Capítulo 13
Tina então reconheceu a letra na folha de papel. Agora entendeu porque a mulher parecia tão magoada, e achando que realmente havia contado a Luana o que acreditara sentir. Logo depois que Luana viajara com Camille para França, numa das noites de lamento, escrevera uma carta à amiga, dizendo o quanto a amava. Jamais a tinha enviado, e até mesmo a esquecera. Por certo, tinha guardado o papel dentro de algum livro, que fora achado por Flávia.
Em pânico, por saber que precisava fazer a mulher acreditar que aquilo não passara de uma grande besteira, sabendo o quão difícil seria recobrar a confiança da outra, Tina precisava ao menos tentar.
Levantou-se e fez a volta na mesa. Fazendo com que Flávia afastasse a cadeira e permitisse que ficassem de frente uma para outra.
- Flávia, sei que você pode estar achando que estou mentindo. Não estou. Caso sentisse algo por você que não fosse amor, não estaria aqui. Caso não tivesse certeza do que sinto em relação a você, jamais teria aceitado morar com você. Me arrependo amargamente de não ter lhe contado essa besteira mas, honestamente, tive vergonha de ter confundido os sentimentos justamente pela minha melhor amiga. E pra ser mais sincera, só fui entender realmente isso quando me apaixonei por você.
- Tina... não é fácil acreditar no que está dizendo, depois de tudo que li. – Confessou, sabendo que a mulher não costumava agir de forma leviana ou ser capaz de mentir descaradamente.
- Amor, eu sei. Juro que tudo que contei é verdade. Tente entender e me perdoe, por favor.Amo você mais que tudo nessa vida. Não saberia viver sem você. E jamais me perdoaria se a perdesse por uma estupidez dessas. Nem sabia que tinha guardado essa carta. Era para tê-la jogado fora. Foi escrita num momento de insensatez, de pura confusão.
- Algumas frases escritas por você passaram a noite ecoando na minha cabeça. Achei que ia enlouquecer... só de pensar você com outra pessoa, fiquei arrasada. Então fiquei achando que se fosse algo banal ou tivesse sido bem resolvido, você teria me contado em algum momento, antes. –Desabou, demonstrando que a noite tinha sido uma tortura.
- Meu amor, sinto tanto. Tivéssemos conversado ontem, teria lhe contado tudo isso antes, e evitado algumas horas de sofrimento. Agora, por favor, diz que acredita em mim. No que sinto por você. E que me ama.
- Acredito, e amo você. Mas nunca mais deixe de me contar algo assim, prefiro que me deixe julgar se é ou não importante. Do contrário, você vai acabar comigo. Achei que ia enfartar essa noite. E estou exausta, morrendo de dor de cabeça e meu estômago está ardendo.
- Amor, avisa a Aline que desmarque seus compromissos pra hoje. Vamos pra casa. Ligo também e aviso ao Dênis que tome conta de tudo. Fico com você em casa. Dou-lhe um remédio para dor de cabeça, preparo algo pra você forrar o estômago, e passamos o dia na nossa cama. Você precisa dormir um pouco. – Pediu, rezando para que Flávia aceitasse.
- Tem razão. Não tenho cabeça pra trabalhar hoje mesmo. O melhor é ir pra casa e tentar dormir, aí as dores de cabeça e no estômago passam. Você pode ir para o escritório, vou ficar bem. – Afirmou, já levantando para ir para casa.
- Hei? Vou pra casa com você. Vou colocá-la para dormir, e ficar abraçada em você até acordar. Quase me matou de susto. Agora que as coisas foram esclarecidas, também preciso desse tempo com você. Se perdesse você, nem sei o que faria. Amo muito você, Flávia.
- Também amo muito você, querida. – Beijou-a, aliviada.
- Vamos, deixe um bilhete ou ligue para Aline. Vou na frente para esperar você com a banheira pronta. Tomamos uma banho de hidro, comemos algo e vamos para nossa cama, dormir.
- Tudo bem... vá. Vou fechar tudo e logo chego em casa.
Beijaram-se mais uma vez, e Tina saiu em direção ao carro e à sua casa. Do caminho, ligou para Dênis, seu braço direito, para avisá-lo de que não iria ao escritório, e pedir-lhe que tomasse conta do que fosse necessário.
Ao chegar em casa, preparou um café, com alguns croissants e queijo. Colocou a banheira para encher, temperando a água e colocando sais de banho. E separou roupas de dormir para si mesma e para Flávia.
Uma hora e meia depois, como a mulher ainda não chegara em casa, ligou para seu celular, que mais uma vez, não foi atendido. Passados vinte minutos, como nem Flávia retornava a ligação , nem chegava em casa, resolveu ligar para a Space.
Foi atendida por Aline, que lhe contou que, ao chegar, tinha encontrado um bilhete de Flávia, dizendo que remarcasse a agenda do dia, pois estava com enxaqueca e devia dormir até mais tarde.
Tina entrou novamente em pânico. Mesmo que tivesse ficado presa em algum engarrafamento, Flávia já era para ter chegado em casa, ou pelo menos ligado. Sem saber o que fazer, ficou tentando falar com ela por celular, mas não obteve resposta.
Angustiada,sem notícias da mulher, pegou o carro e dirigiu como se indo ao encontro dela, pelas ruas que normalmente pegaria para voltar pra casa. Rodou quase vinte quadras, então se viu em um engarrafamento no trânsito, anormal para aquele horário naquela avenida.
Algumas quadras depois, percebeu que a origem do congestionamento fora um acidente. E, desesperada, descobriu que o carro de Flávia estava com a parte dianteira destruída, preso a uma viga de concreto, no canteiro central. Não havia mais nenhum outro veículo por perto, então imaginou que a mulher ou havia sido jogada no canteiro por algum outro carro, que fugira, ou perdido a direção e batido no poste.
Cortou caminho como pôde, para chegar à viatura da polícia que isolava o local próximo ao veículo, e, identificando-se como amiga da proprietária do veículo, pediu informações do estado da motorista, e do local para onde havia sido levada, descobrindo que Flávia fora encaminhada para o Hospital de Base, e que seu estado era desconhecido, havia sido removida do local inconsciente, mas sem fraturas aparentes.
Os menos de três quilômetros do local do acidente ao hospital foram percorridos rapidamente, pela Via S2. E tão logo Tina conseguiu estacionar, correu para o atendimento da emergência. Durante quase meia hora, agonizou, sem conseguir informações mais precisas, apenas teve confirmado que Flávia entrara na unidade, que fora vítima de acidente automobilístico e que chegara inconsciente. Ou seja, nada que já não soubesse.
Quando finalmente conseguiu que alguém lhe desse atenção, descobriu que Flávia já havia acordado, que queixara-se apenas de dor de cabeça,e não sofrera nenhum ferimento grave. Passara por diversos exames para descartar possíveis fraturas e hemorragia interna, e que seu quadro era estável. Mas que fora posta em observação na Unidade de Tratamento Semi-Itensiva, para descartar qualquer risco.
Tina então pediu para vê-la, o que não pareceu fácil, pois não podia comprovar vínculos familiares. Foi obrigada a implorar, informando que, em verdade,eram um casal. Por sorte, a responsável pelo credenciamento na unidade pareceu compreender a situação, e lhe deu autorização de entrada.
Mais cedo, enfrentara o problema da carta, e conseguira superar sem derramar uma lágrima, mas vendo Flávia sobre o leito, imóvel, com os olhos cerrados, com pequenos arranhões e hematomas, fez com que vertessem lágrimas por seu rosto, sem que as conseguisse controlar. Aproximou-se da mulher, cuidadosamente, com receio de acordá-la, mas bastou parar ao seu lado da cama, para que ela abrisse os olhos.
- Oi... – Cumprimentou, com voz arrastada.
- Oi, amor... como você está? – Perguntou preocupada, secando o rosto com o dorso das mãos.
- A dor de cabeça está indo embora, mas estou com sono. Quero ir pra casa. Tire-me daqui. – Pediu, pegando-a pelo braço. – Não chore, estou bem. – Pediu estendendo-lhe a mão.
- Amor... acho que você ainda não pode ir pra casa. E mesmo que pudesse, não poderia levá-la. Quase não consegui entrar.
- Como assim?
- Perguntaram-me se somos parentes. Respondi que não. Então me disseram que só autorizariam a entrada de parentes consanguíneos. Tive que implorar, quase não entrei. Entrei por sorte.
- Mas vivemos juntas, moramos juntas...
- Mesmo assim... Mas não se exalte por isso. Estou aqui com você agora. – Pediu, vendo que Flávia começara a ficar agitada.
- Então me ajude a levantar, quero sair daqui. Principalmente depois de saber que tentaram barrar você.
- Amor, por favor, sossegue. Você está sob observação. O acidente foi feio. O carro ficou destruído. Quando o vi, achei que você tivesse... – Não concluiu a frase, caindo no choro.
- Hei, hei... está tudo bem. Foi só susto. Vou ficar bem. Acho que dormi na direção. Quando acordei estava numa maca dentro da ambulância. Mas já estou bem. Vem cá. – Pediu, fazendo com que colocasse a cabeça entre seus braços, mesmo ainda deitada.
- Amor, quase não cheguei aqui. Tive tanto medo. Se tivesse acontecido algo mais grave com você, jamais me perdoaria. Devia tê-la esperado e feito com que deixasse o carro na Space, e voltado para casa, comigo.
- Tina, foi mais susto... Nada de mal vai acontecer. Não chora, amor... Vamos voltar pra casa e esquecer tudo isso. – Acalentou-a.
A médica plantonista, então, chegou próximo ao leito, cumprimentando-as e analisando a prancheta com o prontuário da paciente.
- Então, Flávia, como está se sentindo? A cabeça ainda dói?
- Não, a dor já passou, doutora.Sinto-me bem, só cansada.
- Sente dor em mais algum lugar, náuseas ou visão turva?
- Não. Só estou cansada porque não dormi a noite passada, tinha um trabalho para concluir e terminei virando a madrugada.
- Ah, sim... Acha que consegue sentar?
- Claro.
- Então vamos fazer isso. – Indicou que a paciente deveria tentar sentar sem o auxilio da visitante.
- Muito bem... Ficou tonta?
- Não.
- Deixe-me examiná-la então.
Alguns minutos depois, já tendo verificado o fundo de olho, medido a pressão e apalpado o tórax e o abdômen, a médica voltou a falar.
- Aparentemente você está muito bem. Seus reflexos estão ótimos, não há sinal de nenhum trauma mais sério, nem hemorragia. Precisa mesmo só descansar. Provavelmente quando acorde tenha dores no corpo, é uma reação normal. Você teve sorte e seu airbag fez o resto.
- Creio que sim. – Confirmou, sabendo que o carro não tinha tido a mesma sorte.
- Vocês são irmãs? – Perguntou, indicando que se referia à Tina.
- Não. Ela é minha namorada. Seria esposa se nos fosse permitido casar – Respondeu Flávia, sem titubear, olhando para Tina, sorrindo.
- Ah...entendo. Então, apesar de não ser de praxe, vou liberá-la antes das primeiras oito horas. Vocês querem ir pra casa?
- Com certeza. Quero tomar um banho e dormir na minha própria cama.
- Muito bem, vou informar sua alta. Mas gostaria que anotassem meu número de celular, e se tiver febre ou sentir qualquer outra coisa, exceto uma dor leve no corpo, não hesitem em me ligar. Tudo bem?
- Claro. Muito obrigada, doutora.
- Não por isso. Agora fique em pé, caminhe um pouco por aqui, enquanto providencio a papelada e alguém para buscá-la. E, da próxima vez, deixe o trabalho para o dia seguinte e tenha uma boa noite de sono, principalmente se for dirigir.
- Pode deixar. Mais uma vez muito obrigada. – Agradeceu sorridente.
- E você, cuide bem dela. – Dirigiu-se à Tina.
- Fique certa que cuidarei. – Afirmou. – Muito obrigada por ter cuidado tão bem dela. – Foi sincera, apesar de ter sentido uma pontinha de ciúmes, pois a médica era uma mulher interessante e bonita. Na dúvida, tratou de anotar em seu celular o número que lhe passou, e caso Flávia precisasse de algo, ela mesma entraria em contato. A namorada não tinha porque também ter o contato, principalmente se a médica esbanjava sensualidade, apesar de ter postura profissional irretocável.
Fim do capítulo
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lucy
Em: 09/11/2015
nooossa que.susto.menina.,..não gostaria que Flavia tivesse um fim assim e
Tina ia carregar uma culpa.horrorosa....
que bom tudo está bem.dentro.do.possível, e a médica kkkkkk.Tina anotou o telefone.e
o radar de.ciúmes também. kkkkkk a Flavia é dela e.ninguém taaasca ....pega. coloca.os
olhos e tem.sorte.de.ficar com eles.kkkkk deu uma dó da Flavia .tadinha e ainda.se.acidentou
eita urucubaca....espero que.ela tenha entendido Tina. mas a.prova de.foto vai ser.mesmo
quando houver o "encontro"...😁
bjs 😘 💋
Nota Mil !!!!!!!/💗💗💗💗💗
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