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EM BUSCA DO TAO por Solitudine

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Palavras: 8991
Acessos: 10357   |  Postado em: 01/01/2018

TERRA DE SANTA CRUZ - 1

CAPÍTULO 8 – À Caminho do Coração

 

Zinara embarcava no avião. Enquanto seguia para seu assento pensava no que viria pela frente. "Nem acredito que vou fazer essa verdadeira peregrinação.” -- balançava a cabeça -- "Ir ao encontro de camma (tia paterna) Najla depois de tanto tempo... Como será que vai ser isso?” -- questionava-se -- "Seja como for, se eu tô aqui então... yaalah (vamos lá)!” -- abriu o compartimento de bagagens e colocou a mochila dentro dele

 

--Professora Zinara! Ei, professora!! -- ouviu alguém chamar -- Oi!!!

 

Olhou na direção da voz. -- Cristina?! -- viu que a moça estava sentada três fileiras após a sua  -- Garota, mas não é que é você mesma? -- sorriu -- Smallah!! -- exclamou admirada

 

--Ahahahahahahah!!! -- gritou -- Prof, há quanto tempo! -- levantou-se sorridente -- Eu vou aí me sentar contigo! Você tá na janela, então pego o meio. -- olhou para o homem a seu lado -- Dá licença, fofo? -- voltou a olhar para a astrônoma -- Duvido que se tiver alguém aí do teu lado vá se recusar a trocar uma poltrona do meio com a minha janela! -- vinha fazendo alvoroço e esbarrando nos outros -- Aaaaaaaaaaaaaaaaai!!!!! -- gritou -- Que emoção te rever, viu? -- abraçou a outra com força

 

“Essa menina não mudou em nada!” -- pensou achando graça -- Também tava com saudade! -- segurou o rosto da jovem e beijou-lhe a testa -- Vamos sentar? -- assim fizeram

 

--E como vai a vida, prof? Tá indo pra roça?

 

--Tudo bem, graças a Deus. -- sorriu -- Na verdade vou pro coração do país rever umas pessoas que não vejo há séculos.

 

--Não me diga que vai ficar na Capital também? -- perguntou animada -- Tô indo pra lá por causa do casamento de um parente do meu marido! Ele viajou anteontem e eu só não fui junto por conta de uns pequenos problemas pra resolver.

 

--Vou descer na Capital mas a viagem vai seguir ainda. -- pausou brevemente -- Mas fale de você! Como vai a vida?

 

Cristina iniciou a conversa falando sobre amenidades. Um homem ocupou o assento do corredor, ao lado dela, e logo em seguida o piloto anunciou a decolagem.

 

--Ai, professora, segura minha mão! -- pediu receosa -- Eu li que 99% dos acidentes medonhos e fatais com aviões acontecem na decolagem ou no pouso. -- engoliu em seco -- Você é uma mulher de fé e eu confio no teu poder!

 

--Eu, hein?! -- achou graça e fez o que lhe foi pedido -- Pensa no que não presta, não, menina! -- aconselhou -- "Até porque, se depender do meu poder você tá frita!” -- pensou

 

Quando o avião já estava em altitude de cruzeiro, a jovem relaxou e soltou a mão da morena. -- Uff, graças a Deus! -- respirou aliviada -- Eu sempre fico tensa, especialmente na decolagem! Já pensou morrer desgraçadamente queimada num avião?

 

--Agora relaxa que é só alegria! -- sorriu -- Mas diga, por onde tem andado, hein? Nunca mais soube de ti desde o teu casamento!

 

--Qual casamento? -- ficou em dúvida

 

Achou graça novamente. -- Como assim, qual casamento? -- olhou para a jovem -- O que eu fui, uai! Você com Paulão! Não é ele que tá na Capital? -- perguntou desconfiada

 

--Ah, tá! -- balançou a cabeça -- Ih, professora, mas cê tá desatualizada, viu? Paulão e eu separamos faz é tempo! -- estalava os dedos

 

--Faz é tempo?! -- surpreendeu-se -- Mas vocês casaram não tem nem três anos!

 

--Ih, mas eu conheci o Rodrigão e tudo mudou! -- gesticulava -- Um amor explosivo, sabe como é? Do tipo Fred Pitty e Coralina Julie naquele filme Senhor e Senhora Split! -- deu um tapa no braço da outra -- Coisa muito intensa, viu?

 

--Imagino! -- riu -- E aí você casou com esse? -- perguntou curiosa

 

--Casei mas não deu certo, não! Ele era muito esquisito, Ave Maria! -- passou a mão nos cabelos -- E você sabe como eu sou, prof! Não sou mulher de razão, sou mulher de coração! E comigo é tudo no sentimento! -- apertou os seios fartos

 

O homem ao lado prestou atenção. -- E põe sentimento nisso... -- resmungou malicioso

 

--De tanta briga e arranca rabo me dava umas dores de cabeça absurdas e eu fui pra farmácia comprar remédio. Aí você não sabe o que aconteceu, prof! -- fez suspense -- Pense!

 

--O que? -- nem imaginava

 

--Me apaixonei pelo farmacêutico! -- deu outro tapa no braço da morena -- E vou te contar, ele parece até o Zomar Xerif naquele filme Doutor Jirago! -- sorriu -- Marcão o nome dele! Ai, ai... -- suspirou apaixonada

 

--E casou com esse? -- perguntou desconfiada

 

--Foi! -- sorriu -- Fizemos uma festa linda! -- comentou animada -- Eu te procurei pra convidar e mandar um convite, mas no departamento disseram que você tava em Godwetrust numa reunião.

 

--Ah, é. -- lembrou-se disso -- Ô viagenzinha cachorra aquela... -- resmungou para si mesma

 

--Pena que você perdeu a festa, porque foi linda! Casamento pra abalar os alicerces!

 

--Liga não que no próximo eu vou! -- respondeu naturalmente

 

--Como assim no próximo?! -- ficou indignada -- Esse casamento é pra sempre! -- afirmou enfática -- É uma relação carregada no sentimento! -- apertou os seios e o homem ao lado reparou com cara de tarado

 

--Ô, Cristina, -- aproximou-se da outra -- cuidado com teus sentimentos que esse caboclo aí tá só de olho neles!

 

E nisso, o avião chacoalhou bruscamente de modo estranho.

 

--Ai, meu Pai!!!! Valei-me!! -- a moça arregalou os olhos

 

--Eita! -- levou um susto com o movimento -- Mas, calma que isso é passageiro. -- passou a mão nos cabelos e olhou para a ex aluna

 

--Deus queira! -- respondeu alarmada e se endireitou no assento -- Mas, professora, confia no que te digo! -- olhou para a outra -- Esse casamento será o último da minha vida! Eu digo isso com fé, -- deu um soco na mão -- mamãe é que não me acredita, não sei porque!

 

--Ah é, nem eu sei porque! -- brincou

 

E mais um solavanco forte.

 

--Ave Maria! -- Cristina exclamou apavorada

 

--Senhores passageiros, -- o piloto anunciou -- estamos cruzando uma área de instabilidade e turbulência. Favor, manter os cintos de segurança afivelados, as mesinhas recolhidas e os assentos na posição vertical. -- outro movimento brusco -- Em breves instantes sairemos desta zona turbulenta.

 

-- E o trabalho? -- a astrônoma mudou de assunto -- Tem feito o que?

 

--Nada. -- afirmou ainda em estado de choque -- Eu valorizo muito a relação, sabe, prof? Aí acabo me dando mal em termos de emprego. -- passou a mão nos cabelos -- Paulão e Rodrigão não queriam que eu trabalhasse. Já Marcão faz questão... -- olhava para a astrônoma -- Eu cheguei a dar umas aulas aí num colégio particular, mas Marcão achou que pagavam pouco e pedi pra sair. É que ele se importa tanto comigo... -- contava -- É muito sentimento, sabe? -- apertou os seios -- E eu sou toda sentimento, vixi Maria! -- o vizinho de fileira reparou nisso novamente

 

--Pode ser assim, não, menina! De sua carreira cuida você, não é pra homem ficar se metendo! -- ralhou

 

O avião perde altitude repentinamente, dando uma desagradável sensação no estômago.

 

--Ai, meu Pai!!! -- Cristina gritou -- Valei-me, Deus, valei-me!!! Ai, que medo!!!

 

--Oxi! -- a morena reclamou -- Calma, mulher! Tenha fé! -- pediu a jovem -- Grita não que é pior!

 

--Dá a mão professora! -- mais um solavanco -- A mão não, dá o braço que é melhor! -- agarrou-se na morena

 

--Esse diacho não vai parar de tremer, não é? -- Zinara perguntou de cara feia -- Cadê as aeromoças pra gente perguntar a previsão de acabar a tal da breve turbulência? -- e tome de chacoalhar

 

--Sem querer me meter na conversa... -- o homem do lado respondeu -- elas tão tudo sentadinha lá atrás em posição de desgraça! -- estava com medo -- Acho que já entregaram pra Deus!

 

--Ai, meu Deus!! -- Cristina exclamou agarrada com a professora -- Professora, reza, que esse bicho não pára de chacoalhar!

 

--Ave Maria, tá me dando até câimbra na boca! -- outra brusca perda de altitude -- É menina... começo a discordar de sua mãe e acreditar que esse casamento será o último da tua vida mesmo! -- engoliu em seco

 

--Que quer dizer com isso?? -- perguntou com os olhos arregalados

 

--AHAHAHAH!!!! -- todos gritaram com mais um movimento repentino

 

--Eita, que essa foi de lascar! -- a astrônoma reclamou -- Ô pistinga dos infernos!!

 

--Senhores passageiros, -- o piloto voltou a anunciar -- mantenham os cintos de segurança afivelados, as mesinhas recolhidas e os assentos na posição vertical! -- pausou brevemente -- Que a Força esteja com vocês!

 

--Como assim?! -- a jovem arregalou os olhos -- Que Força??

 

--Mas é uma negação, viu? -- Zinara disse em voz alta -- Essas empresas aéreas atrasam o vôo, têm a cara de pau de servir dois pedaços de biscoitinho ruim e um copo d’água na refeição de bordo, as aeromoças entregam pra Deus e o piloto ainda joga a toalha numa hora dessas!! -- e tome de solavanco -- Eita, pau!! Segura esse trem, meu Pai!!! -- a morena gritou

 

--É avião, professora! -- corrigiu quase às lágrimas -- Ai, ai, ai, é avião!!! Pede direito pra não confundir o Povo lá do Céu!

 

--Ô meu Pai, me defenda! -- a morena estava com medo -- Aah ya laali iw-ya la laali iw-ya laali iw ya lala! -- cantou desafinada sem nem lembrar o que a canção significava

 

--Professora, pelo amor de Deus, mostra tua fé! -- a jovem pediu nervosa -- Mostra tua fé!! Me dá confiança!! Fica com medo, não!! -- estava se desesperando -- Ahahahah!!! -- chacoalhavam nos assentos como se estivessem em uma montanha russa

 

“Se nem o maior médium desse país confiava em avião...” -- a astrônoma pensou sentindo náuseas -- "que dirá eu!”

 

--Senhores passageiros... -- o piloto voltou a se comunicar -- É... Será que alguém se habilitaria a entoar um Pai Nosso? -- pediu inseguro

 

--AHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!! -- Zinara, Cristina e o homem se abraçaram em um grito desesperado

 

Após uma longa e agonizante viagem, o avião pousava na Capital. Quando as luzes de abrir os cintos se acenderam, muitos passageiros aplaudiram aliviados.

 

--Ai, meu Deus, graças damos!!! -- a jovem agradeceu em voz alta -- Ai, eu tô viva, valei-me, valei-me, meu Pai!

 

--Cristina? -- Zinara chamou desconfiada

 

--Oi... -- respondeu abestalhada

 

--Não tá sentindo esse cara aí com as mãos no teu sentimento, não?

 

--Ei!! -- deu tapas nas mãos dele -- Sai daqui, seu tarado! -- reclamou sem parar de bater -- Tira essa mão do meu peito!!

 

--Calma, moça! -- respondeu sem graça enquanto apanhava -- É que eu sou... -- não sabia o que dizer -- sentimental!!

 

--Safadeza mudou de nome agora, é? -- a professora perguntou fazendo um bico -- Eu, hein! -- balançou a cabeça contrariada -- "Ai, meu Deus, muito obrigado por tudo, mas por favor... que o resto da viagem seja menos emocionante!” -- pediu mentalmente

 

***

 

Zinara alugou um carro no aeroporto e seguiu sua viagem para o norte do estado de Guaiás. Com o atraso do vôo, chegou bem mais tarde que o previsto e decidiu pernoitar em uma cidadezinha no meio do caminho. Deitada na cama de uma pensão humilde, contemplava a noite chuvosa através das janelas abertas. “Gosto do cheiro de terra molhada...” -- sorriu

 

A professora nunca reclamou dos dias de chuva, ao contrário, sabia valorizá-los muito bem. Por ter vivido seus primeiros anos sofrendo com falta de água, apreciava cada gota que caía do céu como uma bênção. Instintivamente, lembrou-se de sua terra natal.

 

A cidade de Jasin, onde nasceu e passou boa parte da infância, encontrava-se aos pés da segunda cadeia de montanhas de Cedro, a qual era conhecida como Barreira das Chuvas. Aquela região, menos irrigada e habitada que as demais, era pobre e remota, porém destacava-se pela criação de caprinos. Naqueles tempos de guerra, como se a Natureza se ressentisse por tamanha estupidez, o clima andava mais seco que o habitual e raramente chovia. Os animais, assim como a maioria das pessoas, foram morrendo ao longo dos primeiros anos do conflito e as crianças usavam seus ossos como brinquedo. Outra coisa de que os pequenos gostavam era de se deliciar com os raros dias de chuva.

 

“--Youssef, Khaled!! -- Zinara gritava -- Venham!! -- pulava -- Al-jaww maTiir!! (Está chovendo!) -- deixava a chuva molhar seu corpo -- MumTir!!! (Chuva!!!)

 

--Ahahahahahah!!! -- os meninos vieram correndo -- Maa' (água)!! Maa’!! -- abriam a boca para que pudessem beber

 

--Saiam da chuva!! Alaan!! (Agora!!) -- Amina ralhou -- Entum turidun an tamradun ? (Querem ficar doentes?)

 

--Deixe-os brincar um pouco na chuva, ya Amina! Min fadlik (por favor), deixe-os! -- Zahirah pediu delicadamente -- Nem sempre podem ser crianças, nem sempre podem esquecer da realidade que temos... -- olhava para a jovem mãe -- Depois nós os colocaremos para dentro. -- sorriu

 

Amina pensou um pouco, balançou a cabeça positivamente e nada respondeu.

 

--Ahahahahahah!!!! -- Farida juntou-se aos pequenos e colocou os três no colo com dificuldade -- Estão pesados! -- exclamou surpresa -- O que comem, heek la a’ref (porque eu não sei)?? -- brincou"

 

--Zahirah, Farida... -- murmurou para si mesma -- Youssef, Khaled... -- suspirou nostálgica -- Quantas saudades... Wahashtiny (Sinto sua falta...)

 

Insone, como de costume, a astrônoma ajeitou-se na cama e decidiu fazer algo que nunca fazia: assistir TV. Pegou o controle e sintonizou em um canal de notícias.

 

--Segundo estatística policial, -- a repórter informava -- a Marcha para o Rabi, que aconteceu ontem à noite na Capital Federal, reuniu cerca de 1 milhão de pessoas em frente ao Palácio dos Líderes Nacionais. -- imagens da multidão eram exibidas -- Usando de um tom desafiador, a Marcha foi marcada por severas críticas de líderes religiosos contrários à aprovação da união homoafetiva no país.

 

--Mas tenha santa paciência!! -- a morena reclamou sozinha

 

--O homem de religião Vilas Calarraia, que sempre se posicionou contra os direitos dos cidadãos homossexuais, -- a repórter informava -- fez um discurso apaixonado diante de seus muitos fiéis. -- mostraram-se imagens do pregador gesticulando nervosamente em sua fala radical

 

--É isso, meus irmãos, -- o homem dizia -- nos dias de hoje é assim! Quem não concorda com esse lixo moral é chamado de otário, de preconceituoso, mas eu digo, -- bradava com voz de trovão -- este é o sinal dos tempos!! -- profetizava -- Onde já se viu isso? Onde já se viu legalizar a união civil pra pessoas do mesmo sex*?? A Justiça rasgou a Constituição, cuspiu na lei que diz que uma união estável é entre um homem, do gênero masculino, e uma mulher do gênero feminino. -- gritava com a Bíblia para o alto -- União homossexual, uma vírgula! Vamos lutar pra acabar com essa gente do demônio que destrói nossas famílias!!! -- recebia aplausos

 

--Isso é preocupante! -- Zinara sentou-se na cama

 

--Calarraia ainda orientou seus fiéis a não votarem nos parlamentares que apóiam projetos a favor dos direitos homossexuais e muito menos naqueles que apóiam a criminalização da homofobia. -- a repórter continuava -- Vários participantes da Marcha também chegaram a afirmar que o povo de Deus está preparado para o estado de guerra santa.

 

--Guerra santa??? -- perguntou incrédula ao se levantar e desligar a TV -- E um pessoal desse tem idéia do que seja uma guerra?? -- estava revoltada -- Terra de Santa Cruz nunca viveu isso, eles não sabem do que estão falando! -- balançou a cabeça com desgosto -- Se eles soubessem que é assim que começa... Se eles soubessem que certos caminhos são quase sem volta... -- foi até a janela e olhou para o céu -- "Por favor, Aba (Pai), não deixai que o povo desse país se enverede nessa seara de ódio, agressões recíprocas e preconceitos descabidos! Não deixai que eles conheçam o que conheci...” -- orava emocionada -- "Não deixai que a guerra contamine os corações do povo mais amável deste planeta!”

 

Lembranças do passado irromperam imediatas. Podia ouvir a voz de Zahirah narrando o próprio diário.

 

“Yoom Kitaabii,

 

Hoje foi um dia cinza, sem cor... Nenhuma explosão que se pudesse ouvir ou quaisquer clarões de bombas nos céus, mas quem disse que isso significa paz? Onde está a paz? Onde encontrá-la? Diga-me, Kitaabii, pois não sei...

 

Maama se foi há poucas horas e acabo de cuidar do corpo junto com Zinara. Seus últimos momentos foram vividos nos meus braços, quando num súbito lampejo de razão, aquela alma conturbada pela loucura me olhou nos olhos e perguntou: “-- Haverá maa’ (água) e taghaam (comida) no céu?” Respondi com minhas lágrimas.

 

Kitaabii, tem idéia do que é para uma sabiyya (garota) ver a própria omm (mãe) morrer clamando por maa’ (água) e taghaam (comida) como se fosse uma mendiga? Uma mulher que no passado desfilava elegantemente pelas ruas da capital de braços dados com o marido, que também se foi como um farrapo humano? Não, você não sabe... Muito menos sabe o que é ver o amor de sua vida ser levado para longe sem que você possa fazer nada! Estou amarga? Sim, eu estou! Não me peça para ser melhor que isso, pois não posso. Meus olhos já não brilham mais... Ya sheen theek izziwaya? (O que será de mim?)

 

Estamos em 1985 e as tropas de Godwetrust e Dar-ulharb finalmente se retiraram. No entanto, minorias étnicas e religiosas se aproveitaram da situação para expulsar muitas comunidades ortodoxas sob extrema violência. Guerrilheiros de Suriyyah e seus aliados promovem uma série de atentados à cidades de maioria ortodoxa, como Jasin, e por conta disso estamos fugindo. Encontramos com outros em igual situação e somos uma caravana de miseráveis almas em busca de algum lugar para repousar os corpos cansados. Como se não bastasse, os guerrilheiros tentam assassinar o presidente e seus aliados e não sei por quanto tempo ele conseguirá permanecer no poder. Não vou dizer que torço por ele, Kitaabii, pois, afinal de contas, como tantos outros, não passa de um boneco nas mãos de Godwetrust e de outros países igualmente dominadores e imperialistas.

 

Neste momento, enquanto escrevo, estamos acampados no meio do caminho. Tivemos de fazê-lo por causa de maama e aqui continuamos pois em pouco tempo tudo ficará escuro. Ficará escuro... Ficará? Para mim, nunca mais se fez luz... Ya ritni tir (queria ser um pássaro) e voar para bem longe...

 

Estou em uma pequena tenda de carpetes surrados junto com Zinara, Leila e seus dois awlaad (filhos). camm Raed e ya Amina estão na tenda ao lado com Youssef, Khaled e giddu Raja, que vai de mal a pior. camm Amin alistou-se na muqaawama (resistência) extrema e não seguiu conosco. Talvez nem esteja mais vivo, pois sua função era servir de homem bomba em Berytus. Creio que isso é o que está acabando com giddii, mais que tudo. Ele perdeu quase todos os filhos, só que nenhum havia se entregado ao terror...

 

Depois que Farida, ya habibi, hayati (minha querida, minha vida), me foi tirada, Zinara é única razão que tenho para permanecer viva. Não fosse por ela, depois de hoje, eu daria fim a tudo isso...

 

Minha tosse melhora e piora, mas nunca passa. Tem sido minha companheira fiel nestes últimos 3 anos. Não sei se é por alguma doença do corpo ou da alma ou de ambos...”

 

--Zahirah, ya Leila, para onde nós estamos indo? -- Zinara perguntou curiosa

 

--Laa acrif, habibi... (Eu não sei, querida...) -- a ruiva respondeu acariciando a cabeça da menina

 

--Quem disse que poderíamos saber? -- Leila respondeu chateada -- Somos mulheres, os homens nunca nos ouvem, tomam as decisões sozinhos e nada nos comunicam. Só sabemos que devemos seguir. -- pausou brevemente -- Ralã! (expressão de desprezo)

 

--Eu comunico tudo, maama! -- Hassan discordou de pronto

 

--E eu! -- Jamal endossou o irmão -- Wallahi! (Eu juro!)

 

--Oh, awlaadii (meus filhos)!! -- Leila respondeu carinhosa -- Vocês ainda são jovens. Têm apenas 7 e 6 anos. Tudo será diferente quando se tornarem homens... -- lamentou

 

“E por que tem que ser assim?” -- a garota pensava intrigada -- O que Zinara sabe é que vamos sempre para o norte! -- afirmou convicta -- Giddii ensinou Zinara a ver a Estrela do Norte e sempre seguimos na direção dela! -- olhava para todos

 

--Isso faz sentido! -- Zahirah se sentou -- Sempre soube que os ortodoxos éramos maioria por lá!

 

--E o que será que vai ser de nós, Zahirah? -- Leila perguntou agoniada -- Ouvi histórias das outras mulheres... Elas dizem que os guerrilheiros matam os idosos, escravizam os homens, vendem as crianças e transformam cada mulher em mahdia (prostituta) de dezenas de junuud (soldados) perversos!

 

--O que é mahdia? -- Jamal perguntou curioso. Zinara já sabia a resposta, por ter deduzido a partir de conversas que ouviu

 

--Uma mulher que se sacrifica no que lhe é mais caro por necessidade! -- a ruiva respondeu pensando em Farida -- Esse é o tipo de pessoa que os preconceituosos chamam de mahdia! -- olhava para as crianças -- Nunca julguem! Do ponto em que estamos, enxergamos apenas uma parte da verdade.

 

Aquela resposta marcou fundo em Zinara.

 

--É verdade que nosso povo briga por religião, maama? -- Hassan perguntou -- Como pode ser, se baba dizia que Deus é de amor? Ana la afham! (Eu não entendo!)

 

--Humma juhalaa' w hubl, habibi! (Eles são ignorantes e idiotas, querido!) -- a mãe respondeu -- Falam de Deus, mas não O conhecem!

 

--A religião foi só o começo, habibi. -- Zahirah complementou -- Hoje, é apenas um pretexto e os tolos não percebem! -- pausou brevemente -- Vamos orar? Tacaalii (Vem)? -- estendeu as mãos -- Vamos pedir que o Rabi se apiede de nossas almas errantes!

 

A menina segurou a mão da ruiva, Leila e os meninos se aproximaram e todos sentaram-se formando um pequeno círculo.

 

--Você confia no Rabi, Zahirah?

 

--Sempre! -- afirmou enfática -- E você também deve confiar por toda sua vida! -- olhou para a garota -- Deus, a Sagrada Omm (Mãe) e o Rabi devem estar no seu coração enquanto viver, mas nunca agrida os outros em nome de qualquer um dEles! -- olhou para os demais e em seguida fechou os olhos -- Agora vamos orar! Vamos implorar para que se faça paz em nossas vidas!

 

Zinara pensava no que seria a paz, pois ainda não a conhecia. -- Aba, ala dalouna! (Meu Pai, nos ajude!) -- murmurou com tristeza

 

***

 

Enquanto dormia, Zahirah de repente pareceu ouvir uma conhecida e querida canção.

 

“-- Haverá um dia em que amor será o dom maior do ser. -- uma voz feminina entoava -- Não terá tristeza ou dor a esmagar o seu doce viver...

 

--Giddatii (minha avó)?? -- sentiu o coração disparar -- Será possível? -- levantou-se sobressaltada

 

Selima se aproximava caminhando por entre uma floresta de cedros. Música suave de alaúdes e nays invadia os sentidos da jovem.

 

--Oh, meu Deus!! -- cobriu os lábios com as mãos -- Giddatii!! -- chorava de emoção -- Deus é tão grande!! Akbar, akbar!! (Grande, grande!!)

 

--Smalla'Alik, Zahirah! (Deus proteja você, Zahirah!) -- Selima abençoou a neta -- As-Salamu Alaikum! (Que a paz esteja convosco!)

 

--Alaikum as-Salaam! (E a paz também convosco!) -- beijou a mão da avó -- Tamally waheshny! (Sinto muitas saudades!) -- olhava embevecida para a anciã

 

--Também sinto saudades, habibi! -- sorria com ternura -- Mas infelizmente preciso ser rápida, logo você despertará. -- advertiu -- Você pediu ajuda ao Rabi, pediu paz, e eu vim para lhe dizer que tudo mudará. -- acariciava os cabelos da jovem -- Infelizmente o ser humano ainda não se deixou guiar pelos ensinamentos do Rabi. Ainda deseja a posse permanente de coisas que passam e se perde em meio à falsas idéias de superioridade e segregação. Lava-se sangue com sangue, sem atentar que a cada um será dado segundo suas obras! -- falava docemente

 

--Oh, gidda (vovó), mas por que temos de passar por isso? -- perguntou com o rosto banhado em lágrimas -- Por que Cedro se transformou nessa terra colorida pelo sangue de seus próprios filhos? Por que, gidda? Por que?? -- não se conformava

 

--Porque nós construímos isso, habibi! -- respondeu calmamente -- Estivemos entre a multidão que gritava “crucifica!”, quando perguntada quanto ao que fazer. Matamos todos os profetas enviados em nome de Deus, manchamos nossos rios de vermelho desde o início de nossos dias. Ferimos pela espada e por ela somos feridos agora. Porém, ainda assim, nada disso passará impune! -- olhava para a neta -- Peço que não desista e nem se entregue ao desânimo total. Sei que é difícil, muito duro para uma jovem sabiyya (garota), mas confia que teu sofrimento caminha para um fim! -- garantiu -- Confia que teus saudosos amados estão nos braços de Aba (Meu Pai) e que o destino de usritina (nossa família) será ditoso! -- sorriu -- Ommik (sua mãe) não sofrerá mais de fome e sede! Tampouco, num futuro próximo, nenhum de vocês sofrerá por falta do essencial! -- segurou as mãos da neta -- Farida recebe tratamento, ela está protegida agora, mas muito se ressente por teu estado depressivo... O Rabi prometeu que nenhuma de suas ovelhas seria perdida, lissa faker (você lembra)? Confia na promessa!

 

A ruiva sentia o coração encher-se de esperança.

 

--Cuida de Yatamanna (A esperança), -- referia-se a Zinara -- e ensina a ela o que essa palavra realmente significa. Abre as cartas e mostra a menina que seu futuro é belo e que há muito trabalho pela frente. -- com um gesto fez derramar fluídos vivificantes sobre a ruiva -- Tenha fé, ora a Deus e no momento certo você terá intuição quanto ao que fazer! -- orientou -- Behebbik ia, habibi!! (Eu te amo, querida!!)

 

--Behebbik ia, gidda!! (Eu te amo, vovó!!)”

 

Daquela noite em diante, Zahirah recuperou a fé que esteve a ponto de perder. Fé, no sentido de estar em sintonia com o Alto, com o Bem, com a Força que une, ao contrário da bitolação ignorante que sintoniza apenas com o mal que julga combater. Deus não separa pessoas ou condena Seus filhos. Sua Palavra é de Amor, de Luz, de Grandeza e em nada se relaciona com a voz amargurada de indivíduos que descarregam suas frustrações na boa religião que se ocupam em corromper.

 

***

 

Jamila chegava em casa acompanhada por uma mulher que conhecera no bar lésbico que vinha freqüentando.

 

--Enfim sós! -- agarrou a advogada pela cintura -- Tava doida pra ficar assim contigo! -- beijou-a excitada

 

--Calma, querida! -- desvencilhou-se devagar -- Que tal tomarmos um drinque pra relaxar um pouco? -- ofereceu indo para o bar -- Afinal de contas precisamos nos conhecer melhor!

 

--Oxi! -- protestou -- Eu não vim aqui pra perder tempo com conversa, não, visse? -- pôs as mãos na cintura e sorriu -- Tem coisa melhor pra passar o tempo! -- aproximou-se com olhar de sedutora -- Vem cá que tem um bocado de coisa gostosa que eu quero fazer contigo, gatinha! -- agarrou-a com força mais uma vez

 

--Espera, Alessandra... -- protestou dengosa enquanto lábios famintos devoravam seu pescoço -- Eu ainda não tô no clima... -- sentia as mãos da outra tateando seu corpo

 

--Te deixo... -- mordia a orelha da jovem -- no clima bem rapidinho... -- sussurrava no ouvido -- Pára de dengo e vem, -- apertou-lhe as nádegas -- porque a gente quer a mesma coisa... -- colocou uma das mãos por dentro da calça dela -- Vou te comer todinha! -- lambeu-lhe o pescoço

 

Subitamente lembranças de Zinara vieram em seus pensamentos.

 

“--É aqui que eu me escondo, habibi! -- Jamila entrava seguida pela professora -- Ghafwan! (Seja bem vinda!)

 

--Muito charmoso! Al cha’a gamiil (O apartamento é bonito)! -- comentou enquanto retirava os sapatos

 

--Ei, não precisa tirar os sapatos! -- advertiu sorrindo -- ItfaDDal, min fadlik! (Entre, por favor!) Fique à vontade!

 

--Ommii (minha mãe) sempre disse que não se leva sujeira de rua pra casa das pessoas. -- justificou-se -- Eu respeito seu lar e respeito você.

 

--Hum, que fofinha! -- aproximou-se e envolveu o pescoço da astrônoma com os braços -- É sempre assim tão respeitosa? -- sorriu cheia de charme

 

--Eeeu sou... -- gaguejou

 

Achou graça. -- E se eu... quisesse que você me faltasse com o respeito agora? -- colou seu corpo no da outra mulher -- Hum? O que iria fazer? -- provocou

 

--Nada, porque não desrespeito mulheres; -- respondeu olhando nos olhos -- faço amor com elas!”

 

--Pare com isso! -- desvencilhou-se de Alessandra mais uma vez, sentindo-se perturbada -- Acho que é melhor você ir embora! -- olhou para a outra

 

--Como é?? -- não acreditou no que ouviu

 

--Eu perdi a vontade. -- respondeu passando a mão nos cabelos -- Vá embora, por favor!

 

Riu brevemente por estar chateada. -- Tu é uma rapariga muito da fuleira, não sabe? -- falou com raiva

 

--VÁ EMBORA DA MINHA CASA!! -- gritou

 

--Tô indo! -- fez cara feia e abriu a porta -- Vagabunda! -- foi embora

 

--Vagabunda é você, sua grossa! Sapatão escrota! -- respondeu indo trancar a porta -- Onde é que eu tava com a cabeça, hein? -- passou a mão nos cabelos -- Ai, que droga! -- estava contrariada -- Merda! -- foi até o aparelho de som e o ligou. A rádio que gostava de ouvir já estava sintonizada em um programa com músicas de Cedro

 

“Aaaaaaaaaaaaaaahhh, aaaaaaahhhhhh...” -- uma canção iniciava

 

 

E mais uma vez lembrou-se da ex namorada.

 

--Ai, ai, Zinara... -- sentou-se na poltrona e abraçou-se com uma almofada -- Por que eu fico me lembrando de você, hein? -- suspirou

 

“Estavam no quarto da astrônoma, sentadas na cama e completamente nuas nos braços uma da outra. Jamila envolvia a cintura da morena com as pernas e recebia um carinho bem vindo em seu rosto. As mãos da professora tocavam sua pele com delicadeza e admiração.

 

“Koulli waahi minnina leih maadhi, leih zikra...

(Cada um de nós tem um passado, uma memória...)”

 

--Quero que saiba que conhecer e amar você será muito mais que uma noite de sex*. -- olhava nos olhos da jovem -- Behebbik ia, Jamila, (eu te amo, Jamila) e isso não é uma coisa qualquer! Eu te quero de corpo de alma!

 

Sentia a sinceridade daquelas palavras. -- Albii... (Meu coração...) Eu quero ser sua! -- respondeu emocionada antes de se beijarem intensamente

 

“Albik isi, walla nisi, akeid a’iynaik faakrah...

(Seu coração não se torna consciente ou esquecido. Certamente seus olhos irão lembrar...)”

 

Zinara abraçou Jamila com força e deixou suas mãos percorrem as costas da advogada com desejo e carinho. Sentia as unhas dela arranhando-lhe os braços de leve. Perdiam-se em beijos entremeados por mordidas; as línguas dançavam cúmplices.

 

“Aba’aid wa seibik lilzaman wil donya wil bukrah...

(Estarei longe e deixarei você, o mundo e o amanhã por um tempo...)”

 

Deitaram-se na cama lentamente. A mulher mais velha sobre a mais nova. Pernas entrelaçadas e beijos que pareciam não ter fim.

 

“Iw laou a’ayez tiftikirni, ghammadh a’aynak dieeiaah, winti itlaaki ilhaeeiaah, aah laou...

(E se você quiser lembrar de mim, feche os olhos por um minuto e verá a verdade. Ah, se...)”

 

Zinara seguia beijando, mordendo e lambendo o corpo da namorada com a reverência cuidadosa de quem deseja ardentemente, mas com respeito e amor. Estimulava as zonas erógenas da jovem com mordidas e leves pressões com os dedos. Jamila acariciava a cabeça da professora e gemia baixinho. Fechou os olhos para melhor sentir a força daquela ligação, que poderia ter sido para sempre.

 

“Laou inti habibi ibjadd, ma itsibneesh, ma itbia’neesh, ma itkhaleesh eldounya, inti iw-hiyya a’alayya...

(Se você me amasse de verdade, não teria me deixado, me vendido e ficado contra mim...)”

 

--Ah!!! Ah!!! -- a jovem deleitava-se com a língua e os dedos que lhe exploravam o sex*”

 

De volta ao presente, Jamila chorava sem saber o que fazer.

 

“Iw laou a’ayez tiftikirni, ghammadh a’aynak dieeiaah, winti itlaaki ilhaeeiaah, aah laou...

(E se você quiser lembrar de mim, feche os olhos por um minuto e verá a verdade. Ah, se...)”

Mohammed Fouad -- Laou (Se)

 

***

 

Zinara finalmente chegava na fazenda de Najla, a única irmã de seu pai que ainda vivia. Surpreendeu-se por achar que tudo estava muito diferente. Placas anunciavam que se tratava de um hotel fazenda.

 

“Será que camma Najla transformou a fazenda em hotel?” -- pensava intrigada -- "Ou será que isso foi idéia de Aisha?” -- manobrou o carro para entrar. As porteiras estavam abertas -- "Nossa, tá tudo tão mais bonito!” -- constatou -- “E olha que naquela época já era uma fazenda linda!”

 

Estacionou o carro e desceu contemplando o ambiente. Lembrou-se de quando esteve ali pela primeira vez.

 

“--Smallah!! -- Raed olhava embasbacado para todas as direções -- Najla é dona de tudo isso? -- estava pasmo -- Oh, ya helu! (Oh, lindo!)

 

--É o paraíso!! -- Amina emocionou-se -- Deus é grande e poderoso!! -- agradeceu olhando para o céu -- Akbar! Akbar! (Grande! Grande!)

 

--Ahahahahahah!!!! -- Khaled corria gritando e pulando com euforia -- Hahahahahahaha!! -- ria animado -- Ahahahahahah!! -- gritou novamente

 

--Oh! -- Zinara não sabia o que dizer. Sentia-se no céu

 

--Ya aini (Meus olhos), me diga! -- Youssef pedia excitado e ansioso -- O que vocês estão vendo? Diga, porque eu não sei!! Como é aqui?

 

--O lugar que camma Najla mora é enorme! -- a menina disse para o irmão -- Cheio de árvores, cheio de verde e de outras coisas lindas que nunca vi! -- sorria -- Tem al-nahr (um rio) por perto, tem bichos e uma casa com janelas inteiras! Nada é destruído e parece que nunca nenhuma bomba explodiu por aqui! -- reparava com muita atenção -- Al dar es-salaam! (É a casa da paz!)

 

O menino sorriu com o coração acelerado. -- Chegamos no paraíso? Ezzai? (Como pode?) -- perguntou emocionado -- Queria poder enxergar... -- desejou suspirando”

 

--Queria que você tivesse visto com seus próprios olhos, habibi... -- murmurou pensando no irmão

 

--Posso ajudar, senhora? -- ouviu uma voz feminina perguntar

 

--Ah, sim! -- virou-se de frente para a moça -- Boa tarde, meu nome é Zinara. -- sorriu -- Procuro por camma... por minha tia Najla. Será que poderia me ajudar?

 

--Ela é hóspede? -- perguntou desconfiada

 

A astrônoma se surpreendeu com a pergunta. -- Ela é a dona dessa fazenda! -- respondeu desconfiada -- Pelo menos era...

 

--Lamento desapontá-la, mas esse hotel fazenda pertence ao senhor Mike Ametista. -- aproximou-se -- Meu nome é Úrsula, sou a gerente do horário administrativo e a funcionária mais antiga. -- falava com delicadeza -- A propriedade já era dele desde que cheguei aqui. Nunca ouvi falar na senhora Najla.

 

“Mas será possível que a peste desse homem compra tudo? Até a fazenda de camma Najla?” -- pensou revoltada -- Tem certeza que nunca ouviu falar nela? E nem no marido dela, o coronel João Paulo Cezário? Era um fazendeiro rico e conceituado!

 

--Não mesmo! -- reparou na professora de cima a baixo -- Mas há uma senhora que trabalhou aqui por muitos anos e mora na cidade bem perto da minha casa. -- sorriu -- Saio daqui a... -- olhou para o relógio -- meia hora. Se puder me esperar e me dar uma carona, te apresento a ela. Quem sabe isso pode te ajudar? -- fazia cara de mulher de bingo

 

Úrsula era uma jovem mulher branca de uns 30 anos, magra, cabelos pretos e curtos e um jeito meio moleque, apesar das roupas bem femininas e formais que usava para trabalhar. Zinara desconfiou que fosse lésbica por conta do modo como foi analisada por ela.

 

--Por essa eu não esperava... -- pôs as mãos na cintura -- Tudo bem, eu te levo, mas preciso da tua ajuda pra arrumar um hotel pra passar a noite. Uma diária aqui deve ser uma fortuna e eu num dou conta, não! -- especulou

 

--Que nada! -- deu um pulo e abraçou a morena pelos ombros -- Esse hotel fazenda é um espetáculo, experiência única de conforto e qualidade em meio à rusticidade ecológica que nos cerca. -- caminhavam em direção à recepção -- Temos um quarto single com vista pro rio e banheira na suíte! -- fazia a propaganda -- Café da manhã incluso, e vou te contar: coisa farta, gostosa e apetecedora!

 

--E o preço? -- olhou para a outra

 

--A senhora pode pagar no cartão de crédito em até cinco vezes sem juros! -- não respondeu -- A fazenda conta com um delicioso rio, cachoeira e circuito de arvorismo! Tudo incluso na diária! -- pausou brevemente -- Mas se quiser fazer o arvorismo tem que pagar só uma taxinha extra pro instrutor! -- sorriu

 

--E o preço? -- parou de andar e cruzou os braços esperando a resposta

 

--Ah... -- passou a mão nos cabelos -- Quinhentos reales muito do bem empregados, posso garantir!

 

--Tem base isso, uai? -- ficou horrorizada -- Sem chance! Diacho danado de caro, eu hein? -- fez cara feia

 

--A cidade só tem esse hotel, mas... -- sorriu olhando a outra de cima a baixo -- lá em casa a diária fica em cinqüenta reales. -- pausou brevemente -- Sem café da manhã. -- salientou -- O hotel mais próximo está a 2 horas de viagem daqui, seguindo por uma estrada de terra mal tratada e sem iluminação. -- esperava a resposta -- É pegar ou largar...

 

“Vou te contar, viu?” -- Zinara pensou fazendo um bico -- "Eu só me meto em roubada!”

 

***

 

Úrsula abria a porta de casa. -- Caralh*!! Que porr* é essa??? -- gritou escandalizada entrando como um foguete

 

A astrônoma arregalou os olhos. -- Chama a polícia, mulher! -- estava pasma com o que via -- Danaram com tudo, minha Nossa! -- entrou na casa com cuidado -- Dii al-jaHiim! (É o próprio inferno!)

 

A sala estava toda revirada e cheia de sujeira pelo chão. Sobre as duas poltronas, um arsenal de roupas largadas, latas de cerveja vazias e pedaços de papel. Em meio ao caos, uma galinha bicava uma fatia de pizza largada em um canto do cômodo, enquanto que um ruído estranho tomava conta do ambiente.

 

Úrsula não entendeu. -- Danaram com tudo?! Como assim, uai? -- caminhou até a mesinha de centro e pegou dois controles remotos -- Eu fiquei puta foi em ver a porr* toda ligada! -- desligou a TV e o aparelho de som -- Já cansei de falar pra Tosa que num dou conta de desperdício de energia, mas ela é foda! -- olhou para a professora -- Tem que ter consciência ecológica, né, não? E eu não pago as contas com o cú!

 

“Eita!” -- pensou -- Ah, então... -- ficou desconfiada -- esse layout aqui... -- indicou o ambiente -- é o padrão? -- concluiu

 

--E o que há de errado? -- jogou os controles sobre o sofá -- Isso aqui é casa de uma mulher sem tempo, então não repara na baguncinha. É que a vida é foda, falta tempo pra porr* quase toda... -- sorriu -- Deixa tua mochila por aí que teu quarto é esse! -- apontou para a sala

 

Zinara riu e se aproximou da outra. -- Vem cá, eu não vou pagar cinqüenta reales pra dormir aqui, não, fi! -- cruzou os braços -- Pelo amor de Deus, que coisa trash!

 

--Ei! -- fez cara feia -- Não é porque tu é sobrinha de ex fazendeira que pode chegar na minha casa botando banca, não, caralh*! -- falava revoltada -- O lugar é simples mas é honesto, porr*!

 

--Ave Maria, mulher, toma vergonha! -- a morena se revoltou -- Nem no auge da minha miséria em Cedro eu vi uma podriça dessa! Até galinha tem! -- apontou para o bicho -- Eu hein, que pistinga dos infernos! -- encaminhou-se de volta para a porta -- Agradeço tua ajuda em me apresentar àquela dona que trabalhou na fazenda, mas pagar pra dormir aqui não dá! Prefiro dormir dentro do carro, que tá limpo! -- virou-se para ir embora

 

--Calma, porr*! -- correu para fechar a porta e impedir a saída da outra -- Façamos assim, eu te cobro meia diária! -- propôs

 

--Não tem negociação! -- respondeu com firmeza -- Dá licença pra eu me mandar? -- pediu de cara feia

 

--Puta que pariu, caralh*! -- reclamou contrariada -- Tá, tudo bem, fica por conta, porr*! -- percebeu a desconfiança da outra -- É que minha namorada vai ficar uma semana em Gyn... -- justificou-se -- Minha irmã vem pra cá pra ficar comigo, mas só chega amanhã à noite...

 

--E eu com isso? -- ainda queria ir embora

 

--Fica, vai? -- insistiu com cara de cão pidão -- Morro de medo de dormir sozinha... É uma merd*...

 

A astrônoma respirou fundo e pensou um pouco. -- Fico, mas com uma condição: que a gente limpe essa porqueira toda!

 

--Puta que pariu!! -- reclamou de cara feia

 

--E não quero saber de galinha me rondando, não! -- continuou exigindo -- O bicho tem que ficar no canto dele e não onde vou dormir!

 

--Ah, ow, se liga, porr*! -- estava revoltada -- Eu não privo Zeca do convívio social! Ela goz* de total de liberdade na minha casa!

 

--Zeca? -- achou graça e olhou para a galinha -- Que ela goze nos outros cômodos mas não onde vou dormir! -- cruzou os braços -- É pegar ou largar! -- imitou a outra

 

--É foda, cara... -- balançou a cabeça contrariada -- Tá bom! Mas a limpeza vai ser na sala e olhe lá, viu fi?

 

--No banheiro também, porque é outro cômodo que pretendo usar! -- exigiu -- "Imagino como deve ser o hammaam dessa casa do Bicho Ruim!” -- pensou -- “Deve ter até pato!”

 

--Ih, que viadagem... -- revirou os olhos -- Merda!

 

***

 

Após muito trabalho, Úrsula e Zinara lanchavam na cozinha. A professora já havia tomado banho, mas a dona da casa nem se mexeu para isso. Era tarde da noite.

 

--Puta que pariu, caralh*, só tu mesmo pra me fazer trabalhar assim depois de um dia inteiro no batente! É foda, cara! -- reclamava de boca cheia -- E olha que ainda passamos na casa de dona Mercedes antes de vir pra cá!

 

A professora olhava intrigada para a outra. -- Em que momento a gente cruzou o portal que eu não percebi, hein?

 

--Que porr* de portal é esse que tu fala? -- não entendeu

 

--Você passou por uma transformação total! -- afirmou enfática -- Lá na fazenda você era toda sorrisos, cheia das simpatias, falava bem e, de repente, sei lá o que te deu, que baixou um espírito boca suja que você só sabe xingar! -- bebeu um gole de suco -- Tua sala de trabalho é impecável, mas essa casa aqui tava em petição de miséria!

 

--Ah! -- acabou achando graça -- Você não manja nada, né? Eu sou sapata, porr*, ainda não percebeu, fi?

 

--Tá e daí? -- mordeu o sanduíche

 

--E daí que essa cidade é pequena e eu tenho que disfarçar, caralh*! -- explicava como quem diz o óbvio -- O povo pensa que Tosa é minha prima, que eu sou mulherzinha típica de Guaiás e no trabalho tenho que ser organizada e meiga pra não perder o posto, né? -- bebeu refrigerante -- É um preconceito do caralh* que tem aqui! Ainda mais agora que tem umas quatro igrejas só de gente do Otaviano!

 

“Mike Ametista e Caio Cesar Otaviano... pragas da minha vida!” -- pensou revirando os olhos -- Eu entendo seu lado, mas ser lésbica não é sinônimo de ser porca, não! Arrumar a casa de vez em quando não vai te fazer mal! -- terminou o lanche -- Nem a você e nem a tua galinha com nome de macho! -- achou graça

 

--Zeca é sapata como eu! -- bateu no peito -- Acredita que ela nunca aceitou a corte de nenhum galo?

 

Riu. -- Nunca ouvi falar de galinha lésbica! -- balançou a cabeça sorrindo -- Mas enfim... -- limpou os lábios com o guardanapo

 

--Foi Tosa que escolheu o nome da penosa! -- limpou os lábios e arrotou alto -- Caralh*, esse veio queimando!

 

“Minha nossa!” -- pensou horrorizada -- O nome da tua namorada é Tosa mesmo? -- perguntou curiosa -- Nunca ouvi esse nome!

 

--Não, Tosa é o apelido. -- sorriu com cara de safada -- Tosa vem de gostosa, entendeu? Mulher boa, toda mignon... Porr*, só de pensar me dá vontade! -- apertou-se entre as pernas

 

--Sorte a sua. -- começou a recolher seu lixo -- Deixa eu te falar, que depois de ter conversado com dona Mercedes, agora sei onde procurar por minha tia e amanhã mesmo já vou! -- olhou para o relógio -- Quer dizer, hoje mais tarde. -- levantou-se -- A conversa tá boa mas vou escovar os dentes e tentar dormir por umas horinhas.

 

--Ei, eu tô de folga amanhã, será que você não me levaria junto? -- pediu sorrindo -- Saber que uma mulher que foi miss Cedro era dona daquela fazenda me deixou curiosa! Deve ser a maior gata, puta que pariu!

 

--Criatura, ela é uma senhora! -- respondeu seriamente -- E ao que eu saiba, sempre foi hetero! -- caminhou até a lixeira -- Aliás, pensei que você gostasse é da Tosa!

 

--Ah, minha filha, eu gosto de mulher, porr*! -- levantou-se também e seguiu a outra -- Nova, velha, preta, branca, olhinho puxado, gorda, magra... Abaixou pra mijar eu tô pegando! Bucet* é comigo mesma! -- sorriu

 

Zinara se aborreceu e pegou a outra pela gola da blusa imprensando-a contra a parede. -- Veja lá como fala! Ela é minha tia e eu quero respeito, ya behiima (sua estúpida)!

 

--Ow, ow, calma aí! -- tentou se libertar sem sucesso -- Ei, você é forte! -- surpreendeu-se -- Caralh*!

 

--Não queira me ver com raiva! -- soltou a mulher e se recompôs -- Desculpe, -- olhou-a seriamente -- mas você mereceu!

 

--Porr*... -- endireitou a blusa -- Aí, tu é sapata também? Com uma pegada dessas...

 

--Humpf! -- fez um bico -- Boa noite! -- foi para o banheiro

 

--Zinara, olha só... -- Úrsula seguia a morena -- Porr*, foi mal, totalmente sem base! -- desculpava-se -- Mas não guarda rancor, não... A gente podia se entender... -- falava forçando uma voz de cafajeste

 

--Como é?? -- parou na porta do banheiro para encarar com a outra

 

--Eu reparei em você lá na fazenda. -- aproximou-se cheia dos olhares -- Até que... porr*, tu não é de se jogar fora... -- olhou-a de cima a baixo -- E essa tua pegada me parece foda... -- sorriu -- De vez em quando eu gosto de variar e provar de um jeito diferente... Gosto de uma galinhagem... -- piscou

 

E a galinha passeava faceira pelo corredor.

 

--Ah, é? -- abaixou-se e rapidamente pegou o bicho -- É o seguinte, -- pôs a ave nas mãos da outra -- faz galinhagem com tua galinha lésbica! -- sorriu e entrou no banheiro fechando a porta -- Vou te contar, Zinara! -- olhou-se no espelho -- Você só se mete em fria... Ô mulherzinha pra pagar mico!

 

CAPÍTULO 9 – Reencontro

 

Zinara rumava pelos corredores do asilo seguindo os passos rápidos de uma mulher. Em sua cabeça mil coisas se passavam. Rapidamente chegaram ao imenso quintal da casa, onde muitas idosas caminhavam ou simplesmente descansavam sob o sol ameno.

 

--Lá está ela, filha. É aquela ali, de costas pra nós e lenço na cabeça. -- apontou para uma mulher isolada das demais -- Quer que eu siga com você até lá ou prefere ir sozinha? -- perguntou gentilmente -- Imagino que depois de tantos anos haja muito para conversar.

 

--Agradeço sua ajuda e... de fato, prefiro ir só. -- respondeu com delicadeza

 

--Fique à vontade. -- sorriu e se afastou

 

A astrônoma se aproximava caminhando devagar. Sentia o coração acelerar e uma angústia inesperada lentamente tomava conta de si. Mirava para a mulher solitária e tentava desfazer em sua mente as ligações entre aquela senhora e pessoa terrível que marcou sua vida no passado.

 

“Um turbilhão de lembranças desagradáveis pipocaram em minha mente desde que pus os olhos nela, Kitaabii. Por sorte estava de costas para mim, do contrário, acho que não teria tido coragem, não sei.

 

Quanto mais me aproximava, mais pensava que camma Najla era a mulher que representou o paraíso e o inferno em uma só pessoa.”

 

--Você não é mais uma criança! -- falava para si mesma -- Muito menos deve se perder no passado! -- parou de andar e tentou se controlar. Estava nervosa -- Saia do passado! -- respirou fundo e fechou os olhos. Naturalmente reviu algumas cenas

 

“--Zinara, será possível que você não sabe fazer nada direito? -- Najla entrava bufando na cozinha com as botas sujas de lama -- Eu não mandei você passar essa blusa, sua estúpida? -- segurava furiosamente a peça de roupa

 

A menina estava ajoelhada limpando o chão. Olhou decepcionada para a sujeira que a tia fazia. -- E eu passei, camma Najla. -- olhou para a mulher

 

--Passou como suas fuças! -- respondeu rispidamente -- Eu não visto roupa marcada e isso aqui tá cheio de vincos! -- estava furiosa

 

A garota ainda não dominava o novo idioma. -- Ana la afham! (Eu não entendo!)

 

--Ah, não? Eu vou explicar melhor! -- aproximou-se da sobrinha e arremessou a blusa contra o rosto dela -- Passe de novo, ya habla (sua imbecil)! E vê se aprende logo a língua daqui! -- saiu da cozinha com raiva”

 

Sentia-se mal e as pernas tremiam. Olhava para a tia e pensava se deveria prosseguir ou ir embora.

 

“--Amina!!! -- Najla chegava gritando -- Posso saber por que a cozinha tá um lixo, sua incompetente??

 

A pobre mulher olhou para a filha, esperando que traduzisse o que a outra dizia. Estavam limpando o banheiro.

 

--Mumkin tinaDDaf Il-maTbakh, maama? (Pode limpar a cozinha, mamãe?) -- a menina esclareceu

 

--Ya Najla manda Amina tinaDDaf Il-hammaam (limpar o banheiro)! -- tentava se explicar -- Amina faz...

 

--Sua filha horrorosa limpa o banheiro, -- parou na porta com as mãos na cintura -- você limpa a cozinha! -- ordenou -- Alaan! (Agora!) -- falou mais alto

 

Amina levantou-se constrangida e desorientada. Olhou rapidamente para Zinara e saiu.

 

--Bint il-'aHba... (Filha de uma puta...) -- resmungou baixinho acompanhando a trajetória da outra com o olhar

 

--Maama mich int il-'aHba! (Mamãe não é filha de uma puta!) -- a jovem rebateu de pronto

 

Najla olhou para a sobrinha com a cara feia e se afastou sem nada responder.”

 

--Isso é passado! -- repetiu para si mesma -- As coisas são bem diferentes hoje! -- respirou fundo e voltou a andar. Sentia a boca seca

 

Após segundos que pareceram horas, finalmente se aproximou e parou diante da tia com receio. -- As-Salamu Alaikum! (Que a paz esteja convosco!) -- cada palavra lhe custou um esforço imenso para ser dita

 

A mulher levantou a cabeça e mirou o rosto da sobrinha com o olhar em festa. -- Ma zane albi tensani, Zinara!! (Nunca passou pelo meu coração que você me esqueceria, Zinara!!) -- sorriu emocionada -- Ana f’inti zarak! (Estava esperando por você!)

 

A professora contemplou o rosto da mulher mais velha e teve pena do que viu. Najla estava muito envelhecida para sua idade e sequer lembrava a pessoa altiva, bonita e petulante que conheceu ao chegar em Guaiás. -- Será que poderíamos conversar? -- pediu tentando disfarçar a angústia que lhe dominava

 

--Não sabe o quanto desejo ter uma conversa com você, com Raed, Amina... Espero há anos... -- seus olhos estavam marejados

 

Sentou-se com dificuldade ao lado da tia. -- Pelo menos por mim não há mais porque esperar. -- pausou brevemente -- Estou aqui.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Música do Capítulo:

Mohammed Fouad -- Laou (Se) : não tenho mais informações sobre a canção além do clipe no qual me baseei em https://www.youtube.com/watch?v=KuHM1mUFOII


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Comentários para 3 - TERRA DE SANTA CRUZ - 1:
jake
jake

Em: 19/06/2024

Eita Sol que Zinara só se mete em furada....E mto triste a história da infância dela .Jamile está provando do próprio veneno...vamos lá vê oque a tia tem pra lhe dizer.


Solitudine

Solitudine Em: 20/06/2024 Autora da história
Olá querida!

Zinara só se mete em furada? kkkk Caipira tem disso! rs

A história de Zinara é a de muitas pessoas neste mundo, habibi. Infelizmente...

Jamila está aprendendo a dar valor ao que perdeu.

Beijos,
Sol



Solitudine

Solitudine Em: 31/10/2024 Autora da história
E você, Jake? Tudo bem?

Desistiu do Tao? Por onde andas?

Beijos,
Sol


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PaudaFome
PaudaFome

Em: 19/05/2024

Cada vez mais envolvida! Junto com Zinara em sua busca pelo Tao. Quero saber mais da história dela e das pessoas que marcaram como Zahirah e Najla


Solitudine

Solitudine Em: 20/05/2024 Autora da história
Olá querida!

Então continue aqui e vamos juntas por este caminho!

Beijos,
Sol


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Samirao
Samirao

Em: 07/10/2023

Amore lembra que o Tao teve mais de 1000 comments? Cadê aquela mulherada? 


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Querida... este tempo passou!
Beijos,
Sol


Responder

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Samirao
Samirao

Em: 23/03/2023

A long way  Journey 


Solitudine

Solitudine Em: 26/03/2023 Autora da história
Needless journey! kkkk


Responder

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Samirao
Samirao

Em: 07/01/2023

Rounded my darling!


Resposta do autor:

kkkkkkkk

Ok

Beijos,

Sol

Responder

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Alexape
Alexape

Em: 25/12/2022

É forte e maravilhoso! 


Resposta do autor:

Obrigada!

Beijos,

Sol

Responder

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Seyyed
Seyyed

Em: 17/09/2022

Esqueci de dizer a forma como você contextualiza crítica e romanticamente a guerra de Cedro é indescritível. Trilegal, lindo tocante... phoda (já sabe, né? Erudita HEHE)


Resposta do autor:

Muito obrigada!!!

Sim, já conheço a erudição! rs

Beijos,

Sol

Responder

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Seyyed
Seyyed

Em: 17/09/2022

Essa Cristina Lady me divertiu! haha mas aí vem uma cacetada de emoção, Úrsula (quem é aquela haha) e mais emoção no reencontro. Zi tá numa viagem reflexiva maravilhosa e a gente segue junto. Amando!!


Resposta do autor:

Cristina Lady era divertida! kkk

A viagem de Zinara é mais que tudo reflexiva, você tem toda razão!

Continue lendo e viajando! Desde já te agradeço!

Beijos,

Sol

Responder

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Atrevida
Atrevida

Em: 27/04/2022

Tô lendo esse junto com teu outro gigante. As outras menores eu já li. Esse lance de refugiado me bate fundo e não consigo ler diretão mas vou dar moral. Tu tem que fazer uma história pra dar moral pras preta! 


Resposta do autor:

Nossa, você está mesmo maratonando! Fico lisonjeada, especialmente porque você não me parece ser do tipo de muito proseado.

Obrigada por me dar essa moral!

Sim, a questão dos refugiados é muito dura e para mim também foi um grande desafio escrever.

Eu prestei atenção no seu pedido. Será atendido!

Beijos,

Sol

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Gabi2020
Gabi2020

Em: 04/05/2020

Olá Sol tudo bem?

 

É cada nome que você arruma hein? "Senhor e Senhora Split?"...Kkkkkk... Filme bom esse viu?

Essa Critina era maluquinha mesmo! Só nos ão: Paulão, Rodrigão, Marcão... Parente da Lady? Kkkkkk... Tem o mesmo hábito de apertar os seios.

 

Apertem os cintos... Só faltou o piloto sumir! Misericórida Sol, que pesadelo esse avião! 

 

 

Tão atual o discurso do homem da religião... Tão atual...

 

 

Os relatos da Zahirah são doídos de ler...

 

 

Jamila demorou pra perceber que de fato amava Zinara... Ai ai 

 

 

Realmente Zinara só se mete em roubada... Nicole, Úrsula... A bichinha sofreu!Essa casa da Úrsula... Kkkkkk... Ô bicha boca suja!

 

 

Tia Najla....

 

 

 

Beijos 


Resposta do autor:

Gabinha!!!

Tenho que arrumar nomes genéricos, uai. Até o nome do planeta do conto é genérico! rs

Toda criatura que é muito "sentimento" aperta os seios. Repare!

Se te contar meus causos de avião, você não acredita. kkkk

Esses "homens de religião" têm sido um grande problema no país. Inclusive na decisão dos resultados eleitorais.

 

Jamila foi meio lenta para uma série de coisas...

Úrsula é boca e casa suja! kkkk

 

Beijos,

Sol

 

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