CapÃtulo 12
- Amor?
- Oi?
- Preciso falar uma coisa com você. Pode vir aqui um pouco? – Chamou Flávia, esticada no sofá da sala, enquanto Tina terminava de organizar um dos armários da cozinha, porque Flávia tinha sido mais rápida e concluíra antes a arrumação do que lhe coubera.
- Oi... o que é? – Cristina apareceu na porta, curiosa para saber o que a namorada queria lhe contar.
- Senta aqui comigo. – Pediu indicando-lhe um lugar no sofá.
- Então...o que é? – Perguntou, assim que fez a vontade da outra.
- Quero perguntar uma coisa... Tinha me programado para fazer uma coisa, mas não vai dar certo.- Falou, reticente.
- Dá pra ir direto ao assunto. Tô começando a achar essa conversa estranha. – Pediu, impaciente. Paciência nunca fora uma de suas virtudes.
- É que fiz uma coisa... queria lhe fazer uma surpresa. Mas não vai ter como. Porque não agüento mais esperar. E quero que você participe.
- Participar do quê, criatura?
- A casa do Lago Norte. Comprei.
- O quê?
- Comprei a casa. Foi por isso que levei você lá antes da reforma. Não queria fechar negócio sem saber se você ia gostar dela ou não.
- Você enlouqueceu, mulher. – Tina estava atônita, sem acreditar.
- Como vi que tinha gostado, no dia seguinte, fechei o contrato e comecei a fazer a reforma. Mas vai demorar muito, e não aguento mais esperar.
- Flávia, você podia ter me contado desde o início. Eu jamais faria qualquer objeção.
- Você não está entendendo... O que não agüento mais esperar é para pedir que moremos juntas. Queria fazer isso quando a casa ficasse pronta, mas não quero mais esperar. Queria lhe pedir para que se mudasse comigo, para nossa casa nova, mas não consigo esperar mais seis ou sete meses.
- Amor... Eu moraria com você em qualquer lugar, sua louca. Aqui, na sua casa, num outro apartamento qualquer... Sei que não sou a pessoa mais doce do mundo, nem a mais carinhosa, mas achei que soubesse que a amo.
- É a primeira vez que você me chama de amor, sabia?
- Mentira. Posso até não passar dizendo isso, mas já te chamei de amor antes.
- Nunca.
- Canso de te chamar de amor quando a gente... você sabe.
- Ah, não vale... na cama não conta.
- Pois pra mim conta e muito. Nunca chamei ninguém de amor antes, nem na cama nem fora dela. Além do mais, achei que não precisava dizer o tempo todo porque lhe provo isso todos os dias, desde que nos conhecemos.
- Tina, você é uma mulher muito, muito... – Não teve tempo de completar a frase.
- Cala a boca e me beija. Sou louca, mas sou só sua. E amo você. Agora vem cá, e depois conversamos sobre essa história de morarmos juntas. - Risos. Mais uma vez não chegaram até o quarto, fizeram amor no sofá da sala mesmo.
Cerca de quinze dias depois, Tina deixou seu apartamento e se mudou para a casa de Flávia, enquanto esperavam a casa nova ficar pronta.
Cristina passou a acompanhar a reforma, e sempre que possível ia com a mulher escolher elementos para mobiliar, depois para decorar. Quando finalmente o sobrado ficou pronto, terminaram de colocar os móveis que faltavam, e se mudaram, enquanto a reforma continuava na área externa.
Aos poucos, iam adquirindo outros objetos de decoração, garimpados em lugares diversos. Tina, com mais freqüência, dizia à mulher que a amava, e esta fazia qualquer coisa para vê-la feliz.
Quando finalmente a reforma ficou pronta, Flávia convidou os avós para visitá-las. Queria mostra-lhes a casa e contar que estavam morando juntas. Anete e Oscar ficaram maravilhados com a casa, embora o estilo moderno não fosse exatamente o que preferiam.
Flávia, ao comunicar aos avós que estavam vivendo juntas, foi a única a ser surpreendida, pois Anete deixou claro que tinham imaginado que já morassem juntas, mesmo antes de a neta ter levado a companheira para visitá-los. Tanto que as tinham esperado com o quarto de casal arrumado.
- Minha filha, depois que se fica velho, tudo passa a ter outro significado. Há coisas que perdem a importância, como aparência, status e muitas palavras. A percepção fica muito mais aguçada, e se passa a dar valor ao que realmente importa, como caráter, educação, honestidade, essas coisas... E com relação a sentimentos, no casamento, importa apenas se existe amor. E entre vocês isso é evidente, então estamos felizes por vocês, e por termos mais uma neta agora. – Dito isso, ambos abraçaram a neta, depois estenderam os braços para incluir Tina.
- Obrigada. Estou profundamente feliz, primeiro por ter encontrado Flávia, depois por ela ter me dado uma família, e por vocês serem tão compreensivos e carinhosos. Farei o que puder para cuidar bem da neta de vocês. – Fui tudo que conseguiu dizer, com a voz embargada.
Às vezes Cristina sentava sob o caramanchão e ficava a apreciar a vista do Lago. Nessas horas, pensava em quanto sua vida tinha mudado, há menos de dois anos tinha se descoberto, mudado de cidade, encontrado o amor da sua vida, alcançado sucesso profissional...Faltava-lhe apenas encontrar com mais frequência as amigas, que lhe faziam muita falta.
Geralmente, ao final da tarde, chegavam em casa praticamente juntas. Aprender a cozinhar era algo que desafiava a administradora, mas, com paciência, Flávia lhe ensinava. Não foram poucas as noites que terminavam pedindo o jantar de algum restaurante, porque ou a comida preparada ficava com muito sal, ou queimava, ou mesmo ficava insossa.
Passados alguns meses, ao chegar em casa, Tina percebeu que Flávia estava estranha. Mal a tinha beijado, quando fora lhe cumprimentar. E, apesar de ter puxado assunto várias vezes, a outra respondia com monossílabos. Ao invés de irem para a cozinha juntas preparar o jantar, como nas últimas semanas, alegara não estar com fome e precisar terminar um projeto para o dia seguinte, mas antes de dirigir-se para o estúdio que montara em casa, havia se servido de uma dose dupla de whisky, coisa rara, visto que quando bebia, preferia vinho.
Naquela noite, Tina adormeceu antes de a mulher se deitar, embora a tivesse esperado. Ao acordar no dia seguinte, Flávia já havia saído, sem ao menos deixar-lhe um bilhete. Então, teve a certeza de que algo estava muito errado. Desde que tinham se conhecido, jamais Flávia tinha tido alguma atitude desatenciosa, ao contrário, deixava-lhe recados no celular, mandava-lhe presentes de quando em vez, fazia questão de beijá-la sempre antes de sair de casa, e ao retornar. E como o outro lado da cama parecia não ter sido ocupado, Tina ficou seriamente preocupada. Teria ela trabalhado a madrugada inteira, e saído cedo sem querer acordá-la? Ou teria dormido em outro lugar e saído propositalmente antes dela acordar?
Como não poderia passar o dia sem saber o que estava acontecendo, mesmo não sendo a melhor forma, apanhou o celular no criado mudo e discou o número da mulher, que não atendeu. Ainda eram sete e meia da manhã. Sabia que a outra não poderia já estar em reunião, ou supervisionando alguma obra. No máximo, estaria dirigindo, mas ouviria o celular tocar, mesmo que estivesse presa no trânsito.
Decidida a resolver logo a situação, sob pena de não conseguir se concentrar em mais nada, resolveu arrumar-se e ir na Space, onde provavelmente Flávia estivesse, ou em breve chegasse.
Do carro ainda tentou mais uma vez falar com ela por telefone, mais uma vez não foi atendida. Guiou o mais rápido que pôde, pela primeira vez com um nó na boca do estômago. Flávia não costumava ter nuances de humor, ao contrário, desde que a conhecera, tinha percebido o quanto era estável, geralmente muito bem humorada.
Como o carro da arquiteta estava no estacionamento da empresa, e descobriu que a porta estava destrancada, entrou sem pensar, decidida a descobrir o que poderia ter dado causa a atitude estranha da mulher.
Ao entrar na sala, viu Flávia debruçada sobre a mesa, com a cabeça baixa, enterrada entre as mãos. Ao ouvir o barulho da porta, rapidamente ergueu os olhos para ver quem havia chegado, surpreendendo-se da mulher estar na sua frente.
Tina pôde observar suas olheiras e o ar desconsolado, apesar da outra ter tentado disfarçar.
- Por que não atendeu o telefone, e saiu de casa sem me avisar?
- Não ouvi o telefone. Devo tê-lo deixado no carro. E como saí cedo, não quis acordá-la. – Tentou justificar-se.
- Flávia, você pode, por favor, me dizer o que está havendo?
- Não está acontecendo nada, só trabalhei a noite toda e precisei vir mais cedo pra cá. –Disse, sem olhar a mulher nos olhos.
- Podemos passar horas nessa sala, se você quiser. Mas só saio daqui sabendo a verdade. E não me diga que está agindo de forma diferente em função de algum trabalho, porque sei que não é verdade. Então não me faça ter que adivinhar.
- Não tem nada acontecendo. – Ainda tentou negar.
- Vou me sentar e esperar. Quando resolver contar o que está acontecendo, poderemos conversar. Caso queira insistir nessa conversa fiada, muito bem. Tenho tempo. – Dizendo isso, sentou na cadeira em frente à mulher, encarando-a.
Sabendo que Tina não sairia dali sem uma explicação, depois de alguns minutos, finalmente Flávia falou:
- Por que você nunca me contou que foi apaixonada por Luana? – Perguntou, quase sem voz.
- Como assim? – Ficou sem saber o que responder.
- Qual parte da pergunta você não entendeu?
Como Flávia não tinha perguntado se fora apaixonada pela amiga, mas afirmado isso, sabia que não poderia se furtar a falar sobre o assunto. Mas estava profundamente curiosa em saber como ela descobrira, entretanto, se perguntasse antes de explicar-se, o problema só ficaria maior.
- Não contei porque não achei importante. Aconteceu bem antes de nos conhecermos, e nem a própria Luana soube. Quando conheci você, descobri que o que havia sentido por ela não representava nada. – Confessou, desejando que Flávia acreditasse.
- Não me pareceu isso, visto que tentou esconder de mim isso. – Disse, magoada.
- Amor, juro que quando conheci você percebi o quanto tinha sido idiota achando que o que senti por Luana fosse amor. Não chegava nem perto do que sinto por você. Na época que pensei que estivesse apaixonada por ela, estava confusa, acho que o fato dela encontrar finalmente alguém com quem quisesse realmente estar, mexeu comigo. Éramos muito instáveis, não nos prendíamos a ninguém. Só entendi isso quando quis ficar com você. – Estendeu as mãos para tocar nas de Flávia, sobre a mesa.
- Olha, Tina, não posso mentir pra você, no momento, o que você está dizendo não me impede de pensar que, na verdade, é a ela que você ama, não a mim. Isso explicaria muitas coisas... – Insinuou.
- Amor, por favor... para com isso. Sou louca por você, jamais viveria com você se não a amasse.
- Você nunca me disse as coisas que disse a ela. – Voltou a colocar as mãos na cabeça, em completo desespero.
- Amor, eu nunca disse nada a ela. De onde você tirou essa ideia?
Flávia então abriu a gaveta da mesa e tirando um papel, jogou-o sobre a mesa, para que Cristina soubesse que ela descobrira tudo.
Fim do capítulo
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lucy
Em: 09/11/2015
ah Tina deve ter escrito algo numa folha ou agenda sei lá.....
mas Flávia tá reagindo assim por medo de perder a mulher
acho isso..... espero que elas.fiquem bem.acostumei com elas.juntas....
eu sei que a.roda da vida.não para de girar.....mas elas.estão vivendo esse
sentimento.lindo e Flávia não pode se deixar.levar assim......afinal.isso.foi
antes de se conhecerem....... a não ser que ela.não esteja.tão certa do.amor.de.Tina
com ela....viiiiixe imagina quando ela.for.conhecer as meninas e.entre.elas.a.Luana
.e.essa estiver com o.caminho livre....pra viver esse amor.com a Tina ? noooossa
que babaaaaaaado !!!! kkkk estou divagando .....mas isso bem.pode acontecer.....
bjs.estória maravilhooooosa ! nota mil
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