Capítulo 2 - Eclipse do Coração - Parte 2
No dia seguinte, levantou-se com a mesma sensação com a qual foi dormir na noite anterior, mas não ligou muito pra isso. Teria um dia extremamente puxado pela frente, trabalhou por muito tempo no seu projeto de teste com átomo.
Chegou em casa exausta não agüentando mais nada. Encontrou um bilhete juntamente com sua apostila, que foram colocados em seu apartamento por baixo da porta e dizia:
“Pensei que fosse a única maluca do pedaço, mais tentei ler um trecho da sua apostila e quase fiquei louca, tentei imaginar uma ursa química, embora seja demais para minha cabeça (brincadeirinha). Bem vinda ao prédio!!! Precisando de algo... Meu apartamento não está tão longe do seu... Me procure.”
Clara lembrou-se que quando ouviu falar do Eclipse estava estudando sua apostila e ao receber o convite levou a mesma até a casa de Sarah e o pior esquecera lá e nem sentira falta. Sorriu. Até se espantou com tamanha felicidade por um simples contato humano: “Meu Deus, eu devo estar muito carente de amigos...”
Começou a jantar quase que duas horas depois que chegou em casa, pois teve que fazer a comida. Detestava comer sozinha, mas antes que a saudade da tia viesse, tratou logo de correr pra frente da tv com a panela de comida nas mãos, não pretendia voltar a ficar do mesmo jeito que estava antes do eclipse.
Era sexta-feira à noite e precisava se distrair, nada de ficar em casa remoendo um passado que fora bom, e que não voltaria mais. Infelizmente estava sendo difícil mais tinha que superar a perda, as perdas que a vida lhe impunha. Vestiu-se e destinou-se para uma boate GLS. Dançou até cansar, e decidiu ir até o bar pegar mais uma bebida... Quando alguém se aproximou e tentando vencer a música, juntou-se, colando no ouvido de Clara.
- Você é muito gata sabia. – Um sorriso malicioso e que prometia mil loucuras, foi isso que Clara avistou quando olhou para a loira muito bem produzida e extremamente feminina que estava ao seu lado. Imaginou-se beijando aqueles lábios carnudos e se arrepiou, a olhou e pensou como predadora.
- Não fala assim, no meu atual momento sou capaz de me casar com você...
Surpreendentemente, Júlia puxou Clara para um canto escuro do salão e lá lhe deu um beijo de tirar-lhe o fôlego. A excitação foi em questão de segundos. Sem mais meias-palavras saíram da boate para um lugar mais calmo... A casa de Júlia.
Em meio à empolgação, não levou muito tempo para que as roupas de ambas estivessem espalhadas pelo chão. Júlia deliciou-se com aquele corpo, que parecia estar a sua espera. A penetrou com vontade. A loira se agarrou a ela, com satisfação. Suspiros, gemidos, línguas, ch*pões, braços, pernas e desejo, muito desejo. Transaram até ficarem exaustas. Adormeceram!
Clara acordou, já passavam das 8 da manhã. Vestiu-se e foi embora.
Chegou em casa, largou as roupas pelo caminho, precisava de um banho urgente e depois cair na cama. Entrou no banheiro e um pequenino pensamento ganhara forma e consistência desde que deixara o apartamento da loira que nem sequer tivera tempo de perguntar o nome.
- Que rumo é este que tem dado a sua vida? Isso tudo é medo de achar bom? De se envolver? Que coração é este que parece nem existir?
O que não compreendia era que a famosa frase “Você está escolhendo demais”, que sempre ouviu de todos, não estava correspondendo à verdade. Ela não estava escolhendo, mas seu coração parecia não querer sofrer ou sabe lá de que tinha medo. “Se pelo menos minha tia estivesse aqui, ela sim saberia me entender, me apoiaria”. Dormiu... Uma noite tranqüila e sem muitas novidades, exceto o sonho que tivera com um eclipse.
Na manhã seguinte, acordou com alguém batendo à sua porta:
- Olá, vizinha sei que disse que caso precisasse poderia me procurar... Mas acontece que quem está precisando sou eu!!!
- Olá Sarah desculpe a minha cara, é que acabei de acordar. – Estava sonolenta.
- Desculpe-me você, por eu chegar assim tão de repente; Não queria atrapalhar seu sono. – Sarah já estava visivelmente constrangida, e já estava “batendo em retirada”, não queria amolar sua vizinha...
- Em que posso te ajudar? – Perguntou sorrindo e puxando Sarah para dentro de seu apartamento...
- Um pouquinho de pó de café seria de muito bom grado, pois só poderei comprar na hora em que for sair para trabalhar. – Soltou de uma vez.
- Venha e sente-se comigo! Tomamos café juntas, o que acha?
- Uma excelente idéia!!!
Clara se retirou por um tempinho para lavar o rosto e se arrumar. Logo na volta, enquanto preparava o café.
- Este cheirinho é revigorante, não é?
- Com certeza. E então como foi o fim de semana? – Perguntou para puxar assunto e saber um pouco mais sobre a vizinha. Sem saber o porquê gostaria de estender aquele momento.
- Foi prazeroso, Sarah! – Mentiu em parte, despudoradamente. - E o seu?
- Trabalhoso!!! Quanto mais os dias passam mais trabalho eu tenho.
- Menina eu quase não te vejo...
- É que meu horário de trabalho é um pouco confuso... Houve uma época em que eu tinha hora para entrar, mas não tinha pra sair, hoje em dia nem isso eu tenho. A hora em que eles precisarem de mim, tenho que estar de prontidão. Mas gosto do que faço.
- Que bom que você gosta do que faz... Namora? – “Puta, que pergunta é essa? Entrei de sola, não na verdade só estou interessada em constatar que o pobre do namorado dela tem pouco tempo para vê-la.”
- Eu posso dizer que tenho um caso! – Disse de forma intrigante.
- Como assim um caso, ele é casado? – Perguntou curiosa.
- Não, é que não é nada muito sério. Entende? – Sorriu desfazendo o mistério
- Entendi... - “este cara é um cara de sorte”. Pensou involuntariamente - Eu também tenho alguns casos... E nada sério.
- Nenhum cara fixo? – “Nunca fui curiosa com a vida alheia, aliás, detesto isso. Porque então ser curiosa a ponto de nem tentar disfarçar?”
- Vou te contar uma coisa antes que você descubra sozinha... – Clara encheu os pulmões de ar, toda vez que decidia fazer isto se expunha. Mas em seu modo de ver as coisas este era o único jeito de ser leal consigo. - Eu sou lésbica, sendo assim você nunca vai me ver com um cara.. E sim com alguma garota.
- Nossa! Você foi muito sincera, gostei disso... – Sarah ficou momentaneamente sem reação, estava admirada pela maneira a cartas na mesa. - Não tem medo de se revelar desta forma?
- Já tive, mas aconteceram coisas piores por eu não me revelar... – Em um rápido flash lembrou-se de um dos momentos. Ao cair em si, viu aquele par de olhos castanhos vidrados em sua direção a espera de uma resposta, os encarou por algum momento. - Tive grandes amizades e nunca quis me revelar, o que acabou acontecendo? Uma delas quando descobriu, achou que não fui leal, pois ela tinha o direito de escolher ser amiga de uma homossexual ou não.
- Ela nem levou em conta a amizade de vocês? – Perguntou sensibilizada.
- Não, foi como se enquanto ela pensava que eu era hetero, servia para ser amiga dela, depois que descobriu que sou homo passei a não servir mais...
- Nossa que falta de sensibilidade, você deve ter sofrido muito, né?
- Muito, pois confiava demais nela e ela foi a minha primeira melhor amiga, nunca havia olhado com outros olhos para ela... Por isso decidi contar às pessoas que me conhecem, prefiro ser rejeitada antes da ligação afetiva com o meu rejeitor, sendo assim se quiserem ser meus amigos saberão que estão sendo amigos de uma mulher que gosta de mulheres e que adora isso.
Sarah estava admirada, de repente se encheu de orgulho de uma desconhecida, estava fascinada e encantada... Que coragem. Que mulher.
Daquele dia em diante tornaram-se grandes amigas, e deram inicio naquele ritual de café da manhã, que se repetiria por todos os dias.
E num certo dia, sem muito que fazer, Sarah achou que deveria fazer um balanço de sua vida e para sua surpresa se descobriu apaixonada por Clara, que continuava a ter suas aventuras, mas desconhecia a paixão que sua amiga lhe devotava em segredo. E ainda não fazia questão de torná-la conhecida.
Fim do capítulo
Obrigada pelos comentários. Segue mais um capítulo desta saga de desencontros, rsrs.
Beijos.
Ps* No site Livre Arbítrio a história foi postada como "Eclipse das Almas", mas minha mãe fazendo a oração para as almas me fez rever o título, rsrs. Bobagem minha, rsrs.
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