--Preguiçosa...ei...

 

--Hmmm...tão bom aqui.

 

Skya encaixou-se mais em Catherine, gem*ndo baixinho.

 

--É difícil, assim fica muito difícil...

 

--O quê?

--Sairmos daqui...

--Já está na hora?

--Passou da hora.

Skya arregalou os olhos e Catherine riu alto.

--Perdemos a viagem?

--Não...mas porque eu pensei direito e decidi que seria mais razoável apanharmos o barco das 3 da tarde.

--Graças aos céus...eu não quero perder essa viagem por nada.
--Ah não, e dormes a sono solto assim?

--Pudera...minha noite foi intensa, estou esgotada...

Risos.

Catherine mordeu o queixo de Skya levemente e lembranças maravilhosas invadiram-lhe a mente deixando o corpo ardendo.

--Eu quero ser beijada...mil vezes beijada.

Ela olhou tão intensamente para Catherine que ela sentiu uma espécie de redemoinho na boca do estomago.

Beijaram-se devagar, sentindo cada movimento, o pulsar dos corpos despertos para o amor e amaram-se, sem pressa...ainda tinham tempo até a viagem.

********************

--Como puderam confundir essa chegada? Agora Balta está no planalto leste e não tem como chegar a tempo, Carlos está em Chã de Pedra e não tem como ir a Porto Novo e eu preciso ir urgente a Ribeirão.

Alanis estava visivelmente irritada.

--Calma Nina, e o Zé?

--Ele vai comigo para Ribeirão Nené, preciso do Zé comigo. Nós já não temos margem para erros assim, a quinta cresceu, é uma empresa, mantemos a nossa essência mas a gestão é de empresa.

--Oh Nina, não gosto de ver-te assim...

--Ah Nené, às vezes...

Alanis andou de um lado para o outro parecendo querer encontrar uma solução.

--Como posso ter cabeça para treinar com tantos problemas?

--Tem torneio por esses dias?

--Sim, mas eu não dou conta de mais nada...

--Ah Nina, para com isso, és a melhor, simplesmente a melhor.

--Oh minha adorada mãezinha, eu já sou uma veterana, há tanta gente melhor...

--E por que razão és sempre titular?

--Teimosia do treinador, ou minha, sei lá...preciso de uma solução, o barco chega daqui a uma hora e meia.

--Nina, já sei.

--Diga Nenê!

--Se fosse a senhora não levava muita fé. - Resmungou Zé.

--Cala e pense comigo José. Nina, a Cassandra não está em Porto Novo?

--Sim...

--Quem sabe ela não pode buscar as hospedes...já perguntaste?

Alanis suspirou e pareceu pensar. Zé e Nenê entreolharam-se. A preocupação nos olhos da senhora era nítida.

--A Cassandra tem lá as suas ocupações...não gosto de ser motivo de distração de ninguém...

--Mas ela vem para casa hoje, de repente os horários coincidem...tenta.

--Ok. Não tendo outra opção...Zé, já volto. Vou lá em casa buscar o telefone...

--Sempre esquecendo esse telefone não é minha filha?

--Pois...

Alanis deixou o casarão com o semblante preocupado.

--Vês velho, eu sei o que digo...

--O quê Irene?

--Não consegues perceber que a harmonia há muito deixou de existir nessa casa?

Zé parou o que estava a fazer e olhou para a senhora com o semblante que denotava alguma preocupação.

--A Nina e a Cassandra não lembram nem de longe aquele casal lindo de outros tempos, agora parece que cada uma vive uma vida paralela, eu só vejo felicidade quando a Cassandra está com a Luna e o Arthur, aliás ainda bem que temos essas crianças por aqui...A Nina só pensa em trabalhar, jogar, cuidar dos filhos e trabalhar mais um pouco...

--Os casais têm problemas Nenê...

--Sejamos francos José...problema é o que mais existe por aqui e não é de hoje, aliás, é bem pior, parece que ninguém está preocupado em ver e muito menos resolver o problema...

--Irene, tu és exagerada, chata e intrometida, mas agora tenho que te dar razão...

--Aleluia!

--Sem escândalos. Elas não estão bem e acho que se esforçam muito para não percebermos e mais ainda para que nossos meninos não percebam...mas as coisas não andam nada bem.

--Oh Zé, e nós fazemos o quê?

--Nada, ora essa. O problema não é nosso...

--A Nina é minha filha e quase tua, a Cassandra por muito tempo foi a alegria da nossa menina, nós não vamos fazer nada?

--Não cabe a mim...

--Ah mas a mim cabe sim senhor...não sei o que fazer, até porque a Nina não fala nada e eu conheço a minha filha...

--Ainda bem que sabes mulher...

--A Cassandra nem vale a pena, ela é muito discreta, mas aqueles olhos lindos dela não brilham mais para a minha Nina...

A tristeza na voz da senhora fez com que o velho amigo a abraçasse.

--Confia na vida...no amor que elas sentem...confia nos desígnios de Deus. Ali tem muito amor para acabar assim Nenê...

--Mas e a frieza Zé? E a falta de cumplicidade? Já reparaste há quanto tempo não vamos a Ribeirão?

--Ribeirão não é nada Nenê, elas não vão à casa da Ponta do Sol há mais de seis meses...

--Oh Zé...

--Confia...há muito amor envolvido.

--Até parece que entendes alguma coisa de amor...

--Bem mais do que tu, com certeza.

--Ah, vá plantar batata velho gagá.

--Certas coisas nunca mudam. - Disse Nina entrando no casarão e rindo alto.

--Esse velho que não aprende qual é o seu lugar.

Risos.

--Vamos Zé?

--Resolveste o problemas das hóspedes?

--Sim...a Cassandra pode busca-las. Não interfere nas coisas dela...

Nenê e Zé trocaram um olhar.

--Nina, voltam para o jantar?

--Olha, vamos trabalhar muito por lá, depois o Zé volta para cá e eu vou direto para o treino.

--Mas voltas para o jantar?

--Sim. Luna e Arthur vão dormir com os filhos de Stephen e Lina. De tanto pedirem resolvi ceder, sabes que não gosto que eles durmam fora...a Luna até é comportada mas esse menino está cada dia mais terrível.

Rios.

--Eles são tão diferentes...tão maravilhosamente únicos.

--E tu babas velho e estragas essas crianças.

--Não seja injusta Nenê, o Zé é o melhor avô do mundo.

--Diga em voz alta dona Nina.

--Quem é dona Nina?

Gargalhadas.

--Eu não me acostumo...

--Anos tentando...um dia consigo. Amo os meus filhos mesmo que muitas vezes tenha vontade de mandar o Arthur de férias para o Alasca.

--Mas ele é tão lindo e esperto...amo meu menino.

--Eu também Nené, mas ele vale por cem, mas é tão sedutor que ganha sempre dessa mãe boba.

--Nesse caso, ainda bem que temos a Cassandra para equilibrar as coisas...

--Sim, e ainda tem isso, eu preciso falar 10 vezes para me ouvirem, à Cassandra obedecem com um olhar...é muito injusto.

Risos.

--Vamos Zé, vamos que há muito trabalho para fazer.

Nina beijou a mãe que a abraçou forte.

--Vão com Deus. José, cuide bem da minha menina.

Eles saíram rindo e Nenê ficou olhando até desaparecem estrada acima.

--Não sei como, mas ainda vou ter minha família feliz de volta. - Garantiu Irene a si mesma.

 

********************

--Conseguimos chegar a tempo.

Risos.

--Eu não disse que estava em tuas mãos, eu sei o que faço...

Risos.

--Olha que ficar nas minhas mãos pode ser um risco...

--Adoro correr riscos...

Risos cúmplices.

--A ilha é tão perto...uma avioneta seria tão mais simples...

--Mais rápido sim, mas mais simples não sei...tudo bem?

Skya fez uma cara de quase pânico que não passou despercebida a Catherine.

--Juras que não ris de mim?

--Depende.

Risos e Skya bateu nos braços de Catherine que segurava com alguma força.

--Eu fico enjoadíssima em barcos em andamento.

--Skya?

--Umhum...Só de olhar para esse barco eu já estou com a cabeça tonta e o estomago...

--Eu não acredito nisso...porque não disseste antes que enjoavas?

--Para quê? Para desistires?

--Sim, alguém precisa ter juízo.

--Eu só fico enjoada, não morro e prometo ficar bem longe de ti para não vomitar na tua roupa linda.

Risos.

Catherine apertou a nuca de Skya fingindo raiva.

--Skya...

--Não perderia essa viagem à ilha das montanhas nem amarrada. Sei que vamos viver uma aventura maravilhosa, inesquecível...tu só tens que cuidar um pouco de mim...

--Oh menina terrível...mas ficas mal?

--Não...bom, não ando de barco há algum tempo...

--Mas tem uns comprimidos...

--Sim, mas eu esqueci...minha passagem por Mindelo foi muito rápida e não sou metódica como tu e não trouxe na mala desde Boston...

Risos altos e felizes.

Mal entraram no barco, Catherine guiou Skya para a proa onde o vento poderia amenizar um pouco a sensação e enjoo. Poucos passageiros tiveram a mesma ideia o que possibilitou a Skya deitar-se em duas cadeiras com a cabeça apoiada nas pernas de Catherine.

Assim que o barco começou a manobra para deixar o porto, Skya abraçou a cintura de Catherine que percebeu que ela estava gelada.

--Passa depressa...uma hora ou menos do que isso.

--Umhum...e o mar está calmo?

--Acho que sim, mas aqui é sempre mais calmo do que mar adentro...

--Obrigada por me acalmar. - Skya apertou ainda mais a cintura de Catherine.

--Só disse a verdade, mas passa depressa e qualquer coisa podes apertar muito a minha cintura e até morder minha barriga.

Skya riu e beijou a barriga de Catherine que sentiu-se muito feliz.

Catherine sabia que música acalmava Skya e ela também queria uma trilha sonora para aquela viagem que segundo sua namorada as levaria ao paraíso. Selecionou algumas músicas, partilhou o fone de ouvido com Skya e deixou-se levar pelas ondas e brisa fresca.

Ouvia Midnight River (Vaults) e viajava em várias cenas da própria vida nos últimos tempos. Sorrisos muitos sorrisos...simplesmente deixava-se ir, ainda que muitas vezes tivesse a sensação de estar a perder o controle, mas era tão bom sentir-se um pouco à deriva, sem amarras, sem certezas...um barco indo...rumo ao paraíso como garantia Skya. Olhou para a mulher que estava quase encolhida nas suas pernas. A vontade de protege-la era tão grande que às vezes assustava...o sentimento às vezes ainda assustava, pela intensidade e ao mesmo tempo pela simplicidade. Sentir, era intenso, e estar muito simples. Perdeu-se em pensamentos com as mãos acariciando os cabelos de Skya...

--Cathe, falta muito?

--Não...já vejo tudo tão claro. Estas bem?

--Não, quero chegar logo, não aguento esse balanço.

--Falta muito pouco.

Catherine envolveu seus braços com mais carinho ainda à volta do corpo de Skya e permaneceu no seu devaneio. A sensação era inédita e muito boa...não lhe faltavam sorrisos, o vento parecia acariciar-lhe a alma, afagar-lhe os sentidos e o cheiro da maresia remetia a felicidade, sim, era isso, estava feliz, extremamente feliz.

Algum tempo depois...

--Esse cais não tem nada de chegada ao paraíso.

Risos.

--Calma Skya, é apenas um cais.

Cathe sorriu e abraçou Skya que tinha a cabeça apoiada no seu ombro.

--Meu violino?

--Calma moça, está ali com as nossas malas.

--Não é um Stradivarius mas é quase isso, e eu sem ele sou uma Skya sem pernas e braços.

Risos.

--Cathe, como vamos fazer para chegar nesse lugar no meio das montanhas? Não sou chata, pergunto apenas porque foste tu a tratar da nossa vinda para cá.

Risos.

--Hoje de manhã, enquanto dormias, alguém ligou dizendo que viriam nos buscar. Mas se ninguém aparecer nós chegaremos lá...eu acho.

Risos.

--E eu enjoada desse jeito não ajudo muito.

Minutos depois:

--Skya, olha uma mulher com uma placa com os nossos nomes.

--Wow, parece que chegamos mesmo ao paraíso...ela não é linda?

--Lindíssima...é, as coisas começaram a melhorar.

--Mas ela não é branca demais?

--E o que isso tem a ver?

--Pensei que seriamos recebidas por gente de pele morena...estou tonta Cathe, parece que ainda não saímos do barco.

--A moça vem aí, daqui a pouco devemos chegar ao hotel e lá descansas.

--Olá boa tarde. Catherine e Skya?

As duas estrangeiras bateram com a cabeça afirmativamente.

--Cassandra Santisteban, em representação da Quinta da Boa Vista. Sejam bem-vindas a Santo Antão. Peço desculpas pelo relativo atraso mas houve problemas à entrada do porto.

Catherine olhava para a mulher sorridente à sua frente e tinha a sensação que tudo correria muito bem por ali.

--Peço desculpas pelo meu inglês que não está lá muito afinado...

--Falas muito bem...- Disse Skya anda debilitada. - Mas és de onde?

--Espanha.

--Hmmm e moras aqui há muito tempo?

Skya mesmo debilitada adorava conhecer tudo a fundo. Catherine tentou repreende-la com o olhar, mas em vão.

--Há quase seis anos...

--Wow, e isso aqui é mesmo o paraíso que se vê na internet?

Cassandra sorriu e sua expressão não deixou margem para muita dúvida.

--Melhor lugar do mundo. Já poderão ter uma ideia dos encantos ao longo da nossa viagem até Garça, mas os encantos são infinitos, é uma descoberta a cada momento...seis anos depois eu ainda me surpreendo com as belezas desse lugar...

--Boa promotora. Eu adoro fotos, trilhas, descobertas, contato com a natureza, com o povo local...adoro montanhas, gastronomia, adoro lugares ainda meio rústicos...

--Estás no lugar certo. Tenho a certeza que vais adorar Santo Antão.

--Só preciso ficar boa desse enjoo...

--Ah, mas não te preocupes...temos a solução lá em Garça.

--Sim? Quero que ela fique boa logo...ai vais conhecer essa fúria de vida que é a Skya.

Catherine perdeu-se numa intensa troca de olhares com Skya e Cassandra sorriu enquanto observava as duas mulheres.

No carro:

--Vou atrás para dormir um pouco, tudo bem?

--Claro. O banco é reclinável e terás algum conforto. Se quiseres parar para aliviar o estomago...

Skya sorriu ainda que de forma débil.

--Não vou sujar teu carro, não te preocupes.

--Não tem problema algum, tens um saco apropriado aí atrás e se precisar parar não há problema.

Skya acomodou-se no banco de trás, Catherine e Cassandra ocuparam os bancos da frente.

A viagem teve início e as duas mulheres que estavam lado a lado começaram a conversar amenidades. Catherine sempre virava-se na cadeira para ver se Skya estava bem, acariciava-lhe as pernas e Cassandra sorria, na sua mente lembranças longínquas que já não apareciam há muito tempo.

Passavam por corda quando Cathe deslumbrou-se por completo.

--Nossa, que lugar majestoso. Como eu queria que a Skya visse...wow.

--Eu não disse? É de tirar o fôlego...

--Sim...maravilhoso. Podes parar um pouco?

--Claro.

Cassandra encostou o carro e Catherine desceu para ver a magnitude daquelas montanhas, o verde luminoso, a luz única...mas o silêncio era simplesmente encantador, penetrava na alma...ela teve vontade de agradecer por aquele momento, pela natureza...fê-lo à sua maneira, em silêncio contemplativo.

Cassandra viajou no tempo...foi para anos atrás quando pisou pela primeira vez aquele pedaço de chão que em pouco tempo tornara-se a sua terra. Muitas sensações invadiram-lhe a alma.

Na estrada e no meio a muitos encantos...

--Não me espanta nada que tenhas trocado a Espanha por esse lugar...eu não sou tão desprendida assim, mas a primeira impressão dessa terra é de enlouquecer qualquer um, dá vontade de voar, se perder no meio dessa beleza, embrenhar-se nessas montanhas...estou encantada...encantada.

Cassandra olhou para Catherine demoradamente e sorriu...sentiu-se feliz, uma felicidade diferente, algo que não sentia há muito tempo.

--A Skya vai adorar...meu Deus ela vai amar esse lugar.

--Cuidado para ela não querer ficar aqui...

Catherine sorriu e olhou para trás e sorriu feliz acariciando as pernas de Skya.

--Tu foste seduzida pelo lugar...só por ele?

Cassandra sorriu mais uma vez e olhou demoradamente para Catherine que percebeu que havia uma história longa por trás daquele sorriso.

--É uma história longa...quem sabe não te conte com o passar dos dias...quem sabe?

Catherine sentiu uma leveza naquela mulher que a agradou, aliás desde que pisara naquele cais as sensações tinham sido todas muito boas. Ela era bonita, sim, muito bonita, mas além da inegável beleza física, tinha um brilho diferente, uma doçura no olhar que cativava...gostaria de saber mais da história dela mas não tinha a desenvoltura de Skya e muito menos o afã da sua menina pelo novo, ela adorava conhecer as histórias das pessoas, tinha uma curiosidade engraçada, não era invasiva mas deixava os outros sempre muito à vontade para falarem de si...mais uma característica que adorava naquela mulher que ocupava todos os cantos da sua mente...coração. Olhou mais uma vez para trás e sorriu ao vê-la dormir encolhida...linda, uma beleza que lhe invadia, preenchia...linda.

Cassandra percebia aquele clima de romance e uma onda de nostalgia a invadia...há quanto tempo não se sentia assim?

O resto do trajeto foi feito com música. Cada mulher com seus pensamentos divergentes. Uma pensava nas muitas coisas que queria fazer naquele lugar único, a outra pensava o quanto já tinha sido feliz por ali e em que momento perdera aquele fio...

 

********************

 

--Sejam bem-vindas à Quinta da Bela Vista.

Cassandra desceu do carro e imediatamente apareceu alguém para ajudar com as malas.

Catherine assegurou-se que Skya conseguia ficar de pé e imediatamente exclamaram em conjunto.

--Wow!

Cassandra riu alto.

--Ainda não viram nada...

--Skya, não tens noção...é lindo, é...nem sei o que dizer. Vais adorar explorar tudo...

--Mal posso esperar.

--Mas antes de começarem a aventura, vou apresentar-vos a algumas figuras que fazem toda a diferença nessa Quinta.

Caminharam em direção ao casarão e o cheiro bom de comida ao fogo aguçou o apetite de Catherine.

--Que cheiro bom...

--São os assados da Nenê...uma das figuras...olha ela ali.

Nenê e Zé estavam à entrada com seus melhores sorrisos.

--Olá!

--Olá. Essas são nossas mais novas hóspedes, Skya e Catherine, vieram dos Estados Unidos.

--Mas eu não sei falar americano...

--Não é americano sua tonta, é inglês.

Zé e Irene, claro.

Risos.

--Não se preocupe dona...

--Ah, desculpem-me o lapso, essa é a Irene ou Nenê e esse é o Zé.

--Não se preocupe dona Nenê, eu entendo muito bem o Português e sei falar mais ou menos...sei que aqui falam português.

--Graças a Deus, eu adoro conversar e se não puder fazê-lo...

--É uma matraca isso sim.

Gargalhadas e Catherine sem entender quase nada.

--E a senhora, não fala Português?

Catherine olhou para Skya quase que pedindo socorro.

--Não, mas ela entende espanhol...

--Sim, entendo e falo espanhol mas português não, mas não se preocupem, a Skya traduz para mim.

--Sim, tudo e como muito gosto.

--Ah, mas vai poder conversar muito com a minha Nina, ela fala Inglês como ninguém.

--É verdade, a dona Alanis sabe muito bem inglês.

--E onde está a dona Alanis? - Perguntou Catherine no seu melhor espanhol.

--A trabalhar, minha Nina trabalha muito, mas ela volta para o jantar...

--Nina?

--Ah, a Nina e a Alanis são a mesma pessoa...

Risos.

--E o milagre? - Perguntou Skya a Cassandra.

--Ah sim, já vais ver...Nenê, ela está um pouco enjoada por causa da viagem...

--Ah, já resolvemos o problema.

Ela começou a mexer nuns potes e Zé colocou água ao fogo.

--Eles brigam muito mas é a melhor dupla que eu conheço. - Segredou Cassandra às hóspedes.

--São casados?

--Nada...é uma longa história.

--Adoro histórias e já sei que vou adorar esse lugar.

--O seu chá dona...ai o seu nome é muito complicado.

Gargalhadas.

--É Skya!

--Eu não sei onde viste complicação num nome tão bonito...é como o céu.

--Pronto, lá vem o sabichão.

Risos.

--E meus tesouros? Saudades deles...

--Ah, hoje vão dormir na Lina...a Luna insistiu tanto que acabou conseguindo. Eu confesso que fico quase sem chão...essa casa sem crianças é muito sem graça.

--Tem crianças aqui?

--Sim, a Luna e o Arthur, além do Filipe, filho da Lena. Antes aqui era quase um infantário, mas as meninas de Carlos infelizmente foram morar nos Estados Unidos com a mãe...

--Adoro crianças...quero conhecê-las.

--Amanhã com certeza e já sei que a Luna vai adorar-te.

--Porquê?

--Ela adora cabelos e o teu é lindo, ela vai pedir para cuidar dos teus cabelos, vai fazer tranças...minha menina é tão especial...

--Essa velha estraga essas crianças.

--E tu não? Velho insuportável...o Arthur é traquinas por culpa tua que não impões limites...

Gargalhadas e Skya traduzindo quase tudo em simultâneo a Catherine.

--Já te sentes melhor?

--Sim...mas adoraria poder descansar um pouco...

--Meu Deus, nós nunca mudámos? Desculpem, mas é sempre assim quando gostamos dos nossos hóspedes, sempre gostamos de todos, mas há sempre aqueles mais especiais...e gostamos das senhoras.

Risos felizes.

Zé imediatamente seguiu para o bungalow das hóspedes com as malas e o violino.

 

********************

--Já estás melhor?

--Perfeita, nem lembro mais daquelas ondas balançando o barco.

Risos.

--O chá milagroso da dona Nenê.

--Sim. Gostei daqui, e tu meu bem?

--Eu? Estou encantada...e tu nem viste a beleza do caminho até chegarmos aqui Skya...nossa, fiquei extasiada. E a Cassandra fala com tanta paixão...

--É mesmo...fiquei curiosa para saber como ela veio parar aqui...

--Não sei, mas parece ser uma longa história...não entendi se ela é dona da Quinta.

--Eu também fiquei com essa dúvida...talvez não seja a dona mas ela é alguém importante aqui. No carro vi algumas coisas que me levaram a pensar que ela trabalha em outra coisa, tinha alguns documentos no banco de trás.

--Será que a Nenê e o Zé são os donos?

--Não sei...mas temos tempo para descobrir, aliás, tu descobres e me contas.

Risos.

--Eu queria mesmo era aprender a língua nativa, mas parece tão difícil...eu só me lembro de dod na bo...

--Que significa?

--Adoro-te...

--Dod na bo...

--A sério?

--Pateta!

--Esse quarto é tão acolhedor...

--E a cama, enorme, maravilhosa e cheirosa...cheira a flores do campo. Viste que tem uma rede la fora?

--Sim...

Risos.

--Não me faltam ideias...

--Acho que precisamos de um banho...

--Ah o banheiro é todo de pedra rustica, que coisa mais criativa...e o box enorme e as flores amarelas contrastam com tudo...ah estou apaixonada.

Risos.

--E eu encantada com o teu encantamento...ver as coisas pelos teus olhos é um prazer...é lindo.

Skya olhou para Catherine embevecida. Tocou-lhe a face com carinho, os olhos brilhavam intensamente.

--O que foi?

--Eu já te disse que és única? A mulher mais intensa que eu conheci na vida...Encanta-me a tua evolução, a forma como...ai sei lá Catherine, eu sou boba, ou fico boba diante de tudo isso...

Catherine arrebatou-a num beijo que corroborou tudo o que acabara de ser dito.

Algum tempo depois, ainda envolvidas naquele clima de romance.

--Preciso de um banho da cabeça aos pés...

--Precisamos.

--Juntas? Hmmmm...

--Banho...apenas.

--Juntas?

--Sim...

--Ah eu adoro esse lugar...

Gargalhadas com beijos.

********************

 

O jantar transcorria num clima familiar apesar de se tratar de um hotel, com características próprias mas ainda assim um hotel. A forma como as mesas eram colocadas transformava tudo num grande banquete familiar. Os hóspedes interagiam entre si, com os locais, eram uma autêntica festa.

Catherine e Skya demoraram a chegar e tiveram que ser acomodadas na mesa da família. Ali tudo era muito simples e sem regras muito rígidas, mas funcionava na mais perfeita ordem.

--Descansadas? - Perguntou Cassandra com aquele sorriso aberto que encantara as forasteiras desde o primeiro momento.

--Sim...muito. - Skya olhou para Catherine com tanta paixão e ela disfarçou fazendo outra pergunta.

--E esse cheiro de comida boa, eu estou com muita fome. - Ela tentou dizer em espanhol e Zé que entendia alguma coisa do idioma, traduziu rapidamente para Nenê.

--Diz a ela que a minha comida é a melhor da região, diga Zé.

--Calma mulher, a Cassandra já disse.

Comeram com gosto o assado da Nenê. Catherine e Skya nem conversaram muito, comeram com vontade e ainda repetiram.

Carlos também foi apresentado às hóspedes e com ele o diálogo fluiu normalmente, já que ele falava inglês, espanhol e ainda arranhava no russo.

--Oi família, ainda tem comida para mim?

Alanis entrou na cozinha com seu magnetismo e todos os olhos cravaram nela.

--Oh Nina minha filha, eu já estava preocupada.

--Não sei porquê, eu avisei que tinha treino.

Nina beijou a mãe demoradamente e abraçou o Zé. Deu um beijo leve na face de Cassandra e olhou para as restantes ocupantes da mesa.

--Skya, Catarina, essa é a minha Nina, a dona da Quinta.

--É Catherine mulher...

--Não tem problema, pode ser Catarina...

Risos.

--Olá, sejam muito bem-vindas. Peço desculpas por não ter ido ao cais mas gerir esse negócio às vezes não é muito fácil e imprevistos acontecem...

--Olá...Alanis?

--Sim, ou Nina, dá igual.

Risos.

--Eu adoro Alanis...então Alanis, nós fomos muito bem recebidas pela Cassandra chegamos aqui e encontramos essas duas figuras maravilhosas...estamos encantadas, não é Cathe?

--Completamente. Teu lugar é especial...

--Nós é que agradecemos pela preferência...e tenho que dizer, acabaram de chegar, ainda vão perder-se de amores pela minha ilha.

As hóspedes sorriram acreditando piamente no que a dona do lugar acabara de dizer.

--Nina minha filha, a Catarina não entende a nossa língua, quer dizer o Português porque o crioulo nem a Skya entende, mas com ela é fácil, ela entende português, já até tentou dizer uma coisa ou outra em crioulo, o Zé e o Carlos já estão a ensinar, mas a Catarina só fala inglês, então já sabes, tens de dar mais atenção a ela.

--Sem problema algum, até é bom porque pratico mais o meu inglês. Já vi que vocês adotaram essas duas não é?

Risinhos.

--Ah filha, elas são tão simpáticas...simples, sabes como somos aqui não é? Elas me lembram tempos bons...lembram-me quando há anos atrás a Cassandra e a Marília chegaram aqui e em pouco tempo já eram da nossa família, aliás a cassandra hoje é da nossa família e a Marília quase isso embora viva longe...a sensação é quase idêntica, e se não erramos daquela vez porque erraríamos agora?

Nina olhou para Cassandra que se divertia com Zé e Skya. Ela sorria, ria e parecia feliz...há quanto tempo não via Cassandra assim? Sentiu saudades de outros tempos...suspirou com algum desânimo, as coisas já não eram o que tinham sido.

Ela era observada o tempo todo por Catherine que por não entender quase nada, apenas observava e se sentia feliz por ver Skya tão bem.

Nina e Catherine conversaram um bocado, amenidades, coisas da terra, sobre a Quinta e as opções de lazer. As duas pareciam ter gostado uma da outra, a conversa fluía...

Quando deram conta, quase tudo já estava arrumado e Nina brigou com a mãe.

--Mãe, tu ainda abusas da Skya?

Skya riu muito fazendo uma careta.

--Mas filha, ela ofereceu-se para ajudar...

--Sabes Catherine, essa Nenê é abusada e aproveitadora da boa vontade alheia.

--Eu adorei Alanis...já tenho mil coisas para contar quando voltar para a minha rotina. Tua mãe é um doce...

--Ah eu não entendi nada mas ainda temos a sobremesa. Zé como não me lembraste do doce que eu fiz com tanto amor?

--Velha...enfim, não vou pronunciar uma única palavra diante desse desaforo.

Cassandra riu muito e beijou Nenê na bochecha.

--Vamos todos degustar as tuas iguarias e com muito prazer.

--Aqui é assim Catherine...ainda faltam alguns elementos para compor essa nave de loucos. Amanhã a turma estará completa. Já se inscreveram nos passeios?

--Não...ainda não tivemos tempo, mas a Skya não vai perder nada.

--Tu não gostas?

--Tenho algum respeito pela altura...de carro ainda é tranquilo mas subir essas montanhas a pé como a Skya pretende fazer...não.

Alanis sorriu e lembrou de algumas coisas do seu passado que agora parecia tão distante...mais uma vez olhou para Cassandra que parecia feliz conversando com aquela menina linda. Teve uma sensação estranha que não soube definir...pensaria mais tarde, se tivesse tempo.

--Skya, amanhã logo cedo tem trekking, queres ir?

--Se que eu quero ir? Serei a primeira da fila.

Gargalhadas.

--Estou doida para me embrenhar nesse mato, subir essas montanhas, o cheiro do verde daqui...ah, mal posso esperar.

--O encantamento dela é contagiante...não te anima?

Catherine olhava para Skya com tanto amor que não ouviu uma única palavra.

--Oi? Desculpa não ouvi...

--Nada de importante...perguntei se o ânimo dela não te contagia?

Alanis já tinha percebido que entre as estrangeiras existia algo além de uma bela amizade.

--Ah não...fico feliz por ela, mas eu respeito os meus limites.

A conversa ainda durou algum tempo até que Skya demonstrou vontade de ir dar uma volta pela propriedade com Catherine.

--Aceitem uma humilde sugestão, vão passear numa espécie de observatório das estrelas que temos na ala norte da Quinta.

--Eu quero ir, adoro estrelas e aqui o céu é tão lindo.

Cassandra olhou para Alanis com uma expressão de quase incredulidade e mais uma vez tal não ficou alheio a Catherine.

--Como chegamos lá?

--É simples...depois do vosso bungalow, subam a colina, depois tem uma espécie de pomar, depois um bosque e lá no fim tem uma vista soberba para o vale, uns bancos de pedra, o céu e muitas estrelas...ah e podem ter uma linda surpresa, mas isso vai depender da vossa sorte.

--Vamos?

--Claro! E quem resiste a um pedido teu?

Skya quase beijou Catherine que percebendo o que iria acontecer, deu-lhe os braços e despediram-se de todos agradecendo por tudo.

--Skya, não te esqueças...amanhã cedo o Balta espera-te para o trekking, eu sei que vais adorar.

--Já estou ansiosa. Vou lá ver as estrelas...Cassandra, vejo-te amanhã?

--Vou trabalhar em Porto Novo mas eu volto ao final do dia.

--Ok, quero conversar mais sobre aquele teu projeto...achei interessante.

Mais uma vez Nina olhou para aquela situação com uma sensação esquisita no peito, mas não disse nada. Sorriu apenas abraçada à mãe.

--Obrigada por tudo, nosso primeiro dia está sendo perfeito.

--Amanhã há mais.

Risos.

--Graças a Deus.

Despediram-se e seguiram na direção indicada por Alanis.

 

********************

 

--Que pena que eu não trouxe a camera...olha esse céu, dá vontade de compor mil músicas.

Cathe sorriu abraçada a Skya.

--É lindo mesmo e a lua permite ver o campo de cana-de-açúcar em baixo com toda a sua exuberância...é maravilhoso.

--Eu estou quase voando, aliás quisera ter asas para voar alto...olha a montanha Cathe, meu Deus que imponência...é uma mistura de sensações...

--Medo e vontade de descobrir...

--Exatamente...boa ideia da Alanis. Aliás, que mulher...nem sei o que dizer, ela é forte, toda linda, simpática...

--Umhum, eu também achei...e ela é morena...

Risos.

--Sim, até que enfim uma mulher para me lembrar que estou numa ilha de Cabo Verde. Vi tanta gente de pele dourada em São Vicente e aqui só tem gente mais clara, sem contar na Cassandra que é branca.

--Mas ela é estrangeira...

--Sim, a Alanis é linda, mas eu acho a Cassandra mais ainda...gosto do sorriso dela, dos olhos, ou do olhar...

--Ah não, eu prefiro a beleza da Alanis, viste o corpo daquela mulher? Meu Deus, ela deve galgar essas montanhas para ter aquelas pernas...

--Ela treina alguma coisa, não percebeste que demorou porque estava a treinar?

--Ah sim, mas eu entendo muito pouco do que falam...

--Mas ela deu-te especial atenção...

--Mas só falamos amenidades...nada pessoal. E tu e a Cassandra?

--Nada de especial também, até porque ela tinha que dar atenção a outras pessoas.

--Acho que a Alanis esconde um mistério...os olhos dela escodem alguma coisa...

--Hmmm, reparaste nisso tudo?

--Umhum, eu quase não falei nada...fiquei a maior parte do tempo observando...

--Eu acho que estou com um leve ciúme dessa morena linda.

Gargalhadas com beijos e leves mordidas.

--Ah não, nada a ver...ela não faz o tipo de mulher que me atrai...e eu tenho motivos para ter ciúme da branquinha dos olhos lindos?

--Ela não te atrai?

--Não...

--Não? Meu Deus...

--Ela te atrai? Fala Skya.

Gargalhadas.

--Que tipo de mulher te atrai?

Catherine fingiu pensar para deixar Skya mais apreensiva.

--Cathe...preciso saber para entender quando ter ciúme.

Risos.

-- Eu só me sinto atraída por ti, então tu és o tipo de mulher que me atrai...

Skya levantou Catherine no ar e encheu-a de beijos.

--Aqui não tem ninguém parecido comigo, então...

--Boba. E tu, que tipo de mulher te atrai?

--Hmmm...misteriosa, linda, sexy, gostosa, inteligente, boa de argumentação, requintada e simples numa proporção que às vezes desnorteia, doida e sensata na medida certa, amiga dos amigos, que gosta do trabalho, aventureira, que se entrega na hora de fazer amor, que faz do sex* um momento de prazer supremo, que não tem medo de enfrentar a vida, que corre riscos...uma mulher com um olhar que me desnuda e me deixa vulnerável e ao mesmo tempo acolhida...eu sou completamente apaixonada por essa mulher que acabei de descrever e graças aos céus ela está nos meus braços.

O beijo que veio a seguir a essa declaração explícita de amor roubou o ar às duas. No meio do beijo Skya gritou deixando Catherine atordoada.

--Olha Cathe, olha...que lindo.

--O que é?

--Uma libélula...lindo. Feche os olhos...feche.

--Fechei doida, e agora?

--Faça um pedido, algo que queira muito, mas não me conte nada. Já pedi...

--Pedidos a libélulas?

--Sim...peça.

--Já pedi...mas eu sempre ouvi dizer que pedem-se desejos a estrela cadente...libélula?

--Quando eu era pequena, ia algumas vezes à Tailândia visitar a minha avó e lá tem essa tradição, aliás a Libélula é quase sagrada por lá...adoro libélulas.

--Eu também...

--Será que é comum por aqui?

--De repente era essa a surpresa que a Alanis referia-se...

--Então somos muito sortudas e abençoadas.

--Umhum...

Skya beijou Cathe...devagar. Ela sentiu-se no cimo daquelas montanhas, tocando estrelas...

--Vamos para a rede?

--Umhum...

********************

--Eu não percebi nada disso...juras Cathe?

--Eu não posso jurar, mas eu acho que sim...senti uma troca de olhares intensa, mas ao mesmo tempo parecia que uma evitava a outra...não sei explicar mas ali tem alguma coisa estranha...

--Amor, talvez? Mas será? Então elas disfarçam muitíssimo bem...será que existe preconceito?

--Eu não sei Skya, mas que há algo estranho...não ficou claro quem é Cassandra aqui...ela tem outro trabalho mas falam com ela como se fosse dona e ela mora aqui...

--Sim, tens razão...wow, e se elas tiverem um tórrido caso de amor às escondidas? Meu Deus é muita mulher bonita junta...elas são um casal maravilhoso, só não são mais lindas do que nós.

Catherine riu até às lagrimas. Skya era muito engraçada.

--Eu acho que não tem amor tórrido nenhum...parece que há ressentimento, eu não entendi bem, mas não estão apaixonadas...talvez já estiveram mas nesse momento não...

--Já deves imaginar como estou ávida para saber mais...certo?

--Claro que sim...com essa mente fértil, tu devias escrever livros...

--Quem sabe um dia...

--Olha lá, eu não disse...elas caminham para algum lugar e a essa hora só pode ser para casa. A Alanis mora numa casa lá mais para cima, ela mesma me disse.

--Mas assim, separadas? Uma mais à frente...que romance é esse?

--Fala baixo sua louca...

--Mas eu estou a sussurrar.

Risinhos com beijos.

--Elas deveriam estar abraçadas, aos beijos...não consigo acreditar em romance.

--Skya, as pessoas às vezes têm problemas...a Cassandra disse que está cá há quase cinco anos, de repente o amor estremeceu, ou acabou...mas não sei, tem algo estranho.

--Posso tentar descobrir...ajudar.

--Tu és muito doida menina...

--Sou romântica e adoro ver as pessoas felizes...e elas são lindas demais, vivem num lugar perfeito, se estão apaixonadas têm que explodir de felicidade.

--Doida...deliciosamente louca. Só tenha cuidado para não provocares ciúme na outra...

--Eu?

--Claro. Uma mulher linda, que vem e longe, toda simpática, aberta para o mundo...

Mais tarde na cama:

--Cathe, gostaste da minha ideia de vir para a ilha?

--Não poderia estar mais feliz...obrigada pela paciência...

--Estou tão feliz...tanto...tanto, eu sou meio boba e às vezes infantil, mas consegues sentir, ver a minha felicidade?

--Em cada gesto...olhar...sorriso...

--Ainda bem...às vezes tenho receio que não entendas a minha intensidade, os meus rompantes...deixas-me assim...doida...

Cathe beijou a cabeça de Skya que estava apoiada no seu peito, apertou-a no seu peito e suspirou profundamente.

--Eu entendo tudo...- Ela às vezes não entendia muito bem a intensidade do que sentia, mas essa era outra história.

--Estou cansada...

--Dorme meu bem, amanhã vais sair cedo para essas loucuras que adoras...

--Bem que poderias vencer o medo...

--Não me parece...eu vou adorar ouvir os teus relatos e ver as fotos.

Skya riu baixinho e beijou um dos seios de Catherine.

Ficaram em silêncio, ouvindo músicas e perdidas nos seus pensamentos.

Ouviam Morphing (Elsiane) quando Skya chamou por Cathe assustando-a pois acreditava que ela já dormia.

--Hmmm?

--Lembras que aqui é o paraíso?

--Umhum...

--No paraíso tudo é permitido...

Ela falava baixinho e com voz meio sonolenta.

--Tudo.

--Então posso fazer e ser o que quiser.

--Sim...e o que queres fazer?

--Fazer...dormir assim, agarrada a ti, sentindo a tua respiração, o roçar da tua pele na minha, o arfar dos teus seios, tuas mãos na minha pele, nos meus cabelos...

A voz era cada vez mais fraca, quase inaudível...

--E dizer?

--Durma bem meu amor...meu amor...

Catherine sentiu seu peito encher-se de luz, o corpo todo pareceu ganhar outra vida, o coração bateu na garganta...felicidade...felicidade...felicidade. Apertou-a nos braços e gem*u baixinho...o momento parecia quase um sonho.

Skya sorriu entre sonhos...

--Meu amor...minha Cathe...minha...

 

********************

Catherine aproveitou a manhã para dormir e recuperar as energias. Depois do café, saiu com Zé para conhecer alguns pontos da Quinta. Depois o senhor seguiu para seus afazeres e ela continuou o passeio, curtir a natureza.

Telefonou às amigas, Susan quase entrou em delírio com alguns vídeos de imagens do verde, do sol, das montanhas. Karen prometeu que a filha conheceria aquele lugar lindo e antes dos 5 anos. Conversaram muito e Cathe deixou claro que estava muito feliz. Todas perguntaram por Skya e Susan chamou a amiga de medricas por não aproveitar para vencer medos.

Depois das amigas, ligou ao pai, que também ficou feliz ao perceber que a filha estava no lugar certo e fazendo a coisa certa, sendo feliz.

O almoço contou com pouca gente pois a maioria dos hóspedes estava em passeios. Ela não conversou muito com a dona Nenê por causa dos constrangimentos da língua, mas a senhora fez de tudo para que ela se sentisse bem, e sentiu-se muito bem.

Depois do almoço foi à varanda do quarto deitar na rede e ouvir música. O silêncio daquele lugar convidava à contemplação.

A meio da tarde e já contando os minutos para ter Skya de volta, resolveu dar um passeio pela alameda que levava ao observatório. Desviou um pouco o caminho e parou em frente a uma casa linda cujas janelas estavam escancaradas e as cortinas dançavam ao sabor do vento.

A casa era uma construção simples mas de muito bom gosto, movida por uma curiosidade espreitou lá para dentro apoiando-se numa das enormes janelas.

--Olá.

Virou-se de repente. Poderia cair não fosse o seu controle sobre o próprio corpo.

Tinha sido surpreendida por Alanis e no mínimo tinha ficado com a face vermelha. Ridículo, mas mais ridículo ainda era espreitar para dentro de casa alheia.

--Olá...desculpa...

--Tudo bem...essa cena agora...

--Ridícula! Uma mulher estranha olhando para dentro de casa alheia...

--A casa é minha...nada de ridículo, mas a cena lembrou-me a forma como há anos atrás conheci o amor da minha vida. - Disse Alanis sonhadora.

--Bom, se o meu coração já não estivesse devidamente ocupado, eu diria que o amor tinha batido à tua janela pela segunda vez.

Alanis riu com gosto adorando a rapidez da estrangeira e o auto controle.

--Aceitas tomar um suco ou um chá? Assim podes conhecer a casa por dentro.
Foi a vez de Catherine rir com vontade. Aceitou o convite.

Dentro da casa:

--Tua casa é linda...a arquitetura é diferente.

--Ideias do amor que bateu à janela há tempos atrás...

Risos.

--Amor criativo.

Risos.

--Que crianças lindas. Ai deu saudade da minha afilhada...ah, eu tenho uma afilhada de quase um ano, a coisa mais linda do mundo. Quem são as crianças?

--Meus filhos, a Luna, e o Arthur...amores da minha vida.

--Que lindos...a menina parece contigo, e esse menino loirinho, que lindos...lindos os teus filhos. Eles são grandes...

--A Luna fez sete anos no mês passado e o Arthur tem cinco...eles são a alegria da casa.

--Ainda não os conheci.

--Vais conhecê-los ainda hoje, foram dormir com amiguinhos e pediram para passar o resto do dia lá, mas daqui a pouco a Cassandra passa para busca-los.

--Hmmm, tens filhos lindos, devem ter sido feitos com muito amor.

Nina sorriu.

--A história dos meus filhos é longa...

--Queres contar?

--Tens tempo, interesse?

--Sim, claro.

Nina serviu suco de pinha e conversaram sobre os filhos.

--Então a Luna foi um presente da vida? Que história linda... e ela ainda parece contigo, pelo menos eu acho...

--Aqui é quase unanimidade que ela parece comigo, mas há controvérsias...

Risos.

--Mas o Arthur não parece muito...

--Nada...ele herdou as características do dador...

--Hmmm, inseminação?

--Sim, nós queríamos que ele se parecesse mais com a outra mãe já que a Luna é a minha cara.

--E ele parece com ela?

--O que achas? A outra mãe é a Cassandra...

Catherine sorriu, não tinha se enganado.

--Parece muito com a Cassandra...

Alanis suspirou e olhou para Catherine parecendo pensar se deveria ou não dizer o que estava prestes a voar-lhe da boca.

--A falta que a Alexandra me faz...

--Quem é Alexandra? Tua amiga?

--Minha amiga e quase irmã...também sou madrinha da filha dela.

--E onde ela está?

--Na Alemanha, foi fazer um curso de um ano e meio e deixou-me órfã.

Risos.

--Ela é médica e muito dedicada...ela é minha confidente e de certa forma o prumo para essa minha cabeça meio doida...

--Não tens outras amigas?

--Algumas mas nenhuma com a cumplicidade que tenho com a Xanda. Tem a Ludmila mas essa também mudou-se para a capital...todas mudaram de rumo quando meu mundo desabou...

Catherine percebeu que o problema de Alanis era sério e mesmo sem saber o que fazer ao certo, disse a única coisa que lhe ocorreu.

--Se quiseres desabafar com uma estranha...

--Engraçado, alguma coisa em ti deixa-me calma, aberta...entendes?

--Não...

Risos.

--Pareces-me confiável...serena...e tens razão, o fato de seres uma estranha ajuda muito...

--Problemas com o amor da tua vida?

--Tantos...nem sei mais se ela ainda é o amor da minha vida...

O telefone tocou arrancando Nina do seu momento de introspeção.

--Oi mãe..

--Filha, a Cassandra pede que vás buscar as crianças porque ela vai atrasar-se na universidade...

--E ela não liga diretamente para mim...cansada.

--A Luna quer vir para casa Nina...

--Já vou Nenê...já vou.

--O pessoal das trilhas está a chegar, vou preparar um lanche.

--Ok mae...já vou, estou com saudade dos meus filhos. Tchau.

Alanis ficou parada olhando para o telefone sem pousar o aparelho.

--Problemas?

--Muitos e não tenho a menor ideia de como resolvê-los. Podemos conversar outra hora? Agora vou buscar os meus filhos...quero muito conversar contigo.

--Tudo bem, quando quiseres...

--O pessoal das trilhas está de volta.

--Sim? - O semblante de Cathe iluminou-se.

--Corra...acho que a moça aventureira vai ficar feliz em ver-te.

Cathe piscou e saiu correndo da casa de Alanis.

********************

Catherine ouvia o relato de Skya completamente encantada com o entusiasmo dela. Conseguia sentir tudo o que ela vira, as belezas todas...

--Cathe, eu tenho mil fotos. Já enviei algumas à sonsa da Kika e sabes onde ela estava? No aeroporto de Logan à espera do voo para cá. Ela vai parar dois dias em Mindelo e depois virá para cá. Ela rendeu-se à minha pressão.

Risos.

--Tu vais ficar doida...vês essa beleza do vale à nossa frente? Cathe, lá de cima é zilhões de vezes mais bonito, o coração bate depressa, a pele fica arrepiada, os olhos enchem-se de lágrimas...é lindo meu amor...lindo.

Catherine olhava, ou melhor pasmava na violinista...completamente apaixonada.

--O que foi?

--Tu és tão linda Skya...tão maravilhosamente bela...eu...eu fico...

Catherine não conseguiu concluir a frase. Skya pulou nos seus braços e a beijou apaixonadamente. Beijo correspondido com amor, paixão...entrega total.

--Eu adoro quando és assim...roman...

--Quando sou assim? Como?

--Eu sei que não gostas, mas adoro quando és romântica...deliciosamente romântica, irresistivelmente romântica...adoro quando olhas para mim com essa imensidão de sentimentos no olhar...adoro.

--Não é que não goste Skya...eu não sei ser muito romântica...

--Para mim és perfeita, tens a dose certa.

--Tenho receio de ser ridícula...exagerada...

--Seja ridícula, exagere, extrapole...eu vou andar nas nuvens...

--Doida...-- Cathe beijou o pescoço de Skya que cheirava a flores.

--Completamente e a doida quer perder-se nessa tua boca vermelha...

Catherine tentou colocar um pouco de juízo em Skya, lembrando que estavam na varanda do casarão e poderiam ser surpreendidas. Mas Skya não estava muito interessada em podar-se e Cathe não resistiu ao momento. Beijaram-se sofregamente. Catherine ergueu Skya no ar, riram às gargalhadas e uniram-se mais vezes em beijos de cortar a respiração e incendiar os corpos.

--Desculpem...moças.

Skya ouviu a voz de alguém chamando por elas e parou de beijar Catherine mas sem soltar-se do corpo dela.

--Olá Dona Nenê.

Catherine sentiu sua face arder e olhou ao redor, ninguém mais estava por ali além da senhora.

--Olá Skya...desculpa interromper...

--Tudo bem. Algum problema?

--Eu não gosto muito dessas coisas...não gosto de me meter...

--Sim?

Skya abraçou a cintura de Catherine que correspondeu fazendo a mesma coisa.

--Já percebi que existe algo entre vocês e...

--Sim, somos namoradas. A Catherine é minha namorada.

Nenê olhou ao redor, para o chão e depois para elas. O seu olhar era indecifrável.

--Preciso pedir uma coisa que talvez não entendam, mas não posso ficar calada, parada.

Ela olhou para as duas mulheres com uma certeza quase perturbadora.

Catherine apertou a cintura de Skya que acariciou-lhe as costas.

Olharam para a senhora completamente expectantes.

 

 

 

 

Fim do capítulo