• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • 2121
  • Capítulo 11 - Petricor

Info

Membros ativos: 9502
Membros inativos: 1631
Histórias: 1948
Capítulos: 20,235
Palavras: 51,302,523
Autores: 775
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: jazzjess

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (849)
  • Contos (476)
  • Poemas (232)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (183)
  • Degustações (30)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • RECOMEÇAR
    RECOMEÇAR
    Por EriOli
  • Horrores, delirios e delicias
    Horrores, delirios e delicias
    Por caribu

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • O céu em seus olhos
    O céu em seus olhos
    Por Rayddmel
  • Fim da linha
    Fim da linha
    Por caribu

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (849)
  • Contos (476)
  • Poemas (232)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (183)
  • Degustações (30)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

2121 por Cristiane Schwinden

Ver comentários: 5

Ver lista de capítulos

Palavras: 3947
Acessos: 8300   |  Postado em: 00/00/0000

Capítulo 11 - Petricor

– Estamos sendo seguidas?

– Não, gracias a Dios. – Sam prestava atenção na estrada.

– Deixa eu adivinhar: vamos atrás do Odín.

– Nem que ele esteja no fim do mundo.

– Odín Rojas Hernandez.

– Isso. Buscar Odín Rojas Hernandez. – Sam bradou ao localizador.

Após o localizador do carro dar as informações básicas sobre o nome encontrado na base de dados, o dado mais importante foi citado e recebido com grande felicidade.

“Status: vivo. Última localização: Puerto Escondido, Colômbia.”

– Traçar rota até Puerto Escondido, Colômbia. – Sam disse.

“Rota iniciada, 1652 Km.”

– E aí garota, preparada para mais quatro dias viajando comigo? – Sam perguntou, de bom humor.

Theo sorriu abertamente.

– Sempre! Estamos no caminho, estamos perto de descobrir a verdade.

– Eu sei! – Ela também se animava.

– Sam, falta pouco para conseguirmos seu novo coração, vamos fazer esse Odín falar até a cor da cueca do responsável por essas vacinas.

– Vamos conseguir, não vamos? Temos tempo e as informações certas, vai dar certo, eu sei que vai. Eu vou comemorar meu aniversário em agosto, eu vou fazer uma festa enorme, vai ser meu primeiro ano de vida nova, minha segunda chance. – Sam se emocionava, esperançosa.

– Espero que me convide para essa festança.

Sam a fitou, no seu subconsciente ela imaginava que Theo continuaria ao seu lado para sempre, e aquela pergunta a pegou de surpresa.

– Você vai estar em todos os meus aniversários. Não apenas estar, você vai me ajudar a fazer a festa, todos os preparativos, ou acha que vai se livrar de mim assim facilmente?

– Tem como se livrar de você?

***

Passava das dez da noite, elas continuavam na estrada, bebendo cerveja barata que Sam havia comprado no caminho duas horas antes, comemoravam o êxito parcial da corrida em busca do coração.

– Se importa de dormir praticamente dentro de uma floresta? – Sam perguntou, olhava pela janela ao seu lado.

– Estamos no meio do mato?

– Basicamente. Mais à frente tem alguns prédios desocupados, parece que caiu uma bomba por aqui alguns anos atrás, ficou deserto.

– Nada contra mato.

– Ok, assim que achar algo com um teto vamos parar para dormir.

– Não necessariamente precisa de teto, não gosta de observar as estrelas?

– Não tem estrelas, o céu está nublado, vai cair uma tempestade em breve. Então precisamos de teto.

– Chuva? – Theo fechou os olhos. – Adoro chuva.

Estacionaram a caminhonete ao lado de um prédio alto, envelhecido pelo tempo e infiltrações, havia uma dúzia de prédios iguais naquele lugar, mais à frente uma vila iniciava-se, esta habitada.

– O que tem aqui? – Theo perguntou, ao descer do carro.

– Prédios onde passarinhos moravam, porque tem gaiolas grandes dentro. Atrás e ao lado tem um campo gramado com árvores e arbustos.

– Em San Paolo tem vários prédios deste tipo, com gaiolas habitadas por pessoas, até famílias inteiras moram nestes cubículos gradeados. Na Europa não deve ter nada parecido, não existe esse nível de miséria, então você vai demorar para entender a situação decadente desse lugar.

– Desse lugar? Você se refere à Nova Capital? – Sam perguntou, ambas levavam suas coisas para dentro do prédio.

– Sim, quanto mais se aproxima dos grandes centros urbanos, mais estarrecida você fica. As coisas são ainda mais impressionantes no Brasil. Você fala sobre as tecnologias de ponta que não chegaram neste continente, mas aqui as pessoas tem preocupações maiores que grandes telas virtuais e chips implantados na pele, elas querem apenas sobreviver.

– Isso é culpa do próprio povo, que aceita esse governo de merd* e não reclama.

– O buraco é mais embaixo, Sam. Acredito que em breve você entenderá a catástrofe que vivemos, e não vai mais julgar o povo desta forma. Os latinos não tem culpa dessa invasão.

– Mas tem culpa da passividade de aceitar isso.

– Também não.

– Como não? Por que você não conversa de forma decente comigo sobre estas coisas? Você quer defender seu povo e não tem argumentos. Sabe qual o problema do povo da Nova Capital? Falta de fé. Abandonaram a fé em Deus e vivem de forma errática, se renderam aos prazeres proibidos e não se importam mais com a sociedade em que vivem, não ligam de serem tratados como miseráveis, porque são miseráveis, são pobres de alma e espírito. – Sam gesticulava enquanto falava com empenho.

– Você se acha a pessoa mais correta do mundo, não é? – Theo respondia com calma. – A perfeita cristã, perfeita noiva, perfeita filha. Tem sempre um argumento religioso que rebaixa todas as pessoas que não se enquadram no seu julgamento de vida correta. Oficial, vou te dizer apenas uma coisa: você está começando a viver agora, você ainda vai aprender muito. E anote essa frase: conhecimento é transformação.

A chuva começou a cair de forma torrencial, estavam discutindo na entrada do prédio, embaixo de uma grande porta de madeira escura.

– Opiniões vem e vão, mas conceitos e preceitos de moral são estabelecidos com o tempo e não se derrubam nunca.

– Então você concorda que irá mudar de opinião? – Theo provocava.

– Já mudei tantas… Tem coisas sólidas o bastante dentro de mim que não mudarão, mas a percepção estará sempre em mudança.

– Gostaria de ver você mudando algumas opiniões. Não é algo que visualizo em você.

– Você acha que sou uma pessoa de mente fechada, que nunca me abriria para novas experiências, não acha?

– Infelizmente acredito que sim. – Theo respondeu.

– Estou pensando em fazer uma tatuagem. – Sam disse em tom desafiador.

– Sério? – Theo ergueu as sobrancelhas.

– Sério.

– O que? Onde? – Theo se empolgava.

– Não sei, algo pequeno, uma frase talvez. Pensei nas costelas.

– Dizem que dói bastante nessa região.

– Você teria medo?

– Medo? – Theo deu um passo à frente e estendeu os braços, sentindo a chuva. – O medo é meu velho amigo.

Theo saiu caminhando debaixo daquela tempestade, na direção dos fundos, onde havia grama com árvores altas.

– Onde você vai?

– Ver a chuva. – Continuava andando, de olhos fechados, com os braços abertos mas alerta às árvores que encontrava no caminho.

– Volte aqui!

Ela ignorou e continuou andando com passos rápidos e seguros, sentindo a chuva batendo em seu corpo.

Sam não sabia o que fazer, apenas assistia Theo se distanciando entre as árvores e esbarrando em algumas. Acabou indo atrás.

– Isso é loucura! Você vai ficar doente! – Sam berrava, andando atrás de Theo, que começou a correr quando percebeu que Sam a seguia.

– Loucura? O que pode acontecer comigo nesta floresta negra? – Começou a correr em zigue e zague.

E Theo tropeçou num galho, caindo um tombo, deslizou de bruços pela grama com  impacto e velocidade.

– Está bem? – Sam se aproximou, ofegante;

– Ótima. – Theo se virou, ficando deitada de costas na grama molhada, com um sorriso e os braços abertos.

Sam sorriu também, ficou de pé a sua frente, a olhando.

– Você é louca.

– Sinta a chuva, oficial. Sinta a chuva. – Theo repetia, de olhos fechados, com aquelas gotas frias e graúdas lhe encharcando as roupas.

– Você ainda está aqui? – Theo continuou.

– Estou. – E deitou-se também, ao seu lado, com os braços quase abertos.

– Sente o cheiro?

– Que cheiro? – Sam indagou.

– Da chuva em contato com a terra.

– Sinto.

– O nome desse cheiro é petricor.

– Petricor? – Sam a fitava.

– Petricor, o cheiro da chuva chegando na terra.

– Tem nome para o cheiro da chuva quando bate no mar?

– E isso tem cheiro? – Theo contra argumentou.

– Acho que não.

– Mas tem história.

– Que história? – Sam perguntou com curiosidade, a cabeça de lado, olhando para Theo.

– Sabe, uma vez o céu se apaixonou pelo mar. – Theo começou a contar, estava radiante e deixava isso evidente. – Mas era um amor proibido, eles nunca se encontrariam, como poderia dar certo? Enfim, o céu não se conformava com a impossibilidade de estar com o mar, estava sofrendo de amor, até que começou a chover. E partir de então eles passaram a se amar na chuva.

– Eles apenas se amam quando chove?

– Sim. Quando o céu lança seus dedos longos e finos na direção do mar.

– Eles deram um jeito. – Sam refletia.

– Sempre tem um jeito, o amor não conhece o impossível.

Por alguns minutos continuaram deitadas lado a lado, em silêncio. Sam entrava num estado quase catatônico quando deixava seus olhos pousados em Theo.

– O que você está fazendo? – Theo perguntou, a despertando.

– Ãhn… Eu… Estou olhando as estrelas. – E olhou para cima, para o céu negro, sem jeito.

Theo sorriu.

– Eu também… – Se Sam podia mentir, ela também podia.

Estendeu um pouco o braço, procurando a mão de Sam. A encontrou e entrelaçou seus dedos com os dela.

Sam não olhou para o lado, apenas sorriu também, e segurou ainda mais firme a mão de Theo.

Foram pouco mais de dez minutos deitadas na grama e sentindo a chuva caindo torrencialmente em seus corpos. Sam sentiu-se bem, não era apenas a certeza de estar na trilha das matrizes, ela gostava cada vez mais das noites ao lado de Theo, era o momento mais esperado do dia deitar ao lado dela, permitir-se perder seus pensamentos a fitando sem ser percebida. E sem entender o porquê aquilo lhe fazia tão bem, ela nunca questionava.

Até a noite seguinte.

Depois de um dia inteiro de estrada ruim e sinuosa, com apenas duas paradas, uma para comer outra para usar o banheiro de um posto de recarga, Sam olhava ao redor e no localizador, e não achava nenhum lugar razoavelmente seguro para passarem a noite. Estavam dentro de uma cidadezinha antipática, repleta de mendigos e outros sem teto como elas.

– Teremos que achar um destes motéis baratos para passarmos a noite. – Sam constatou, bocejando.

Theo tirou o boné, repousando no banco ao seu lado, como fazia todas as noites antes de seguir para o local onde dormiriam. E colocou os óculos escuros no bolso da jaqueta verde.

– Então caçaremos um pulgueiro para nossa noite. Tenho que pensar num jeito de arranjar mais dinheiro para nós. – Theo disse.

– Esqueça aquela sua ideia de roubar um posto de recarga.

– Não falei nada.

– Ok, acho que encontramos o pulgueiro. Até que não parece tão pulgueiro.

– Tomara que tenha preço de pulgueiro. E água quente.

Após largarem suas coisas pelo quarto, uma acomodação até melhor do que o imaginado, com bom espaço e água quente, Sam tomou a dianteira para o banho.

– Estou cansada, vou na frente hoje. Divirta-se com a TV, que você gosta tanto. – Sam disse, lhe entregando seu comunicador.

– Eu ainda tenho audição, lembra? Você me subestima.

Até mesmo o simples ato de tirar a jaqueta e sentar-se na cama atraía a atenção de Sam, a cada dia a atração e interesse pelas coisas mais triviais que Theo fazia lhe roubava olhares demorados. Ela já sabia de cor e salteado os maneios de Theo, o jeito como jogava o cabelo bagunçado para trás com a mão, a forma do seu sorriso aberto, todas as tonalidades de azuis dos seus olhos. O jeito como colocava o boné, arrumando o cabelo com a outra mão, e o ajeitava segurando pela aba, baixando um pouco a cabeça. Os desenhos em seus braços e parte das costas, Sam ilícita e secretamente observara algumas vezes Theo tomando banho, conhecia aquele sagrado coração vermelho tatuado no alto do braço esquerdo, cravado por uma adaga e com o nome Imogen numa faixa flutuante logo abaixo. Conhecia as curvas, principalmente a cintura, o caminho para os quadris e pernas, seus cheios e bonitos seios. E em momento algum, em nenhum pensamento dúbio ou questionador, Sam havia estranhado saber tanto sobre sua companheira de viagem, esse interesse em sua amiga. Pelo contrário, tinha fome de mais, queria mais contato físico, mais intimidade, mais sorrisos, mais banhos.

– Ok, sua vez, fedorenta. Vá para o banho. – Sam disse, lhe entregando roupas e a nécessaire.

– O que seria de mim sem você me mandando tomar banho carinhosamente e me entregando as roupas certas? – Theo seguiu para o banheiro.

– Você não vive mais sem mim, pode falar.

– Se você não fosse noiva te pediria em casamento, Mike é um homem de sorte. – Theo brincou e por fim entrou no banheiro.

Sam já estava deitada quando lembrou de escovar os dentes. Entrou no banheiro e tomou a nécessaire que estava em cima do vaso. Após escovar os dentes, guardava suas coisas na pequena bolsa quando olhou para o lado, e apesar do vidro translucido ocultar quase todo o outro lado do box, era possível ver de alguma forma Theo tomando seu banho, e por algum motivo isso instigou Sam, desligando seus pensamentos racionais.

Como se alguma força superior tomasse conta de seu corpo e vontade, ela deu dois passos lentos na direção do box. Sua mão, sabendo o que deveria ser feito, moveu-se lentamente até o pequeno puxador daquela porta de vidro. Assim que seus dedos alcançaram o objetivo e estavam prestes a abrir o box, a voz de Theo lhe tirou daquele estado sonâmbulo acordado.

– Sam? Esqueci a toalha! – Gritou.

Olhou ao redor, ainda perturbada, e saiu do banheiro, buscando a toalha que estava em cima da cama.

– Sam?

– Está em cima do vaso. – Falou após largar a toalha.

Theo estranhou o jantar silencioso que veio a seguir, percebeu que Sam mal respondia suas perguntas, mas não entendia o que estava acontecendo, achou que era o cansaço, preferiu ir logo para a cama e acabar com o clima estranho.

Naquela noite Sam sonhou com Theo. No sonho sua irmã dizia para que ela fosse embora do hotel sozinha, que fosse embora o quanto antes, sem que Theo percebesse. Ela concordou com a irmã, mesmo não sabendo de onde vinha aquela voz que a orientava, e às vezes se confundia com a voz do seu pai. Antes de deixar o quarto, aproximou-se da cama, e lhe deu um beijo em seu rosto, de despedida. Theo acordou e estava com um semblante confuso, Sam aproximou-se novamente e beijou sua testa, mas Theo ergueu seu rosto, e Sam lhe entregou um beijo em seus lábios. O sonho nunca fora tão vívido, as sensações pareciam reais, e em poucos segundos, Sam estava sonhando com algo impensável: estava fazendo amor com Theo.

Acordou num susto, com Theo, como sempre espaçosa, batendo com o braço em suas costas. Sentou-se, o coração acelerado e a respiração rápida eram apenas reflexo do quanto aquele sonho a havia perturbado, sem contar o calor estranho em algumas partes do corpo.

Demorou para voltar a dormir, sua mente parecia uma colmeia de abelhas perdidas, pensamentos sem direção e uma confusão homérica de sentimentos e sensações.

“Tem algo errado.” Finalmente se deu conta.

Não foi uma manhã agradável para Theo, Sam a tratava de forma grosseira, quando não a ignorava. Para Sam, a raiz dos problemas, a fonte do seu mal-estar sufocante, era a presença de Theo. Evitava olhar para ela, policiava-se para que seus olhos não corressem para o lado.

“Talvez Lynn tenha razão, talvez Theo esteja mal intencionada, ela está fazendo ou tramando alguma coisa.” Foi o pensamento nem um pouco iluminado que passou por sua cabeça, enquanto dirigia, em silêncio.

Theo ligou o som do carro, sendo prontamente repreendida.

– Desligue isso.

– É só música.

– Não quero ouvir música, você poder respeitar minha vontade?

– Claro. – E Theo desligou o som, contrariada.

No meio da tarde pararam num destes postos com lojas e restaurantes, para comer algo. Assim que Theo desceu do carro e virou seu boné para trás, Sam surgiu e segurou no alto do seu braço, a conduzindo para o restaurante.

– Voltou a me arrastar pelo braço? – Theo reclamou.

– Está achando ruim? Arranje uma bengala. – Sam seguiu com um semblante sisudo, arrastando Theo pelo braço.

– Que bicho te mordeu? – Theo perguntou, assim que sentaram-se no balcão do restaurante, corria seus olhos baixos.

– Eu estou exausta, você não faz ideia do quanto essa minha busca é estressante, não é? É cômodo para você sentar sua bunda no meu carro e esperar que eu te leve para perto da sua casa. Não é sua vida que está em jogo, você nunca vai entender a pressão pela qual estou passando. – Sam vociferou de uma vez só.

– Meu maior objetivo é te ajudar nessa busca, eu já falei isso. – Theo recebeu seu prato, mas não o tocou.

– Eu não sei o que você quer, nem o que procura em mim, mas saiba que não sou tão ingênua quanto pareço. Talvez seja hora de repensar o que você está fazendo ao meu lado, porque eu estou repensando, e sabe o que me surge o tempo todo? Que você está no lugar errado.

Theo a ouviu em silêncio, ainda com os olhos baixos, perdidos. Um semblante triste e desanimado a tomava.

– O que você quer fazer? – Theo perguntou com uma voz pessimista.

Sam apenas mexia com o garfo na comida à sua frente, com desinteresse. Parecia transtornada.

– Estou pensando em encontrar um abrigo para você ficar. – Sua voz estava embargada.

Theo agora também estava com o mesmo nó na garganta.

– O que eu fiz?

Sam engolia a vontade de chorar que a dominava, mas seus olhos já estavam molhados.

– Você está me tirando do foco.

– O que eu fiz? – Theo repetiu.

– Eu não quero mais você ao meu lado. Acho que é hora de você seguir seu caminho, e eu o meu. – Enxugou rapidamente os olhos.

– Posso tentar ser mais independente, me virar, depender menos de você e te atrapalhar menos.

– Theo… Coma logo sua refeição. – E sua garganta fechou-se, nenhuma palavra adicional saiu de sua boca nas horas seguintes.

Não foi um bom dia para a dupla desbravadora, o silêncio no carro, acompanhado pelo ruído leve do deslocamento e dos carros que cruzavam seu caminho, às distanciavam.

À noite pararam o carro num local abandonado que parecia uma escola ou universidade.

Enquanto Theo carregava algumas coisas para dentro da construção, Sam já ajeitava o banheiro improvisado.

– O que é aqui? – Theo interrompeu o silêncio sepulcral.

– Uma escola. – Sam parou para prender o cabelo.

– E como é?

– Uma escola, e você sabe como é a porr* de uma escola. – Sam disse, erguendo um braço, com impaciência.

Theo não fez mais nenhuma pergunta naquela noite.

Já de manhã, Sam acordou ao ser empurrada por Theo para fora do colchão, que estava em cima de uma plataforma de madeira.

– Que merd*! – Bradou, ao acordar assustada, ao lado da cama improvisada, e acordando Theo igualmente assustada.

– O que foi??

– O que foi? Para variar você foi espaçosa e me derrubou do colchão! Eu estou de saco cheio disso. – Sam disse já se levantando, mal humorada.

Trocou-se rapidamente e foi ao banheiro improvisado. Quando voltou, começou a separar os alimentos e o café que tomariam. Theo alcançou suas roupas, que deixava previamente separadas e dobradas atrás do travesseiro todas as noites.

– Hey, não aqui. – Sam a interrompeu, quando ela começava a tirar a camiseta.

– Por que não?

– É falta de educação se trocar na frente dos outros, vá ao banheiro fazer isso.

– Mas… Sempre me troquei aqui, e você se troca na minha frente.

– Você não enxerga, assunto encerrado.

Sam ouviu Theo derrubando algo no caminho até o banheiro, sua irritação finalmente atingia o limite. Estava curvada sobre o local improvisado onde fazia o café, fechou os olhos enquanto dava um suspiro pesado, sentia algo rasgando seu peito, era forte, e ela não sabia se era bom ou ruim. Nem ela entendia o que a levara àquela situação quase insustentável, mas o fim do seu auto controle estava próximo.

Theo voltou, devagar e tateando o que encontrava pelo caminho, cadeiras e mesas escolares, vigas caídas. Sentou-se numa das vigas, ficando de frente para Sam para tomar o café, como todas as manhãs.

– Eu não encontrei minhas botas, não estão onde deixei, você poderia procurar para mim? – Theo fez aquele pedido em voz baixa, estava fazendo um grande esforço para não pedir favores ou ajuda para Sam.

– Até disso eu tenho que tomar conta?

– Eu não encontrei. – Theo falava com a voz controlada, com resignação mas com respeito.

– Se vire.

Sam entregou o copo com café e o pão para Theo, buscando suas mãos, mas desta vez foi displicente, entregando de forma afoita, evitando contato com as mãos dela. Theo acabou derrubando o pão.

– Droga…

– Parabéns, acabou de perder seu café da manhã. – Sam disse, com um sarcasmo quase raivoso.

A cada espetada de Sam, Theo apenas respirava fundo, buscando paciência e serenidade para não responder no mesmo teor.

Theo começou a tatear o interior de uma caixa, onde eram guardados os mantimentos.

– Não tem mais biscoitos?

Sam não respondeu.

– Ficava aqui, não ficava? – Theo continuava tateando.

– Sam?

– Pelo amor de Deus, Theo, cale a boca, estou tentando rezar antes de comer, e até isso você está conseguindo me atrapalhar.

– Desculpe. – Theo levantou-se e se pos a arrumar e guardar as roupas de cama e colchão.

Após terminarem de guardar tudo, Sam entrou no carro e viu o boné azul e branco em cima do banco, atirou com raiva para o banco de trás. Alguns segundos depois Theo também entrou no carro, tateou o banco a procura do boné, sem sucesso. Procurou no painel a frente e no chão.

– Viu meu boné?

– Não vi merd* alguma. – Sam virou-se na direção de Theo, sua respiração ficava cada vez mais forte e sentia uma raiva descomunal, sem direção. – Você não percebe o quanto me enche o saco com essas coisas? Você não faz o mínimo esforço para não me aborrecer!

– Eu só perguntei se você viu meu boné.

– É o boné, são as botas que se perdem, é o sabonete que cai no chão e você não acha mais, a roupa do avesso, a comida derrubada, eu não tenho mais paciência para você! Esgotou, entendeu? Esgotou completamente, eu não suporto mais sequer olhar para você, só vejo problema, atrasos, não posso me dar ao luxo de ser babá de uma garota cega! Não tenho tempo para isso, não dá mais, sério.

– Eu não sei…

Sam a interrompeu.

– Pare, não venha me prometer que vai ser independente, porque você não vai, você não enxerga e nunca mais vai enxergar, não posso ter esse fardo comigo agora, eu vou procurar um abrigo para você, vou te deixar em boas mãos e poderei seguir viagem em paz. Acabou, entendeu? Fim de linha para você. E pare de me olhar desse jeito!

– Eu não estou te olhando, por motivos óbvios. – Theo murmurou.

Sam balançou a cabeça incomodada, bateu com força as mãos no volante, com o carro ainda desligado.

– Fique aqui. – Sam saiu do carro, pegando seu comunicador no bolso.

 

Petricor: s.m.: Nome do aroma que a chuva provoca ao cair em solo seco.

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 11 - Capítulo 11 - Petricor:
Lea
Lea

Em: 22/07/2021

Samantha foi uma verdadeira idiota e insensível !  Com medo dos pensamentos confusos,esses que a Theo de nada tem culpa!

Estou ansiosa para ver ela(Sam) quebraram a cara com o Mike!!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Em: 17/09/2016

Poxa! Deu até tristeza essa mudança de atitude de Sam.

Parabéns! Essa trama científica esta muito interessante!

Bjs

Darque


Resposta do autor:

Essas oscilações de Sam serão uma constante na história, inclusive na segunda parte, vai se acostumando... rs

Ah, eu adoro ficção científica ;)

Obrigada!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Ana_Clara
Ana_Clara

Em: 09/12/2015

O início do capítulo mostra uma Sam fanática e doente por preceitos que nem ela mesma tem convicção e o final do capítulo mostra uma Sam insensível e radical. Não sei exatamente o que dizer disso tudo, mas definitivamente essa versão não é compatível com tudo o que ela tem demonstrado até aqui. Bom, um pouco fanática ela sempre demonstrou ser, mas irracional ao ponto de machucar alguém que está só seu lado em todos os momentos, isso é novo. Meu coração foi na boca agora lendo tudo o que a Sam está fazendo com a Theo. Isso foi triste!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

jake
jake

Em: 11/11/2015

coitada da Theo poxa autora ....vc eh muito ma ...veh se pelo menos ela volta a enchergar....

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Julia Eidrian
Julia Eidrian

Em: 09/09/2015

Que Mer.. Sam to com raiva de você

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web