabeludo -- Tá um calor hoje... -- reclamou -- Nem parece que o ar do carro tá ligado, né? -- ajeitou-se no assento -- "Duvido que ela não vá ceder...” -- pensava -- "Isso tudo é charme pra se fazer de durona!”
“Ele e a exibição de mostrar esse peito cabeludo...” -- virou o rosto de lado para não ver -- "Vou só ouvir o que ele tem a dizer, falar umas poucas e boas e ir embora!” -- decidiu mentalmente -- "Safado!”
--A gente precisa recuperar o tempo perdido, meu amor. -- falava com voz mansa -- Vou me fazer merecedor de uma nova chance.
--Não sei como!
Beijou o rosto dela rapidamente. -- Vai saber. -- sorriu
--Ai, pára com isso! -- respondeu dengosa e deu-lhe um tapinha no ombro -- Dirige direito que eu não quero morrer de desastre de carro! -- ralhava sem firmeza -- Eu hein? -- passou a mão nos cabelos -- "Será que ele me ama mesmo?” -- pensou balançada -- "Mas depois daquela traição... será que eu posso confiar?” -- questionava-se
“Aposto que ela já tá toda balançada.” -- pensou vitorioso -- "E a gente vai pegar fogo no motel...”
***
Magali e Clarice conversavam em um barzinho na zona norte de São Sebastião.
--Fiquei feliz que você tivesse aceitado meu convite. -- bebia um gole de chope -- Só Zinara ou sua mãe pra te tirar da toca. -- brincou com a outra
--Ah, Magali, até parece. -- sorriu -- Além do mais, desde que se casou, você só sai com Lúcia. Não fosse a viagem que ela fez, a senhora não estaria aqui comigo. -- bebeu um gole de suco
--Estaria sim, dona Clarice. -- respondeu convicta -- Além do mais Lúcia sabe que você é café com leite. -- provocou -- Não oferece perigo. -- riu brevemente
Riu também. -- Café com leite pra você, meu bem. -- respondeu bem humorada -- Mas pra certas caipiras...
--Aproveitando que você tocou no assunto “caipira”... -- fez aspas com os dedos -- Como ficaram as coisas desde que vocês se viram em outubro, hein? -- perguntou curiosa -- Acabou que nessa correria louca da vida da gente nem tive tempo de te fofocar. -- sorriu
--Porque além da correria, você, na certa, andava muito ocupada em fazer Lúcia te perdoar por alguma bobagem que andou fazendo. -- brincou -- Talvez a bobagem tenha relação com um certo Kitaab eletrônico... -- olhava para a outra -- Será? -- sorriu sarcástica
“Lá vem ela com esse assunto...” -- pensou ao se remexer na cadeira -- Ai, amiga, esquece isso. -- fez um gesto -- Superar a fúria de Lúcia me deu trabalho suficiente e hoje em dia é assunto superado. -- passou a mão nos cabelos -- Quanto ao Kitaab de Zinara, eu li um tantinho de nada... -- mentiu
--Sei... -- respondeu descrente
--Mas vamos ao que interessa. -- queria mudar de assunto -- Como que vocês tão hoje? Que aconteceu depois daquela viagem relâmpago que ela fez pra cá? -- aguardava uma resposta
Bebeu mais um gole de suco. -- A gente conversou e depois que ela foi embora conversou de novo e de novo... Acho que ela acabou me convencendo a esperar mais.
--Simplesmente isso? -- perguntou desconfiada -- Você não tá preocupada, triste, zangada ou sei lá o que? -- achava estranho -- Essa serenidade toda aí é resignação ou o que? -- queria entender
--Eu refleti muito nas coisas que ouvi dela e pensei também no que mamãe me disse, no que você disse... -- cruzou as pernas -- Concordei que Zinara precisa mesmo de um tempo pra se acertar e organizar a vida. -- pegou um bolinho -- Se ela viesse pra cá ou eu fosse pra lá e casássemos assim sem um planejamento melhor, -- considerava -- poderia dar errado depois. -- comeu o salgado
--É isso aí. -- concordou
--Mas isso não quer dizer que vou esperar indefinidamente. -- ressaltou -- E ela tá muito bem ciente disso. -- limpou os dedos no guardanapo
--Desestressa, amiga. -- aconselhou -- Zinara beija o chão que você pisa. -- pegou um bolinho também -- Ela vai dar um jeito logo, logo, não se preocupa. -- comeu -- Bom... -- saboreava
--Se vai ser logo, logo, eu não sei, mas uma coisa é: -- contava -- ela tem recuperado o tempo perdido de uma forma impressionante!
--Como assim?
--Zinara tem trabalhado e estudado tanto que eu fico até boba! -- pegou mais um bolinho -- E ainda arruma tempo pra trabalhar de voluntária no asilo e ficar de olho em dona Ritinha e dona Zezé... -- sorriu -- E isso sem deixar o esporte de lado! -- comeu o salgado -- Tá bom mesmo. Gostoso... -- elogiou -- Sabe que até Cecília me disse que se espanta com a energia daquela caipira?
--Mas tudo isso ela já fazia desde antes de vocês namorarem. -- bebeu outro gole de chope -- Não vejo novidade nenhuma.
--Acredita em mim que agora tá muito mais intenso. Zinara parece até máquina! -- debruçou-se sobre a mesa -- Voltou com uma energia que nem sei! -- sorria -- Ela nada quase todos os dias pela manhã e nos finais de semana corre de bicicleta por Cidade Restinga quase inteira. -- suspirou -- Incansável!
--Ui, que pra você isso é ótimo! -- respondeu assanhada -- Já estamos em dezembro e com ele vem o que? O que? -- piscou para a outra -- A famosa festa de fim de ano na roça! -- anunciou -- Aí é que é ela vai te pegar na barraca de camping e...
--Fala baixo, criatura, eu hein? -- deu um tapinha na mão da amiga -- Os outros vão ouvir isso aí! -- advertiu preocupada
Riu brevemente. -- Clarice, Clarice, sempre preocupada em ser descoberta... -- balançou a cabeça negativamente -- Preocupe-se em cuidar da SUA disposição, -- apontou para a outra -- porque do jeito que tá me dizendo, vamos ter muita recuperação de tempo perdido lá na roça! -- falava cheia de fogo -- Ela vai te deixar arrasada!
--Ai... -- gem*u por antecipação -- "Será que a bousa aguenta?” -- pensou empolgada
--Sabe que ao invés de ir passar fim de ano na roça vocês deviam é viajar as duas sozinhas... -- sugeriu -- Prum lugar quente, pra viver loucuras e altas sacanagens a sós! -- terminou de beber o chope -- Por que não propõe isso a ela?
--Zinara ainda tá muito sem dinheiro, Magali, ela jamais iria aceitar. -- imaginava a resposta da amada -- O pagamento dela só entrou na semana passada. -- contava -- Tenho vontade de fazer uma viagem romântica com ela, sim, mas isso vai ter que esperar. -- finalizou o suco também -- De mais a mais, eu adoro a roça e vou pra lá com todo prazer. -- falava com sinceridade -- Mamãe e o Di também gostam, minhas irmãs certamente vão querer ir... É bom ter as famílias reunidas no final do ano.
--Tendo barraca de camping e sacanagem no mato, os fogos de réveillon tão garantidos, né, amiga? -- brincou
Achou graça. -- Você só pensa nisso, vou te contar... -- balançou a cabeça -- Ficar perto da minha caipira é maravilhoso pra mim! Com ou sem... “barraca”. -- fez aspas com os dedos
--Eu sei, boba, tô te provocando. -- retrucou bem humorada e gastou uns segundos calada -- Clarice? -- ajeitou-se na cadeira
--O que? -- perguntou desconfiada -- "Lá vem bomba!” -- imaginava que ouviria uma pergunta indiscreta
--Será que você me diria... assim, sem grandes detalhes... -- pensava em como dizer -- Apenas pra dar uma noção... -- olhava desconfiada para a paleoceanógrafa -- Uma noção, assim, por alto... sem muitas delongas...
Sentou-se corretamente e cruzou os braços. “Aposto que ela quer saber daquela ruiva!” -- concluiu -- Mas quanta enrolação pra uma pergunta, hein? Não parece nem você... -- esperava o desfecho
--Ah, é que eu fiquei curiosa, sabe? -- começou a enrolar um cachinho de cabelo nos dedos -- Às vezes, bem às vezes, me pego pensando... -- desviou o olhar -- como será que terminou o affair de Zinara com a bailarina ruiva da Gália? -- perguntou como quem diz algo ao acaso
Fez uma expressão contrafeita. -- E isso porque você quase nem leu o Kitaab!
--É que a única partezinha que eu li falava dessa mulher, né? -- mentiu -- Aí a gente fica curiosa...
Deu um suspiro profundo. -- Ela foi dançar em Godwetrust e Zinara foi estudar em GanarÄ�jya. Assim terminou. -- respondeu secamente
--Nossa! -- respondeu surpreendida -- Não esperava que o desfecho fosse esse! -- olhou para a amiga -- Simples assim?
--Desse jeito. -- não estava gostando de tocar naquele assunto
--É... -- percebeu a contrariedade da amiga -- E essa de estudar em GanarÄ�jya... -- disfarçava sua vontade de bisbilhotar mais -- Não sabia.
--Zinara foi pra lá estudar no instituto vinculado a um observatório que mantém os registros astronômicos mais antigos do mundo. -- informou -- E de quebra, estudar matemática.
--Pra uma astrônoma apaixonada deve ter sido a glória! -- continuava disfarçando
--Pois é. -- chamou o garçom -- Vou pedir mais um suco, quer mais uma bebida? -- perguntou
--Quero sim, por favor.
O garçom se aproximou e as mulheres pediram mais bebida. Quando o homem se afastou, Magali voltou a falar.
--Sei que você não tá gostando desse assunto, mas... -- insistia -- E lá em GanarÄ�jya?
--O que é que tem? -- não entendia onde a outra queria chegar
--Ela arrumou alguma daquelas bailarinas malucas que fazem aquelas danças que o pescoço se remexe todo? -- tentava imitar -- Parece até que tá quebrado! -- sorriu -- Imagina, uma mulher de GanarÄ�jya deve saber de tudo e mais um pouco de sacanagem! -- considerou cheia de foco -- Além do mais tendo o Kamasutra como livro de cabeceira! Será que ela aprendeu...?
--Ai, Magali, faça-me o favor! -- ralhou -- Eu não vou ficar aqui falando das ex mulheres de Zinara pra você, tenha santa paciência! -- fez cara feia
--Calma, amiga, foi só uma pergunta inocente! -- ficou sem graça -- Sabia lá se Zinara conheceu alguém durante a estadia do outro lado do mundo. -- jogou verde -- Sozinha, sofrendo a dor de fim de namoro, num país estranho...
--Magali, chega! -- falou seriamente -- Se insistir nessa conversa vai ficar falando sozinha, porque eu vou embora! -- decidiu
--Calma, querida, não tá mais aqui quem falou. -- levantou as mãos -- Vamos mudar de assunto! -- procurava pelo garçom -- Será que ele vai demorar pra trazer meu chope?
--Já tá vindo ali. -- indicou o homem -- E vamos mudar assunto, mesmo. -- calou-se -- "O pior é que até do outro lado do mundo aquela caipira safada arrumou mulher!” -- pensava enciumada -- "Imagino se Zinara não fosse tão tímida! Seria uma mulher em cada porto!” -- suspirou -- Barba ruiva!
--O que? -- não entendeu
--Nada, querida. -- recebeu o copo de suco do garçom que se aproximava -- Nada. -- bebeu um gole
***
Zinara analisava o trabalho de um aluno enquanto o rapaz aguardava ansioso por uma resposta.
--Smallah! -- terminou a leitura do texto -- Muito bom esse trabalho! -- elogiou -- Eu marquei meia dúzia de observações pra você atentar, mas no geral foi muito bem. -- sorriu para o jovem -- Mahabruk! (Parabéns!) -- devolveu o texto a ele -- Faça as poucas alterações devidas e ficará excelente.
--Pode deixar! -- guardou o material na mochila -- Amanhã mesmo já lhe trago a versão final! -- prometeu
--Jayed jedan! (Muito bom!) -- gostou do que ouviu -- Fico feliz em ver sua disposição atualmente. -- a professora dizia -- Mais dedicado, responsável, estudioso... -- reconhecia -- Parece mesmo disposto a recuperar o tempo perdido.
--Professora, eu agora sou outro, não sabe? -- Paulo afirmou com verdade -- E já deixei até meu currículo todo atualizado na internet! -- dizia empolgado -- Usei o da senhora como referência.
--Mumtaz! (Excelente!) -- sorriu para ele -- Acostume-se a atualizá-lo de tempos em tempos de agora em diante. -- aconselhou
--Vou pegar esse costume. -- balançou a cabeça concordando -- Meu currículo não tem muito pra colocar, então é tranquilo. -- comentou bem humorado -- Já o currículo da senhora tem tanta coisa, é tão grande, que me deixou até perdido! -- brincou
A professora achou graça. -- Sou mais velha que você, habibi. -- cruzou os braços -- Natural que tenha mais coisas pra escrever lá.
--Eu li que a senhora já teve até em GanarÄ�jya! -- falou admirado -- Achei muito massa isso de fazer doutorado sanduíche em dois países! Se contar com Terra de Santa Cruz seriam três!
--Essas escolhas... Il galleb houwa il mayyal... (Meu coração foi aquele a decidir...) -- considerava -- Ou então acho que sempre gostei de viver perigosamente. -- brincou -- Três orientadores, sendo que um de cada país, é o maior risco a que uma pessoa pode se submeter por vontade própria. -- conversava bem humorada
--Ave Maria! -- concordou divertido -- Será que a senhora... -- não queria parecer inconveniente -- me falaria um pouquinho sobre GanarÄ�jya? -- pediu encabulado -- Só um pouquinho, não é pra tomar muito do seu tempo. -- esclareceu -- Tenho a maior curiosidade sobre esses países do outro lado do mundo...
--Posso falar, sim, bitichkii min eh (qual é o problema)? -- respondeu sorrindo -- Afinal de contas, foi mais uma época muito marcante na minha vida... -- mirou um ponto no infinito -- Lembro perfeitamente do dia em que cheguei lá... -- perdeu-se em lembranças
CAPÍTULO 149 – Do Outro Lado do Mundo
“Nesta minha vida repleta de buscas e fugas, eu voava para cada vez mais longe, Kitaabii. Não sabia onde iria parar, mas continuava seguindo. Agora me via do outro lado do mundo, onde novas paisagens, costumes, cheiros, cores, sons e sabores me assustariam e fascinariam ao mesmo tempo. Novamente um choque cultural para me fazer refletir sobre meus hábitos e analisar o que havia aprendido com a vida até então. GanarÄ�jya certamente seria um aprendizado e tanto; sob todos os aspectos.
Mal desci do avião e já comecei me sentindo tonta. Uma profusão de gente por todos os lados e a falta de pessoal para dar informações no aeroporto eram, no mínimo, assustadores. Os funcionários da alfândega, nada corteses, fizeram com que eu imaginasse que a qualquer momento seria presa ou levada para um inquérito em alguma sala escura. Não ajudava também o saxão que eles falavam, o qual era muito diferente do que estava acostumada, mas, felizmente, após uma longa sessão de perguntas, pude respirar aliviada ao ver meu passaporte carimbado. Superado esse momento, caminhar pelo aeroporto de Nai Dilii começava a parecer algo totalmente normal.
Não me passou despercebido o fato de que a maioria dos guichês de atendimento das companhias aéreas era enfeitada por muitas flores coloridas. Tampouco pude deixar de notar que religião hindu se fazia presente de várias maneiras, fosse na forma de estátuas discretas ou de símbolos imensos fixados às paredes. Além de, é claro, através de indivíduos que circulavam com suas vestimentas características.
Meu destino final era a cidade de Bengaluru, mas o voo somente partiria no dia seguinte e daí seria necessário dormir no aeroporto. Na verdade, Kitaabii, permaneci acordada até o momento de embarcar, pois o olhar fixo e inconveniente de vários homens sobre mim não me deixou à vontade para fechar os olhos. Apesar do policiamento local, era capaz de ouvir meus instintos dizendo: HariiS! (Cuidado!). E quem era eu para duvidar?
A chegada em Bengaluru foi tranqüila e qual não foi minha surpresa ao ver que um jovem me aguardava no desembarque com um papel onde se lia meu nome. Que diferença de Villeparisis, onde brofeseer Cozette tomou um porre na véspera e me esqueceu por completo...”
(Uma viagem para Ganar�jya)
https://www.youtube.com/watch?v=o04crXXaIKU
--Miss Raed? -- acenou para a morena -- Professor Subramanyan asked me to welcome you! (Professor Subramanyan me pediu para recebê-la.) -- sorria
“Smallah, alguém veio me receber!” -- pensou admirada e sorriu -- What an amazing surprise! (Que surpresa maravilhosa!) -- aproximava-se do homem -- Thank you very much for coming! (Muito obrigado por ter vindo!) -- agradeceu -- Não sei como me reconheceu, mas devo me apresentar: -- parou o carrinho de bagagens perto dele -- Zinara Raed. -- apresentou-se -- É um prazer!
--My name is Rupaliaventhayaknesh Ashivy. (Meu nome é Rupaliaventhayakneshgani Ashivy.) -- apresentou-se -- Mas pode me chamar de Rupali.
“Graças a Deus, porque já esqueci mais da metade do nome!” -- pensou aliviada
--E não me agradeça, por favor. -- complementou gentilmente -- Era necessário que alguém viesse para orientá-la na cidade e dar-lhe as boas vindas! -- sorria -- Namastê! -- postou as mãos diante de si e reclinou-se diante da astrônoma -- Aapka swaagat hai! (Seja bem vinda!) -- cumprimentou no idioma do país
--Namastê! -- fez o mesmo gesto e movimento -- Dhanyavaad. (Muito obrigado). -- agradeceu formalmente
Surpreendeu-se. -- Oh, vejo que andou estudando nossos costumes e até o idioma gindi! -- comentou satisfeito -- I’m sure professor Subramanyan was doing the right thing when invited you to come. (Tenho certeza de que professor Subramanyan estava fazendo a coisa certa quando a convidou para vir.) -- pegou o carrinho de bagagem da morena -- Vamos! Meu carro nos aguarda no estacionamento. -- seguiu andando
--Thank you again. (Obrigado novamente.) -- acompanhou o rapaz -- "Oh, Aba, muito obrigado!” -- agradeceu mentalmente -- "É a primeira vez que chego num lugar e tem alguém pra me receber! E não é que a caipira tá evoluindo?” -- pensava satisfeita -- Are you sir a professor’s co worker? (O senhor é um colega de trabalho do professor?) -- perguntou curiosa
--Ainda não. Mas defendo meu doutorado daqui a pouco tempo e logo serei um colega dele. -- respondeu convicto -- Sei que Shiva guarda uma vaga para mim no Instituto GanarÄ�jyan de Astrofísica. -- andava rapidamente -- Quem sabe guarde uma até para a senhorita? -- sorriu para ela mais uma vez -- Perdoe a intromissão mas... -- reparou em uma pequena maleta preta nas mãos de Zinara -- por que não coloca esta maleta aqui junto à bagagem?
--Porque isso é dinheiro. -- respondeu falando baixo -- Troquei alguns Oiros na casa câmbio e recebi tantas Rúbias que ganhei esta maleta de brinde. -- explicou divertida -- First time in my life that I feel like a rich! (Primeira vez na minha vida que me sinto rica!) -- brincou
--Nosso dinheiro vale mesmo muito pouco. -- balançou o pescoço da forma típica dos habitantes daquele país -- Lucky of you, miss Raed. (Sorte a sua, senhorita Raed.)
“Tomara que as coisas aqui não sejam caras!” -- desejou
Uma vez acomodados no carro de Rupali, o homem voltou a conversar. -- Está quase na metade do dia então a cidade fervilha! -- explicava -- Os estrangeiros costumam a estranhar nosso tráfego intenso, mas fique tranquila. -- olhava para a caipira -- Conheço Bengaluru em detalhe! -- afirmou convicto
--Sorte a minha! -- afivelou o cinto de segurança -- Quanto ao tráfego, me graduei em São Sebastião e não me assusto com isso. -- respondeu tranquilamente -- Aquela cidade também tem muito movimento.
--É isso! Movimento! -- concordou com ela ao ligar o carro -- Os estrangeiros saem daquelas cidades mortas de Urubba, chegam aqui e se assustam com vida, com movimento! -- dirigiu-se para sair do aeroporto -- Bom que a senhorita seja uma cidadã de Terra de Santa Cruz, daí tem costume de ver gente viva nas ruas! -- sorriu -- À propósito, aqui o uso do cinto de segurança não é obrigatório. -- avisou -- Se não quiser, não use. -- manobrava para ganhar a rua -- Eu não uso! -- informou ao buzinar com vontade
--Tudo bem, eu uso assim mesmo. -- respondeu educadamente
--Tenho certeza de que essa primeira visão da cidade vai deixá-la impressionada. -- pegou o acesso para a via -- Bengaluru é o centro da revolução tecnológica e econômica desse país! -- buzinou com raça mais uma vez -- Conhecida como o Vale do Silício de GanarÄ�jya! -- informava com orgulho
--Inshallah (Se Deus quiser), vai ser uma experiência muito rica para mim. -- acreditava no que dizia -- "Mas só espero que o tal do ficar impressionada seja por bons motivos.” -- desejou mentalmente
--Direto para o seu alojamento! -- buzinou de novo -- Não demora muito. -- garantiu buzinando
“Diacho de tanto que buzina!” -- não entendia aquilo
“Ana a’arfa, Kitaabii (Eu sei, Meu Livro), cada povo com seus costumes, só que é inevitável: nós sempre fazemos comparações; especialmente com o que nos escandaliza. Além da curiosa mão invertida, herdada dos saxões, posso dizer que estranhei terrivelmente o caótico trânsito de Bengaluru, no meio do qual surgiam motoqueiros vindos sabe-se lá de onde e sempre fazendo trajetórias que me pareciam suicidas. Eram como vespas desgovernadas, quase sempre sem capacete, invadindo os mínimos espaços que encontrassem disponíveis. Todos os motoristas, inclusive Rupali, buzinavam o tempo todo e por qualquer razão a ponto de irritar. Foi um exercício árduo para minha paciência a arte de fingir que aquilo não me incomodava.
Alheios às loucuras dos motoristas, inúmeros pedestres trafegavam pelas ruas como se não temessem a morte. Transeuntes, pedintes, vendedores de flores e ambulantes de toda sorte de coisas seguiam por entre os carros, motos e tuk-tuks, além de, é claro, vacas, muitas vacas. Elas, inclusive, deitam nas calçadas e ninguém se importa com isso. Pelo menos, assim me pareceu...
Na verdade, Kitaabii, parecia-me que eles não acreditavam na possibilidade de se acidentar, ao contrário de mim, que sentia um desespero sincero a cada vez que um motoqueiro aparecia em rota de colisão contra o carro de Rupali.
É como se diz muito por aqui: Are Baba!”
--Não acha que deveria ir mais devagar? -- a morena perguntou preocupada ao observar o velocímetro -- Estamos correndo um pouco demais. -- percebeu que o carro passou quase raspando em uma espécie de van cheia de gente -- AHHa! -- reclamou
--Don’t worry, miss Raed. (Não se preocupe, senhorita Raed.) -- respondeu tranquilamente -- Sou acostumado a dirigir por estas vias de tráfego intenso, -- olhou para ela -- e conheço cada metro quadrado...
--O caminhão!! -- segurou o volante para fazer o carro se desviar
--Are Baba! -- o homem exclamou ao sentir o brusco solavanco do veículo
O caminhão os ultrapassou correndo tanto que fez o carro sacudir como se estivesse parado.
--Oh, Aba! -- ajeitou-se no assento -- Aqui os motoristas dirigem sempre desse jeito? -- perguntou em saxão
--What do you mean? (O que quer dizer?) -- olhou para Zinara novamente
--AHHa, cuidado com a moto!!! -- apontou apavorada para um homem que se aproximava -- Watch out!! (Cuidado!!) -- advertiu
--Seedhey jaaey! (Siga reto!) -- gritou para o motoqueiro -- Tic, será que não vê meu carro? -- perguntou de cara feia -- Soower ki bachi! (Filho de um porco!) -- gesticulou
“Eita, que isso aí deve ser algum palavrão.” -- não entendia o idioma gindi. Só conhecia frases de sobrevivência
O motoqueiro passou quase arranhando o veículo de Rupali.
--Este homem não sabe dirigir! -- comentou sobre o outro -- Irresponsável, não acha? -- olhou para a morena -- Penso que somente as pessoas...
--Vem mais um, cuidado! -- interrompeu a fala do rapaz -- Cuidado! -- quase gritava -- E outro ali! -- apavorava-se com os motoqueiros que se aproximavam correndo -- Dah JaHiim! (É um inferno!) -- agarrou-se no banco do carro -- Olha outro!
--From where? (Da onde?) -- voltou a se concentrar no trânsito
--AHAH!! -- gritou com medo
Prestes a se chocar contra duas motos em sentido contrário, Rupali manobrou rapidamente, perdendo um dos retrovisores ao bater em um poste.
--Gaatak niila, ibn il-Homaar!! (Vá para o inferno, filho de um burro!) -- levou um susto com o barulho -- Minha nossa, que diabo é isso? -- misturou os idiomas de Cedro e Terra de Santa Cruz
Não entendeu o que ela dizia. -- Não se preocupe, foi só um espelho. -- afirmou tranquilamente ao recuperar o controle -- Veja que passamos por este pequeno susto e o carro não parou. -- afastou-se do acostamento e voltou para o meio da via -- A senhorita não deveria se assustar desta forma. -- comentou com estranheza -- Pensei que tivesse dito que em São Sebastião houvesse muito tráfego de veículos. Just like here. (Exatamente como aqui.)
“Nada em Terra de Santa Cruz se parece com isso aqui!” -- pensou -- How long does it take to wherever you're taking me? (Quanto tempo falta para seja lá onde você estiver me levando?) -- perguntou angustiada -- "Ô, meu Pai, isso é pior que os racha de Fred!” -- lembrou-se do amigo de curso técnico
--Não se preocupe, falta pouco. -- olhou para ela mais uma vez -- Aproveite e admire as cores da cidade que...
--Olha o vendedor!! -- alertou sobressaltada -- Ô pistinga dos infernos! -- pensou que fossem atropelar o homem -- AHAHAHAH!!! -- gritou
Rupali não conseguiu se desviar a tempo e acabou se chocando contra o pequeno carrinho de mão do vendedor de flores, as quais voaram por todos os lados, tendo grande parte delas caído sobre o painel do veículo.
--Kamina! (Bastardo!) -- gritou para o vendedor -- Ele não deveria estar com todas estas flores...
--Liga o pára-brisa! -- pediu agoniada -- We can’t see anything! (Não podemos ver coisa alguma!) -- alertava para o óbvio -- "Desgraça de homem que não pára de correr!” -- pensou com vontade de esganá-lo -- Inta ghaawiz iD-Darb bi-sittiin gazma!! (Você merece ser chutado por 60 sapatos!!) -- resmungava de cara feia
O jovem ligou o pára-brisa e olhou para Zinara. -- Don't worry, I’m used to it. (Não tenha medo, eu estou acostumado com isso.) -- tentava acalmá-la -- Não entendi o que estava me dizendo, mas já lhe comentei que... -- olhava para a morena mais uma vez
--Don’t look at me, please!! (Não olha para mim, por favor!) -- pediu aflita -- Preste atenção no trânsito! -- afirmou enfática -- No trânsito! -- as flores começavam a ser removidas do painel -- BAQARA!!! AHAHAH, BAQARA, BAQARAAAAA!!! (VACA!!! AHAHAH, VACA, VACAAAAA!!) -- gritou em pânico
--What? (O que?) -- não entendeu o que ouviu e olhou para frente -- BachÄ�Å�, Shivaaa!! (Ajuda, Shivaaa!!) -- clamou apavorado ao dar de cara com o animal -- AHAHAHAH!!!! -- gritou e jogou o carro bruscamente para a esquerda
--Ave Maria, professora! -- Paulinho ria divertido -- Que cabra barbeiro, vixi! -- olhava para ela -- E ele atropelou a vaca? -- queria saber
--Não, mas em compensação bateu em outro carro. -- contava a história -- Ninguém se machucou, mas tive que completar o resto do caminho de táxi. -- lembrava -- E que inferno que foi! -- revirou os olhos -- Me aborreci tanto! Fouk ma yitsawar khayalik... (Mais do que você possa imaginar...)
--E o hotel que o tal do professor Subramanyan reservou pra senhora? -- continuava perguntando -- Ao menos era bom?
--Hotel?! -- riu gostosamente -- Ai, ai, habibi, aquilo era um albergue de mochileiros... -- sorria -- Ou pelo menos tentava ser um albergue. -- pausou brevemente -- Wana amil eh? (Fazer o que?)
--Mas não tinha nem um alojamento de estudante? Por que a senhora foi mandada justo pra esse canto ruim? -- não entendia
--Porque não havia mais vaga. Brofeseer Subramanyan até que tentou, mas era muita gente disputando alojamento e eu já cheguei depois de todo mundo... -- explicava -- O departamento dele não ia pagar hotel bacana pra uma doutoranda pousar, né? Aí me danei! -- riu brevemente
--E como que era o tal do albergue?
--A maior loucura debaixo dos olhos de Allah... -- lembrava-se do lugar
“Em GanarÄ�jya tudo é colorido, vibrante e repleto de cheiros, Kitaabii. Muitas pessoas nas ruas vestem-se com trajes típicos das mais variadas cores, flores enfeitam vários lugares e diversos acordes musicais misturam-se com os sons das vozes humanas e das buzinas enlouquecedoras. Construções luxuosíssimas, modernas e suntuosas, muitas vezes dividem espaço com cortiços inimagináveis. Templos e monumentos cujas origens se perdem no passado, mostram-se quase inabalados pelo peso dos anos ao ponto que alguns estabelecimentos demonstram um mau trato extremo. Esse era o caso do Albergue Anahata, onde me hospedei...”
--Este estabelecimento ocupa o lugar de um antigo hotel que saiu de operação. -- miss Kalyani, dona da casa, apresentava o local enquanto caminhava com Zinara pelo albergue -- Note pela imponência da construção!
“Ah, é! Tá mais pra impotência!” -- pensou enquanto reparava nas paredes mofadas e repletas de infiltração. -- Devia ser mesmo um hotel muito antigo! -- comentou -- E o tempo fez um maltrato. -- notou a sujeira nas paredes -- Hard to believe it’s still standing! (Difícil acreditar que ainda está de pé!)
Desconsiderou o que ouviu. -- Apesar do aspecto informal, tudo aqui é pautado por regras sérias em consonância com os bons costumes, -- falava como se pregasse a Palavra -- e eu espero que você as siga da mesma forma que todos os demais. -- olhava para a morena -- Ninguém descumpre as regras!
E nesse momento uma vaca enfeitada com uma coroa de flores cruza o corredor pacientemente.
--Nem ela? -- apontou para o animal
Kalyani fingiu que não entendeu. -- Somos ecumênicos, portanto, quaisquer celebrações religiosas podem ser feitas aqui, desde que solicitadas com antecedência.
“Eu vou precisar mesmo é de muita reza!” -- pensava preocupada
--Eu não aceito homens sozinhos, somente casais. -- continuava explicando as regras -- Mulheres sozinhas podem ficar, mas desde que não recebam homens. -- fez um olhar ameaçador -- Tic. -- balançou o pescoço
Observava os outros hóspedes discretamente. -- This won’t happen, that’s for sure. (Isso não vai acontecer, com toda certeza.) -- garantiu -- "É ruim!” -- pensou divertida
--E por favor, -- ajeitou o lenço dos cabelos -- nunca atrase com os pagamentos!
--I won’t. (Não o farei). -- respondeu achando graça -- "E ela ainda tem coragem de falar em pagamento numa peste de canto horrível desse aqui!” -- reparava no desleixo do ambiente -- "Esses móveis devem ter um quilo de poeira!”
--Não dispomos de camas. -- continuava falando -- Você receberá um isolante térmico e roupas para forrar por cima. -- gesticulou -- Uma muda de roupa a cada um mês. -- frisou o detalhe -- E temos almofadas de cashimira! -- destacou toda prosa
--Choo?? -- perguntou estupefata -- What?? (O que??) -- traduziu para o saxão
--Alerto para ter cuidado com seus pertences, pois não nos responsabilizamos. -- advertiu
--E pelo que se responsabilizam? -- apontou para as centenas de teias de aranha -- Não fazem limpeza aqui? -- perguntou olhando para a outra -- "Lugarzinho cheio de aranha!” -- contava as teias -- "Dah mumill!! (Isso é um saco!!)” -- pensava prevendo o pior
--Cada hóspede cuida do que lhe é próprio. -- respondeu vagamente -- Somos contra a exploração do homem pelo homem.
--Humpf! -- fez um bico -- "Uma forma bonita de dizer que é pão dura e não paga funcionário.” -- concluiu mentalmente -- Wonderful! (Maravilhoso!) -- respondeu com ironia
--Repare nos quartos... -- apresentava orgulhosa -- O nome deste albergue, Anahata, remete ao chakra do coração. -- explicava -- Não há portas porque o coração não tem cadeados.
“Que conversa fiada!” -- pensou -- E quanto ao banheiro? Os quartos não têm? -- não percebia vestígio de banheiro
--É comunitário. -- respondeu de pronto -- Necessidades ali, -- apontou para uma direção -- e banho aqui. -- apontou para outra -- Aviso que não temos mictório como no Ocidente. -- foi logo dizendo -- If you came from Cedro should get my point. (Se você veio de Cedro deveria entender o que quero dizer.)
Zinara lembrou-se dos sanitários ao nível do chão como em Al-Maghrib e certas pequenas cidades de Cedro. -- Ana a’arfa. (Eu sei.) I really know what you mean... (Sei do que está falando.) -- respondeu desanimada -- "Não acredito que vou ter que usar esse tipo de sanitário de novo...” -- pensou decepcionada -- "Quando a caipira pensa que evoluiu, dana tudo outra vez...”
--E este é o seu quarto. -- parou diante de um cômodo esquecido por Deus -- Uma vez que você vive em Terra de Santa Cruz, dividirá seu espaço com uma jovem de lá e com mais duas moças de Godwetrust. -- sorriu -- Eu costumo a dividir meus hóspedes por continente, sempre que possível. -- explicava -- Facilita a inteiração sem prejudicar o intercâmbio cultural.
A entrada do cômodo era parcialmente sustentada por grossos feixes de bambu amarrados uns nos outros. -- Hum... -- olhou para dentro e suspirou desanimada ao ver quatro armários de madeira muito antigos e caindo pelas beiradas, além de algumas bugigangas -- Qual o risco desse lugar desabar sobre nós? -- perguntou desconfiada -- "Veja pelo lado bom, Zinara, o campo de refugiados era bem pior...” -- tentava se consolar -- "E aqui você não vai trabalhar carregando saco de couro no lombo.” -- tinha vontade de chorar
--Nos vemos ao anoitecer, se desejar praticar yoga comigo. -- fez um gesto de despedida -- Não é caro e o preço das sessões é negociável. -- sorriu -- Ap se milkar khushÄ« huÄ«. (Encantada por conhecê-la.) -- balançou a cabeça e partiu
Tentou repetir o gesto sem dizer coisa alguma. -- Sabe Deus o que ela falou... -- resmungou consigo mesma ao entrar no quarto -- Onde seria o canto menos sujo pra eu colocar meus trem? -- não encontrava -- E onde será que as outras dormem? -- notou que três isolantes térmicos enrolados estavam encostados em uma parede imunda
--Hey, dude, don’t take my place! (Ei, cara, não pegue meu lugar!) -- uma garota loura chegava com outra
--We’ve been sleeping there since the first day! (Estamos dormindo aí desde o primeiro dia!) -- outra loura falou de cara feia
--Nice to meet you too! (É um prazer conhecê-las também!) -- afirmou com ironia -- Só que de agora em diante seremos colegas de... espaço, -- não sabia como se referir àquele cômodo -- e terei que ocupar algum lugar, vocês gostem ou não. -- sorriu sarcástica
As duas louras se entreolharam e franziram o cenho. -- Mais uma... -- a mais velha resmungou chateada -- Ok, go ahead! (Ok, vá em frente!) -- concordou contrariada
--Só espero que você também não seja de Terra de Santa Cruz! -- a outra reclamou -- Basta aquela louca que já vive aqui! -- revirou os olhos -- And, take my clue: don’t even think of being sick here! (E, aceite minha dica: nem pense em ficar doente aqui!) -- advertiu -- Eu fiquei e perdi 8kg em uma semana!
“AHHa, que maravilha!” -- revirou os olhos -- "O lugar é sujo, cheio de aranha, minhas colegas de quarto são uma simpatia e eu ainda corro o sério risco de me esvair em titica!” -- pensava contrafeita -- Axra min kida mafiiš!! (Não há merd* pior do que essa!!) -- resmungou de cara feia
--E elas lhe deram trabalho, professora? -- Paulinho perguntava -- Duas galega mala! -- fez cara feia -- A senhora ficou doente? E tinha muita aranha por lá? -- perguntou tudo ao mesmo tempo
Achou graça de tanta curiosidade. -- Calma, vamos por partes. -- gesticulou pedindo espera -- Felizmente, elas não me deram trabalho. -- cruzou as pernas -- Eram mochileiras que passavam o dia inteiro fora e chegavam muito tarde, assim como eu, e quando vinham, logo se deitavam pra dormir. -- lembrava -- Foram embora uma semana depois e aí vieram outras e mais outras... -- gesticulou -- Quem dividiu espaço comigo sempre foi a conterrânea. -- acabou rindo -- Ela e eu vivemos três meses naquela fuleiragem pela total falta de conseguir nos mudar pra um lugar melhor!
--Pô! -- surpreendeu-se -- Como que aguentaram?
--A’Aleem Ilaah! (Deus sabe!) -- respondeu rindo -- Não fiquei verdadeiramente doente, porque tomava muito cuidado com os trem que comia e bebia, mas tive aquela diarreia clássica que batiza os viajantes em GanarÄ�jya. -- contava -- Acho que quase ninguém escapa dessa.
--Caraca! -- riu
--E quanto às aranhas... Montei um estratagema bem elaborado e acho que consegui reduzir a população delas em uns 80%. -- lembrava-se de suas artimanhas -- Pelo menos em nosso “quarto". -- fez aspas com os dedos -- Mas eu achava que al SaraSiir eram muito piores! -- fez cara de nojo -- Elas e as aranhas eram quase do tamanho do meu pé. -- mostrou o pé
--Que diacho é al SaraSiir? -- perguntou intrigado
--Perdoe. -- deu um tapa na testa -- Quero dizer baratas. -- traduziu
Arregalou os olhos. -- O que?? -- perguntou apavorado -- Barata e aranha do tamanho de um pé?? -- estava em choque -- Esconjuro!
--Tudo em GanarÄ�jya é superlativo. -- achava graça do assombro dele -- Árvores, flores, templos... inclusive baratas e aranhas. --riu
--Puta merd*... -- resmungou bem baixinho -- Mas e a outra garota? A que era daqui? Ela ficou sua amiga?
--O nome dela era Denise Eugen. -- lembrava-se da jovem loura -- Uma figura como nunca vi! -- visualizava na mente o rosto da moça -- Picareta das maiores! -- riram juntos -- Mas ela foi muito importante enquanto estive lá... Especialmente depois que decidi que ficaria no país por um ano.
“E como aguentou ficar um ano?” -- pensou abobalhado -- A senhora conheceu ela no mesmo dia que chegou no albergue?
--Laa. (Não.) -- respondeu de pronto -- Ela tinha ido pra não sei onde e só apareceu no domingo seguinte, depois que eu já tava naquela porqueira há uma semana. -- explicou -- E que semana, viu, fi? Altos e baixos... -- viajou no passado novamente
“Minha primeira semana em Bengaluru foi marcada por grandes contrastes, Kitaabii. O Instituto GanarÄ�jyan de Astrofísica me surpreendeu muito positivamente com seus excelentes recursos, profissionais estudiosos e qualificadíssimos, além de simplesmente um acervo de alguns milênios de pesquisa astronômica registrada e à disposição para minha pesquisa. O observatório vinculado a ele localizava-se no topo de uma montanha de 4500m de altitude e eu contava nos dedos o dia de visitá-lo; fosse pela paixão pelas estrelas, fosse pelo amor ao montanhismo.
Tive alguns primeiros embates com quatro colegas homens que estranharam o fato de uma mulher na minha idade ser solteira e sem filhos. Graças a Allah, no entanto, Brofeseer Subramanyan logo se envolveu nas contendas e não deixou o assunto evoluir. Ao longo de toda minha estadia na cidade, ninguém me importunou mais com tais questões.
Falando no brofeseer, apesar da formalidade e da distância que impunha no ambiente de trabalho, chegando o sábado, ele e sua esposa me levaram para conhecer a cidade e pude ver toda a opulência, tecnologia e modernidade de Bengaluru, além de ter visitado um belíssimo jardim e mais um templo magnífico. A cidade era a terceira mais populosa do país e me deixou assustada. São Sebastião, a maior e mais populosa cidade que havia conhecido até então, parecia um vilarejo diante daquele contingente imenso de pessoas. Acredite, Kitaabii, não estou exagerando.
Estranhei a comida, especialmente por causa dos temperos muito picantes para meu gosto, porém a cidade cultivava o vegetarianismo e isso me era interessante. Rupali me prometeu que ao longo do tempo me indicaria bons restaurantes.
A burocracia com o instituto de matemática não se resolveu naquela primeira semana, ao contrário do que imaginava o brofeseer, mas tive permissão para começar assistindo as aulas ainda assim. E que impacto, Kitaabii! Que diferença de nível em comparação à universidade da Gália onde comecei os estudos. Não chorei por muito pouco: um ano de matemática em Villeparisis parecia não valer uma semana em Bengaluru. A constatação da ignorância é sempre traumática...
E, ao final de cada dia, independentemente do que acontecesse, lá estava eu de volta ao cortiço que recebeu nome de chakra: Anahata. Sem dúvida, o trânsito caótico de Bengaluru e o miserável albergue onde me encontrava eram os pontos baixos dos meus dias de descoberta e empolgação.”
Zinara tentava estudar matemática sentada na grama suja do que deveria ser o jardim do albergue Anahata. Era tarde e usava uma lanterna de cabeça para conseguir ler.
--Mas bah, fico trifeliz em ter a companhia de uma guria do meu país! -- aproximou-se da morena -- Namastê! -- repetiu o gestual dos locais
--Namastê! -- cumprimentou sorridente ao se levantar -- Fazia tanto tempo que não ouvia o idioma de Terra de Santa Cruz que até estranhei. -- brincou -- Ana ismii Zinara Raed. -- apresentou-se -- Sou Zinara Raed. -- repetiu simplesmente ao estender-lhe uma das mãos
Não apertou a mão da outra. -- E quem pode dizer quem realmente é? -- começou um gestual místico -- Quem pode dizer o que vai n’alma, o que pulula no âmago do ser? -- olhava para o nada -- Nomes, idades, rótulos, o que define um ser humano? -- fazia mil salamaleques
Recolheu a mão desconfiada. “Ih, meu Pai, essa aí é totalmente majnum (maluca)...” -- pensou
--E aí eu resgato um koan pra meditação: -- fez um olhar enigmático -- "qual era o seu rosto original?” -- mais um gesto -- “Aquele que você possuía antes de nascer?” -- fazia cara de enigma
(Nota da autora: os koans são desafios mentais do zen budismo para ajudar o iniciado na busca da iluminação)
--Jayed jedan (Muito bom), mas se você dissesse o nomezinho que tá escrito lá no teu passaporte ajudava um pouco, viu, fi? -- cruzou os braços -- Tanto salamaleque, aHHa! -- reclamou
--Meu nome é Rachna Kalpa! -- continuava com seus gestos de efeito -- Rachna é a criação, Kalpa o ciclo do tempo. -- lançou um olhar profético sobre a morena -- Trago em mim os elementos da criação do próprio tempo! -- gesticulava -- Se tu quiseres, te mostro o caminho da constância na impermanência, da paz em meio ao caos. -- ofereceu -- E comigo não é caro. -- sorriu -- Sou muito melhor e mais profunda que a dona desse albergue! -- afirmou orgulhosa -- Tri profunda!
Acabou rindo gostosamente. -- Olha só, menina, eu não sei se você preparou esse teatro místico pra impressionar alguém, mas comigo não tá dando certo, não. -- falou abertamente -- Eu tô aqui estudando, -- voltou para seu lugar -- amanhã começa tudo de novo no instituto e não tô com tempo pra conversa mole. -- pegou um livro
--Bah, tu é sem graça, guria! -- reclamou de cara feia -- Não entende que vim pra essas bandas buscando luz?
--Ah, é? -- riu de novo -- Por isso que eu trouxe minha lanterna de cabeça. Não preciso ficar buscando luz por aí. -- brincou -- Agora dá licença que eu vou estudar. -- voltou a ler -- "Eu que não vou ficar perdendo tempo com essa doida enrolona.” -- pensou
--Estudas o que? -- sentou-se curiosa do lado da outra -- Meu Deus, só tem equação esquisita, daí! -- arregalou os olhos -- Horrível!! -- pegou um dos livros da morena e começou a folhear de qualquer jeito -- Bah, isso é de espichar a canela, daí!
“Oh, Aba, já vi que hoje eu não estudo mais...” -- pensou conformada -- Sou estudante de doutorado em astronomia e -- olhou para a loura -- estudante de graduação em matemática. -- pegou o livro das mãos dela com delicadeza -- A'teni hatheh, min fadlik. (Dê-me isso, por favor.) -- pediu -- Agora tô estudando equações diferenciais parciais hiperbólicas.
Estranhou o que ouviu. -- Pra quem gosta... -- ficou prestando atenção na caipira -- Ei, franga, tu mentiu pra todo mundo, daí. Enganas as pessoas todas! -- acusou -- Não és de Terra de Santa Cruz! -- examinava os traços dela -- Nem pelo jeito, nem pela língua que falas em frases perdidas que eu não entendo nada, daí.
“Franga?” -- não entendia aquela gíria -- Sou nascida em Cedro e naturalizada cidadã de Terra de Santa Cruz. -- respondeu calmamente enquanto arrumava suas coisas na mochila -- E você não me disse seu verdadeiro nome até agora. -- desligou a lanterna -- Só o apelido místico que inventou pra já chegar aqui me oferecendo sei lá o que mais barato do que cobra ya Kalyani. -- riu brevemente
Deu um suspiro profundo. -- Denise Eugen... -- falou quase num sussurro -- Mas me chame de Rachna! -- pediu enfaticamente -- Quem tá aqui buscando iluminação interior é a Rachna e não a Denise.
Terminou de guardar suas coisas e se levantou. -- Aywah (Sim). Como queira. -- colocou a mochila nas costas -- Vou voltar praquilo que ya Kalyani chama de quarto. -- revirou os olhos -- AHHa. -- reclamou
--Vou contigo! -- levantou-se também e foram andando -- Por quanto tempo ficas aqui no país? -- perguntou curiosa
--Três meses. -- seguiam para dentro -- Depois volto pra Gália e daí para Terra de Santa Cruz.
--Gália?! -- estranhou -- Esse teu doutorado é um tour pelo mundo, daí!
Achou graça e nada respondeu.
--Eu ficarei aqui estudando os mistérios da alma por um ano. -- anunciou decidida -- Depois disso volto pra minha terra e sigo pra algum cantinho onde possa viver ensinando o povo a se ligar com o Alto, o mais Além. -- voltou com seus gestos estudados -- Sei que existe muita gente com fome de Luz! -- gesticulou rapidamente
“Que figura!” -- pensou com vontade de rir -- E como você vai conseguir viver em GanarÄ�jya por um ano, desculpe te perguntar? -- entraram no quarto -- Você faz o que aqui além de estudar os mistérios? -- não entendia -- "Como que essa criatura se sustenta, sô?”
--Tenho tentado amealhar discípulos, mas as almas ainda se ressentem. -- fazia seus gestos -- Só que este é o caminho natural! O Tao, seguindo seu fluxo! -- lançou um olhar de santinha -- Ainda sou broto jovem; eis que minhas ramas não deram frutos maduros por agora. -- caprichava nos salamaleques -- Tenho apenas um mês de estudos místicos... é de fato muito pouco. O que tenho eu a oferecer aos que buscam a verdade? -- reconheceu com falsa humildade -- "Mal comeces a pensar se 'tem' ou 'não tem', és um homem morto.” -- recitou mais um koan
--Sei... -- preparava suas coisas para o dia seguinte
--E enquanto esse momento da maturidade não chega, recebo a ajuda de custo dos meus pais. -- prestava atenção em Zinara -- Quanto livro, bah!
--Bom pra você que seus pais te apoiam nesses seus... estudos místicos. -- olhou para a loura -- Geralmente as famílias esperam algo mais convencional. -- sorriu -- Já fui tão criticada por ter escolhido astronomia... -- balançou a cabeça contrariada -- A’jabani haqqan! (Eu gosto muito!) Isso é que me importa!
--Ah, mas eles não sabem disso, daí. -- sentou-se no chão -- Pensam que vim estudar engenharia. -- afirmou na maior naturalidade -- Papai é engenheiro, dono de uma pequena empreiteira, e pensa que eu vou ser a herdeira natural do que ele construiu. -- negou com a cabeça -- Engenharia, tô fora! -- fez um gesto de desprezo
--Choo?? (O que??) -- perguntou estupefata -- E depois eu é que sou a mentirosa aqui? -- fez cara feia -- Ralã! -- exclamou horrorizada -- Devia se envergonhar disso! -- repreendeu
Fingiu que não ouviu. -- Vou sair daqui sabendo tudo de zen budismo, pompoarismo tântrico, acupuntura, limpeza e alinhamento de chakras, magia dos cristais, clarividência e interpretação de sonhos, com direito a uma caminhada inesquecível até o campo base do Chomolungma! -- anunciou confiante
--Chomolungma? -- os olhinhos brilharam
--Sim, guria! -- confirmou sorridente -- No pouco tempo que estou aqui já consegui o contato da melhor guia mística de montanha desse país! -- gesticulou -- O nome dela é Lila, daí, e não é fácil ter acesso a uma agenda tão disputada! -- comentava -- Marquei a caminhada pra abril do ano que vem! -- sorria -- Quer fazer parte do grupo?
“Denise ou Rachna, como preferia ser chamada, falava em abril como se fosse amanhã, Kitaabii. Achei graça da segurança dela em contar como certos os planejamentos que fazia sem grandes cuidados. Na minha cabeça, por abril eu já estaria novamente na Gália e, embora a ideia me soasse maravilhosa, seria impossível fazer tal caminhada, fosse por estar longe da montanha, fosse por não ter dinheiro para tal.
Mas a vida é mesmo um mistério, Kitaabii, nós nunca sabemos ao certo o que se dará. Quem poderia adivinhar que a tal guia chamada de Lila, cujo nome ouvi sem qualquer emoção, teria um papel tão relevante, embora breve, na minha caminhada em busca do Tao? Hoje, quando penso nisso, cada vez mais aceito a verdade de um koan que ouvi num templo no Nepalih:
“Mestre Tokuan estava morrendo. Um discípulo se aproximou, e perguntou-lhe sobre seu testamento. Ele respondeu que não havia testamento, mas o discípulo insistiu:
-- Não tendes nada? Nada para dizer?
-- A vida não passa de um sonho... -- disse o Mestre”
***
Bernadete e Werneck terminavam de acertar os últimos detalhes preparatórios da reunião com as universidades integrantes da Rede de Tecnologia sobre Observatórios Virtuais.
--Ave Maria, que se a prévia já deu trabalho, imagino as ações que teremos pela frente depois da reunião! -- Werneck comentou -- A calva chega fica molhada, ói! -- passou a mão na cabeça
--E terminamos agora graças a Zinara. -- Bernadete respondeu ao desligar o laptop -- Essas demandas enlouquecedoras que as agências de fomento nos fazem gastam é tempo!
--Ô! -- concordou -- Sorte nossa que Zinara voltou com a disposição de um batalhão! -- levantou-se -- Trabalha e faz tanta coisa que parece até uma lançadeira de máquina! -- foi até a estante pegar um livro -- Falando em nossa amiga, deixa eu separar isso aqui porque ela me pediu emprestado. -- voltou para a mesa e colocou o livro sobre ela -- Se não separar agora, vou acabar esquecendo. -- sentou-se novamente
“Lançadeira de máquina...” -- pensou divertida -- "Ele é a única pessoa que repete as mesmas coisas que minha vó dizia...” -- achava graça -- Werneck, me responde uma coisa por curiosidade. -- cruzou as pernas -- Você e Zinara se conheceram como? -- queria saber -- Como foi que ela veio parar aqui em Cidade Restinga e nossa na Federal? -- olhava para ele -- De repente me ocorreu que nunca perguntei isso a ela.
--Vixi, mulher... -- deu um sorriso saudoso -- A história é longa, não sabe?
Olhou para o relógio. -- Uma vez que nossa hora de almoço começa agora, acho que dá tempo de tocar no assunto enquanto a gente come alguma coisa. -- propôs -- Que acha?
--Simbora. -- levantou-se novamente e pegou a carteira -- Vamos almoçar na dona Juçara?
--Com certeza. -- levantou-se também e pegou a bolsa
Saíram da sala e foram andando pelo corredor do Departamento.
--Conheci Zinara em 2007 e você não vai adivinhar onde. -- olhou rapidamente para a colega -- Contando parece até mentira. -- fez um pequeno suspense
--Onde? -- perguntou curiosa -- Não faço ideia!
--Simplesmente em GanarÄ�jya! -- respondeu enfático
--GanarÄ�jya?! -- arregalou os olhos -- Eu nunca imaginei que você tivesse ido pra lá! -- comentou surpresa -- Zinara não me surpreende, porque aquela ali é cidadã do mundo! -- gesticulou bem humorada -- Mas você não me parece muito dado a essas aventuras...
--Foi viagem de trabalho, mulher! -- esclareceu -- Eu tava simplesmente no lugar certo e na hora certa...
--Eu sei que Zinara passou um ano em GanarÄ�jya estudando astronomia e matemática, mas nunca imaginei que você tivesse ido pra lá também.
--E a gente só se conheceu naquela época porque ela mudou os planos originais de ficar só três meses no país e ficou por um ano. -- relembrava uma conversa com a morena -- Aí se graduou em matemática em Bengaluru mesmo e investigou simplesmente todos os registros de observação solar que o Observatório Saraswath disponibilizava. -- comentou admirado -- E daí concluiu uma tese de doutorado da gota, não sabe?
--Sei disso.
--Da tese dela -- continuava falando -- vieram os artigos que são recordistas em citações na base de dados do Astrokpus! -- referia-se a uma base de consultas internacional -- E uma pedra no sapato dos defensores do aquecimento global antropomórfico. -- achou graça -- Zinara soube fazer de uma tese uma fonte de artigos estrelados no currículo dela. Admiro muito isso! -- desciam as escadas -- E ainda conta ponto pro Departamento, não sabe?
--Tudo bem, mas você ainda não me falou em que situação os dois se conheceram. -- insistiu -- Na defesa de tese dela? Onde foi? -- continuava curiosa -- E ela defendeu a tese aonde, afinal? Rodou pelo mundo, né? -- brincou
--Essa parte foi engraçada, porque ela defendeu a tese em GanarÄ�jya, depois na Gália e depois em São Sebastião, -- enumerava -- mas tudo isso aconteceu em junho de 2007 e eu não pude assistir nenhuma dessas defesas. -- esclarecia -- Nessa época a gente já trocava emails e eu mexia muito com ela, por causa de tanto defender a mesma coisa, cada hora numa língua. -- caminhavam pelo pátio -- Eu fui pra GanarÄ�jya antes, em abril de 2007, por conta de um congresso sobre astronomia no infravermelho que aconteceu em Nai Dilii. -- olhou para a colega -- Consegui uma verba e fui lá apresentar meu trabalho. -- gesticulou -- E aconteceu que ela era uma das organizadoras do evento, ajudando o tal do Subranãoseidasquantas, e foi a primeira pessoa que conheci quando cheguei no centro de convenções. -- lembrava -- Melhor coisa não podia ser! -- balançava a cabeça positivamente -- Eu já conhecia Zinara de nome, por causa dos trabalhos dela, e era doido pra que uma pessoa daquele tipo viesse trabalhar aqui! Tinha que ter mais gente com raça nesse Departamento! -- deu um soco na mão -- Só os poucos que tinham não dava nem pro cheiro!
--Foi você que convidou ela pra vir pra cá?
--E não foi? -- respondeu orgulhoso -- Pura sorte encontrar com ela logo de cara, porque depois não daria pra se conhecer direito. Organizar congresso é osso! -- falava com conhecimento -- Ela me levou pra fazer o credenciamento porque eu tava perdidinho naquele lugar! E que sufoco foi chegar lá... -- revirou os olhos
--Ave Maria, pensei que ia morrer no táxi daquele cabra! -- reclamava consigo mesmo -- E agora, que parece que o centro de convenções é maior que Cidade Restinga? -- olhava para todos os lados -- Em que canto será o evento, minha Nossa Senhora? -- procurava uma deixa -- É melhor perguntar pra alguém. -- coçou a cabeça -- Mas eles andam com tanta pressa, vôti! -- reclamou
Zinara ouviu que um homem resmungava na língua de Terra de Santa Cruz e prestou atenção em quem seria ele. Ao avistar Werneck desconfiou que precisava de ajuda. “Esse aí tá mais perdido que caipira na praia!” -- pensou divertida -- Com licença. -- aproximou-se falando o idioma dele -- Zinara Raed, é um prazer. -- apresentou-se -- Acho que somos conterrâneos. -- sorria -- Precisa de ajuda? -- ofereceu
--Ei, eu já li uns artigos seus! -- reconhecia o nome -- Da sua graduação, do mestrado, do doutorado... -- estendeu a mão -- É um prazer! -- sorria -- Werneck! Sou professor da Federal de Cidade Restinga!
Apertou a mão dele com satisfação. -- Tacharafna! (É um prazer!) -- recolheram as mãos -- Deduzo que ya said seja Flósculo Werneck, o único inscrito de Terra de Santa Cruz. -- sorria -- Sou uma das organizadoras do Congresso de Astronomia no Infravermelho e vi seu nome na listagem de apresentadores. -- lembrava
--Ô, moça, eu não sei quem é Said, mas não me lembra que meu nome é Flósculo, Ave Maria... -- pediu desanimado -- Paínho tinha um mau gosto da porr*, não sabe? -- lamentou -- Me chama de Werneck, pelas caridade! -- quase implorou
Riu com vontade. -- Perdão, fica só Werneck e não se fala mais nisso. -- riu de novo -- Vamos indo? Acho que ainda precisa se credenciar. -- convidou
Foram andando. -- E você ri, né? -- riu também -- Posso te chamar de você, a propósito? -- perguntou receoso -- Nem perguntei e já fui chamando... Descaramento... -- sorriu envergonhado
--Aywah (Sim), claro que pode! -- pausou brevemente -- Sabe...? Quando vi seu nome na listagem, -- comentava -- tive a curiosidade de pesquisar sobre o curso de astronomia de sua universidade. Vi que é relativamente recente e que o departamento tem planos muito interessantes pra contribuir com o estudo da ciência astronômica no país.
--A gente vem nessa caminhada há menos de cinco anos, não sabe? -- respondeu -- Mas falta muita coisa, muito recurso e mais professores. A terrinha lá tá conseguindo alguma coisa agora, com esse governo de Luis Horácio, só que não é fácil... E ele também não é lá grandes merd*s quando o assunto é educação! -- comentou desabafando -- Depois de muita luta de nossa parte, fiquei sabendo na véspera da viagem que vai abrir concurso pra professor. E só uma vaga, pense?
--Smallah! -- exclamou surpreendida -- "Em São Sebastião já me disseram que nem imaginam quando vai ter vaga!” -- lembrava das palavras de seu orientador, professor Oséias
--Pois é! -- parou de andar e olhou para a mulher -- Eu sei que todo mundo quer trabalhar em São Sebastião, Paulicéia, mas... -- pensava em como falar -- será que você não gostaria de... -- coçou a cabeça -- Sei que estuda em São Sebastião, seu passe deve ser disputado à tiro, mas, talvez... trabalhar com a gente em Cidade Restinga podia ser um... -- não sabia o que fazer com as mãos -- desafio interessante... -- convidou
A morena pensava em mil possibilidades enquanto ouvia.
--E Cidade Restinga é mais barata que São Sebastião na hora de comprar um cantinho pra morar, não sabe? -- continuava falando -- Também tem praias bonitas, boas oportunidades pro lazer, um povo bom... -- queria convencê-la
“Smallah! Um departamento novo, sem caciques, sem vícios...” -- pensava -- "Uma ótima oportunidade de iniciar minha ideia de implantação de observatórios virtuais em Terra de Santa Cruz...” -- sorriu empolgada -- Quando e como que pode se inscrever? -- perguntou interessada
--Vixi Maria! -- deu um soco no ar em comemoração -- É só eu arrumar acesso à internet que a gente vê isso agorinha mesmo, não sabe?
--Não preciso nem dizer que ela passou no concurso em primeiro lugar e disparado! -- salientou divertido -- O segundo lugar tirou metade da nota! -- riu brevemente -- O que eu adorei, porque não fui com os encostados daquele cabra. -- lembrava-se do homem -- Bicho besta! -- fez uma careta
--Então quer dizer que Zinara veio parar aqui apenas porque aconteceu dos dois se conheceram no congresso e você já sair pedindo pra ela fazer a prova? -- estava pasma
--No que fiz muito bem! -- pararam na fila do trailer -- Se não fosse por mim, a história desse Departamento seria muito diferente! -- afirmou orgulhoso -- Eu sou assim: onde toco vira ouro! -- estufou o peito
Achou graça mas não comentou o caso. -- E como que ela fez a prova? -- continuava curiosa -- Lá do outro lado do mundo...
--Deus escreve certo por linhas tortas, mulher. -- continuava contando a história -- O concurso atrasou e a prova foi em junho. -- lembrava -- No dia seguinte da defesa da tese dela em São Sebastião.
--Ave Maria! -- surpreendeu-se -- Então a vaga tinha que ser dela, não tinha jeito! -- balançou a cabeça positivamente
--O que Deus quer e eu abençoo, minha filha, -- olhou para a colega -- ninguém desmancha!
“Poderoso, ele.” -- pensou divertida -- Pois é. -- teve que rir -- E Zinara cada vez mais me causa admiração. -- reconheceu -- Conseguir se graduar em matemática, defender uma tese em três idiomas e ainda passar na prova pra uma universidade federal em primeiro lugar, tudo junto, não é pra qualquer um... -- cruzou os braços -- Como se dizia naquela novela: Are Baba! -- riu
--E você não sabe! -- continuava contando -- Adivinha o que ela foi fazer logo depois do congresso? -- fez suspense
--Não faço ideia.
--Uma caminhada até o campo base do Chomolungma! -- anunciou gesticulando
--Gente!! -- arregalou os olhos -- Eu desisto, vai. -- fez um gesto -- Zinara não é desse mundo! -- brincou -- É um avatar que não se pintou de azul!
“Era um grande risco que eu iria correr, Kitaabii, sob todos os aspectos, mas as montanhas me seduzem como poucas coisas nessa vida. O que dizer de uma mulher que encarava a imensa dificuldade de cursar ao mesmo tempo uma graduação em matemática e um doutorado sanduíche em um renomado instituto de astrofísica, quando ela resolve se dar ao luxo de se afastar por dias apenas por causa de uma montanha? Nem eu mesma saberia explicar isso... E ainda não sei. Mas o fato é que Chomolungma era um sonho, talvez o desejo de todo montanhista, e eu não podia dispensar a oportunidade uma vez que ela me apareceu.
Quando Rachna me falou a respeito pela primeira vez, não considerei. Tampouco imaginava na ocasião que ficaria um ano em Bengaluru. Mas as coisas foram acontecendo e de repente me vi mais tempo em GanarÄ�jya do que pensei a princípio. Queria ficar longe da Gália e das lembranças da ruiva que ainda me castigava o coração, daí a estadia naquele país de imensos contrastes era uma solução muito conveniente para minha carreira. Nunca fui mulher de planos para o longo prazo, então as mudanças que eu me impunha não me causavam problemas. Eu vivia o presente e que Allah cuidasse do amanhã como julgasse melhor. Quanto aos meus sentimentos, estavam sufocados por uma rotina pesada demais; e isso me parecia bom.
Depois de três meses de sofrimento, consegui um lugar decente para viver e Rachna quis dividir esse apartamento comigo. Aceitei porque não conseguiria me manter sozinha, mas nós brigávamos muito por uma série de coisas, especialmente quando ela enchia a casa estrangeiras que passavam horas fazendo “aummm”. Ou quando se fazia de vidente e contava mentiras para turistas desavisadas que pagavam por seus conselhos. Eu não aprovava sua picaretagem mística, mas apesar de todas as diferenças desenvolvemos uma amizade e ela foi importante para mim. Nós nos ajudávamos e ela me divertia, mesmo sem querer. No fundo, era uma presença que me fazia me sentir menos só. As pessoas em Bengaluru, apesar de excelentes anfitriãs, não eram necessariamente muito amigas. E a mania de ostentação característica daquele povo, também não encontrava eco em uma mulher como eu.
Minha vida se resumia a trabalhar e estudar como louca. Não tinha lazer, não passeava, quase não me entrosava com os locais, a menos do limite da sociabilidade. Focava todas as minhas energias no intelecto e acabei me surpreendendo com minha própria capacidade de aprendizado. Aprendi a conversar no idioma local, o gindi, que era falado por 70% da população, e isso me deu ainda mais liberdade para fazer o que precisava e buscar os recursos que me eram necessários na pesquisa. Quer dizer, liberdade em termos; em países como GanarÄ�jya, Kitaabii, mulheres nunca são muito livres... Talvez bem menos do que em Cedro.
No final de fevereiro, Rachna chegou em casa excitada, me dizendo que surgiu uma vaga no grupo que iria com ela para o Chomolungma. Passou uma noite inteira tentando me convencer a ir e seus argumentos mexeram bastante comigo. Eu não era tão ingênua, Kitaabii, sabia que aquilo tudo não era simplesmente amizade. Nítido estava que aquele interesse todo era causado pelo medo. Apesar dos planos em fazer da caminhada um marketing pessoal, Rachna estava com medo de ir sem alguém conhecido. Ela era muito boa com idiomas, sabia falar saxão, gálio e também o gindi, mas se sentia insegura por desconhecer as reais dificuldades que a caminha iria impor. Aquela jovem nunca havia conhecido uma montanha sequer.
Dias depois quase fui atropelada por um caminhão quando saía do instituto. Desconfiei de um homem que me seguia e, por fugir dele, corri sem prestar muita atenção na rua, não tendo morrido por muito pouco. Isso me fez pensar na vida que vinha levando e foi aí que decidi: eu iria para o Chomolungma e realizaria um sonho!
Procurei brofeseer Subramanyan e comuniquei com muito receio que pensava em partir na expedição de abril e com isso passaria exatos 17 dias ausente. Para minha surpresa ele não se opôs e ainda me pediu para lhe trazer uma lembrança de Nepalih. Falou que todo pesquisador de alto nível se impõe um desafio e que eu estava certa em exercitar corpo e mente. Como condição exigiu apenas que eu não atrasasse o cronograma da tese, o que aceitei na hora. O Instituto de Matemática tampouco me trouxe problemas, garantindo que se eu fosse bem nas avaliações finais, estava tudo certo.
No final das contas, faltava apenas o dinheiro, que consegui através do patrocínio de um fabricante local de telescópios. Se eu levasse o equipamento dele para a montanha e fizesse observações, além de tirar várias fotos, as passagens aéreas e o ingresso do parque seriam pagos pela empresa. Aceitei a proposta e com isso me restou pagar apenas o aluguel dos equipamentos de caminhada e mais os serviços da guia. Mumtaz! (Excelente!)
Quando lembro destes fatos de minha vida só me resta rir. Diga-me se já conheceu caipira mais louca que essa, Kitaabii? Aposto que não!”
--AHHa, cadê a tal da Lila? -- Zinara e Rachna rodavam pelo confuso aeroporto de Kamanduth -- A gente já fuçou cada canto desse lugar e nada! -- fazia cara feia
--Ela disse que estaria esperando a gente, daí! -- respondeu preocupada -- Será que ela nos deu um golpe e fugiu com nosso dinheiro? -- alarmou-se -- Bah, mas eu tenho nojo de gente golpista! -- gesticulou
--Jura? -- perguntou sarcasticamente -- "Ô, meu Pai, traz a peste dessa mulher pra cá!” -- pedia mentalmente
--Se ela não vier a culpa é tua, franga! -- Rachna acusou -- Por causa do teu congresso a gente só veio hoje pro Nepalih. -- falava de cara feia -- O resto do pessoal do grupo chegou ontem, daí!
--Oxi! -- virou-se de frente para a loura -- Ao contrário de você, eu trabalho e tenho obrigações, viu, fi? -- respondeu aborrecida -- Como uma das organizadoras do congresso, eu não podia largar tudo e viajar antes do fim do evento! -- argumentava -- Você esperou pra vir comigo porque quis! -- revidou -- Agora fique quieta wa la te shaghilny (e não me aborreça)!
--Ora, além de tudo é ingrata! -- revoltou-se -- E não fala nessa língua porque eu não entendo!
--You don’t need to argue because of me. (Vocês não precisam discutir por minha causa.) -- uma doce voz feminina se fez ouvir -- Se querem ir para a montanha deveriam esvaziar o coração do que é ruim. -- aconselhou -- Por que tanta impaciência? -- falava com mansidão
Simultaneamente Zinara e Rachna olharam para a mulher que lhes falava.
--Lila? -- a loura arriscou
--Ao seu dispor. -- fez o gesto de saudação -- Namastê! -- cumprimentou
“Eu fiquei sem fala, Kitaabii. Que mulher era aquela?”
--Namastê! -- Rachna cumprimentou e notou que a amiga ficou parada -- Zinara! -- chamou com o canto da boca
--Ah... -- não sabia o que fazer -- Namastê! -- cumprimentou sem jeito
“Lila era uma típica representante das mulheres de GanarÄ�jya, Kitaabii: pele morena, cabelos lisos e muito negros. Olhos amendoados, meio puxados e dentes alvos como pérolas que lhe adornavam os lábios. Usava um coque bem feito e vestia-se como uma local. Não usava jóias ou quaisquer adornos além de seus brincos de argolas douradas.
Nas mãos, belas tatuagens de hena desenhavam símbolos do budismo.”
--Um dos rapazes do grupo teve um problema e por isso me atrasei. Peço perdão. -- colocou um belo colar de flores no pescoço de Rachna -- Aapka swaagat hai! (Seja bem vinda!) -- saudou mais uma vez
A loura apenas sorriu e olhou satisfeita para o colar. “Hum, é trilegal isso aqui! Posso vender por uma boa grana quando voltar pra casa!” -- pensava
--E você... -- aproximou-se da morena e colocou o colar nela -- Ap se milkar khushÄ« huÄ«. (É um prazer conhecê-la.) -- sorria
--DhanyavÄ�d. (Obrigada.) -- respondeu timidamente -- Igualmente é um prazer conhecê-la. -- falava em gindi
--Oh, vejo que, assim como Rachna, você também fala gindi. -- sorria -- Gentil de sua parte.
--Ek bhÄ�shÄ� kabhÄ« bhÄ« kÄ�phÄ« nahÄ« hotÄ«. (Uma língua nunca é suficiente.) -- sorriu também
--Não é mesmo. -- concordou -- Vamos, queridas, vamos descansar no hotel. -- convidou falando em saxão
--Great! (Ótimo!) -- comemorou -- E eu preciso muito! -- Rachna concordou -- Essa mochila pesada me mata!
A guia pegou delicadamente a mochila da outra e a colocou nas costas. -- Vamos conversar sobre isso, porque os sherpos não levarão a totalidade das bagagens. -- olhava para a loura -- É importante saber o que deixar na mochila. -- ajeitou-se -- Vamos? -- seguiu em direção a saída
--Ufa! -- seguiu atrás, sentindo-se aliviada
“Fiquei parada acompanhando aquela mulher com o olhar, Kitaabii. Algo nela me deixou encantada. Lila parecia um ser iluminado, uma pessoa diferente de todas as que caminhavam nessa terra de Allah. Ela irradiava paz como nunca conheci quem o fizesse até então. Nem mesmo Shamash!”
--Zinara! -- a loura olhou para trás de cara feia -- Você foi trazer esse telescópio, agora não aguenta com a própria bagagem! -- reclamou no idioma pátrio
Lila concluiu que a morena também sentia dificuldades com a mochila e voltou para junto dela. -- Não lhe ofereci ajuda por achar que estava confortável. -- sorriu -- Perdoe-me a indelicadeza, vou auxiliá-la. -- ofereceu
--Por favor, não precisa. -- recusou gentilmente ao ajeitar a mochila nas costas -- É que eu estava pensando... -- não sabia o que dizer -- na caminhada. -- sorriu sem graça
Lançou um olhar de simpatia para a astrônoma. -- Vamos indo. Ainda vamos conversar detalhadamente sobre essa caminhada. -- voltou a andar
--Yaalah (Vamos lá)! -- seguiu também
“O que estava acontecendo, Kitaabii? Eu iria me apaixonar de novo? Ana w albii kona mosh daryanin... (Eu e meu coração não sabíamos...) Será?
Lila era certamente um nome forjado, tanto quanto Rachna Kalpa. Qual seria o nome dela? Quem era ela? Eu apenas sabia que era natural de Ganar�jya.
O nome Zinara quer dizer misteriosa, como Zahirah ensinou uma vez, mas aquela mulher... Ela sim, era o próprio mistério. Um mistério que meu coração já desejava desvendar...
Mas, ao mesmo tempo também pensava, será que eu estava criando uma situação? Será que minhas constantes dores na alma estavam me fazendo acreditar em mais uma ilusão?
Os hindus dizem, e aí sou eu simplificando as coisas, que Maya quer dizer ilusão. Será que eu me via subitamente presa, uma refém do destino sob os encantos de Maya?”
Fim do capítulo
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Samirao
Em: 12/10/2023
Eu jamais encararia GanarÄ?jya! Never
Solitudine
Em: 11/11/2023
Autora da história
kkkkkkkkkkkkkkkk Maama diz a mesma coisa! Especialmente quando eu brinco e digo que vou levá-la para espairecer em Varanasi!
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Samirao
Em: 12/10/2023
Saudade da Akemi habibem?? Huahuahua
Solitudine
Em: 11/11/2023
Autora da história
E como!!! Precisava dela urgentemente para ajustar minha cervical e a lombar! Lombinho sofre!
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Alexape
Em: 04/01/2023
Tô adorando saber do que Zinara aprontou do outro lado do mundo. Essas retrospectiva são deliciosas! E eu não gostava daquela bailarina chata! Gente as eleições 2014 e tanta ente gritando chupa. Sabe que eu lembro? Essa história é maravilhosa!!
Resposta do autor:
Olá querida!
Sim, essas retrospectivas são viagens ao passado carregadas por várias emoções distintas. Essa bailarina não conseguiu fãs aqui, somente o fogo de Magali e a curiosidade da mulherada, além dos ciúmes de Clarice! kkk
A chupação na roça foi devidamente cortada pelos pais de Zinara!
Obrigada por continuar comentando e gostando da história!
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 25/09/2022
Adorei a parte da Ganaraja fiquei aqui imaginando. Ri muito da chegada e do albergue pulgueiro. Puta merdaa Sério que tem barata grande assim?? Eu falo e tu nega! Zi é a maior pegadora come quieto. Já vai pegar a guia gostosa!!! Uma por continente hehe Em EBT a gente conhece Lila raiz hehe
Resposta do autor:
Essa estadia de Zinara do outro lado do mundo foi única! rs
Sim, existem baratas do tamanho de um pé, inclusive no Brasil em uma cidade chamada Ladário. Ao menos me disseram que aquele trem era barata, mas eu não fiquei olhando muito. Ave Maria! Na Colômbia também tem em alguns lugares amazônicos. E naquela região da Ásia, bem, parece que tudo lá é superlativo. E não vai aí crítica mas admiração. Isso é vida real, imagine em Ganarajya! kkkk
E lá vem ela com esse trem de pegadora! kkk
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 25/09/2022
Porra Clarice tá muito chata cararra! Parece que não quer entender a real! Eu tô morrendo de rir contigo lembrando a época das eleições 2014. A putaria eleitoral começou ali. Morri de rir com a chupação na roça hahaha Não falei que ia dar Jamila e Cátia? Tô adorando! Hehe E o papo da Leda com o ogro? Hahaha Eu eu eu CeciAdama se fu@$%! Hahahahaha toma totoma totototoma totoma
Resposta do autor:
kkkkkkkk Eita, que ela anda por conta com Clarice. Calma, menina! Releva, releva! rs
Eleições 2014... daí para frente todas elas passaram a ser infernais!
Essa chupação não foi fácil! kkk
Você previu o casal estável Jamila e Cátia. É como diria Lila de Maya: Tens percepção! rs
Quanto a Cecília e Adamastor, quem mandou pensar besteira, né? kkkkk
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 28/05/2020
Olá Solzinha tudo bem? Semaninha mais gelada!!
Clarice às vezes é infantil, faz umas birras desnecessárias, é insegura, muito sexta série... Mas gosto tanto dela, é tão humana!
Essa conversa com Zinara foi tensa, achei que em algum momento ela ia desistir e largar Zinara falando sozinha... Masss a caipira é danada! Kkkkkk... Ainda veio de seduzência pro lado dela, não deu pra resistir!
Dona Leda, dona Leda... Ela tá certa em não querer fuleiragem na casa dela, elas que vão pra outro lugar!
Ri com essa apuração de votos... Kkkkkk... Clarice quase matou Zinara!!!
Jamila e Cátia tentando se curar dos amores do passado, acho um casal nada a ver.
O ogro parece que finalmente acordou pra vida e com a preciosa ajuda de dona Leda, tá querendo tomar um rumo na vida, nem tudo está perdido.
Akemi, Cecília e Adamastor.... Kkkkkkkkkkkkkk.... Akemi mão pesada né? Moço frouxo, moça escandalosa.... Kkkkkk....
Essa ruiva lazarenta parece um fantasma, toda hora aparece! Credo!
Essas andanças de Zinara são formidáveis, eita mulher viajada!
Lila... Maya....
Grande capítulo, parabéns sempre!!
Beijos
Resposta do autor:
Olá Gabinha!
Clarice é uma pessoa linda mas muito cismada. E quando fica insegura, sai de baixo! A caipira não está enrolando mas é uma criatura naturalmente enrolada e diante de certas situações se embanana toda. kkk
Leda não gosta de resfulengo na casa dela e é respeitada nesse limite. Zinara e Clarice têm um fogo mas também são mansa.
Creia que essa apuração foi um processo traumático! rs
Você não gosta de Cátia e Jamila? Olha que as duas têm tudo a ver.
E o ogro... não se pode ser ogro a vida inteira, não é? Se bem que hoje em dia é um perfil que está na moda...
Maya e Tao estão intimamente interligadas. Não à toa.
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 14/06/2024 Autora da história
Kkkkkk Que bom! Fico feliz em saber!
Beijos,
Sol