CIDADE RESTINGA
CAPÍTULO 152 – Começando o Ano
--Aprendi aqui, criança, modi sabê plantá e coiê ipim! -- Amina ensinava a lide da roça para os pequenos -- Quandu ocês puxá a raiz num podi batê cum ela, sinão o ipim fica amargu qui só! -- advertiu
--Eu bem gosto das coisa da roça, Khadija! -- Deodoro falava empolgado -- Quando eu crescer, quero estudar as plantas e vim casar com você aqui! -- fazia planos
--Eu também queru istudá os trem da roça! -- concordava -- Aí nóis casamu e cuidamu de plantá cumida modi o povo si alimentá, num sabi?
--Gidda, ensina também sobre os bichos? -- Hassan pediu enquanto trabalhavam -- Eu gosto dos animais!
Amina gostou do que ouvia das crianças -- Ocê é iguar Khaled! Eli adorava us animar... -- lembrou-se do filho
--Quandu eu crescê queru sê fazendêru iguar camma Najla era. -- Ahmed João falou -- Aí Khadija e o Di vão trabaiá mais eu. -- olhou para o primo -- E si Hassan quisé cuidá di meus animar, eu queru também!
--Eu vou ser psicólogo quando eu crescer, João! -- esclareceu o primo -- Mas posso te dar uma ajuda com os bichos quando tiver de férias! -- combinou
--Ahmed Mateus vai cuidá di seus bichu, João. -- Khadija respondeu convicta
--E ocês? -- Amina perguntou às outras crianças -- O qui ocês qué sê quando crescê? -- olhava para eles
--Eu queru sê cunsertadô di carru! -- Ahmed Marcos respondeu -- E queru cunsertá camião, tratô e motu! -- cavucava a terra
--E eu queru tê uns cincu mininu! -- Ahmed Lucas respondeu mexendo com a pazinha -- E minina também!
--Uai, mais issu num é jeitu di ganhá a vida, num sabi? -- Amina explicou achando graça
--Não?? -- ficou triste -- Mas devi di dá um trabaio... -- todos riram
--Eu vô sê professora qui nem camma Zina! -- Cidmara decidiu -- Modi insiná ocês tudu a lê! -- os mais velhos riram
--Eu vô sê professora modi insiná o povo a plantá certu! -- Khadija concordou com a prima -- Professora di adurtu, qui nem camma Zina é! -- sorria -- E vô conhecê um monti di cantu nessi mundu!
--Quando você for, leva eu? -- Deodoro pediu animado
--Levo. -- balançou a cabeça concordando
Amina observava a neta com curiosidade. Ela costumava a afirmar certas coisas com tanta convicção que era difícil não acreditar que pudessem acontecer.
--Ocê fala cum uma certeza, muiézinha. -- aproximou-se dela para ajudar a puxar o aipim -- Eu gostu dissu!
--Dêxa eu contá qui é purquê eu jogo as cartas, gidda, e elas mostra. -- explicava sorridente -- Di e eu vamo istudá os trem da roça e nóis vamu trabaiá modi não sujá a natureza e o povo cumê os trem sem grotóco! -- referia-se aos agrotóxicos -- Nóis vamu casá e tê fio.
--Oba! -- Deodoro exclamou animado -- Eu bem quero dois: menino e menina!
--Eu vô sê professora qui nem camma Zina, -- a garota continuava -- Ahmed Mateus vai istudá os bicho e trabaiá mais nóis. Hassan vai estudá os doenti da cabeça, mas vai vivê sempre pertu di nóis! -- olhava para a avó -- Meus primu tudu vai trabaiá mais nóis, só qui cada um fazendu um trem diferente! -- conseguiu tirar o aipim -- E todu mundu vai tê fio! -- segurava a raiz -- Quandu us tempu di dureza e di fomi vié, nóis vamu ficá tudu juntu! -- profetizou
--Smallah! -- Amina estava surpreendida -- Fiquei inté arrepiada, ói! -- mostrou o braço
--Eu gosto de ver quando vocês ensinam as crianças sobre as lides da roça. -- Marco falava com Raed -- Isso é muito importante pra que elas aprendam o valor da terra, dos alimentos e das pessoas que plantam o que a gente come. -- olhou para o homem -- Sempre admirei muito as mãos que cuidam da terra. -- sorriu -- Aliás, o que eu tô dizendo? -- balançou a cabeça negativamente -- Vocês fazem parte das pessoas que plantam o que a gente come nas cidades.
--Nóis habituemo os mininu nessa lida desdi novu, num sabi? -- respondeu orgulhoso -- Num é a toa qui elis gosta daqui.
--E fazem muito bem! -- concordou -- Quando a família não ensina algo de útil às crianças, os bandidos vêm e ensinam o que não presta.
--Cum nóis num tem isso, não! -- Raed gesticulou -- E si vié pra cá insiná bestagi prus mininu, eu pegu meu facão e cortu us trem di homi fora!
“Ele e essa mania de cortar os trem fora...” -- pensou achando graça -- Que pena que a maior parte das pessoas foi embora, né? -- comentou -- Tava tão divertido com aquele mundaréu de gente aqui! -- sorria -- Ainda bem que Aisha, Janaína, dona Leda, Clarice, Zinara e o Di ainda permanecem. -- olhou na direção de Najla e suspirou -- Ainda bem que eu tô aqui pra ficar bem perto da minha dona... -- pausou brevemente -- Com todo respeito, é claro. -- complementou
--É bão... -- Raed olhou para todos os lados para ver se alguém podia ouví-los e decidiu perguntar: -- Dêxa eu ti perguntá. Prosiadu di homi, num sabi? -- aproximou-se mais -- Ocê qui é homi créu, -- cochichava -- mi diz comu qui faiz pra muié ficá suspirandu e rodopiandu pelus cantu qui nem minha irmã fica! -- olhava para ele -- Eu nunca qui vi Amina nesse resfulengu... -- lamentou
Sentiu vontade de rir, mas se conteve. -- Você quer dizer... -- tentava entendê-lo -- que quer saber como... -- pensava em como se expressar -- reacender a chama do seu casamento? Aquele fogo de outrora? -- piscou para ele
--Ocê respeiti minha muié, seu créu! -- levantou-se enfurecido -- Negócio é essi di dizê qui Amina tinha fogu nas otróra? -- falava de cara feia -- "Será qui essas otróra é as curnicha?” -- pensava intrigado
--Calma, homem, senta aí! -- puxou-o pelo braço para que sentasse novamente -- Eu não ofendi sua mulher, apenas te perguntei se você queria reviver aqueles momentos quentes de começo de namoro, só isso. -- esclareceu -- Pra te responder direito tenho que entender o que você quer saber, não acha?
Raed pensou antes de responder e começou a falar de cabeça baixa: -- Naquelis tempu a genti num tinha issu di namoru e nem ficava nessas indecença qui ocê e minha irmã vivi pur aí, não! -- gesticulou -- Nóis casava e prontu!
--Imagino que sim. -- prestava atenção
--E us tempu era di guerra, num tinha issu di lua di mer... -- lembrava -- Logu vieru us mininu e a fomi e a famia morrendu nu mei naquela disgracêra toda... -- seus olhos ficaram marejados -- A vida dura nu campu di refugiadu e dispois a vida na fazenda di Najla, a época qui o disgraçadu du maridu dela ixpursô nóis... -- deu um suspiro profundo -- Nóis vimu dois fio morrê, Zinara foi imbora da roça, os mininu mais novu só fazia trapaiada e nóis cunsertandu... -- olhou para Marco -- Amina e eu num tivemu tempu di... -- não sabia como dizer -- di sê um casar cum... romantismu, num sabi? -- desabafava -- E eu assumu qui sô brutu e sem tinu pra essis... essis modu di homi créu qui ocê tem! -- admitiu
“Acho que ele vai morrer me chamando de Créu.” -- pensou divertido -- Tudo bem, deixa ver se te entendi. -- tentava compreender o outro -- Você quer dizer que sua vida com Amina foi dura desde o princípio e os dois não tiveram tempo de romantizar e viver essas coisas de casal, não é isso?
--É. -- respondeu simplesmente
--Mas agora o pior já passou e você tá mais que disposto em recuperar o tempo perdido, não é? -- deu uma esbarradinha no ombro de Raed
--É... -- balançou a cabeça -- Eu quiria vê Amina qui nem veju Najla... mais num sei comu...
--Em primeiro lugar tem que se permitir ser carinhoso, mais compreensivo e menos durão. -- aconselhou -- Você não vai ficar menos masculino se aprender a romantizar. -- olhava para o cunhado -- Amina jamais vai tomar essa iniciativa porque seria demais pra cultura de vocês na cabeça dela. Tem que partir de sua parte mesmo.
--Eu sei... -- concordou -- E é pur issu qui cumecei essi prosiadu. -- justificou-se -- Eu num ia perguntá uns trem dessi prum fio meu qui ficava chatu. Indecença!
Examinava o homem. -- Você sabe das coisas que ela gosta, Raed? -- perguntou curioso -- Por exemplo, do tipo de música? Das coisas que ela gosta de fazer pra passar o tempo, relaxar? Do que gosta de comer? -- pausou brevemente -- Já parou pra prestar atenção nisso?
Riu brevemente. -- Ô, sô... -- balançou a cabeça -- Qui diachu di pergunta é essa? -- achava a resposta óbvia -- Prestu atenção nessa muié desdi qui vi pela primêra veiz, num sabi?
--Então pode ser mais fácil do que imagina... -- piscou para ele -- Mas precisa ter coragem pra mudar esse teu jeito de tratar com ela e lidar com a forma desconfiada como Amina vai entender essa mudança. -- antecipou os fatos -- Porque ela vai estranhar, esteja preparado! -- advertiu
Olhou para Amina junto com as crianças. -- Eu venhu mudandu faiz tempu... -- respondeu pensativo -- Raed Raja nunca foi homi di num tê coragi, não! -- garantiu -- Não meis! -- deu um soco na mão
--E foi desse jeito, ya Leda. -- Najla contava a história enquanto caminhavam pelo roçado -- Mas acho que nem Marco imaginava que o pessoal do boxe seria capaz de um marketing tão poderoso pra atrair tanta gente pra ver a luta!
--E que bom que atraiu, graças a Deus! -- postou as mãos brevemente para cima -- Melhor ainda que o tal do Gancho de Ouro se lascou e perdeu a luta! -- sorriu
--Não gostei daquele homem! -- lembrava-se dele -- "Gancho de merd*, isso sim!” -- pensou de cara feia
--E com isso, agora te falta menos do que antes pra recuperar a fazenda de volta! Bem menos! -- comentou otimista -- Se bobear, não demora muito e tudo se resolve!
--Inshallah! (Se Deus quiser!) -- desejou -- Como diz o ditado: de grão em grão a galinha enche o papo. Esse dinheiro há de aparecer na vida da gente! Por que não? -- tinha fé -- Depois de tudo que já vivi, não duvido de nada mais!
--Nem eu! -- concordava
--Mas, ya Leda, mudando de assunto, deixa eu perguntar... -- deu o braço a ela -- Foi impressão minha ou ya Rafi me apareceu com uma namorada na festa de réveillon? -- queria fofocar
“Humpf!” -- fez um bico -- "Já começa o ano com assunto ruim!” -- pensou contrariada -- Pois eu vi o perna fraca cheio de fogo com uma mulher e gostei bem! -- respondeu sinceramente -- Graças a ela meu réveillon foi só de alegria!
Achou graça. -- Ela é bem mais jovem do que ele, né? -- olhou para a idosa -- Acho que deve ser da idade de Zinara.
--Ele que não se cuide, não... -- comentou
--Por que? -- não entendeu -- Acha que ela tá com ele por interesse e pode deixá-lo sem nada?
--Acho que ele pode é morrer, isso sim! -- esclareceu enfática -- Mulher nova, cheia de fogo, enquanto isso o Rafi das perna fraca não aguenta nem uma gata pelo rabo... -- explicava olhando para a outra -- O pinto não dá conta e o coração tampouco! -- afirmou enfática -- Haja língua, minha filha, porque os dedos vão dar câimbra!
Najla riu gostosamente.
***
--Conta de novo pra mim como foi a história de você viajando pro Santuário com dona Ritinha e dona Zezé pra pagar a promessa delas pra te fazer curar? -- pediu melosa -- Hein? -- sorria -- Repete aquela parte do véu branco porque Zinara é virgem... -- achava graça
--Só pra ficar rindo das fucinhas da caipira, né, Sahar? -- brincavam com as mãos uma da outra -- Laa... (Não...) -- negou dengosamente -- Conto mais, não... -- sorria
As namoradas estavam à vontade na barraca de camping. Clarice estava sentada em cima da caipira, a qual permanecia deitada de barriga para cima.
--Hum... -- fez beicinho -- Você é má, Zinara... -- fazia um charminho
Sentou-se rapidamente e a abraçou pela cintura. -- Ma hatha? (O que é isso?) -- fingiu-se indignada -- Sou má por causa de tão pouco? -- beijou-a -- Logo eu que sou sempre tão boazinha com minha Sahar...? -- beijou-a novamente
--Boazinha, você? -- mordeu-lhe o lábio inferior -- A senhora não tem sido nada boazinha comigo nessa barraca... -- envolveu o pescoço dela com os braços -- Parece que só pensa em se aproveitar de mim o tempo inteiro... -- beijou-a
--E se for verdade e eu quiser mesmo? -- mudou as posições e deitou-se sobre ela -- Mere dil par tumhaaraa naam likhaa hai... (Seu nome está escrito no meu coração...) -- sussurrou no ouvido e a beijou
--Que língua é essa? -- segurou o rosto da morena com as duas mãos e a beijou -- Não é a de Cedro... -- beijou-a de novo
--Gindi. -- mordeu-lhe o queixo -- Eu disse que seu nome está escrito no meu coração. -- traduziu antes de beijá-la
--Hum... -- interrompeu o beijo e desvencilhou-se da outra, deitando-se de lado -- Mais uma frase que aprendeu com a guia tarada de Ganarājya? -- perguntou enciumada
“Ô, Aba, pra que eu fui me inventar de dizer isso?” -- arrependeu-se -- Sahar, min fadlik, ya habibi (por favor, minha querida), pare com essa ciumeira boba... -- virou-se de lado também e abraçou-a por trás -- Lila é coisa do passado, não tem porque você ficar assim!
--Pois eu aposto que você morre de saudades dela! -- respondeu despeitada -- Daquela expetise kamasútrica, da aura de mistério, da piruada mística... -- falava chateada
Acabou achando graça. -- Ai, Sahar, você me vem com cada uma que parece duas. -- beijou e cheirou o pescoço dela -- Não tem nada disso... -- beijou o rosto -- O amor da minha vida é uma única mulher. -- mordeu-lhe a orelha -- A única pra quem um dia já disse... -- puxou-a mais forte de encontro a si -- Ana fy knt, wknt fy ly wAllah fyna... (Eu em você, você em mim e Deus em nós...) -- sussurrou
Ficou arrepiada. -- Ai... -- gem*u e sorriu -- Assim não vale... -- retrucou dengosa
--Vale sim! -- deslizou uma das mãos para o sex* da outra -- Vale muito... -- usou uma perna para que Clarice abrisse mais as dela -- Vale muito... -- apertou um seio com a outra mão
--Ai... -- gem*u e fechou os olhos -- Ai, amor... -- sentia o prazer proporcionado pelos toques da amante -- Ah!
Zinara tomava o pescoço da parceira com beijos quentes e mordidas suaves, enquanto as mãos cuidavam de satisfazê-la de todas as formas possíveis. Movia-se contra ela de forma ritmada sem aparentar a menor pressa em se satisfazer.
“E eu que um dia acreditei que Cátia seria a experiência mais quente da minha vida...” -- Clarice pensava extasiada
--Ai, ai, não pára, não pára, habibi!!! -- Jamila gritava -- AH! -- arqueou o corpo involuntariamente em um orgasmo delicioso -- Aaaaah... -- aquietava-se aos poucos -- "E eu que um dia acreditei que não haveria ninguém melhor que Zinara...” -- pensou satisfeita -- Jayed jedan... (Muito bom...) -- sussurrou -- "Meretíssima, que mulher vossa excelência me mandou...” -- agradecia mentalmente
--Eu fico louca de prazer só de te ver goz*ndo assim, sabia? -- beijou-a com paixão -- Gostosa... -- sussurrou
--Adoro fazer amor com você... -- deslizou um dedo pelo rosto da loura -- Sou sua fã, visse? -- beijou-a, mordendo-lhe os lábios -- Esse ano de 2015 promete, com você do meu lado... -- desvencilhou-se dengosamente
--Ah, volta aqui... -- pediu melosa -- Fala de ficar do lado e vai embora... -- fez manha
Soprou um beijinho para a amante e se levantou. -- Sede, habibi. -- explicou -- Também quer água? -- ofereceu
--Não, obrigada. -- deitou-se de barriga para cima e cruzou os braços por trás da cabeça -- Sabia que fazia tanto tempo que eu não tinha um relacionamento de verdade que eu... -- acompanhava a advogada com os olhos -- já tinha me esquecido de como era bom? -- estava sendo sincera
--Sabia que eu nunca tinha me dedicado do jeito como faço agora? -- servia-se de água -- E embora me assuste, não nego que é muito bom... -- sorriu -- Yali maleat aayamee hana, ya habibi... (Você enche meus dias de felicidade, minha querida...) -- bebeu um gole
--Eu não entendo nada, mas gosto de ouvir... -- sorria -- Será que me daria umas aulinhas sobre essa língua? -- perguntou charmosa
--Até posso tentar, mas não tenho fluência pra isso. -- terminou de beber a água -- Tenho que me disciplinar mais nessa mania. -- reconheceu -- Minha ex era de Cedro, então ela não precisava de tradução. Ficamos juntas por um tempo e eu me acostumei... -- comentou naturalmente -- Mas eu disse que você enche meus dias de felicidade. -- explicou
Gostou do que ouviu, mas ficou cismada. -- Sua ex era de Cedro? Aquela que você diz não ter dado valor na época certa? -- lembrava
Balançou a cabeça positivamente. -- Foi a única mulher de lá com a qual me envolvi. -- voltou para cama e se sentou na beira -- Por que o espanto? -- não entendia
--Uma vez você brincou e disse que as professoras universitárias eram o seu carma... -- lembrava -- Sua ex é professora também? -- estava desconfiada
--Ciúmes? -- jogou um travesseiro na geofísica -- Tá com aperreio de que seja alguma das professoras que você conhece, é? Amiga sua? -- provocou ao se deitar sobre a amante -- Não confia no seu taco, Cátia Magalhães? -- beijou-a fazendo cócegas na cintura
--Confio, sim... -- jogou um travesseiro na outra para se defender -- Fica me fazendo cócegas, pra você ver... -- ameaçou divertida
--Ciumenta! -- virou-se de lado e ficou olhando para a loura -- Será que você e minha ex são amigas, hein? -- provocou
--Não tô com ciúmes, tô só curiosa. -- deitou-se de lado também -- Eu só conheço uma professora universitária que é nascida em Cedro e, definitivamente, ela não é minha amiga! -- parou para pensar e se sentou quase num pulo -- Meu Deus! -- pôs a mão no peito -- Nascida em Cedro, professora, Cidade Restinga, não me diga que é Zinara Raed?? -- arregalou os olhos
--A própria! -- não entendia a reação -- Bitichkii min eh? (Qual é o problema?) -- sentou-se também -- Você não gosta dela?
--O que?? Gostar dela?? -- riu pelo que julgou absurdo -- Eu não suporto aquela terrorista louca!! -- gesticulou com raiva
--AHHa! Posso saber por que? -- fez cara feia -- A julgar pela sua reação, você deve achar que ela te fez algum mal.
--Além de quase quebrar meu pescoço, aquela maluca tirou Clarice de mim! -- acusou sem pensar -- Caipira fura olho!
--Então... -- começava a entender -- O tal anjo que você me falou uma vez, era... -- deduzia -- "Será possível que todo mundo acha que essa mulher é o máximo?” -- pensou contrariada -- Tô percebendo também que a mágoa ficou, né? -- levantou-se de cara feia -- Eu não tenho mais birra com Clarice faz tempo! -- começou a juntar suas roupas -- Você, do contrário, ainda tem mágoa de Zinara por ter perdido o amor de sua vida pra ela! -- afirmou sarcasticamente -- Cara de pau da porr*! -- xingou
“Ih, Cátia, falou besteira... Pensa rápido pra não se dar mal!” -- arrependeu-se -- Não é isso, gata, eu já desencanei de Clarice, não tem mais nada a ver... -- levantou-se também -- Nem penso mais nela, juro! -- falava a verdade
--Deixe de ser fuleira, visse, galega mentirosa? -- retrucou enfurecida enquanto se vestia -- Eu é que fui burra de não ver que tava servindo de prêmio de consolação na falta de um anjo como Clarice! -- ironizou
--Por favor, escuta, -- segurou-a pelos ombros -- eu fiquei cismada com Zinara, mas não é por ainda gostar de Clarice! -- tentava convencê-la -- É coisa de orgulho ferido, mas vai passar! -- Jamila se desvencilhou e continuou se arrumando -- Eu até ajudei ela a encontrar um sobrinho perdido em Maurítia! -- lembrava do caso de Hassan
--Na certa porque Clarice pediu... -- terminou de se vestir -- Duvido que Zinara tenha te pedido isso! -- caminhou até a porta
“E o pior é que ela tem razão!” -- admitiu sem dizer -- Amor, por favor, lembra que eu te pedi pra ficar vivendo aqui comigo e você que não quis? -- seguia atrás dela -- Eu tô séria, tô envolvida, será que não percebe isso? -- argumentava -- Te dei as chaves do apê e tudo!
--Dar as chaves é simplesmente uma forma de facilitar o sex*! -- retrucou -- E eu não aceitei vir morar aqui porque queria ter certeza de algumas coisas! -- olhava nos olhos -- Gaatik niila, Cátia! (Vá para o inferno, Cátia!) -- saiu batendo a porta
--Eita! -- levou um susto com o barulho -- Depois a ciumenta sou eu... -- suspirou -- O destino daquela Zinara é tirar mulher de mim, não é possível! -- cruzou os braços revoltada -- E só mulher boa... -- resmungou com cara de choro
***
Raquel seguia para a casa de Fagundes buscando fazer uma surpresa. Um problema de falta energia fez o expediente dela terminar mais cedo, então achou que valeria a pena procurar pelo policial. Sabia que era folga dele.
“Aposto que ele vai adorar!” -- pensava empolgada
Conhecida do porteiro, subiu sem ser anunciada. Quando estava prestes a bater na porta ouviu vozes lá dentro e o som das risadas.
“Ele tá falando com outro cara e tão fazendo uma bagunça!” -- prestava atenção -- "Quem será?” -- resolveu tentar descobrir antes de se anunciar
--Aquela mulher tá te dando mole, cara! -- Serra dizia para o colega -- Se eu fosse você, pegava! -- aconselhou
--Tô fora! -- desconsiderou -- Você sabe que não sou de bagunça! -- bebeu um gole de cerveja -- Nunca fui de pegar um monte de mulher ao mesmo tempo!
“Esse é o meu cigano...” -- suspirou apaixonada -- "Aquela garota que ele arrumou foi mesmo um caso passageiro...” -- pensava
--Qual é? Agora vai ficar fielzinho com a Raquel? -- provocou -- Já pediu ela em casamento? Vai dar seu nome pro moleque dela também? -- zombava do outro -- Posso ser o padrinho da cerimônia? -- riu
“Sujeitinho cafajeste!” -- pensou revoltada -- "Ele é a má influência na vida do meu cigano!”
--Você adora pegar no meu pé com essa porr*, né? -- respondeu sem achar graça -- Mané casar, tô fora! -- fez um gesto de desagrado -- E eu mal vejo o moleque, justamente pra não ficar amiguinho e não criar expectativa!
Raquel se decepcionou ao ouvir aquilo.
--E qual é a tua com a mulher, então? -- não entendia -- Tu chifrou ela, terminaram, você foi lá pedir pra voltar... -- olhava para o outro -- Não te entendo! -- bebeu o que sobrou da cerveja de uma vez só
--Aquela garota que eu peguei era a maior vadia. -- bebeu outro gole de cerveja -- Tava saindo com mais dois ou três além de mim! -- contava -- Quando descobri, pulei fora e não procurei mais por ela. -- gesticulou -- Acho que ela sacou porque também não veio me procurar.
“Então foi por isso que o casinho dele acabou...” -- concluiu com tristeza
--Raquel é diferente, ela é aquele tipo de mulher de um homem só, sabe qual é?
--E que quer casar com esse homem só! -- respondeu de pronto -- Sabe qual é? -- imitou o outro
--Ah, mas eu vou levando... -- abriu mais as pernas e se esparramou no sofá -- Enrolo daqui, faço uma média dali... Ela é gostosa na cama, é fiel, acredita em tudo que eu digo... -- sorriu -- De vez em quando até vem aqui dar um trato no cafofo! -- achou graça
Sentiu uma dor imensa no peito. “Ele só quer uma mulher certa pra trans*r...” -- admitiu o que não queria
--Cara, -- balançou a cabeça contrariado -- essas coisas terminam em merd*! -- advertiu -- A mulher é separada, mãe, o ex marido já andou te cercando por aí... Ela tá na expectativa de casar, maluco, e isso pode terminar muito mal! -- olhava para o outro -- Você não sustenta uma situação dessas a vida toda! Ninguém sustenta, cara!
--Eu não tô preocupado com isso. -- respondeu com desdém -- Prometi pra mim mesmo que nunca mais me casava de novo e não é Raquel que vai me fazer mudar de opinião! -- afirmou resoluto -- O que eu quero é uma mulher legal pra sair de vez em quando, bater um papo, ter umas trans* boa... Eu curto a Raquel pra caramba, mas se chegar uma hora que ela me encha o saco com esse lance de casar, assumir filho e o escambal, dou no pé e passo pra outra! -- coçou entre as pernas -- Não dizem que sobra mulher no mercado?
--Tu já devia ter passado pra outra há muito tempo! -- gesticulou -- Mas não ouve conselho...
A mulher se afastou da porta e não quis nem esperar o elevador. Desceu as escadas correndo controlando-se para não chorar. Ao sair, olhou para o prédio de Fagundes e jurou a si mesma que nunca mais voltaria ali.
“Acabou!” -- decidiu enquanto seguia pela rua -- "Já fiz papel de palhaça por muito tempo, agora chega!” -- começou a chorar com tristeza
***
--AHAHAHAH, mamãe, por que minha vida amorosa é esse lixo, por que?? -- chorava copiosamente no colo da idosa -- Tá doendo muito... -- soluçava -- Eu acreditava nele... eu sonhava...
Leda abraçava a filha sentindo pena dela. Sofria com a dor de suas meninas. -- Foi bom que tivesse acontecido isso. -- considerava -- Quando a gente falava, você não queria aceitar... ouvindo da própria boca daquele cigano pornô, você não tem mais do que duvidar...
--AHAHAH... -- chorava e gritava
“Tomara que Clarice demore na rua com o Di.” -- desejou -- "Não é bom que o menino veja a mãe chorado desse jeito por causa de macho!” -- pensava -- "E como chora!”
--Todo mundo se arrumou com alguém, mamãe, todo mundo menos eu... -- chorava se lamentando -- Cecília tem um cabra, Clarice conheceu a Comunidade... -- fungava -- Meu filho tem uma namoradinha... -- pensava em Khadija
--Calma, menina, tudo tem seu tempo! -- tentava tranquiliza-la
--Até a senhora que não queria nada, arrumou um bom velhinho lá na roça... -- continuava chorando
--ÊÊÊPAA, que conversa é essa? -- deu-lhe um tapa nas nádegas -- Eu não arrumei nada em roça e nem em lugar nenhum! -- protestou -- E até onde eu saiba, o bom velhinho é papai Noel, minha filha, e esse aí eu não tô pegando! -- gesticulou enfática
Esfregou a pele dolorida. -- Não me bate, mamãe, eu tô sofrendo! -- pediu melosa
--Então não me venha falando besteira! -- retrucou
Chorou por mais algum tempo até que se sentou e esfregou as mãos nos olhos. -- Tô me sentindo um lixo... -- falou como criança
--Ah, minha menina... -- segurou as mãos dela -- Eu não criei filha pra viver penando em mão de cigano... -- suspirou -- Você não pode deixar aquele policial de zona te fazer se sentir assim... -- olhava preocupada para a outra -- Já é hora de sair do mundo dos sonhos e encarar a realidade! -- aconselhou -- Parar pra pensar no que você realmente quer pra sua vida, minha filha. Sem truques e sem máscaras!
--Eu queria ele... -- resmungou chorosa
--Queria ele ou a fantasia que criou com ele? -- rebateu -- Esse homem nunca quis fazer parte da sua vida, menina! -- advertiu -- Ele só queria mesmo era a sacanagem!
--Eu sei... -- fechou os olhos e derramou uma lágrima
--O seu mal, é que você demora muito tempo pra ver a realidade. -- lamentou -- E não toma as devidas atitudes nas horas certas.
Suspirou sem nada responder.
--Seu casamento, por exemplo. -- soltou as mãos dela -- Você nunca quis ver quem realmente Getúlio era. -- acariciou a cabeça da filha -- Vivia numa realidade que só existia nos seus sonhos, mas ao mesmo tempo acabou construindo um modelo alternativo de homem na sua cabeça, por saber que seu marido não correspondia aos seus desejos. -- continuava falando -- Aí, quando o cabeludo dos infernos apareceu, você acreditou que ele era aquele homem idealizado. E tudo por causa da aparência dele. -- pausou brevemente -- Ou dos peitos cabeludos, sei lá! -- fez um gesto
Ficou pensando no que ouvia da mãe e lentamente parava de chorar.
--Talvez você não tenha conhecido nenhum dos dois: nem Getúlio e nem o safadão lá. -- secou as lágrimas da mais jovem com os dedos -- Se quer um relacionamento de verdade, tem que aprender a ver a pessoa que tá na sua frente e não a imagem que você cria. -- falava com carinho -- Pare de viver esperando alguém que caiba no seu sonho!
“Será que ela tem razão no que diz?” -- ponderou
Levantou-se. -- Fica esperta e aprenda com seus erros. -- aconselhou -- E presta atenção no tipo de gente com quem você se envolve. -- caminhava em direção à cozinha -- Lembra que passarinha que dorme com morcego acorda de cabeça pra baixo!
Acabou achando graça. -- A senhora chamando Getúlio pelo nome... -- percebeu o detalhe -- O que aconteceu com o ogro?
--Ele tá deixando de ser ogro. -- respondeu da cozinha -- Pergunte pro seu filho e ele dirá.
Ficou pensando no que ouviu. -- E a senhora foi fazer o que na cozinha? -- queria saber
--Comer, né, menina? -- falou com quem diz o óbvio -- Você ficou chorando no meu colo por horas, deu tempo de abrir o apetite! Sou velha, fico fraca rápido!
Riu de novo. -- Só mamãe pra me fazer rir agora... -- falava consigo mesma -- Mas será que ela tá certa? -- questionava-se -- E será que Getúlio tá mesmo se modificando? -- ficou curiosa -- Não, eu não vou ficar procurando notícias porque a carência faz a gente se entregar fácil... -- considerou -- Eu tenho mais é que passar um tempo comigo mesma e com meu filho pra colocar ordem no meu coração... -- decidiu -- E meter a cara no trabalho pra esquecer aquele cigano mentiroso e cafajeste!
--Aproveita e joga aquela peste daquele retrato fora! -- Leda aconselhou em voz alta -- Foi o retrato dos peito cabeludo que te levou pra essa esparrela!
--E além de tudo escuta bem à beça... -- balançou a cabeça sorrindo
***
Zinara estava em casa estudando quando decidiu dar uma olhada nos seus e-mails.
--Eita, quanta mensagem! -- arregalou os olhos -- Será que dou conta de responder tudo nessa noite? -- reparava nos remetentes -- Ih, que surpresa boa! -- selecionou um dos e-mails e abriu, começando a ler:
“As-Salamu Alaikum, Zinara. (Que a paz esteja convosco, Zinara.)
Que Allah permita que tudo esteja bem em Terra de Santa Cruz. Escrevo porque lembrei-me de suas palavras e queria que soubesse de algumas coisas.
Você deve ter lido sobre o recente ataque ocorrido contra aquele miserável jornal da Gália, Bernie Lepdo, porque a imprensa tem levado a notícia ao mundo todo, porém não deve saber o que aconteceu em Cedro por conta disso. Uma onda de violência varreu o país, acusam as milícias xiitas pelo atentado, e muitos de nossos compatriotas perderam a vida por causa disso. Recebemos algumas vítimas aqui em nossa ONG, dentre elas uma idosa que não tinha mais família para cuidá-la ou um teto para repousar o corpo cansado. Fiquei preocupada com seu estado debilitado e a ela muito me dediquei.
Meu peito estava repleto de ódio por todas estas coisas, mas ela (o nome é Tala) me parecia serena e inabalável. Uma noite em que eu estava tomada por angústia e desilusão do mundo, ela se aproximou e segurou minha mão, dizendo que a guerra estava lá fora; cabia a mim deixá-la entrar ou não. Olhou em meus olhos e disse: “Ala hasb wedad albik... (Tudo depende do seu coração...)”
Fez lembrar o que ouvi de você...
O ódio estava me consumindo, Zinara. O ódio me fazia escrava de tudo contra o qual luto.
Um novo ano começa, não foi um bom início, mas há muito mais por vir. Peço a Allah que haja ao menos um pouco de luz e vou lutar arduamente para que esta luz consiga me iluminar. Ya Tala e você têm razão: ódio não se derrota com mais ódio.
Queria que soubesse que algo mudou em mim...
Que a verdadeira Paz se consolide sobre este mundo. Ismouhou izzouhou mounthou kanal joujoud! (Que Allah te preserve ao longo dos séculos!)
Haifa”
A morena se emocionou com o que leu e ficou feliz em saber que a diretora da ONG de Cedro que a ajudou quando estava no país, parecia ter desistido de se matar e de odiar.
--Vamos responder isso aqui! -- falava para si mesma -- Fiquei emocionada que chega dói! -- sorria -- Ana mabsoutah! (Estou feliz!)
Escreveu para a mulher e despachou o correio. Nesse momento percebeu que Regina estava acionando para uma conversa no talk.
Zina: Menina!!!! Que bom falar com você logo no começo do ano!!
Zina: Como vai? Tudo bem? Como foram as festas?
Regi: Graças a Deus, tudo bem! E o final do ano foi ótimo: família, amigos, ceia farta, queima de fogos...
Regi: E o mais importante
Regi: Muuuito amor! :P
Regi: Agora fala de você, como foi lá na roça?
Zina: Também tive tudo isso, por bênçãos de Allah!
Zina: E muuuuuito amor com minha Sahar!
Zina: Ave Maria...
Regi: kkkkkk
Regi: Vejo que curnichas piaram desvairadas por esse país!
Regi: Sorte a nossa!
Zina: Ô!
Regi: Eu tô com um pouquinho de pressa, infelizmente não posso conversar contigo como gostaria
Regi: Mas te procurei pra dar uma notícia maravilhosa!!!
Regi: Sarita e eu vamos nos casar!!
Zina: Smallah!!! Mabrook!!!
Regi: ????
Zina: Vixi, desculpa!
Zina: Eu fiquei feliz com a notícia boa e dei os parabéns!
Zina: Óvi, óvi, óvi, caipiras of love!!!!
Zina: Afinal, fui eu que servi de cupido, né? Mesmo sem saber! ;)
Regi: kkkkk É verdade, você é a culpada pela maior sorte da minha vida!!!
Regi: Encontrar essa mulher fantástica com quem vou me casar em breve!
Zina: Quando vai ser?? E onde??
Zina: Tem que saber!
Regi: kkkkk
Regi: Meu docinho quer resolver umas coisinhas antes, então precisa de tempo
Regi: Casaremos em junho. Vamos definir as datas certas ainda
Zina: As datas??
Regi: Faremos três festas, caipira, tá pensando o que? ;)
Regi: Uma aqui em Paulicéia, numa cobertura muito gostosinha de um prédio na avenida Pauliceísta
Regi: Outra na Capital
Regi: Tô negociando com os assessores da presidenta Vilma o aluguel do palácio do Sapicuy, mas tá difícil!
Regi: E a terceira vai ser nas Ilhas Semchills, conhece?
Regi: Tem um resort maravilhoso naquele lugar! Vi na internet e fiquei doida!
Regi: Aí gostei e reservei ele inteiro pra nossa festa. Não quero saber de penetra me enchendo os pacová!
--Ave Maria, mas eu fico besta com a riqueza dessa mulher! -- estava pasma -- E eu que nem sei onde diacho ficam essas ilhas!
Zina: Algo me diz que não tenho condição de ir a nenhuma dessas festas!
Zina: Acho que me barram na porta pensando que é mendiga!
Regi: kkkkk
Regi: Boba!
Regi: Você e Clarice serão minhas convidadas pras três festas
Regi: Aguardem os convites!
Achou graça. -- A gente é professora, viu, fi? -- falava sozinha -- Se der pra ir é em uma festa e olhe lá!
Regi: E vocês, quando casam? Já resolveu seus modelos matemáticos e chegou numa solução? kkkkk
Zina: Calma, mulher, não é assim não!
Zina: Tem que ver os trem tudo direitinho...
Regi: Se liga, ow!
Regi: Fica vendo trem pra tu ver!
Regi: Cuide da vida e agarre essa mulher!
Regi: Eu já tô agarrando a minha
Zina: Eu não estou comendo mosca, se é o que pensa
Zina: Mas ainda avalio possibilidades
Regi: Humpf!
Regi: Bem, agora vou lá
Regi: Toma vergonha e faz a tua parte. Casa com ela, faz umas três festas e providencia uma viagem gostosa de lua de mel. Tem uns pacotes de cruzeiros de volta ao mundo que são fantásticos!
Regi: Abre a mão e investe que você tem dinheiro!
Regi: Chao!
Riu do absurdo. -- Eu que tenho dinheiro?? -- riu de novo -- É mole? -- balançou a cabeça -- Mania desse povo de achar que professora universitária ganha horrores... Wana amil eh? (Fazer o que?)
***
Cátia andava buscando por Jamila, mas a advogada a evitava. Pesquisou no site da ONG da morena e descobriu que ela participaria de uma palestra em um centro estadual. Decidiu sair mais cedo da universidade e se dirigiu para lá.
“Todo dia eu sou a primeira que chega e a última que vai embora naquele departamento.” -- pensava -- "Não pega nada se sair mais cedo hoje!” -- mantinha-se atenta ao trânsito -- Quer dizer, o que vai pegar sou eu! -- afirmou decidida -- Eu vou pegar minha mulher de volta e tenho dito! -- deu um tapa no volante -- Ou não me chamo Cátia Magalhães!
Após uma primeira sessão de apresentações e palavras de ordem, um cientista político e militar, da corrente “guerra ao terror”, proferiu sua palestra. Jamila recebeu a palavra logo após ele.
--Esse terrorismo não é novo e tampouco nasceu do nada! -- palestrava usando um microfone -- É uma teia intrincada de fatos históricos e relações incestuosas que compõem o cenário onde atua esse tal de Estado Radical. -- olhava para o público -- Eles não são um bando de loucos fanáticos como a imprensa gosta de mostrar, mas um grupo de sunitas extremados que têm conhecimento em guerrilha, que receberam treinamento militar e têm fonte de renda. E muita renda! -- afirmou enfática
Cátia chegava nesse momento. “E olha minha gostosa fazendo bonito aí!” -- pensou ao sorrir -- "Isso não é mulher, isso é a alegria de qualquer passarinha espevitada que se preze...” -- suspirou -- "Dar mole de perder é nunca!” -- balançou a cabeça negativamente
-- Eles vivem de contrabando de armas, da venda de petróleo no mercado negro e até mesmo do tráfico de mulheres e crianças. Então eu pergunto a vocês: quem são os clientes? -- provocou o público -- I'll tell you who they are. (Eu vou lhes dizer quem eles são.) Eles são os mesmos países que se arvoram em combater o Estado Radical e que defendem a invasão de Suriyyah, de Cedro e de qualquer outro país que seja uma peça interessante nesse jogo de xadrez de grandes proporções que torna o mundo miserável desde o final da Segunda Grande Guerra! -- acusou -- Da onde vêm as armas que eles usam? Quem fabrica as armas que eles usam? -- gesticulava -- Não estou falando de bombas caseiras e armamentos de fabricação persa, falo do armamento pesado, dos tanques de guerra e mísseis. Quem produz? -- provocava -- Digam-me quem?
--Godwetrust! -- muitos gritaram
--A raiz do Estado Radical se encontra nessa eterna política imperialista de determinados países sobre outros! -- acusou -- Isso cria campo para fanáticos e aproveitadores recrutarem homens e mulheres em nome de uma luta que nada gera, senão mortes! -- discursava apaixonada -- Nossa ação deve começar sobre os governos! Governo de Godwetrust, governo da Saxônia, governo da Gália e assim por diante.
--Isso é um absurdo! -- o militar interrompeu -- Temos que empreender uma ação de guerra, uma ação drástica a exemplo do que fizemos na Babilônia em 2003! -- protestou
--That’s for sure! (Com certeza!) -- concordou sarcástica -- Vocês ficaram oito anos na Babilônia, mantendo a estabilidade de um governo corrupto que subsidiava milícias xiitas assassinas e contrabandeava carros para servir de porta bombas! -- acusou -- Vocês mobilizaram 170 mil militares para conseguir simplesmente nenhuma mudança que valesse a pena! -- enumerava nos dedos -- Vocês mantiveram prisões que foram verdadeiras universidades de terrorismo para estes homens que hoje formam o Estado Radical! -- continuava acusando -- Vocês mataram um monte de civis inocentes e cometeram abusos de toda ordem! -- olhava para o homem -- E qual foi o resultado? Um país falido, milhares de mortos, fortalecimento da cultura de ódio pelo Ocidente e o Estado Radical tomando todo o norte da Babilônia e de Suriyyah em menos de três anos depois da retirada das tropas de vocês! -- sorriu sarcástica -- Realmente, mais eficiente que isso, só mesmo a campanha no Vaietnaem! -- debochou
Muitos aplaudiram extasiados, ao passo que vários gritaram em protesto e vaias.
--Uhuu, ela tem coragem! -- Cátia falava para si mesma enquanto aplaudia -- Pegou pesado, gata, e eu adorei! -- estava extasiada -- Essa mulher é tudo!
***
Jamila entrava no banheiro quando se sentiu agarrada por alguém, que a jogou dentro de uma cabine.
--Ma hatha?! (O que é isso?!) -- levou um susto -- Você tá louca? -- reclamou -- Que horror, pensei que fosse algum assassino ou sei lá o que! -- fez cara feia -- AHHa!
--Eu assisti às palestras e aguardei pacientemente o momento de te abordar. -- falava sensualmente -- Cansei de ser tão boa menina, -- imprensou a outra contra a parede -- e vim atrás do que eu quero! -- sua voz era rouca de desejo
“Ui...” -- ficou arrepiada -- Não pense que por causa de uma abordagem como essa eu vou cair na sua rede, Cátia. -- olhava nos olhos -- Jamila Haddad nunca foi prêmio de consolação pra ninguém! -- respondeu atrevida
--E nunca será! -- quase tocava os lábios nos da advogada -- Meu problema com Zinara é orgulho ferido, nada tem de amor por Clarice! -- afirmou com total verdade -- Eu andava esquecida sobre amor há anos até você aparecer! -- não a deixava sair dali
“Ela fala com uma paixão que até dá pra acreditar...” -- pensava -- É muito cedo pra falar de amor, habibi... -- sentia-se perturbada -- E daqui a pouco pode entrar alguém nesse banheiro e...
--Uma mulher como você não se preocupa com isso de vir gente pra cá e ouvir seja lá o que for! -- interrompeu-a com decisão -- Não é cedo pra falar de amor, não é cedo pra nada! -- posicionou uma perna entre as dela -- Você e eu somos fogo, paixão, amor e desejo, tudo isso junto! -- puxou-a pela cintura -- Não dá mais pra pensar na gente separadas! -- segurou-a pelos cabelos -- Você tá comigo, eu tô com você e fim!
--Mateegy! (Vem!) -- respondeu excitada e beijou-a com luxúria
As amantes começaram a se despir sem pensar em coisa alguma, enquanto beijavam-se e mordiam-se com fome uma da outra. Gemiam alto e esbarravam nas paredes fazendo barulho.
Duas mulheres entraram no banheiro e logo ouviram os gemidos.
--AHAHAH!!!!
--HUM... AI!!!!
--OOOH!!!!
--Oh, Gosh, am I crazy or something that? (Oh, Deus, eu estou louca ou qualquer coisa assim?) -- olhava para a colega -- Duas mulheres estão trans*ndo no banheiro, é verdade? -- não acreditava
BUFF, BUFF, BUFF! -- ouviam-se as batidas na parede
--AHAHAH!!!!
--OOH!! AAH!!!
--What a fucking hell! (Que merd*!) -- reclamou -- Procurem um quarto! -- gritou para as mulheres trancadas na cabine
E tome do couro comer...
NHEC, NHEC, NHEC! -- as dobradiças da porta fechada rangiam
--Do what you have to do and let’s go! (Faça o que tem de fazer aqui dentro e vamos embora!) -- a mulher falou para sua colega -- Não se tem mais decência em Godwetrust em lugar algum: seja no Governo, no banheiro ou em qualquer lugar! -- fez um gesto de desgosto
--AHAHAHAH!!! -- gritou -- Ai, não pára!!!
--Gostosa, gostoooosaaa!!!! -- berrava -- AHAHAH!!!!
BUFF, BUFF, PUM, PÁ, CRASH, NHEC, NHEC!!! -- e a barulheira era louca
As mulheres foram embora horrorizadas.
***
--Zinara, venha aqui, mulher! -- Julieta apareceu do nada e segurou o braço da outra -- Temos que ter uma conversa séria sobre esse condomínio! -- puxava-a em direção às poltronas do hall do prédio
“Dah mumill (Isso é um saco), mal chego do trabalho e olha quem vem?” -- pensou revirando os olhos -- Posso saber do que se trata? -- perguntou de má vontade
--Senta aí que a coisa é tinhosa! -- sentou-se -- Vilma já tomou posse, já definiu ministro e os cabra todo, então temos que pensar no futuro! -- olhava para a morena -- O condomínio tem que aumentar! -- anunciou sem delongas -- Vai pra seiscentos reales!
--CHOO?? (O QUE??) -- arregalou os olhos -- E o que é que tem uma coisa a ver com a outra? -- permanecia em pé -- Vilma toma posse e a gente toma uma facada no bolso? -- cruzou os braços -- Ya sayyida (A senhora) quer aumentar o condomínio em quatro vezes mais?? -- estava revoltada -- A troco de que, uai?? -- não aceitava
--Senta, mulher, que o debate é tenso! -- puxou-a para se sentar -- O aumento se justifica pelo contexto nacional! -- justificava-se
--Que é qual, posso saber? -- continuava de cara feia
--Ora, mulher, acompanhe meu raciocínio político! -- cruzou as pernas -- Vilma vai aprovar um pacote de pistingas pra corrigir a economia, porque ela só fez lambança com tanta pedalada populista. -- explicava -- Com isso, tudo aumenta: -- enumerava nos dedos -- água, luz, telefone, internet, encargos... O condomínio tem que tá preparado, não sabe?
--Ya Julieta, me poupe, viu? -- retrucou -- Isso não é argumento pra aumentar o condomínio em quatro vezes! -- mostrou o número com os dedos -- Deixe que as pistingas venham e quando vierem, aí sim, a gente aumenta no tanto que for necessário! -- argumentava -- E mediante decisão em assembleia e não em papo de hall de prédio!
--Isso não é papo, é articulação política! -- gesticulou -- Você é a líder da minha oposição, então tenho que tratar contigo antes de jogar pro plenário!
“Ya Julieta pensa que é deputada!” -- achou graça -- Não tem o que tratar. A resposta é laa! Não! -- tentou se levantar mas foi detida
--Preste atenção, mulher, deixe de ser tinhosa! -- retrucou -- Graças ao Pai, Gerardo Munha, um homem santo, foi eleito presidente da Câmara! -- anunciou com orgulho -- Santo como é, ele vai emparedar Vilma, arreganhar a verdade e não duvido que role até um impeachmentizinho básico! -- profetizava -- É preciso que venham os escândalos, já dizia o Rabi, e esse país vai ver miséria, fome e inflação! O condomínio tem que estar preparado pra esse choro e ranger de dentes! -- falava como se pregasse
Ficou examinando o rosto da mulher. -- Então quer dizer que se não houvesse homem santo ou se Vilma tivesse perdido, o condomínio não precisava aumentar? -- queria ouvir qual seria a resposta
--Mas é claro que aumentaria! -- deu um pulinho no sofá -- Se Décio ganhasse, ele soltava aquela sanha assassina e privatizava até o fiofó dos bêbados desse país! -- gesticulou -- Ia ter um desemprego da peste, serviços caros e mal prestados, gente sem estudar e daí o condomínio tinha que estar preparado pra esse cenário! -- falava como louca -- Não duvido que baixasse uma lei proibindo a gente de falar nossa própria língua! -- exagerou -- E aí tome de fazer curso de saxão!
--Então eu devia ter torcido pra sua candidata santa, a Osvaldina, que aí não tinha aumento. -- levantou-se querendo ir embora -- Macasalaama! (Até logo!)
--Quem disse?? -- pulou como coelha e parou na frente da morena -- Se Osvaldina ganhasse, aí é que aumentava mesmo! -- afirmou enfática -- Ela buscaria conduzir o país como pátria de religião e teríamos guerra santa! -- discursava alucinada -- Baitolos e mulheres macho sairiam de suas tocas pra atentar o povo do Pai, os macumbeiros de plantão se pegariam em sacrifícios medonhos pra impedir que o Reino viesse e os padres pedófilos não deixariam uma criança quieta! -- profetizava suas loucuras -- Era capaz até do Movimento dos Sem Teto vir fazer fuxico aqui na porta! -- apontou a portaria -- E aí, Zinara, o condomínio subia pra dez vezes mais!
--Oxi! Axra min kida mafiiš!! (Não há merd* pior do que essa!!) -- xingou de cara feia -- Chega, que já ouvi bestagem demais! -- foi andando para o elevador -- Eu ouvi o seu raciocínio político, agora ouça o meu: -- entrou -- não vai ter aumento nenhum! -- apertou o botão para fechar a porta
--Deixe de ser do contra, mulher! -- gritou antes da porta se fechar -- Criatura sem noção das coisas, Ave Maria! -- resmungou sozinha
Zinara entrava em casa revoltada. -- Não dou conta, não, viu, fi? -- falava sozinha -- Mal entrou fevereiro e lá vem ya Julieta querendo aumentar condomínio! -- fechou a porta -- E pra quatro vezes mais? Karaahiyya! (Que ódio!) -- ouviu o telefone tocar -- Tomara que não seja ela, senão... -- atendeu -- Alô!
--Oi, querida, há quanto tempo! -- saudou animada
--Grazi, que surpresa! -- sorriu -- Kifel haal? (Como vão as coisas?) E o namoro, como vai?
--Menina, tudo lindo! -- respondeu animada -- Vida linda, namoro lindo, meu trabalho no asilo tá lindo...
--Estou sabendo! -- achou graça -- Lembre-se que frequento esse asilo. -- brincou
--Ah, mas a gente se desencontra e não tem como conversar! -- pausou brevemente -- Será que você teria um tempinho pra sair comigo hoje e conversar um pouco? -- convidou -- Sei que sua agenda é osso, mas sempre se pode gastar uns minutinhos com uma ex namorada e eterna amiga, né? -- brincou
Olhou para o relógio e pensou. -- Tá bom, me dá só um tempo pra tomar um banho e trocar de roupa.
--Ok, te espero lá na Fátima, pode ser?
--Baseeta! (Sem problemas!)
--Daqui a quarenta minutos tô lá. Até loguinho! -- mandou um beijo e desligou
--Não tem problema me encontrar com Grazi... -- colocou o telefone no lugar e foi andando para o banheiro -- Não acredito que Sahar fique zangada, até porque todo mundo sabe que ela e Paula andam num chamego só! -- considerava
***
--E aí, Valentina Maria, não bastasse a mania de viver postando foto semi nua no LivrodasFuça, me arrumou um namorado fuleiro que pediu pra filmar ela pelada. E claro que ela aceitou! -- contava -- Conclusão: o vídeo caiu na rede e as entranhas da menina foram vistas pelo mundo afora! -- abriu os braços brevemente -- Agora minha irmã vive com ela num aperreio danado de vai em delegacia, denuncia crime virtual, pede liminar de juiz e lá se vai! -- sumarizava a história -- Essa é a única coisa da vida que não tá linda! -- destacou
--Elas têm procurado a polícia, mas we malo (e daí)? O que aconteceu? -- queria saber -- Tiraram o vídeo da internet, puniram esse rapaz safado...? No que deu isso?
--Deu em constrangimento pra ela, que agora quase todo mundo fica chamando de rapariga. -- respondeu de pronto -- Trocou até de colégio. -- cruzou as pernas -- E o safado tá com um processo na justiça. Ele não aparece no vídeo e além do mais é homem, né? O machismo protege. -- fez um bico
--Dah JaHiim! (É um inferno!) -- reclamou -- Dá uma raiva! -- fez cara feia -- Tudo bem que a menina não se preservou, mas nada justifica essa reação machista das pessoas! E olha que estamos no ano de 2015! -- olhava para a amiga -- Quando que isso vai mudar, hein?
--No dia que as pessoas descobrirem que pensar não dói. -- bebeu o último gole do suco -- Mas, olha, não foi pra falar disso que eu te chamei pra conversar hoje. -- pausou brevemente -- Queria jogar uma conversa fora, matar as saudades e falar um pouquinho de trabalho. -- sorriu -- Vamos começar com o papo de trabalho pra terminar com o besteirol que nos caracteriza? -- propôs divertida
Sorriu também. -- E qual seria esse papo de trabalho? -- perguntou curiosa
--Lembra daquela contenda internacional que você se meteu depois que defendeu o doutorado? -- foi direto ao assunto -- A gente ainda não tinha se conhecido, mas sua fama corria entre os professores de Cidade Restinga por causa disso. -- deu-lhe um tapinha na mão
--Se eu lembro? -- achou graça -- Certamente, sadikii (minha amiga). Abadan mosh hansaha... (Eu nunca poderei esquecer...) -- viajou no tempo
“Junho de 2007 foi um mês louco e muito corrido, Kitaabii. Eu me graduei em matemática e defendi minha tese três vezes; cada uma em um continente diferente. No meio de tudo isso, houve ainda o episódio de Lila... Wsaffer mengheir wedaa... (E ela partiu sem dizer adeus...) Viajei para Cidade Restinga, por causa do concurso do qual Werneck me falou, e fiquei lá por dois dias fazendo as provas, voltando para São Sebastião no começo de julho.
Com todas as minhas pendências resolvidas e ainda sem uma definição do resultado do concurso, viajei para a roça e revi usritii (minha família) depois de muito tempo longe. O reencontro foi tenso e emocionado. Nem preciso dizer que baba e eu nos desentendemos seriamente, mas dessa vez não houve expulsões ou radicalismos. Penso que a saudade falou mais alto...
Permaneci em Guaiás alheia aos problemas do mundo até agosto, que foi quando saiu o resultado. Para minha surpresa, houve até festa na roça para comemorar e foi a primeira vez que vi clube o Cedro-Suriyyah cheio de gente por minha causa.
Como nem tudo são vitórias, levei um susto quando telefonei para brofeseer Oséias querendo contar as novidades...”
--Alô. -- atendeu normalmente
--Brofeseer Oséias, tudo bem? -- respondeu animada -- Tenho novidades!
--Zinara do céu, mas como que você desaparece assim?? -- respondeu quase gritando -- Deu a maior merd* com teu nome e você some? Tô te procurando há um mês e nada! -- estava contrariado
Não entendeu. -- Bitichkii min eh? (Qual é o problema?) O que aconteceu, afinal? -- queria saber
--Seu doutorado! Suas teorias sobre ciclos solares, aquecimento global e a tal farsa, como você diz! Os artigos que publicou! -- respondeu mal humorado -- Vários cientistas de Godwetrust, Saxônia e Germânia estão caindo de pau em cima de você! A equipe do Painel Internacional já deu até entrevista tocando no assunto! -- contava -- Se não fosse por mim... Sorte a sua também que os pesquisadores de Ganarājya defendem suas teorias com unhas e dentes e que a equipe do Cozette ficou toda do seu lado!
Sorriu ao ouvir aquilo. -- Então o que apresentei deve ser tão verdadeiro, que em pouquíssimo tempo incomodou essa gente toda... -- respondeu satisfeita
--Zinara, a coisa é séria! -- advertiu -- Sabia que recebi até uma ligação de um representante do Painel Internacional por causa das suas afirmações incisivas sobre o tal do comércio do clima?
--AHHa, brofeseer, esse Painel, como qualquer organismo das Nações Amigas, é político e as conclusões finais são manipuladas economicamente! -- protestou -- Veja os currículos dos membros que fazem parte dele e isso vai revelar que muitos não são nem cientistas! Eu me dei ao trabalho de fazer isso e sei do que tô falando! -- argumentava -- Alguns até discordaram das posições do Painel e acabaram renunciando, mas seus nomes continuam na lista só pra dar credibilidade aos documentos que são emitidos!
--Você não raciocina direito, não? -- retrucou impaciente -- Onde acha que vai chegar com popularidade negativa no meio da comunidade científica?
--Ya said (O senhor) quer que eu faça o que? -- não entendia o que ele esperava -- Mantenho cada palavra até que seja convencida do contrário! -- afirmou com segurança -- E quanto a esse bando de bicho intriguento que agora me persegue, meu recado é um só: gaatak niila (vá para o inferno)! -- respondeu sarcástica
--Foi uma fofocada danada, mas eu não dei nem tchum! -- lembrava -- Cheguei em Cidade Restinga e passei boa parte das noites do primeiro mês respondendo e-mail e dando entrevista por telefone por causa disso... -- bebeu um gole de suco -- A doktuur é que não deve ter gostado muito disso, porque na época eu tava morando na casa dela... -- achou graça
--Pois é. Aqueles artigos polêmicos da sua tese são recordistas em citações e foi por causa deles que um jovem recém ingresso no departamento veio me procurar. -- cruzou as pernas -- Não sei como ele descobriu que a gente se conhece, mas ficou receoso de te procurar diretamente e veio me pedir pra ter mostrar isso aqui. -- tirou uns papéis da bolsa -- Disse que se você autorizar, ele te envia por e-mail. -- estendeu o material
--A'teni hatheh, min fadlik. (Dê-me isso, por favor.) -- recebeu os papéis -- Claro que ele pode me enviar. E se ele quiser falar comigo diretamente, você pode passar os meus contatos. -- olhou para o texto -- Posso ler agora? -- perguntou
--Por favor! -- desejava que ela o fizesse
Passou os olhos na introdução e foi direto ao corpo do artigo. -- No século XX, as temperaturas foram crescentes até a década de 40, durante um período em que a produção industrial era relativamente insignificante. -- lia em voz alta -- Durante o boom econômico do pós guerra, a temperatura deveria ter subido, mas na verdade desceu por quatro décadas. Paradoxalmente, foi somente na recessão econômica dos anos 70 que deixou de cair. -- balançava a cabeça concordando -- Enquanto isso, o teor de CO2 começou a subir exponencialmente depois da década de 40. Então parece que teor desse gás e a temperatura variaram inversamente. -- sorriu -- O aquecimento na troposfera, entre 10 e 12km, deveria ser maior se os gases de efeito estufa estivessem aumentando a temperatura do planeta.
--Como se mede a temperatura na atmosfera do planeta? -- Graziela perguntou -- Não é a minha área, eu não sei...
--Com balões meteorológicos e satélites. -- respondeu olhando para ela -- Esse rapaz aqui tá se baseando no fato de que se a superfície aquece, a atmosfera superior deveria aquecer-se rapidamente. -- explicava -- O aumento de temperatura na atmosfera não é alarmante e não se encaixa com o que os modelos climáticos propõem. Ao contrário, os dados mostram que a temperatura decresce com a altura.
--E esses cabras mudam os modelos a cada ano porque a previsão nunca dá certo! -- fez um gesto de contrariedade -- Mas continua lendo aí. -- pediu -- E vai me explicando.
A morena obedeceu. -- Segundo estudos do professor Ian Clark, os testemunhos de gelo da estação Vestik mostram que o teor de CO2 aumenta após o aumento da temperatura, com atraso de 800 anos. Outros estudos comprovam que o aumento do teor de CO2 segue o aumento da temperatura global sempre com um atraso de centenas de anos. -- lembrava-se de estudos de Clarice, que concluíam a mesma coisa -- É o aquecimento que produz o aumento no teor de CO2.
--Eu li que só os vulcões produzem mais gás carbônico do que todas as indústrias ou atividades humanas juntas! -- Graziela pontuou -- E que animais e bactérias produzem ainda mais gás!
--Aywah! (Sim!) -- concordou imediatamente -- Cerca de vinte e duas vezes mais do que nós. -- complementou -- E os oceanos produzem mais que todas as outras fontes! Sahar e sua equipe mostram em seus artigos que a defasagem de centenas de anos entre o aquecimento do planeta e a emissão de CO2 se deve ao fato de que os oceanos são tão extensos e profundos que demoram centenas de anos para esquentar ou esfriar. -- gostava do interesse da amiga em entender a questão -- No meu doutorado, após analisar séculos de atividade solar registrada, observei que ela aumentou muito até a década de 40, reduziu bastante até os anos 70 e voltou a subir depois de 1975. -- chacoalhou levemente os papéis -- Corroborando tudo que Sahar e esse rapaz aqui nos dizem. -- sorriu -- Quem dá o gatilho da mudança do clima é a astronomia, sadikii (minha amiga). O resto é consequência! -- piscou
(Nota da autora: Estas informações estão também disponíveis no documentário apresentado no endereço https://www.youtube.com/watch?v=XojMReumoDQ)
--Oxi, e por acaso eu não sei que a astronomia é poderosa? -- debruçou-se sobre a mesa e sorriu -- Assim como essa gente que trabalha que com ela... -- brincou com a morena -- Sabia que Paula ficou louquinha quando fiz uma certa massagem nela? -- falou um pouco mais baixo -- E também toda curiosa pra saber com quem aprendi tantos macetes... -- fez um charme -- Acho até que eu deveria te agradecer por isso...
Ficou sem graça. -- Uai... -- não sabia o que dizer -- Al’afw... (Não há porque agradecer...) -- abaixou a cabeça e guardou os papéis na bolsa
--De um lado era você, querendo se aprofundar no que conheceu em Ganarājya, e de outro era eu, sofrendo por Andressa e precisando urgentemente aprender umas coisas novas, não sabe? -- usava um tom malicioso
Estava começando a ficar desconfortável com a conversa. -- Kam as-saagha? (Que horas são?) -- olhou para o relógio -- Grazi, é melhor a gente ir que tá ficando tarde... -- deu um sorriso amarelo
--Você lembra de quando e como a gente se conheceu? -- insistia -- Graças a nossa amiga Cláudia! A doktuur, como você diz. -- lembrava -- E graças aos conselhos dela, você ficou safada e saía comigo e com uma rapariguinha ao mesmo tempo... -- piscou assanhada -- Lembra disso? Só depois que a senhora voltou a ser uma caipira séria! -- brincou
Sentiu as bochechas queimarem. -- Eu já vou indo. -- levantou-se rapidamente -- Diga ao rapaz, min fadlik (por favor), que ele pode me procurar se quiser. -- pegou o dinheiro para pagar a conta
Achou graça. -- Se avexe, não, mulher. -- pediu bem humorada -- No começo eu também aprontava e saía com você, Andressa e a professora de rumba. Sem trauma!
“E tinha mais essa?” -- surpreendeu-se -- La mo'axza (Desculpe), mas eu realmente preciso ir. -- colocou o dinheiro sobre a mesa -- Que a sua vida continue linda e que o tormento de Valentina Maria acabe logo. -- desejou -- Macasalaama! (Até logo!) -- deu tchauzinho e saiu quase correndo
Acompanhou a astrônoma com o olhar e sorriu. -- Apesar de tudo, continua um bichinho do mato... -- falava sozinha -- Ai, ai...
***
Raquel voltava do trabalho pensando em Fagundes. O policial vinha procurando por ela, que até então mantinha-se firme em recusá-lo. Vinha perdida em seus pensamentos quando sem querer esbarra em um homem. -- Ai, desculpa. -- olhou para ele -- "Ai, não acredito! Getúlio!” -- reconheceu
--Ih, é a princesa, rapá! -- sorriu feliz -- E aí? Qual é a das parada? -- perguntou animado -- Firmeza?
Reparou no homem e achou que estava diferente. -- Tudo bem e você?
--Beleza! Tô na batalha, sabe qual é? -- mostrou dois livros em suas mãos -- Tô estudando pintura industrial.
--Jura?? -- ficou pasma -- "Gente, eu nunca vi esse homem lendo nada!” -- pensava em estado de choque
--E os serviço tão bombando, gata. -- contava satisfeito -- Já peguei seis pintura desde que o ano começô, tá ligada? -- queria impressioná-la -- Desse mês pra frente já vô podê até chegá junto num cascalho pro moleque. -- anunciou
“Ele vai dar pensão pro filho???” -- ficou sem fala
--Por mim, ficava trocando ideia contigo o dia todo, mas tem que ralá peito. -- olhou para o relógio -- Os professô do SERAI é tudo rosca fina, sabe qual é? Quem vacila vai pra vala.
--Você, fazendo curso no SERAI?? -- não acreditava
--Pra tu vê. -- sorriu -- Fui! -- beijou o rosto dela rapidamente e foi embora
--Gente... -- acompanhou o ex com o olhar -- Eu não tô acreditando nisso... -- ficou boba
***
Leda visitava um asilo sendo acompanhada pela responsável pela casa. A mulher apresentava o local como se fosse guia turística.
--E aqui temos a área de integração social, onde todos trocam ideias e expressam a riqueza da terceira idade! -- sorria -- Proporcionamos a quem vive conosco o acesso irrestrito a atividades recreativas, artesanato, hidroginástica e mais a um grupo ecumênico que trata das coisas do espírito! -- gesticulava -- Além do atendimento médico disponível 24 horas, devo salientar! -- caminhava como se fizesse um comício -- A palavra de ordem na vida de nossos idosos é: felicidade!
A idosa observava atentamente aos velhinhos internos e não conseguia ver outra coisa senão abandono. Mesmo com a boa aparência das instalações.
--A senhora está sendo muito inteligente, dona Leda. -- continuava falando -- A maioria das pessoas na terceira idade espera que a família tome a decisão de escolher uma casa de repouso para lhes tratar. -- sorria como assistente de mágico
“Você quer dizer que a maioria das pessoas velhas é jogada nos asilos pela família contra a vontade própria!” -- pensava
--Então já chegam sofrendo com muitas doenças e aproveitam pouco do carinho que lhes pode ser dado. -- olhou para ela
“Traduzindo, ficou velho e deu trabalho, a maioria das famílias despacha!” -- balançou a cabeça -- Faço ideia do carinho... -- resmungou descrente
--A senhora, ao contrário, independente e lúcida, está cuidando de seu futuro! -- parou de andar e fez uma pose ensaiada -- Quando teremos o prazer de recebê-la aqui? -- queria saber
--Calma, bicha, muita calma nessa hora! -- respondeu de pronto -- Eu tô só fazendo uma sondagem pra me decidir. -- esclareceu -- Ainda não é o momento de medidas drásticas!
Ficou sem graça. -- Ah, sim, entendo. -- foi até uma mesinha e pegou um folheto comercial -- Leve com a senhora e estude nossa proposta. -- entregou-lhe o folder -- Meu cartão tá fixado aí e estou disponível para quaisquer esclarecimentos! -- forjou seu melhor sorriso
--Tá. -- balançou a cabeça -- Agora deixe eu ir que tenho coisas pra fazer. -- queria ir embora -- Obrigada pela atenção.
--Que nada, linda! -- apontou a direção da saída -- As portas dessa casa estarão sempre abertas pra senhora! -- andavam lado a lado -- Será um prazer inenarrável recebê-la, um prazer sem comparação, um prazer... -- fazia uma média
--Quase que sexual. -- complementou irônica -- Daqui a pouco a bichinha taí piscando. -- gesticulou abrindo e fechando a mão
--Como?! -- levou um susto
--Nada, menina, deixe quieto. -- fez um gesto -- "Mulherzinha kaozeira de uma figa!” -- pensou fazendo um bico
Leda se despediu do asilo e seguiu seu caminho pensativa. Abriu o folder e se chocou com os preços cobrados pela casa. Revoltada, jogou o papel fora na primeira lixeira que encontrou.
“É uma droga que eu não acho um lugar pra ficar...” -- pensava desanimada -- "Cecília já foi, Raquel anda prestando atenção em Getúlio e daqui a pouco Clarice junta com Zinara...” -- conjecturava -- "Eu não quero ser um peso morto da vida de minha melhor filha e ela tem o direito de experimentar essa coisa de casar e ter privacidade... Ninguém gosta de morar com sogra, sogro ou parentada. Ainda mais um casal recém casado!” -- considerava -- “Com as outras duas sei que nunca poderia contar...” -- suspirou -- "Envelhecer não é fácil...”
***
Zinara estava na rodoviária da cidade e havia acabado de entrar em um ônibus. Mal pôs os pés no veículo e ouviu um grito conhecido.
--AHAHAHAHAHAH, PROFESSORAAAA!!!!!!!! -- Cristina se levantou eufórica -- Ai, que surpresa maravilhosa! -- abraçou-a com força
--Eita, boi! -- achava graça -- Também tô feliz, mas desse jeito você mata a caipira! -- afastou-se um pouco -- Fazia tempo que não te via, menina. -- sorriu -- Haloki? Maljadeed? (Como vai? E as novidades?) -- pausou brevemente -- Como vai a vida? -- traduziu
--Ai, professora, eu tenho cada fofoca pra te contar que é de descabelar os cabelos mais laqueados! -- olhou para a passagem dela -- Qual o número do seu assento? Tá indo pra onde? -- perguntou curiosa
--É lá atrás, número 27. -- mostrou o bilhete -- Tô indo pra Aju pra uma defesa de seminário. E você, vai pra lá também?
--Nada, eu vou pra Cidade Ilha! -- segurou-a pelo pulso -- Vamos negociar com o povo que eu quero sentar do seu ladinho!
Após muito falatório e fuzuê, Cristina conseguiu o que desejava e seguiu viagem do lado de Zinara.
--Pegamos os lugares mais no fundo, só que não tem importância, né, professora? -- sorria olhando para ela -- Viajaremos juntas e fofocando horrores! -- deu-lhe um tapinha no braço
--Pois é. -- riu brevemente -- Mas me explica uma coisa, por que você tá indo de ônibus pra Cidade Ilha? -- não entendia -- De Cidade Restinga pra Aju é perto, mas Cidade Ilha... Por que não foi de avião?
--Ah, professora, Deus me livre e guarde, não lembra do que aconteceu em março? -- cruzou os braços -- O copiloto que cismou de morrer e levar todo mundo junto? -- lembrava da tragédia -- Vai que nesses tempos de protestos contra a presidente Vilma e tanto fuzuê de Operação Caça Rato, descobrem um escândalo na companhia aérea e o piloto quer se matar também? -- benzeu-se -- Voti!
Achou graça do raciocínio. -- Se fosse assim, nessa tua linha de lógica, eu tinha que andar escoltada. -- olhava para a jovem -- Nesse mês de abril a última moda é a polícia meter os cacetes nos professores. -- citava os últimos fatos -- Acho que se eu for pega com uma caixa de giz vai ser pior que se tivesse com revólver ou três quilos de cocaína! -- ironizou -- AHHa!
--Fim de mundo, né, professora? -- achava absurdo -- E esse surto de dengue aqui em Cidade Restinga? -- gesticulou -- Fiquei tão traumatizada que não posso ver um mosquito que eu grito. -- viu um -- AAAAAAAAAAAAAI!!! -- agarrou a astrônoma pelo pescoço -- Mata, mata!!! -- berrava
--É barata, barata?? -- pessoas se levantaram alarmadas -- Cadê?
--Barata??
--Laa (Não), é mosquito! -- respondeu de cara feia ao dar uma bolsada no inseto -- Pronto! -- olhou para a ex aluna -- Yahda’u! (Fique calma!) -- falou de cara feia -- E vê se pára de gritaria no ônibus! -- advertiu
Ficou sem graça. -- Desculpa, professora, foi o trauma. -- ajeitou-se no assento -- Peguei uma dengue terrível e fiquei com pavor de mosquito. -- pausou brevemente -- Mas... -- queria mudar de assunto -- Da última vez que a gente se viu, eu tava namorando quem? -- não sabia
Teve que rir. -- Ai, ai... -- balançou a cabeça negativamente -- Você havia desistido dos ‘ão’ e namorava um ‘inho’. -- respondeu bem humorada -- Acho que era um tal de... Juninho, eu acho. -- não tinha certeza -- Laa acrif... (Eu não sei...)
--Ah, sim, isso! Era o Juninho mesmo. -- concordou -- Mas não deu certo, sabe? -- sentou-se meio de lado -- Ele era muito crianção. E vinha de um passado de relacionamentos instáveis, sabe?
--Imagino. -- respondeu com vontade de rir -- "Olha quem fala...” -- pensou divertida
--Depois disso noivei com Huguinho, depois com Zezinho e por fim com Luizinho. -- contava nos dedos -- Nada deu certo!
--Faltou o pato Donald... -- respondeu falando baixo
--O que? -- não entendeu
--Nada. -- olhava para ela -- E hoje, o que anda fazendo da vida?
--Ah, eu tô dando aula num cursinho diferente e foi por causa desse trabalho que TU-DO MU-DOU! -- fazia um suspense -- Professora, encontrei o amor da minha vida!
--Mabrook. (Parabéns.) Que felicidade, viu, fi? -- não acreditava e achava engraçado
--Estava eu lá, -- abriu os braços -- explicando as nuances da teoria gravitacional clássica, quando de repente uma pessoa me pergunta: “Professora, e qual é o desvio das predições clássicas comparadas com a teoria da relatividade geral?” -- segurou o braço de Zinara -- Pelo nível da pergunta, dá pra perceber que a pessoa não é qualquer marmota, né?
--De jeito nenhum. -- respondeu bem humorada
--Então eu disse: “Depois a gente conversa!” -- contava cheia de fogo -- E aí, no final da aula, a gente saiu pra discutir o assunto, não sabe? -- gesticulava -- E depois a gente saiu de novo e de novo e de novo, até que aconteceu: -- aproximou-se mais -- no escurinho do cinema, a gente se empolgou e se beijou loucamente! -- puxou a professora pelo braço -- Aí tivemos que sair correndo pra consumar o ato no motel mais próximo! -- sorria extasiada -- E eu AMEI!!! -- deu-lhe um tapa no ombro
--Bom por demais da conta, né? -- afastou-se um pouco -- E agora tão namorando?
--E põe namorando nisso! -- afirmou enfática -- Tô fazendo essa viagem pra conhecer minha sogra e o resto da família. A coisa tá séria! -- contava -- Não fui antes porque me enrolei com umas coisinhas aí. -- suspirou embevecida -- Eu nunca, nunca na história desse país, me vi tão apaixonada!
--Eita, e qual é o nome desse homem que te apaixonou assim por demais da conta, uai? -- queria saber -- É ‘ão’ ou ‘inho’? -- brincou
--Ana. -- respondeu simplesmente
--Choo?? (O que??) -- levou um susto
--É professora, tô te contando porque sei que você tem a cabeça aberta. -- recostou a cabeça no ombro dela -- Mas depois de tantas buscas e desencontros, percebo que eu não precisava nem de ‘ão’ e nem de ‘inho’. -- suspirou -- Meu negócio era uma ‘eta’... E como é bom...
Zinara estava boba. “E não é que veio mais uma pra comunidade?” -- pensava abestalhada -- "Cristina, quem diria...” -- balançava a cabeça pensativa -- É, menina... -- olhava pela janela -- EHna fil hawa sawa... (Nós estamos no mesmo barco...)
--Como? -- olhou para ela sem entender
--Deixe quieto... -- fez um gesto despreocupado -- Mas confia na tua ‘eta’ que pode dar certo. -- aconselhou
***
--Clarice, deixe-me apresentá-la a uma professora convidada que passará sete meses conosco. -- o chefe de departamento dizia -- Conheça a doutora Ana Paula Bastos. -- sorria -- Ela é paleoceanógrafa de formação, mas acabou se doutorando em ciência política. -- apresentava formalmente -- Atualmente tem voltado sua atenção para questões de clima. -- olhou para a nova colega -- Conheça a doutora Clarice Lima Verrier, paleoceanógrafa especializada em paleoclimatologia.
--É um prazer. -- sorriu para a mulher -- Seja bem vinda ao nosso departamento. -- apertou a mão dela -- Tenho certeza de que sua contribuição será muito importante pra todos nós!
--O prazer é todo meu! -- respondeu simpática -- Eu acompanho seu trabalho há um tempo e ele me interessa muito. -- foi logo dizendo -- Será que teria um tempo pra conversar comigo mais tarde? -- pediu -- Quem sabe almoçamos juntas? -- arriscou
--Ah, claro, por que não? -- concordou
--Perfeito! -- o chefe de departamento gostou da inteiração -- Deixe-me apresentá-la aos demais e aí haverá tempo das duas almoçarem juntas. -- curvou-se levemente e se despediu de Clarice -- Até mais!
--Até mais. Tenha um bom dia. -- acenou para o homem -- Estarei aqui na sala até meio dia. -- informou à mulher -- Encontre-me aqui e iremos.
--Pode deixar. -- deu tchauzinho e se retirou
***
--A politização do aquecimento global começou com Bernadeth Reacher, na Saxônia, em defesa do investimento em energia nuclear. -- Ana Paula explicava -- Eu não sei se você sabe, mas o cientista Bert Bolin foi o primeiro a propor o aquecimento global antropomórfico como uma salvação ao processo de esfriamento global que era tido como eminente na década de 70. -- olhava para Clarice -- E todos achavam isso simplesmente ridículo!
--Sim, eu já li a respeito. -- prestava atenção
--O que mudou o panorama foi o aumento das temperaturas a partir de 75 e as manifestações dos trabalhadores das minas de carvão da Saxônia. -- contava -- Reacher não confiava nos países do Oriente, tampouco no petróleo e no carvão. Especialmente depois da manifestação dos trabalhadores. -- cruzou as pernas -- Aí, lá pelas tantas, ela disse pros cientistas da Royal Society: "Tem dinheiro na mesa pra que vocês provem isto: que o aumento das temperaturas é causado pelas atividades humanas." -- sorriu -- Atendendo a um pedido dela, a Oficina Meteorológica da Saxônia estabeleceu uma unidade de modelos climáticos que fundamentou as bases para um novo comitê internacional.
--Que seria o Painel Internacional pra Modificações do Clima! -- deduziu
--Exatamente! -- debruçou-se sobre a mesa -- Vê como é impossível separar questões de clima de política? Há muito, muito tempo que deixou de ser ciência!
(Nota da autora: Estas informações estão também disponíveis no documentário apresentado no endereço https://www.youtube.com/watch?v=XojMReumoDQ)
--Zinara vive dizendo isso... -- falou consigo mesma
--Tenho lido seus artigos, eu sabia que o assunto iria te interessar. -- sorriu charmosamente -- Que tal sairmos um dia desses pra conversar melhor sobre essas coisas? -- convidou -- Você vai dar aula agora, amanhã já vou estar cheia de coisas pra fazer, então o tempo na universidade fica mínimo, né? -- fazia uma voz sedutora -- Mal dá pra se conhecer melhor...
“É impressão minha ou essa mulher está me cantando?” -- pensou envergonhada -- Olha, eu agradeço a gentileza do convite, mas... -- ajeitou-se na cadeira -- sou comprometida e não seria muito legal. -- recusou polidamente
--A doutora Zinara Raed é ciumenta? -- perguntou ousadamente -- Mas ela mora tão longe, como é que dá pra administrar isso? -- provocou
Ficou pasma. “Gente, como é que ela sabe de Zinara e eu??” -- pensou surpreendida -- Eu não vou entrar em detalhes da minha vida com você e nem sei porque esse assunto veio à tona, -- levantou-se -- basta te ficar claro que a resposta é não! -- olhava para a outra com firmeza
--Calma, querida, sem estresse! -- levantou-se também -- Eu estava no congresso mundial de Paulicéia, vi vocês duas interagindo e... -- mantinha um sorriso no rosto -- Ora, uma lésbica percebe.
--Espero que uma lésbica seja discreta. -- respondeu secamente
--Eu sou discreta. -- desmanchou o sorriso -- É que eu pensei que de repente, talvez... -- brincava com uma mecha do próprio cabelo -- Você não veria mal algum em sair comigo e me conhecer melhor... -- examinava a outra
--Agradeço, mas não estou interessada. -- cortou a investida -- Mas pode contar comigo se o assunto for relativo a trabalho. -- pegou a bolsa -- Tenha uma boa tarde. -- despediu-se e foi embora
--Adoro mulheres difíceis... -- acompanhou Clarice com o olhar
***
--O tempo voa, Ave Maria! -- Cláudia comentou enquanto examinava Zinara -- Já estamos em maio! -- reparava na amiga -- E você tá muito bem, visse? Aparência boa, bem disposta... -- elogiou -- É muito amor! -- brincou com ela
--Ô! -- concordou -- E mais uma boa alimentação e exercícios físicos. -- complementou -- Il-Haraka baraka! (Movimento é uma bênção!) -- citou um provérbio do Oriente
--Eu já desisti de entender essas frases perdidas que você me fala. -- deu-lhe um beliscão de leve na barriga -- Pronto, pode ir se vestir.
--Alaan! (Agora!) -- levantou-se animada e foi se vestir -- Então quer dizer que hoje foi meu último dia tomando injeção? -- perguntou na expectativa
Riu brevemente. -- Você parece criança, sabia? Com medo de injeção... -- guardava seus equipamentos -- Sim, dona medrosa, foi a última dose. -- respondeu sorridente
--Allahu akbar! (Deus é grande!) -- agradeceu -- Ave Maria, eu já não aguentava mais!
--E daqui a pouco você não vai mais precisar nem de remédios. -- sentou-se -- Sua recuperação é impressionante! -- pausou brevemente -- A cura desse câncer foi impressionante! -- apontou a cadeira para a amiga se sentar -- Tanto que, depois de muito pensar, comecei a frequentar aquele centro que te deu o diagnóstico da doença.
--Smallah! -- sorriu satisfeita -- Que notícia boa por demais da conta! -- sentou-se -- Fico feliz em saber!
--Pois é... -- cruzou os braços -- Agora vamos aproveitar que nossos respectivos expedientes acabaram pra colocar o papo em dia. -- olhava para amiga -- E o casamento, sai ou não sai? -- cobrou
“Oh, Aba, que é todo mundo nos meus encalços...” -- pensou -- Oxi, que vocês tão com uma pressa! -- reclamou de bom humor -- A caipira tá dando o jeito dela, pode confiar!
--Sempre confiei na caipira... -- respondeu com carinho -- Mesmo quando ela me mete numa fria! -- brincou
--Uai? -- não entendeu
--Tua cunhada teve uma consulta comigo ontem. Que bicha doida! -- riu ao se lembrar
--Pois aquela bicha doida me salvou do pior! -- gesticulou -- Graças a ela me livrei de um encosto e acabaram-se todos os truques da terceira idade pra me ver casada com macho. -- riu também -- Adamastor era o último solteiro que ya Ritinha e ya Zezé tinham por perto. -- passou a mão nos cabelos -- Tenho uma dívida eterna com ela! -- brincava -- Kulle muskila wa-liiha Hall! -- a médica entendeu nada -- Todo problema tem uma solução! -- traduziu -- Cecília foi a solução!
--Ai, ai... -- balançou a cabeça -- Adivinha quem também esteve aqui um dia desses fazendo um check up? -- Zinara não tinha ideia -- Grazi! Passamos um bom tempo falando de você. As orelhas arderam? -- brincou
--Eita, que tanta fofoca elas fizeram... -- sorria
--Ela chegou aqui toda suspirando pela namorada e de repente me diz que viu Andressa arrasando num macacão da Força Aérea. Aí, com essa visão, o coração dela acelerou! -- achou graça -- Aquela criatura tem jeito, não... Coração bandido!
--Pois é... tem não... -- concordava -- Quando é fé, ela cisma e ressuscita uns trem antigo... -- lembrava-se da atitude da ex namorada em seu último encontro
--Depois disso falamos de você. -- contava -- De sua chegada à cidade, da fase de caipira canalha... -- zombava -- Como é que diz? Caipiralha? -- riu
--Isso, zomba da caipira, ri bastante! -- fingia-se indignada -- Tens muita culpa nesse cartório, ya doktuur (dona doutora)! -- olhava para a amiga
--Eu não tenho culpa de nada, visse! -- fez cara de santa -- Esse mundo lésbico é que é uma loucura total! -- fez um gesto -- Bom que no final de tudo você encontrou a sua alma gêmea! -- piscou
--Illi maktuub a’al-gibiin laazim tsuufu I-a’ein... (Todos encontram inevitavelmente seu destino...) -- balançava cabeça pensativa -- O que veio antes, foram apenas experiências pra me fazer crescer... -- filosofava -- Eu tinha que amadurecer antes... -- viajava no tempo -- Eu tinha que me preparar pro grande amor da minha vida...
CAPÍTULO 153 – O Verde Azul do Mar Restinga
“A primeira vez em que estive em Cidade Restinga foi muito agitada, Kitaabii. Meu tempo foi totalmente dedicado ao concurso e não pude ver a cidade de fato. Quando soube que havia sido aprovada, passada a euforia da felicidade, me dei conta de que não tinha onde ficar e pedi a Allah que me desse uma luz quanto ao que fazer. Não aguentaria o gasto de passar meus dias em hotel até encontrar uma casa para morar.
Minhas preces foram atendidas na véspera da viagem, quando as bênçãos do Céu vieram através de um e-mail de sadikii (minha amiga) Cláudia, que havia lido as notícias a respeito de meus artigos na internet. Ela ficou extasiada ao saber que eu estava para chegar e me convidou para morar em sua casa. Aceitei a gentileza em caráter temporário e combinei que dividiríamos todos os gastos.
A doktuur me buscou no aeroporto acompanhada por bintha (sua filha) Bruna, então com 2 anos de idade, e eu não podia esperar uma recepção melhor: emocionante, divertida e acolhedora. Viemos conversando pelo caminho e quase não dormimos naquela noite de tanto prosear. Ela me falou de sua vida, ouviu algumas histórias minhas e demos boas risadas juntas. Tudo isso me fez muito bem e me senti tomada de ânimo para enfrentar os desafios da nova fase que se iniciava em minha vida.
Meus primeiros dias de trabalho foram gastos com burocracias e na apresentação aos colegas de Departamento. Werneck tinha muitas ideias, mas não sabia como colocá-las em prática. Outros professores também desejavam fazer muito mais, só que se viam desprovidos de recursos e lutavam dedicadamente para conseguir modernizar a universidade. Os colegas diziam que o governo de Luis Horácio destinava mais verbas à região que todos os outros anteriores, mas ainda assim, eles sentiam o peso de décadas de descaso, além do fato de que os recursos atuais não eram suficientes. Senti um peso enorme sobre mim, porque parecia que todos me olhavam pedindo: “socorro, faça alguma coisa”. E eu assumi esta responsabilidade, Kitaabii; sem pensar duas vezes.
Nas primeiras folgas que a doktuur teve, contei com a companhia dela e de Bruna para conhecer tudo que a cidade tinha de melhor: o mar verde azul, o belíssimo artesanato local, as músicas animadas, os sabores regionais e o povo acolhedor. Aliás, Kitaabii, Cidade Restinga me conquistou de imediato exatamente por isso: pela receptividade do povo.
E algumas pessoas ainda conseguiam ser receptivas por demais da conta...”
--Olha aqui, doktuur, o que a gente tá fazendo! -- Zinara e Bruna brincavam com areia -- E com três andares! -- sorria -- Mumtaz! (Excelente!) -- exclamou toda prosa
--Oia, mãínha! -- a menina mostrava
--Que castelo lindo! Eu quero morar nele! -- Cláudia sorriu e beijou a cabeça da filha -- Parabéns pras duas!
--Tia Inaia, põe mais aqui, ói! -- apontou um cantinho do castelo -- Pega boneca. -- levantou-se e foi mexer nos brinquedos de plástico
--Tá bom, ya gamil (minha linda). -- respondeu gentilmente -- Traz as princesas pra cá. -- pediu com carinho
--Ai, mulher, eu não deixo de dizer que você chegou na hora certa! -- a médica afirmou satisfeita -- Eu andava num aperreio só desde que meu marido foi fazer especialização em Paulicéia, não sabe? -- olhava para a amiga -- Agora, com você aqui, eu me sinto bem melhor. Dá até pra aceitar o fato de que ele só volta em dezembro... -- pausou brevemente -- Só ainda não sei quem é mais criança, você ou Bruna! -- provocou divertida
--Isso, doktuur, zomba da caipira! Vai bulindo pra você ver o que te acontece... -- ameaçou bem humorada -- Fica na sua aí wa la te shaghilny (e não me aborreça)! -- fingia-se indignada
--Boneca. -- Bruna trouxe algumas e voltou para pegar mais
--Eu vou colocando as princesas aqui, habibi. -- a morena arrumava as bonecas no castelinho
--Ai, que surpresa massa! -- uma voz chamou a atenção das mulheres -- Há quanto tempo!! -- abriu os braços sorridente
--Grazi, por onde tu andava, bicha doida? -- levantou-se da cadeira para abraçar a outra
--Nem te conto, amiga! Cada fofoca, que é uma onda! -- piscou para ela -- Deixe eu dar um cheiro na tua pequenininha! -- aproximou-se da criança e a abraçou apertado -- Gotosa! -- deu vários beijinhos -- Cadê meu bezo? -- encheu a bochecha de ar
Zinara estava ajoelhada na areia e simplesmente prestava atenção em silêncio. “Eita, como aperta a garotinha!” -- pensou achando graça
--Oi. -- Bruna beijou o rosto da mulher -- Tem que pegar boneca! -- salientou antes de voltar sua atenção para os brinquedos
--E quem é essa tua amiga diferente, hein, Claudinha? -- aproximou-se da astrônoma e se ajoelhou de frente para ela -- Nossa, que olhos, que cabelo! -- segurou uma das mechas -- Nunca te vi, mulher! -- reparava com interesse
A caipira ficou envergonhada.
--Nunca viu porque ela não é daqui! -- a médica esclareceu de pronto ao se sentar de novo -- Quer dizer, não era, agora veio pra ficar. -- gesticulou sorridente -- Graziela, conheça Zinara, uma grande amiga dos tempos de faculdade. -- apontou para a morena -- Zinara, -- olhou para a professora -- essa é Graziela, uma amiga dos tempos de ginásio.
--Tacharrafna! (É um prazer!) -- estendeu a mão -- Zinara Raed. -- sorriu
Graziela não entendeu a primeira palavra. -- Prazer, querida! -- agarrou-a em um abraço de urso -- Seja bem vinda a Cidade Restinga! -- tascou-lhe um beijão na bochecha -- Tu viesse de onde, mulher? -- continuava reparando -- Ih, tá salgadinha! -- lambeu os próprios lábios
“Moça que tanto fica me olhando, AHHa!” -- pensou intrigada -- Eu... -- começou a responder
--Ih, Grazi, essa aí é do mundo! -- Cláudia interrompeu -- Nasceu em Cedro, veio pra Terra de Santa Cruz e foi morar no interior de Guaiás, depois estudou em Gyn, -- contava da vida da outra -- fez faculdade em São Sebastião, passou uma parte do mestrado na Gália e o doutorado foi uma dobradinha entre Terra de Santa Cruz, Gália e Ganarājya! -- Graziela arregalou os olhos surpreendida -- Agora passou no concurso da federal e é professora daqui. -- terminava o informe -- Tá lá em casa até se aprumar num canto dela.
--Oxi, tu é professora que nem eu, é? -- mordeu o lábio inferior -- Mulher viajada, cidadã do mundo, que massa... -- jogou um charme um pouco indiscreto -- Eu sou da área de humanas e você? -- queria saber -- Médica, que nem a nossa amiga aqui?
--Eu... -- estava completamente sem graça -- eu sou astrônoma. -- olhava para Graziela e Cláudia alternadamente
--Ai, então quer dizer que você faz a gente ver estrela, é? -- deu-lhe um tapinha malicioso -- E não tem barriga, não, espia! -- apontou para o abdômen da morena -- Olha aqui, Zinara, se quiser chegar no meu canto pode passar uns dias lá também. -- ofereceu -- Sou mais que receptiva ao povo que vem de fora, não sabe?
A astrônoma sentiu o rosto arder de vergonha e não soube o que dizer.
--Tia Inaia, -- Bruna havia acabado de arrumar as novas bonequinhas no castelo -- queio í na água... -- pediu
“Salva pelo gongo!” -- pensou aliviada -- Yaalah, ya habibi! (Vamos, minha querida!) -- levantou-se imediatamente e pegou a menina no colo -- Pode, Cláudia? -- pediu
--Pode. -- concordou despreocupada
--Dá licença, tá? -- olhou para Graziela -- Eu vou com ela. -- curvou-se levemente e foi para o mar
--Ela ficou encabulada, que fofa! -- bateu palminhas -- Onde você achou essa joia do Oriente, hein? -- acompanhava a morena com os olhos -- Não é o tipo da gata linda, mas tem uma estampa que muito me interessa! -- comentou cheia de fogo
--Se aviei, criatura. -- achava graça -- E de mais a mais, como é que você sabe que Zinara é lésbica? -- estava curiosa para ouvir a resposta
--Ah, amiga, não sei explicar. -- olhou para a médica -- Mas meu detector de sapatanice não falha! -- piscou
***
Bruna dormia em seu quarto enquanto Zinara e Cláudia conversavam no quintal da casa da médica. Era noite alta e as duas dividiam a rede.
--Sabe que eu fiquei impressionada em como os preços dos aluguéis e dos imóveis aqui são muito inferiores aos de São Sebastião? -- comentava -- Pior que a carestia daquela cidade, só mesmo Villeparisis! O sonho da casa própria é muito difícil de se realizar na Gália. -- pausou brevemente -- No continente inteiro, de um modo geral.
--Tenho certeza de que em pouco tempo você arruma um canto bom pra viver. -- respondeu despreocupada -- E pagando um preço viável, o que é mais importante!
--Claro que há os preços exorbitantes nas zonas de luxo, mas eu não quero nada ostentador. -- olhava para a amiga -- Basta um apartamento de tamanho bom, arejado, com varanda, boa localização e tá tudo resolvido! -- sorriu -- Um lugar em que você possa me visitar e eu te diga: Ghafwan, doktuur! (Seja bem vinda, doutora!) -- fez um salamaleque -- E usritik (sua família) também!
--Logo você acha. -- garantiu -- Se der um susto, vai acabar encontrando antes de meu marido voltar pra cá. -- pensou em uma coisa e sorriu maliciosa -- Aquela minha amiga, a Grazi... -- olhava para a professora -- o cunhado dela trabalha em uma imobiliária... -- pausou brevemente -- De repente, se você pedir uma ajuda a ela...
Ficou envergonhada. -- A moça em al saaTi’? -- percebeu que a outra não entendeu -- Na praia? -- traduziu
--Aquela doida mesmo. -- esclareceu -- Você deve ter notado que ela se agradou da sua pessoa, não é? -- perguntou interessada em alcovitar
--Talvez... -- desviou o olhar brevemente -- Laa acrif... (Eu não sei...) -- ajeitou-se na rede
--Pois eu sei, e ela gostou! -- afirmou enfática -- Grazi é uma onda, tem bom coração e é uma grande amiga. -- gesticulava -- Só que não posso deixar de dizer que a bicha é doida e vive enrolada com uma tal de Andressa! -- revirou os olhos -- Perdi as contas de há quantos anos!
--Hum. -- ouvia
--Aqui em Cidade Restinga a coisa não é como em São Sebastião ou em Villeparisis. -- continuava falando -- Embora seja uma capital, se bobear, a roça de onde você veio em Guaiás é mais aberta sob certos aspectos. -- explicava -- Nada que se compare ao carrancismo de Cedro ou de Bengaluru, mas o que quero dizer é que as pessoas aqui são bem homofóbicas e nosso estado é um dos líderes de violência contra lésbicas e gays. -- advertiu
“Ave Maria!” -- pensou alarmada
--Eu não conheço muitas lésbicas, o povo se esconde como nem sei. Grazi é a única da minha roda de amizades. -- ajeitou-se na rede para ver Zinara melhor -- E ela não é assumida pra todo mundo, ao contrário do que te pareça.
--Por que me diz essas coisas? -- queria entender
--Porque é importante você saber que não vai ser fácil arrumar namorada aqui. -- respondeu abertamente -- E a Grazi pode ser uma opção legal pra você passar o tempo, curtir, viver um romance... fazer coisas gostosas de quando em vez! -- beliscou a coxa da outra
--Oxi. -- protestou -- Você fala como se eu estivesse procurando um corpo pra jogar na cama! -- franziu o cenho -- Eu não tava pensando em arrumar ninguém nem tão cedo! -- desabafou -- Em algum momento vou mudar de ideia, dawaan il-Haal min il-muHaal (tudo muda inevitavelmente), mas quando quiser alguém, não vai ser nesse intuito de curtir e só.
Cláudia se sentou na rede e olhou seriamente nos olhos da professora. -- Zinara, escuta uma coisa que eu vou te dizer, -- reclinou o tronco e apoiou um braço em cada perna -- até agora você tem levado tudo a sério demais, sempre vivendo os relacionamentos como se fossem o último da sua vida! -- a astrônoma prestava atenção -- E por causa disso, sofreu um tanto, não acha, não? -- esperava uma resposta que não ouviu -- Você agora terminou de estudar, arrumou um emprego, tem uma nova fase pela frente, taí toda livre, solta, saudável, culta, experiente, viajada pelo mundo... -- começou a gesticular -- Não acha que tá mais que na hora de provar da vida com mais leveza? -- deu-lhe um tapinha de leve na testa -- Sai à noite, conhece gente, namora, curte sem compromisso. -- aconselhou -- Quando a mulher certa aparecer, aí você vai sentir. Nesse momento, volte a ser séria. -- continuava gesticulando -- Por enquanto, faça como diz o ditado: relaxa e goz*!
A professora coçou a cabeça pensativa.
--Grazi é um bom começo. -- continuava aconselhando -- Ela me ligou ontem pra perguntar sobre você e eu falei pra ir devagar. -- sorriu -- Queria falar contigo antes.
--Falar comigo antes...? -- prestava atenção ao que ouvia
--Sim, pra te dizer essas coisas que falo agora. -- esclareceu -- Sai com ela, se divirta, pede ajuda pra achar um apartamento e vai curtindo. -- orientava -- Se nesse meio tempo conhecer mais alguém interessante, aproveita também.
--AHHa! -- levantou-se da rede -- Por esse teu conselho eu viro uma verdadeira caipiralha! -- reclamou
--Vira o que?? -- achou graça
--Caipiralha, caipira canalha! -- esclareceu -- E isso eu nunca fui! Abadan! (Nunca!) -- frisou
--Não é pra ser canalha, mulher. -- levantou-se também -- É pra curtir mais e sofrer menos! -- passou a mão nos cabelos -- O recado tá dado, cabe a você decidir o que fazer. -- caminhou até a porta da cozinha -- Ah, provavelmente Grazi vai te ligar na quinta. -- piscou -- Até lá você tem tempo de pensar com essa cabecinha tinhosa! -- sorriu -- Quer dizer, custosa, como se diz na tua roça. -- deu tchauzinho e entrou
Zinara ficou pensando no que ouviu. “Será que ela tem razão?” -- questionava-se
***
--Fiquei feliz de você ter aceitado sair comigo. -- Graziela dizia cheia de charme -- Cheguei a pensar que ouviria o mais sonoro não! -- sorria
--Ma hatha (O que é isso), não haveria motivo. -- respondeu tentando disfarçar a timidez -- Por que eu seria grosseira com você?
--Gostou do lugar? -- abriu os braços brevemente -- Não há muitos espaços GLS na cidade, mas esse aqui é bem massa. Que achou?
--É bom. -- balançou a cabeça positivamente -- E a música também é agradável... Não tem muito barulho e dá pra conversar. -- sorriu -- Tem lugar que a gente vai e quando chega a hora de ir pra casa só consegue pensar: tamintanii! (que alívio!) -- calou-se -- "Já vem você falando esses trem sem base, viu, fi? Cala a boca, bicha besta!” -- recriminou-se mentalmente
Não entendeu o significado da palavra, mas deduziu o que a astrônoma queria dizer. -- Eu sei como é isso que você fala. -- concordava -- É bom ir pra um lugar onde se possa conversar, conhecer a outra pessoa melhor... -- caprichou nos olhares -- E eu quero te conhecer bem melhor... -- afirmou com malícia
Engoliu em seco. -- É. -- bebeu um grande gole da bebida
“Ela é tão tímida!” -- pensava -- "Como pode uma mulher dessas ser assim?” -- achava bonitinho -- "Se que bem que dizem que as boazinhas viram diabas entre quatro paredes...” -- sorriu -- Cláudia me disse que você ia precisar de ajuda pra encontrar um apartamento pra morar, não sabe? -- debruçou-se sobre a mesa -- Tô à disposição pra isso! -- ofereceu -- Entendo que você prefira mais apartamento do que casa; a questão da segurança pra quem mora sozinha fala alto mesmo.
“AHHa, que a doktuur não perdeu tempo na alcovitice!” -- pensou contrariada -- Eu tenho procurado com cuidado. -- respondeu educadamente -- Quero comprar um imóvel e pra isso tem que pesquisar com calma.
--Já tomei a liberdade de falar com meu cunhado e ele me recomendou uns três apartamentos bem interessantes! Dois ficam em Ponta Madura e um em Japiúna. -- falou empolgada -- Quando a gente vai ver?
--Smallah! -- ficou pasma -- "Ave Maria, que quando é fé a mulher já quer resolver minha vida toda, uai! Já arrumou até talaat siqaq (três apartamentos) pra visitar!” -- pensou -- Ah... -- não sabia o que dizer -- Pode ser amanhã ou no próximo final de semana...
--Perfeito! -- aceitou batendo palminhas -- Amanhã eu não posso, então fica pra sábado que vem! Aí a gente aproveita e estica pra se divertir à noite. -- piscou maliciosa -- Hein?
--Aywah... (Sim...) -- balançou a cabeça positivamente
--E hoje? -- segurou uma das mãos da outra -- O que a gente pode fazer de interessante, além de trocar ideias...? -- perguntou insinuante
-- Uai... você... -- não sabia o que propor -- quer dançar? -- convidou meio sem jeito
--Só se for chamegando e de rostinho colado! -- levantou-se de um pulo e puxou a caipira pelo braço -- Vem! Agora, na raça, no capricho, na vontade, ui! -- deu um gritinho
--Eita! -- seguiu sendo puxada pela outra -- "É uma bicha doida mesmo!” -- concordava com Cláudia
--Já dançou um forrozinho? -- parou em um certo local da pista de dança -- Vem, que eu te ensino! -- agarrou-se com a morena -- Ai, eu amo essa música que começou a tocar! -- sorria -- Vem, morena importada! -- começou a se requebrar -- Só no xenhenhem! Me pegue pra chamegar!
https://www.youtube.com/watch?v=2qzLrEiQ5m0
“Me pegue, me pegue pra chamegar,
Me pegue, me pegue pra chamegar,
Me pegue, me pegue pra chamegar,
Me pegue devagar, me pegue pra chamegar...”
Me Pegue pra Chamegar - Elba Ramalho [a]
Zinara achou aquela dança engraçada e queria aprender, porém Graziela se esfregava tanto que mal dava para ensaiar uns passos como se deve. “E tome de chamego...” -- pensou divertida
--AHAHAHAH!!!!!!!!!!! -- deu um grito e se desvencilhou da astrônoma -- Não, não!!!!
Levou um susto. -- Choo? Ayn? (O que? Onde?) -- não sabia o que se passava -- Shoo sarlake? (O que acontece com você?)
--Andressa, espia ela ali! -- apontou enfurecida -- Se esfregando toda com aquela rapariga!
--Uai? -- olhou na direção indicada e viu a ex namorada da outra -- E por que ela não pode dançar com a moça? -- virou-se novamente para Graziela
--Ah, mas eu vou tomar satisfação e vai ser agora! -- encaminhou-se enfurecida para abordar as mulheres -- Acabar com essa fuleiragem da porr*! -- gesticulava feito doida
--Ei! -- protestou -- Ebaa eftekerni? (Será que pode se lembrar de mim?) -- reclamou em vão -- A mulher me convida pra sair e me larga por causa da ex! -- não acreditava -- AHHa!
Graziela abordou Andressa e seu par e começaram a discutir. Zinara foi para perto do bar e pediu uma limonada suíça.
--Majnum! (Louca!) -- reclamava sozinha -- La itkarraib Haddi! (Que não se aproxime de mim!) -- bebeu um gole do suco -- Que diacho!
--Quem te deixou nesse aperreio, hein, morena? -- uma jovem mulata se aproximou com simpatia -- O quê que houve? -- sorria
Olhou para a moça e deu um suspiro profundo antes de responder. -- Uma pessoa me trouxe aqui e me jogou no vento pra bater boca com a ex. -- não queria detalhar mais a situação
--Pense numa mulher grossa? -- achou absurdo -- E você não vai ficar aí lamentando por isso! -- cruzou os braços sorridente -- Bebe esse teu drinque e vamos chamegar no forró! -- ordenou bem humorada
--Não é drinque, é suco. -- esclareceu timidamente -- E eu não dou conta desse forró, não, uai. -- sorriu -- Laa acrif... (Eu não sei...)
--Te ensino, morena! -- piscou -- Me responde uma: da onde tu é? -- perguntou curiosa -- Sotaque diferente! -- percebeu
Bebeu o último gole do suco e colocou o copo no balcão. -- Como diz a doktuur Cláudia, sou cidadã do mundo. -- relaxou um pouco mais -- De Cedro pra Terra de Santa Cruz. -- sorria -- Ana ismii Zinara! (Eu me chamo Zinara!) -- apresentou-se
--Oxi, e ainda é importada, é? -- segurou uma das mãos dela -- Vem dançar comigo agora! -- puxou-a para a pista de dança -- Meu nome é Milena, -- apresentou-se -- e eu tava doida pra encontrar alguém que valesse a pena nessa terra! -- abraçou-se com a professora -- Vem morena, remexe comigo! -- começou a se requebrar
“Ave Maria, que eu não dou conta dessa dança!” -- pensou bem humorada
--Eu achei aquilo muito engraçado, não sabe? -- Cláudia lembrava -- Você sai de casa com Grazi e volta com uma mulata que eu nunca tinha visto na vida! -- riu -- Doidice da porr*!
--Oxi, mas se Grazi passou o resto da noite batendo boca com a ex, eu ia ficar esperando por ela? Depois que viu a tal da Andressa, a bicha não me deu mais nem tchum! -- justificou-se -- Enquanto isso eu fiquei aprendendo a forrozar com Milena, que tava muito mais agradável!
--E foi daí que virou caipiralha! -- brincou -- Saindo com as duas! -- fingiu que acusava -- Safadinha!
--Mas eu não fazia nada, só saía! -- defendeu-se -- Com Graziela era catando imóvel e escolhendo os trem pra comprar e arrumar na casa. -- lembrava -- E eu tava nas nuvens, porque nunca tive um canto meu e era a chance de viver a experiência pela primeira vez... -- cruzou as pernas -- Ela também me apresentou a vários lugares da cidade, inclusive à vida cultural daqui. -- pausou brevemente -- Grazi também gostava muito de apreciar o céu noturno comigo.
--E com Milena era praia, noitada e esportes de natureza. -- complementou -- Eu lembro, caipira, e ficava só na minha assistindo de camarote! -- riu brevemente -- Mas não vem dando uma de santa, porque houve o momento em que a senhora pegava as duas! -- mostrou o número com os dedos -- Ficasse na pouca vergonha com a mulherada lésbica de Restinga!
--Uai... -- coçou a cabeça envergonhada -- Tava seguindo seus conselhos de viver a vida light... -- fez um sorriso de criança safada -- Warana ay? (Que mais se pode fazer?)
--Sei... -- semi cerrou os olhinhos divertidamente -- E com qual delas tu fosse pra cama primeiro? -- perguntou sem rodeios
Ficou sem graça e respondeu de cabeça baixa: -- Grazi...
--Eu nem acredito! -- abriu os braços e rodou lentamente pela sala -- Al saqqa... (O apartamento...) -- sorria -- Será meu sob as bênçãos de Allah! -- ajoelhou-se no chão e louvou a Deus -- Allahu Akbar! Akbar, akbar! (Deus é Grande! Grande, grande!) -- agradecia
--Não será seu, é seu! -- Graziela corrigiu carinhosamente -- Ainda falta um tanto de prestação pra você pagar, mas é seu! -- sorria admirando a morena -- Caipira morando em Ponta Madura, com um belo apartamento perto da praia... -- aproximou-se da varanda e mirou o mar -- Eu não disse que te arrumava uma coisa boa ainda nesse ano? -- virou-se de frente para a astrônoma -- Cumpri! -- abriu os braços brevemente -- Tudo bem que faltam cinco dias pro natal, mas ainda é 2007! -- destacou -- Já vai estrear o apartamento fazendo uma ceia! -- brincou -- Mesmo que você vá pra roça, pode fazer uma brincadeira aqui pra aquecer os motores. -- piscou
Levantou-se e foi até a outra. -- Tenho que te agradecer imensamente por tudo! -- reconhecia -- Chukran, ya habibi! (Obrigada, querida!) -- segurou as duas mãos dela -- Agradeço muito por você fazer parte dessa nova etapa da minha caminhada... -- sorria -- Eu espero que Allah deixe que pessoas como você permaneçam por perto, -- desejou -- we kol mada tihla el haya. (e todo dia a vida vai ficando melhor.)
Ficou toda arrepiada com a intensidade que sentia da outra mulher. -- Você é muito fofa, Zinara Raed. -- envolveu-lhe o pescoço com os braços e a beijou -- Que tal a gente estrear esse apartamento, hein? -- beijou-a de novo -- Hum?
Sabia o que estava sendo insinuado. -- Eu ainda não tenho cama, habibi. -- beijou-a -- Somente um mísero colchonete no chão do quarto... -- beijaram-se mais uma vez
--Me leva pra lá e me mostra o que sabe fazer... -- deu um salto e envolveu a cintura da morena com as pernas -- Vamos! -- mordia-lhe os lábios
A morena segurou-a pelas coxas e seguiu para o quarto beijando e mordendo os lábios da outra com desejo.
--Não... sabe... há quanto... tempo... espero... por isso... -- afirmou entre beijos
--Tacaalii... (Vem...) -- a astrônoma sussurrou quando as duas deitaram sobre o colchonete
--Ai! -- gem*u ao sentir o peso do corpo da outra
Despiram-se com pressa, beijando, mordendo e arranhando uma a outra com muita paixão. Peças de roupa foram arremessadas pelo cômodo e palavras perdidas foram ditas no extremo da satisfação. Zinara e Graziela gastaram longas horas se amando, sendo interrompidas apenas pelo cansaço na madrugada alta.
--Eu gostava da Grazi e queria namorar sério, mas ela sempre me vinha com alguma de Andressa e aí me deixava cabreira... -- contava -- Você me dizia pra não querer compromisso com ela e eu realmente tentei viver uma fase canalha, mas não consegui. -- confessou olhando para a médica -- Quando pedi Grazi em namoro, pressionei pra que parasse de viver naquela agonia com a ex e acreditei na promessa dela de que seria tudo diferente! -- contava -- Quebrei a cara, né? -- sorriu
--Mas ela se envolveu também, era nítido. -- lembrava -- Depois é que veio a recaída e foi correndo atrás de Andressa não sei nem por causa de que! -- fez um bico -- Coisa da qual muito se arrependeu, devo salientar! -- olhava para Zinara -- E eu passei um carão naquela bicha que foi da gota! -- gesticulou enfática -- Inclusive, foi depois dela que você arrumou Jamila, -- lembrou da advogada -- e quando percebi a boa bisca que aquilo ali era, fui mais vez fui passar carão na Grazi! -- cruzou os braços -- Ela foi culpada!
Achou graça. -- Você não engole Jamila, né? -- riu brevemente -- Ela mudou, doktuur, é outra pessoa agora.
--Deixe ela pra lá! -- não queria falar na advogada -- Mas me conte uma coisa que isso eu não sei. -- queria fofocar -- Pedisse Grazi em namoro depois de jogar Milena no vento, mas por que escolhesse uma e não a outra? -- perguntou curiosa -- O que aconteceu, qual foi a fofoca? -- aguardava a resposta com ansiedade
--Milena era mais divertida e leve que Grazi, não tinha obsessão por nenhuma ex, era tranquila... cheguei a pensar em investir mais nela. -- contava -- Mas... -- pensava em como dizer -- algumas coisas aconteceram e eu vi que não seria possível administrar uma pessoa daquelas. -- pausou brevemente -- Ya wail... (Que pena...)
--Que coisas?? -- estava mais que curiosa -- Ah, Zinara, dá tempo de contar! -- confirmou olhando para o relógio -- Vai falando aí o que é que houve! -- quase se deitou na mesa
--Pra início de conversa descobri que era um bocado mentirosa! -- revirou os olhos -- E também descobri que tinha umas manias que me pegaram de calça arriada...
--Manias?? -- arregalou os olhos -- Que manias??
--Nem queira saber, sadikii (minha amiga)... nem queira saber -- lembrava da ex
***
Zinara e Milena estavam deitadas na cama da moça. Haviam acabado de fazer amor pela primeira vez.
--Ai, mas eu adorei... -- beijou a parceira languidamente -- Onde foi que tu aprendesse a fazer assim? -- perguntou dengosa -- Acho que descobri músculos em mim que nem imaginava ter... -- beijou-a -- E g*zei com todos eles... -- sorriu -- Vamos fazer de novo, meu bem? -- beijou mais uma vez
--Por que não? Tem que praticar... -- beijou-a -- It-tikraar yia’allim il-Humar... (A prática leva à perfeição...) -- beijaram-se mais uma vez
--Só que agora vai ser do meu jeito... -- reverteu as posições e se sentou sobre a astrônoma -- Pode? -- perguntou dengosa
--Aywah! (Sim!) -- respondeu empolgada -- Claro que pode!
--É que eu tenho vergonha... -- fez charminho
“Ah, que lindinha...” -- pensou ao se sentar -- Não tenha. -- pediu carinhosamente ao beijá-la -- Lembra que a caipira aqui sou eu! -- brincou -- Fique à vontade comigo. -- beijou-a, abraçando-a pela cintura
--Hum... -- interrompeu o beijo e se desvencilhou -- Então espera um pouco... -- ficou de pé -- Eu vou me preparar pra você... -- sorriu encabulada -- Deita aí e me espera, tá? -- pediu
--Estou às ordens! -- deitou-se -- Walaw! (O prazer é meu!) -- ajeitou a cabeça no travesseiro
Milena abriu o guarda roupas e tirou algumas coisas de lá. Correu para o banheiro e se trancou.
“E eu que não imaginava que ela seria tão tímida!” -- a caipira pensava surpreendida
Quase meia hora depois, a mulata abriu a porta e saiu do banheiro como se estivesse possuída.
--AHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!!!!! -- gritava como louca
A morena arregalou os olhos e se sentou rapidamente. -- Shoo sarlake??? (O que acontece com você???) -- perguntou apavorada -- AHHa!
--AHAHAHAHAH!!!!!!!!! -- pulou em cima de Zinara com um chicote na mão -- EU TÔ LOUCA!!!!!!!!! -- gritava e batia na parceira -- LOUCAAAAA!!!! -- chicoteava com fé
--AHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!!!! -- a professora gritou sentindo dor -- Mas que diacho!! -- tentava se proteger -- Pára de me bater, mas que pistinga! -- reclamava
Milena usava roupas íntimas na cor vermelha, arco de cabelo com chifres, capa preta, dentes de vampiro, coleira de couro e um par de sapatos com saltos imensos. Os olhos esbugalhados pareciam vermelhos.
--Vem aqui!!!!!! -- gritava ao perceber que a outra queria fugir da cama -- Eu quero, eu quero!!!!!!!!!!!! -- arranhava e chicoteava a morena como podia -- Vem!!! -- mordeu-lhe o ombro -- VEEEEEEEEEEEEM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! -- berrou como se estivesse endiabrada
--AAAI!!!!!! -- tentava escapar -- Pára de me bater!! -- não conseguia contê-la -- AAH! -- gritou -- Não me morde!!! -- reclamou -- Ya behiima (Sua estúpida)!! -- segurou-a pelos pulsos e deitou-se sobre ela -- Que diacho é isso?? -- não entendia -- Ficou doida?? -- fez com que derrubasse o chicote no chão -- Parece até que tá com o Bicho Ruim no corpo!
--Pega ele e me fode! -- indicou algo com a cabeça -- PEGA ELE E ME FODEEE!!!!!!!! -- deu um berro pavoroso -- AHAHAH!!!!
--Pegar o que...? -- olhou para o chão e percebeu que o cabo do chicote era um p*nis de plástico -- Uai? -- não entendia
--Arranca dali e me fode! -- pediu sofregamente -- ARRANCA E ME FODEEEEEE!!!!!!!!!!! -- berrou de novo
--AHHa, mas que escândalo! -- soltou os pulsos da mulata e pegou o chicote no chão -- Mas é cada coisa... -- olhava para o acessório
--ME FODEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!! -- gritou no ouvido da caipira e deu-lhe um soco no braço
--Oxi! -- fez cara feia e arrancou o p*nis do chicote -- Você quer assim, então vai! -- puxou-a pela cintura com força e a beijou com fúria
--FODE... FODE... FODE!!! -- gritava entre beijos mesclados por mordidas -- VEM!!!!!!!!! -- arranhava com força
--Ave Maria, mulher! -- a caipira estava até com medo
Milena se desvencilhou da amante e se deitou de barriga para cima. -- VEM! -- abriu bem as pernas -- VEEEEM!!!!!!!! AHAHAHAH!!!!!!!!!! -- gritava
--Yahda’u! (Fique calma!) -- deitou-se sobre ela -- AHHa! -- reclamou
--FODEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!! -- gritou ainda mais alto -- AHAHAHAH!!!!!!!!!!! -puxou a própria calcinha com fúria e rasgou o fundo
--Minha nossa! -- posicionou-se entre as pernas dela -- Você gosta assim... -- provocou um pouco antes de penetrar -- Então...
--METEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!! -- debateu-se na cama enfurecida
--AH! -- penetrou-a -- Agora pára de gritar como se tivesse possuída! -- rosnou entre dentes -- Tô fazendo do jeito que você quer! -- olhava nos olhos
--MAIS FORTE, MAIS FORTE, MAIS FORTE!!! -- gritava babando -- UHUHUH!!!!!!!
“Eita, mas diacho de mulher é essa??” -- pensava enquanto acelerava os movimentos
--FORTE, FORTE, FORTEEE!!!!!!!!! -- bradava -- AHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!!!!!!
--Ah! -- movimentava-se rapidamente impondo mais força
--AHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! -- gritou como porco a beira do abate -- UIUIUIUIUI!!!!!!!!!!
“É hoje que eu fico surda!” -- pensou contrariada
--Hahahaha... -- Cláudia ria com gosto -- Ai... -- secava as lágrimas -- Então quer dizer que a bicha era ainda mais doida que Grazi? -- ria -- Desculpa, Zinara, mas não tem como não rir... -- achava graça -- E gostasse dessa trans* aí? -- perguntou divertida -- Você gostou?
--Laa! (Não!) -- respondeu enfaticamente -- E o pior foi que amanheci o dia toda doída, com manchas roxas pelo corpo e os braços cheios de marcas. -- lembrava -- Tive que mentir na faculdade dizendo que fui assaltada, porque todo mundo perguntava! -- revirou os olhos -- Ralã!
--Mas nessa época você tava lá em casa! -- ajeitou-se na cadeira -- Onde eu tava que não vi isso?
--Foi naquela semana que você participou de um grupo voluntário pra atendimento no sertão e deixou a Bruninha com sua khala (tia paterna) Maria. -- respondeu de pronto -- "O que foi uma grande sorte a minha!” -- pensou -- "Se ela me visse naquele estado, ia bulir comigo pelo mês inteiro!”
--Ai, ai... -- balançou a cabeça negativamente -- E depois dessa teve outra experiência bombástica desse tipo? -- perguntou divertida -- Cada trans* uma surpresa? -- brincou
--No nosso segundo encontro íntimo ela se vestiu de vaqueira, disse que eu era o boi e foi uma danação do mesmo tipo. -- contava -- No terceiro, ela queria me queimar com vela e tatuar a letra M com ferro em brasa na minha pele. -- franziu o cenho -- Foi daí que eu reclamei, a gente discutiu e ela me jogou no vento! -- olhava para a amiga -- Pra dizer a verdade, nós nos jogamos no vento mutuamente. -- fez um gesto de contrariedade -- Eu não dava conta daquilo, não, sô! Desconjuro! -- reclamou -- Eu hein? Dah JaHiim! (É um inferno!)
Achou graça novamente. -- A loucura de Grazi sem dúvida é mais contornável! -- concordava com a amiga -- Entendo bem porque você decidiu dar um basta na carreira de caipiralha! -- zombou -- Ah, mas eu queria ser uma mosquinha pra ao menos ter ouvido o escândalo da maluca! -- riu
“Ainda bem que não escrevi isso no Kitaab.” -- Zinara pensava -- "Não ia dar muito certo se Sahar soubesse de uns trem desse...” -- considerou
***
Zinara e Cecília caminhavam na orla da praia.
--E é isso, sabe? -- passou a mão nos cabelos -- Tô adorando a vida de casada com meu Mastô, mas não consigo me acostumar com essa cidade! -- reclamava -- É muito atrasada, provinciana... -- gesticulou -- Você que já morou fora não estranhou isso? -- perguntou curiosa -- Tô a ponto de surtar!
--São Sebastião tem mais recursos que aqui, isso é um fato. Mas nem por isso Cidade Restinga se torna um lugar impossível de se viver. -- respondeu com sinceridade -- Gosto do clima, da simpatia das pessoas, da vida menos estressante... -- considerava -- Se você realmente quer viver bem, tem que parar de fazer comparações. -- sugeriu -- Cidade Restinga e São Sebastião, assim como qualquer outra cidade, têm pontos fortes e fracos. Enquanto desejar que uma seja igual à outra sempre vai viver agoniada. -- olhou para ela -- Toda mudança gera trauma, wana amil eh (fazer o que)? -- voltou a olhar para frente -- O negócio é saber administrar!
--Eu entendo o que você fala... -- pausou brevemente -- E tá bom, vai, eu admito que as praias são lindas, amo o mar de coqueiros que se vê por esse litoral, a comida é ótima, o povo recebe bem... admito tudo isso. -- fez um gesto afetado -- Mas eu me sinto vivendo em São Sebastião da década de 80! -- franziu o cenho -- Com a única diferença que naquela época não tinha celular nem internet!
-- Ma hatha?! (O que é isso?!) -- achou graça -- Exagerada...
--E o estado, meu Deus! -- revirou os olhos -- Final de semana fui com Mastô e dona Ritinha visitar uns conhecidos deles em Arapiçava e fiquei passada! -- contava -- Eram quilômetros e quilômetros de porr* nenhuma! Só mato ou então boi ou então canavial... Aí você pergunta: gente, de quem são essas terras imensas sem aproveitamento algum?? E o povo responde: da família Cyra ou então da família Sollor, ou então de Brenan Mateiros... -- gesticulava -- Cara, pelo amor de Deus, o estado não passa de um grande fazendão de um punhado de políticos que mandam nisso aqui desde sempre! -- exclamava revoltada -- Coronelato no mais alto grau e enquanto isso é o povo passando necessidade!
--Pois é. -- concordou -- Aqui é terra de coronéis até hoje.
--E Arapiçava é a segunda maior cidade de estado! -- continuava falando -- E apesar de tudo é super atrasada!!
--Concordo. -- balançou a cabeça -- Mas eu te repito: se quer viver bem aqui, tem que parar de comparar. -- aconselhou -- De mais a mais, tudo está nos seus olhos e no seu coração. -- pausou brevemente -- Amo São Sebastião, mas vocês também têm problemas imensos com violência, tráfico de drogas, inchaço da capital e um interior relativamente fraco. -- pontuou -- O que faz a diferença é o que você quiser destacar; o lado bom ou o lado ruim. -- olhou novamente para ela -- Ala hasb wedad albik... (Tudo depende do seu coração...)
Gastou uns segundos calada até que decidiu perguntar: -- E quando que você vai casar com minha irmã, hein? -- queria saber -- Tá mais que na hora, né? -- cobrou
“Oh, Aba, será possível que todo mundo faz pressão na caipira com negócio de casório?” -- pensou agoniada -- Aywah (Sim), nós vamos casar, mas as coisas têm que estar em ordem pra isso. -- não queria tratar do assunto com a cunhada -- Sahar confia na caipira e eu não vou decepcionar! -- garantiu
“Sahar...” -- não entendia o apelido -- E vocês pensam em morar aqui ou em São Sebastião? -- queria saber
--Laa acrif. (Eu não sei.) -- respondeu de pronto -- Coisa a se analisar com calma.
--Se você for morar em São Sebastião, será que me daria seu apartamento? -- Zinara olhou para ela em choque -- Calma, gente, o que eu falei de mais? -- não entendia -- É que o seu apartamento é muito melhor que o de Mastô. E melhor localizado também.
--Oxi! -- não gostou do que ouviu -- E por que eu te daria al saqqa (o apartamento)? -- perguntou indignada -- Se eu tiver que dar ele pra alguém vai ser pra ibn al-akhuuya (meu sobrinho) Hassan! -- retrucou
--Humpf! -- fez um bico -- Por isso que eu não consigo ter muita graça contigo! -- respondeu contrariada -- Além de enrolar minha irmã fugindo do casamento ainda é uma criatura mesquinha!
Pensou em dar um resposta mal criada mas se conteve. “É melhor ouvir certas coisas do que ser surda...” -- pensava -- "Ela é irmã de Sahar, não alimenta briga.” -- aconselhava-se -- Wana amil eh? (Fazer o que?) -- resmungou em voz alta
--O que?? -- não entendeu
--Nada. -- respondeu secamente -- Fica quieta e caminha, que você é muito lesa! -- apressou o passo deixando a outra para trás
--Ei, me espera! -- apressou o passo também -- "Essa Comunidade é tão temperamental...” -- pensava revoltada -- "Mas tem que engolir, né? Cunhada a gente não escolhe!”
Fim do capítulo
Música do Capítulo:
[a] Me Pegue Pra Chamegar. Intérprete: Elba Ramalho. Compositor: Tadeu Mathias. In: Flor da Paraíba. Intérprete: Elba Ramalho. BMG, 1998. 1 CD, faixa 9 (3min47)
Comentar este capítulo:
Samirao
Em: 13/10/2023
Amo Cidade Restinga. Vou morrer de saudades
Habibem cadê vc amoreee?
Solitudine
Em: 11/11/2023
Autora da história
Aqui!!!!!!!!!
E Cidade Restinga também sentirá sua falta!
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Seyyed
Em: 26/09/2022
Cararra esqueci de dizer que tua amiga Regi não cansa de me surpreender. E Cristina e o Pato Donald? Hahaha
Esses casais aqui brigam por cada coisa guria! Só louca!
Resposta do autor:
Vai entender esses casais... rs
Regina também não cansava de me surpreender, pena que ela sumiu.
Cristina aproveita as oportunidades. Faltou o Donald mesmo! kkk
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 26/09/2022
Cararra esqueci de dizer que tua amiga Regi não cansa de me surpreender. E Cristina e o Pato Donald? Hahaha
Esses casais aqui brigam por cada coisa guria! Só louca!
Resposta do autor:
Regina também não cansava de me surpreender! Pena que agora ela sumiu...
Cristina aproveitava as oportunidades. Faltou mesmo o pato Donalds! kkk
Esses casais... vai entender? rs
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 26/09/2022
É bem da ora saber os planos da criançada. Bom que Amina e Raed põe tudo mundo pra trabalhar desde cedo e ninguém fica desocupado. Tem a hora de brincar e a hora da coisa séria. Eu concordo! Raed pedindo conselho pro homem créu hehe Gosto dessa forma de mostrar Cidade Restinga. Não sei onde é mas quero ir! Haha Morri de rir com a caipiralha. Eu que não pegava aquela Grazi! Fria!
Morri com aquela foda com a Milena! Hahahaha
Resposta do autor:
Olá querida!
Vamos agora voltar a te responder aqui.
As crianças da roça pensam no futuro, especialmente incentivadas pela família. Amina e Raed fazem com que todas deem valor à terra, aos alimentos e às mãos que nos trazem comida para a mesa. E dão disciplina, pois a infância também precisa disso para que se desenvolva bem.
Raed pediu conselhos a única pessoa que poderia ajudá-lo neste sentido. Mesmo que seja o "indecente" do homem Créu! kkk
Cidade Restinga é linda! Eu não poderia mostrá-la de outra forma. Não sabe onde é? Vai olhando o mapa bem devagar depois da Bahia que você descobre. rs
Grazi foi uma bicha doida com a qual Zinara se encantou em algum momento. Mas, não daria certo, concorda? rs E Milena... deixa quieto! kkk
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 28/05/2020
Olá Sol como vai? As-Salamu Alaikum
Uma graça essa cena de Amina com os netos, eles fazendo planos... Lindos.
Agora Khadija é um caso à parte, dá vontade de apertar essa fofura, muito lindinha ela e o Deodoro.
Raed... Ele pegando conselhos com o homem do creu.... Fofinho e ele fica tímido. Esse jeito durão dele é só casca.
Zinara continua mais tarada que nunca.
E o casal nada a ver, continua nada a ver e agora brigadas! Aliás que briga mais besta credo!
Eita Raquel, o cigano do peito cabeludo é um sacana de marca maior, safado. E agora vai seguir os conselhos da mãe? Abre o olho mulher!!
“Regi: Faremos três festas, caipira, tá pensando o que? ;)
Regi: Uma aqui em Paulicéia, numa cobertura muito gostosinha de um prédio na avenida Pauliceísta
Regi: Outra na Capital
Regi: Tô negociando com os assessores da presidenta Vilma o aluguel do palácio do Sapicuy, mas tá difícil!
Regi: E a terceira vai ser nas Ilhas Semchills, conhece?
Regi: Tem um resort maravilhoso naquele lugar! Vi na internet e fiquei doida!
Regi: Aí gostei e reservei ele inteiro pra nossa festa. Não quero saber de penetra me enchendo os pacová!
--Ave Maria, mas eu fico besta com a riqueza dessa mulher! -- estava pasma -- E eu que nem sei onde diacho ficam essas ilhas!
Zina: Algo me diz que não tenho condição de ir a nenhuma dessas festas!
Zina: Acho que me barram na porta pensando que é mendiga!
Regi: kkkkk
Regi: Boba!
Regi: Você e Clarice serão minhas convidadas pras três festas
Regi: Aguardem os convites!” Nossa que coisa rica! Kkkkkkkkkkkkkkk..... Bichinha exagerada né?
Gente Jamila e Catia quase quebrarm o banheiro!!
Bom demais ouvir as histórias de Zinara.
Lá vem Cristina... Kkkkkkk.... Huguinho, Zezinho, Luizinho... Kkkkkkk....
Ana nojenta se jogando pra Clarice, ô serzinho sem noção! Deixa a caipira saber disso!
Zinara e seu passado amoroso... A bichinha era fogo viu? Não lembrava da Milena... Kkkkkkk.... E dá-lhe chicotada!
Maravilhoso capítulo!
Beijos
Resposta do autor:
Olá Gabinha! Que bonitinha escrevendo na língua de Cedro!
A vida na roça tem o seu encanto e caráter lúdico para a criançada. A família de Zinara sabe dar valor.
Raed quer aprender a ser romântico e nada melhor que um homem créu para ensinar! kkk
Você não engole Cátia e Jamila. Juntas ou separadas. kkk
Ei, a caipira não é tarada. Ela nasceu em 75, rodou o mundo, natural que tenha uma história. Clarice é que não deveria ter ciúme disso.
E tome de chicotada na caipira! Ser caipiralha tem um preço alto! rs
Obrigada pelo carinho em cada capítulo
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
kkkkkkkkkkkkkkkkkk Sabia!