CapÃtulo 8
Por volta da uma hora da manhã, perceberam que o restaurante estava por fechar, então riram de si mesmas, que tinham estado alheias a tudo. Pediram a conta e dirigiram-se para a caminhonete de Flávia, que tentava pensar em uma desculpa boa o suficiente para levá-la direto para casa, ao invés de buscarem seu carro, pois se isso acontecesse, não teria como arriscar um contato físico ao deixar Tina em casa, teriam que se despedir no estacionamento do prédio comercial onde a mulher deixara seu carro.
Ao entrarem no carro, nenhum ideia brilhante tinha ocorrido à Flávia, e temendo também que precisassem se despedir no estacionamento onde seu carro ficara, Tina abreviou o sofrimento de ambas, dizendo estar muito tarde para ainda buscar o carro, que faria isso no dia seguinte. Então Flávia, entre sorrisos, dizendo sentir-se culpada, disse que fazia questão de, na manhã seguinte, buscá-la em casa para resgatar o carro.
Então voltaram à casa de Tina praticamente em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos, embora compartilhassem das mesmas dúvidas, desejos e expectativas. Quando finalmente Flávia estacionou em frente ao prédio da outra, Tina rapidamente soltou o cinto de segurança, abriu a porta e saiu. Mas antes de fechar a porta da caminhonete, disseque tinha certeza de ter uma garrafa de vinho para beberem uma última taça. Sem pensar duas vezes, Flávia também desceu do carro para acompanhá-la.
Caminharam lado a lado até o elevador do prédio, onde Tina encostou-se em uma das paredes, sendo devorada com os olhos por Flávia.
Pela segunda vez no apartamento da administradora, Flávia pôde perceber seu bom gosto, no mobiliário, na decoração e no gosto musical, pois escolhera um jazz leve de trilha, enquanto apanhava o vinho e as taças. Sentada no sofá à esperá-la, Flavia apanhou novamente o livro de fotografias, e estava folheando quando a mulher voltou com a bebida, e sentou-se a seu lado.
- Fotos fantásticas... já vi alguns trabalhos dessa fotógrafa. – Comentou.
- Camille. É casada com minha melhor amiga. – Informou Tina, servindo as taças.
- Então sua amiga é a escritora... Luana, não é? – Perguntou interessada, pois já que a mulher tinha amigas do meio, o assunto poderia render algumas descobertas.
- Sim, Luana... somos amigas desde os tempos de colégio. E na verdade, fui mais ou menos eu o cupido delas... em uma das exposições de Camille, insisti para que Luana me acompanhasse, porque andava enfurnada em casa, escrevendo. Elas se conheceram e foi,como dizem, paixão à primeira vista. – Contou, evidentemente suprimindo que se descobrira justamente quando isso aconteceu.
- Hum... li algumas coisas sobre elas. Parecem viver muito bem, e serem boas pessoas.
- É se dão muito bem, e são pessoas fantásticas. Falamos pouco ultimamente, Camille é que liga de quando em vez. Luana está sempre ocupada demais escrevendo, mas foi e será sempre uma pessoa muito importante na minha vida. – Acrescentou, saudosa.
- Entendo., e as outras amigas de quem você já falou... Julia e... não lembro o nome da outra...
- Claire.
- Sim, Claire. Elas também são casadas?
- Não. Nem entre elas, nem com ninguém – Riu da tirada da outra.
- Ah... achei que fossem quando você falou nelas na primeira vez.
- Não. Éramos Lu, Claire, Ju e eu, a troupe inseparável na época de escola. De nós, apenas Luana era entendida. – Enfatizou o tempo verbal, rindo. – Descobri há algum tempo que também gosto. – Riu novamente.
Com a confissão, Flávia ganhou coragem de investir. Sabia que não podia ter estado tão enganada, mas agora ficaria bem mais fácil uma aproximação direta.
- Fico feliz em ouvir isso – Admitiu, com o sorriso encantador.
Ambas sorriram, os olhos fitaram os lábios, e em câmera lenta seus rostos ficaram mais perto. Os perfumes se misturaram, e as taças foram esquecidas sobre a mesa de centro. O beijo veio cálido e estonteante.
A maciez e a delicadeza dos toques deixaram Tina completamente extasiada, tão gostosos e sensuais eram. Encostaram-se de lado no sofá, e ficaram a explorar a boca uma da outra, trocando carícias e olhares de paixão. Os feromônios entraram em delírio, e em pouco tempo estavam ofegantes, desejando mais que apenas beijos e carinhos.
Depois de um breve afastamento, ainda acariciando o rosto da mulher com a ponta dos dedos, com ar de quem realmente deseja, Flávia suspirou fundo e disse:
- Adoraria dar continuidade a isso hoje, mas bebi mais do que devia, e quero estar completamente sóbria quando isso acontecer. Quero lembrar depois de cada mínimo gesto, e não seria justo ser diferente. Então prefiro me despedir agora, e ir pra casa sonhar com você, pelo menos até amanhã. Já esperei duas semanas, posso esperar mais algumas horas.
Sem deixar que Tina protestasse, beijou-a novamente com delicadeza. Depois desceu os lábios sobre a curva de seu pescoço, fazendo com que Tina ficasse arrepiada, e molhada.
Mas Tina entendeu perfeitamente o motivo pelo qual a mulher não queria passar daquele ponto, naquele momento. E de certa forma, sabia que essa era uma mostra de que realmente a outra gostava dela, do contrário não teria se preocupado e aceitaria de bom grado ultrapassarem os limites do sofá.
Antes que perdesse completamente o juízo e não conseguisse mais se controlar, Flávia beijou de leve mais uma vez os lábios de Tina e levantou-se, disposta a ir para casa. Estendendo a mão para que a loira também levantasse e a acompanhasse até a porta do apartamento.
Ao abrir a porta para que a mulher fosse embora, como ainda estavam de mãos entrelaçadas, fez com que Flávia lhe desse mais um beijo antes de partir.
- Quando acordar, e quiser ir buscar o carro, me ligue. Estarei esperando.
- Ok. Ligo sim.
- E se não tiver outro compromisso poderíamos almoçar juntas, ou fazer algo, como ir ao cinema à tarde... sei lá. – Pediu, já arrependida de não ter ido adiante naquela noite.
- Você me busca e pensamos em algo pra fazer juntas. – Respondeu, depois percebendo que parecia ter insinuado que queria ir para cama com a outra.
Beijaram-se mais uma vez, então Flávia finalmente saiu pela porta, em direção ao elevador, voltando para casa como no piloto automático, ouvindo música pouco mais alto que o normal, mas sem ser exagerada, e sem conter em segurar o sorriso de felicidade.
Por volta das dez e meia, o celular de Tina tocou, era Flávia, já preocupada porque a outra ainda não tinha ligado.
- Oi... acordei há pouco, ainda estou tomando café. – Alegou Tina, satisfeita por perceber a insegurança da outra, brincando com a colher na xícara do café.
- Ah, desculpa, achei que tinha decidido ir buscar o carro sozinha.
- Não faria isso sem avisá-la antes. Na verdade, acordei um pouco mais cedo, mas fiquei fazendo preguiça até as nove e meia. – Confessou, rindo.
- Hum... fomos dormir tarde ontem. Devia ter imaginado que acordaria mais tarde. Acordei por volta das oito horas, e fiquei por aqui, tentando achar algo para me ocupar, esperando que ligasse. – Terminou confessando, mesmo que demonstrasse o quanto estava ansiosa para reencontrar a mulher.
- Hum... que amor. Estou me sentindo lisonjeada com tanta atenção. – Respondeu no mesmo tom.
- Chegou a pensar em almoçarmos juntas, ou não poderemos passar um tempo juntas hoje?
- Já que está por aí sem nada mais agradável para fazer, vem pra cá. Buscamos meu carro, depois pensamos onde almoçar, ou conversamos um pouco, saímos para almoçar, e depois resolvemos a questão do carro.
Logo depois de desligarem, Tina se apressou e recolher a louça e correr para esperar a mulher de banho tomado, vestida e com uma maquiagem leve. O sábado prometia ser fantástico.
Pouco antes do meio dia, Flávia chegou, vestindo uma calça de linho bege, e uma camisa branca leve. Calçando um sapatênis cor de tijolo, e usando um perfume que Tina acreditava ser o 212 Men, que ficara delicioso em sua pele.
- Trouxe pra você – Anunciou Flávia, entregando à Tina um vaso chinês com um bonsai. Um pinheiro azul belíssimo. – Para o escritório novo. – Acrescentou.
- Que lindo! Obrigada, adoro bonsais. – Agradeceu beijando a mulher suavemente nos lábios.
- Imaginei. Reparei que tinha uma miniatura de Ficus na sua sala antiga.
- É, comprei logo que me mudei para Brasília. Alguém me disse que se conseguisse cuidar de uma planta, depois poderia ter um peixe, numa fase mais avançada, um cachorro, ou gato... depois quem sabe...alguém. – Riu de si mesma, lembrando quantas plantas já tinha deixado morrer por falta d’água, ou excesso.
- Bom, pelo visto você já pode passar para a fase dois. – Brincou também.
- Então... o problema é que tenho alergia...e animais em apartamento não é uma boa ideia, os coitados ficam confinados a maior parte do tempo. Então estou num impasse, não sei se posso pular a fase dois e ir direto para a três.
- Bom, espero que sim... – Risos – Posso me oferecer para cobaia. – Fez com que largasse o vaso e puxou-a para seus braços.
Beijaram-se como no dia anterior. Saboreando cada descoberta e cada sensação. Esquecendo do tempo e desejando carícias mais ousadas. Tina já passara os braços ao redor do pescoço da mulher que, com um braço, prendia-a pela cintura, com a outra mão explorava-lhe as costas, algumas vezes massageando-lhe o pescoço.
Tina queria sentir aquela explosão de sensações em todo seu corpo, então empurrou a mulher em direção ao sofá onde, mais a vontade, os beijos se tornaram mais urgentes e as mãos puderam desvendar as curvas.
Depois de tomar fôlego, como na noite anterior, Flávia ainda tentou adiar o inevitável.
- Assim não vamos chegar a sair para almoçar. – Ameaçou, brincando, mas deixando claro que a desejava.
Decidida a tomar uma atitude ao invés de seguir esperando que a outra o fizesse, olhando-a nos olhos, Tina disse:
- Acabo de perder completamente a fome.
- Como?!
- Perdi a fome. – Repetiu, erguendo a mão em direção ao rosto de Flávia e aproximando o rosto devagar e, sem desviar o olhar, mergulhou em sua boca, ofegando.
Fim do capítulo
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