Capítulo 3 - Sentimentos e Descobertas
No presente as coisas não caminhavam muito diferentes entre elas...
No sábado... Como havia sido combinado:
Assistiam ao filme, não tão compenetradas, pois Clara estava com um ar de moleca travessa. Sempre se sentia assim quando estava ao lado de Sarah.
- Quando vou conhecer seu namorado? – Perguntara novamente.
- Ele não é meu namorado e você sabe disso... – Resmungou Sarah, pela milésima vez. – E eu quero prestar atenção no filme, caso ainda não tenha notado. – Disse jogando a almofada nela e deixando escapar uma risadinha.
- Desculpe, mas quando irei conhecê-lo? Vocês já estão “ficando” há quase oito meses, e eu nem sei quem é o sujeito, ele precisa passar pela minha aprovação, sabia? – Resmungou, Clara. Parecia infantil mas o fator de Sarah se recusar a falar sobre o namorado a estava deixando chateada.
- É impressão minha ou os papéis se inverteram por aqui? Quem cuida de você sou eu, esqueceu? – Retrucou Sarah, desistindo de vez do filme, sabia que enquanto a amiga estivesse com esta curiosidade não a deixaria em paz.
- Não mãe, eu não esqueci, mas é que estou curiosa... Não conheci nenhum dos caras com quem você saiu. – Disse, demonstrando uma aparente chateação.
- Eu também não conheço nenhuma das mulheres com quem você sai. – Sorriu, por ver a amiga momentaneamente sem fala, mas que pela cara, preparava o contra-ataque.
- É porque eu não tenho nenhuma fixa. – Disse ironicamente.
- Não fica nem vermelha de dizer uma coisa dessas, né?
Sarah via-se na obrigação de interromper aquele assunto, que para ela entrava em terreno perigoso. Ao olhar pela janela viu-se salva por um arco-íris.
Era um fim de tarde gostoso, típico de primavera.
Ao acompanhar o olhar de Sarah, Clara avistou o arco-íris e levantou-se.
- Nossa, fazia tempo que não via um desses. – Sarah sorriu “salva pelo gongo” e respondeu
- Então verá de um jeito que nunca viu...
Foram até o apartamento de Sarah pegar seu equipamento de astronomia, para que pudessem apreciar melhor o fenômeno que estavam presenciando.
Clara viu as cores com uma nitidez que nunca vira era muito lindo. Aquele arco-íris tinha gostinho de infância.
- Você nem deve ligar mais para este acontecimentos naturais, né?
- Aí é que você se engana, é lindo e embora eu já tenha cinco anos nesta área ainda não enjoei.
- Por que o arco-íris só aparece de vez em quando?
- Este tema foi minha tese de mestrado na universidade, e descobri que não é um fenômeno tão raro quanto parece, às vezes ocorre de o ar estar tão poluído que não conseguimos enxergar.
- Não acredito... Aonde a humanidade vai parar, se priva de um fenômeno deste por causa da ambição e da sede de dominar a natureza.
- Sim! Eu acredito que há um preço a se pagar por todas as nossas escolhas. Neste caso não é muito diferente. Mas, seu mundo cheio de átomos e moléculas também deve ser bastante encantador. “Meu Deus, que olhar é esse? Por que eu teimo e a faço tão próxima à mim. Por que tenho essa vontade louca de mostrar a ela as coisas de forma diferente? Por que será que não me contento com que ela me oferece, sua amizade incondicional?”.
- E é! Adoro o que faço. Qualquer dia desses a levarei em meu laboratório. – respondeu Clara, alheia aos pensamentos da ruiva ao seu lado.
O Arco-Íris desapareceu e elas voltaram a se concentrar nos filmes.
De repente, perdida em seu pensamento, Sarah notava a mudança que sua vida, seus sentimentos, seu mundo... Tudo que a cercava havia mudado desde que conhecera Clara. Seu cheiro era bom, sua voz era gostosa, seus olhos, senso de humor... “minha estrela pessoal, favorita” ao pensar nisso suspirou, “todos os fenômenos naturais ficam majestosos quando estou com ela”.
- Você está bem? - Perguntou Clara, intrigada.
Sarah, voltou a si e sorriu.
- Estou muito bem!!! – Disse corando.
- Parece que você viajou agora, foi longe e voltou!!!
- Não fui tão longe assim – “mal sabe que não saí de seu lado” – É que de repente gostaria de ter mais coragem para encarar os acontecimentos. – Soltou, logo se arrependendo, pois sabia que se Clara estivesse atenta, não deixaria aquele comentário escapar sem fazer perguntas.
- O que está havendo? O Ricardo não está te tratando bem e você não tem coragem de dar um basta na situação?
- Ele é um amor!!! “Ela, de fato, não tem ideia do que sinto...”
- Mas...? – Clara ficou curiosa.
- Acho que estou me encantando por um outro alguém... - “Ê boca...” – Vamos mudar de assunto?
- Ah, quero saber quem é!!!! Conta-me?
- Não! “É você sua tola, quem mais poderia ser?”.
- Parece ser um não definitivo?!? – Perguntou com ar de moleca.
- E é!!!
- Que carrasco... – Ambas caíram na risada.
A sala voltou a ficar em silêncio, porém a partir daquele momento Sarah passaria a ser observada atentamente por Clara.
“O que se passa com ela? Por que não quer me contar por quem se apaixonou? Ou o que será que este Ricardo não tem?” Clara ficou intrigada, sem saber ainda qual o motivo exato que a levava àquela inquietação. Olhou, pela primeira vez, os lábios de Sarah, de maneira diferente “Carnudos na medida certa, vermelhos, gostosos... Epa, está na hora de parar com o delírio... É sua amiga” Mal sabia Clara que a partir do momento que se deixara pensar em Sarah de uma forma diferente, daria espaço para algo teimoso dentro de si, que só iria crescer e tomar formas.
De repente Sarah a flagrou admirando-a e com um sorriso encantador nos lábios disse:
- Não adianta ficar me encarando, porque eu não vou contar...
- É mesmo? - Respirou aliviada, pois Sarah nada havia percebido “Meu Deus, se esta mulher percebe que tive estes pensamentos a respeito dela, me mata!” O coração de Clara foi aos saltos num segundo.
- O que foi? Você ficou muda?
- Impressão sua!
Fim do capítulo
Obrigada pelo carinho e comentários.
Beijos
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]