Os dias de Skya corriam freneticamente desde que aceitara fazer parte do projeto da orquestra nas ilhas na costa da África. Ela nunca lembrava o nome do pequeno país e referia-se sempre a ele como ilhas da costa da África. Os colegas da orquestra do Porto enviavam as partituras a conta-gotas e ela como perfeccionista nata começava a ficar stressada. Não conhecia grande parte das composições e queria estar pronta para que a passagem rápida pelo Porto fosse apenas para afinar com o grupo.

 

Na ilha onde aconteceria o primeiro espetáculo eles ensaiariam apenas um dia com a composição local, o que ela considerou um suicídio mas o maestro Charles, seu velho conhecido, garantira que tudo seria perfeito porque ele já conhecia os músicos de Cabo Verde e eram os melhores para a composição da orquestra mista. Ela acreditara. Sempre acreditava nos seus maestros e jamais se arrependia.

 

Para desanuviar um pouco a mente, decidira sair com a amiga Rebeka mas a conversa teimava em recair sobre música.

 

--Esse arranjo é lindo Skya, soa bem aos ouvidos, abre os sentidos...

 

Ouviam uma gravação de Flor Formosa, uma das composições que faria parte do repertório da orquestra.

--Eu adorei, mas estou apreensiva.

--Exagerada...

--Não Kika, não é exagero...ainda preciso receber 4 partituras e nada.

--Skya, pelo amor de Deus, tu aprendes em minutos...

--Mas gosto de executar da melhor forma...

--Não vais passar dois dias no Porto com a orquestra que já conheces e muito bem? Então...relaxa porque eu sei que será sucesso...mais um de muitos.

Skya olhou profundamente para a amiga e sorriu com cara de mistério.

--O que foi agora sua doida?

--Estou a pensar que seria uma maravilha se viesses connosco para Cabo Verde...wow, finalmente lembrei o nome do lugar.

--Tem muita graça...

--Porque não?

--Vais passar mais tempo namorando e eu vou fazer o quê?

Gargalhadas.

--Conhecer um lugar lindo, viste o site que te enviei?

--Não...

--Pois veja e vais ficar louca como eu fiquei. A Cathe desde que viu está mais animada do que nunca em me acompanhar...aceitas?

--Vais para namorar Skya...

--Mas eu não vivo grudada com a Catherine...ela nem gosta. Eu adoraria estar mais tempo com ela, às vezes eu queria estar todo o tempo, mas uma coisa eu aprendi e com ela...

--O quê?

-- A desfrutar o momento quando ele acontece ao invés de sofrer por não tê-lo...

--Sensatez, maturidade...e a Skya cresce.

Risos altos.

--Pois...prefiro me deliciar nas horas que passamos juntas e quando não estamos, eu tenho as melhores lembranças que aguçam a vontade de voltar a estar junto...entendes?

--Mais ou menos...há muito tempo que não me sinto tão apaixonada assim...

--Pois devias...venha para essa terra meio mística, tu adoras essas coisas...há ilhas lindas, lugares encantadores, pelo menos nas fotos e relatos de visitantes na internet...vamos?

--Não sei...posso pensar? Mas não iria a Portugal...

--Tudo bem, há voos diretos daqui para lá...vens?

--Chata! Vou pensar, pode ser?

Gargalhadas felizes.

--Olha, tem uma ilha lá cujo nome agora me falta, que mais parece um cenário de conto de fadas. Pretendo passar a maior parte dos meus dias lá, só que até agora não consegui um hotel...parece que lá ainda é meio virgem, não há muitos hotéis...

--Wow, perfeito para um romance...

Risos.

--Perfeito para me apaixonar mais ainda pela Cathe, para não pensar em nada, escrever e para curtir as amigas chatas e teimosas.

Risos.

--Não desistes hein moça?

--Não...acho que precisas de renovação...

--E estás certa...

--Não aceite nenhuma proposta de trabalho para o próximo mês.

--Mas não serão apenas 10 dias?

--Ainda nem fui...portanto mais de 10, e tu, para relaxar e se encantar deverás ficar pelo menos 15 dias...

Risos.

--Sim senhora dona Skya, a senhora manda

--Isso é um sim?

--Não, isso é um " vou pensar melhor na possibilidade".

--Já ajuda muito e como sei que és sensata, aventureira e maravilhosa, irás a Cabo Verde.

Gargalhadas felizes.

********************

 

--Cathe, posso ser sincera?

Risos.

--Alguma vez não foste?

--Pateta. Estou com uma leve inveja dessa tua viagem romântica...

--Não é uma viagem romântica...

--Ok, já sei que essas definições muito açucaradas das coisas te assustam...ok, estou com um leve inveja desse vosso retiro para o paraíso.

Risos.

--Soa melhor...mas quero muito fazer essa viagem. Quero não ter nada para pensar a não ser na Skya, no quanto é bom estar ao lado dela. Preciso de um tempo só nosso, quero muito poder cuidar dela, fazer pequenas coisas que muitas vezes tenho vontade de fazer mas ou a minha vida não permite ou a dela que também não é menos agitada...o lugar é propicio, quase remoto...o que foi agora Susan?

--Estou encantada com o poder dessa mulher sobre ti minha amiga. Catherine tu estás irradiando luz, beleza, leveza...esse olhar que diz tudo...jamais pensei ver ou ouvir algo assim partindo de ti Cathe, jamais.

--Sue...é ridículo? Tenho tanto medo de estar a ser ridícula ou acometida de um surto de romantismo, mas eu já não sei ser diferente...eu quero fazer coisas que provoquem sorrisos em Skya, quero que ela ria às gargalhadas, quero dar prazer, quero...Susan, isso é errado? É exagerado?

-- Nunca Cathe, isso é lindo, é o melhor sentimento...vê lá se verbalizas esses sentimentos todos, às vezes é necessário ouvir...

-- Não sou de muitas palavras, não sei dizer sem me sentir estranha, mas ela sente...

-- Ela sente, mas às vezes é necessário dizer, até porque vindo de ti ela deve ter muitas dúvidas...não te esqueças que até Skya aparecer, vivias outra vida, completamente diferente...ela pode ter dúvidas...

--Não acredito muito nisso, sou muito explícita nas minhas atitudes...

--Preste atenção às necessidades dela, mas quem vive a história és tu e quem a conhece melhor também és tu. Eu quero muito que sejam muito felizes nas ilhas e no resto da vida que tiverem juntas.

Risos.

--Quero relatos das maravilhas do lugar e se for realmente um paraíso eu arrasto minha workaholic para lá, nem que seja à força.

Gargalhadas.

--Ontem almoçamos juntas...

--Sim, fui informada e não convidada.

Risos.

--Doida. Ela e a Skya iam almoçar e como eu convidei a Skya sem saber que ela já tinha compromisso, acabamos as três à mesma mesa...

--Ninguém saiu ferido...

Risos.

--A Ciara é interessante...muito interessante.

--Ah, agora entendes porque sou tão apaixonada?

--Sim...gosto da firmeza dela, do talento, do brilho nos olhos quando fala dos projetos e gosto mais ainda a forma perfeita que ela tem de encantar os outros com as suas ideias...

--Essa é a minha mulher.

Risos.

--Consigo entender muitas coisas que antes faziam uma certa confusão...

--Existe uma Catherine antes de uma viagem de trem e outra pós viagem...ah ou seria melhor, Catherine antes do encontro fatal com um par de sneakers e Catherine com os sneakers nos pés.

Risos altos de felizes.

********************

Catherine fez questão de acompanhar Karen ao médico com a pequena Esperanza que aliás pouco lembrava uma menina com menos de um ano. Saíram felizes da pediatra que mais uma vez dera os parabéns à mãe por cuidar tão bem da menina que crescia vendendo saúde e boa disposição.

Karen sugerira um lanche em sua casa e Catherine adorou a ideia já que ficaria alguns dias longe da sua afilhada e queria aproveitar cada minuto ao lado daquela pequena que a enchia de alegria.

--Graças a Deus que meu anjo com nome de Pilar vai poder vir passar uns dia aqui.

--E eu fico com pena de não ter a oportunidade de revê-la. Tua mãe é uma mulher fascinante.

--Ela adora-te. Pergunta sempre se estás bem. Essa patroa dela é maravilhosa, vem para fazer não sei o quê aqui em Boston e minha mãe vem junto o que eu agradeço. E mais, dona Pilar pode ficar aqui comigo e cuidar das coisas dela daqui de casa, telefone, internet, esses meios que nos salvam.

Risos.

--E os teus irmãos?

--Todos bem, graças a Deus. Finalmente parece que as lutas todas começam a dar os seus frutos...

--Assim é a vida para quem acredita...

--Hã? Essas palavras são minhas, uma mulher carregada de fé...tu?

--Ah Karen...deve ser influencia tua, da Susan que também é toda cheia dessas coisas...influências.

Risos.

--Por falar em influência...adorei o poder da Skya em convencer-te a fazer uma viagem para não sei onde e desacelerar, melhor decisão de sempre dona Catherine.

Risos.

--Umhum...ainda vou descobrir se é ou não uma boa decisão mas vou sim viajar...preciso esvaziar a mente, abrir os olhos para outras coisas, tu mais do que ninguém sabes o stress que é trabalhar naquela empresa.

--Se sei, e tu não trabalhas apenas, carregas as coisas nas tuas costas o que é mais desgastante ainda. Tomaste a melhor decisão. Só peço que não esqueça dos menos afortunados e que dês notícias de vez em quando...

--Ah, tem até graça...achas que vou sumir? Nunca. Quero fotos da minha menina todos os dias. Aquelas que costumas enviar de bom dia, fotos fofas dessa gorducha sorridente.

Catherine apertou a pequena nos braços que soltou risinhos felizes.

--Cathe...

--Hmmm...

--Nunca pensaste em ter filhos?

Catherine arregalou os olhos.

--Não...adoro a Esperanza, ela faz-me bem, mas eu nunca pensei em ter filhos meus, isso não passa pela minha cabeça...não tenho vocação e nem tempo para cuidar de alguém para o resto da vida.

--Hmmm, e a Skya ainda é nova...

--Karen, pare de falar como se eu fosse casar com a Skya e ser feliz para sempre.

Karen riu tanto que sua pequena mesmo sem entender nada, também a acompanhou soltando risinhos fofos com a boca ainda sem dentes completamente escancarada.

--É apenas mais uma história que até agora tem dado certo, mas que pode ser apenas isso...uma história das muitas que vou viver. Além de nova, ela é artista...vamos com calma, viver nossa aventura até onde der mas sem muitas previsões e sei lá...

-- Está bem sua descrente, viva a sua história enquanto ela for boa, enquanto tiveres esse brilho intenso nos olhos, enquanto o nome Skya na tua boca soar a música...

--Eu vivo cercada de românticas...tu, a Susan...mulheres adultas e com excesso de sonhos...

--Melhor ser assim do que descrente como tu... estás na tua melhor fase...chefe.

Risos.

--Doida.

--Umhum...graças a Deus. Ah, chefe, não te esqueças de convidar tua comadre e secretária nas horas vagas para o teu casamento de sonho ok?

Gargalhadas altas e Catherine querendo matar Karen com o olhar.

--Cala a boca Karen, é muita asneira para a mesma pessoa.

Risos.

-- Cathe vai fazer uma viagem romântica, eu tinha que viver para ver isso.

--Cala a boca mulher, a tua sorte é que estou com esse tesouro nos braços, do contrário...

Gargalhadas.

--Só vou acompanhar a Skya numa viagem de trabalho...

--Aham, e namorar muito numa terra linda e ficar mais apaixonada ainda e quem sabe permitir-se...

--Cala a boca. Preciso ir, a viagem é hoje à noite e tenho que arrumar duas malas, já que a minha adorável namorada não larga umas partituras que de tanto ver já sei identificar qual é de Flor Formosa, Alina e etç etç

--É...começa assim...

--O quê?

--Nada...boa viagem meu amor. Vamos ter muitas saudades tuas e não te preocupes com a empresa, farei o meu melhor...

--Eu sei disso e muito obrigada por tudo mas mais ainda por permitir que eu entrasse no teu universo maravilhoso, na tua alegria, intimidade...na tua família.

--Boba...nós te amámos Cathe...não, jura?

--O quê?

--Acho que vi olhos marejados...e viva a Skya e seu poder inesgotável.

--Besta.

Abraços com risos e lágrimas.

 

********************

 

Chegamos ao Porto por volta das dez da manhã e depois de hospedarmo-nos num hotel na região central, Skya correu para a casa da música onde os colegas a esperavam para a maratona de ensaios.

Aproveitei para dormir até o início da tarde. A viagem tinha sido longa e cansativa e eu precisava começar a desligar o botão frenético que me mantinha elétrica em casa.

Acordei revigorada e tinha algumas mensagens de Skya no telefone e um vídeo do ensaio em que ao final ela mandava beijos e dizia estar com saudades do meu cheiro.

Sorri espontaneamente. Adorava aquelas loucuras dela, bem típicas e únicas...precisava descobrir alguma coisa que não gostasse, alguma coisa que dependesse exclusivamente dela. Até aquele momento não tinha tido sucesso...não gostava de estar muito tempo longe mas isso não dependia dela, não era uma falha de carater, ou uma atitude premeditada, era o trabalho dela e eu só tinha que aceitar e respeitar...e morrer de saudade.

Saudade...foi esse o meu mote no primeiro dia no Porto. Preferi ficar pelo hotel que era muito acolhedor e permitir meu coração e o corpo também, sentirem saudades.

Almocei perto das quatro da tarde e depois hibernei na varanda do nosso quarto com um livro e uma garrafa de vinho do Porto, ah e muita música. Perfeito, ou quase...faltava alguma coisa...

No dia seguinte, Skya saiu mais cedo ainda alegando precisar ensaiar e corrigir muitos erros. Como era perfecionista...nisso, eramos muito parecidas.

De tanto ouvir Skya dizer que a cidade era linda, resolvi ter um dia diferente. Depois do café, peguei um guia da cidade na receção do hotel, a camera fotográfica de Skya, meu gadget de música, um casaco já que a cidade era fria e o outono já ganhava força e saí para desbravar as belezas do Porto.

Precisei de poucos passos para me encantar com a atmosfera daquela cidade que apesar de meio escura por causa dos tons em cinza da maioria dos edifícios, inspirava luz, era acolhedora, afagava a alma. Paralela à rua do hotel ficava a Avenida dos Aliados, o coração da cidade. Percorri-a de cima a baixo, deslumbrada pela beleza dos edifícios, arquitetura, mas sem dúvida o edifício da câmara municipal merecia muitas fotos. Caminhei sem pressa, troquei algumas palavras com pessoas simpáticas que estavam sempre dispostas a ajudar e sempre havia uma ou outra que sugeria algum lugar ou monumento que merecia uma visita.

Sempre gostei de azulejos e seguindo a sugestão de um casal de espanhóis que estava em lua-de-mel, fui visitar a estação ferroviária de São Bento. Minha paixão pelos azulejos foi reavivada pela beleza do local.

Visitei a Torre dos Clérigos que também é um marco da cidade, mas perdi-me de encantamento pela Livraria Lello. Passei horas por ali, entre livros e o cheiro típico de livrarias que sempre me embriaga. Olhei as horas e já passava das três, fui ao primeiro andar tomar um café e comer alguma coisa leve. Skya tinha prometido que jantaríamos juntas e eu queria guardar a fome para mais tarde.

Depois da livraria, visitei a Sé do Porto onde fiz inúmeras fotos.

Andei sem destino certo pela cidade que inspirava romance, eu pelo menos tinha essa sensação que aquele lugar era ideal para casais apaixonados.

Um pouco depois das cinco da tarde recebi uma ligação de Skya confirmando o nosso jantar na Ribeira. A essa altura eu estava mais uma vez na Avenida dos Aliados seguindo em direção ao hotel. Fui depressa ao hotel, tomei um banho relâmpago, mudei de roupa e dirigi-me a pé à Ribeira que ainda não tinha visitado.

Se eu já estava apaixonada pela baixa do Porto, a Ribeira foi o coroar do meu fascínio por aquela cidade. As ruas estreitas, os vários restaurantes e tascas com musica ao vivo, o contraste entre o velho e o novo, o frenesi de gente indo e vindo e o desembocar no cais da Ribeira...ah, maravilhoso, inesquecível.

Sentei-me numa tasca com vista para o Douro e não parei de sorrir de satisfação e encantamento. A luz daquele lugar era penetrante, invadia tudo e nos deixava feliz, eu pelo menos sentia-me feliz. Passeei um bocado, vi artesanato, músicos de rua, me encantei com um rapaz a tocar violoncelo à descida de um estreito que ia dar à entrada de um navio que fazia cruzeiro pelo Douro... poderia passar horas ali.

Skya ligou dizendo que estava a chegar e realmente chegou em menos de 10 minutos. Encontrou-me sentada num banco a apreciar o vaivém de barcos carregados de turistas no Douro.

--Oi...desculpa pelo atraso, mas vim o mais depressa que pude.

Ela abraçou-me e esqueci qualquer resquício de solidão que pudesse ter sentido ao longo do dia.

--Estavas a trabalhar e eu a divertir-me.

Risos.

--Gostaste?

--Eu adorei...essa cidade é linda Skya, linda. Eu não sei se estou doida, mas a mim ela parece um cenário perfeito para se viver um grande amor, essas coisas de romances cheios de intensiade.

Ela abriu um sorriso tão luminoso que senti meu coração aumentar no peito.

--Eu também acho a mesma coisa, é perfeita para se perder de amores, para viver uma semana de amor, ou o tempo que for possível...

--Já viveste um grande amor aqui?

Arrependi-me imediatamente da pergunta, mas porque não queria ouvir a resposta que a mim parecia obvia.

--Desculpa, não...

--Não. Eu nunca vivi uma história de amor aqui. Passei oito meses nessa cidade e só estudei e trabalhei. Vivia no Bolhão e raramente vinha à Ribeira...quero mostrar-te uma coisa, vamos?

Eu fui. Estava encantada, apaixonada, noutra esfera.

Seguimos em direção a Gaia, a cidade na outra margem do Douro. Atravessamos a ponte Dom Luís I a pé e eu adorei. Por cima das nossas cabeças passavam comboios, inesquecível.

Ela levou-me para conhecer uma cave de vinhos onde degustámos um autêntico Porto...ah dos Deuses.

Resolvemos jantar num pequeno restaurante em Gaia e mais uma vez fiquei deslumbrada com a vista para a cidade do Porto.

--Dizem que o melhor e Gaia é a vista para o Porto.

Risos.

--Gostei de tudo...adorei a comida, o vinho, a vista...adorei.

--Fico feliz...muito feliz. Ainda bem que hoje as coisas correram bem nos ensaios porque eu não abriria mão desse jantar contigo, do nosso passeio...atravessar a ponte a pé contigo teve outro efeito...adoro ver os teus olhos brilhando, adoro a tua disposição para as minhas loucuras...

--Eu adoro as tuas loucuras.

Perdemo-nos numa intensa troca de olhares e mais uma vez senti meu coração a galopar...e o cenário, ah o cenário convidava a mil viagens pelas emoções e eu queria seguir e seguia...

--Meus amigos queriam que fossemos jantar e queriam que eu levasse a minha musa inspiradora.

Gargalhadas.

--E quem é essa musa?

--Uma mulher linda, enigmática, maravilhosa, que não deixa meu pensamento em paz, que faz meu corpo tremer muitas vezes apenas com a intensidade de um olhar, que deixa meu coração aos pulos...

--Hmmm...interessante, ela parece ser interessante.

--Muito interessante...ela me deixa cada dia mais apaixonada...

Sorri feliz, transbordando de felicidade, mas paradoxalmente mudei de assunto. Eu ainda tinha medo da intensidade das coisas que ela dizia, e mais medo ainda das coisas que eu sentia.

--Amanhã viajamos muito cedo.

--Umhum...rumo ao paraíso segundo a Joana e o Peter que já estiveram lá. Eles estão contando as horas e conseguiram animar-me também.

--Não estavas animada?

--Sim, claro, mas eles elevaram a minha vontade de conhecer essa ilha. Vai ser tudo a correr por lá. Chegamos ainda de manhã, encontramos com o resto dos músicos, os locais, ensaiamos muito, o dia todo. Pelo que percebi a logística do espetáculo é diferente, vamos atuar num palco não convencional...ai sei lá, dá um frio na barriga, ainda bem que vens comigo...

Sorri mais feliz ainda.

--Vai ser mais um sucesso, eu sei.

--Ah eu é que não sei o que fiz para merecer uma mulher tão calma...adoro essa tua calma.

--E tu és a única pessoa que diz que sou calma...

Risos.

--De repente eu te acalmo, ou ficas calma comigo...só não sei se isso é bom.

Gargalhadas.

--Não?

--Adoro quando perdes a calma...entendes?

--Umhum...doida.

--Aham...de saudade de ti. Hoje ainda não te beijei Cathe, não como gosto...

Eu que morria de saudade da boca dela, não me fiz de rogada. Saí do meu lugar com calma e sentei-me ao lado dela. Olhei-a nos olhos, desci o olhar para os lábios vermelhos e trémulos e beijei-a levemente. Ah o cheiro da boca dessa mulher...me enlouquece e quero sempre mais.

--Cathe...

--Ninguém viu...

--Não é isso, não me importo que vejam...vamos embora?

--Para onde?

--Para o nosso quarto de hotel...

--Dormir, já é tarde e levantamos às 5.

--Ok, tu mandas chefe Catherine...

Risos.

--Boba...dormir Skya, ok?

--Ok.

--Precisas de concentração...

--Eu preciso de ti.

Ela meteu a mão dentro do meu casaco e acariciou um dos meus seios por cima da blusa. Fechei os olhos e fiz um esforço além do normal para não enlouquecer...

--Vamos...dormir?

--Vamos...permite que eu durma colada em ti?

--Ah meu Deus, e quem é que consegue dormir assim?

--Não? Por favor...

Ela fez aquela cara que me deixava sem reação, doida de vontade de enchê-la de beijos, fazê-la gem*r de prazer, gritar nos meus ouvidos que queria mais, que queria sempre...

--Eu permito tudo mas não deixo nada...

Gargalhadas e ela abraçou-me beijando o meu pescoço.

Algumas horas depois, antes de finalmente estarmos prontas para dormir, ela disse-me algo que me fez sonhar a noite toda...acordada.

--Cathe...

--Humm...

Estávamos abraçadas depois do amor, ela nos meus braços, quase dormindo.

--Eu quero vir para cá outra vez...com calma, contigo...tens toda a razão, essa cidade é perfeita para um casal apaixonado.

Ela gem*u e adormeceu nos meus braços. Eu senti aquelas coisas todas, novas, que causavam uma dualidade de sentimentos...encantamento com medo...vontade de me perder de vez e receio de ser ridícula...ela me abraçou mais forte, sussurrou meu nome várias vezes até adormecer profundamente. Eu fiquei acordada...sonhando com nossas férias naquela cidade, sem pressa...não parei de sorrir a noite toda...

********************

 

A viagem até Cabo Verde durou quatro horas. Catherine dormiu o voo todo ora encostada ao ombro de Skya, ora com a cabeça na janela apoiada a um travesseiro. Skya aproveitou para estudar mais um pouco, ver vídeos da atuação de outras orquestras interpretando musicas que executariam dentro de algumas horas.

Seus colegas iam um pouco mais atrás e a maioria dormia também.

Assim que anunciaram o início da descida ela acordou Catherine.

--Já vamos descer.

--Já? Estou com sono...

Skya riu e beijou-lhe a cabeça.

--Desculpa-me por não deixar-te dormir, mas a culpa não é 100% minha...

--Claro que não, tu és uma santa menina que não apronta absolutamente nada.

Risos. Cathe aninhou-se no corpo de Skya.

--Quem manda ser deliciosamente sexy...irresistível...maravilhosa.

Skya disse a última palavra com a boca colada ao ouvido de Cathe que ficou toda arrepiada.

--Aqui não menina, sua doida.

Risinhos safados.

--Vais poder dormir à vontade. Pelo que me disseram, vão-nos buscar ao aeroporto, deixar as malas no hotel e de lá partiremos para o ensaio que deve alongar-se por horas. É o primeiro encontro com a orquestra local, vamos conhecer a maestrina deles, ensaiar separados, juntos, peça a peça...vai ser longo o dia.

--Vou dormir um bocado sim, mas depois vou tentar encontrar um hotel naquela ilha que vimos na internet. Já reservei as passagens mas hotel ainda nada.

--Tente com afinco meu bem, quero muito ir para lá.

Risos.

--Eu também, fiquei curiosa para ver se aquela mística toda é verdadeira...

--Mas não te esqueças que na sexta logo de manhã partimos para Mindelo, que é na ilha de São Vicente, lá daremos mais um concerto no meio da rua...achei interessante.

--Muito. Mas não me esqueci não senhora dona Skya, e sei também que a ilha que queremos muito conhecer é vizinha a São Vicente, ou seja, tudo corre a favor da nossa visita a Santo Antão.

Risos.

--Eu sei que vais conseguir um lugar nem que seja no topo daquelas montanhas imensas para ficarmos uns dias.

--Podes ter a certeza que sim.

--Olha o mar Cathe...wow.

--Já gostei...adoro o mar.

--Eu também, pena não ter tempo para desfrutar.

--Aqui é um arquipélago meu bem, ilhas por todos os lados e mar também.

Gargalhadas felizes.

 

********************

Como Skya havia sugerido, dormi durante algumas horas. Chegámos ao hotel, ela deixou-me no quarto certificando-se de que ficava bem e seguiu para a sua maratona de ensaios.

Depois das horas de sono, e de um banho frio, pois ao contrário do Porto, naquela ilha o calor era considerável, saí para conhecer o hotel e depois de algumas voltas pelo resort descobri que o ensaio da orquestra era no hotel ao lado que tinha uma grande sala de espetáculos e como um dos patrocinadores do evento, cedera o espaço para os ensaios.

Eu queria sair dali, passear e conhecer alguma praia, das muitas que vira lá de cima no avião.

Fui atendida com muita simpatia por um rapaz na receção do hotel que me informou que ao fundo da parte sul do hotel ficava uma praia maravilhosa. Ele descreveu tudo com tanto entusiasmo que voltei ao quarto quase voando para vestir um biquíni e buscar a camera fotográfica. As palavras de Susan e Karen não me saiam da cabeça...muitas fotos das praias lindas e de todas as outras belezas.

Saí das dependências do hotel e em alguns minutos de caminhada entrei num areal que de tão branco brilhava. Ouvia o barulho das ondas mas ainda não vislumbrava o mar. fui atraída por uma força ou pela beleza do lugar e quase parei de respirar ao ver aquele mar imenso, azul, parecia um mundo à minha frente. Sempre gostei do mar, mas raramente via-o assim, esplendoroso à minha frente.

Corri pela areia fofa e quente, experimentei uma sensação de liberdade e uma ansia de sei lá o quê. A praia tinha alguns turistas, mas estava quase deserta o que me deixou mais encantada ainda, parecia uma cena de filme e eu era uma das estrelas, mas a maior era sem dúvida o oceano que me convidava para mergulhar nele.

Fui, ah que maravilha. A água fresca me abraçou, beijou minha pele arrepiada. Mergulhei fundo, tudo era límpido, lindo. Fiquei muito tempo naquela água, com mina mente vazia e coração pleno de paz.

Deitei-me diretamente na areia quente, não queria nada entre minha pele e aquela sensação de acolhimento. O sol me acariciava e eu agradecia pela experiencia maravilhosa.

Tirei fotos, muitas. Pedi que alguém me tirasse uma foto dessas de revista de promoção turística, foto que foi imediatamente enviada às minhas queridas no frio de Boston.

"Wow, que lugar é esse? Estás linda Cathe, mas o cenário ajuda. Eu também quero."

"Meu Deus, paraísos existem, pronto, já sei o destino das próximas férias, ajudas-me a convencer a Ciara?"

"Wow, diga à Skya que estou convencida, nos vemos nas ilhas um dia desses. Eu tenho a certeza que enquanto estás nesse paraíso ela está enfiada numa sala a ensaiar...vida de músico é dura."

Foram as reações de Karen, Susan e Rebeka. Skya pediu que eu aliciasse a nossa amiga para que pudesse decidir vir para Cabo Verde. Fiz minha parte e ao que parece com sucesso.

Enviei umas fotos ao Yourgos e pela reação exagerada eu só pude concluir que ele estava cada dia mais ciente do que queria da vida.

Ri feliz e curti aquele paraíso durante grande parte da tarde. Queria ficar bronzeada, com um ar mais saudável. Ouvi música, muita música para completar o cenário de paraíso que estava à minha frente.

Ouvi Echoes in rain ( Enya) vezes sem conta..., sorrisos, felicidade, agradecimento.

********************

Eu já tinha visto muita coisa diferente mas um concerto de uma orquestra dentro de uma cratera de um vulcão extinto era a primeira vez. O primeiro concerto da orquestra mista de Cabo Verde estava prestes a começar e o local escolhido não poderia ser mais inusitado e de certa forma arriscado pela dificuldade logística, as salinas de Pedra de Lume que ficavam dentro da cratera de um vulcão.

Cheguei algumas horas antes e o frenesi era enorme. O palco já estava pronto para albergar vários músicos, mas ainda corria-se e muito para organizar tudo na plateia, cadeiras, espaços vips, bares móveis, enfim...muito trabalho.

Fiquei no backstage, tentando ajudar no que me era possível e para a minha surpresa, duas horas depois tudo estava perfeito.

Eu estava ansiosa para ver como seria aquele show, a cratera repleta de gente...descer até o lugar do concerto era uma verdadeira aventura. Entrava-se por um túnel natural e depois descia-se por um terreno ingreme rumo ao centro da cratera que era onde estava montado o palco.

Uma hora e meia antes do início do show, acenderam tochas ao longo do percurso, desde a entrada do túnel até ao centro da cratera. Parecia cenário de um filme antigo, eu estava deslumbrada. Fiquei extasiada quando presenciei o ensaio geral. Uma pergunta não parava de me perturbar, como tinham conseguido aquela sintonia em tao pouco tempo?

Alguns minutos antes do início do concerto:

--O que achaste Cathe?

Skya estava ansiosa e mais linda do que nunca.

--Está perfeito...como conseguem Skya?

Ela sorriu feliz e me abraçou. Retribui com muito carinho.

--Conseguimos com muito treino, muita dedicação, muita briga e também abdicando e coisas que nos dão prazer, como ficar com uma mulher linda o dia todo num lugar lindo desse, ficar com a pele bronzeada e muito apetitosa...

Ela mordeu-me o pescoço e eu fiquei toda arrepiada.

--Estás linda Cathe...vontade de...

--Para.

--Parei...preciso de muita concentração.

Risos.

--E os músicos locais?

--Maravilhosos. O rapaz da percussão, o César, é uma figura única. Além de lindo e talentoso, ele ainda é simpático. Ele prometeu levar-nos para conhecer as maravilhas da ilha que vamos amanhã, ele é de lá...por falar nisso...

--Já consegui um lugar para ficarmos em Santo Antão.

--Wow! Sabia que conseguirias. Lá serei toda tua, desculpa meu bem por estar...

--Ei, para. Eu vim ciente do que seria a nossa passagem por essas duas primeiras ilhas, portanto sem pedidos de desculpas...assim sinto-me uma chata.

--Nunca. Eu jamais traria uma chata para uma aventura assim...lá nas montanhas seremos só nós duas...mal posso esperar.

--Eu também.

Beijei-a rapidamente na boca.

--Agora vá lá concentrar-se com o resto do pessoal que eu vou deliciar-me da plateia.

--Obrigada Cathe. Muito obrigada pela paciência, pelo companheirismo...por tudo.

--Boba.

Ela correu para o backstage e eu senti a vida pulsar em mim.

********************

O concerto foi um desses momentos raros que permanecem nas nossas memórias para sempre. A plateia parecia em êxtase e muitos olhavam admirados como se um evento daquela envergadura fosse um sonho quase impossível de realizar. O palco estava às escuras e de repente iluminou-se e todos os músicos estavam sentados à exceção do maestro e do primeiro violino que era uma moça. Com um pequeno sinal do maestro a cratera foi invadida por acordes quase celestiais. O público parecia delirar com a performance de Flor Formosa, a primeira peça a ser tocada. De tanto ver as partituras e ouvir os treinos de Skya eu já identificava todas as músicas dos concertos em Cabo Verde.

O público da ilha era diferente, interagia com a orquestra, gritava de satisfação, batia palmas, muitas palmas.

Skya ora atuava no violino, ora no contrabaixo, sempre perfeita, aos meus olhos, ouvidos, todos os sentidos.

O show em si era único pelo local, mas a imensa lua cheia que iluminava toda a cratera com sua luz prateada tornava o momento ainda mais inesquecível.

Vi-me muitas vezes em êxtase completo, esquecendo até de respirar...a cada peça muitas palmas, gritos de felicidade, peles arrepiadas, olhos brilhantes, corações vibrantes...no meu íntimo agradecia, pela oportunidade, pelo momento, pelo sentimento que me preenchia...e agradecia por ela, a mulher que viera para transformar meus dias sempre iguais em instantes de total arrebatamento...minha alma estava enlevada.

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--Eu não vou deixar-te aqui sozinha.

--Skya, é o teu trabalho e não estou tão mal assim, deixa de ser teimosa.

--Estás rouca Cathe, toda vermelha...

--Porque não tenho juízo e tomei muito sol e também pela mudança brusca de temperatura...eu sou doida por sol e esqueci-me dos limites.

Risos.

--Eu queria tanto passear por aqui, a ilha parece linda...já não vi quase nada da outra e queria que aqui fosse diferente...

--Vá para o teu ensaio e fique certa que eu fico bem. Só preciso de descanso e muito liquido. Ao final da tarde estarei lá na rua...

--Rua Lisboa.

--Exatamente, estarei na rua Lisboa para ver mais uma atuação da orquestra.

--Vai ser idêntica à de ontem...se quiseres descansar...

--Nunca é igual e não perco por nada. Só preciso dormir um pouco...

--Eu também estou cansada dessa maratona, não vejo a hora de poder descansar nessas montanhas. Viste que daqui da varanda é possível ver as montanhas de Santo Antão ao longe?

--Umhum, e só aumentou a minha vontade de conhecer...

--Ai eu também...estou feliz Cathe, muito.

--Eu também...

--Não tens a noção da minha felicidade...do tamanho dela...

Riu feliz apesar da dor de cabeça.

--Preciso ir, o César e a Amélie estão lá em baixo à minha espera e o resto do pessoal já está na academia Jota Monte onde vamos ensaiar. Tens a certeza?

--Sim...preciso descansar para mais tarde estar apta.

--Qualquer coisa me chama que eu venho voando.

--Ok madame.

Risos.

--Cuide-se e fique atenta às mensagens...não vou parar...

--Doida. Concentre-se nas partituras...

Skya beijou Cathe muitas vezes até sair pela porta gritando que já estava com saudades dela.

Catherine sentiu mais uma vez aquela sensação de vida invadindo cada partícula do seu corpo.

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Não precisaram de muito tempo de ensaio já que o espetáculo seria o mesmo. Afinaram apenas alguns pontos que na visão do maestro não tinham corrido da melhor forma no espetáculo do Sal e depois todos foram liberados para umas horas livres.

Quase todos os estrangeiros preferiram invadir as lindas praias da ilha. Os locais mas que não eram daquela ilha foram visitar parentes ou relaxar.

Skya ligou para Cathe que não atendeu, mas ela já tinha informado que dormiria. Sendo assim, aceitou o convite de César e Amélie para uma volta à ilha.

Estava fascinada pelo cenário da ilha árida e com uma luz única. Levaram-na para algumas praias mais distantes da cidade, onde muitos jovens praticavam desportos náuticos. Visitou a bela baía das gatas que àquela hora do dia estava repleta de gente.

No regresso à cidade, César avisou que seguiriam pelo litoral para que ela pudesse ver o outro lado da ilha, com praias mais selvagens, uma pintura diferente.

Skya fez inúmeras fotos, estava encantada. Enviou algumas a Cathe que até o momento ainda não tinha reagido. Enviou também aos amigos que tinham ficado em Boston, aos pais, enfim, espalhou fotos ao redor do mundo.

Os colegas da orquestra estavam elétricos, não só pelo show que aconteceria em algumas horas mas pela noite de muita festa na ilha. Estava a acontecer um festival gastronómico bastante famoso na ilha e depois da festa da comida acontecia a festa nos bailes, nas ruas, um pouco por todo o lado.

Skya seguia encantada com o belo cenário da estrada baía- calhau e com o pensamento longe embalada por Isnt she lovely (Stevie Wonder).

Sorriu ao lembrar de alguma coisa e tal não passou despercebido por César.

--Colega, saudades de casa?

--Não...

Sorriu...as saudades eram de alguém que estava por ali, dormindo à distancia de poucos quilómetros.

--Hmmm, então se não tem ninguém que a deixe com saudades, hoje vamos explodir na noite.

--Sim, Skya. A noite aqui ferve mas por essa altura do ano é uma loucura.

--Boa...

--Ah menina, mais entusiasmo, estás na terra da "sabura".

--"Sabura"?

--Nossa palavra para definir passar muito bem, diversão ao rubro.

--Wow...gostei, "sabura".

--Depois da orquestra vamos todos ferver. Amélie, ela vai amanhã para Santo Antão, então temos que mostrar todas as maravilhas da noite Mindelense.

--Skya, não ligues muito para essa criatura, ele é exagerado...César, ela vem do mundo, já viu muita coisa...

--Ah não Amélie, estou adorando tudo por aqui...é diferente.

--Vamos para o Nautilus, tem uma festa lá hoje à noite.

--É aquele espaço enorme na Marginal?

--Sim, não muito longe do teu hotel, assim podes enlouquecer e depois seguir para casa.

Risos.

--Não ligues, ele é doido e frenético...deve ser efeitos da percussão.

Gargalhadas.

--Ah e tu por acaso és uma mosca morta? Skya, essa menina é completamente doida, não sossega.

Risos.

--Já percebi que por aqui as pessoas são quase todas muito elétricas, vivas, sempre sorrindo...

--Umhum...e atiradas também. Ainda não te pediram em casamento?

Gargalhadas altíssimas.

--Não...mas não estou muito inclinada para esse tipo de coisa.

Risos altos e Skya quase engasgando de tanto rir.

--O César é quase um Don Juan, e ele adora estrangeiras...

--Ah, mas fique tranquila Skya, aqui por enquanto é só amizade, afinidade...

Risos.

--Ele gosta de mulheres um pouco mais velhas e com cara de fatal, dessas que fingem não estar a perceber nada mas que depois...

--Wow...sei bem como são...

--Mas estou calmo ultimamente...

--Coração ocupado?

--Nem por isso, mas digamos que a ultima investida deixou marcas fortes...

--Hmmm...

Amélie riu muito.

--Sabe Skya, esse louco foi tocar numa orquestra em Berlin e inventou de se apaixonar pela mulher do maestro...ele é esse monumento que vês e a mulher não resistiu...maior confusão.

Gargalhadas.

--Por isso tirei férias...forçadas.

Risos.

--Mas hoje vais dançar quizomba comigo, ou não?

--Claro que sim, adoro.

--Ele dança muito bem.

--Eu aprendi em Lisboa há um tempo atrás e nunca mais pratiquei...estou doida para dançar novamente.

--Encontraste o melhor par da ilha...alem de exímio percussionista, ele dança como ninguém, além de outros predicados.

Risos.

--Amélie, assim a Skya vai pensar que sou um Deus.

Gargalhadas altas.

--Vocês já tiveram uma aventura caliente?

--Nãoooo.

Gritaram juntos.

--Esse pateta é meu primo...ah vá se acostumando, aqui em Cabo Verde quase todo mundo é parente.

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O concerto na rua de Lisboa, o local mais emblemático daquela ilha, foi simplesmente perfeito. A rua estivera apinhada de gente para curtir música clássica que não era exatamente o tipo de música que a grande maioria da população estava acostumada. Contudo, o encontro do clássico com o tradicional, a percussão, o coral, a mistura fizera daquela orquestra algo único e muito bom.

Depois do concerto, das entrevistas, muitas fotos, o grupo dispersou-se.

Skya e Catherine contaram com a companhia de Amélie, César e mais três elementos do coral para jantar.

Depois do jantar foram desbravar a noite de Mindelo, como Skya descrevera o périplo pelas ruas da cidade. Ela não parava de repetir que queria dançar quizomba e César estava disposto a fazer-lhe a vontade.

Ela parecia muito feliz e Catherine percebeu. Pulava nas ruas, ria muito, se encantava com pequenas coisas e sorria para todo mundo. Vez ou outra olhava para Catherine com tamanha profundidade deixando-a à flor da pele.

Skya comprou uma garrafa de champanhe e algumas taças de acrílico e distribuiu a bebida para os companheiros e para algumas pessoas nas ruas, sempre sorrindo.

Finalmente chegaram ao espaço onde queriam encerrar a noite e onde Skya mataria sua vontade de dançar quizomba.

No momento aconteciam alguns shows e bandas diversas revezavam no palco.

Catherine não teve nenhuma dificuldade em se aproximar dos novos amigos de Skya e já se divertia muito com eles. Ela que adorava as noites, musica e gente bonita, estava feliz em estar ali. Amélie fazia as honras da casa e comentava tudo, explicava tudo o que acontecia. Tudo corria muito bem.

Uma banda formada por um rapaz e duas moças, subiu ao palco e logo começou uma gritaria. Fãs, muitos fãs.

--Eles são a sensação do momento...jovens e outros nem tão jovens assim, como eu -Risos. - Não param de cantar as suas músicas.

--Que gente linda.

--Sim...mal da nossa terra.

Gargalhadas.

--Estou mesmo a ver que sim, mas é verdade, só vi gente bonita até agora.

--Aqui é a ilha das mulheres mais lindas de Cabo Verde.

-Então tu estás no paraíso.

Risos.

--Nem por isso...eu gosto de outro tipo de mulheres...gosto de contraste...

--Sei, gostas de brancas...não deixas de ter bom gosto.

Risos.

--Não que goste apenas de brancas, mas é como disse, adoro contrastes...a tua amiga, ela é lindíssima.

--Umhum...vou lá buscar uma bebida. Queres alguma coisa?

--Vodka e pelo amor de Deus beba algo que não apenas água tónica com limão.

Skya saiu do local sorrindo e ao mesmo tempo pensativa. Olhou ao redor e viu Catherine conversando com Amélie e mais duas pessoas. Ela sorria e parecia estar bem.

Na volta para o local onde César a esperava, percebeu para a sua alegria que Cathe e as outras mulheres também lá estavam.

A banda começou a próxima música e o barulho do coro dos frequentadores do bar tornou-se quase ensurdecedor.

Parecia um hit, todos sabiam cantar e acompanhavam com as mãos na altura. O coro era repetido e com muito entusiasmo.

--O que significa essa frase?

--Qual?

--Dod na bo?

-- I love you! É a nossa forma de dizer eu te amo.

--Lindo.

--Dia por dia n´ta mas dod na bo, dod na bo...a cada dia eu me apaixono mais por ti, eu te amo.

--Nossa, não consigo dizer...dia...

--Eu ensino-te, mas dod na bo é fácil, não é?

--Dod na bo...soa estranho, mas é bonito.

--Mais lindo na tua boca.

Risos.

--Não é cantada, sou um sedutor nato...mas confesso, estou interessado na tua amiga, que mulher sexy...linda. Ela veio sozinha?

--Comigo...vamos dançar quizomba?

Foram para a pista dançar. Aquele interesse de César por Catherine estava começando a incomodá-la mas não sabia como agir...

********************

Eu estava fascinada pelo ritmo que Skya e o amigo dela dançavam, aliás eles e muitos outros pares. Era sensual, lindo, um entrosamento que mais parecia sexual...eu queria aprender mas para dançar com Skya. Tive vontade de rir de mim, mas fazer o quê se a ideia já estava solidificada na minha cabeça...queria aprender para dançar com ela, aquela sensualidade com que ela mexia aos comandos do rapaz deixava-me doida...um pouco mais.

Depois de umas três músicas seguidas eles vieram para junto de mim e Skya parecia-me mais linda do que nunca. Estava vermelha, com a respiração alterada...melhor não olhar muito para ela ou o bar inteiro saberia o que estava a fim de fazer naquele instante.

O amigo dela pediu-me que dançasse com ele. Eu?

--Ai não levo o menor jeito para isso.

--Eu ensino-te e garanto que aprendes depressa.

--Vá Catherine, além de muito bonito, ele é excelente dançarino. - Disse Amélie.

--Vou confiar em ti Amélie...se ele for tão bom a dançar quanto é bonito até eu aprendo.

Ouvi risinhos atrás de mim e segui para a pista com o galã.

Depois da segunda música eu comecei a me arrepender da ideia de aprender o tal ritmo. Não conseguia ver Skya em nenhum lugar do bar e o rapaz parecia querer mais alguma coisa alem de me ensinar a dançar.

Meia hora depois eu não aguentei mais. Ficou claro o que ele queria e tive que me controlar para não ser estupida. Nada de Skya. Ninguém sabia dela e uma sensação estranha tomou conta da minha garganta. O pessoal continuou a divertir-se como se não houvesse amanhã e eu senti uma sensação de desconforto crescente tomar conta de mim.

Com algum sacrifício saí do bar, a essa altura já estava com muita raiva. Ela tinha ido para onde? Com quem? Sem me avisar? A raiva quase me paralisou...raiva de mim.

Comecei a caminhar na marginal em direção ao hotel que não ficava muito distante quando vi Skya sentada num banco de pedra que ainda ficava nas instalações do empreendimento, na parte de fora. Ela estava sozinha e tinha a cabeça encostada a um tronco de madeira que fazia parte da decoração.

Não sei definir as emoções que me invadiram naquele instante...muito complexo, completamente novo.

Passei por ela e não disse nada...estava com raiva. Também não sabia o porquê de tanta raiva...ela tinha saído e me deixado sozinha num lugar onde não conhecia ninguém...minha cabeça fervia.

Andei depressa em direção ao hotel.

--Ei...Cathe, espera...Cathe.

Ela me alcançou e passou à minha frente.

--Vais embora?

--Não te parece óbvio?

--O que foi?

--Ainda perguntas...ah Skya, pelo amor de Deus.

--O que foi?

--Nada!

--Deixa de ser assim...aconteceu alguma coisa?

--Nada demais...apenas me deixaste sozinha num bar com gente que nunca vi na vida, numa ilha onde jamais coloquei os pés...só isso.

Ela suspirou parecendo perder a paciência.

--Falas como se fosses uma menina indefesa...estavam todos a divertir-se. Ele ria, tu rias junto, dançavam...

Olhei para ela sem entender ou então não querendo entender o que parecia uma insinuação de que...melhor nem concluir esse pensamento.

Andei mais depressa ainda e em pouco tempo cheguei ao hotel. Ela não permitiu que eu subisse ao quarto, pediu que conversássemos no lounge e fui mesmo contra a minha vontade.

Sentei num sofá completamente irritada e sem paciência...aquilo tudo parecia-me surreal.

--Cathe, não estou a entender...

Ela parecia-me cansada, o brilho habitual nos olhos havia sumido. Também nem sei como percebi isso tudo...

--Skya, vou ser clara. Estávamos muito bem, depois do concerto, saímos para jantar, me apresentaste aos teus amigos, fomos dançar e tudo corria bem até ao momento em que me senti sozinha num lugar onde não conheço ninguém. Procurei-te por todos os lados e nada...pensei mil coisas...custava dizer que ias lá para fora tomar ar ou sei lá o quê? Custava?

--Eu estava cansada...pensei que estivesses a gostar de estar com o César...

Fiquei muda, sem reação. O que aquela frase significava? Não...eu não podia acreditar no que os meus ouvidos ouviam...

--Eu a gostar de estar com o César...que eu queria ficar com ele? Que eu queria ter alguma coisa com aquele rapaz?

Minhas palavras saíram sem que as articulasse bem.

Ela maneou a cabeça afirmativamente. Sem brilho, derrotada...perdida.

Levei a mão à boca, bati com a cabeça várias vezes...eu não conseguia acreditar que ela tinha pensado naquela possibilidade.

--Preciso ficar sozinha...vou para o quarto...por favor, preciso ficar sozinha.

Ela não se mexeu na cadeira e eu subi os três lances de escada com as pernas pesando toneladas.

********************

Passei muito tempo trancada no banheiro. Chorei de raiva, chorei sem saber a razão...poucas vezes chorava na vida mas naquele instantes as lágrimas serviram para aliviar o peso no peito. Deixei a água cair na minha cabeça, precisava aclarar as ideias.

A princípio nada fazia sentido, nem o que pensava muito menos o que sentia. Estava com raiva de Skya por ter pensado aquela asneira mas ao mesmo tempo queria abraçá-la, acalmá-la, devolver-lhe o brilho aos olhos...que confusão.

Com o passar dos minutos as coisas foram ganhando outra perspetiva e a minha experiência de vida valeu-me de alguma coisa. Eu não entendia muito daquela imensidão que me invadia, mas entendia alguma coisa da vida e de certa forma entendia Skya.

Ela não me conhecia tão bem como eu me conhecia...eu sabia que não queria absolutamente nada com o César e nem com mais ninguém, pelo menos naquele momento a minha realidade era aquela, queria Skya e ponto. Mas claro que era legitima a insegurança dela...bem legitima. Até ela invadir a minha vida e mudar a ordem de todas as coisas, César seria uma vítima legítima da Catherine devoradora e desapegada...

Saí do banheiro, vesti uma camiseta de algodão, peguei uma garrafinha de água e dirigi-me à varanda. Precisava aclarar melhor as minhas ideias para poder conversar com calma. Susan tinha razão, era necessário exteriorizar algumas coisas...

Ela entrou no quarto e foi direto para o banheiro. Algum tempo depois saiu, bebeu água e deitou na cama.

Eu esperava que ela viesse conversar comigo, seria mais fácil...mas ela não veio e eu não poderia dormir sem conversar, não conseguiria e não queria.

Ainda permaneci algum tempo na varanda mas tive que entrar no quarto, eu não queria que ela dormisse, embora tivesse quase certeza que ela não dormiria sem que trocássemos algumas palavras.

Entrei no banheiro, lavei o rosto, olhei-me ao espelho...queria saber exatamente o que dizer, o que perguntar mas não sabia...escovei os dentes.

Não sabia o que perguntar mas algo precisava ser dito...

Liguei a música que ficava ao lado da cama...hábitos dela e que agora eram meus também...o quarto estava banhado pela luz natural da lua cheia.

Deitei-me, a cama pareceu abraçar-me. Era boa aquela sensação...por alguns instantes naquela noite pensei que dormiria sem ela, sozinha, mas ela estava ali, ao alcance da minha mão...coloquei minha mão nas costas dela, ela não se mexeu.

Cheguei perto e a abracei. Eu adoro fazer isso, como adoro essa sensação do meu corpo colado ao dela.

--Skya...Skya, podemos conversar?

Ela virou-se para mim e tinha os olhos vermelhos. Senti aquelas coisas todas, a necessidade de protegê-la, de abraçar até ela ficar bem...

--Eu sou infantil...desculpa-me...

--Não...podes ser qualquer coisa, menos infantil...

--Eu fiquei com...fiquei...

--Pensaste que eu queria alguma coisa com o César?

--Sim...ele queria muito alguma coisa contigo e por momentos pensei que...

--Skya...e se eu quisesse alguma coisa com ele?

Ela encarou-me com uma aflição tão grande nos olhos mas a resposta verbalizada surpreendeu-me.

--Tudo bem...

--Tudo bem o quê?

--Tudo bem.

--Não te importas que eu fique com outras pessoas?

--Claro que sim, mas eu sei que gostas de homens...quando eu te conheci tu...tudo bem.

Aquela menina me surpreendia, eu não sabia mais o que dizer e muito menos o que pensar...

--Claro que eu morro de ciúme, morro a verdade é essa, mas se para ficares comigo precisares ficar de vez em quando com outras pessoas...aiiiii, eu nunca pensei dizer isso na minha vida e não tens a noção de como dói, pensar, imaginar...mas dói mais ainda pensar que podes ficar com outras pessoas, com homens, sem que eu saiba...

--Eu nunca faria isso...jamais.

--Eu acho que sei...eu sei que não...mas sei que podes ter vontade de...

Coloquei minha mão na boca dela. Eu precisava falar...queria falar...

--Eu não queria absolutamente nada com aquele homem...nada. Só queria ser simpática com alguém que aparentemente gostas, queria ser simpática com pessoas que foram simpáticas contigo...só isso.

Ela me olhou com os olhos brilhando e senti meu coração alvoroçar.

--Eu nunca fui insegura, mas eu sou insegura contigo...tento controlar mas às vezes é mais forte...

--Eu também tenho meus momentos de insegurança...vais rir de mim e até eu rio das minhas loucuras...mas és insegura com os homens que achas que possam me atrair e eu sou insegura com as mulheres lindas que te cercam por todos os lados.

Ela riu e escondeu o rosto no meu peito...como eu gosto disso.

--Eu sou insegura, ou fico insegura contigo, mas não sou neurótica...hoje a coisa foi um pouco mais forte porque estou muito cansada e o cansaço deixa-me muito vulnerável...e o César todo atraente doido por ti e ele parece ser o tipo de homem que gostas...

--E é...há um tempo atrás ele seria um alvo a abater como diria o Yourgos...não tenho muito orgulho em dizer isso porque hoje eu sei o quão vazia era a minha vida...mas hoje Skya, sinceramente, sinto preguiça só de imaginar certas coisas e a culpa é tua por mostrar-me outras bem melhores...

Risos.

--Eu sou burra...sofri atoa?

Foi minha vez de rir às gargalhadas.

--Eu estava tao feliz...estou muito feliz. Lá no concerto, teve um momento em que consegui ver-te na plateia...obrigada.

--Porquê?

--Por me fazeres tão feliz, por estares aqui comigo...por ter aceitado esse convite que eu fiz com tanto carinho, com tanta vontade que dissesses sim, mas com poucas esperanças...e no entanto estás aqui comigo...eu posso estar iludida, eu posso ser infantil...sei lá, mas a sensação que eu tenho é que...que...

--Que?

--A sensação que eu tenho é que queres tanto quanto eu que isso dê certo...que vá para a frente...acho que queres muito que eu me sinta bem e não tens a noção do quanto eu prezo o teu bem-estar...isso é gostar muito de alguém...eu gosto muito de ti Cathe...muito...tanto...

--Eu também e estás certa em tudo...tudo.

--Eu tenho medo de te assustar com a intensidade das coisas que sinto...eu tenho medo quando fico muito feliz de dizer coisas que podem te assustar...já tivemos uma experiencia estranha...quando eu brinquei sobre casamento, mas eu brinquei porque estava muito feliz naquele momento...

--Aquilo já passou Skya...já estamos noutra fase...ok?

--Ok! Mas eu fiquei com medo de perder o controle das minhas emoções e não tive coragem de dizer que hoje era meu aniversário...eu estava tao feliz por poder passa-lo contigo e fazendo das coisas que mais gosto...

--Hoje é teu aniversário?

--Ontem...sim...26 anos.

--Eu não acredito...Skya.

--Desculpa...às vezes sou muito esquisita, mas é sempre com a melhor das intenções.

Não consegui ficar com raiva dela, eu nunca conseguia...

--Mas brindamos com champanhe...

--Ás cegas e com taça de acrílico...tem muita graça.

Ela riu de mim e eu senti-me feliz...muito feliz.

--Eu nem te dei um presente...

--Ahhh, deste sim...

--Sim?

--Estás aqui comigo e vamos amanhã...daqui a algumas horas para um paraíso onde não vou precisar ensaiar para concertos e tu nem vais estar a pensar em marketing, clientes, concorrentes...

Abracei-a e gemi de felicidade.

--Mas podes dar-me um presente já que fazes tanta questão...

--Hmmmm...o quê?

--O melhor de todos...aquele que me deixa sem ar, nas nuvens, ardendo, tremendo...

Ela já estava em cima de mim, mexendo, me provocando...quando nossos lábios se tocaram eu senti uma sensação diferente, quase incontrolável...boa, muito boa. Inverti a posição e com a minha boca colada na dela, tirei-lhe a blusa...ela mordeu-me os lábios e agarrou-me com força, com os braços, as pernas. Arranquei minha camiseta e nossos corpos grudaram-se...eu não queria sair dali, nunca mais.

Ela me olhava nos olhos e pedia beijos na boca...eu dava, dava tudo...a língua dela na minha...Skya era perfeita na arte de beijar, eu não parava de gem*r e ela gemia junto...as mãos queimavam na minha pele...eu queria mais...eu não sei como, mas ela deslizou por baixo de mim e encontrou meus seios ávidos pela sua boca...ahhh adoro quando ela para e olha, beija, assopra, beija de novo, morde e assopra e contorna com a ponta da língua e depois mama com vontade...ahhh eu não penso em nada, minha cabeça roda, meu corpo clama por mais, sempre mais...de repente eu comandava de novo e ela gemia, mordia meus braços, minha boca e arqueava o corpo para mim...estávamos nuas, completamente nuas e com os corpos em brasa...eu queria muito, ela também...Skya é mestre na arte de fazer amor e eu sou uma fiel aprendiz...ficamos de lado na cama...meu corpo exalava prazer, volúpia, tesão...o dela também. Com uma perfeição que me desconcertava, ela pegou a minha mão e levou para o meio das suas pernas e a dela foi para o meio das minhas...enlouqueci, abri-me toda...minha mão ganhou uma destreza que eu não sabia que tinha...nossos movimentos sincronizados, nossas bocas coladas, seios idem, corpos suados, ardendo...ardendo...senti minha respiração falhar, ela mordeu-me com força, parecia controlar-se, eu não podia mais...não mais...gritei alto, apertei a mão dela no meio das minhas pernas, mexi tanto que senti os dedos dela deslizarem para dentro...ah eu ia morrer...morrer de prazer...os dedos dentro de mim...eu dentro dela...ela revirou os olhos e gritou...eu contorci-me toda....depois tremi...tremi tudo...fiquei com a boca seca, ela beijou-me, mordeu-me os lábios, beijou de novo...grudou-se em mim, o corpo tremendo contra o meu que reagia da mesma forma...eu tive vontade de chorar tamanha era a minha felicidade naquele momento...jamais tinha sido assim, jamais eu me entregara assim...eu era dela, somente dela...

Algum tempo depois eu não conseguia abrir os olhos...sentia a ponta dos dedos dela na minha face, no meu colo, nos mamilos, na barriga...sabia que ela sorria...eu estava em êxtase absoluto...num mundo perfeito, no nosso mundo.

--Tudo bem?

Ela perguntou com aquela voz rouca de amor dentro dos meus ouvidos...o mundo às vezes era um lugar perfeito.

Minha resposta foi apertar-me mais nela e gem*r baixinho. Eu sabia que ela sorria, mas meus olhos não abriam...êxtase profundo.

--Dia...dia...

--Hmmm?

--Dia por dia, n´ta mas dod na bo (a cada dia eu me apaixono mais por ti).

Abri os olhos e sim, ela sorria e me olhava como se eu fosse um diamante raro...meu coração quase explodiu no peito.

--Que língua é essa? E o que significa?

--Descubra...ainda tens alguns dias...

Sorri.

--É a língua daqui?

--Umhum...

--Não tenha dúvida que vou descobrir...

--Eu sei...

--Skya...eu não quero o César e nenhum outro homem...hoje minha verdade é essa, certeza absoluta.

Fechei os olhos para receber o melhor beijo de sempre. Ela tinha a capacidade de dizer-me coisas com beijos, toques, olhares...quisera eu ter essa capacidade...

Adormecemos abraçadas ouvindo Joy i call life (Sia).

 

 

Fim do capítulo