Tive que deixar minha cabana antes de Skya porque do contrário ela se atrasaria para a viagem e isso era tudo o que eu não queria que acontecesse.

 

Já estava com a consciência pesada por ela ter vindo até mim quando precisava estar focada no seu trabalho e ainda tinha minha falta de capacidade para resistir aos encantos daquela mulher...claro que fizemos amor ao acordar...duas vezes e por mim ainda estaria na cama...

 

Fizemos amor...não pude evitar um sorriso, aliás ele vivia estampado na minha face. Fazer amor era aquilo? Eu sempre fiz muito sex*, até com os poucos namorados que tive sempre a relação foi pautada por sex* voraz, sem muitos momentos dos que vivia com Skya, sem nenhum momento como os que vivia com Skya. Eu fazia sex* com ela, mas era algo que superava apenas o encontro de corpos, pelo menos para mim era essa a sensação. Morria de vontade de estar com ela, adorava tudo o que vinha antes...delirava com o durante e simplesmente me enternecia com o depois. Nunca tive paciência para conversas na cama pós sex*, aliás eu jamais quis alguém na minha cama depois do sex*...Skya...mais um sorriso.

 

Fui arrancada do meu devaneio com alguém pulando nas minhas costas.

 

--Aiiiii, eu vou cair. - Fingi que estava irritada.

--Não cais nada, essas pernas são fortes. - Ela beijou-me o pescoço e pulou à minha frente com o melhor sorriso.

--Doida!

--Sim...muito. Porque vieste antes de mim?

--Porque alguém precisa ter juízo, não tens muito tempo...

--Só por isso? Por momentos pensei que querias ver-te logo livre de mim...

Jamais ouvira besteira tão grande e a expressão que ela fez ao dizer tal frase também era inédita, não consegui decifrar o brilho dos olhos.

--Skya...-- Passei as mãos pelo meu cabelo com uma leve irritação.

--Esquece...às vezes sou boba...

Ela puxou-me para um beijo na boca e esqueci qualquer resquício de inquietude.

 

********************
Em casa do meu pai a mesa estava farta como em todos os outros dias. Ele e Skya conversavam sobre várias coisas e eu observava, divagava, sorria entre uma ideia doida e outra que me passava pela cabeça...tantas coisas, hipóteses estapafúrdias...

Duas pessoas improváveis à minha frente, ou talvez seja melhor dizer, dois sentimentos improváveis tomando conta de mim...um pai em quem já não depositava a menor das expectativas e agora era uma alegria constante, quatro dias convivendo com ele e a certeza que não abriria mão daquele sentimento por nada...e uma mulher...mordi o canto da boca dada a complexidade da questão...a mulher que despertou em mim sensações que nem seu sabia que era capaz...Skya era sinónimo de coisa boa, e eu queria aquela coisa boa, queria muito mas ainda me assustava e mais, morria de medo, medo de ser arrancada do sonho e ter de mais uma vez encarar a realidade algo sombria que era a minha vida antes da passagem desse furacão...não sabia que era sombria até ser inundada do melhor sol, raios brilhantes...sempre.

--Catherine minha filha, acorda. Skya, ela não dormiu à noite?

Skya riu com gosto e eu devo ter ficado vermelha.

--Dormiu a noite toda...

--O que foi agora velho Bill? - Disfarcei minha vergonha com a melhor cara de brava.

--Disse que a Charlie vem ai com os filhos dela. Chegaram.

Olhei para a entrada lateral no momento em que Charlie e os filhos entravam sorridentes.

--Bom dia. Desculpem essa invasão mas inventei de contar a essa minha filha que a Skya toca violino e ela não descansou até me convencer a vir cá para que pudesse mostrar que também toca e que é apaixonada pelo instrumento.

Skya levantou imediatamente de onde estava e foi beijar a menina que timidamente mostrou seu violino.

Meu pai improvisou logo uma espécie de mini concerto para que Selina pudesse mostrar o seu talento.

Ela tocou e a plateia toda ficou encantada. O pequeno bateu palminhas e Charlie disfarçou uma lágrima de emoção. Bill levantou a menina no ombro e ela riu alto e feliz. Skya a beijou e disse-lhe que era muito talentosa.

--Obrigada. Minha mãe mostrou-me alguns vídeos das tuas atuações...posso pedir uma coisa?

--Tudo o que quiser. - Skya sorriu.

--Toca um pouco para mim?

Skya estava de joelhos à altura da pequena e o brilho no seu olhar e a leveza daquele sorriso fizeram com que mais uma vez eu tivesse a sensação de falta de ar...

--Filha, mas ela não tem instrumento...

--Mãe, ela pode tocar com o meu...podes Skya?

--Claro meu amor...queres alguma coisa em especial?

--Qualquer coisa.

A menininha sentou -se no chão e prestou toda a atenção nos gestos de Skya.

O momento seguinte foi mais um pouco de transe para mim...Skya entrou no seu mundo perfeito onde era mais do que perfeita. Tocou, encantou e eu vaguei por cenários idílicos, momentos ideais...senti aquelas coisas todas que me assustavam e ao mesmo tempo me impeliam para aquela menina que era a mulher mais encantadora que cruzara minha vida. Poderia ouvi-la a vida inteira...olhá-la a vida toda e nunca me cansar...fui arrancada daquele momento de transe pelas palmas que ecoavam pela sala.

--Mas Skya, tu és soberba menina...soberba. Estou todo arrepiado...Cathe como escondes do teu pai um talento desse? Deverias ter tocado desde o minuto em que colocaste os pés aqui.

Gargalhadas altas.

--Mas ela não trouxe o instrumento tio Bill, tinha que pegar o meu emprestado e só me conheceu ontem.

Mais risos dessa vez pelo raciocínio lógico da pequena Selina que parecia uma menina mais crescida falando com as mãos na cintura.

--Quando eu crescer vou ser assim como tu e vou tocar na maior orquestra do mundo.

--Não precisas esperar tanto assim, daqui a pouco, lá pelos teus 15 anos, serás muito boa.

--Assim como tu?

--Melhor ainda, só precisas praticar muito, estudar mais ainda e já vi que não será sacrifício algum, tens um talento nato minha menina linda.

--Ouviste mãe? A Skya disse que tenho um talento nato. A Nannie diz a mesma coisa...

--Ainda vou assistir a vários concertos teus...

--Ainda vou tocar contigo, na maior orquestra do mundo.

--Combinado. - Skya ergueu a menina nos braços e a beijou muito. - Infelizmente preciso ir. Tenho que me preparar para atuar não na maior orquestra do mundo mas quase isso...e aquela senhorita ali no canto, aquela com cara de anjo - Todos riram olhando para mim - ela fica brava comigo se me atraso...o anjo fica uma fera.

Senti minha face arder, por ter todos os olhos em cima de mim e por Skya me olhar com aquela intensidade que fazia meu coração galopar na garganta.

--Ela é brava e séria desde a infância.

Risos.

--Skya, minha casa está de portas escancaradas para ti, venha sempre que quiser. Amigos da minha Cathe são meus filhos.

--Isso é verdade absoluta. - Disse Charlie enquanto abraçava o meu pai.

--Adorei a vossa terra, pretendo vir mais vezes sim...muitas vezes.

Ela olhou para mim e o coração...maratona no meu peito.

 

********************

O trajeto até Portland foi mais um daqueles momentos em que parece que vivo um sonho bom só que de olhos bem abertos. O cenário por si só ajudou, como a Skya disse e bem, minha terra parece um conto de fadas. Com certeza dirigir ouvindo a melhor musica, Skya cantarolando, vento na cara, cheiro de pinheiro, perfume de Skya, coração em frenesi...sim, conto de fadas ou lá perto. Nunca me senti assim antes, mas se isso existe eu estou perto...

Ela tinha a cabeça encostada no carro, uma mão para fora contra o vento, ria, cantava, às vezes dizia alguma coisa, olhava para mim e eu sentia-me arder, na face, no peito...minha mãos apertavam o volante...loucura.

Tocava Adventure of a lifetime dos Coldplay e Skya cantarolava tudo e até eu que sou a pessoa mais desafinada do mundo, arrisquei alguns coros para gargalhada dela.

--I can feel my heart beating, because you make me feel like im in love again - Ela cantava, sorria e me olhava com aquele olhar brilhante, carregado de...esperança, é, era exatamente isso que o olhar dela me lembrava, esperança em mim...loucura, pode ser, mas eu tinha esperança em mim ao olhar para ela...

Faltando mais ou menos meia hora para chegarmos ao aeroporto, ela aconchegou-se no meu ombro e me abraçou da maneira como foi possível. Demorou alguns minutos e depois pulou de novo para o seu lugar.

--Não quero tirar a tua concentração...quero que estejamos bem vivas...muito vivas. Prometo ficar quieta até ao destino...posso cantar?

Ela sorriu daquele jeito...tive vontade de parar aquele carro, vontade de voltar com ela, vontade de dizer coisas que teimavam em ficar presas na minha garganta...sorri apenas e afaguei o cabelo dela.

Chegamos ao aeroporto ainda a tempo de sentar por alguns minutos num bar e conversar um pouco. A ideia era conversar mas Skya não largou o telefone, músicos querendo saber se ela chegaria a tempo para o primeiro ensaio geral, maestro querendo arrancar-lhe os olhos, o pai dela querendo saber se ela estava bem, e ela sempre sorrindo e com calma para responder a todos...no lugar dela estaria uma pilha de nervos. Essa nossa diferença me encantava...

Antes de entrar na sala de embarque:

--Devolves o carro?

--Claro. - Sorri diante da pergunta óbvia.

--E como voltas para casa?

--Não te preocupes com isso...foca nas tuas coisas, foco nas partituras.

Risos.

--Já viste que não me deixam desfocar...não te preocupes Cathe, tenho mais dois dias para aprimorar, corrigir erros e...

--Arrasar no Metropolitan. - Interrompi a frase dela com veemência.

--Com certeza. - Ela sorriu e...abracei-a com o melhor sentimento. Mescla de saudade, paixão, desejo, orgulho...apertei-a nos meus braços e ela beijou-me o pescoço, ombros...queixo...boca. Tive receio, mas Skya é livre e a liberdade contagia...

--Na sexta...se não puderes ir eu vou entender mas adoraria...

--Na sexta vou estar lá no Metropolitan.

Ela sorriu com a expressão de felicidade mais nítida que já vi na vida...chamaram o voo, ultima chamada. Ela saltou, literalmente...parecia querer entrar noutra esfera, sair de um mundo para entrar noutro...sempre sorrindo. A liberdade contagia...puxei-a para mim e beijei-lhe a boca, demoradamente, ou quase isso...ultima chamada...

Ela correu em direção à assistente que lhe aguardava e que quase lhe arrancou o cartão de embarque das mãos.

--Até sexta. - Gritou.

--Até sexta. - Respondi sorrindo.

********************
Passei o resto do dia a passear por Portland, fui a lugares que não visitava há bastante tempo, aproveitei para comprar alguns presentes para o meu pai. Tive tanto prazer ao escolher pequenas lembranças para ele...descobertas de novas sensações e meu coração agradecia.

Comprei presentes para a minha afilhada, muitas coisas...presentes para o meu Scoutie de quem morria de saudade.

Almocei num lugar lindo e com uma vista maravilhosa. Apesar do frio, sentei-me ao ar livre, gostava do vento na cara e adorava os raios de sol sobre a pele...

Não parei de pensar em Skya um só minuto, queria tanto que ela ainda estivesse ali, ao meu lado, olhando para mim, sorrindo, rindo alto...

Depois do almoço fui comprar um presente para ela...tive alguma dificuldade, não sabia muito bem o que escolher...ela gostava de música, de ler, escrever, viajar...era simples e sofisticada ao mesmo tempo...simples nas roupas e sofisticada nos atos, nos gostos...difícil escolher alguma coisa...

Continuei a minha busca por muitas horas e ao entardecer regressei a casa.

No caminho encantado como Skya tão bem batizara, ouvi música e pude apaziguar um pouco meus pensamentos...

Outro ser que me acalmava entrou em ação, Susan...

--Ainda bem que ainda lembras que sou tua melhor amiga.

Risos.

--Drama...até parece que a senhorita lembrou que eu existo por esses dias...

--Ah Susan, pelo amor de Deus, e eu consigo arrancar-te de mim?

--O tom da tua voz diz-me que estás muito bem, confirmas?

--Confirmo...bem sim e graças a ti. Minha dívida só aumenta...

Gargalhadas.

--Um dia tu pagas. Já devolveste a musicista à base? Há gente aqui querendo matar-te.

Gargalhadas altas.

--Ela é tão deliciosamente doida...louca essa menina e ela me enlouquece também.

--Riscos calculados. Ela fez questão de me dizer isso mil vezes e à Ciara um milhão de vezes.

Risos.

--A Ciara deve estar com mais raiva ainda de mim...

--Nada, ela adorou...minha mulher finge-se de durona mas é romântica...

Risos.

--Cathe...

--Sim...

--Gostaste mesmo que a Skya tenha ido até Lubec?

--Adorei Sue...senti-me tao plena, meu pai, Skya...às vezes a felicidade era tanta que eu não sabia como agir, ou como gerir...e ainda reencontrei a Charlie...

--Quem é essa?

--Amiga de infância...dos tempos em que graças a ela e à família eu conseguia ter um pouco de afeto, uma vida quase normal para uma criança da minha idade.

--Que bom Cathe, aproveite bem a tua amiga, só não te esqueças dessa aqui que aliás está com muita saudade...ela e um certo felino.

Risos.

--Jamais sua ciumenta. Scoutie está com saudades? Ele tem-se alimentado bem?

--Sim senhora, ele está sendo tratado como rei e senhor...certas coisas não mudam.

Risos.

--Vens para o concerto?

--Claro, não perco por nada...

--Hmmm, gosto dessas certezas, ainda mais de uma certa senhora...

Gargalhadas.

--Doida...

--Ah, a tua afilhada está linda, fofa, e a cara da mãe.

--Já comprei muitos presentes para ela...doida para exercer meu papel de madrinha que nem sei ainda qual é.

Gargalhadas.

--Segunda mãe, logo dona Catherine que nunca quis saber de filhos...

--Pois...mas a Esperanza é especial, amor à primeira vista.

--Espera até vê-la de novo...linda e a Karen está muito bem também e o Juan se desdobrando para trabalhar muito e dar toda a atenção à família...aquela cumplicidade que já conheces. Preciso desligar meu bem, tem gatinhos à minha espera.

--Hmmm...

--Felinos.

Gargalhadas.

 

********************

--Adorei que pensaste em mim Cathe.

Charlie abraçou-me à porta da casa do pai manifestamente feliz com a minha visita.

--Desculpa vir sem avisar...

--Estás doida? Precisas avisar? Lembras quando nossas casas eram quase extensão uma da outra? Pois para mim continua a mesma coisa.

Risos.

--Obrigada. Estava lá na cabana sozinha e sabendo que Bill a essa altura já foi ao bar, decidi vir conversar um bocado...as crianças já dormiram?

--Já. Eu ia abrir um vinho e agora vamos apreciá-lo juntas.

--Com certeza.

Com a garrafa de vinho em mãos dirigimos a uma espécie de jardim de inverno que ficava no andar de cima. Lugar lindo e aconchegante.

--É lindo aqui.

--Sim, ideia da Sam. Ela é muito criativa e aqui é melhor porque fico perto do quarto dos meus filhos. O Denzel acorda algumas vezes a meio da noite.

--Pareces cansada...

--E estou bastante...hoje corri muito com as crianças, elas estavam elétricas...saudades da Annie...

--E ela não vem?

--Vem sim, mas precisa de mais alguns dias...ela dirige a empresa de transportes do pai e é muito séria e não quer desaponta-lo...a Annie tem um irmão mais velho que não quer saber de nada dos negócios da família, aliás ele não quer saber de nada a não ser de diversão e ela sente-se na obrigação de ajudar o pai...

--Faz sentido...

--Sim, mas eu fico algum tempo sem ela...e as crianças sentem muito falta. A Annie é teimosa, focada demais...eu sempre digo que ela quer mudar o mundo e ela responde o mundo não, mas o meu mundo sim...enfim, minha mulher é uma revolucionária.

Gargalhadas altas.

--Mas então vocês não ficam sempre juntas? Tu trabalhas em Hollywood...

--Nada disso, moramos juntas e estamos sempre juntas...sempre que possível. Mas às vezes eu passo alguns dias ausente e quando assim é, ela cuida muito bem dos nossos filhos...sou uma mulher de muita sorte. Vou mostrar-te uma foto dela no meu telefone.

--Que linda...parece uma adolescente...

--Pois...e eu que sempre namorei mulheres fatais, tive todas que desejei na vida...e agora sou completamente feliz com uma quase moleca...

Risos.

--Não deve ter sido fácil...

--Nada fácil, ainda temos algumas brigas por causa dos temperamentos diferentes... diferença de idade nem pesa muito porque a Annie parece mais velha do que eu, embora muitas vezes ela queira fazer coisas que são bem típicas de uma jovem de 24 anos e eu não tenho muita paciência mas para vê-la feliz eu faço e meus filhos adoram tudo o que ela propõe...

--E como ela lida com esse teu lado da fama? Não deve ser fácil...

--Não...hoje mais tranquilo, mas quando começamos ela não me levava a serio, na realidade nós não nos levávamos a sério, ela por achar que eu era mais uma doida dos cinemas e eu por achá-la quase uma criança...ai veio a gravidez do Denzel, nos afastamos porque ela sentiu-se traída e também sem condições para lidar com tamanha carga mas depois...e estamos juntas até hoje e não pretendo mudar a situação jamais, desde que ela me queira e aos nossos filhos, vou ficar com a Annie até cair de velha.

Gargalhadas.

--É tão bom termos certezas...

--Sim, é a melhor coisa ainda mais certeza de querer construir algo com alguém que partilha o mesmo desejo.

--Eu estou a viver numa montanha russa...

--Como assim? Paixão louca?

Risos.

--Nem sei que nome dar ao que sinto...

--Hmmmm, isso é bom...confusão sempre é bom para nos sacudir e tirar da zona e conforto.

--Zona de conforto...saí da minha, ou fui arrancada dela...Charlie, acho que estou apaixonada, mas completamente doida de paixão...

--Wow, e onde está o felizardo? Porque não está aqui contigo nesse paraíso que é o nosso Maine?

Olhei para a minha amiga e não tive qualquer duvida que precisava falar tudo para ela...Charlie caíra do céu, amiga de infância, pessoa que não convivia no meu mundo e que não me julgaria e nem questionaria muita coisa...

--Sabes a Skya...

--Não...jura? É ela? Meu Deus como disfarçam bem...

Gargalhadas.

--É ela...essa menina tomou conta de mim de uma forma...

Contei a nossa história desde o encontro inusitado no trem até a visita a Lubec.

--Wow, isso sim é roteiro de cinema...Cathe que lindo e que sorte a tua, essa menina é linda, envolvente...quem é que resiste?

--Eu com certeza não...não resisto, penso nela e a única coisa que passa pela minha cabeça é que quero mais...

--Resistir para quê? Nossa, Catherine eu nunca imaginei que tivesse algo tão tórrido entre vocês...

--Então o meu pai não percebeu nada, certo?

--Se eu que sou gay desde que nasci e minha experiência enche uma trilogia não percebi, imagina o velho Bill...

De repente ela soltou uma gargalhada profunda.

--O que foi sua doida?

--Acho que tinha alguma coisa no leite com chocolate que o velho Silas nos dava.

Mais gargalhadas.

--Como assim?

-Eu sou gay, a Sam minha irmã vive no limbo, o Bugs Bunnie é gay, a Truck é gay e agora a general Catherine também me diz que está no limbo...

Quase morri de tanto rir.

--Algo no chocolate...

Risos.

--Mas conta mais...sex*?

--Sexo...tão diferente e tão bom...

--Eu nunca fiz sex* para valer com um homem...

--Nunca?

--Não...brincadeiras sim mas sex* mesmo, consumar o ato, não...mas eu não me vejo fazendo outra coisa na minha vida, adoro tudo o que circunda à volta do sex* com uma mulher...tudo.

--Acho que eu também...mas eu sempre fui doida por sex* com homens, sempre. Eu gosto de comandar, eu dito as regras, os homens fazem o que eu quero na cama, eu controlo os meus orgasmos...quando os tenho...

--E com a Skya é exatamente ao contrário...certo?

--Umhum...completamente...ela me toma, fico sem forças...nem quero ter forças, eu sinto coisas...saio de mim, tento reagir mas não consigo e ela parece tão feliz...eu adoro sex* com ela, entendes Charlie, adoro.

--Entendo...ah se entendo...ela é linda Cathe. Sentes vontade de dar-lhe o mesmo prazer que ela te proporciona?

--Nossa Charlie...às vezes tenho vontade até de morde-la...

--Oohhh...vou lá tomar uma água...

--Não entendi...estás com sede?

--Calor...doida tu és muito sexual e estou sem a minha mulher aqui...cruzes, que calor...

Ri até quase não ter mais ar.

--Mais calma?

--Sim...se visses tua expressão ao dizer que sente vontade de morder a Skya...acho que nunca vi tanto desejo explicito...bom demais.

--Mas é assim que eu me sinto e no entanto quando ela toma as rédeas não consigo fazer nada além de sentir e transcender...

--Bom...muito bom. A tua hora de mostrar todo o desejo que te consome vai chegar e ela vai poder deliciar-se, vão poder...provavelmente quando isso acontecer o encontro não será apenas de corpos que se desejam e sim de almas que se completam...

--Hmmm?

--Esquece...viva apenas.

--Morro de medo...nunca senti nada parecido e não refiro-me ao fato de ser uma mulher...

--Eu sei...entendo muito bem o que é isso...

--Eu não sei muito bem o que é isso...mas essa menina...ah essa menina...

Charlie riu com vontade.

--Aproveite o que essa menina tem para te oferecer e pare de pensar...tu nem filhos tens.

--Como assim? Filhos...não...

--Calma, quis dizer que tu nem tens filhos para pesar na decisão de viajar...eu já tinha a Selina que em vez de ser um entrave para mergulhar no meu romance com Annie, serviu mais como garrafa de oxigénio...

Risos.

--É difícil lidar com outra mulher, exige muito de nós, exige maturidade, sabedoria, discernimento, desprendimento...mas a recompensa, ah Catherine...mergulhe nesse mar...pode mergulhar...

Ri nervosa...eu já tinha mergulhado.

--Quem é que resiste a uma mulher que toca? Eu acho sexy...mil fantasias, que minha mulher não me ouça...

Gargalhadas.

-- Ah, eu quando vejo a Skya tocando sinto cada célula do meu corpo entrando em erupção...é uma coisa que arde no peito, toma a garganta, treme a carne e minha cabeça explode em luzes...muitas luzes.

--Wow...paixão em ebulição...

--Sim...acho que sim...mas pode ser apenas uma experiência...

--Sim, claro. Podes acordar amanhã e não querer mais, voltar ao teu mundo perfeito com os homens, sex* selvagem, sem compromisso...sex* para satisfação do corpo...muito bom também, mundos diferentes mas cada um com o seu encanto...

Franzi a testa mas não disse nada...sex* para a satisfação do corpo...o que eu tinha com a Skya me satisfazia em pleno...do corpo à alma...todos os sentidos...que confusão...

--Também podes querer viver no limbo como a Sam...as duas coisas...podes querer experimentar outras mulheres para saber se é bom com todas ou se Skya é especial...pode muita coisa...

--Sim...pode muita coisa...

--Mas até chegar o momento de pensar, viva apenas, delicie-se nessa aventura maravilhosa, aproveite o brilho que essa menina traz para a tua vida...não tens noção do brilho que os teus olhos têm ao falares dela...

--Mas tenho tanto medo Charlie...ela é muito mais nova...

--A Annie também é...eu entendo...

--A Skya é livre, do mundo...ela vai embora na mesma velocidade com que chega...tenho medo de me apegar tanto a alguém que hoje está aqui e amanhã provavelmente na Africa do Sul...que hoje se encantou comigo e que num próximo concerto poderá encantar-se por outra mulher qualquer...a música a leva para o mundo...ela é do mundo...

--Entendo todos os teus medos, muitos são meus também, embora no meu caso seja um pouco diferente...eu tenho uma vida ao lado da Annie, ela diz todos os dias que me ama, que ama nossos filhos e que por mais que eu seja uma doida de Hollywood, ela quer passar o resto da vida ao meu lado...mesmo assim tenho medos, não por mim, mas por ela...eu sei o que quero, mas uma menina de 24 anos pode querer uma coisa hoje e amanhã outra e uma pode excluir a outra...

--E a Skya tem 25 anos...

--Sim, mas eu sou adepta da ideia de que devemos viver as coisas no momento em que acontecem, nada de antecipar dores, preocupações...estás feliz hoje? Aproveita.

Sorri feliz.

--Sim...vou aproveitar. Pareces a minha amiga Sue...

--Ela vive perto de ti?

--Sim, na mesma cidade e é minha irmã de alma...paciente...e gay.

--Wow...estás bem assessorada.

Risos.

-- Sim...a mulher dela não gosta muito de mim e para meu desespero, ela é amiga da Skya, trabalham juntas...

--Ela é do ramo da música?

--Não...ela tem uma editora...a Skya escreve...

--Ahhhhhh, casa com essa menina. Toca vários instrumentos, escreve, é lindíssima, come-te muito bem...desculpa a expressão escancarada meu amor, mas encontrar uma mulher que nos coma bem é um achado...casa com a Skya e não a deixa ir embora nunca mais...meu Deus a Cathe fica vermelha...

Gargalhadas e eu mais vermelha ainda.

********************

Meu pai fez questão de levar-me a Portland onde pegaria o voo para casa e fomos o caminho todo conversando. Ele repetiu várias vezes que estava muito feliz e eu senti-me parte de alguma coisa muito importante. Sabia que tinha algum lugar para voltar quando estivesse triste, alguém com quem compartilhar minhas alegrias, dúvidas...

Ele fez-me prometer que voltaria sempre ao Maine e que traria o Scout. Falei tanto nesse gato que me pai afeiçoou-se mesmo sem conhecê-lo.

Eu também fiz minhas exigências ou pedidos, que ele me visitasse sempre que quisesse, que me ligasse todos os dias...na realidade essa exigência foi mútua.

Voltei para casa feliz ainda que minha cabeça fervilhasse...

********************

--Quase filho entregue em mãos e como a senhora pode notar, não lhe falta qualquer pedaço e ele está gordo como sempre.

Risos.

--Ele não é gordo, apenas muito bem alimentado...vem cá meu bichano.

Apertei Scoutie nos meus braços e ele ronronou feliz da vida.

--Vejo que tem alguém muito feliz, olhos brilhantes, pele de pêssego...

--Pateta...estou feliz, fiz as pazes com o meu passado, descobri que tenho um pai maravilhoso, que me adora, tenho um lar fora dos meus domínios...até reencontrei velhos amigos...uma amiga muito especial...

--Sim, mas a pele de pêssego não foi provocada por nenhuma dessas razões que a senhora elencou...

Risos.

--Não parece, mas entendo muito bem dessas coisas...dos efeitos delas...
Gargalhadas.

--Umhum...

--Vais ao concerto logo mais?

--Ainda perguntas?

--Sei lá, tu és doida...

--Mas nem tanto...já está tudo a postos?

--As meninas estão muito cansadas de tanto ensaiar, parece que o maestro para esse concerto é um Alemão carrasco que não tolera nada aquém da perfeição. Ensaiam noite e dia e a Skya que além de perfeccionista ainda faltou os dias em que foi cuidar da pele alheia, está mais focada ainda...

Gargalhadas.

--Nem vou perturbar a concentração dela...vou ver minha afilhada e a mãe dela.

--A Karen está doida para ver-te e a Esperanza é a bebé mais linda do mundo. Preciso ir Cathe, tenho cirurgia daqui a pouco...cesariana numa bulldog. Até mais tarde no Metropolitan. Ah, nem penses em fugir das minhas inúmeras perguntas...

Risos.

--Ok. Responderei a todas...

--Assim que eu gosto. Preciso ir, o dever me chama. Tchau Scoutie.

Sue afagou Scoutie, beijou-me e saiu apressada.

********************

--Calma Bekie, agora não temos mais nada para fazer, é subir ao palco e arrasar.

--Skya, tu estás acostumada a grandes palcos, eu não...é o Metropolitan, eu nunca sonhei com nada disso...

--Mas vais brilhar, vamos brilhar. Eu estou uma pilha de nervos, minhas mãos estão cansadas, dedos em frangalhos, costas detonadas mas não posso fraquejar agora...e tem meu pai na plateia, para ele sou perfeita, não posso dececioná-lo...

--Grande parte da minha família, a que mora nos EUA está aqui...que nervoso.

--Tu sempre me acalmas e agora isso? Vai ser um show, não é mesmo Jules? Carline? Santis? Joseph? Lana? Rudolph? Hillary? Zirko?

--Siiimmmmm.

Gritaram em uníssono seus companheiros das cordas clássicas...parte deles, eram 15 nas cordas clássicas, entre violinos, violas, violoncelo e contrabaixo.

--Vamos arrasar?

-Vamos!

Abraçaram-se num ritual pré estreia.

********************

--Susan, são horas? Já vai começar.

--Minha mulher é multifacetada, inventou não sei o quê a meia hora do concerto.

--Mas estamos aqui, não estamos? Olá Catherine., tudo bem?

--Tudo...vamos entrar?

--Agora.

Eu estava nervosa, parecia que a estreia era minha.

O Metropolitan era imponente, belo. A sala imensa estava repleta, de cima a baixo. Sentamo-nos na parte de cima, numa galeria que tinha a melhor visão para o palco que ainda estava com as cortinas cerradas. Era o melhor segundo Ciara, e ela tinha razão.
Minhas mãos estavam suadas e as pernas tremiam...levemente.

--Vai começar...meu amor, será memorável. Vi o último ensaio geral...arrepiante.

Ciara segurou uma das mãos de Susan que sorriu no momento em que as cortinas se abriram.

Meu coração começou a bater na garganta...e a emoção ainda estava no início...

Começaram com um quarteto de cordas clássicas e piano. Não vi Skya, mas meus ouvidos foram agraciados com uma performance magnífica...tocaram três peças. As cortinas fecharam-se e quando reabriram a orquestra estava completa. Meus olhos correram e pararam na última fila, Skya estava atrás de todos com o seu contrabaixo...linda. Não vi mais nada...ela tocava, me encantava...perfeição.

Fiquei arrepiada e com a garganta seca...

Mais uma mudança...ela veio à frente da orquestra, outra composição. Violino...perfeita. Rebeka no saxofone...a orquestra toda, que magia...bálsamo para os sentidos. Viajei...na música, nos acordes perfeitos...na beleza da minha...na beleza dela...ela fazia amor com o violino, respirava com o contrabaixo e eu estava em êxtase...queria fazer amor naquele momento...suspirei...cruzei as pernas...passei as mãos pelo cabelo...mordi os lábios...tive dificuldade em respirar...quero essa menina...quero essa mulher...quero...quero...fechei os olhos e ouvi os acordes...fixei-me no som do violino...magia...encanto...meu encanto...

As palmas me arrancaram do devaneio...muitas palmas, plateia em pé e eu com os olhos marejados. Sentia coisas inéditas...tudo novo, maravilhosamente novo...perigosamente novo...

--Lindo Cathe...lindo. Estou arrepiada...emocionada...lindo.

Susan estava arrepiada e eu anestesiada...as palmas continuavam e ecoar na minha cabeça enquanto via os músicos agradecer a plateia...que músicos, eu só prestava atenção numa das violinistas, a mais brilhante, a que fazia meu coração dar cambalhotas.

--Vamos para os bastidores, venham comigo.

Ciara levou Susan que me carregou.

Nos bastidores o frenesi era tanto mas nada que se comparasse à balburdia no meu peito. Minhas pernas estavam pesadas...via Susan movimentar-se com graça, Ciara sorrir e cumprimentar vários músicos mas eu não conseguia mexer-me.

De repente vi Skya sendo levantada no ar por alguém, um homem. Ele entregou-lhe um ramalhete de flores lindas, ela sorriu e beijou-o efusivamente. Eles abraçaram-se com carinho e ele parecia feliz, orgulhoso...

Ciara e Susan juntaram-se a mais pessoas que cercavam Rebeka...reconheci a mãe dela, mais uma que estava orgulhosa.

Eu continuava em transe...fui arrancada do torpor por Susan...

--Não vais cumprimentar as meninas?

--Claro...claro.

Cheguei perto de Skya que estava cercada por algumas pessoas, inclusive o homem que a olhava orgulhoso.

Ela viu-me e sorriu. Não é exagero algum dizer que de repente só existia eu e ela naquele ambiente...pelo menos para mim era essa a sensação.

--Que bom que estás aqui...que bom Catherine.

Ela sorriu tão feliz que senti-me renovada...as coisas que eu sentia ao lado daquela mulher...

--Foi lindo Skya...majestoso, emocionante...

--Bill está bem?

Demorei alguns segundos a coadunar as ideia...ela lembrava-se do meu pai naquele momento...Skya é única.

--Está...com saudades, assim como eu, mas ficou bem.

--Vamos Skya?

Alguém chamou por ela...um músico.

--Sim...já vou. Queria que conhecesses o meu pai...

--Teu pai?

--Sim, ele veio passar uns dias e aproveitou para ver o concerto.

No momento em que ela procurava o pai, fui abraçada por braços ternos.

--Chefe, gostaste da nossa performance?

Rebeka beijou-me com efusividade.

--Adorei. Vocês estiveram maravilhosas.

--Nem imaginas a nossa canseira, a Skya está quase sem força nos dedos e eu com a garganta em derrocada...esse maestro é muito bom mas chato, que ele não me ouça. Tudo o que queria agora era minha cama e a canja da minha mãe, entretanto vamos jantar com esse mundo de gente...

--Hmmm, ossos do ofício...

Não teria Skya comigo...ossos do oficio.

Vi Ciara conversando com o senhor que só podia ser o pai de Skya e tive a confirmação quando ela o abraçou e fez-me sinal para me aproximasse.

--Pai, essa é mais uma das minhas maravilhas, as maravilhas que encontrei nessa cidade...se bem que no caso dela o encontro deu-se em outro lado...

Ela piscou-me o olho e senti minha face arder.

--Muito prazer, Stanislav ou apenas Stan.

--Prazer, Catherine.

Ele sorriu, que homem lindo...porte de lorde. Os mesmos olhos da cor de azeitona de Skya...não sei se sorri, estava nervosa.

--Bonita a tua maravilha Sky.

--Linda...minha maravilha é linda.

Minha face ardeu...uma menina inocente de 35 anos...tive vontade de rir e ao mesmo tempo de pular de alegria...efeito Skya em mim...

--Skyaaaa.

Alguém gritou por ela.

--Preciso ir...

--Filha, ao menos bebemos alguma coisa juntos mais tarde?

--Sim pai, estou no telefone...passo no teu hotel depois do jantar para o digestivo.

--Skyaaaa.

Mais um chamado e ela olhou para mim.

--Obrigada por ter vindo. - Disse segurando as minhas mãos.

--Foi um prazer...

Ela beijou-me o rosto demoradamente. De seguida foi ao meu ouvido e disse:

--Não fazes ideia do quão importante foi ter-te aqui...obrigada.

Rebeka a arrancou de mim...levei as mãos ao coração.

********************

Quase uma da manhã e eu não conseguia relaxar para dormir. Já tentara de tudo, música, meditação, conversas com Scoutie...nada resolvia.

Depois do concerto sai para jantar com um amigo, uma vez que Susan tinha outro compromisso. Ele ainda tentou convencer-me a ir ao lounge do momento mas depois do concerto de música clássica de muitíssima qualidade preferi ficar naquela frequência.

--O que é Scoutie? Já cansaste de me ver às voltas pelo apartamento? Eu também mas não consigo ficar parada...

Ele me olhava com aquele semblante inquisidor.

--Já tomei banho, ouvi minha seleção para relaxar, tentei ler, já te dei comida umas duas vezes...e não consigo ficar calma...

Ele pulou no meu colo no momento em que me sentei no sofá. Ficamos ali por algum tempo até que não aguentando mais ficar entre quatro paredes, peguei a chave do meu carro e sai sem direção definida.

Vaguei pelo meu bairro e adjacências...fui um pouco mais longe. Quando dei por mim estava à entrada do prédio de Skya. Não quis acreditar que estava lá, mas estava. Fiquei no carro por alguns minutos sem saber o que fazer...eu, Catherine Lohman sem saber o que fazer.

Ela nem deveria estar em casa e se estivesse, era óbvio que não queria minha presença...mas eu estava com vontade de estar com ela e essa vontade era maior que qualquer resquício de orgulho ou bom senso.

Desci do carro e entrei no prédio dela. Olhei para o relógio na parede e quase desisti...1:20.

--Boa noite, a Skya está? Ela mora no...

--Eu sei, só temos uma Skya no prédio. Ela está sim senhora...

--Posso subir?

Ele olhou-me com um ar perscrutante, verificou alguma coisa no computador e olhou-me novamente.

--A senhora não é a Rebeka porque essa conheço bem, então só poderá subir se for a Catherine...

Olhei para ele sem entender nada...

--Meu nome é Catherine, não entendi.

--É que a dona Skya deu instruções que duas pessoas podem subir sempre que ela estiver em casa e sem avisar, a Rebeka e a Catherine.

Eu ri com vontade...Skya...

--Então, eu sou a Catherine, posso subir? Se quiser posso buscar meu documento no carro.

--Não precisa, pode subir.

Entrei no elevador sorrindo...eu poderia subir a qualquer hora.

A tranquilidade desapareceu no momento em que me vi à frente da porta dela. As coisas que fazia...

Vontade de vê-la. Toquei a sineta. Uma vez...a segunda com um pouco mais de convicção. Ouvia uma música ao fundo...provavelmente estaria acordada...

Ela abriu a porta...pareceu não acreditar...

--Cathe...

--Desculpa vir sem avisar mas...

Ela puxou-me para dentro e abraçou-me.

--Que bom...que bom que vieste...que bom.

Sorri.

--Pensei que quisesses ficar sozinha ou com o teu pai mas como não conseguia dormir...

--Eu queria estar contigo, eu quero estar contigo, mas estou tão cansada, esgotada...não seria boa companhia. Não quero levar-te reclamações...

Não entendi o raciocínio e nem sei se gostei do que ouvi mas aquele semblante cansado fez com que levasse em conta apenas a vontade de cuidar dela, melhorar aquele aspeto.

--Estás com um ar tao cansado Skya...

--Isso porque não viste os meus dedos...

Ela mostrou-me os dedos que estavam inflamados.

--É sempre assim?

--Não...apenas quando exagero, quando o repertorio é novo e o maestro é perfecionista...

--E tu ainda fizeste a viagem...

--Apenas dois dias, mas ainda bem que fui...pude concentrar-me melhor.

--Olha esses dedos...- Estava preocupada. - O que fazes para amenizar?

--Agua morna, um anti inflamatório em gel e massagem...minha mãe faz uma massagem perfeita, massagem tailandesa...

--Não tenho a técnica da tua mãe, mas posso tentar...sei fazer massagem...confias?

--De olhos fechados...fica aqui comigo... a noite toda.

--Mimada. - Sorri.

--Umhum...estou carente, precisando de cuidados.

Ela abraçou-me e invadiu minha boca num beijo de tirar o fôlego. Fiquei sem ar, tonta e doida por mais...

--Menina...

--Hummm...

--Vim aqui para cuidar de ti...

--E beijar não pode? A dor é nas mãos...

--Doida...vá para cama...agora.

--Colchão...sim, vou, mas só se vieres também...vens?

-Umhum...-- Estava começando a ficar descontrolada.

Ela correu para o quarto e eu me abanei...calor, muito calor.

Depois de tomar um copo de água gelada, entrei no quarto que estava na penumbra. Ela estava deitada e me olhava com os olhos brilhantes...a sensação de formigamento voltou...

--Tem roupa de dormir no banheiro...ou podes ficar sem roupa também...

Ri alto...nervoso...efeito Skya sobre mim.

--Vou vestir alguma coisa no banheiro. O remedio está aqui?

--Sim, no banheiro...venha logo, estou com frio e com dor...

Manhosa, sexy, deliciosamente sexy...

Tirei minhas roupas quase num ímpeto e vesti uma camiseta dela...aquela cena toda parecia-me surreal...eu invadindo o apartamento de uma mulher na madrugada, louca de desejo por ela e a reciproca mais do que verdadeira...o desejo era tanto que sentia-o pulsar pelo meu corpo...

Precisava de controle...eu era controlada...

Sentei-me no colchão, li a bula do remédio...tudo para tirar o foco do calor que me consumia...Skya me olhava, não tirava os olhos de mim...e o calor só aumentava.

Peguei as mãos dela entre as minhas...passei o remedio e fiz leves movimentos...ela continuava me olhando...sentia-me nua e com a pele ardendo...e outras partes também...

--Cathe...

--Hummm...

--Isso é bom...vou ficar boa em pouco tempo...tua massagem é perfeita...

Continuei o processo, massageando cada dedo, as mãos, os pulsos...queria que ela ficasse boa, sem dor...

--Tenho dor nas costas também...muita dor.

Ela tirou a blusa e engoli em seco. Era apaixonada pelos seios dela...pela barriga...pelo colo...

Minhas mãos tremeram...ela virou-se...as costas estavam vermelhas...quis beijar...quis...mas derramei o gel e ela ficou toda arrepiada...suspirei...minhas mãos tremeram, mas com uma destreza surpreendente fiz movimentos que arrancaram gemidos de satisfação de Skya.

Passei algum tempo fazendo movimentos suaves nas costas dela até o remédio ser totalmente absorvido pela pele.

Ela ficou quieta...fui ao banheiro, lavei as mãos, o rosto...sorri para o meu reflexo.

Voltei para o quarto e notei que tinha uma música tocando, ela sempre estivera lá mas meus ouvidos não tinham captado...

Deitei-me...ela continuava de bruços e de olhos fechados.

Aproveitei para observar, perder-me naqueles contornos...pele...aproximei-me completamente atraída...não queria acordá-la mas a vontade de estar perto, bem perto era maior do que qualquer razão...

Beijei-lhe os dedos da mão que estava ao meu alcance...um por um, com carinho, queria cuidar dela...queria ficar junto...

Fechei os olhos...a música...perfeita...Amazing colours ( Mahoroba)...viajei para ali perto...bem perto.

Skya mexeu-se...abri os olhos e ela me olhava.

--Posso dormir no teu colo?

Não consegui dizer uma única palavra...posicionei-me para que ela tivesse maior conforto possível.

Ela beijou-me devagar, um beijo que paradoxalmente despertava meu corpo para o sex* e ao mesmo tempo me acalmava...

--Estou cansada...

--Dorme linda...dorme nos meus braços...

--Eu te adoro Cathe...adoro...

Ela adormeceu em poucos minutos, tranquila em meus braços...

Naquela noite aprendi algumas coisas que antes não faziam o menor sentido...

 

 

 

Fim do capítulo