Capítulo 7
Tina, já convencida de que Flávia, com certeza, se relacionava com mulheres, tamborilou os dedos no volante do carro, sorrindo enquanto lembrava de pequenos detalhes do encontro. A arquiteta, no caminho de casa, traçava planos mirabolantes para executar o trabalho o mais rápido possível, primeiro para impressionar a mulher, depois para ter o caminho livre para conquistá-la. Não misturaria negócios com romance, já que tivera a certeza de que a atração que sentia era recíproca.
- Heitor, boa noite. Desculpe a hora, mas preciso que amanhã pela manhã você selecione quatro dos nossos melhores operários e assuma um projeto novo.
- Dona Flávia, os rapazes estão todos ocupados. O Fernando, o Zé, o Marquinhos e o Luiz, que são os melhores, estão trabalhando na obra da casa no Lago Sul. – Informou o chefe da equipe de Flávia.
- Pois precisamos deles em outro lugar. Assumi um projeto que precisa ser entregue em, no máximo, duas semanas, e não há como cumprir esse prazo sem os profissionais certos. Vou lhe enviar uma mensagem com o endereço, para que reúna os rapazes e esteja lá amanhã antes das nove horas.O projeto foi pré-aprovado, então estarei com as plantas e todo o levantamento pronto amanhã de manhã.
- A senhora é quem manda, dona Flávia. Só para que me programe, precisaremos mexer em alvenaria, ou é só decoração de interior?
- Interior, mas teremos que ampliar a fiação da rede elétrica, vertical e horizontal. Substituiremos carpete por piso cerâmico. No mais, acabamento e pintura. Antes de amanhecer encaminho o projeto e a lista do material necessário.
- Ok, vou avisar os meninos.
- E, Heitor, mande o João pegar o material na Castelo por volta das nove horas. Às oito estarei lá, para comprar, e para garantir que chegue cedo e vocês tenham o que fazer, é melhor buscarmos. Estarei ocupada o restante da manhã, encomendando mobiliário, qualquer problema me avise. As chaves do imóvel estão na portaria, basta dar o nome da empresa para pegá-las.
- Sim, senhora. Antes de sair de casa, baixo o projeto, e assim que chegarmos no local, entro em contato com a senhora.
- Combinado. Muito obrigada, Heitor. Boa noite, e mais uma vez desculpe por ter ligado a essa hora.
- Sem problemas, dona Flávia. Boa noite.
Assim que chegou em casa, Flávia foi para seu estúdio, ligou o computador e passou a projetar o espaço no AutoCad, anotar as especificações do mobiliário que precisaria, além do material para a reforma do ambiente. Por volta das cinco da manhã, satisfeita com o projeto, e já tendo orçado o material necessário, enviou por e-mail as informações ao chefe de sua equipe. O orçamento prévio referente ao mobiliário, enviaria antes para Cristina para aprovação, como haviam acordado.
Exausta, a mulher tomou uma chuveirada, programou o despertador do celular e jogou-se na cama, adormecendo quase imediatamente, mas não sem antes pensar na loira com quem tinha ido jantar.
Tina havia chegado em casa pouco depois do jantar, tão eufórica que não conseguiu se concentrar em nada. Tentou ler, foi forçada a voltar repetidas vezes na mesma página, sem conseguir prestar a atenção devida para entender o que estava escrito. Tentou assistir a um filme em um dos canais do HBO, perdeu-se na trama ainda no início. Então, terminou tocando algumas músicas no station, ouvindo-as no escuro do quarto.
Acordou molhada, tendo tido um sonho mais que erótico com a ruiva. Tudo que conseguiu pensar é que precisava descobrir se vivenciar aquilo seria tão bom quanto imaginava.
Dois dias depois, recebeu a ligação de Flávia, marcando um novo encontro para apresentar o orçamento referente ao mobiliário, e informar que uma equipe já estava trabalhando no imóvel. Tina bem sabia que não era preciso uma reunião para aquele fim, bastava mandar-lhe por e-mail, mas não questionou nem objetou, ao contrário, tratou de abrir um espaço na agenda para receber a arquiteta em seu escritório, ainda naquela tarde. Casualmente depois das dezessete horas.
Depois da apresentação e aprovação do novo orçamento, desta vez foi Tina quem tomou a iniciativa de prolongar o encontro, convidando a ruiva para um happy hour, que obviamente foi aceito. Mais uma vez ao se despedirem, após longo tempo de conversa, terminaram se afastando com aquele gostinho de quero mais.
Durante as duas semanas em que o projeto do espaço comercial foi executado, as duas mulheres encontraram-se mais vezes, a ponto de, mesmo sem combinar, ambas terem passado a evitar marcar algum outro compromisso para os finais de tarde, deixando-os livre caso encontrassem mais desculpas para saírem juntas.
Tão evidente estava o jogo de sedução e a vontade de estarem juntas que a arquiteta chegou a insistir para que a cliente a acompanhasse para a escolha da tonalidade da cor da tinta de algumas paredes. E terem demorado mais de hora, analisando paletas de cores, simplesmente para ficarem próximas e para fazerem contato físico, trocando de mãos infinitas vezes as cartelas.
Em um dos dias, Cristina marcou um encontro no local da obra, de forma que pudesse verificar o andamento do trabalho, surpreendendo-se com a qualidade do serviço já concluído e com a rapidez da execução. E mais uma vez, depois da visita, foram jantar juntas.
Na data acordada, Flávia fez questão de buscar a cliente em seu próprio carro para lhe entregar a obra. A arquiteta não sabia se estava mais satisfeita com o serviço executado ou com o término do prazo estabelecido por si mesma para marcar um encontro com a mulher, então por interesse exclusivamente pessoal.
Tina, visivelmente impressionada com o resultado final da reforma, tentava não transparecer certa insegurança com relação ao que aconteceria daquele momento em diante. Sem saber se continuariam se vendo com frequência, ou se a mulher, terminado o serviço, desapareceria.
- Chaves entregues. – Informou a arquiteta estendendo a mão com o chaveiro para depositar na palma da mão de Cristina.
O minuto de silêncio mais longo da vida de Cristina, que simplesmente sorriu um pouco sem graça, sem conseguir articular uma palavra.
- Então, podemos comemorar jantando juntas? – Flávia convidou, fitando de frente a mulher, invadindo-a com aqueles olhos de cor azul intenso.
- Ia sugerir o mesmo. – Sorriu Tina, com novo fôlego.
- Pois bem, hoje você escolhe. – Disse, com ar divertido.
- Tudo bem. Penso em algum lugar a caminho do escritório. Preciso buscar o carro, para ir em casa antes de encontrá-la para jantar.
- Como quiser. Se achar melhor, levo-a em casa e buscamos seu carro depois do jantar. A menos que precise mesmo voltar ao escritório antes do término do expediente, afinal hoje é sexta.
Tina sabia que na proposta estava incluso um convite subliminar, e não seria ela a se fazer de rogada, sob pena de arriscar-se a perder a oportunidade de descobrir no que tudo aquilo iria dar.
- Não, tudo bem, não tenho necessidade de ir ao escritório agora. Ia só para buscar mesmo o carro, não quero lhe dar trabalho nem abusar da sua boa vontade, mas se quiser me acompanhar, será ótimo, poupamos tempo. Mais tarde o trânsito estará caótico, como toda sexta-feira.
Cristina indicou o caminho de sua casa, enquanto conversavam animadamente. Ao chegarem ao apartamento, convidou a mulher para entrar, depois de já estarem na sala, caminhou lentamente, esperando que a outra tomasse a iniciativa de uma aproximação física, mas ficou frustrada em ser apenas observada.
Como uma boa anfitriã, ofereceu a arquiteta algo para beber, mas a mulher declinou, por estar dirigindo. Então Tina, fez com que a convidada ficasse à vontade e, desculpando-se, pediu-lhe licença, para tomar um banho e arrumar-se para saírem.
Flávia entreteve-se com um livro sobre fotografias, encontrado sobre a mesa central da sala, mas no fundo continha-se para não invadir a suíte da mulher e finalmente sentir o gosto de seus lábios, e o sabor de sua pele.
Tina vingou-se da falta de iniciativa da mulher, arrumando-se com esmero, escolhendo um vestido leve de alças finas, que deixava a mostra suas belas curvas e pernas, além de deixar seus seios ainda mais convidativos. Depois de penteada e maquiada, num último requinte de crueldade, escolheu a dedo o perfume.
A visão da mulher retornando à sala, pronta para sair, causou em Flávia o efeito esperado por Cristina. E a arquiteta, sem conseguir disfarçar, depois de engolir em seco, precisou verbalizar o quanto a outra estava bonita, arrancando da loira o sorriso de vitória.
Agora, certa do poder que exercia sobre a mulher, Tina recobrou o ar de quem sabia exatamente o que queria e, confiante, caminhou teatralmente em direção à ela, que já se pusera em pé.Tina estendeu-lhe a mão, antes de dizer:
- Agora me leve para onde quiser.
Flávia respirou fundo, quase cedendo a vontade de levá-la direto para a cama. Então sorriu e,um tanto atrapalhada, pediu que fossem a sua casa antes de ao restaurante, pois também gostaria de um banho, e trocar de roupas.
Como Flávia morava no Lago Norte, praticamente atravessaram a cidade, mas foi interessante para Tina conhecer o lugar onde a mulher residia. A casa, uma construção dos anos setenta, havia sido reformada pela arquiteta, num projeto ainda mais arrojado e excepcional do que poderia imaginar.
Menos de meia hora depois, Flávia se apresentava para sair, igualmente perfumada, porém usando sapatos fechados, calça e camisa pretas, contrastando com os cabelos ruivos na altura dos ombros e os olhos azuis. Cristina, ao vê-la, entendeu a ideia de achar uma mulher, que não fosse ela mesma, sexy.
Tina escolheu o Villa Tevere Ristorante, o que agradou Flávia, pois o ambiente era intimista, romântico, e a carta de vinhos muito boa, uma excelente escolha para um primeiro encontro. Pois era assim que via, agora não existia mais nenhum vínculo profissional, então poderiam se aventurar em descobrir se o que sentiam era recíproco e se tinha algum futuro.
Flávia preferiu pegar a caminhonete, pois era mais cômoda e o sistema de som bem melhor, embora o carro que normalmente dirigisse fosse pouco mais novo que a Pajerinho. O trajeto até o restaurante foi feito ao som de Ana Carolina, e a conversa versou sobre decoração, fotografia e a mudança de escritório da administradora.
Já no Tevere, pediram o Antepasto Speciale, e um vinho Valpolicella Clássico, escolhido por Flávia. Os movimentos delicados e sensuais de Tina não passavam despercebidos, e estavam tão entretidas com a companhia uma da outra que não perceberam o restaurante lotar pouco depois que chegaram. A suavidade com que Tina pegava a taça e levava aos lábios, fez com que Flávia desejasse provar o vinho direto de sua boca, o que a outra também percebeu, então fez questão de passar a língua discretamente nos lábios, deixando-os ainda mais convidativos.
Falaram sobre arte, gostos pessoais, viagens, interesses. E cada vez que a loira sorria e jogava o cabelo para trás, Flávia trancava a respiração. Há muito não desejava uma mulher daquela forma. Por sua vez, Tina rezava para que a outra tomasse alguma atitude, porque sua inexperiência pesava. Ainda temendo ser mal interpretada, caso a outra não fosse homossexual, o melhor era esperar que fizesse ou dissesse algo mais conclusivo.
Para jantar, pediram um Filé Mignon gratinado, ao molho de cogumelos frescos, flambados em whisky, gorgonzola e mel. Acompanhado de arroz com amêndoas, pistaches e raspas de limão siciliano, o Filetto Campagna. E uma segunda garrafa do Valpolicella.
E Tina fez questão de pedir Tiramisú, para ambas, de sobremesa. Ultimamente, tinha adquirido o hábito de comer doces. Tinha a sensação de que a acalmavam. E precisava desesperadamente se acalmar para não pedir que a outra a beijasse e a fizesse sentir prazer.
Fim do capítulo
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lucy
Em: 09/11/2015
gostei de Tina conhecer e talvez até namorar Flávia que é uma gracinha rs
mas estou na dúvida..... entre torcer por esse novo casal, ou manter
a torcida por Gina e Luana...faz tempo que.não se vêem e muita coisa .pode ter mudado...
embora...não é nada mal a loira conhecer ter uma experiência com a ruiva gata rs as duas
parexe. que estão bem interessada uma na outra....
bjs. nota mil !!!
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