DO OUTRO LADO DO MUNDO - 2
CAPÍTULO 150 – E 2014 SE DESPEDIU ASSIM...
--Intonci, muié, agora nóis vai pudê dizê qui na graça di Deus e da Virgi, os planu di Raed e mais ya Rafi di fazê a maió festança di finar ano da história dessi país vão dá certu, num sabi? -- Amina falava empolgada -- Labutamu qui nem uns condenadu, vamu labutá mais ainda na véspera das festa, mas vai valê a pena! -- sorria -- Ya Leda já mi cunfirmô que as fia dela vão ví mais o neto e um genru, e ya Ritinha e ya Zezé também. Pru anu bão vão chegá a dotôra di minha fia mais a famia dela e us amigu di Zinara e Clarice. -- não via a hora -- Vô butá as criança tudu na lida mais nóis! -- planejava -- Só us mininu menó é que não, purqui inda num intendi muita coisa.
--Tá certo... -- Najla respondeu sem muito ânimo -- Aisha e Janaína disseram que vão ajudar também e chegam aqui no dia 23. -- comentou -- Nesse ano Janaína vai poder folgar porque conseguiu um bom dinheirinho com uns serviços que apareceram.
Amina ficou examinando o rosto da cunhada. -- Mais o qui é qui ocê tem qui num si anima cum nada? -- perguntou desconfiada -- É nóis tudu correndu qui nem barata tonta nus preparativu das festa e ocê fazendu os trem iguar qui tivessi indu pra forca!
A ex fazendeira respirou fundo e se levantou da mesa. Estavam na cozinha.
--Ai, Amina, desculpa eu não entrar no clima... -- andou até a porta e olhou para o quintal -- Mas eu ando tão agoniada, tão triste... -- suspirou -- E depois desse final de semana...
--Mas ocê num passô o finar di semana cum teu homi, pur que vortô aguniada e tristi dessi jeitu? -- não entendia -- Si bem qui tem mais di mêis qui tô ti vendu nessa consumição pur causu di Marco.
--É o que já te disse uma vez... -- os olhos marejaram -- Cada vez mais tenho certeza de que Marco tá tendo um caso... -- derramou uma lágrima
Raed chegava na cozinha nessa hora e pôde ouvir a última frase. “O que???” -- arregalou os olhos -- "O homi créu tá traindu minha irmã??” -- pensou furioso
--Mais pur que issu, muié? -- queria saber -- Ocê já mi falô dessas discunfiança, mais nunca qui pega ele cum ninguém. Dondi vem issu di achá qui o homi tá tendu casu? -- cruzou os braços -- Só pur que faiz umas ginástica?
Raed se escondeu no corredor para ouvir escondido. “Essa eu queru sabê!” -- pensou decidido
--Ele tem se cuidado demais, malhado demais, não é simplesmente fazer umas ginásticas... E tem ainda uns telefonemas misteriosos, uns emails... -- contava -- Quando eu indago, ele sempre fica sem graça e me enrola! -- secou os olhos com uma das mãos
--Hum... -- a cunhada analisava a situação
--E ontem de madrugada, na véspera de voltar pra cá, fui pegar minha passagem de ônibus que tava nas coisas dele e encontrei isso. -- tirou um papel do sutiã e olhou para Amina
--Quê qui tem aí? -- foi para junto da outra e recebeu o papel -- Uai, é um indereçu e uns ôtro trem iscritu! -- constatou ao ler
--É um bilhetinho, Amina! -- respondeu agoniada -- Lê o que diz aí: -- olhou para o papel -- "Me encontre na hora marcada nesse endereço. Será que ainda lembra?” -- apontou o endereço no papel -- Isso é coisa de amante! -- olhava para a cunhada -- Lê o resto: -- continuou -- "Quero ver se vai fazer valer sua palavra de homem! Tô te esperando na empolgação! Vamos virar a Capital de pernas pro ar e eu vou te deixar arriado! Se prepara!” -- terminou de ler
--Oxi!! -- Amina franziu o cenho de cara feia -- Dexá arriadu?
--Arriado de tanto fazer as coisas, criatura! -- Najla esclareceu -- A mulher vai tirar o couro dele de tanto... você sabe! -- gesticulou
“Mais qui indecença!!!” -- Raed pensava revoltado -- "O créu di sacanagi marcada na Capitar!”
--E ainda tem a assinatura embaixo, ó! -- mostrava no papel -- TGO!
--E quem diachu é TGO?? -- Amina não sabia
--Ah, sei lá, devem ser as iniciais da amante dele. -- concluiu nervosamente -- Tatiana Gonçalves Oliveira, Tânia Guimarães Oliveira, vai saber? -- circulava pela cozinha com o papel na mão -- Só sei que depois de amanhã, nesse horário, -- sacudia o bilhete -- Marco vai estar com uma garotona no bem bom em algum motelzinho da Capital! -- lutava para não chorar -- Ai, Amina, eu tô arrasada... -- cobriu o rosto com as mãos -- Por que sempre sou traída por quem amo? -- não se conteve e chorou com tristeza -- Oh, khaayen, oh, khaayen... (Oh, traição, oh traição...) -- soluçou
--Ô, muié... -- foi até a cunhada e a abraçou -- Fiqui assim, não... -- consolava
--Pois issu num vai ficá assim, não! -- Raed entrou na cozinha furioso, assustando as mulheres -- Mi dá essi bilheti aqui, Najla! -- ordenou -- Vô pegá meu facão e í pra Capitar módi cortá us trem di homi du créu im mir pedáçu! -- jurou -- Si ele pensa qui vai disonrá ocê e nossa famia dessi jeitu, tá muitu inganadu, num sabi? -- os olhos faiscavam
--Não, Raed... -- chorava -- Eu não quero saber disso de você cortando nada! -- desvencilhou-se de Amina -- Você não vai fazer nenhum mal a ele! -- escondeu o bilhete no sutiã de novo -- Também não quero saber de ver meu irmão na cadeia por causa de uma atitude impensada!
--Najla, tiri essi trem daí e mi dê! -- insistia pelo bilhete -- Eu vô pra Capitar e vô pegá o créu e a amanti deli di carça arriada! -- estava com ódio -- Mi dá! -- foi até ela
--Laa, Raed, laa... (Não, Raed, não...) -- correu para o quintal
--Vorta aqui! -- o homem correu atrás
--Oxi, minha Nossa Sinhora! -- Amina saiu de casa também -- Só mi fartava mais essa! -- ficou olhando para os dois irmãos correndo no quintal -- Nessa fundura di campionatu o homi di Najla vim mi fazê umas farseta dessi nívi! -- balançou a cabeça contrariada
--Ocê mi dê essi paper! -- Raed corria atrás da irmã
--Laa, Raed, laa... (Não, Raed, não...) -- Najla corria desgovernada -- Eu não quero saber disso! -- chorava
--Mi dê! -- insistia furioso
Georgina ouviu a confusão e veio ver do que se tratava. -- Oxi, mais o quê qui é issu? -- aproximou-se da mulher mais velha -- Pur que elis tão nessa gritaria toda, uai? -- reparava nos irmãos -- Vixi, qui caíru nu chão tudu imbolado! -- arregalou os olhos
--Ocê mi dê essi paper, muié! -- Raed rolava no chão com Najla
--Não se atreva a colocar a mão nos meus seios! -- tentava mordê-lo
--Eu queru é o paper! -- buscava encontrar -- Ai! -- levou uma mordida na mão
--Dona Amina, a sinhora num vai fazê nada? -- Georgina perguntou agoniada -- Que paper é essi qui seu Raed qué?
--Humpf! -- fez um bico -- Eu vô resorvê essa situação e é agora! -- olhou para Georgina -- E fique sabendu qui na nossa ausênça quem cuida da roça e dus trem tudu é ocê! -- avisou
--Ocês vão pra ondi?! -- não entendia
--Pra Capitar! -- afirmou decidida e caminhou até o marido e a cunhada, que se embolavam no chão
--Pára di mi mordê e mi dá o paper! -- o homem reclamava
--Sai de cima de mim, seu bruto! -- tentava se desvencilhar
--Acabô essa fulerági! -- Amina chegou batendo palmas -- Dêxi di si imbolá nu chão, qui daqui a pôcu tá todu mundu aqui vendu essas indecença! -- puxou o marido pelo braço -- Levanta, homi! -- ordenou -- Larga tua irmã agora! -- beliscou
--Ai, muié, essas unha cumprida! -- reclamou ao se afastar da irmã -- Indecença é o qui o créu tá fazendu, issu sim! -- sentou-se
--Indecência é, mas eu não quero ver você cometendo uma loucura! -- sentou-se também e se ajeitou -- Pode ser um safado, mas é o homem que eu amo.
--Ocê ficô foi muitu frôxa dispois dessi créu, num sabi? -- provocou
--Vamu resorvê issu di uma veiz pur toda! -- gesticulou -- Vamu tudu pra Capitar nu indereçu qui Najla achô, isperá a hora qui marcaru e vamu vê si tem amanti ô si num tem! -- Amina decidiu -- E si tivé, Najla decidi o que fazê!
--Si tivé eu capu eli! -- Raed protestou -- Cortu us trem di homi tudinhu fora!
--Nada disso! -- Najla se levantou resoluta -- Vamos todos pra Capital, mas se Marco tiver amante, -- ajeitou o lenço na cabeça -- EU mesma me acerto com ele da minha maneira! -- decidiu -- Chega de sofrer por causa de homens infiéis! -- secou o rosto novamente -- Marco ainda não conheceu quem é Najla Raja quando fica com ódio! -- os olhos faiscaram -- Ele não conheceu! -- assumiu a pose da fazendeira de outrora
Amina e Raed se entreolharam desconfiados.
“Sintu qui a cobra vai fumá, num sabi?” -- a mulher pensava
***
Getúlio estava fazendo um serviço de pintura na casa de um dos frequentadores do centro onde estava morando. Terminada a manhã, almoçava tristemente comendo sua marmita no quintal do homem.
--Olá, amigo, aceita um refrigerante? -- o dono da casa veio chegando com uma garrafa grande -- Você trabalhou muito hoje e tá fazendo um calor danado. -- sentou-se do lado dele -- Tá a fim? -- sorriu -- Trouxe copo. -- mostrou o copo de plástico na boca da garrafa
--Valeu. -- pegou o copo agradecido -- O senhor é responsa, seu Martins. Valeu mermo. -- agradeceu enquanto era servido
--Disponha. -- ficou olhando para ele -- Espero que com isso você possa almoçar mais satisfeito.
Sorriu desanimado. -- Pensandu na vida, sabe cumé?
--Acho que sei. -- respondeu compreensivo -- Tenho um filho na sua idade. -- pausou brevemente -- Se quiser desabafar...
Getúlio continuou comendo e pensou se deveria falar ou não. Após algumas garfadas decidiu desabafar. -- Eu tava aqui pensandu... As parada da vida são mermo foda! -- calou-se bruscamente -- Foi mal, aí. -- desculpou-se
--Pode falar, eu não ligo. -- gesticulou despreocupado -- Só tenta ser claro porque você usa muita gíria e nem sempre eu te entendo. -- comentou com jeito
Deu mais algumas garfadas e voltou a falar depois de terminar. -- Nu ano passado, pur essa época, minha ex mulé tava mi falandu de passá final de ano na roça... Uns lugá onde mora uns pessoal chegado da sogrona. -- lembrava -- Eu num curti porr* nenhuma, fiquei boladão, reclamei direto, zoei as parada toda... -- pausou brevemente -- E as festa foram foda, cara... -- admitiu -- mas na época eu num dei valor... -- lamentou -- Hoje daria tudo pra podê ir... -- seus olhos lacrimejaram -- Meu muleque me disse ontem que a galera vai de mulão pra lá... menos eu... -- derramou uma lágrima -- Ficá sozinho no natal... -- secou os olhos
--Nem sempre a gente dá valor às oportunidades quando elas vêm, não é? -- balançava a cabeça -- Sei bem o que você sente porque quase perdi minha família no passado. -- confessou -- Foi por muito pouco.
--É? -- surpreendeu-se
--Verdade. -- confirmou -- Eu era taxista e tinha uma preguiça danada de trabalhar. -- contava sua história -- Lá pelas tantas comecei a beber e beber e beber... -- lembrava do passado -- Encurtando a história longa, perdi o táxi num acidente, não arrumei mais serviço, minha mulher me deixou, levando meu filho com ela, e eu virei um pedinte de rua.
Identificou-se com a história que ouvia. -- Caraca!-- estava surpreso -- Mas como que o senhor fez pra saí dessa?
--Quando eu estava no fundo do poço, conheci um anjo chamado Leda, que fazia atendimento fraterno aos moradores de rua. -- olhou para o homem -- E ela me ajudou, lá pelas tantas me levou pra casa dela, me colocou pra trabalhar, me apresentou ao centro e isso mudou minha vida. -- pausou brevemente -- Naquela época as filhas dela eram crianças, assim como meu filho.
--Sogrona?? -- surpreendeu-se
--Ela mesma! -- confirmou -- Talvez você não tenha prestado muita atenção nas pessoas com quem conviveu por tantos anos. Leda é uma pessoa maravilhosa! -- sorria -- Ela me disse um monte de desaforos, do jeito como sabe que ela faz. -- os dois riram brevemente -- Mas me abriu os olhos e mudou tudo pra mim. -- continuava contando -- Depois fui morar no centro, exatamente como você, fiz tratamento pra largar a bebida, comecei a estudar a doutrina, a fazer pequenos serviços na casa de um e de outro... e daí fui estudar mecânica de automóveis no SERAI. -- pausou brevemente -- Comecei a trabalhar nisso, reconquistei minha mulher, meu filho e hoje sou dono da pequena oficina que você conhece.
--Pô, aquela tua oficina é do cara... -- interrompeu o que dizia -- é responsa. -- consertou-se
Achou graça. -- Mas nada disso veio fácil e nem da noite pro dia. -- advertiu -- Foi muito trabalho, dedicação e esforço!
Balançava a cabeça concordando, enquanto comia.
--Você não é alcoólatra como eu era, no seu caso pode ser ainda mais fácil, embora vá exigir muito de você. -- tentava convencê-lo a se esforçar -- Todo mundo te acha um bom pintor, mas você podia estudar pra ser ainda melhor. De repente se certificar e trabalhar pintura industrial também, por que não? -- sugeriu -- Melhorar sua apresentação, seu modo de falar, o modo como vê a vida...
--Será qui a gata ia se amarrá se eu caísse mais no batente? -- perguntava mais para si do que para o outro -- Eu nunca fui chegado a estudá... -- não gostava da ideia -- Aí é foda!
--Talvez ela volte sim, por que não? -- incentivava -- Também nunca fui chegado a estudar, mas... rapaz, escuta o que eu vou te dizer: -- sentou-se de frente para ele -- estudar é um saco mesmo, mas é a única forma de progredir de modo honesto. -- aconselhou -- E o saber não ocupa espaço. A gente abre a cabeça, vê coisas que antes não via, fica mais independente... Só tem a ganhar, isso eu te garanto!
Getúlio terminou de comer e ficou pensando no que ouviu.
--Eu não sei se Raquel está namorando outro homem, mas se está, talvez ela só esteja procurando nele o que nunca encontrou em você. -- falava com jeito -- As filhas de Leda são moças trabalhadeiras e de repente sua ex mulher cansou de esperar você se mexer.
--Foi mermo... -- concordou envergonhado -- E se pegô cum um X9 dos peito cabeludo! -- afirmou com raiva
Não entendeu bem a última frase mas deduziu que ele falava do novo namorado de Raquel. -- Cuide de você, melhore sua vida, que de repente... sei lá, sua ex mulher volta. -- deu um tapinha no braço dele e se levantou -- Pense nisso! -- aconselhou -- E se terminar essa pintura hoje, eu agradeço! -- afastou-se
--Valeu. -- levantou-se também e ficou pensando -- Acho que o coroa tá certo... -- respirou fundo -- Voltá pro batente. -- arrumou-se para continuar o serviço
***
--Amor, será que vai ser mesmo uma boa ideia isso de passar ano novo na roça? -- Lúcia perguntou desconfiada enquanto servia o jantar -- Eu adoraria, mas a família de Zinara é de outro país, tem outra cabeça... -- olhou para Magali -- Se o povo daqui já não é muito tolerante com casais gays, imagina o de Cedro!
--Eu não pensava em ir pra lá, mas depois que Clarice convidou fiquei na pilha de ver como são as festas na roça. Ela faz uma propaganda forte! -- riu brevemente -- Hum, essa sopinha tá cheirosa... -- elogiou
--Obrigada. -- sorriu ao se sentar -- Espero que o cheiro corresponda ao gosto. -- soprou um beijinho para a esposa
--Seu tempero é sempre delicioso... -- afirmou com duplo sentido -- E eu adoro provar dele! -- piscou
--Deixe de ser saliente na hora do jantar, dona Magali. -- respondeu brincalhona -- E você não me respondeu. -- pegou a colher -- Não acha perigoso a gente ir pra lá? Vão notar que somos um casal. -- começou a comer
--Clarice e Zinara também são e ninguém faz nada! É só a gente dar uma disfarçada básica, que tá tudo certo. -- começou a comer também -- Delícia! -- elogiou
Ficou toda prosa com o elogio. -- Disfarçar? Justo você que é contra isso? -- perguntou melosa
--Às vezes é necessário. -- limpou os lábios com guardanapo -- Além do mais fiquei sabendo que Zinara tem dois amigos gays, casadíssimos, e eles vão também. -- informou antes de voltar a comer -- Gente, essa sopa tá o must!
Sorriu. -- Se é assim... -- considerou -- E no natal, já decidiu o que vamos fazer? -- perguntou curiosa
--Ei, eu não decido nada aqui. -- respondeu bem humorada -- Só obedeço! -- soprou um beijinho
--Ah, amor, no meu caso é mais fácil... -- olhava para a esposa -- Desde que vovó morreu e a gente se assumiu, minha família rompeu comigo... Mas você tem família que não te rejeita, né? -- ajeitou-se na cadeira -- Natal é época de ficar junto mesmo... Mas não sei o que você pensou em fazer... -- voltou a comer
--Minha família nunca ligou muito pra isso de passar natal junto e no mais, eu pensei que, de repente, se você quisesse... -- parou de comer e se debruçou na mesa -- a gente podia viajar pra serra, no sul, e curtir um natal romântico, só você e eu... -- falava sedutoramente -- Depois já ia direto pra roça!
Bateu palminhas. -- Ai, eu quero!! -- concordou de pronto
--Então tá decidido! -- voltou a comer -- "Esse natal vai pegar fogo!” -- pensava
A bombeira pensou um pouco e perguntou desconfiada. -- Mas e a faculdade? Você não vai trabalhar no período entre natal e ano novo? -- estava pasma
--Não. -- respondeu simplesmente
--Mas você me disse que sempre trabalhava e... -- não conseguia acreditar
--Antes não havia Lúcia. -- interrompeu-a sensualmente -- Agora há! -- sorria -- Acabou-se essa história de trabalhar durante os recessos. -- prometeu
Lúcia ficou toda prosa com o que ouviu e voltou a comer com gosto. “Mal posso esperar!” -- pensou empolgada -- "Acho que vou fazer um tipo de mamãe Noel sexy pra alegrar esse natal!” -- decidiu
***
Clarice chegava em casa do trabalho e se surpreendeu ao ver que Raquel saía de um carro desconhecido. “Ué?” -- não reconheceu quem seria
Ao dar de cara com a irmã, a mulher ficou visivelmente sem graça. -- Eu tive que sair do trabalho mais tarde e por isso pedi pra mamãe buscar o Di na escola. -- foi logo dizendo -- Aí uma colega me deu carona e...
Deduziu tudo. -- Desde quando voltou pra ele? -- interrompeu-a com jeito -- Eu nem sabia que o Di tava aqui. -- parou diante da outra -- Pra você já ir se justificando desse jeito, só pode ser porque tava com seu cigano. -- olhava para a irmã -- Não é?
Abaixou a cabeça. -- Não conta nada pra mamãe... -- pediu envergonhada -- É que a gente vai tudo pra roça e ele queria se despedir de mim e...
--Tudo bem, não precisa me dar satisfações. -- interrompeu-a novamente -- Eu não tenho nada com isso e é a sua vida. -- respondeu sem acusações -- Não falarei nada. -- garantiu
--Obrigada. -- olhou para Clarice
--Mas tenha cuidado, Raquel. -- advertiu -- Esse homem não é uma pessoa confiável!
--Alguma vez me meti com você e seu relacionamento com a outra lá? -- perguntou de cara feia -- Você vive doida pra casar com ela, que eu sei, e eu não falo nada! -- acusou -- Enquanto isso, ela só te enrola!
Deu um suspiro profundo. -- Faça como achar melhor. -- respondeu secamente e foi abrir o portão
“Todo mundo se met* com Fagundes, mas ninguém olha pro próprio rab*!” -- pensou contrariada ao se aproximar do portão -- "A Comunidade não é nenhuma santinha e nem aquele Adamastor de Cecília me passa muita firmeza!” -- estava despeitada -- "Por que só meu cigano não presta?” -- não aceitava
As duas irmãs entraram em casa sem se falar.
--Ih, chegaram juntas! -- Leda sorriu ao ver as filhas -- Que caras são essas? -- estranhou de imediato
“Mas ela não deixa passar nada!” -- Raquel pensou contrariada -- O dia foi horrível, mamãe! -- mentiu -- Foi um sufoco convencer minha chefe a me liberar pra viajar nesse fim de ano. -- parou no meio da sala -- Cadê o Di? -- queria mudar de assunto
--Tomando banho. -- cruzou os braços -- Mas você já não tinha tido essa conversa com a chefe? -- perguntou descrente -- Por que isso de novo? -- insistiu
--E eu também tive um dia daqueles! -- Clarice queria sair daquela conversa -- Tenho muito trabalho de aluno pra corrigir em casa... -- deu um beijinho na mãe -- Tomar um banho, fazer um lanchinho e trabalhar, senão vai ser impossível viajar em paz. -- sorriu -- Deixa eu ir lá. -- foi para o quarto
--Será que você e Clarice não se estranharam porque sua irmã sabe de alguma coisa que eu não sei? -- continuava insistindo no assunto -- Será que você já voltou pro cigano pornô e se arengou com Clarice por causa disso? -- concluía
“Mas, meu Deus, mamãe não existe!” -- pensou impressionada -- Ai, mamãe, por favor, não começa? -- respondeu contrariada -- Deixa eu pegar as coisas do Di, que assim que ele sair do banho a gente vai embora. -- foi para o quarto da mãe -- Tenho um monte de coisas pra fazer ainda hoje! -- continuou falando
Leda suspirou e balançou a cabeça pensativa. “Meu Deus, por favor, abre os olhos dessa menina...” -- desejou preocupada
***
Cátia preparava um texto explicando os motivos por trás da pressão a favor do fim do modelo de partilha de produção para o Prima di Sale em Terra de Santa Cruz. Tentava explicar, de forma didática, que os falaciosos argumentos alardeados pela mídia escondiam os verdadeiros objetivos de todo aquele movimento em favor do tão alardeado modelo de concessão.
--Pronto! -- terminava de escrever a primeira versão -- Agora vamos reler pra evitar os erros de grafia. -- voltava ao início do texto -- Professora tem que escrever certo, faça-me o favor! -- falava sozinha -- Qual a diferença entre o modelo de concessão e o de partilha? -- lia em voz alta -- No modelo de concessão, qualquer empresa pode arrematar uma reserva, com ou sem a Empresa Nacional de Petróleo, e sem o menor compromisso com o mercado interno do país. Ganha quem oferece os maiores lances em dinheiro, ou seja, os maiores bônus de assinatura. O dinheiro arrecadado com estes leilões não têm destinação garantida para áreas sociais e além de tudo, devido a lei Kandir de 1996, que libera qualquer imposto sobre produtos exportados, as empresas estrangeiras abarrotam seus navios petroleiros de óleo e enviam tudo para o seu país de origem. A única taxação que este petróleo sofre são os royalties e as participações especiais, sendo que estas últimas só incidem em campos de produções muito elevadas. Resumindo, o que se paga por este óleo extraído é muito pouco, quase nada, em comparação com o que as empresas ganham. E esta situação dura pelo menos 30 anos, que é a duração de uma concessão. -- pausou e balançou a cabeça -- Será que deu pra explicar que esse modelo é uma roubada que poucos países do mundo praticam? -- perguntou-se ao se levantar
A loura caminhou até a janela refletindo sobre o que havia escrito e analisando se deveria acrescentar mais informações ao texto. Decidindo que estava satisfatório, aproximou-se mais uma vez do computador e retornou com sua leitura.
-- No regime de partilha, o Governo tem mais controle sobre a atividade petrolífera e lucra com ela porque o óleo extraído é dividido entre o Governo e as empresas explorando os campos de petróleo. Neste regime, ganha o leilão quem oferece o maior percentual de óleo lucro para a União (obs: óleo lucro é o valor de petróleo produzido subtraído das despesas executadas para produzi-lo e taxas). Os lucros do Governo nos contratos de partilha compõem um Fundo Social, cujos recursos são previstos para serem destinados ao desenvolvimento social e por isso dizem que o Prima di Sale é o passaporte para um futuro promissor. -- pausou brevemente para analisar -- Tá bom, vamos continuar. -- voltou a ler -- Mas, se não resolvermos a questão da Dívida Pública e continuarmos nesse entreguismo e corrupção desmedida, nada de bom será feito com esses recursos. Claro também que neste modelo as empresas estrangeiras podem exportar sua cota de óleo no mesmo esquema que no modelo de concessão, só que o Governo recebe mais que somente royalties e participações especiais. Na partilha, outro ganho é que a Empresa Nacional é operadora obrigatória dos blocos com 30% de participação mínima no consórcio vencedor, além de poder aumentar esta participação durante a realização do leilão. -- interrompeu a leitura -- Será que eu deveria mostrar melhor que isso não é ruim pra Empresa, como a imprensa e certos políticos gostam de dizer? Será que eu devia explicar que a urgência em extrair esse petróleo é uma invencionice? -- questionava-se -- Vamos continuar lendo que no final eu penso melhor nisso. -- decidiu enquanto examinava as figuras que colou no texto -- Pensem, reflitam com calma e respondam: qual dos dois modelos é mais interessante ao país? -- voltou a ler -- Na minha visão, certamente é o de partilha. E por isso, me parece muito claro porque a grande imprensa bate tanto na tecla de que a partilha de produção é um atraso aos interesses do país, quando na verdade, o que ela chama de ‘interesses do país’ eu chamo de ‘interesses do Capital Internacional’. -- sorriu -- Essa foi uma flechada certeira! -- exclamou satisfeita
(Nota da autora: para quem quiser ler mais sobre este tema, recomendo que procurem as postagens sobre os modelos de partilha e concessão no grupo Gente Brasileira, do Facebook: https://www.facebook.com/groups/1479888732272977/permalink/1483269158601601/)
Cátia estava com seu perfil no LivrodasFuças aberto e ouviu quando alguém a acionou com uma mensagem. Decidiu dar um tempo no que fazia e ver quem lhe procurava.
--Ih, é Vanessa! -- constatou surpreendida -- Ué? -- aproximou o rosto da tela -- Que diabo de foto de perfil é essa que ela me arrumou? -- notou que havia mudado -- Gente! -- arregalou os olhos -- Ela tá de burca?? -- chocou
Vanessa: Oi, professora! Passando aqui pra dar um alô e dizer que já voltei pra casa depois de muitas pesquisas e um período de grande aprendizado em Aethiops! :P
Cátia: Oi...
Cátia: O que aconteceu enquanto esteve lá??
Vanessa: Pesquisei e fiz muito trabalho de campo naquela fenda! Isso me proporcionou um volume substancial informações interessantes que eu adoraria discutir pessoalmente com você
Vanessa: mas, enquanto não dá, vou preparando minha dissertação e mando pra sua análise!!
--Embora o trabalho me interesse muitíssimo não é sobre isso que eu tô perguntando! -- a loura falava sozinha -- Quero entender que negócio é esse de foto com burca!
Cátia: É impressão minha ou você tá usando burca???
Vanessa: Ah, sim!
Vanessa: Fui convertida, professora! Eu vi a luz e atendi aos apelos do profeta!
Cátia: Como é que é????????
Vanessa: Agora sou muçulmana!
Cátia: Gente! E como foi isso??
Vanessa: rs
Vanessa: Eu nunca tinha visto uma fenda aberta, professora!
Vanessa: Depois que vi, tudo mudou!
Cátia: Humpf!
Cátia: Minha vida também mudou depois que eu vi uma fenda aberta, mas... foi em outro sentido...
Vanessa: Oxi!
Vanessa: Eu pensava que a senhora nunca tinha visto a fenda aberta de Aethiops.
--Não foi bem essa a fenda aberta que eu vi, minha filha! -- sorriu maliciosamente -- Mas que a vida mudou, ah, isso mudou! -- falava consigo mesma -- E quantas fendas vieram depois... -- considerava -- Cada fenda do arco da velha! -- riu
Cátia: Essa aí eu não vi mesmo. Mas vi outras...
Cátia: Porém, voltemos ao assunto original: como foi que você se converteu? Ainda não entendi!
Vanessa: A equipe local que colaborou conosco era toda muçulmana. E eles sempre interrompiam os trabalhos para as orações
Vanessa: Cinco vezes por dia
Vanessa: E a constatação das mudanças que ocorrerão nesse planeta explicadas pela ótica da religião...
Vanessa: É uma história longa, mas acho que eles souberam me converter. rs
Cátia: Mas... você vai viver aí no calor de São Sebastião com essa burca preta toda tampada??
Vanessa: Nossa religião é clara, professora
Vanessa: Uma mulher deve manter suas belezas preservadas
Vanessa: Fui convertida por inteiro, então me visto como devo! Agora sou outra! Pense numa convertida!
--Minha nossa! -- surpreendeu-se -- Como é que pode?
Cátia: Tô boba!
Vanessa: rs
Vanessa: Todos aqui estão. Não sei porque!
--Não sabe porque?? -- riu gostosamente -- Ai, ai, a mulher vivia ostentando os decotes mais ousados do planeta e andava com a bunda quase toda de fora, vai passar três meses em outro país e depois volta com um modelito desses que só deixa os olhos à mostra e não sabe porque o povo se choca! -- estava pasma -- Essa foi boa!
Vanessa: Agora deixa eu ir que tá na hora da reza. Ainda tenho que descobrir pra que direção fica a cidade do profeta
Vanessa: Mas trouxe bússola e mapa
Vanessa: Hei de acertar!
Cátia: Ah, tá
Cátia: Boas rezas!
Vanessa: Salaam! Beijos!
Cátia: Beijos!
--E o pior é que a culpada disso tudo fui eu! -- continuava pasma -- Fui inventar da garota pesquisar em Aethiops e deu nisso: saiu gostosona e nua e voltou beata e enrolada com pano! -- balançava a cabeça contrariada -- Que coisa!
--Então quer dizer que Cátia Magalhães provoca mudanças tão drásticas assim, ya habibi? -- uma voz conhecida a surpreendeu -- Será que eu também viro beata? -- aproximava-se lentamente -- Ou ainda não cheguei no patamar da gostosona? -- sorria sensualmente
--Ah, não, você não! -- levantou-se e caminhou em direção a outra -- Você é toda pro pecado, meu bem, não há quem te converta! -- olhava a amante de cima a baixo
--Será que não? -- parou diante da geofísica -- Vai que de tanto ser usada e abusada por você, eu me decido por me enclausurar em algum lugar pra levar uma vida santa? -- fazia um charme
--Você até pode se enclausurar, -- puxou-a pela cintura com força -- mas só se for aqui em casa comigo! -- sorria maliciosamente -- Não foi à toa que te dei uma cópia das chaves daqui! -- beijou-a com desejo -- Que surpresa... maravilhosa... essa visita! -- falava entre beijos
--Já que tenho as chaves, ya billadhi askara (minha amada viciante)... -- envolveu o pescoço da loura com os braços -- Então posso vir sem avisar e sempre que eu quiser... -- beijou-a também
--Minhas portas estão sempre abertas pra você, minha delícia! -- deslizou as mãos até as nádegas da advogada -- E outras coisas também! -- mordiscava-lhe os lábios
--Ah, é? -- guiou a amante até a poltrona mais próxima -- Ainda não vi essas outras coisas... -- empurrou-a para que se sentasse -- E vim doida pra ver... -- começou a se despir lentamente, desabotoando a blusa
--Não seja por isso! -- puxou a amada para que deitasse sobre si e reverteu as posições rapidamente -- Não seja... por... isso... -- falava entre beijos mesclados por mordidas -- E tira essa roupa... -- começou a despir a parceira com pressa -- que eu também... tô querendo ver... -- seguia beijando cada parte de pele que desnudava
--Ai, Cátia... -- gemia excitada -- Vem, vem... -- buscava despir a loura também -- Ah! -- gemia
Mãos ansiosas jogavam as peças de roupa da advogada pela sala até que os lábios conseguissem finalmente chegar onde mais desejavam. -- Abre mais pra mim, vai? -- mordia a coxa dela devagar enquanto arranhava-lhe a outra perna de leve -- Hum?
--Walaw! (O prazer é meu!) -- abriu bem as pernas e sorriu sensualmente -- Tacaalii? (Vem?)
A geofísica segurou a mulher pela cintura e mergulhou no sex* dela, provocando e lambendo com a paixão que lhe era peculiar. Jamila gemia alto e deleitava-se com o prazer que sua amante lhe proporcionava.
“Enquanto isso a outra vê a fenda aberta e se cobre de pano!” -- a loura pensou de repente -- "Eu quero é mais!” -- continuava saboreando a namorada com muita vontade
***
Janaína lia o jornal do dia quando de repente uma notícia chama sua atenção. Reparou nas pequenas fotografias de dois lutadores e arregalou os olhos com o que descobria naquele momento. Levantou-se rapidamente e correu até onde a esposa estava.
--Aisha, olha isso aqui! -- mostrava a página do jornal
--Que susto, criatura! -- olhou espantada para a esposa -- Eu aqui estudando e você me vem com esse jornal assim do nada! -- reclamou
--Você não me disse que tua mãe tava desconfiada de Marco? Que ela tava até pensando que o cara tava tendo um caso? -- apontou a foto do homem -- Olha aqui porque ele andava marombando tanto! Matei a charada! -- afirmou orgulhosa -- Só não entendi porque ele escondeu da gente que ia lutar.
--Mas o que...? -- pegou o jornal e leu a notícia rapidamente -- Ele vai lutar hoje??? -- levantou-se de um salto -- Então era isso... -- jogou o jornal na mesa e correu até o telefone -- Mamii precisa saber disso e vai ser agora! -- começou a discar o número da mãe e esperou -- Alô, Georgina? Tudo bem com todo mundo aí? -- pausou brevemente -- Graças a Deus, aqui também tá tudo ótimo. Olha só, cadê mamii? Preciso falar com ela. -- ouvia a resposta -- O que?? E pra fazer o que? -- ficou surpresa -- E foi todo mundo junto??
--Todo mundo foi pra onde? -- Janaína estava curiosa
--Gentem do céu, que loucura! -- passou a mão nos cabelos nervosamente -- Fica atenta aí e qualquer coisa me fala! Tchauzinho! -- desligou o telefone e olhou para a mulher -- Janaína do céu, se arruma! -- reparou nela -- Pensando bem vai assim mesmo que tá bom. A gente tem que ir pra Capital agora mesmo e não dá pra perder tempo! -- afirmou decidida -- Deixa eu só trocar de blusa e calçar o sapato. -- correu para o quarto
--Nossa! -- achou graça -- Isso tudo é só pra ver a luta? -- foi para o quarto também -- Será que dá pra me explicar o que tá acontecendo? -- pôs as duas mãos na cintura
--No caminho eu falo. -- arrumava-se correndo -- Basta você saber que a vida de Marco tá correndo perigo!
--Correndo perigo? -- não entendia -- Por causa da luta?
--Não, mon Cher, por muito pior! -- pegou a bolsa -- Mamii foi com tio Raed e tia Amina pra Capital pra pegar teu amigo no flagra. -- correu até ela -- E se a velha Najla Raja, ressurgir das cinzas... -- olhava para a esposa -- eu não queria estar na pele do Marco! -- foi andando para a sala -- Vamo lá que a porca vai torcer o rab*!
--Ai, mas que coisa! -- revirou os olhos -- Lá vou eu gastar dinheiro com ônibus... -- deu um suspiro e seguiu atrás da mulher -- Quanto será o ingresso, hein?
***
--Uai, mais issu aqui num é cantu módi um homi si incontrá cum amanti, não, num sabi? -- Raed olhava desconfiado para todos os lados
--Claru qui não, né, homi? -- Amina respondeu como quem diz o óbvio -- Marco veio foi lutá com o tar di TGO, ocê num viu us cartaz lá fora? -- desviavam-se das pessoas para se aproximar do ringue -- E veiu foi é machu módi vê essa luta, Ave Maria! -- reparava no lugar
--Minha Nossa Senhora, esse pessoal mal dá um espaço pra gente passar! -- Najla estava agoniada -- Não quero que esse tal de TGO faça nenhum mal pro meu negão de tirar o chapéu! -- olhava para o ringue -- A gente vai ter que interromper essa luta agora! -- decidiu -- Dá licença, por favor? -- pedia impaciente
--Si ocês duas tivessi mi iscutadu, nóis chegava antis. Fomu pegá os caminhu errado... -- Raed resmungava
--Minha nossa, quanta gente! -- Janaína se surpreendeu ao chegar -- Nunca imaginei que Marco pudesse dar tanto Ibope, viu? -- reparava na multidão
--Será que mamii já chegou, hein? -- olhava para todos os lados -- Tá tudo tão calmo...
--Calmo?! -- achou graça -- Meu amor, isso aqui tá lotado de gente e com todo mundo falando ao mesmo tempo! -- protestou -- Como é que pode ver calma nesse lugar? -- riu sozinha
--Senhoras e senhores, o dia de hoje vai ficar marcado na história desse país! -- um homem falava ao microfone após algumas palavras de ordem -- É com muito orgulho que eu anuncio a luta desta noite! -- gesticulava -- Aquela luta que ficou devendo acontecer há mais de dez, quinze anos, eu nem sei dizer! -- sorria -- Depois de muito tempo longe das lonas, eis que estão de volta o nosso inesquecível Kid Marcão, o boxeador mais ligeiro de Terra de Santa Cruz, -- apontou para Marco -- e o inigualável Tião Gancho de Ouro, o melhor gancho de direita do boxe nacional! -- apontou para o outro -- Eles se enfrentam aqui, nesta noite, nesta noite, -- repetiu enfático -- que ficará conhecida como a noite da luta do século!! -- exagerava
O público aplaudiu.
--E num é qui o créu tem fã? -- Raed ficou impressionado
--Luta do século, pois sim! -- Najla protestou -- Não se eu puder evitar! -- continuava decidida a subir no ringue -- Não vai ter luta nenhuma! -- gesticulou -- Com licença, por favor. -- tentava seguir adiante
--Dêxi o homi lutá, muié. -- Amina pediu empolgada -- Podi sê bão! -- queria ver a luta -- E teu homi bem qui podi dirrubá essi ôtro aí!
--Eu, hein? -- fez cara feia -- E deixar esse tal de TGO machucar meu negão? Nunca! -- ajeitou o lenço na cabeça -- Simbora! -- continuava andando
--Humpf! -- Raed fez um bico -- Tomara qui o créu mostri arguma macheza nessa briga. Bicho frôxu! -- resmungava
--Vem, criatura! -- Aisha segurou a mulher pelo braço -- Vamos pra perto do ringue e fazer alguma coisa antes que o pior aconteça!
--Mas, afinal de contas, você tá com medo de que? Se minha sogra ainda não sacou que não tem amante na fofoca... -- olhava para o ringue -- Ih, começou a pancadaria! -- afirmou empolgada -- Vai lá, Marco! -- deu um soco no ar -- Caceta ele! -- torcia
--Senhoras e senhores, esses dois não estão pra brincadeira! -- o narrador anunciava eufórico -- Mal a luta começou e os dois fenômenos do boxe desse país já partiram pra cima um do outro com fome de nocaute!
--O negócio vai pegar fogo, viu, Brunão? -- o comentarista complementou -- Terra de Santa Cruz num vai dar conta do que vai acontecer hoje nesse ringue!
--Janaína, entende! Eu não tô mais com medo de mamii pegar Marco no pau pensando que tá tomando chifre! -- continuava seguindo e puxando a mulher -- Tenho medo é do que ela possa fazer por causa dessa luta! Você não conhece mamii em seus momentos de fúria!
--Mas ela vai fazer o que? E contra quem? Como? -- não entendia -- Acha que ela vai pular no ringue e bater no Marco? -- achava graça -- Vai lá, Marco! Uhu!! -- gritou
--Que sequencia de jabs maravilhosa!!! Você viu isso, Carlão? -- o locutor perguntou eufórico -- Kid Marcão parece um relâmpago, de tão rápido! Foram três ou quatro golpes? Eu nem consegui contar!
--Brunão, meu amigo, essa luta promete, cara! -- o outro respondeu
--Bater no Marco mamii não vai! -- olhou para a esposa rapidamente -- Mas no outro... -- olhou para o ringue novamente -- Deixe de gritaria e vem!
--Bater no outro, tá maluca? -- continuava sem entender -- Como pode ser isso? -- riu do absurdo -- Quem tá batendo nele é o Marco! Parece até um alucinado! -- estava admirada
Nesse momento, Najla, Amina e Raed conseguiram finalmente se aproximar do ringue. Marco e Tião lutavam com energia
--Mas o Gancho de Ouro não ganhou esse apelido à toa! -- o comentarista continuava -- Que lance incrível, cara! Que uppercut! -- quase gritava -- Esse foi perigoso!
--Mas o Kid tá atento, meu amigo! -- o locutor respondeu batendo palmas -- Cara, que swing é esse?? Meu queixo até doeu!!
--Oh, Aba, proteja meu negão! -- a ex fazendeira pôs as mãos no peito -- É cada soco que chega dói!
“Suingue?! Issu num é coisa di sacanagi?!” -- Raed pensava intrigado -- Eu hein?
--Acaba com eli, homi, acaba! -- Amina gritou animada -- Dirruba essi bicho cum um socu certêru nas fuça!
--Acaba cum eli, créu! -- Raed gritou também -- Me faz tê orguio docê ao menus uma veiz na vida!
“Créu?!” -- Marco se desconcentrou ao ouvir seu apelido -- "Mas será que...?” -- virou o rosto e deu de cara com Najla -- Minha dona! -- arregalou os olhos
--Meu negão! -- apertou as mãos contra o peito
--Presta atenção na luta, Kid! -- Tião advertiu antes de golpeá-lo -- Ocê já foi bão nisso, sô! -- sorriu com deboche
--Ih, meu, Deus! -- Janaína parou de andar -- Marco se danou!
--Que merd*! -- Aisha paralisou também
--Senhoras e senhores, o quê que é isso??????? Tião Gancho de Ouro acaba de levar nosso Kid Marcão à lona!! -- o locutor gritava -- E que gancho, que gancho de ouro!!!!! -- olhou para o colega -- Será que já foi à nocaute??
--Sei não, hein, Brunão, sei não! -- o comentarista respondeu fazendo suspense -- Numa luta como essa, a gente pode sempre se surpreender!
--CHOO?? (O QUE??) -- Najla ficou furiosa ao ver seu homem no chão -- Como ousa, seu Gancho miserável?? -- arrancou o lenço do cabelo -- Gancho de Ouro, pois sim! Gancho de merd*!! -- gritou
--Najla?! -- Amina e Raed levaram um susto com a atitude da outra
--Eu vou mostrar uma coisa pra esse maldito ibn il-Homaar (filho de um burro!!) -- correu até a beirada do ringue e subiu no platô com agilidade espantosa -- Inta ghaawiz iD-Darb bi-sittiin gazma!! (Você merece ser chutado por 60 sapatos!!) -- gritava possuída -- AHAH!! -- pulou nas costas de Tião -- Tiizak Hamra!!!! (Seu rab* é vermelho!!!) -- mordeu-lhe a orelha com raça -- Ibn il-'aHba!!! (Filho de uma puta!!!) -- enforcava-o como podia
--Mas qui diachu...?! -- tentava se livrar da mulher, mas sem sucesso
--Mamii?? -- Aisha arregalou os olhos
--Mas o que eu vejo, senhoras e senhores?? -- Bruno levou um susto -- Uma senhora acaba de invadir o ringue!! -- gritava excitado -- E ela tá simplesmente acabando com a raça do Gancho de Ouro!!!! -- achava graça
--Eu disse que essa luta tinha tudo pra surpreender!! -- Carlos batia palmas -- Por essa ninguém esperava! -- achava graça
--E não é que quando é fé a sogrona invadiu o ringue?! -- Janaína não acreditava no que via
--Vem rápido, mulher! -- Aisha lutava para se esquivar das pessoas e alcançar o ringue
--E num é qui ela pulô no meio da briga? -- Amina ficou pasma e cruzou os braços
--Me deixa, sua doida!! -- Tião quedou-se de joelho no chão -- Faz arguma coisa! -- pedia ajuda ao juiz. Dois seguranças corriam para o ringue
--Oxi, qui ninguém põe as mão na minha irmã, não, uai! -- Raed pulou no ringue também -- Ave Maria, comu foi qui Najla trepô nissu tão fácir? -- não conseguia subir
--Eu vô ti ajudá, homi! -- Amina correu para perto
--Senhoras e senhores, uma confusão generalizada se estabeleceu no ringue de luta essa noite!! -- Bruno anunciava histérico -- Agora são três seguranças, duas senhoras, um senhor e mais o juiz no meio da briga, enquanto Tião sofre no laço de uma mulher que não larga do pescoço dele nem por um decreto! -- pulava excitado -- E Kid Marcão dá sinais de recuperação ameaçando se levantar!!
--E nesse momento mais duas mulheres sobem no ringue!! -- Carlos gritava também -- E uma delas já chegou batendo nos seguranças!!
--Mas o quê que isso, meu amigo, o quê que é isso??? -- Bruno gritava como louco
--Brunão, -- o comentarista desligou a fonia -- não era hora de chamar a polícia, não, cara? -- perguntou preocupado -- Daqui a pouco todo mundo sobe nesse ringue e vai dar até morte nessa merd*!
--Que morte, que nada! -- deu um tapa no braço do outro -- Vai dar é muito Ibope e eu quero é mais isso!! -- respondeu resoluto -- Olha aqui o pico de audiência, cara! -- apontou para um painel -- A gente já ultrapassou até a novela nova da TV Mundo! -- sorria
--Miserável! -- Najla estava possuída -- Ralã! -- não desgrudava de Tião
--Mi larga, mardita!! -- o lutador protestava em vão
--Larga ele, sua louca! -- um dos seguranças gritava com raiva
--Num põe as mão na minha irmã, seus bichu fuleiru! -- Raed distribuía socos à revelia
--Num põe as mão na minha famia, seus bichu besta! -- Amina dava cacetadas também
--Larga minha sogra, malandragem! -- Janaína batia com raiva
--Marco, deixa de ser frouxo e levanta daí, que merd*! -- Aisha chacoalhava o homem
--Mas o que...? -- levantou a cabeça com dificuldade e olhou surpreso para Aisha -- Eu me distraí... -- tentava se levantar -- porque dei de cara com... -- interrompeu a fala
Nesse momento, dois seguranças conseguiram imobilizar a ex fazendeira e mais cinco apareceram para dar conta dos outros. Tião se levantou e se afastou para um canto do ringue esfregando as mãos no pescoço.
--O QUE????????? -- Marco gritou furioso -- Tirem as mãos da minha dama!! -- levantou-se tomado de ódio
--Ih, gentem, ressuscitou! -- Aisha bateu palminhas -- Vai lá, Marcão, quero ver a porr*da comer! -- deu pulinhos
--Mas o quê que é isso que tá acontecendo, senhoras e senhores, eu estou simplesmente alucinaaaaaaaaaaaaaado!!!!!!!!! -- o locutor gritava ensandecido -- Kid Marcão parece que renasceu das cinzas!!! -- pulava -- O homem virou uma verdadeira máquina de golpear!!
--E ele já chegou batendo nos seguranças como se estivesse com ódio!!! -- o comentarista gritava -- É muita fome de luta!!!!!
--Ah, agora ocê qué lutá, Kid Marcão? -- Tião provocou -- Vem que a cunversa aqui é di homi pra homi! -- rosnou com raiva
--Primeiro eu cuidei deles, -- apontou para os seguranças -- agora somos nós!
--Pessoas, ooi!!! -- Aisha acenava ao se aproximar da família -- Essa é a hora que a gente sai! -- pulou para o chão
--Não precisa pedir duas vezes! -- Janaína desceu também -- Vem, gente! -- chamou os outros
--Simbora! -- Amina pulou
--Ai, o meu negão... -- Najla estava dividida -- Eu não fui com a cara desse tal de Gancho! -- resmungou contrariada
--Vem, muié! -- Raed pegou a irmã pelo braço -- Agora qui o Bichu Ruim saiu do teu corpu vamu descê daqui! -- puxou-a e os dois pularam
--Meu Deus, eu juro, JURO, que nunca vi uma luta dessas, senhoras e senhores!! -- Bruno estava adorando -- É cada gancho, cada direto, sequências de jab! Ataque, contra ataque, meu Pai... -- sorria -- Não dá nem pra narrar!
--Eu também nunca vi isso, Brunão! -- o comentarista estava pasmo e admirado -- Esses homens são... -- não sabia o que dizer -- Cara, eu vou te dizer o que esses homens são! Eles são DEUSES do boxe! -- deu um soco no ar
--E tudo isso por causa de um Cinturão que virou um mito! -- o locutor dizia -- É a força, é o amor, é a paixãoooo pelo boxe!!
E os homens lutavam com uma fúria desesperada enquanto alguns rapazes retiravam os seguranças caídos no ringue. Najla, Janaína, Aisha, Raed e Amina vibravam torcendo por Marco.
--Se esse ibn il-Homaar (filho de um burro) derrubar o meu negão de novo, eu não respondo por mim! -- Najla gesticulava enfurecida -- Acaba com ele, meu amor!! -- gritava -- Quebra cada ossinho desse corpo desgraçado!!! AHAHAH!!!! -- estava louca
Janaína olhou desconfiada para a sogra. “Ave Maria!” -- pensou com medo
--Ocê nunca vai consegui o dinheiro pra tua dama doida! -- Tião provocou -- Nunca!
--Não me provoca, Tião! -- Marco rosnou furioso ao tentar golpeá-lo. Os dois estavam se segurando, não conseguindo desferir golpes um contra o outro
--NUNCA!!! -- gritou e cuspiu no adversário -- AH!!!!
--AH!! -- gritou também
Furioso, Marco empurrou o homem e aplicou-lhe um golpe certeiro, fazendo-o cair de costas no chão.
--KNOCKDOWN!!!! -- locutor e comentarista gritaram ao mesmo tempo -- Maaaaaravilhoso, feeeeenomenal!!! -- Bruno parecia louco -- Tião Gancho de Ouro caiu nocauteado e eu não vejo mais jeito dele se recuperar!!!
--A luta foi curta, mas nunca, NUNCA na história desse país se viu nada igual! -- Carlos afirmou entusiasmado
--Acabô? -- Amina perguntou decepcionada -- Mais já?
--Marco, Marco, Marco!!!! -- Aisha e Janaína pulavam abraçadas
--E num é qui o créu é bão meis? -- Raed reconhecia surpreso
--Ai... -- Najla novamente correu para o ringue
--E eu qui num sabia qui minha cunhada era tão ligêra! -- comentava surpresa para o marido -- Pareci inté uma cabrita, espia. -- apontou -- Já trepô lá im cima di novo!
--É muitu fogu nas curnicha, issu sim! -- cruzou os braços contrariado
--Senhoras e senhores, mas não é que a maior fã de Kid Marcão subiu no ringue de novo? -- achava graça -- Produção! -- desligou rapidamente a fonia e olhou para um colega -- Põe alguém com câmera e microfone lá perto deles pra gente registrar o que os dois vão falar! -- pediu
--Isso pode dar mais Ibope ainda! -- os olhos de Carlos brilhavam -- A luta acabou muito rápido, mas dá pra aproveitar esse momento! -- concordava com o colega -- Microfone neles! E filma tudo!!!
--Ai, meu negão... -- abraçou-se com o namorado -- Olha como tá machucado... -- deslizou as mãos no rosto dele
--Era preciso, minha dona... -- sorria com o rosto inchado -- Era preciso... -- removeu a proteção dos dentes -- Eu só me desconcentrei quando te vi, -- pausou brevemente -- linda como sempre olhando pra mim...
--Eu vim como uma louca lá da roça só pra te ver! -- contava -- Pensei que estivesse tendo um caso...
--Um caso?! -- surpreendeu-se, mas acabou rindo brevemente -- Eu não tenho olhos pra mais nenhuma outra mulher!
--Ai... -- suspirou
--Gente, olha, olha, eles tão gravando a conversa de mamii e Marco! -- Aisha apontou empolgada para um câmera man e um rapaz com um microfone -- Se falarem sacanagem todo mundo vai saber! -- riu
--Aisha!! -- Amina e Raed ralharam ao mesmo tempo
--Cuidado aí, sogrona! -- Janaína gritou tentando advertir -- Segura a língua aí, Marco!
--Mas não tinha como eu não pensar bobagem, meu amor! -- a ex fazendeira continuava, alheia ao fato de estarem sendo filmados -- Você fazia tanto mistério, tanta ginástica, tava sempre se cuidando... Eu pensava que tinha outra mulher na sua vida...
--Nunca haverá outra! -- afirmou olhando nos olhos -- Najla Raja é a mulher da minha vida! Nenhuma outra passará pela minha cama ou ocupará meu coração!
--UHUUU!!!! -- o público delirou ao ouvir isso
--Ai, que coisa picante! -- Aisha estava cheia de fogo
--Indecença! -- Raed resmungou
--Ouviu isso, Carlão?? -- Bruno estava animadíssimo com a descoberta -- A mulher misteriosa que invadiu o ringue e imobilizou Tião Gancho de Ouro é simplesmente o grande amor na vida do Kid Marcão!
--Homens durões pedem mulheres duronas, não é mesmo? -- o comentarista respondeu animado
--Ai, meu lindo! -- estava toda derretida -- Mas por que você me inventou essa luta? Por que escondeu de mim? -- perguntou com olhos marejados -- Eu ali, toda agoniada, temendo ser trocada por outra, e você se preparando pra lutar com esse... -- olhou para Tião caído no chão -- Com essa fera?
--É meis! -- Amina também queria saber -- Modi quê eli mi arrumou essa pancadaria toda? -- cruzou os braços
--É mesmo! -- Janaína também estava curiosa
--Pur que? -- Raed também queria saber
--Ai, eu acho que sei, gentem! -- Aisha estava em um fogo só
--Desde que você recuperou sua fazenda das mãos daquele Ametista, tudo que eu mais quero é te ver realizar seu sonho de voltar pra lá e pegar o que é seu de fato! -- explicava -- Mas eu não tinha e nem tenho os quinhentos mil reales que você precisa pra pagar o que deve ainda ser pago!
--Quinhentos mil reales??!! -- Bruno repetiu o valor -- Puta que pariu!! -- falou sem pensar
--Ei, eu ouvi falar nessa história aí! -- Carlos se lembrou -- Não foi aquela advogada gostosona que ganhou o caso pra dona Najla? -- perguntou ao colega -- Aquela do caso das espionagens?
--Peraí, vamos continuar ouvindo! -- Bruno pediu
--Mas, meu bem! -- Najla segurou o rosto do homem -- Mas eu jamais te pediria pra conseguir esse dinheiro todo pra mim! Aliás, eu nunca te pediria um tostão que fosse!
--Eu tinha que fazer isso, minha dona! -- interrompeu-a gentilmente -- E por isso provoquei o colega Tião, coloquei meu cinturão à prêmio, e pedi duzentos mil reales por ele. -- contou a história -- Se eu te contasse sobre isso, você não iria me deixar lutar!
--Ai, que fofo!!! -- Aisha exclamou emocionada -- Eu sabia que era por isso!
--Issu é qui é prova di amô, num sabi? -- Amina também se emocionou
--Hum... -- Raed ficou admirado com o cunhado
--Ai, meu negão de tirar o chapéu... -- Najla se desmanchava -- Eu nem sei o que dizer...
--Eu sei muito bem! -- segurou-a com força pela cintura -- Eu te amo!
--UHUUUU!!!!!!!! -- o povo gritou
--Eu não me importo com dinheiro, com fazenda, com nada! -- Najla chorava de emoção e felicidade -- Se você ficar do meu lado até meus últimos dias nessa vida, nada mais me fará falta! -- sorria -- Eu te amo, meu negão!! Eu te amo! -- puxou-o para um beijo apaixonado
--Ai, é muita emoção! -- Janaína puxou a esposa pela cintura -- Também te amo, querida! -- beijou-a com raça
--UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!!!!!!!!! -- o povo gritava e batia palmas
Amina e Raed se olharam emocionados e ao mesmo tempo constrangidos.
--Fazê o quê, né? -- o homem falou sorrindo sem graça
A mulher suspirou e fez um bico. -- Humpf! -- cruzou os braços -- "Raed, comu sempri, uma besta!” -- pensou contrariada
“O qui eu divia di fazê numa hora dessa?” -- Raed pensava intrigado -- "Amina num tem dívida modi eu pagá!"
--Olha, Carlão, eu tenho que reconhecer! -- balançava a cabeça pensativo -- Fiquei emocionado, cara. -- olhou para o colega -- A porr*da comeu bonito, mas no final, o amor venceu!
--Eu também me emocionei. -- concordou com o outro -- Quem disse que não pode ter uma leveza no boxe, hein? -- gesticulou -- E isso também é coisa de macho!
Enquanto Najla e Marco mantinham-se presos em um beijo apaixonado sob as luzes dos holofotes, Janaína e Aisha recolhiam contribuições dos interessados em ajudar a pagar a dívida da fazenda.
E Tião continuava esquecido e jazindo desacordado no chão.
***
--Amor, olha, dessa vez a sua família se superou! -- Clarice comentava animadamente ao entrar na barraca de camping -- As festas na roça são sempre maravilhosas, mas essa celebração de natal, meu Deus... -- olhava para a amada -- Que festa incrível!!! -- sentou-se sobre os sacos de dormir -- Tudo lindo, tudo perfeito, aquela comida sensacional, a decoração... -- gesticulava -- impecável! -- estava feliz -- Acho que nunca dancei tanto na minha vida! -- falava empolgada -- E os discursos dos seus pais, da sua tia... -- suspirou -- deixaram todo mundo emocionado!
--E o almoço de hoje também foi um espetáculo, né, Sahar? -- ajoelhou-se de frente para a amada -- Agora aguarde e verá o que foi planejado pro ano bom! -- acariciou suavemente o rosto dela -- O natal foi lindo e emocionante, mas o réveillon, segundo maama, vai ser rico e bem animado! -- piscou para a outra e recolheu a mão -- Warana ay? (Que mais se pode fazer?) -- brincou -- Apenas relaxar e aproveitar! -- afirmou com duplo sentido
Clarice percebeu e sorriu maliciosa. -- Relaxar e aproveitar...? -- reparou melhor no espaço -- É impressão minha ou você me arrumou uma barraca ainda maior, hein, sua caipira safada? -- perguntou dengosa
--Aywah.. (Sim...) -- engatinhou para se aproximar ainda mais da amante -- Tudo que eu quero e preciso com você é... -- beijou-a -- privacidade, -- beijou-a novamente -- conforto... e -- beijou mais uma vez -- espaço... -- apoiou delicadamente seu peso sobre a parceira, fazendo-a se deitar
--Ai... -- gem*u ao sentir o corpo da morena sobre o seu -- A gente mal chegou e você já vem assim...? -- sentia prazer com os beijos da astrônoma em seu pescoço -- Você tá ficando cada vez mais safada, Zinara Raed... -- sorria
-- Eu me comportei muito bem nesse natal até agora... -- beijou-a sensualmente -- Hal tashtaaqo lii, Sahar? (Sentiu minha falta, Amanhecer?) -- sussurrou no ouvido -- Hum? -- deslizava uma das mãos sobre a coxa da outra
--Eu... não entendo o que... você... me pergunta... -- respondeu entre beijos -- O que você quer, hein? -- fazia um dengo
--Bousa ala shafayef... (Beijo nos lábios...) -- mordiscava-lhe os lábios
“Ai, não há bousa que aguente quieta...” -- pensava excitada
--Mas... -- interrompeu bruscamente o que fazia -- Vamos bem devagar, ya habibi. -- saiu de cima da mulher e sorriu -- Por que pressa?
--Ai... -- suspirou e reclinou o tronco, apoiando-se sobre os cotovelos -- O que você tá pensando em aprontar, hein? -- perguntou melosa -- Agora que sou sua refém nessa barraca maravilhosa, o que você vai fazer comigo? -- deslizou o pé pelo braço da morena
-- Eu vim aqui ontem. -- ligou um aparelho Mp3 conectado a duas caixinhas de som -- E deixei tudo bem arrumadinho nos esperando. -- a música começou a tocar -- Cuidei de cada detalhe nessa barraca... -- segurou o pé de Clarice e o beijou -- Deixei tudo pronto pra você... -- deslizou uma das mãos pela perna da amante -- pra nós...
https://www.youtube.com/watch?v=9FdIiK2l4ak
--É mesmo? -- perguntou dengosa
--Pelas próximas muitas horas, seremos só você e eu. -- começou a despir a outra mulher -- Sem qualquer pressa... -- falava hipnoticamente -- Al aleb ghaleb... (Você é bem mais bonita que a sua roupa...)
(Nota da autora: essa frase é um elogio sensual)
--Ai... -- suspirou excitada e apaixonada
--Ma fini faker... (Eu não consigo pensar...) -- Zinara cantava baixinho -- w’inti haddi... (quando você está perto de mim...) -- removia lentamente o jeans de Clarice deixando, propositadamente, os dedos roçarem na lateral das pernas provocando-lhe arrepios -- Ma fini ihki... (Eu não consigo falar...) -- mantinha firme contato visual com sua mulher -- Ma bfakker illa fiki... (Eu só penso em você...)
--Ah... -- gem*u e sorriu -- Você tá me fazendo cócegas de propósito, não é? -- mordeu o lábio inferior -- E canta me olhando desse jeito só pra me deixar mais arrepiada... -- sentia o coração acelerar -- E mais louca...
--Laa, ya gamil... (Não, sua linda...) -- jogou as calças da outra para um canto da barraca -- Estou apenas despindo a mulher que amo... -- abriu-lhe as pernas e mordeu lentamente sua barriga -- Não tenho culpa de que seja tão sensível... -- fingia inocência enquanto desabotoava os botões da blusa da professora -- Não tenho culpa...
--Sei... -- sentia o roçar de dedos em seu abdômen -- Você é muito perigosa, caipira...
--Perigosa? -- puxou-a pela cintura delicadamente para fazê-la se sentar -- Então, HariiS (cuidado)! -- brincou enquanto removia-lhe a blusa -- Mas você não deveria se preocupar, Sahar... -- jogou a peça para longe também -- A caipira é inofensiva... -- deslizou o nariz lentamente pelo pescoço da outra
--Ah... -- gem*u e se arrepiou -- Inofensiva é tudo que você não é... -- sorria
--Você fica aí matutando em perigos que não existem... -- beijou-a bem devagar enquanto abria-lhe o sutiã -- Não há perigos, só prazer... -- livrou-a do sutiã -- Fouk ma yitsawar khayalik... (Mais do que você possa imaginar...) -- sussurrou no ouvido
Ficou ainda mais excitada. -- Meu Pai... -- foi conduzida a deitar-se novamente -- É impossível relaxar desse jeito... -- protestou dengosa
--Por que? -- fingia inocência mais uma vez -- Eu gosto assim. -- arranhou a pele de leve até suas mãos alcançarem a cintura da calcinha da professora -- A’jabani haqqan! (Eu gosto muito!) -- mordeu o elástico da cintura e puxou devagar com os dentes
--Ai, Zinara... -- gem*u mordendo os lábios -- Vem, que eu não tô aguentando! -- pediu excitada -- Tira essa roupa! -- olhava para a morena -- Porque se eu for tirar, acho que rasgo ela toda! -- ameaçou
Ajoelhou-se. -- Você tem cinco sentidos, -- começou a despir-se lentamente -- 600 mil pontos de sensibilidade na sua pele, -- livrava-se de uma a uma das peças de roupa -- e quer fazer tudo com pressa? -- o tom de voz mantinha-se hipnótico -- Habibi, estanneit sneen kteer youm elloca… (Querida, esperei pelo dia em que nos conhecemos durante anos…) -- sorria -- Estamos juntas, estamos aqui... -- beijou uma das coxas da amada -- posso esperar um pouco mais... -- seguiu lambendo a pele até a virilha da mulher -- se for por um bom motivo... -- deslizou suavemente a língua sobre o clit*ris dela -- por que não?
--AH! -- gem*u e arqueou o corpo -- Isso é muuita maldade! -- sorriu e fechou os olhos
--Maldade, não... -- deslizou o corpo lentamente sobre Clarice como se fosse uma cobra prestes a dar o bote -- só amor... -- mordeu-lhe o queixo de leve
--Eu nunca te vi... tão provocante assim... -- perdia-se nas carícias da astrônoma -- Zinara, ai...
--Você terá muitas surpresas comigo... -- beijou-a -- Muitas... -- beijaram-se com mais paixão
Zinara introduziu dois dedos no sex* da mulher e rapidamente removeu para provocá-la massageando. Novamente introduziu e permaneceu alguns minutos se alternando nestes dois movimentos, enquanto beijava-lhe os lábios, pescoço e orelhas, também alternadamente.
--Ai, amor... você... -- arranhava-lhe as costas e deslizava os pés em suas coxas
Zinara deslizou as duas mãos pelo abdômen da parceira e rapidamente sentou-se, puxando-a contra seu corpo e fazendo-a se sentar também.
--Você me deixa até perdida, sabia? -- enroscou as pernas na cintura da outra e beijou-a -- Até quando vai me torturar desse jeito... -- mordia-lhe os lábios -- me deixando louca e parando tudo, assim de repente? -- colou testa com testa e sorriu
--Alguém disse que acabou, Sahar? -- beijou-a -- Apenas mudamos o foco da atenção... -- puxou-a de encontro a si de modo que os sex*s ficassem em contato -- só isso, ya bajat al-rouh (prazer da minha alma) -- apertou um ponto específico na coxa direita de Clarice -- Você vai gostar... -- segurou-a com firmeza pelos cabelos da nuca e a beijou
--Ah... -- soltou um gemid* abafado pelo beijo
Enquanto mantinha-se pressionando a coxa da amante e segurando-a pelos cabelos, Zinara movimentava-se contra ela rebol*ndo lentamente. Clarice abriu as pernas o máximo que pôde e acompanhava os movimentos da outra sentindo um misto de dor e prazer, em uma tensão crescente. Arranhava os braços e costas da morena, sussurrando palavras perdidas em seus ouvidos.
A astrônoma soltou os cabelos da parceira e deslizou as duas mãos pelas costas dela, acariciando e arranhando levemente. Sem deixar de beijá-la fez com que se deitasse novamente, dessa vez quase em câmera lenta, e seguiu beijando seu corpo e pressionando cada ponto que sabia ser capaz de estimulá-la.
--Ah, amor, ai... -- gem*u alto quando um mamilo foi gentilmente capturado por lábios exploradores
Zinara continuou viajando no corpo de Clarice e, propositadamente, deteve-se muito pouco em seu sex*. Seguiu descendo pelas coxas e virou a mulher de costas para si.
--Eu não aguento mais, amor... -- sentia o corpo clamando por um orgasm*
--Seebny atooh w Ø¡adei’a fe elHob dah… (Deixe eu me perder nesse amor…) -- seguia beijando e sugando as costas dela, enquanto voltou a penet*á-la, porém, tocando-lhe por dentro o mais que podia -- Você é minha delícia... -- sussurrava
--Ai, vem, amor... -- fechou os olhos e reclinou a cabeça para trás -- Vem, vem, eu quero você me deixando louca, vem... -- levantou o braço e segurou os cabelos da morena quando sentiu seus lábios beijando-lhe o pescoço -- Vem! -- pedia sofregamente
--Ana dayeb w kolli Haneen... (Estou me derretendo em seu amor e cheia de paixão...) -- largou todo seu peso sobre a amada e continuava penet*ando, ao mesmo tempo em que a outra mão tomou-lhe um seio
--Ah, meu amor, não pára!! -- abriu mais as pernas e acompanhava os movimentos da morena -- Ah, ah, ai... -- gemia
Movimentava o corpo cada mais aceleradamente contra o da outra mulher. -- Jayed jedan, ya habibi... (Muito bom, querida...) -- não parava de provocá-la -- Behebbik ya, Sahar... (Eu te amo, Amanhecer...)
Clarice não conseguiu dizer coisa alguma e delirou com o melhor orgasm* que podia se lembrar de ter sentido.
***
--Ai, Zinara, você realmente não cansa de me surpreender... -- estava deitada sobre a morena, com os olhos fechados e abraçando-lhe pela cintura -- Eu tô indescritível e maravilhosamente cansada depois horas fazendo amor com você... -- sorria -- Aliás... -- suspirou -- Você fez praticamente tudo sozinha porque eu fiquei tão entregue, tão louca, que não consegui fazer nada além de te deixar me devorar por horas a fio...
--E quem disse que terminou? -- beijou-lhe a cabeça -- Pode acreditar que não sentiu prazer sozinha. -- acariciava-lhe as costas -- E se quiser fazer alguma coisa a mais comigo, tô aqui à disposição. -- brincou -- Caipira exclusiva pra Sahar usar e abusar. -- sorriu também
--Ai, eu quero, mas deixa eu me recuperar... -- ajeitou-se no colo da outra -- Tô tão molinha que não aguento fazer nada...
--Baseeta, ya gamil. (Sem problemas, minha linda.) -- continuava acariciando devagar -- Ficar assim com você é uma coisa que eu adoro! -- fechou os olhos -- Parece que o tempo pára e a caipira viaja por esse universo véio e sem portêra... -- caprichou no sotaque
Após uns segundos calada, a paleoceanógrafa perguntou: -- Essas posições que nós fizemos e... esses pontos que você estimula, pressiona... -- pausou brevemente -- Isso é o tal do sex* tântrico, não é?
Achou graça da forma como Clarice perguntou. -- Experimentamos desse conhecimento tântrico já de um tempo, Sahar... -- beijou a cabeça dela novamente -- Desde as nossas primeiras vezes juntas...
--Mas não da forma como foi nessa noite... -- respondeu dengosa
--Verdade. -- concordou -- É que antes eu não tinha energia suficiente. -- pensava em seu estado de saúde no passado recente -- A caipira tava beeem café com leite. -- brincou
--Você nunca foi café com leite... -- beliscou a cintura dela de leve -- Sempre foi uma caipira muito da safadinha... -- beijou-lhe o pescoço -- É que agora tá muito da safadona! -- brincou -- Graças a Deus!
--Amém. -- abraçou-a com mais força -- Quem tem uma Sahar tem que se esforçar pra não fazer vexame, né? -- falava com sinceridade -- Uma mulher dessas, quem não quer? Tem que cuidar direitinho!
Ficou toda prosa. -- Cuidar direitinho, sei... E você até agora me enrolando... -- fez pirracinha
--Não enrolo, já lhe expliquei. -- respondeu com carinho -- De mais a mais, confia na caipira. Eu não te prometi que vou fazer minha parte? -- estava sendo verdadeira -- Ana fez ‘ala mawa’idi! (Eu cumpro com promessas!)
--Eu confio em você... -- gastou uns segundos calada até que resolveu perguntar outra vez: -- Essas coisas todas que você sabe fazer... -- pensava em como tocar no assunto -- O modo como conhece tanto de corpo humano... -- pausou brevemente -- Foi aquela guia tarada de GanarÄ�jya que te ensinou, não foi?
“Eita, pau, sinto que lá vem chumbo grosso!” -- pensou antevendo o pior -- AHHa, ela não era tarada... -- protestou com jeito
--Não me enrola! -- beliscou a cintura da morena de novo -- Foi ela, não foi?
Deu um suspiro profundo. -- É, ela me ensinou algumas coisas... -- não queria tocar naquele assunto com a namorada -- Mas eu me interessei em estudar sobre o corpo humano por minha conta.
--Estudar no corpo de outras mulheres, eu sei. -- desvencilhou-se da amante e se sentou toda manhosa -- Sei muito bem, tá, Zinara Raed? -- passou a mão nos cabelos -- Barba ruiva! -- afastou-se para pegar a garrafa de água
“Eu sabia...” -- sentou-se também -- Eu não sei da onde você tirou esse trem de barba ruiva, mas eu nem tive esse tanto de mulher e você bem sabe! -- olhava para Clarice
Terminou de beber água. -- Ah, tá. -- olhou para Zinara rapidamente -- Foram dez e isso não é pouco! -- reclamou -- Cada país e cada cidade uma namorada diferente. -- colocou a garrafa no lugar -- Barba ruiva das dez amantes! -- ficou de costas para a morena
--Dez, contando com você! -- aproximou-se -- O amor da minha vida! -- beijou-lhe o ombro -- A definitiva e última mulher que eu terei! -- roçou o nariz em sua orelha -- Ya-illi enti agmal hikaya! (Você é minha história mais bonita!) -- sussurrou -- O amanhecer da minha alma... -- mordeu-lhe o pescoço -- Sahar, minha Sahar... -- beijou-lhe a nuca
“Ela sabe me seduzir com as palavras...” -- pensou amolecida -- Aposto que vira e mexe você pensa na sua professora da coisa tântrica... -- resmungou manhosa
Achou graça. -- Coisa tântrica... -- balançou a cabeça negativamente -- Pois a única mulher nos meus pensamentos é você! -- deitou-se novamente -- Volta pros braços da sua caipira e fica aqui, habibi? Não brigue comigo por coisas que se perderam no passado... -- pediu carinhosamente -- Tacaalii? (Vem?) -- abriu os braços
“Eu não resisto quando ela faz essa carinha de maior abandonada...” -- pensou ao olhar para a amante -- Tá bom, eu vou... -- fez um charme -- Mas você tá proibida de sentir saudades dela! -- brincou
--Wallahi! (Eu juro!) -- beijou os dedos em cruz -- Agora vem? -- insistiu
--Não era você que não tava com pressa...? -- começou a beijar uma das pernas da astrônoma -- Mudou de ideia? -- perguntou provocante
--Laa! (Não!) -- respondeu sorrindo -- Nem um pouquinho!
--Então... -- seguia lentamente em direção ao sex* da parceira -- Continue assim...
--Você manda, Sahar... -- fechou os olhos -- Você manda...
--Assim... que... eu gosto... -- invadiu o sex* da outra com língua é lábios -- Hum...
--Sahar... -- segurou-lhe pelos cabelos -- Ah... -- gem*u
Interrompeu bruscamente o que fazia e levantou a cabeça. -- Mas... você acha que ela é melhor do que eu? -- perguntou preocupada -- Eu digo, em termos de desempenho?
Não acreditou no que estava acontecendo e acabou achando graça. -- Ai, Sahar... -- sentou-se mais uma vez -- Será que vai fazer de toda mulher que passou pela minha vida um fantasma entre nós duas? -- olhava ternamente para ela -- Estamos aqui, só você e eu, e de repente você fica cismada com alguém que faz parte do meu passado e nele vai permanecer?
--Eu li o Kitaab. -- sentou-se também -- Vi como ficou louca por ela em muito pouco tempo. -- argumentou -- E tudo por causa do desempenho sexu*l* diferenciado dela! -- especulou
--Não precisa ler Kitaab algum pra ver como fiquei louca e apaixonada por você desde que te conheci até hoje! -- olhava nos olhos -- Kissti wadHa fi jbini! (Essa história está escrita na minha testa!) -- afirmava com voz gutural -- Você está em cada parte de mim! -- falava com sinceridade -- Será que nunca percebe isso? -- ajoelhou-se diante dela -- Será que nunca vai entender que o amor que temos foi o que me manteve viva apesar de tudo?
--Ai, Zinara! -- envolveu o pescoço dela com os braços e beijou-a apaixonadamente
“Sahar é insegura, Kitaabii, parece mentira. Mas ela tem medo de muitas coisas em relação a mim. Teme que eu não esteja certa o suficiente para viver com ela até o fim de meus dias. Teme que eu a compare com as mulheres do meu passado e descubra que alguma delas é melhor na cama ou sob um outro aspecto qualquer. Teme que eu não cumpra com o que prometo...
Tivemos uma noite maravilhosa, que se estendeu por horas e continuou por outras duas noites de amor e prazer sob o silêncio das estrelas que nos abençoavam. Eu a amei com tudo que tinha, com tudo que podia e usei tudo que aprendi de melhor em minhas experiências anteriores para satisfazê-la da forma como penso que mereça. Queria apenas viver aqueles momentos maravilhosos e tê-la feliz em meus braços, sentindo-me plena e fazendo parte dela, pertencendo a ela, mas, em vários momentos, Kitaabii, me pareceu que Sahar fazia o que temia que eu fizesse: viajava mentalmente para GanarÄ�jya e se perdia em dúvidas sobre um monte de coisas desnecessárias.”
CAPÍTULO 151 – CHOMOLUNGMA
“No dia em que Rachna e eu chegamos em Kamanduth, Lila reuniu o grupo no saguão do hotel e nos explicou tudo que deveríamos saber para que a expedição à montanha fosse bem sucedida. Eu absorvi todas as palavras dela, Kitaabii, e me sentia cada vez mais encantada. Na manhã seguinte, visitamos os templos locais e Lila nos deu uma verdadeira aula de história antiga e espiritualidade oriental. Era incrível como parecia conhecer todas as coisas. Eu ficava admirada e me deixava envolver por tudo aquilo que ela buscava nos apresentar e ensinar. Acho que ela notava isso, pois me dava um pouco mais de atenção que aos outros.
Ao terceiro dia, pegamos o voo para o temível aeroporto de Tenzing-Hi. Pensei que não sentiria medo, Kitaabii, pois a paisagem era divina, mas ao constatar que nossa pista de pouso era na verdade uma vala estreita escavada na montanha, meu coração começou a bater nos dentes; eu tinha que engolir de volta para não cuspí-lo no chão. Ave Maria...
Minutos depois do pouso iniciamos a expedição com uma caminhada de 6 horas, margeando o belo rio DuhKoshi, até a vila de Phakjing. Quando chegamos ao acampamento de pernoite, as barracas já estavam prontas nos esperando. Lila passou em cada uma delas servindo chá quente e me vi estática com minha caneca nas mãos, sorrindo para o nada. Eu mirava as montanhas e pensava na emoção de chegar ao campo base junto com ela. Na verdade, não conseguia mais dissociar entre sonho e realidade. Lila era Chomolungma, que em meus devaneios imaginários, deixava de ser montanha para se transformar em mulher. Montanha e mulher... meu desejo era adentrar entre os seios de ambas e me abrigar sob sua magia toda particular.”
--Dilchasp... (Interessante...) -- Lila abordou a astrônoma, que fazia observações com o telescópio -- O que as estrelas estão indicando? -- sorria -- Que abençoam nossos dias na montanha? -- parou do lado da morena
Zinara olhou para a guia e sentiu o coração disparar quando seus olhos se encontraram. -- Eu... -- tentava organizar os pensamentos -- Eu não seria capaz de traduzir isso... -- sorriu timidamente -- How about you try to discover? (Que tal você tentar descobrir?) -- ofereceu gentilmente o telescópio -- KripayÄ�. (Por favor.) -- apontou para o equipamento
--MÄ�f kÄ«jiÄ“. (Com licença.) -- aproximou-se para observar
--Mantenha-se observando e verá algo bem interessante. -- anunciou animada
Após alguns segundos pôde constatar. -- Oh, how amazing! (Oh, que incrível!) -- exclamou empolgada -- O que meus olhos veem? -- queria saber
--Um evento muito especial: -- explicava orgulhosa -- uma chuva de met*oros conhecida como Lyrids. -- sorria -- E a visibilidade está maravilhosa!
--É uma verdadeira dança de Shiva! -- contemplava admirada -- Conseguiu registrar alguma imagem? -- perguntou interessada
--Várias. -- olhava para o céu -- Podemos ver essa chuva de met*oros a olho nu também, -- explicava -- mas com o telescópio o fenômeno fica bem mais interessante. -- pausou brevemente -- Allah está me ajudando com meus patrocinadores. -- brincou
Após alguns minutos de contemplação silenciosa, a chuva de met*oros chegou ao fim e rapidamente nuvens escuras nublaram o céu. Lila se afastou um pouco e Zinara começou a desmontar o telescópio.
--Aqui no topo do mundo é sempre assim. -- a guia apontou brevemente para as nuvens -- Elas vêm, sem ninguém esperar, e encobrem o céu rapidamente. -- gesticulava com leveza -- Os ventos podem ficar furiosos e grandes tempestades são capazes de causar muito estrago. -- prestava atenção na outra -- Depois as nuvens vão embora e o céu volta a mostrar sua beleza. -- falava em seu ritmo hipnótico -- Às vezes, no entanto, parece que uma grande tempestade virá, mas nada acontece; são apenas sinais ilusórios.
--Já li a respeito disso. É típico de toda região das monções. -- arrumou o equipamento em sua bolsa -- Espero que amanhã tenhamos um lindo dia para a caminhada até Nemche Baza. -- não sabia o que dizer ao certo -- Espero que estas nuvens estejam apenas nos iludindo. -- brincou -- Inshallah! (Se Deus quiser!)
Examinava o rosto da outra. -- Percebe que da mesma forma acontece na vida? -- balançou a cabeça -- As dificuldades vêm sem que esperemos e depois vão embora. -- olhava nos olhos -- O tempo que duram, depende muito de nossa reação aos seus efeitos. -- aproximou-se um pouco mais -- Vivemos em um planeta de grandes provações, Zinara. -- pausou brevemente -- Chaaku ki dhaar tej kee jaa rahee hai... (A faca está sendo amolada...) -- anunciou em tom profético -- Muitas dores virão e não podemos reagir como crianças mimadas diante delas. -- aconselhou
Sentia-se presa ao olhar da guia. -- Por que está me dizendo estas coisas? -- perguntou sem entender -- Have I done something wrong? (Eu fiz alguma coisa errada?)
Lila deu um suspiro profundo e afastou-se caminhando lentamente para a beira do caminho onde se encontravam. Contemplou as poucas luzes que iluminavam o vilarejo e gastou uns segundos calada antes de responder. -- Como tem vivido desde que chegou em Ganar�jya? -- estava de costas para Zinara
Continuava sem entender aonde a guia queria chegar. -- Eu... -- aproximou-se dela e ficou observando a mesma paisagem -- Eu tenho estudado e trabalhado muito, faço pesquisas para o meu doutorado...
--Wrong answer, my friend. (Resposta errada, minha amiga.) -- interrompeu-a educadamente -- Não é isso. -- olhou para ela
--O que deseja saber? -- virou o rosto na direção da mulher -- MaÄ© samjhÄ�. (Eu não entendo.)
--Eu perguntei como tem vivido desde que chegou em GanarÄ�jya. -- repetiu -- E a resposta é: você não vive. -- afirmou convictamente
Não esperava ouvir aquilo e não soube o que dizer.
--Main vah nahin samajhaa sakta huun... (Eu não consigo explicar isso…) -- continuou a falar -- Mas eu sei que você bloqueou todos os sentidos do coração, deixando apenas o raciocínio lógico operar. -- tocou levemente o centro do tórax da astrônoma -- Anahata está em total desequilíbrio. -- referia-se ao chakra do coração
Zinara afastou-se perturbada. -- Como pode saber isso? -- abraçou-se com a bolsa do telescópio -- Nós mal nos conhecemos...
--Você está aprisionada em si mesma e por isso aprisiona miasmas e cultiva doenças, mesmo sem ter consciência do fato. -- pausou brevemente -- Sua amiga Rachna é refém da cobiça, da posse de coisas que passam. Ela diz que busca por luz, mas na verdade deseja apenas riquezas. -- sorriu -- Pobres riquezas que invariavelmente irão passar.
“Que mulher é essa pra saber de tanta coisa?” -- pensava intrigada
--Mas não me preocupo com ela. Sei que a montanha removerá a máscara que se forjou para esconder a cobiça. -- anunciava profeticamente -- Estamos no primeiro dia e ela já fraquejou. -- examinava as reações da outra -- Você, ao contrário, me preocupa.
--Why? (Por que?) -- olhou para a guia mais uma vez
--Porque nunca se deve apagar a luz do coração. -- as palavras fluíram como flechas em seus lábios
“Aquela conversa mexeu muito comigo, Kitaabii. Eu sabia que Lila tinha razão e me impressionava em como podia ser. Mediunidade desenvolvida ou simplesmente uma observadora atenciosa? Fosse o que fosse, minha curiosidade e encantamento por ela só faziam aumentar, ao mesmo tempo em que suas palavras me faziam pensar sobre mim mesma.
Os dias transcorriam sem pressa e continuávamos nossa marcha ascendente, seguindo rigorosamente o roteiro que nos havia sido passado: Nemche Baza, Tingbock, Dangbock e uma subida ao pico Nargjam, para o grupo se aclimatar com a altitude. Foi a partir daí que o ritmo de Rachna desacelerou substancialmente e, por isso, Lila designou um dos locais que nos acompanhava para guiar o grupo, enquanto ela viria atrás monitorando a loura. Eu seguia ao lado das duas.
Continuando a trilha ao longo do vale, chegamos à face frontal do glaciar mais famoso da região. Rachna entrou em desespero quando avistou os monumentos de pedra homenageando os mortos de Chomolungma. A profecia de Lila se cumpriu mais cedo do que eu imaginava...”
--Não!! -- gritou no idioma pátrio e caiu de quatro no chão -- Bah, eu não aguento mais! -- respirava sofregamente -- Isso não é pra mim!
--Rachna. -- Zinara ajoelhou-se ao lado dela -- Yahda’u! (Fique calma!) -- aconselhou -- Se chegou até aqui pode seguir adiante. -- tirou-lhe a mochila das costas
--Você não consegue continuar? -- Lila ajoelhou-se tranquilamente perto da moça e tirou a própria mochila -- How are you feeling? (Como se sente?) -- fez com que se sentasse
Os outros membros do grupo estavam muito adiantados em relação a elas e não podiam ver o que se passava. Dois rapazes carregadores, que seguiam com as mulheres, interromperam a caminhada aguardando instruções quanto ao que fazer. Lila fez sinal para que deitassem as cargas no chão.
--I’m feeling sick. (Estou me sentindo mal.) -- falava com cara de choro -- Sinto dores pelo corpo, a cabeça me enlouquece de tanta dor, meus lábios estão rachados, a pele seca, os cabelos parecem... -- pensava em como dizer em saxão -- palha de milho…
--Isso é apenas parte do problema. -- começou a massagear dois pontos na nuca da jovem -- Você não consegue esquecer, não é? -- analisava a loura -- Aquele rapaz...
“No dia anterior, Kitaabii, um rapaz de outro grupo avistou uma peça, a qual identificou como relíquia, pendurada em uma escarpa da parte inferior da cascata de gelo. Seduzido pela possibilidade de se apropriar dela, arriscou-se desviando da trilha e sem avisar a ninguém. De repente, ouvimos um grito de desespero e em poucos segundos o corpo se perdia em um verdadeiro mar de neve e rochas. Rachna, que estava perto do abismo, paralisou com a cena e levou muitas horas sem dizer uma palavra.”
--Eu não pude fazer nada... -- respondeu com os olhos marejados -- Eu...
--Sh... -- pediu gentilmente para que silenciasse -- Nobody could save him. (Ninguém poderia salvá-lo.) -- continuava massageando -- Ele fez uma escolha e pagou o preço alto que ela cobrava. -- olhou para um dos rapazes -- Ligue o fogareiro e prepare um chá para ela, ká¹›pyÄ� (por favor) -- pediu no idioma gindi e ele prontamente obedeceu
--What do you mean? (O que você quer dizer?) -- sentia a dor de cabeça aliviando aos poucos -- De que escolha você está falando?
"Acho que sei o que ela vai dizer.” -- Zinara prestava atenção nas duas
--Ele se deixou seduzir pela matéria e no desejo de tomar posse dela, acabou perdendo algo muito mais importante. -- parou de massagear e encarou a outra com um olhar perscrutador -- Você vai se deixar cair no abismo também?
Rachna entendeu e ficou visivelmente desconcertada.
--Te. -- o jovem ofereceu uma caneca de chá, que a loura aceitou
--Seu corpo sente o peso da caminhada que você decidiu trilhar apenas para fazer disso algo que se convertesse em vantagens posteriormente. -- afirmou sem quaisquer dúvidas -- Sua mente sente o peso do remorso pela morte do jovem, porque também, de certa forma, se identificou com ele. -- olhava nos olhos -- Seu espírito já não aguenta se apequenar diante da matéria, a qual você se subjuga por simples ambição. -- pegou uma das mãos da loura e desenhou com o dedo uma linha sobre ela -- Athon ki lakiron par barabar vishvas nahi karna cahiye kyonki takkdir to unki bhi hoti hai jinake hath nahi hote. (Seu futuro não depende das linhas em suas mãos, porque pessoas que não têm mãos, também têm um futuro.) -- pronunciou o provérbio lentamente para se fazer entender
Rachna bebia o chá sem dizer uma palavra. A astrônoma não sabia o que dizer ou fazer. Lila se levantou e pegou o rádio para se comunicar com os outros do grupo.
--Eu desisto. -- a loura afirmou em um sussurro após beber todo chá
--Choo? (O que?) -- não acreditava no que ouvia
--Eu desisto, guria. -- falava no idioma de Terra de Santa Cruz -- Isso tudo é uma grande farsa, EU sou uma grande farsa... -- derramou algumas lágrimas -- A montanha não me quer aqui, e eu quero ir embora, daí.
--Rachna, pensa bem se é isso mesmo... -- aconselhava
--Me chama de Denise. -- interrompeu-a com um gesto cansado -- Rachna não faz o menor sentido agora...
“E Rachna, ou Denise, acabou mesmo desistindo da montanha e fez o caminho de volta acompanhada pelos dois carregadores que estavam conosco. Nossa despedida foi emocionada e ela me pediu que seguisse adiante sem me preocupar com coisa alguma. Lila providenciou tudo para que Denise voltasse em segurança e continuou comigo para que continuássemos a trilha. Apressamos a marcha e conseguimos nos unir ao grupo no início da noite.
Dois dias depois, chegávamos ao campo base junto com dois grupos da Gália. O dia estava incrivelmente lindo e fiquei tão emocionada que perdi a fala por completo. Nunca vou esquecer a visão daquelas montanhas, Kitaabii. Foi uma honra inenarrável a qual Allah me permitiu viver e que ficará eternamente gravada em minhas memórias mais queridas.
Os locais fizeram um almoço que me pareceu maravilhoso e como sempre tive muita pena deles. Se podíamos contar, a 5350 m de altitude, com uma barraca refeitório totalmente equipada, banheiros e barracas para dormir, isso era graças àquelas pobres criaturas que ganhavam uma miséria para carregar o mundo nas costas. De nada reclamavam, por nada protestavam; são homens e mulheres habituados a servir e nada mais. Os iaques, fiéis escudeiros de todos os montanhistas da região, seguiam também com cargas imensas e, talvez, como uma sutil vingança, espalhavam suas fezes por todas as partes.
Fiquei surpresa com o tamanho do campo base. Cada expedição ocupava uma área considerável, com as barracas bem espalhadas por causa das rochas irregulares, e um tanto distantes umas das outras. Havia outros grupos que já estavam lá quando chegamos: eram os escaladores que buscavam fazer o cume do Chomolungma. Desejei ardentemente fazer parte disso, mas creio que não nesta vida, Kitaabii, não nesta vida...
Lila conhecia praticamente todos os locais e guias presentes no campo base. Conversava com as pessoas e ajudava os que estavam com dificuldades. Eu não sabia o que mais extasiava meus olhos: os belíssimos cumes nevados do topo do mundo ou a aura daquela mulher que continuava sendo um grande mistério para mim.”
--SuniyÄ“? (Com licença?) -- Lila chamava do lado de fora -- Gostaria de um chá quente, Zinara? -- perguntou solícita
A jovem abriu a porta da barraca para que a guia entrasse, a qual removeu as botas e se acomodou perto da entrada. Trazia uma pequena chaleira e duas canecas penduradas por uma cordinha.
--Let’s close the door again. (Vamos fechar a porta de novo.) -- disse bem humorada enquanto puxava o zíper da barraca
--Dhanyav�d. (Obrigada.) -- agradeceu com voz cansada enquanto era servida
--E o que conseguiu avistar por hoje? -- Lila perguntou interessada -- Lattar me disse que você acompanhou três excursionistas da Gália e ficou observando as estrelas com seu telescópio. -- sorriu -- Considerando os ventos e a temperatura de -17ºC eu diria que foi muito corajosa. -- serviu a si mesma de chá
Zinara bebeu dois goles antes de responder. -- O céu estava perfeito e a visibilidade era de tal forma como nunca vi na vida. -- falava demonstrando cansaço -- No entanto, não pude aproveitar muito, porque a lente congelou. -- as duas riram brevemente -- Sabe... acho que exagerei... -- pausou -- I feel like I was sick, you know? (Sinto-me como se estivesse doente, sabe?) -- reconheceu envergonhada -- Talvez eu tenha ultrapassado meus limites... -- bebeu mais um gole
--Você caminhou bem, manteve o ritmo por todos estes dias e ainda fez todos os picos sugeridos para uma boa aclimatação. -- olhava fixamente para a morena -- But I don’t think that is the point. (Mas eu não acho que esta seja a questão.) -- considerou -- Talvez o compromisso com o patrocinador, a necessidade de carregar este telescópio pesado e adquirir boas imagens com aquela câmera... -- apontou brevemente para os equipamentos no canto da barraca -- Você carrega cargas pesadas demais, Zinara. -- bebeu todo o chá sem perder o contato visual com a astrônoma -- Você traz muito peso sobre os ombros.
A jovem também finalizou seu chá, mantendo-se fixa no olhar da mulher. -- Você fala como se me conhecesse há décadas... -- colocou a caneca no chão -- Às vezes me parece ser capaz de ver as pessoas além do que elas desejam mostrar. -- Lila colocou a caneca no chão também -- How is it possible? (Como isso é possível?) -- estava curiosa
A guia sorriu e se aproximou um pouco mais. -- Será que você já se viu por dentro? Além do que está disposta a deixar transparecer? -- tocou o rosto da jovem com as pontas dos dedos -- Será que você sabe quem realmente é? -- falava com voz hipnótica -- Do you have guts to face yourself? (Você tem coragem de encarar a si mesma?) -- provocou misteriosa -- Será que tem? -- recolheu as mãos
Sentia-se enfeitiçada. -- Who do you think I am? (Quem acha que sou?) -- perguntou quase sussurrando -- Would you tell me... (Será que me diria...) osad ainy (em frente aos meus olhos)? -- misturou os idiomas
--Tic. -- fez um típico gesto de pescoço -- Prefere que responda nessa língua? -- perguntou no idioma de Terra de Santa Cruz
--Smallah! -- exclamou espantada -- Você fala minha língua? -- usou do mesmo idioma
--Partes de GanarÄ�jya, pequenas partes, falam este idioma. Já residi em uma delas. -- esclareceu sorrindo
Sorriu também. -- Não cansa de me surpreender... -- estava pasma -- Mas ainda não disse quem pensa que sou. -- insistiu
A guia gastou uns segundos estudando o rosto da jovem até que começou a falar: -- Você é a razão que racionaliza os fatos, a inteligência que desvenda os mistérios, a visão do que poucos enxergam... -- gesticulava -- É a coragem para enfrentar o que for preciso e o medo de encarar as próprias fragilidades... -- tocou levemente o coração dela -- É fidelidade irrestrita, amor desesperado, necessidade de pertencer... -- sorria -- Você é orgulho e simplicidade, soberba e humildade, leveza e rigor, guerra e paz...
--Quem é você, Lila? -- sentia-se em transe
Aproximou os lábios do ouvido da morena e sussurrou lentamente. -- Uma chama. -- deslizou a ponta do nariz pelo rosto dela -- Um espelho. -- colou testa com testa -- Uma lembrança. -- deslizou as duas mãos até a altura do chakra do coração -- E uma saudade... -- fechou os olhos
“Sem saber exatamente porque, eu também fechei os olhos, Kitaabii, e percebi que ela orava por mim e me aplicava uma espécie de passe. Suas mãos deslizaram suavemente por todos os meus chakras, finalizando sua trajetória sobre minha cabeça. Deixei-me envolver naquele clima que nada tinha de erótico ou sensual, mas enchia-me o corpo de prazer e vitalidade.
Após um tempo que não sei dizer o quanto durou, Lila segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou a testa. Rapidamente se levantou, pegou suas coisas e saiu da barraca sem dizer uma palavra. Permaneci estática por alguns minutos até que me deitei e dormi tranquilamente até o momento de recomeçar a jornada, agora no caminho de volta.
A descida foi tranquila, mas notei que havia uma diferença: Lila me evitava. Fiquei desconcertada com isso e sem coragem de me aproximar dela. Gastava minhas horas contemplando a paisagem, fotografando e eventualmente conversando com alguém do grupo. Refleti muito sobre minha vida e posso dizer que Chomolungma e Lila operaram grandes mudanças em mim. Antes eu estava vivendo em uma casca; agora não queria mais. Antes eu buscava nas mulheres com quem me relacionei algum vínculo com o passado; dali por diante, esse tempo havia chegado ao fim.”
--Mas como assim, guria, o que é que tu me dizes? -- Denise protestava -- Estás louca ou o que? -- gesticulava -- Passagem comprada e tu queres perder o avião? -- olhava para Zinara -- E teu trabalho e teu doutorado? -- não entendia -- Vais ficar aqui em Kamanduth fazendo o que??
Sabia que a loura tinha razão. -- Ana a’arfa... (Eu sei...) Mas... no retorno foi tudo muito corrido, muito louco, mal tive chance de conversar direito com Lila. -- argumentava -- E ela me ajudou tanto... -- andava de um lado a outro no quarto -- Eu queria agradecer e... -- passou a mão nos cabelos -- Tem tanta coisa que eu queria dizer a ela... -- estalou os dedos nervosamente
--Bah, tu que sabes! -- desistiu de insistir no assunto -- Se vais ficar aqui, então volto sozinha pra Bengaluru amanhã. -- ajeitou a cama para se deitar -- Mas cuide da vida porque nada nestes países é fácil. -- deitou-se -- E tens que dar satisfação a chefe, professor e àquela cambada toda. -- virou-se de lado -- Boa noite. -- fechou os olhos
--Boa noite... -- suspirou -- "E quem vai conseguir dormir essa noite?” -- pensou agoniada -- AHHa... -- resmungou sozinha -- "Acho que vou pro saguão do hotel arrumar alguma coisa pra fazer.” -- decidiu -- "Oh, Aba, Denise tem razão...” -- pegou um casaco, as chaves do quarto e saiu -- "Quê que eu faço?” -- descia as escadas -- "Eu tô simplesmente doida pra falar com Lila, não posso ir embora daqui assim...” -- pensava -- "Mas falar o que?” -- não sabia -- Ô, caipira, toma tento na vida, fi! -- aconselhou-se em voz alta
Chegando no saguão, Zinara constatou que havia muitos jovens conversando animadamente. Falavam alto e riam de qualquer coisa. A maioria ainda estava para iniciar a investida à montanha e discutia sobre suas expectativas. Sem disposição para bagunça ou bater papo, a morena decidiu ir para um pequeno espaço que os donos do hotel reservaram como uma espécie de biblioteca.
“Duvido que venha alguém pra cá.” -- pensou ao entrar na salinha -- O que será que eles têm por aqui? -- lia os títulos -- The Chakra’s Compendium. -- interessou-se -- Acho que vou dar uma olhada nesse aqui. -- selecionou o volume e se sentou -- Mas eu faço o que da minha vida afinal? -- continuava na dúvida -- Ave Maria, deixa eu tentar dar uma lida pra ver se abre a cabeça! -- começou a ler
Minutos depois um sotaque conhecido se fez ouvir: -- Fico feliz que o assunto tenha te despertado. -- sorriu
--Smallah! -- largou o livro e levantou-se surpreendida -- Como você...? -- estava feliz e pasma ao mesmo tempo -- Eu mal posso acreditar... -- sorria como boba
--É assim mesmo que se fala em Terra de Santa Cruz? -- perguntou bem humorada ao se aproximar -- Despertado? -- repetiu a palavra
--Aywah! (Sim!) -- achou graça -- Você fala minha língua muito bem por demais da conta! -- elogiou -- Lila, eu... nem sei como dizer... -- segurou as duas mãos dela -- Mas tava aqui pensando em não voltar pra Bengaluru amanhã só pra poder te ver de novo e... -- sentiu o rosto queimar e se afastou desajeitada -- Pra te ver de novo porque eu... eu... -- gaguejou -- "Ô, bicha besta, não sabe nem o que vai dizer!” -- repreendeu-se mentalmente
Achou a timidez da astrônoma encantadora. -- Eu também desejava lhe falar e sabia que deveria estar no hotel. -- examinava as atitudes da outra -- A moça da recepção disse que a viu entrando aqui; não adivinhei nada. -- esclareceu bem humorada -- O final da excursão foi acelerado e não pudemos conversar como eu gostaria... -- pausou brevemente -- Eu não podia deixar de vir.
Sentiu o coração acelerar. -- Mas por que você ficou me evitando? -- perguntou ao olhar para ela -- Bitichkii min eh? (Qual é o problema?)
Lila se aproximou e segurou uma das mechas do cabelo da morena. -- Uma vez em Chomolungma, -- falava com sua voz hipnótica -- não é correto alimentar pensamentos impuros... -- mirou os olhos
“Eita, que assim a caipira não dá conta...” -- pensou aparvalhada -- Impuros? -- engoliu em seco
--Volte para Bengaluru amanhã. -- pediu gentilmente -- Eu vivo em GanarÄ�jya e não aqui. -- deslizou o dedo pelo rosto dela -- Volte, e eu vou procurá-la. -- prometeu -- Eu tenho seus dados por causa da excursão. Não terei dificuldades em te encontrar. -- sorriu
--Ah... -- não sabia o que fazer -- Vai? Me procurar? -- estava como boba
Segurou o queixo da jovem e a beijou sensualmente. Zinara sentiu o corpo queimar da cabeça aos pés, abraçou a mulher pela cintura com força e retribuiu o beijo com muito desejo.
Mordeu o lábio inferior da astrônoma. -- A pressa... -- sorriu e se afastou caminhando até a porta -- não deixa a pimenta fixar o sabor... -- traduzia um provérbio local -- Só faz queimar a boca. -- fez a típica saudação e partiu
Zinara ficou abestalhada acompanhando a guia com o olhar. “Essa mulher... Ave Maria, Nossa Senhora, que a caipira tá pegando fogo!” -- pensou excitada ao tirar o casaco -- "Ela disse que era uma chama...” -- lembrava -- "Você vai acabar se queimando, Zinara...” -- passou a mão nos cabelos
***
--Gente, mas essa história é surreal demais! -- Magali ria descontraída -- Então quer dizer que aquele homem -- apontou discretamente para Marco -- se inventou de lutar pra conseguir dinheiro e foi todo mundo pra Capital atrás dele achando que tava se esbaldando com amante? -- achava graça -- E a tia de Zinara ainda se pendurou no pescoço do outro lutador pra matar o cara? -- ria com vontade -- Ai, ai, pelo menos a confusão valeu a pena, né amiga? Faturaram o dinheiro! -- secou os olhos molhados de tanto rir -- É muito amor, não dá pra negar! -- olhou na direção de Najla e Marco
--E você não sabe do que mais! -- achava graça também -- Os dois apaixonados foram filmados em altas declarações românticas no ringue e o vídeo caiu na rede. -- contava -- Aisha falou que tá bombando na internet e ela já arrecadou uns dez mil reales em contribuições!
--Gente! -- arregalou os olhos
--Mesmo no dia da luta, Aisha e Janaína passaram a sacolinha e saíram de lá com uns cinco mil!
Riu de novo. -- Clarice, tô passada com isso! -- cruzou as pernas -- Depois dessa, até eu vou contribuir com uma quantia módica! -- sorriu
--Eu também. -- concordou -- Aisha me passou os dados bancários da conta da fazenda e eu vou fazer um depósito tão logo volte pra São Sebastião.
--Falando nessa Aisha, figura louca, -- fofocava baixinho -- a família aqui sabe que ela é casada com tal da Janaína e encaram na boa, né? -- admirava-se -- Por que você e Zinara têm que disfarçar? -- não entendia -- Quer dizer, disfarçar mal, né? Porque não nota quem não quer! -- provocou
--É diferente, Magali! Quando Zinara e dona Najla reencontraram com ela, Aisha já havia se assumido e tava casada. Foi um fato que acabou se impondo. -- explicava -- Além do mais, a filha de dona Amina e seu Raed é Zinara! Ela se destaca, é a própria personalidade desse lugar aqui, então o buraco é mais embaixo! -- pausou brevemente -- E apesar de tudo, eles não notam que Zinara e eu somos um casal. -- observou -- Quer dizer, muitos não notam, outros não querem notar.
--Assim como não notam ou não querem notar que aquele tal de Fred é gay! -- comentou -- O marido dele ainda vá lá, mas Fred tá na cara, faça-me o favor! -- gesticulou divertida -- Lúcia e eu, também acho difícil de não se notar.
--Fiquemos do jeito que está que a coisa vai muito bem, Magali. -- aconselhou -- E hoje é a festa de réveillon, não vamos arrumar problemas. -- piscou para a outra
--Amiga, e essa festa promete, viu? -- estava ansiosa -- Depois daquela passadinha que a gente deu lá no clube Cedro-Suriyyah, fiquei até com vergonha do modelito que eu trouxe pra usar na virada! -- desabafou -- Que coisa chique! -- aproximou-se mais de Clarice para cochichar -- Da onde eles arrumam tanto dinheiro?
--Zinara me explicou que a comunidade junta dinheiro o ano todo pra essas festas e aquele seu Rafi, que dá em cima de mamãe, entra com uma boa parte da grana. -- explicava -- Ele trabalha com comércio e é o mais endinheirado da região.
--Dona Leda podia aproveitar, viu? -- brincou
--Fala isso pra ela, pra você ver! -- advertiu achando graça
Magali olhou para Lúcia e Zinara brincando com as crianças no riacho e sorriu. -- A gente aqui fofocando e nossas mulheres se esbaldando com a galerinha, olha só! -- suspirou -- Minha bombeira é muito fofa, né? -- apoiou o queixo sobre uma das mãos
--Minha caipira também! -- olhava para a amada com olhos ternos -- E nada que nem uma sereia...
--Eu entendo porque você gosta tanto daqui. -- reparava no ambiente -- Dá vontade de voltar pra casa? Que nada! Esse lugar é lindooo! -- gesticulou afetada -- E a comida é bárbara! -- elogiou -- Imagino hoje, que vai ter ceia! -- lambeu-se
--A festa de natal foi o máximo! -- contava -- Prepara-se pro que vem por aí!
--E falando no que vem por aí... -- Magali ajeitou o banquinho para ficar bem junto à amiga -- Vamos falar do que realmente interessa! -- estava cheia de fogo -- Como é que foi lá na barraca? -- queria saber -- Quando Lúcia e eu chegamos nessa roça e demos de cara com vocês voltando, não pude deixar de notar o teu sorriso bobo e a cara de deliciosamente exausta! -- sorria saliente -- Vai ter bis depois da virada? -- piscou
Clarice corou. -- Mas que coisa! -- desviou o olhar -- De tudo quer saber! -- protestou timidamente
--Deixa de enrolar e responde! -- deu um tapinha no braço dela
--Vai ter bis, sim... -- respondeu de cabeça baixa -- Quando a caravana de convidados for embora no dia 02, a gente volta pro ninho.
--E tua mãe fica aqui com o Di pra segurar as pontas junto com tua sogra, né? -- piscou -- Vocês no bem bom e elas disfarçando pro povo. -- comentou maliciosa
--Pois é... -- sorriu envergonhada
--Mas agora fala! -- insistiu -- E como foi no natal? -- não cabia em si de assanhamento
Deu um suspiro profundo antes de responder. -- Foi tão bom que eu fiquei com medo... -- confessou
--Como é que é?? -- não entendeu
--Ai, Magali, como é que eu posso te explicar? -- levantou-se e andou um pouco em círculos
As duas amigas conversavam sentadas em banquinhos perto do rio. A família da morena trabalhava no clube, enquanto Najla e Marco ciceroneavam as crianças e os convidados, que se esbaldavam na água.
--Qual foi a neura que você me inventou dessa vez? -- perguntou desconfiada
--Não é neura! -- ajoelhou-se perto da outra e começou a cochichar -- Zinara fez coisas... -- gesticulava -- Ela parece que conhece cada parte do meu corpo capaz de me dar prazer e... -- passou a mãos nos cabelos -- Fez cada massagem, me provocou de um jeito! -- olhou para a outra -- Nunca g*zei tanto na minha vida! -- admitiu
--Gente!!!! -- arregalou os olhos e se ajoelhou também -- Ela fez a coisa tântrica??? -- queria saber -- Kamasutra clássico, pompoarismo cósmico, energia mística fluindo no sex*??? -- e tome de fogo no rab*
--Tudo isso e mais um pouco! -- olhava para amiga
--AHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!! -- deu um berro escandaloso ao se levantar -- GENTE, QUÊ QUE É ISSOO??? -- deu pulinhos
Todos pararam e olharam na direção das duas.
--MAGALI!! -- Clarice ralhou entre dentes ao se levantar
--AHHa, aconteceu alguma coisa?? -- Zinara perguntou preocupada
--Que foi amo..., -- disfarçou -- que foi Magali? -- Lúcia não entendia
As crianças tinham pontos de interrogação na cabeça.
--Se precisar de alguma ajuda... -- Marco veio se encaminhando para perto
--NÃO! -- Magali fez um sinal negativo -- É que... -- pensava no que dizer -- Eu vi um besourão, que meu Pai do céu! -- pôs a mão no peito -- Gente, quê que é isso? -- disfarçava -- Mas já voou, né, amiga? -- olhou para Clarice
--Ah, é, já voou. -- gesticulou -- Voou! -- apontou para o nada
Todos riram e deixaram de lado.
--Escandalosa essa amiga de Clarice. -- Cecília comentou reparando -- Um grito medonho desses por causa de besouro!
--É que ela não tem um cabra macho que nem eu pra proteger dos bicho do mato! -- puxou-a pela cintura e a beijou
--Mastô, sossega! -- ralhou dengosa -- Olha as crianças! -- sorria
--Besouro, sei... -- Leda resmungou sozinha -- Clarice deve tá é contando pra ela as safadeza no mato com Zinara! -- concluiu -- Casal lésbico é tudo tarado, vou te contar! -- reparou em Cecília e Adamastor se agarrando -- Ei, vocês aí! -- espanou água em cima deles -- Olha a sacanagem na frente das crianças! -- ralhou
--Depois só o meu cigano é que é sem vergonha... -- Raquel falou consigo mesma
--Acredita nisso de besouro? -- Fred perguntou ao marido
--Com aquela cara que elas estão? -- reparava discretamente nas amigas -- Pois sim! -- riu
“O que será que minha Sahar tanto cochicha com Magali?” -- Zinara pensava desconfiada
“Depois eu quero saber direitinho o quê que deixou essa mulher com tanto fogo!” -- a bombeira pensava -- "Te conheço, Magali... te conheço...”
--Mas, vem aqui, amiga! -- Magali pegou a outra pelo braço e se afastaram um pouco -- Continua contando que ninguém desconfiou de nada! -- falava baixo -- O quê que ela fez? Enfiou dedo onde, fez o que com a língua, te apalpou por que lado??? -- perguntava tudo ao mesmo tempo -- Me ensina tudo, dá detalhes, que eu quero aprender o máximo que puder!!!
--Ih, eu hein? -- protestou -- Tenho nada pra te ensinar, pode abaixando o fogo! -- reparava para ver se alguém prestava atenção -- Que coisa, parece tarada!
Fez um bico. -- Você sempre escondendo o jogo! -- cruzou os braços contrariada -- Não é toda mulher que conhece alguém que fez um doutorado tântrico em GanarÄ�jya! -- reclamou -- Se fosse eu, dividiria contigo, tá? Além do mais, pesquisadora não pode segurar informação e esconder o conhecimento da comunidade científica!
--Até parece que você tá interessada em ciência! -- rebateu
--Mas já que desse mato não vai sair coelha, deixa ao menos eu entender o motivo do teu medo. -- olhava para a outra -- Qual foi o estresse? As posições são muito loucas, você tá com medo de dar um jeito na coluna, quebrar uma perna, trincar os dentes, qual é a problemática, porque eu não pesquei? -- parou para pensar -- Câimbra na passarinha?? -- aventurou
Acabou achando graça. -- Não é nada disso, mulher. -- riu brevemente -- Você, como sempre, viaja... -- riu brevemente -- O problema é justamente uma coisa que você mencionou: o doutorado tântrico!
--Ah, Clarice, me poupe! -- fez um gesto contrariado
--Te poupe, por que? -- respondeu chateada -- Será que você não entende? -- falava como quem diz o óbvio -- E se, lá pelas tantas, Zinara fizer uma comparação mental e descobrir que a professora tântrica que ela arrumou do outro lado do mundo era muito melhor do que eu?
--Ah! -- riu -- Com certeza ela vai arrumar as malas e voltar pra GanarÄ�jya perguntando: “-- Ei, gente, alguma de vocês sabe, no meio desse bilhão de pessoas, cadê a maluca que eu peguei há tempos atrás e que me ensinou o tantra de A a Z?” -- falava sarcasticamente -- Francamente, né, Clarice?
--Fala baixo! -- ralhou de novo -- Claro que eu sei que ela não vai fazer isso, também não sou nenhuma idiota! -- protestou -- Mas eu fiquei pensando e Zinara teve mulheres muito experientes! -- afirmou preocupada -- A tarada de GanarÄ�jya, Jamila...
--Eu não me lembro de ver você preocupada desse jeito com a ficha corrida de Cátia! -- argumentou -- E com certeza ela era bem mais experiente que Zinara! -- revirou os olhos -- Nós duas sabemos disso muito bem! -- olhou rapidamente para Lúcia -- Quer dizer, nós três!
--Mas é diferente! -- afastou-se um pouco -- Cátia foi uma fuga mal sucedida a que eu me permiti pra tirar Zinara do pensamento... -- suspirou -- E minha caipira é a mulher que eu quero pra vida toda...
--E aí, a mulher se cura de uma doença infernal e se enche de força pra te dar noites de prazer tântrico sob as estrelas e você me arruma um motivo pra se preocupar e sofrer? -- não se conformava -- Pelo amor de Deus, criatura! -- balançou a cabeça contrariada -- Solta essa franga louca e apronta tudo e mais um pouco no fase 2 da sacanagem que vai rolar no mato depois do réveillon! -- aconselhou -- Pára de ficar pensando bobagem!
--Você não me entende mesmo... -- olhou para ela chateada -- Se tivesse lido o que eu li naquele Kitaabii, entenderia o motivo dos meus receios!
--Não seja por isso! -- já veio pulando -- Cadê? -- abria e fechava as mãos -- Me dá o pen drive que eu leio tudinho em cada detalhe dos mais tórridos!!! -- aguardava ansiosa -- E vou ler com Lúcia, pra gente já ir exercitando. Sabe a coisa do tutorial?
--Eu, hein, parece até uma carangueja! -- deu-lhe um tapa na mão -- Não vai ler nada! -- afirmou resoluta -- "Já basta eu pra saber o que aconteceu quando a tal da Lila encontrou com Zinara em Bengaluru!” -- pensou revoltada
***
“E ela veio mesmo me procurar, Kitaabii, dois meses depois da excursão, em junho, a apenas alguns dias da minha defesa de tese. Cheguei a pensar que havia esquecido da promessa que me fez. Lila apareceu, repentinamente, caminhando pelo corredor de entrada do Instituto como se levitasse. Incrível! Ela parecia ser capaz de adivinhar onde e como me encontrar.
Eu caminhava para junto dela, mochila nas costas e um livro nas mãos, sem enxergar absolutamente nada mais. Não sabia o que esperar, mas o coração estava a ponto de explodir.”
--Namastê! -- fez a típica saudação -- Aap kaisey hain? (Como vai?) -- perguntou sorridente ao se aproximar
Colocou o livro debaixo do braço e repetiu a saudação. -- Namastê! -- sorria abobalhada -- Mein theek hoon, shukriya! Aur aap? (Bem, obrigada! E você?)
Aproximou-se mais e respondeu em um sussurro: -- Mujhey aapkee bahut yaad aaee. (Eu senti muito a sua falta). -- olhava nos olhos -- Mas prefiro falar na sua língua para que somente você me entenda.
--Ah! -- ficou momentaneamente sem fala -- Eu... -- respirou fundo -- Também senti muito a sua falta. -- sorria feliz -- Sua demora em me procurar me pareceu uma eternidade... -- confessou -- Cheguei a pensar que houvesse me esquecido.
--Eu precisava de tempo e de espaço. -- tocou suavemente a ponta do nariz da jovem -- Agora disponho de tudo isso. -- sorriu
--Eu vou defender minha tese esse mês. Daqui a alguns dias! -- calou-se imediatamente -- "E o que é que tem a ver a sua tese com o que ela tá dizendo, bicha besta?” -- repreendeu-se mentalmente -- "Vai ser lesa assim nos infernos!”
--Bom saber. -- cruzou as mãos por detrás das costas -- E creio que fará isso em Terra de Santa Cruz também, não? -- perguntou curiosa
--Sim, mas antes ainda defendo na Gália. -- respondeu timidamente
--Está tensa? -- fez um típico gesto de pescoço
-- Aywah... (Sim...) -- balançou a cabeça
--Então eu vim no momento exato. -- segurou uma das mãos da morena -- Venha comigo e esqueça do resto. -- pediu hipnoticamente
Zinara nada respondeu e se deixou guiar por Lila. “E seja lá o que Deus quiser!” -- pensou
***
Lila e Zinara estavam em um quarto de um hotel na periferia de Bengaluru. O lugar era na verdade um templo abandonado que havia sido convertido em hospedagem de luxo. O espaço era enorme, decorado ao mais belo estilo de GanarÄ�jya, como algumas velas, belos tapetes, almofadas coloridas e roupas de cama de seda e algodão.
--Smallah! -- olhava boquiaberta para todos os lados -- Acho que nunca na minha vida estive em um ambiente tão chique!
Achou graça. -- Aconchegante, não? -- perguntou sorridente -- Creia que aqui tem tudo que nós precisamos.
--Eu não preciso de muito. -- olhou nos olhos da outra -- "Só você me basta!” -- não teve coragem de verbalizar
--Deixe seu material aí, querida, -- indicou uma mesinha -- e venha tomar um banho relaxante comigo. -- apontou para um belo ofurô no lado esquerdo do quarto -- Água morna com pétalas de rosa. -- passou a mão suavemente pela água
“E o banho já tá até pronto!” -- pensou surpreendida -- "Ave Maria!” -- pensou -- Eu... -- deixou o material na mesinha e tirou os sapatos -- Eu... -- estava com vergonha de se despir
Sorriu para ela, caminhou até um pequeno aparelho de som e o ligou. Voltou para perto do ofurô e chamou com o dedo. -- Vem aqui, habibi? -- lançou um olhar hipnótico -- De agora em diante eu cuido de você. -- afirmou carinhosamente
A astrônoma caminhou rapidamente até a mulher e parou diante dela. Não sabia o que dizer ou fazer. Lila gentilmente começou a despi-la com um carinho quase maternal. Indicou para que entrasse na tina e Zinara obedeceu. Em seguida, despiu-se lentamente, mas de uma forma tal que não despertava a volúpia, apenas acolhimento.
--Deixe-me cuidar de suas costas. -- guiou a morena para que se virasse e enroscou as pernas na cintura dela -- Tensa... -- começou a massagear-lhe as costas -- Vamos aliviar esse peso dos ombros... -- sussurrou no ouvido
Aquela proximidade causou arrepios na jovem astrônoma. -- Ah... -- gem*u espontaneamente
--A raiz de quase todos os chakras encontra-se na coluna. -- seguia massageando lentamente do pescoço ao cóccix -- Vamos limpar as bases dos seus centros de energia.
--Mumtaz... (Excelente...) -- fechou os olhos sentindo-se relaxada
--Presumo que esteja gostando. -- massageava as omoplatas
--Muito... -- sorria
--O melhor, -- aproximou-se do ouvido novamente -- ainda está por vir...
“Que mulher é essa, meu Pai do céu?” -- sentia-se excitada
--Agora venha comigo. -- mordeu a pontinha da orelha dela e se levantou
Levantou-se e virou-se de frente para a outra. -- Alaan!! (Agora!!) -- abraçou-a pela cintura com força e tentou beijá-la
--Não... -- não se deixou beijar -- Eu disse que de agora em diante, eu cuido de você. -- mordeu-lhe o queixo com relativa força -- Confie em mim e não faça coisa alguma. -- desvencilhou-se e pegou uma toalha cobrindo o corpo com ela -- Venha. -- chamou -- Há muito mais o que se fazer. -- indicou a cama com a cabeça e saiu da tina
Sentia-se perturbada. -- Quem é você, Lila? -- pegou uma toalha e saiu também -- Eu nem mesmo sei o seu nome verdadeiro! -- enrolou-se na toalha -- E por que está comigo aqui? -- queria entender
--Para você, -- aproximou-se da outra e segurou-a pela toalha -- sou a personificação do que procura e ao mesmo tempo não quer encontrar, -- guiava-a até a cama -- sou aquilo que não quer ver e que te salta aos olhos, -- fez com que se deitasse -- sou o esforço vão que te move a querer ser o que não será -- despiu-se novamente -- e a constatação de que todas as coisas são impermanentes.
Parecia que vivia uma experiência surreal. -- Você...
--Sou a realidade que te incomoda, -- fez com que se virasse de bruços -- a aceitação do outro, -- puxou a toalha -- as bombas que explodem na sua alma, -- sentou-se sobre as nádegas dela -- o pôr de sol de suas tardes infantis... -- pegou um vidrinho de óleo e derramou um pouco sobre as costas da morena -- Sou o mistério que te fascina -- começou a massagear -- e as respostas que não deseja ouvir...
--Eu... com você eu nunca sei o que dizer... -- deleitava-se com o toque firme e suave ao mesmo tempo -- Ai... -- gem*u
--Não há o que explicar ou falar. -- continuava massageando -- E se estou aqui com você... -- reclinou o corpo para sussurrar no ouvido -- é porque eu quero... -- expirou ar quente sobre a pele da outra -- e você quer... -- sentou-se novamente e continuou a massagear
--Ah... -- gem*u excitada mais uma vez
--Agora, não falemos coisa alguma... -- seguia percorrendo a coluna devagar -- Nem sempre as palavras são necessárias...
--Nem sempre são... -- concordou
Lila continuou a massagem comprimindo suavemente cada vértebra da coluna da morena, desde o pescoço até o cóccix. Na base da cintura pressionava para baixo em pontos específicos e seguia com as mãos o movimento ascendente, alternando entre compressões e um suave roçar de dedos. Na base do pescoço, estimulava pontos específicos que provocavam arrepios de desejo, vez por outra se reclinando para mordiscar ou lamber partes da pele nua ou a ponta das orelhas. Zinara sentia-se no céu.
--Oh, Aba, que...? -- não conseguia falar
--Shh... -- pedia silêncio enquanto continuava massageando. Deu atenção aos braços e cuidou das mãos com leves pressões e mordidas suaves
“Essa mulher parece que sabe cada canto pra apertar, Minha Nossa Senhora...” -- pensava extasiada
Continuou seguindo pelo corpo da morena, massageando as nádegas, coxas, panturrilhas e pés.
--AI! -- gem*u mais alto quando um determinado ponto foi pressionado
“Mais tarde, Kitaabii, vim a descobrir que aquele ponto tão doloroso era relativo ao pâncreas.”
Sem dizer uma palavra, fez com que a mulher se virasse de barriga para cima e recomeçou a massagem agora pelos pés. Seguiu lentamente pelas pernas, evitou o sex*, cuidou do abdômen, acariciou os seios, massageou os braços e os ombros.
--Eu... -- sentia-se no auge da excitação -- Eu não vou conseguir ficar boazinha por muito tempo... -- afirmou com voz gutural
Achou graça e mordeu o lábio inferior da morena. -- Às vezes... -- percorreu uma trilha suave com a ponta da língua até o umbigo dela -- o prazer... -- arranhou a pele suavemente desde o ombro até a pélvis -- imobiliza... -- introduziu três dedos -- e emudece... -- pressionou por dentro e iniciou um movimento rítmico, forte e suave
A morena respirou fundo mas não teve fôlego para emitir qualquer som.
“Aquela sensação era indescritível, Kitaabii. Lila me tocava de uma forma como ninguém jamais havia feito. Ela me estimulava fortemente e ao mesmo tempo prolongava o prazer como se o orgasm* fosse algo que lutasse para “sair” sem, no entanto, conseguir. A outra mão acariciava meu seio suavemente e eu me sentia totalmente refém de minhas próprias sensações. Quando acreditei não poder suportar mais, ela mergulhou os lábios em meu sex* e me enlouqueceu com seus movimentos de língua e lábios. Não sei dizer quantos orgasm*s tive, mas meu corpo vibrava como se estivesse recebendo uma poderosa descarga elétrica.
Passamos horas fazendo amor e ela me ensinou coisas que me deixaram impressionada. Ao final, quando já me sentia exausta, me pediu para deitar de barriga para cima, posicionou alguns cristais sobre a região de cada um dos chakras. Acendeu uns incensos, cobriu meus olhos com um pano branco e cuidou de meus centros energéticos com orações e mantras.
Quando novamente abri os olhos, vislumbrei seu rosto em um lindo sorriso e me lembro bem do que me falou: “Reacendemos a chama da vida. Anahata pulsa novamente e irradia sua bela luz verde... Aconteça o que for, nunca mais apague o coração!”
Eu obedeci, Kitaabii. E nunca mais apaguei...”
Zinara acordava sonolenta e o quarto estava mergulhado no mais profundo silêncio.
--Lila? -- chamou sem ouvir retorno
Sentou-se na cama e se espreguiçou gostosamente. Levantou-se olhando para todos os lados. -- Lila? -- insistia
Pegou a toalha e se enrolou com ela. Procurou por toda parte e enfim constatou que estava só.
--Mas que...? -- não entendia -- Será que ela foi ver alguma coisa lá fora? -- perguntava-se
Decidiu tomar um banho e se vestir. Lila não aparecia e a morena começava a se preocupar.
--Eu não acredito que ela foi embora e me deixou aqui! -- recusava-se a aceitar
Pegou suas coisas e saiu do quarto, constatando antes que nenhum vestígio da presença de Lila havia sido deixado; nem mesmo a toalha que ela usou.
“Shoo sarlake, Lila? (O que acontece com você, Lila?)” -- pensava -- "Depois de uma noite maravilhosa desaparece como por encanto? Se for brincadeira, não tem a menor graça!” -- seguia para a recepção
Uma senhora tipicamente trajada preenchia uns papéis no balcão. Alguns hóspedes conversavam em uma sala ao lado.
--Excuse me, please. (Com licença, por favor.) -- abordou a senhora, que lhe sorriu -- Eu estava no quarto Muladhara e... -- pensava em como falar -- gostaria de fazer o check out, por gentileza.
--Perfect! (Perfeito!) -- foi até o computador e digitou algumas coisas -- Tic, está tudo certo. -- sorriu novamente para a astrônoma
Não entendeu. -- Perdoe, mas... gostaria de saber quanto estou devendo. -- tentava esclarecer
--Nada! -- balançou o pescoço -- A senhora Zinara Raed já havia deixado tudo pago. -- explicou
--Zinara Raed?! -- não entendeu
--Sim. -- respondeu calmamente -- Ela fez a reserva, cuidou de tudo e pagou. -- sorria -- A senhora não precisa fazer mais nada.
--Oh... -- balançou a cabeça perturbada -- Obrigada! -- fez uma saudação típica e se afastou -- "Eu não acredito nisso...” -- pensava boquiaberta -- "Ela fez a reserva no meu nome e cuidou de tudo como se fosse eu...” -- passou a mão nos cabelos -- "Será que fez isso só pra eu não conhecer a verdadeira identidade dela?” -- estava incrédula
***
Zinara chegava em casa no início da noite. -- Denise, você taí, fi? -- perguntou em voz alta
--Acabei de chegar. -- saía do banheiro -- Estás com as mesmas roupas de ontem? -- reparou -- Onde passaste a noite, aliás? -- colocou as mãos na cintura -- Fiquei tri preocupada contigo, daí. Mas não sabia como te contatar.
Ficou sem graça e desviou os olhos. -- Uai... Fui estudar na casa de uma colega de departamento e acabei dormindo por lá. -- mentiu -- Então fui direto pro Instituto sem passar aqui. -- queria mudar de assunto -- Deixa eu te perguntar...
--Hoje eu passei horas no aeroporto mas já resolvi tudo, daí. -- interrompeu a fala da outra -- Volto pra Terra de Santa Cruz na semana que vem, segunda-feira. -- sentou-se numa almofada e sorriu -- Quem diria que tu voltarias ainda depois mim, hein? -- lembrava-se dos planos originais da morena
--Só um pouco depois de você, uai. -- sentou-se do lado da loura -- Mas ainda passo na Gália antes porque tenho o que ver por lá. -- olhava para ela -- Deixa eu te perguntar, como foi que você conseguiu entrar em contato com Lila? -- foi direto ao assunto que lhe interessava -- Laa acrif... (Eu não sei...)
--Ainda pensando em Lila? -- estranhou
--Eu vou embora, né? -- levantou-se rapidamente -- Queria me despedir... Dizer um até mais, ala halik (cuide-se)...
Acreditou. -- Eu a conheci por internet e foi assim que a contatei. -- contava a história -- Mas por coincidência, fui dar uma olhada no blog dela anteontem e vi que ele não existe mais. -- passou a mão nos cabelos -- Joguei o nome de Lila no Busca e vieram milhares de resultados! Desisti de procurar, daí.
--Mas qual é o nome dela? -- queria saber -- Lila é que não pode ser, uai!
--E eu sei? -- levantou-se e foi indo para o quarto -- Eu só queria uma boa guia mística de montanha. Nome completo, CPF e identidade não me interessavam...
“Confesso que gastei um tempo pesquisando sobre Lila na internet, Kitaabii, e não encontrei nada que me levasse até ela. Troquei e-mails com pessoas que fizeram parte de excursões dela e ninguém sabia de nada. Nunca soube seu verdadeiro nome, nunca mais a vi ou obtive quaisquer notícias.
Às vezes me pegava me perguntando se tudo não teria sido um sonho, no entanto, achava essa hipótese muito pouco provável. Foi real demais...
Por um bom tempo, fui capaz de ouvir sua voz em minha mente repetindo a primeira definição que me fez a respeito de si mesma: “-- Uma chama. Um espelho. Uma lembrança. E uma saudade...”
Ela não mentiu em nada, apenas deixou de ser saudade para se tornar um símbolo quase mítico do período em que vivi experiências inesquecíveis do outro lado do mundo.”
Fim do capítulo
Música do Capítulo:
Zinara Canta para Clarice:
Ma Fini Fakker. Intérpretes: Raiomond Mirza ft Mena. Sem informações sobre os compositores
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Samirao
Em: 12/10/2023
Essa tua coisa tantrica Aff mata-me hayati huahuahua
Solitudine
Em: 11/11/2023
Autora da história
kkkkkkkkkkkkkkk
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Alexape
Em: 04/01/2023
Logo hoje que eu vou sair você tá online... amei essa fase da história e fui laçada nos encantos da Maya (e da autora). Beijos e até a próxima
Resposta do autor:
Olá querida,
Hoje está sendo um dia atípico. Logo sumo de novo, mas sempre volto! rs
Que bom que a história está te enredando tanto. Mas eu não tenho encantos, não acredite nisso. Apenas caipirices e muito trabalho do lado de cá. rs
Beijos e até mais!
Sol
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Seyyed
Em: 25/09/2022
Cararra Magali agora tá gente fina. Coloca essa Clarice pra pensar!! Vim nesse aqui só pra falar da parte da montanha. Fodíssima!!!+ E essa guia hein? A mulher sabe tudo, surge do nada, manda ver um tantra daqueles é some sem deixar nem o nome? Cararra me amarrei tritudo! Clarice tu tem ciúme dessa aí guria? Acorda!!!
Vou te que sair. Até manhã
Resposta do autor:
Você verá que uma hora nossa amada Clarice vai ficar mais, mansa, diria eu. rs
O capítulo Lila na vida de Zinara foi carregado de maravilhas e muito mistério. Ou seja, tudo que aquela caipira precisava na ocasião.
E quem não gosta de um mistério?
Beijos,
Sol
PS: Respondi tudo!!!
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Seyyed
Em: 25/09/2022
Hahahahaha morri de rir com TGO a luta a confusão, tu é doida!! E Vanessa pense numa convertida puta merda! hahahahaha EBT te faz sofrer mas é muito comédia! Hehe Sabe que eu gosto da Clarice mas ela tem umas coisas... toda no bem bom e resolve ter ciúme da guia gostosa? Porra! Zi nunca mais nem vai ver essa! Mas se quiser me passar o contato. Sabe como é tô solteira hahaha
Resposta do autor:
Doida eu não posso negar que sou... kkk Gostou da confusão da luta? Najla botou moral no trem, viu, fi? kkk
A conversão de Vanessa foi algo que ninguém esperava; nem ela! rs
Que bom que você se diverte com essa caipira!
kkkkkkkkkkkk Eu não tenho o contato para passar, mil perdões! rs
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 28/05/2020
Olá Sol!
Dona Amina bem que podia me convidar pra uma festa dessas, deve ser incrível!! Nunca fui acredita?
É tanta gente convidada pra essa festa, olha que seu fosse acho que passaria despercebida... Kkkkkk...
Olha a falta de comunicação de novo, dessa vez com Marco e Najla, entendo que ele não queira contar, mas a bichinha tá numa consumição só! E ela está supondo, nada a ver!
Gente e essa briga de irmãos? Kkkkkkkk... Rindo mas com respeito viu?
“- Será que você já voltou pro cigano pornô e se arengou com Clarice por causa disso? – concluía” Eita pau, essa velhinha é esperta por demais!!!
Ainda tentando entender Cátia e Jamila, sério não combinam... Kkkkk... Não é implicância, só é estranho.
Que luta foi essa minha gente???? Najla acabando com o cara... Kkkkkkk... O Brasil perdendo um talento desses , que desperdício Braseuuu! Dona Amina já chegou batendo também... Kkkkkkk... Briga, briga, briga...Kkkkkk...
Só faltou Raed e Amina se beijarem aí o grand finale seria perfeito!
A bousa da Clarice pira! Kkkkk...
Zinara é romântica incurável, fofa demais!
Fala sério Sahar, Zinara te venera, oxi!
Magali consegue ser mais tarada que Zinara, a bicha só pensa em sexo! Kkkkkkkk.... Besouro mais tarado esse! Kkkkk...
“--Besouro, sei... -- Leda resmungou sozinha -- Clarice deve tá é contando pra ela as safadeza no mato com Zinara! -- concluiu -- Casal lésbico é tudo tarado, vou te contar! -- reparou em Cecília e Adamastor se agarrando -- Ei, vocês aí! -- espanou água em cima deles -- Olha a sacanagem na frente das crianças! – ralhou” Dona Leda matou a charada da Magali... Kkkkkkkk....
“Câimbra na passarinha??” Kkkkkkkkkkkkkk.... Gente essa Magali é doidinha!
Mas verdade seja dita, Magali é das poucas que consegue dar uma situada na insegura Clarice.
Lila... Lila... Interessei na massagem... Kkkkkk... Que nada, a Ju faz divinamente, fico mega relaxada.
Mas bah Sol, tu gostas de ruivas e sotaque sul daí!
Muito bem, a cada capítulo um misto de emoções, fico encantada com seu modo de escrever e não me canso de dar mil parabéns!
Beijos querida!
Ps. Devia ter opção de escolher nota acima de 10!!
Resposta do autor:
Gabinha!!!
Festa na roça é tudo de bão!!!
Essa luta de ya Marco e Tião Gancho de Ouro foi épica! E mais épica ainda a saga da família indo para a Capital para desvendar o mistério.
Você não gosta de Cátia e Jamila, não é? kkk Aí não tem jeito...
Zinara não é tarada, ela só aprecia a mulher que tem. E Magali é curiosa demais! Ya Leda sempre ligada e muito esperta, especialmente se o assunto se refere às filhas dela.
Lila e a montanha foram um capítulo à parte. Como não ser?
Fico feliz que você goste deste conto. Coisa que me anima a continuar.
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Olha que coisa feia, implicando com os outros! rs