O beijo intenso transportou-me para outro universo, lugar em que só existia belezas, certezas...era lá que queria ficar.

 

Skya parava e me olhava, sorria, eu implorava por mais, implorava pela sensação de estar a flutuar...arqueava o corpo em direção ao meu oásis, à minha fonte de prazer inesgotável...

 

Eu estava cheia de roupas mas queria logo sentir as mãos perfeitas dela percorrendo a minha pele. Num rompante comecei a me livrar das várias blusas que usava, quanto mais tirava mas aparecia roupa...eu morro de frio e o Maine é frio.

 

Skya ria da minha avidez ou seria da minha falta de jeito? Ela me beijava e aí sim eu perdia a concentração para tirar aquele amontoado de roupas.

 

--Para de rir e me ajuda...quero me livrar logo dessas roupas.

 

Ela riu mais ainda.

--Mas para quê tanta roupa?

--Para quê? Já viste o frio que faz nessa terra...eu morro de frio. Tive que comprar um monte de coisas aqui e Bill ofereceu-me outras...

Ela ria sem parar e me beijava arrancando suspiros da minha boca e deixando-me toda arrepiada.

--Eu gosto do teu exagero...

--Eu sou exagerada?

--Umhum... e linda...doida... sexy... irresistível...e esse cabelo novo? Muito sexy...dá vontade de passar a mão...dá vontade de tanta coisa...

Foi a minha vez de rir e alto.

--Meu cabelo é sexy?

--Tu és sexy...muito sexy...

Eu me vi sem qualquer blusa, apenas de sutiã e tendo minha barriga toda beijada, acariciada com as mãos mais quentes e envolventes que já pudera experimentar...eu adoro caricias na barriga, beijos...e Skya era mestre naquela arte e ela parava, olhava, beijava com ternura, depois mordia levemente e gemia...eu? Estava noutro mundo...naquele repleto de estrelas...

Mesmo perdida nos meus devaneios, percebi que alguma coisa não estava no lugar...Skya parara de me beijar...claro. Sai do meu torpor ainda que a contragosto...

--O que foi? - Olhei para ela completamente alterada. Poderia sentir pela minha respiração e pelo arfar do meu peito.

--Tem alguém batendo à porta.

--Hã? Não...

--Sim, eu ouvi...acho que já está ali há algum tempo...demorei a perceber...

Ela sorriu e beijou-me a boca rapidamente sentando-se na cama. Demorei a entender do que se tratava, Skya me levava para outro mundo, definitivamente.

Parei para organizar a cabeça e sim, alguém batia à porta.

--Quem será?

--Teu pai...não sei, mas acho que ouvi a voz dele...

--Meu pai, a essa hora? Será que desistiu?

Minha dúvida logo foi sanada.

--Catherine minha filha, estás aí? - Bill gritou do lado de fora.

Tive um ataque de riso, provavelmente de nervoso e Skya tampou-me a boca.

--Para com isso, ele vai ouvir...

E ela ria junto só que bem mais discreta.

--E eu faço o quê agora?

--Abres a porta, claro. Vais deixar um senhor de idade à porta nesse frio?

Pulei da cama e dirigia-me à porta quando Skya correu para me interromper.

--Assim?

--Como?

--Quase nua...-- Ela sussurrou e eu quase morri de tanto rir.

Corri para vestir uma blusa e o casaco mais pesado. Ela ajudou-me a arrumar o cabelo que estava todo bagunçado, mas tinha minha cara vermelha e afogueada, quanto a isso não podia fazer muita coisa. Ah Bill, excelente hora para aparecer...

Ela correu para o banheiro e eu fui abrir a porta com a melhor cara de paisagem que podia fazer naquele momento.

--Bill...

--Filha, desculpa vir a essa hora, mas teve uma moça lá em casa à tua procura e eu numa atitude irrefletida dei-lhe o endereço da cabana, fui à minha festa e no regresso a casa fiquei preocupado se tinha agido bem...nem conhecia a moça, mas ela pareceu-me ser boa pessoa e parecia estar com muita vontade de te ver...mas agora pensei que fiz uma asneira, não podemos julgar pelas aparências...vejo que o carro dela está estacionado aqui...tudo bem?

Sorri feliz...

--Tudo bem Bill, ela é minha amiga e fizeste muito bem em dar o endereço da cabana...muito bem.

--Que alívio. Aqui não acontece nada, não existem casos estranhos, todos se conhecem e agi baseado nisso...ainda bem que a moça é tua amiga.

Eu morria de frio mas receava entrar e encontrar Skya à vontade...como explicar?

Mas a Skya...ah essa menina...

--Vão ficar aí nesse frio? Sr. Bill, quer um chá que acabei de fazer? - Ela apareceu à porta na posse de seu melhor sorriso.

Bill sorriu já avançando para dentro da cabana e eu limitei-me a segui-lo.

O momento seguinte poderia parecer normal a qualquer observador menos atento, um senhor e duas mulheres mais jovens bebendo um chá e conversando amenidades, mas eu estava com a atenção redobrada, medo de exceder em alguma coisa...a mim podia controlar bem, mas e Skya? Sempre intempestiva, espontânea, natural...o medo dessa menina dizer ou fazer alguma coisa fora do normal...normal, mas o que eu fazia com ela era anormal? Claro que não, mas eu não conhecia o meu pai, ele podia muito bem não entender aquele tipo de sentimento...

Não sei se premeditadamente ou não, mas Skya agiu de forma natural, parecia minha amiga e nada além disso. Ela e Bill fartaram-se se rir das peripécias dele, das muitas viagens e aventuras dela, pareciam amigos de longa data e quase contemporâneos.

Relaxei e soltei-me mais.

Bill estava numa cadeira e eu e Skya numa poltrona de dois lugares, a única da cabana. Conversávamos amenamente e de repente me dei conta que Skya estava quase colada a mim e que acariciava o meu cabelo. Pulei da poltrona, literalmente.

--O que foi minha filha, viu o booggie man na janela?

Todos estranharam a minha atitude e eu fiquei zonza e vermelha.

--Não pai...booggie man não existe...não...apenas lembrei-me que preciso colocar mais lenha na lareira...está frio, não está? - Olhei para Skya claramente a pedir socorro e ela entendeu no ato.

--Sim...acho que sim, eu pelo menos estou com mais frio.

--Mas vocês estão com pouca roupa e a lareira não aquece tão bem assim...a Cathe é teimosa, eu lhe dei a cabana para passar verões, mas quem convence essa moça de alguma coisa hein Skya?

--Ninguém. Teimosa ao mais alto nível.

Risos.

--Parem com isso...ah pai, só por uma ou duas noites eu não vou morrer congelada e durmo cheia de roupas, com o pijama de flanela que me deste e esse cobertor poderoso.

Gargalhadas.

--Ok minha filha, quem sou eu para argumentar...Skya, pareces cansada...

--Um pouco, atravessei muita estrada para chegar aqui...

Skya olhou para mim com tamanha intensidade que senti meu corpo arder, apesar do frio. Caminhei apressadamente para o saco de lenha e quase derrubei um móvel.

--Ela é sempre assim, cheia de rompantes?

--Ela é uma surpresa a cada minuto e isso é simplesmente encantador.

--Aiiiiii...

--O que foi Catherine?

--Queimei o dedo...-- Mentira deslavada, mas precisava mudar o rumo daquela conversa. Eu não conhecia o Bill, não podia simplesmente bombardeá-lo de informações acerca da minha vida pessoal, não ainda...

--Bom, vou regressar para a minha casa e acho que vocês deveriam fazer o mesmo, dormir no aquecimento, mas já sei que minha Cathe é teimosa...desde o dia em que nasceu.

Sorri, de felicidade e de alívio também.

--Skya...gostei do nome, espero as duas para o café amanhã. Não precisam pular da cama, vou fazer tudo quando chegarem, pelo menos as coisas quentes. Ah, Skya não tens fome? Aqui não tem nada...

--Obrigada Sr. Bill, comi no caminho e aqui tem frutas...

--Sr. Bill não, para a amiga da minha filha eu sou Bill. Senhor parece que já estou velho.

Risos.

--Ok...Bill, e é muito jovem.

Eu não conseguia dizer nada, apenas sorria. Skya tinha esse poder de encantar qualquer um e Bill não estava imune.

--Boa noite minhas meninas...e não se esqueçam, café amanhã comigo.

Beijei meu pai que me abraçou e seguiu em direção à sua casa.

Fechei a porta e vi Skya entrando no banheiro. Arrumei as chávenas na pia, lavei a pouca louça que estava suja e deitei-me tapando-me até ao pescoço. Sorri muito feliz, não queria nada mais naquele momento. Ouvir Skya cantarolando no banheiro era sinónimo de felicidade e saber que ela estaria na minha cama em segundos era capaz de me fazer esquecer de respirar. Fechei os olhos para viajar mas abriu-os quase de imediato, ela saiu do banheiro e correu para a cama, pulando nela e se enfiando debaixo das cobertas e quase debaixo de mim...adorei.

--É frio aqui...Bill tem razão, é imprudente dormir nesta cabana sem aquecimento...ai, estou a ranger os dentes...

--Ah Skya, achas melhor irmos para lá então?

--Nãoooo, não sabes ainda que adoro brincar? Está frio sim mas perfeitamente suportável. Estou cheia de roupas, o cobertor é bom e...assim, está perfeito.

Ela deu-me as costas e colocou meu braço em volta ao seu corpo. Eu a apertei, colei meu corpo contra o dela e gemi de satisfação. Era muito bom ficar assim. Meti uma das minhas pernas por entre as dela e ficamos perfeitamente encaixadas, que frio que nada...

--Teu pai é maravilhoso...pareces com ele.

--É...é uma história longa...dolorosa, mas agora as coisas estão entrando nos eixos...

--Sinto que estás feliz...sabes, muitas vezes na vida temos a necessidade de complicar as coisas, ou complicar os sentimentos...eu não sei qual é a tua história com o teu pai, mas o que vi há bocado foi duas pessoas tentando acertar o passo, e é isso que importa.

Suspirei e a apertei mais um pouco contra mim.

--Eu precisava disso, não sabia o quão importante era para mim ter o meu pai na minha vida até ter a coragem de procurar a minha essência...entendi tanta coisa, ainda há muita aresta para limar...

--Mas o importante é que o primeiro passo foi dado.

--Isso. Acho que ver minha afilhada nascer, o desespero que tomou conta da família, aquele sentido forte de família que aquele povo tem, essas coisas todas juntas me impulsionaram a querer saber mais sobre mim...corri um risco de sofrer, de ter comprovada a minha tese de que não significava nada para o meu pai, mas num ato de coragem eu segui em busca da verdade...talvez haja outros motivos mas o nascimento de Esperanza, a confiança de Karen e Juan em mim, com certeza foram um grande impulso.

--Umhum...fico feliz por ti, apesar de ter achado no mínimo indelicado a tua fuga sem ao menos um bilhete, um recado, sms...o que fosse...

--Desculpa...é o meu egoísmo exagerado ou a minha falta de habilidade para conviver...

--Desinteresse...talvez...

--Nunca Skya, não digas isso...sei que é difícil entender, mas nunca fales em desinteresse. Perdi a conta das vezes que peguei o telefone para te ligar, mas faltava-me coragem...

--Poderias ter dito, eu não questionaria nada, é a tua vida, tua história...

Abri a boca para falar mas parei...eu nem sabia o que nós tínhamos, achei exagerado partilhar minhas fragilidades...eu não gosto de me sentir frágil e muito menos que os outras percebam...

Ela deve ter percebido meu desconforto e mudou um pouco o rumo da conversa.

--E tu que quase pulaste da cadeira...eu sei, esqueci que não estávamos sozinhas e...mas também quem manda ficar mais linda ainda com esse corte novo?

Gargalhadas.

--E quase queimei meu dedo de verdade...

Risos.

--Mas achas que eu exagerei?

--Não...não conheço muito bem o meu pai, ou melhor não conheço nada e não sei até que ponto ele acha estranho a filha estar numa cabana dividindo a cama com outra mulher...

--Mas não tem nada demais...

--Não...ele coleciona recortes da minha vida profissional, ele tem tudo o que sai em jornais, revistas...coisas desde os primórdios da minha carreira e vez ou outra, por mais discreta que eu tente ser, sai alguma coisa da minha pessoal...

--Hmmm...

--E ele deve saber que me relaciono com homens e eu não quero que pense que sou uma doida...

--Esquece isso , não pense em nada agora. Aproveite para conhecer o teu pai, estreitar relações, fortalecer os laços...isso é o mais importante.

Não entendi muito bem aquelas palavras, mas não estava em condições de argumentar. Fiquei com a impressão que o que nos unia não era importante, mas essa sensação deve ter durado segundos. Ela virou-se para mim e com os olhos brilhando beijou-me, a principio devagar para logo de seguida com voracidade, como se minha boca fosse uma fruta que se morde com vontade, entrega total. Deliciei-me naquele beijo...era tão bom ser beijada por Skya, a sensação era indescritível...

Não pensei em mais nada, nem medos, inseguranças, nada. Correspondi com o melhor de mim, com emoções que só ela despertava...me dei mais uma vez...

O beijo intenso deu lugar a beijinhos no queixo, na bochecha, nos olhos...sorrisos, risos felizes e eu com a sensação de estar fora da realidade, no nosso mundo...era tão bom estar no nosso mundo.

--Estou cansada...- Mais um beijo na boca. - Preciso dormir...se meu maestro sabe as coisas que apronto...

Ela sorriu e senti-me culpada. Posicionei-me para que ela deitasse a cabeça no meu ombro e não precisei dizer nada. Suspirei...quase de alívio, pelo menos foi essa a sensação que me deu ao senti-la ali, serena, nos meus braços.

Cinco minutos depois ou talvez até em menos tempo, ela dormia placidamente nos meus braços e eu perdia-me em devaneios...linda a Skya, linda a minha Skya...bom estar assim...muito boa a sensação de plenitude...muita boa a paz do momento...sorri...apertei-a mais a mim, ela gem*u e sorriu mesmo de olhos fechados...sorri também...sorriso permanente até ser vencida pelo cansaço e adormecer profundamente.

********************

 

Acordei com o sol de inverno batendo na minha cara. Fiz uma careta e sorri. Meu coração estava leve, sentia-me completa. Lembrei de Skya e sorri mais uma vez. Ela não estava na cama e normalmente essa seria a situação ideal para mim que não suportava gente acordando ao meu lado. Sorri pela constatação de aquela verdade não era mais tão linear assim. Eu tinha adorado acordar ao lado de Skya das pouquíssimas vezes que tivera tal privilégio...sorri mais uma vez. Ela não estava, mas não me senti sozinha, pelo contrário, sabia que ela estava por ali, algures na minha cabana.

Espreguicei e sentei-me na cama. Peguei o travesseiro dela e cheirei...ah poderia ficar assim o dia todo. Adoro o cheiro dela, me embriaga, encanta...vicia. Gritei por ela e não obtive resposta. Levantei e procurei no banheiro que era o único comodo privado da cabana, nada. De repente senti um calafrio na espinha, e se...

Não, ela não tinha motivo para ir embora mais uma vez, não depois de andar de carro até ali, não depois da nossa conversa...se bem que a conversa na cama tinha sido dúbia até para mim, mas ela tinha dormido nos meus braços, entregue e sorrindo.

Tomei um banho correndo ainda mais que a água era gelada. Vesti-me enquanto olhava pela janela à procura de vida...Skya...Bill...encontrei muita vida, uma natureza deslumbrante mas nada do meu povo.

Mais um calafrio que passou na mesma velocidade com que um raio de sol entrou cabana adentro...sol astro e meu sol brilhante...fiquei sem ar, ainda mais que ela beijou-me a boca num rompante.

--Bom dia dorminhoca. - Recebi um abraço que me fez lembrar dos primeiros dias em que convivi com o meu sol...dias que jamais esquecerei, aconteça o que acontecer.

--Bom dia...sou eu que durmo muito ou é a senhora que não dorme quase nada?

Risos.

--Mas eu apaguei ontem...estava muito cansada.

--Pois, e eu ainda fiquei acordada por algum tempo...

--Sim? Porquê? Insónia? Ou estranhou o fato de ter mais um corpo estranho na tua cama maravilhosa?

Ela fez aquela cara de fatal, linda...eu não conseguiria resistir por mais forte que tentasse ser...e nem queria.

--Tantas perguntas...

--Porquê? - ela prendeu-me contra a porta e fez cara de brava...mais linda ainda.

--Porque...

-Hmmmm?

--Fiquei pensando...

--Em quê?

--Fiquei pensando que tu és doida...

--Só isso? Eu sou meio doida mesmo...

--Doida por ter vindo até aqui, nesse fim de mundo...

--Lugar lindo, maravilhoso. Já fiz muitas fotos...

Ela sorria enquanto falava e gesticulava e eu me perdia em tudo, não via mais nada...meu sol era poderoso.

--Doida por vir até aqui quando precisa concentrar-se para um grande evento...o maestro...

--Ah, esse se pudesse me matava, mas eu não sou nenhuma irresponsável, sei bem o que faço...ou quase isso...em relação a ti não penso muito mas deixa para lá...volto amanhã cedo, ainda a tempo de ensaiar mais dois dias até cair de cansada e depois executar a obra na perfeição, com a ajuda do resto da orquestra, obviamente.

--Com certeza.

--Estou com muita fome.

Risos.

--E a mesa em casa do teu pai está repleta...como sei? Passei por lá para fotografar os arredores e aproveitei para espreitar pela janela da cozinha...

Quase morri de tanto rir imaginando a cena.

--Doida!

--Sim, e morta de fome...o cheiro está um autêntico delírio, meu estomago não aguenta mais...vamos...vamos...

Ela puxou-me pelas mãos e saí quase voando.

********************

Depois de degustar um verdadeiro banquete em casa do meu pai, saímos para passear. Ele não estava como sempre, mas fez questão de se esmerar um pouco mais e ainda deixou um bilhete na porta de casa dizendo que nos esperava à noite para jantar e que Skya não iria embora sem provar a melhor lagosta do Maine.

Skya adorou e eu fiquei surpresa por ele lembrar o nome dela, não era muito comum, eu só conhecia aquela Skya...o velho Bill tinha uma memória perfeita.

Saímos sem destino, andamos pela floresta, por caminhos entre pinheiros gigantescos e Skya parecia deliciar-se com tudo, ora tirava fotos, ora escrevia no bloco de notas, aquele mesmo que conheci da primeira vez que a vi. Eu aproveitava para observar tudo, cada detalhe dela e a cada segundo eu me sentia cada vez mais presa...prisão, não, a sensação de estar com Skya era a mais semelhante a liberdade possível. Ela era livre e me fazia sentir a mesma coisa, livre para voar, sentir, viver...livre...mas lá no meu mais intimo, eu ficava um bocado assustada, jamais chegara perto de tamanha entrega...a liberdade dela poderia levá-la para longe de mim na mesma velocidade com que chegara invadindo tudo, tomando conta de cada lugar meu...

-Eu estou apaixonada...apaixonadaaaaaaa...aaa..aaa...aaa...aaa...

O eco da voz dela deve ter sido ouvido bem longe dali.

--A tua terra é linda Cathe, linda...eu estou sem palavras. Parece cenário de conto de fadas, terra do nunca...ai, sem palavras. Eu queria ter mais tempo para explorar tudo...vem cá.

Ela puxou-me pelas mãos e a sensação de sonho fez-me levitar...conto de fadas, fazia todo o sentido.

Fui encostada numa enorme árvore cujo tronco maciço parecia coisa de outro mundo, filme talvez. Ela afastou-se um pouco e eu não entendi nada...começou a falar...

--Tu, me lembras força e delicadeza numa sincronia perfeita...essa árvore encantou-me e passou a mesma ideia...então...quieta...assim, lindaaaa...- Click...uma, duas, dez vezes e eu rindo e colocando a mão na cara morta de vergonha.

Eu me sentia tão escandalosamente exposta com aquela mulher e era tão bom...

Ela correu por entre as árvores encantada com outra coisa qualquer e eu respirei profundamente levando uma das mãos ao coração. Ri e tive vontade de correr atrás dela até onde meu fôlego desse, e a sensação que eu tinha era que o folego era infinito...ri mais alto ainda e gritei o nome dela mais para ouvir o eco já que ela ia longe...

Passeamos bastante, comemos numa taberna rústica onde havia um sanduiche divino. Um pouco depois das três da tarde chegamos ao farol que Skya queria conhecer. Algumas pessoas tinham tido a mesma ideia, e via-se casais de jovens e alguns nem tanto e muitas crianças, nem tantas assim mas para uma tarde quase fria em Lubec poder-se-ia considerar dez crianças juntas brincando como uma multidão.

Sentei-me numa cadeira da única esplanada que estava aberta e pedi um chá enquanto me deliciava com o cenário...Skya era a maior atração. Ela anotava coisas no bloquinho, depois fotografava, ria, corria, deitava-se no chão para ter um melhor angulo, vi até um momento em que ela simulou que tocava violino e depois anotou alguma coisa no bloco. Eu me encantava e sentia aquele sol ardente no meu peito...mais um suspiro.

Fechei os olhos por algum tempo, não sei se por muito tempo mas quando abri-os Skya corria com quatro crianças, riam, pegavam nela, brincavam e o nome que eu mais ouvia era Skya...Skya...

Sorri e fiquei olhando a cena completamente embevecida. Aproveitei aquele instante de ternura e liguei para Karen para saber dela e da minha afilhada. Tudo na santa paz e Esperanza crescendo e encantado os pais, todo mundo. Karen perguntou se eu estava bem e nem precisei responder, ela logo disse, sei que sim pela vivacidade da tua voz. Não me alonguei muito, depois falaria com ela, tínhamos tempo, muito tempo, afinal como Juan dizia, eu agora era parte da família. Sorri feliz com aquela lembrança.

A Susan enviei apenas uma mensagem:

"Estou feliz Sue...assustadoramente feliz...obrigada meu anjo."

A resposta para não variar veio imediatamente:

"Aproveite Cathe...mereces. Quero detalhes no regresso. Te amo."

Permaneci mais algum tempo no meu deleite até que senti olhos fixos em mim. Já tinha notado alguém a observar-me mas não liguei, mas agora a sensação era forte. Olhei e dei de cara com a mesma mulher de antes e agora ela sorria. Não a reconheci. Ela levantou-se da parede onde estava sentada e caminhou em minha direção.

--Olá. - Sorriso aberto.

--Olá...

--Eu sei que mudei muito, da água para vinho, era loira e hoje sou quase ferrugem. - Risos. - Mas juras que não lembras de mim?

Não lembrava...

--Olívia palito?

Soltei uma gargalhada bem alta.

--Charlie? Charlene? Não acredito...

--Eu mesma, numa espantosa evolução do tempo...para melhor, muito melhor.

Ela estava linda, lindíssima, nada a ver com a pequena magricela de anos atrás.

Abraçamo-nos por algum tempo. Até que ela fez-me rodar e pasmou em mim.

--Mas tu também só deves agradecer ao tempo.

--Mas...

--Sim, calma, sempre foste a bonita e de cara fechada do grupinho, mas agora...olha para isso, que linda.

Rimos muito, felizes com o reencontro.

--O meu pai...o Bill já me tinha dito que estavam cá, mas eu não tive tempo...

--Sei, meu pai já contou toda a história, que o Bill não cabe em si de felicidade...

--Pois...anos depois conseguimos limar as arestas.

--Mas ele sempre gostou muito de ti Cathe, lá do jeito dele, mas depois de crescida eu percebi que ele não tinha como fazer diferente...

--Hoje eu entendo e consigo valorizar tudo o que ele fez...Charlie, estou tão feliz...

Ela abraçou-me mais uma vez. Se minha infância não foi completamente cinza, devo muito aquelas duas meninas do velho Bernie.

--E a Sam? A Samantha mandona?

Risos.

--Sam Kruger.

Gargalhadas altas.

--Sam Krueger por causa da paixão louca e quase doentia dela pelo Freddy Krueger...one...two...tree...take a crucifix...buuuhhhh

Muitos risos.

-- O que essa menina nos assustou...

--Sim, mas hoje em dia ela é inofensiva...ainda tem tiques de irmã mais velha mas nada que se compare à vilania da infância.

Risos.

-- Mas conta-me tudo, já sei que moras na Califórnia, aliás moram e que tu tens dois filhos...

--Sim, minha maior paixão...meus tesouros.

Ela olhou com paixão para a direção onde Skya estava toda entretida com duas crianças.

-- São aqueles dois ali que não deixam a tua amiga em paz, mas parece que ela gosta, mas não é difícil...meus filhos são apaixonantes.

Olhei incrédula, aqueles meninos que não largavam a Skya eram os filhos de Charlie.

-- Selina e Denzel, minhas obras.

-- Lindos. Estou encantada com os teus filhos...

-- E parece que a tua amiga também e se ela permitir eles não a largam mais. Meus filhos quando gostam de alguém...

-- Skya...o nome dela é Skya.

-- Skya...eu acho que a conheço, por acaso ela não toca violoncelo?

Sorri.

-- Contrabaixo e violino.

-- Claro. Já vi um concerto dela em Praga. Memorável. A Selina vai enlouquecer, ela está a aprender violino e todos dizem que tem muito talento. Minha pequena adora tocar, é estudiosa, dedicada.

-- E linda, aliás que crianças lindas. Onde está a outra parte, quero conhecer o marido que só pode ser lindo. Claro que tu também és linda Olívia Palito...

Gargalhadas altas.

--Meus filhos parecem um pouco comigo, os olhos são da minha família...castanhos-claros límpidos. O Denzel é lindo também...marido...não tenho...

-- Hmmm...ok.

Ela riu e eu não entendi...pensei que fosse um assunto tabu e quis parar por ali, mas a reação dela...

-- A Selina é produção independente...ela já tem 7 anos...o Denzel também era para ser mas depois numa loucura deixou de ser...de certa forma...

Olhei para ela com minha cara de quem não tinha entendido absolutamente nada e ela riu muito.

-- Sabes que sempre fui doida...esquisita como me chamavam em criança e no início da adolescência.

-- Umhum, a louca.

Risos.

-- Não mudou muito...sou produtora de cinema em Hollywood...

-- Wow, a loucura potencializada.

Gargalhadas.

-- Sim, bem assim...com 28 anos já tinha uma vida mais do que estável e com perspetivas ótimas, e decidi que queria ter um filho.

-- Normal...e produção independente porquê? Não tinha nenhum príncipe à altura?

-- Início de problema...eu nunca gostei de príncipes...

-- Lembro-me que quando eramos meninas, eu e a Sam adorávamos histórias de princesas e tu só querias subir em árvores, correr atrás dos Alces...eu só conhecia as histórias quando íamos à casa do velho Bill que hoje é minha cabana. - Sorri. - E ficava encantada...

-- Já nessa época não gostava de príncipes...mas de princesas sim...

Ela soltou uma gargalhada e eu entendi tudo. Ri também.

-- Sou gay desde os 19 e já tive muitas mulheres...

-- Faço ideia...em Hollywood...

-- Pois, o problema é esse...em Hollywood nada é muito sério...nada é serio e as mulheres menos ainda, e para ser mãe dos meus filhos então...

-- Daí a produção independente...

--Sim...saí de uma relação doida e decidi que não queria mais saber de nada e só queria ter meu filho. Desliguei-me de tudo por dois anos e fui engravidar e curtir minha maternidade, tudo com apoio incondicional da minha irmã, de uma grande amiga e do velho Bern.

Olhei para ela cada vez mais interessada.

-- A Selina nasceu e minha vida ganhou um sentido que não tinha. Adoro o meu trabalho, meu mundo de fantasia mas minha realidade é tão melhor e minha realidade hoje é...Ah Cathe, estou tão feliz que às vezes dá medo...

-- Entendo bem o que é isso...e o Denzel? Mesmo dador?

-- Sim, guardei material na altura da implantação do ovulo da Selina...graças a Deus, mas a história dele é mais doida ainda...

--Hmmmm?

-- Estás sentada?

--Claro, doida.

Risos.

--A Selina já estava com 4 anos e eu decidi que era o momento de ter meu outro filho, sempre quis ter dois e que pudessem crescer juntos como eu e minha irmã. Namorava na altura mas quando falei em filhos a outra não assimilou bem a ideia, ainda insisti mas depois a relação descambou de vez. Mais uma vez decidi que não ia mais colocar uma mulher na minha vida...ainda mais eu que tenho psicose por família, família de comercial de tv como diz Sam...

Risos.

-- Mais uma vez larguei um bocado a carreira para conceber e cuidar das minhas crias, mas se na Selina tudo foi relativamente fácil, no Denzel não foi bem assim...meu corpo não reagiu da mesma forma e tive que me submeter a várias tentativas...quase desisti...num belo dia, levando minha pequena para escola, e num dia em que estava destruída por mais uma tentativa falhada de inseminação, a Selina que é levada como a mãe, saiu correndo no meio da estrada para entrar na escola junto com a colega de quem ela mais gosta e essa menina quase foi atropelada...eu devo ter morrido e ressuscitado...ela fugiu-me das mãos e não percebi, fração de segundo...

-- Mas e aí?

-- Ai que a motorista desceu do carro e cuidou da minha filha até a ambulância chegar como se fosse filha dela...e ela não passava de uma menina de 21 anos...eu não tinha condição, chorava sem parar...era um carro de transporte escolar...até agora me emociono...

--Imagino...

-- E foi assim que conheci a Annie...o amor da minha vida.

-- A menina de 21 anos? A do carro escolar?

-- Sim...hoje ela tem 24 anos...é uma história longa, maravilhosa...ela é a outra mãe do Denzel, quando começamos a namorar ou sei lá o que era aquilo no inicio, eu não disse que estava a tentar engravidar...ela já me achava uma doida varrida, uma mulher de Hollywood que já tinha uma filha sozinha...não consegui dizer, até que ela viajou com colegas para a formatura na universidade e a inseminação deu certo...

-- Wow...-- Estava admirada com aquela história.

-- Tive que dizer...foi tão difícirl, e a reação dela foi terrível...ela só tinha 21 anos...mas já existia um amor enorme entre ela e a Selina e ela não deixou de buscar a minha pequena para passear e minha barriga foi crescendo e ela ficando mais acostumada com a situação e num belo dia, ela olhou para mim e disse que queria ser a outra mãe do meu filho...eu fiquei pasma...a Annie é única, ela é especial, diferente de tudo...às vezes acho que não mereço alguém assim...mas faço de tudo para merecer cada vez mais, ela adora nossos filhos, parece a tua amiga quando estão juntos, três crianças como agora...

Eu fiquei emocionada...a Annie era especial, única, diferente de tudo e ela acreditava não merecer alguém assim...a definição de Skya e a mesma sensação que vez ou outra atormentava o meu peito e baralhava a minha cabeça.

-- Essa história é digna de um roteiro de sucesso em Hollywood.

Charlie riu às lágrimas.

-- A Annie diz a mesma coisa...mas nem tudo são rosas...somos de mundos tão diferentes e ela é muito mais nova...

Quando Charlie preparava-se para contar-me mais detalhes da sua história linda e quase cinematográfica, Skya e os filhos dela correram em nossa direção.

-- Mãe...oh mãe...estou com fome, o Denz também e a Skya também...fome de comer muito...

-- Charlie beijou a filha que pulou no seu colo, Denzel ainda permaneceu no colo de Skya e eu fiquei pasmando no rosto afogueado da mulher mais linda que já vira na vida.

-- Skya, essa é a minha amiga de infância...a Charlie.

Skya sorriu e estendeu a mão para Charlie que levantou e a abraçou.

-- Mãe, essa é a amiga que mora em casa do amigo do avô Bernie?

--Ela mesma Lina, a minha amiga desde que sou bem menor do que tu, a Cathe.

A pequena beijou-me e me abraçou com bracinhos ternos. O pequeno chorou e pediu o colo da mãe. Skya sorriu e posicionou-se atrás de mim com as mãos na minha nuca.

O momento seguinte foi ternura pura...Annie mostrando que era uma excelente mãe, o menino dizendo que estava com saudades de Nannie que era a Annie, Selina corroborou.

Charlie disse-me que Annie não tinha vindo porque trabalhava na empresa de transportes do pai e alguém estava de férias e ela tinha que substituir.

-- E quem é Annie? - Perguntou Skya sorrindo.

-- Minha outra mãe. - Respondeu Selina sem pestanejar.

--Hmmm, então tens a sorte de ter duas mães? Tens noção da tua sorte Lina?

-- Mas na minha escola tem mais duas meninas que têm duas mães...então elas também são sortudas?

--Sim, muito sortudas. Ter uma mãe é uma bênção, duas é a maior felicidade.

-- Eu adoro a Nannie...mãe, quando a Nannie vem?

--Dentro de dias filha...trabalho...

--Eu sei, como quando tu trabalhas nos filmes e ela fica tomando conta de nós.

--Isso mesmo filha...duas mães, responsabilidades repartidas.

A menininha contou-me várias histórias da sua escola, das brincadeiras, da casa linda em que morava...passamos algum tempo e eu sorri sempre.

Skya lembrou-me da fome das crianças e ainda ressaltou a dela.

Tínhamos jantar com o meu pai, e eu também já estava faminta.

Despedimo-nos e prometi a Charlie que a visitaria no dia seguinte para continuarmos a conversa.

Skya beijou muito as crianças que ficaram tristes porque ela iria embora logo cedo.

--Mãe, a Skya pode visitar-nos na nossa casa?

-- Claro filha, ela é amiga da Cathe, e vossa amiga também, então ela é mais do que benvinda.

Risos.

********************

Assim que chegamos em casa do meu pai, Skya pediu para tomar um banho quente porque ela não aguentava a água fria da minha cabana. Bill aproveitou para fazer o papel de pai e puxou-me as orelhas quase literalmente, perguntando se aquela era a forma mais elegante de receber alguém que vinha de longe para estar comigo.

Skya quase morreu de tanto rir e disse ao meu pai que eu era uma maravilha, não obstante insistir que ela tomasse banho gelado.

Corri com ela para o banheiro antes que saísse alguma pérola daquela boca linda.

Ajudei meu pai com a mesa, tomei um banho rápido depois de Skya e comemos um jantar de sonhos, regado ao melhor vinho da adega do Sr. William. Duas garrafas e muitas risadas.

Bill e Skya conversaram muitas vezes como se eu não estivesse ali, ele encantado com os relatos dela, do seu mundo da música, das viagens, concertos e sonhos. Eu adorava tudo, aliás eu tinha que controlar as emoções...tantas e em doses estrondosas.

Bill contou das suas aventuras no mar, Skya ouviu e interagiu na mesma simpatia e inteligência de sempre. Ele foi ao quarto buscar um álbum de fotos dos inúmeros trofeus que já tinha vencido e Skya que com ele compartilhava um sofá, levantou-se e juntou-se a mim. Ela foi ao meu ouvido e disse:

-- Eu vou embora amanhã antes das 10...estou com saudades de ficar a sós contigo.

Meu corpo tremeu numa velocidade que tive a sensação que os ossos mudaram de lugar. Simples frase e eu senti coisas que não sentia nem no ápice do prazer...eu não queria fazer aquele tipo de comparação, mas era inevitável...o efeito de Skya sobre mim era devastador, era intenso...nunca, jamais eu chegara a algo perto na minha vida...uma frase e meu corpo ansiando pelo dela...uma vontade de sair voando dali e me entregar sem reservas, dar-me a ela, sentir aquela profusão de sensações...

Bill voltou e não dei-lhe mais de quinze minutos com Skya...eu adorava a companhia dele, descobrira o quão bom era ter um pai, mas com ele ainda tinha mais alguns dias, mas ela...eram sentimentos tão diferentes mas que baralhavam-me...mas eu queria estar a sós com Skya, no nosso mundo...

-- Levem dois pedaços de torta de maçã, se sentirem fome durante a noite...

Se ele soubesse a fome que me dava depois de horas de sex* com Skya...tive vontade de rir e ela riu e ainda olhou-me com aquela cara de menina travessa que me enlouquecia...

-- Boa noite Bill, amanhã passo aqui para me despedir...

--Nem ouse fazer diferente, e espero que venhas mais vezes, ouviste dona Catherine.

--Sim senhor. Ela virá.

Risos.

--Venham tomar café amanhã comigo, estarei aqui à vossa espera.

--E a tua pescaria?

--Sempre pode-se abrir uma exceção.

-- Hummmm, que prestigio Skya.

Rimos muito e ela puxou-me discretamente pela mão.

Eu adorava aquela ansiedade, aquela vivacidade, adorava tudo...

********************

Chegamos na cabana e mal entramos, fui tomada num beijo que me deixou com as pernas bambas. Senti um calor subindo pelo meu corpo que de repente o frio que fazia lá fora não era nada, ou quase nada.

Eu ainda estava colada à parede e ela saiu correndo e rindo às gargalhadas em direção ao banheiro dizendo que precisava escovar os dentes.

Depois de recuperar minha sanidade, tirei as roupas pesadas e vesti uma camisa, calcei minhas meias e pronto. Paradoxalmente eu quase não sentia frio, embora a temperatura lá fora estivesse baixa...

Ela saiu do banheiro com o cabelo preso e usando um pijama de calça e blusa simplesmente sexy. Pode parecer exagero, mas senti uma espécie de formigamento pelo corpo todo, com maior incidência em algumas partes, mas com certeza pelo corpo todo...

Ela foi fazer chá para nos aquecermos mas com certeza aquilo era uma provocação que estava a surtir o melhor efeito. Ela mexia no cabelo, prendia uma mexa ou outra que saltava do coque, colocava uma perna atrás da outra em forma de quatro enquanto escolhia o chá, mexia os lábios enquanto colocava agua no bule, cantarolava...eu estava enfeitiçada.

Sentei-me em cima da mesa comendo um pedaço de torta e o pensamento ia longe...

Skya é um festival de surpresas...ela inventou de dançar enquanto o chá estava no lume.

Eu quase morri de rir.

Ela pulou ao som de A head full of dreams dos Coldplay e meu coração pulou junto.

Bebia um pouco de chá quando ela chegou perto de mim. Ela bebeu da minha chávena e fez uma careta.

--Não está bom?

-- Um pouco frio...eu gosto de coisas quentes, bem quentes...

--Eu também...mas estavas a dançar...

--Adoro os Coldplay...amo. Vais ver um concerto deles comigo? Gostas?

--Muito e sim...vou ver um concerto contigo...

A música agora era Everglow...

-- Sou uma mulher com a cabeça cheia de sonhos...e o corpo doente de saudade...

Ela estava com as mãos nas minhas pernas nuas e arrepiadas...subiu...apertou-me a coxa e num rompante enlaçou-me a cintura e me puxou para a sua boca que eu devorei como se come quando se tem muita fome.

Eu adorava o beijo de Skya, aliás era mais que adoração, quase veneração...delírio absoluto...

--Consegues entender o tamanho da minha saudade?

Não disse nada...eu não conseguiria falar...beijei mais...apenas isso.

Ela gemia na minha boca e me apertava, arranhava minha pele, mordia meu pescoço, meus ombros e dizia tantas coisas ao meu ouvido...o formigamento aumentava...

Pulei da mesa e nos arrastamos até a cama, quase cai e ela riu muito sem jamais me soltar.

Na cama eu perdi a noção de tudo, só queria senti-la e ela queria muito...

Minha camisa foi arrancada e eu só percebi quando mãos sensíveis e quentes acariciaram minha barriga nua e lábios húmidos beijaram meus seios...arqueei meu corpo tanto...ela deitou-se sobre mim e percebi que também não tinha roupa...fui beijada pelo corpo todo, leves mordidas em partes que eu adorava ser tocada com maior voracidade, ela entendia tão bem de mim...em tao pouco tempo ela sabia tanto...coisas que nem eu sabia...era bom...era perfeito...era...faltou-me o ar e não conseguia mais pensar em nada...Skya estava completamente sobre mim, a boca colada à minha, uma mão presa na minha nuca e a outra no melhor lugar do meu corpo, na parte mais sensível...ela invadiu-me com pressa e eu gritei, prazer único, prazer na carne, na alma, prazer sem igual...a invasão tomou-me e ela gostava de explorar e delirava, beijava-me toda, mexia-se numa perfeição, parecia dança, a dança perfeita...senti seu corpo contra o meu, na medida perfeita, na melhor cadência...gritei, gemi, mordi forte...meu corpo pulsou e eu me entrelacei nela até não sobrar a mínima brecha...seu coração batia no meu peito, abri os olhos e ela me olhava...vi tanta coisa naquele olhar...colei-me nela mais ainda e foi a vez dela gritar enquanto atingia meus pontos mais recônditos...perdi os sentidos...espasmos me sacudiram violentamente...não conseguia respirar...ela caiu para o lado e abraçou-me.

Eu demorei a voltar ao normal, cada vez que abria a boca para falar era sacudida por mais um espasmo e a sensação de que o prazer não passaria nunca mais apenas amentava.

Algum tempo depois...

Ela brincava no meu seio e sorria...abri os olhos e quis fotografá-la...abracei-a com carinho e beijei-lhe a cabeça, a testa e por fim a boca...devagar...gosto de amor feito...gosto de vida...

Ela sorriu e eu quis dizer mil coisas, mas faltou-me coragem...

--Cathe...

--Hmmm...

-- Desculpa...

Franzi o cenho...desculpar-se por me dar tanto prazer? Não fazia sentido...

-- Eu queria ter mais calma, queria demorar horas...mas...eu estava com tanta saudade...desculpa...eu queria tanto estar assim...sabes há quantos dias eu conto os minutos para fazer amor contigo?

Meu ouvido estalou e meu coração galopou, podia senti-lo na garganta.

Fazer amor...nós fazíamos amor...ela gostava de fazer amor comigo...não aguentei e deixei lágrimas deslizarem pela minha face...

Skya beijou cada uma delas e sorriu.

 

 

Fim do capítulo