CapÃtulo 14
Já em casa, mais uma vez Tina preparou a banheira para a mulher relaxar, e enquanto o fazia, preparou-lhe algo para comer, já estava há mais de doze horas de estômago vazio.
Colocou mais travesseiros na cama, para Flávia deitar o mais confortavelmente possível. Por recomendação da médica, deu-lhe um relaxante muscular antes da refeição, e ajudou-a a sair da banheira. Enrolando-a com a toalha, e enxugando-lhe as costas. Depois, carregou-a, pela cintura, até a cama, e secou seus cabelos. Fez com que comesse, tomasse o suco de laranja, e deitasse. Abraçando-a, agora mais calma, por tê-la perto.
Tina prometeu a si mesma que mudaria alguns hábitos, para que Flávia tivesse certeza do quanto a amava. Evidentemente, seu tom autoritário não tinha como ser completamente alterado, pois lhe era próprio, mas se esforçaria para ser mais meiga e amorosa, e verbalizar o amor que sentia.
Flávia adormeceu rapidamente, aconchegada em seu braço, com o nariz mergulhado em seu pescoço, e a mão em seu seio. Safada, nem doente deixava de querer aproveitar-se de seu corpo. Riu baixinho, satisfeita com o gesto de posse da outra.
Tina acordou sentindo a perna dormente, Flávia estava desmaiada, jogada sobre ela, dormindo profundamente. Ajeitou-se sob o corpo da outra, abraçando-a mais uma vez, sabendo da sorte que tivera por ela não ter se ferido gravemente. Pela primeira vez na vida, em anos, teve medo de perder alguém. Só sentira isso quando a mãe descobrira estar com câncer, em fase avançada. Não podia imaginar passar por aquilo novamente, principalmente agora que descobrira o quanto podia ser feliz. Pensando nisso, adormeceu novamente, sem reclamar do peso do corpo da outra sobre o seu.
Mais de dezoito horas depois, já preocupada porque Flávia ainda não acordara, decidiu despertá-la com um café reforçado. Preparou-lhe sanduíches, suco, café com leite e iogurte com cereais, colocando-os em uma bandeja para servi-la na cama. Entrou no quarto em silêncio, depositou a bandeja sobre o criado mudo, e ajoelhou-se sobre a cama, beijando delicadamente os lábios da mulher, que acordou resmungando, e mesmo de olhos ainda fechados, puxou-a sobre o corpo, depois gem*ndo de dor.
- Isso é pra você aprender a deixar de ser tarada... – Riu, sabendo que Flávia tinha esquecido do acidente, e de que o corpo reclamaria do impacto.
- Ai... isso não é justo. – Reclamou, abrindo finalmente os olhos para ver a mulher.
- Amo você, ouviu? Mas vai ficar de castigo uns dias, por ter me dado esse susto. – Anunciou com cara de que cumpriria a promessa.
- Credo, normalmente quando as pessoas se machucam ganham beijinhos, eu, castigo... isso não é certo. – Protestou com ar de criança magoada.
- Hum, pois comigo o sistema é bruto, pode ir se acostumando e achando bom. E já vou logo informando que depois desses aranhões e hematomas desaparecerem, aí você vai passar uns dois dias, pelo menos, nessa cama, então, me mostrando que sou sua. Disse, com ar sério. Arrancando risos da mulher.
- Bom, em sendo assim, começamos a nos entender. Agora vem cá e me beija de novo, vai. – Pediu, dengosa, sendo prontamente atendida.
-Agora comporte-se e sente direito, para tomar café.
- Que horas são?! – Estranhou.
- Quase dez da manhã. Você apagou, e como sabia que precisava se recuperar da noite em claro, fiquei com dó de acordá-la.
- E o escritório?
- Dênis está cuidado de tudo... e avisei Aline que reunisse a sua equipe e tomasse as providências necessárias para você ficar em casa até melhorar.
- Tenho um projeto para terminar... – Lembrou-se.
- Você vai é ficar quieta. Pedi que Roger assumisse seus projetos, mas os trouxesse para o aval final, antes de mostrá-los aos clientes. Você sempre disse que ele era eficiente, então deleguei-lhe mais obrigações. Ele ficou notoriamente feliz em ajudar, sabendo que você tinha se acidentado, e por termos confiado em sua capacidade.
- Bom ser casada com uma administradora... devia ter pensado nisso antes. – Brincou, satisfeita com o arranjo feito pela mulher. Confiava em seu discernimento e habilidade em lidar com questões práticas. E precisava reconhecer que não se sentia realmente bem para voltar a trabalhar, ainda.
- Agora trate de se alimentar, que é para sarar logo. – Mandou, colocando a bandeja sobre o colo de Flávia, que descobriu estar com mais fome que imaginava.
Por volta das treze horas, Cristina resolveu arriscar-se a preparar, sozinha, o almoço e, para surpresa de Flávia, e espanto próprio, a vitela ao molho de gorgonzola ficou deliciosa, assim como a salada de tomates secos, alface e ricota. Finalmente aprendera a cozinhar. Comemoraram brindando com os copos de suco, já que não era aconselhável Flávia ingerir algo alcoólico.
Flávia caminhou um pouco pela casa, sabendo que a dor era inevitável, mas compreendendo que precisava se exercitar mesmo assim. No final da tarde, decidiram entrar na piscina, mas ao invés de nadarem, ficaram abraçadas, namorando, próximo a uma das bordas. Quando os beijos foram ficando mais ousados, Tina afastou-se e, beijando a ponta do nariz da mulher, ameaçou que se continuasse a provocá-la, a tiraria da piscina, e fariam amor, o que, com certeza, lhe daria mais dor no corpo.
Resignada, Flávia teve de prometer se comportar, então sempre que o desejo aumentava, mergulhava um pouco antes de voltar a abraçar a mulher. Mas já não conseguindo mais controlar a vontade de ter seu corpo invadido pela boca e pelos dedos da namorada, Tina resolveu, abruptamente, sair da piscina. Deixando Flávia sozinha na água, com expressão de que estava pronta para esquecer as dores e pôr fim àquela dor maior, que a deixara sem fôlego.
- Nem pense nisso! – Ordenou Tina, já se enrolando na toalha.
- Mas, amor...
- Flávia, não me provoque...
- Amor, eu já não estou mais com tanta dor, e dizem que exercício é importante para acelerar a recuperação. – Respondeu com ar de quem realmente acreditava na lorota que estava dizendo.
- Você não tem vergonha, não,sua louca? – Ralhou, divertindo-se.
- Vergonha de quê? De desejar a minha própria mulher? De estar completamente molhada e não ser d’água? Ao inferno com a vergonha... ogostoso mesmo é pecar. - Riu gostoso, saindo da piscina e caminhando em direção à mulher. – Ao inferno o resto tudo. – Continuou, aproximando-se com ar de que não pretendia mudar de ideia.
- Flávia Camargo, comporte-se! Ou vai ficar de castigo por mais tempo. – Ameaçou, divertindo-se com a situação, já louca de vontade de sentir o corpo da outra no seu.
- Quero você, e quero agora. Quero fazer amor com você. Senti-la na minha mão e na minha boca. E não quero esperar. – Não permitiu que Tina reclamasse ou dissesse mais nada, agarrou-a com firmeza e devorou-lhe a boca, explorando-lhe com os lábios e a língua, e correndo as mãos por seu corpo ainda molhado da piscina.
- Uau... você deve ter batido com a cabeça no acidente. – Protestou, quando conseguiu finalmente tomar fôlego.
- Por?
- Porque nunca disse essas coisas, assim...pelo menos não antes. – Explicou, já descendo os olhos para a boca da outra, novamente. – Gostei. – Risos.
- Então tira esse biquíni e vamos para o nosso quarto. Quero você na nossa cama, aqui não é lugar. – Dizendo isso saiu em direção a casa, arrastando-a pela mão. Tendo atrás de si uma Tina mais que espantada e excitada.
- Tomara que esse efeito colateral seja permanente. – Brincou, antes de ser jogada na cama e possuída com voracidade. Flávia sempre soubera muito bem como lhe dar prazer, mas agora, parecia ter descoberto novas formas de arrancar-lhe gemid*s. E pela primeira vez descobriu o significado de “orgasm*s múltiplos”. – Amor, sou sua. Não para! Sou sua mulher. Mais, vem. Assim... que gostoso. Uau... que é isso?! Essa Flávia eu ainda não conhecia... Riu gostoso, puxando a mulher de volta sobre seu corpo, querendo que a beijasse.
- Agora vem aqui em cima de mim... e mexe gostoso, vai. – Mesmo sem entender o repentino despudor da mulher, mas adorando, obedeceu. Cavalgando-a, até senti-la arquear o corpo e crispar as mãos em suas nádegas, para senti-la ainda mais, explodindo num orgasm* delicioso.
Já tinham feito amor inúmeras vezes, mas como aquela, nunca. Tina teve a certeza que seu corpo pertencia à outra, e que a ideia de perdê-la era insuportável. Amava-a como jamais imaginara ser possível, e a desejava como se fosse tão somente ela no mundo que pudesse lhe dar esse prazer.
Flávia... Amo você. – Declarou, olhando no fundo dos olhos da mulher. Então sentiu as mãos dela em seu rosto, puxando-a para um abraço. E percebeu que as lágrimas de ambas molharam seus rostos. Nada mais precisava ser dito. Apenas sentido. Quase tê-la perdido, ensinara Tina a preencher também o quarto e a vida delas com palavras de amor. E Flávia aprendera que não havia porque não verbalizar para a mulher todo o desejo que sentia. Ambas demonstravam, mas até aquele momento raramente davam som ao que sentiam.
Dias depois, voltaram ao trabalho. Embora Flávia já tivesse se recuperado bem antes, Tina decidiu que precisavam daquele tempo só as duas, e que tudo o mais tinha menos importância, então se permitiram ficar em casa, conversarem sobre relacionamentos passados, fazer amor, preparar as refeições juntas, namorar na piscina, coisas simples que fazem a vida ser gostosa.
Fim do capítulo
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